CAPÍTULO 9 Os indígenas do Brasil

Estima-se que antes do desembarque dos europeus no território onde hoje é o Brasil, havia entre 2 milhões e 4 milhões de indígenas vivendo na região. Analise o mapa.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[Narrador]

Povos indígenas do Brasil

[Ana]

[tom de voz animado]

Olá! Está começando mais um episódio do podcast “De olho na História”.

[Diego]

[tom de voz animado]

Oi, pessoal! Sejam muito bem-vindos!

[Ana]

[tom de voz animado]

Hoje vamos conversar um pouco sobre os povos indígenas do Brasil.

[Diego]

[tom de voz animado]

Vamos falar sobre a diversidade e a história desses povos, que já viviam no território que hoje chamamos Brasil muito antes da vinda dos colonizadores europeus.

[Ana]

[tom de voz explicativo]

Estudos arqueológicos e históricos estimam que, até a chegada dos portugueses, no final do século XV, havia entre 2 e 4 milhões de indígenas em nosso território.

[Diego]

[tom de voz explicativo]

Esses povos se organizavam de maneira bastante diversa, mas tinham pontos em comum, como a vida em comunidade e a relação com a natureza, de onde tiravam sua sobrevivência.

[Ana]

[tom de voz explicativo]

E não só isso. A natureza estava na base da própria cultura dessas etnias. A relação com a terra era muito forte.

[Diego]

[tom de voz explicativo]

Sim! Essa relação sempre foi determinante para os indígenas. Os povos Tupi-Guarani, por exemplo, chamam a terra onde vivem de tekoá, que significa muito mais do que o lugar onde se vive.

[Ana]

[tom de voz explicativo]

Com certeza! Tekoá quer dizer algo como “o lugar onde somos o que somos” ou “o lugar do modo de ser”. Na verdade, é o espaço onde esses povos constroem suas relações e mantêm viva a sua cultura.

[Diego]

[tom de voz explicativo]

Perfeito. Bem, antes da colonização, os povos indígenas se espalhavam por todo o território brasileiro.

[Ana]

[tom de voz explicativo]

Hoje em dia, isso mudou. A maior concentração de povos indígenas está no Norte do país, onde vivem cerca de 340 mil nativos.

[Diego]

[tom de voz curioso]

A concentração nessa região é maior por causa da floresta amazônica e da presença de áreas de conservação, não é?

[Ana]

[tom de voz explicativo e de lamento]

Sim, essas áreas permitem que eles sigam preservando seu modo de vida. Infelizmente, as coisas nunca foram fáceis para os indígenas brasileiros.

[Diego]

[tom de voz explicativo e de lamento]

Pois é... Desde a colonização, o número de indígenas no Brasil diminuiu muito. Se antes aqui viviam milhões, hoje temos uma população de aproximadamente 800 mil indivíduos.

[Ana]

[tom de voz explicativo e de lamento]

A principal explicação para isso está no próprio processo da colonização, que foi bastante violento com esses povos. Eles eram expulsos de suas regiões e obrigados a viver em outras áreas.

[Diego]

[tom de voz de lamento e explicativo]

Muita gente acabou morrendo nas guerras de conquista e também pelas doenças trazidas pelos europeus.

[Ana]

[tom de voz de lamento e explicativo]

Mas existem também histórias de resistência, como no caso da etnia Xavante. Apesar das seguidas violências que sofreu, em diferentes momentos da história do Brasil, e da espoliação cultural e territorial, esse povo nunca deixou de lutar.

[Diego]

[tom de voz explicativo]

Graças a essa resistência, os Xavantes conseguiram manter parte de seu território no Mato Grosso, garantindo a própria sobrevivência, a coesão social e uma relativa autonomia cultural.

[Ana]

[tom de voz de lamento e explicativo]

Isso mesmo. Mas vamos voltar à questão da diversidade. Quando os portugueses chegaram aqui, a estimativa é que os nativos falavam cerca de mil línguas.

[Diego]

[tom de voz explicativo]

Hoje, no Brasil, o número de línguas faladas pelos povos indígenas caiu para cerca de 150.

[Ana]

[tom de voz explicativo]

Cada língua representa parte da cultura de seu povo, por isso é tão importante que elas sejam preservadas.

[Diego]

[tom de voz explicativo]

Essas línguas são classificadas em troncos linguísticos, sendo os dois principais o Tupi e o Macro-Jê.

[Ana]

[tom de voz explicativo]

E, dentro desses troncos, existem as famílias linguísticas. Alguns exemplos de famílias são Tupi-Guarani, Juruna e Tupari, no tronco Tupi, e Bororo, Jê e Maxakali, no tronco Macro-Jê.

[Diego]

[tom de voz explicativo]

Só entre os Yanomamis, que vivem na maior terra indígena do Brasil, são faladas 6 línguas diferentes!

[Ana]

[tom de voz explicativo]

Impressionante. Mas a diversidade vai além da língua: alimentação, religiosidade, rituais, danças, pinturas corporais... Cada povo tem suas próprias características.

[Diego]

[tom de voz explicativo]

Para vocês visualizarem isso melhor, vamos tomar como exemplo a divisão do trabalho. Entre os Kaiapós, quem faz o cultivo das roças são as mulheres, que também são responsáveis pela educação dos filhos.

[Ana]

[tom de voz explicativo]

Já entre os Karajás, o trabalho nas roças é atribuição masculina, assim como a proteção da aldeia e a construção de moradias.

[Diego]

[tom de voz de admiração]

Só por isso que a gente já falou, dá para imaginar quanta diferença existe entre esses grupos, não é? E há quem diga que os indígenas são todos iguais.

[Ana]

[tom de voz indignado]

Pois é, além de ultrapassada, essa visão é preconceituosa. É preciso respeitar a diversidade e a cultura de cada um desses povos. Afinal, todos gostamos que respeitem a nossa cultura, não é?

[Diego]

[tom de voz de encerramento]

Exatamente! Bem, o nosso episódio chegou ao final. Procurem conhecer melhor as etnias indígenas brasileiras.

[Ana]

[tom de voz de encerramento]

Isso. Descubram a variedade e a riqueza dessas culturas. Até a próxima!

[Diego]

[tom de voz de encerramento]

Tchau, pessoal!

[Narrador]

O áudio inserido neste conteúdo é da Incompetech.

Os povos indígenas do Brasil (século XVI)

Mapa. Os povos indígenas do Brasil (século 16). Mapa territorial: Povos: Região Norte: BARÉ YANOMAMI, MANAU, JURIMÁGUA, OMÁGUA, MURA, ARUAQUE, TARUMÁ, MAWÉ, ARUAQUE, TAPAJÓ, MUNDURUKU, JURUNA, AIMORÉ, KAYAPÓ DO NORTE, KARAJÁ  e ACUÉN. Região Nordeste: TUPINAMBÁ, TABAJARA, GUAJAJARA, TIMBIRA, GAMELA, URUBU, TREMEMBÉ, POTIGUAR, APINAJÉ, XAVANTE, KRAHÔ, XERENTE, XAVANTE, AMOIPIRA, TUPINA, GOIÁ, AIMORÉ, CAETÉ, TUPINAMBÁ, TUPINIQUIM, TABAJARA e ACROÁ. Região Centro-oeste: PARECI, PAIAGUÁ, GUAIKURU, BORORO, KAYAPÓ e BACARIN. Região Sudeste: GUAIANÁ, KAINGANG, TUPINAMBÁ, PURI, TAMOIO, BOTOCUDO, TEMIMINÓ e GOITACÁ. Região Sul: GUARANI, KAINGANG e TUPINIQUIM. Na parte inferior, à esquerda, planisfério destacando parte da América do Sul, ao lado, representação da rosa dos ventos e escala de 501 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: bétel, (organizador). História da América Latina: a América colonial. São Paulo: êduspi; Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 20042005. volume 1. página 103.

Uma diversidade de povos

Os indígenas que viviam onde hoje é o Brasil não formavam um grupo homogêneoglossário , pois a organização social, as crenças, os costumes e o modo de vida deles eram bastante diversificados.

Essa diversidade de povos indígenas mostra-se também na variedade de línguas. Na época da chegada dos portugueses, em 1500, estima-se que havia quase mil línguas faladas entre os nativos.

Ícone 'Atividade oral'.

Questão 1.

Atualmente, muitas palavras de origem indígena fazem parte de nosso vocabulário e são usadas em nosso dia a dia. Você conhece algum exemplo? Converse com os colegas.

Ícone ‘Atividade oral’. Ícone 'Ciências Humanas em foco'.

Questão 2.

De acôrdo com o mapa, a região onde você e seus colegas vivem era habitada por algum povo indígena? Se sim, qual?

Os povos indígenas vivem em diferentes regiões do território brasileiro. Apesar de terem passado por grandes mudanças ao longo dos séculos, preservam diversos elementos da cultura de seus antepassados.

Analise a seguir representações de alguns dos povos nativos que viviam no Brasil, feitas no século dezenove por viajantes europeus.

Os Camacã ou Mongoió (que significa “cabeça enrodilhada”) habitavam a região da Bahia.

Litografia. Um homem indígena, usando um adorno na cabeça com penas vermelhas e um adereço no pescoço, segurando com a mão algumas flechas com penas coloridas. .
Chefe Camacã Mongoió, de Jean Batísti debrê. Litografia, 31centímetrospor49centímetros, 1834.

Os Bororo ocupavam territórios da atual Região Centro-Oeste e tinham uma organização social bastante complexa. O cotidiano deles era marcado por rituais, como os de nominação (quando uma criança é introduzida formalmente na sociedade) e os funerais.

Pintura em preto e branco. Um homem indígena, com adono com penas na cabeça e no nariz, está com braços cruzados. Ao lado, uma mulher indígena, de pé, com um cesto grande nas costas e uma criança sentada nos ombros.
Indígenas bororo, de ercúle florênce, 1827.

Os Mundurukuhabitavam a região no norte do território próximo ao vale do rio Tapajós. Por causa de sua tradição guerreira, êles costumavam realizar expedições para combater povos inimigos.

Pintura. Destacando o busto de um indígena com rosto e o corpo pintado com linhas tracejadas. O cabelo foi raspado no topo da cabeça, ficando apenas um pequeno círculo de cabelo no centro e nas laterais da cabeça. Nas orelhas, dois adornos.
Indígena Munduruku, de ercúle florênce. Aquarela e nanquim sôbre papel, 28,5centímetrospor30centímetros, 1828.

Os Krenak viviam no litoral, no norte do território. êles utilizavam adornos de madeira, os botoques, por isso eram chamados de botocudos pelos portugueses. Eram conhecidos pêla agilidade na caça e na atividade guerreira.

Gravura. Um homem indígena de perfil, com adorno no queixo, sem vestes, está de pé carregando um arco e flechas. Ao lado, uma mulher indígena com adorno no queixo e cesto nas costas, está caminhando, segurando uma criança na mão e outra nos ombros.
Botocudos com sua família, de . Gravura em cobre, 1842.

Nesta imagem, estão representados indígenas de diversas etnias, como Arara, Munduruku, Tapua, e Aruaque.

Litografia. Três linhas com ilustrações de bustos de indígenas. Na primeira, à esquerda, destacando busto de um indígena com cabelos lisos e longos e orelha alargada. Abaixo, a inscrição: AROAQUÍ. Ao lado, o busto de um indígena, de perfil, com cabelos compridos. Abaixo, a inscrição: CATAUUIXÍS. À direita, um indígena com cabelos compridos e preso no topo da cabeça, com adornos na orelha e no queixo. Abaixo, a inscrição: YUPUÁ. Na segunda fileira,  busto de um indígena com cabelo liso até a altura dos ombros com duas argolas no nariz. Abaixo, inscrição: MIRANHA. Ao lado, um indígena, com cabelos lisos e pintura ao redor dos lábios. Ele tem um adereço no nariz e no pescoço. Abaixo, a inscrição: ARARA. Na terceira fileira, à esquerda, busto de um indígena com rosto e corpo pintado por linhas tracejadas. Há um adorno na orelha. Abaixo, a inscrição: MUNDRUCÚ. Ao lado, busto de um indígena de perfil com um adorno de penas na cabeça e o pescoço pintado com linhas tracejadas. Abaixo, a inscrição: MUNDRUCÚ. À direita, um indígena com adorno de penas na cabeça e adereços na orelhas e pescoço. Abaixo, a inscrição: MAUHÉ.
Arara, de carl Frídric . Litografia, 46centímetrospor59centímetros, 1823.

As representações dos indígenas

A maioria das fontes históricas utilizadas para estudar as sociedades indígenas que viviam, no século dezesseis, no território onde hoje é o Brasil foi produzida por europeus. Portanto, ao analisar os relatos de viagens, os desenhos e as pinturas, devemos considerar que documentos mostram a visão europeia sôbre os indígenas, e que povos, muitas vezes, estão representados de maneira superficial e até preconceituosa.

Os povos Tupi-Guarani

Os primeiros povos indígenas que habitavam o atual território brasileiro a entrarem em contato com os europeus foram os Tupi-Guarani, no século dezesseis.

Originários da região amazônica, os Tupi-Guarani formam um conjunto diversificado de grupos indígenas que falam um idioma originário do tronco linguístico tupi. Entre povos, estão os indígenas guaranis, tamoios, caetés, potiguares, tabajaras, apiacás, xetás e temimós, por exemplo.

Os indígenas Tupi-Guarani habitavam territórios ao longo de toda a costa litorânea do atual território brasileiro. Sua economia era baseada na caça, na pesca e na agricultura, com o cultivo de mandioca, feijão, batata-doce, tabaco, entre outros. A produção era de subsistência, compartilhada entre todos os membros da comunidade.

A organização social

O líder guerreiro

Os Tupi-Guarani se organizavam em aldeias, geralmente localizadas perto dos rios, as quais eram comandadas pêlo cacique, principalmente em tempos de guerra. O cacique era escolhido pelos membros da comunidade por apresentar características pessoais consideradas importantes, como coragem, inteligência e liderança.

O cacique era quem tomava as principais decisões, auxiliado por um conselho formado por pessoas mais velhas e experientes. De modo geral, o cacique não tinha privilégios. Como os demais membros da comunidade, êle trabalhava na defesa da aldeia, na construção de moradias, nas atividades agrícolas, entre outros.

Litografia. À esquerda, uma mulher indígena com o corpo pintado com linhas tracejada. Ao lado, um homem com cabelos preto, usando adorno de penas na cabeça e colar, está com as pernas e braços pintados de preto e a barriga e o peito com detalhes em preto. Seguido, duas mulheres com pinturas de linhas tracejadas nas pernas e na face. Posteriormente, uma pessoa de costas com as pernas pintadas com linhas tracejadas. Atrás, um homem, com adornos na orelha e no pescoço e com o corpo pintado. No fundo, duas mulheres segurando um bastão dento de um objeto com formato cilíndrico que está no chão. Seguido, um tacho.
Morada dos apiacás em Arinos, de Ércule florrânce. Aquarela sôbre tela, 1828.

O líder espiritual

Em tempos de paz, no entanto, a maior autoridade da comunidade tupi-guarani era exercida pêlo pajé. O pajé geralmente era o membro mais velho e mais experiente da comunidade. Ele era considerado o líder espiritual, responsável pêla organização de rituais e festividades religiosas, e pêla cura dos doentes por meio da manipulação de plantas, ervas e outros recursos extraídos da natureza.

Por conta de sua vivência e experiência, o pajé também era responsável por transmitir o conhecimento e a história da sua comunidade aos membros mais jovens. O principal meio de transmissão dêsse conhecimento era por meio da oralidade, ou seja, pêla contação de histórias e mitos para os mais jovens.

A cultura tupi-guarani na atualidade

Muitos aspectos da cultura tupi-guarani chegaram até nós, no presente, e são preservados pelos seus descendentes. Muitas comunidades indígenas tupis-guaranis ainda mantêm sua organização social e respeitam a autoridade do pajé e do cacique, por exemplo.

Alguns elementos culturais se difundiram e se generalizaram. Hábitos alimentares como o de consumir erva-mate, milho, mandioca, pimenta, abóbora, entre outros, enriqueceram a culinária brasileira atual. Hábitos de higiene, como o de tomar banhos diários, e de descanso, como o de dormir em redes, são praticados até hoje em diversas regiões do Brasil.

Muitas palavras de origem tupi-guarani também fazem parte de nosso dia a dia, como abacaxi (fruta cheirosa), biboca (moradia humilde), guri (jovem), lenga-lenga (muita conversa), oi (saudação) e xará (mesmo nome).

Fotografia. Ao centro, duas mulheres indígenas, usando camisa, calça e adereços no pescoço, estão segurando uma peneira com as mãos na direção de um objeto em formato cilíndrico que está no chão. Perto das mulheres, duas crianças. Atrás, moradia de madeira e vegetação.
Indígenas do povo Êmibiá preparando o , alimento à base de milho e amendoim, na aldeia Tekoá Porã, no município de Salto do Jacuí, Rio Grande do Sul, em 2021.

Os indígenas e a divisão do trabalho

Para garantir o sustento e o bom funcionamento da comunidade, os indígenas Tu­pi-Guarani e de outras etnias costumavam distribuir as tarefas cotidianas entre seus integrantes. O trabalho geralmente era dividido de acôrdo com o sexo e a idade. Mesmo não sendo igual para todos os povos, a divisão de tarefas entre homens e mulheres ainda é bastante comum hoje em diversas comunidades.

Verifique as ilustrações a seguir, que representam uma aldeia bororo, sociedade indígena do tronco linguístico macro-jê.

Ilustração. Vista de uma aldeia indígena. À esquerda, dois homens com arco e flecha. Sobreposto à letra 'A'. Abaixo, três mulheres colhendo em uma plantação. Sobreposto à letra 'B'. Ao lado, dois homens construindo uma pequena embarcação de madeira. Sobreposto à letra 'C'.  Na beira de um corpo de água, há um homem com uma lança. Ao fundo, moradia indígena e vegetação.

Estas ilustrações de aldeias bororo são representações artísticas contemporâneas produzidas com base em estudos históricos. Fonte de pesquisa: NOVAES, Sylvia Caiuby. Mulheres, homens e heróis: dinâmica e permanência através do cotidiano da vida Bororo. São Paulo: éfe éfe éle cê agá/úspi, 1986. página 3840, 101104.

A. Os homens preparavam a terra para o plantio, caçavam e pescavam.

B. As mulheres desempenhavam atividades como coleta, plantio e colheita, além de cozinhar e de cuidar das crianças.

C. Quando necessário, os homens fabricavam canoas.

Ilustração. Ao centro, uma pessoa em pé, com adorno colorido na cabeça e com os braços abertos. Ao lado, outra pessoa de pé e encurvada, com o mão em direção ao corpo da pessoa com adorno na cabeça. Em volta, três pessoas sentadas observando. Sobreposto à letra 'A'. Ao fundo, do lado de uma moradia em construção, dois homens colocando palha na construção. Sobreposto à letra 'B'. À esquerda, pessoas sentadas segurando vasos na mão. Sobreposto à letra 'C'. Na beira de um corpo de água, crianças brincam. Sobreposto à letra 'D'.

A. As mulheres realizavam preparativos para as festas e rituais da comunidade, como a pintura corporal.

B. Era responsabilidade dos homens guerrear contra os povos inimigos e construir habitações.

C. Com as mulheres, crianças e idosos podiam fabricar utensílios artesanais, como potes de ceâmica e cestos feitos de palha.

D. Uma das atividades preferidas das crianças era brincar no rio.

O seminomadismo

Antes da chegada dos portugueses, os povos indígenas que viviam nas terras onde hoje é o Brasil desenvolveram diferentes fórmas de organização. Muitos deles viviam em aldeias, pequenas povoações lideradas por um chefe, formando grupos seminômades. Os indígenas seminômades deslocavam-se de fórma sazonalglossário , geralmente quando os recursos naturais do lugar onde estavam se tornavam insuficientes. Quando isso acontecia, êles se mudavam para um novo local onde pudessem caçar, pescar, coletar frutos e raízes, além de cultivar pequenas áreas de plantio.

Ícone 'Atividade oral'.

Questão 3.

Há algum aspecto do modo de vida indígena parecido com o seu e o de sua família?

As moradias indígenas

As moradias de várias etnias indígenas eram também uma expressão cultural, que indicava a maneira como os indígenas se relacionavam com a natureza e entre si, na comunidade. Havia grande diversidade de moradias, construídas com diferentes materiais e organizadas em disposições espaciais distintas, por exemplo.

As moradias bororo

As moradias bororo tradicionais eram construídas com matérias-primas que êles encontravam ao redor, como palha, tinham o chão de terra batida e sem divisões internas, garantindo um ambiente fresco durante o dia e aquecido durante a noite. Essas moradias eram coletivas e podiam abrigar de duas até quase 20 pessoas.

Essas construções geralmente eram feitas pelos homens em mutirão, ou seja, de fórma coletiva, para favorecer toda a comunidade.

As moradias eram dispostas umas ao lado das outras, formando um círculo. O centro dêsse círculo formava um pátio, que servia de espaço de convivência dos moradores e de lugar para as festas e as cerimônias religiosas.

A organização circular das moradias

Muitas sociedades indígenas também possuíam a fórma de organização circular de suas moradias, como os indígenas da etnia Kalapalo, originários do território do atual estado do Mato Grosso.

Para essa comunidade, a fórma de organização circular é a representação do espaço que indica igualdade entre seus moradores, já que as moradias geralmente são do mesmo tamanho e estão dispostas a uma mesma distância em relação ao centro.

Fotografia. Vista aérea de moradias indígenas dispostas em círculo, com uma moradia no centro. Ao redor, vegetação.
Vista aérea de aldeia calapálo, em Querência, Mato Grosso, em 2018.

As moradias dos povos

As moradias dos povos , também conhecidos como Xavante, que habitavam o território do atual estado do Mato Grosso, eram feitas de madeira e cobertas de palha. Na maioria das vezes, elas eram construídas na região entre dois rios. As moradias ficavam lado a lado, dispostas em formato de ferradura, com a abertura voltada sempre para o maior rio.

O centro da “ferradura” formava um pátio, chamado pelos de , onde se realizavam reuniões entre membros da aldeia para discutir assuntos relacionados à vida da aldeia e para tomada de decisões.

Fotografia. Uma moradia indígena com base retangular e teto em formato triangular feita de madeira e palha.
Moradia , na aldeia Babacú, em Água Boa, Mato Grosso, em 2018.

As moradias uaiãpí

As moradias dos uaiãpí, que habitam os territórios dos atuais estados do Amapá e do Pará, eram feitas com uma armação de madeira, cobertas com palha no teto e suspensas, pois, acima do solo, podiam se proteger dos animais durante a noite.

As casas uaiãpí, chamadas de jurá, não seguiam uma organização como a dos e a dos Bororo. Geralmente, as casas eram construídas perto dos rios, onde êles podiam se banhar, pescar e coletar água, e ao lado da moradia dos amigos e familiares. Cada moradia abrigava uma família.

Fotografia. Uma moradia com telhado de palha sem paredes. Ao redor, vegetação.
Moradia tradicional uaiãpí localizada no Museu Sacaca, em Macapá, Amapá, em 2012.

As religiosidades indígenas

Cada uma das sociedades indígenas possuía suas próprias crenças, religião e rituais. No entanto, algumas características eram compartilhadas por vários povos.

De maneira geral, para os indígenas que viviam onde hoje é o Brasil, o Universo era dividido entre dois mundos: o mundo dos vivos, natural, habitado por seres humanos, e o mundo espiritual, sobrenatural, habitado por aqueles que já morreram e pelos deuses.

Na religiosidade indígena, muitos elementos da natureza, como os animais, as plantas, o Sol e a Lua, eram representados por deuses que habitavam o mundo sobrenatural, mas que podiam interferir no mundo dos vivos.

A importância do pajé

Muitos povos indígenas acreditavam que o equilíbrio entre o mundo natural e o sobrenatural garantia a ordem do Universo.

Dessa maneira, para que houvesse harmonia entre os dois mundos, o pajé exercia uma função importante. De acôrdo com a tradição de diversos povos, era por meio das cerimônias e dos rituais organizados e realizados por êle que se mantinha o equilíbrio do Universo. Do contrário, quando as cerimônias e os rituais não eram realizados, por exemplo, os deuses ficariam enfurecidos com a falta de cuidado e interêsse dos humanos, resultando em catástrofes naturais, como uma sêca prolongada ou grandes tempestades.

Fotografia. Uma mulher indígena, usando brinco, vestido azul e lenço no pescoço, está de pé, com os olhos fechados, segurando com as mãos um instrumento musical de percussão.
, primeira mulher pajé de seu povo, da etnia , tocando instrumento musical durante ritual religioso, na aldeia Mutum, em Tarauacá, Acre, em 2018.

Festas e rituais

A religiosidade era um elemento muito importante do cotidiano dos povos indígenas. Diversas festas e rituais eram realizados por êles como fórma de manter sua relação com o mundo sobrenatural.

Assim, havia festas e rituais indígenas por diversos motivos: para apaziguar os espíritos e manter o equilíbrio do Universo, para celebrar o nascimento de uma criança, para realizar um casamento, para marcar a passagem das fases da vida de uma pessoa, entre outros.

Havia também rituais relacionados aos fenômenos da natureza, para que houvesse a ocorrência de chuvas, por exemplo, ou rituais para garantir a cura de doenças ou a manutenção da saúde dos indivíduos.

O ritual do quarup

Um dos rituais mais conhecidos dos povos indígenas que ainda hoje está presente em sua cultura é o ritual do quarup, realizado anualmente pelos povos indígenas da região do Xingu.

De acôrdo com as tradições religiosas dêsses povos, o quarup é um ritual realizado em homenagem aos mortos. Para isso, são utilizados troncos de árvores (os quarup) adornados com as pinturas corporais e símbolos utilizados pêlas pessoas em vida.

Com o ritual realizado pêlo pajé em honra ao deus , os mortos voltariam e ocupariam o lugar dos troncos de árvore. Durante o ritual são feitas oferendas com frutas, doces e outros alimentos em honra à pessoa ressuscitada e a .

Fotografia. No primeiro plano, dois indígenas com os corpos pintados e adereços com penas na cabeça. Eles estão inclinados, segurando com as mãos um bastão. Ao redor, um grupo de indígenas, com corpos pintados, estão enfileirados em círculo. Atrás, moradias indígenas e vegetação.
Indígenas cuícuru da aldeia Afucurí durante o ritual do quarup, em Querência, Mato Grosso, em 2021.

Glossário

Homogêneo
: nesse sentido, que apresenta características e aspectos culturais iguais.
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Sazonal
: referente a determinada época ou período do ano.
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