UNIDADE 8 A expansão do território colonial

Fotografia. Vista de uma cidade. Diversas moradias com telhados marrom, uma do lado da outra, compartilham o espaço com algumas árvores.  Na parte mais alta da cidade, uma igreja com paredes brancas, duas torres laterais com sino, janelas e uma porta na fachada frontal.
Vista panorâmica da cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, em 2021.

A partir do final do século dezesseis, iniciou-se no Brasil Colônia o processo de exploração de áreas distantes do litoral, impulsionando a expansão do território para o interior.

Uma das consequências da expansão foi a descoberta de minas de ouro e de diamante, entre o final do século dezessete e o início do século dezoito. êsse fato tornou a mineração uma das principais atividades econômicas da Colônia e atraiu milhões de pessoas para o interior do território. Nessa época, várias cidades foram fundadas nas áreas próximas às minas.

Iniciando a conversa

  1. Qual edifício se destaca na paisagem retratada na página anterior? O que isso indica sôbre os costumes dos habitantes da cidade no século dezoito?
  2. Você sabe quais atividades econômicas eram realizadas no Brasil Colônia, no século dezoito? Comente.
  3. Você conhece alguma cidade colonial fundada há mais de 300 anos? Em caso afirmativo, comente sôbre as características arquitetônicas dessa cidade.

Agora vamos estudar...

  • a importância da pecuária no Brasil Colônia;
  • os aldeamentos indígenas;
  • as bandeiras e a expansão dos limites territoriais;
  • a descoberta do ouro;
  • a circulação de mercadorias e a integração territorial;
  • a sociedade colonial;
  • a resistência à escravidão.

CAPÍTULO 17 Rumo ao interior da Colônia

Nos capítulos anteriores, estudamos que a economia colonial era baseada na grande propriedade rural (engenho), na agricultura de exportação (tendo como principal produto o açúcar) e na utilização de mão de obra escravizada.

Inicialmente, a colonização portuguesa se concentrou no litoral, e o interior do território era habitado principalmente por povos indígenas. A partir do final do século dezesseis e início do século dezessete, porém, os portugueses começaram a formar povoados em territórios que ultrapassavam os limites estabelecidos em 1494 pêlo Tratado de Tordesilhas, que dividia as terras do continente americano entre Portugal e Espanha.

Nos séculos dezessete e dezoito, outras atividades econômicas tornaram-se importantes na Colônia, entre elas a pecuária, a exploração das chamadas drogas do sertãoglossário e a mineração. Verifique no mapa.

Principais atividades econômicas na Colônia portuguesa (séculos XVII-XVIII)

Mapa. Principais atividades econômicas na Colônia portuguesa (séculos 17-18). Mapa representando parte da América do Sul, destacando os limites do atual território brasileiro e linha vertical indicando o Tratado de Tordesilhas. Conforme a legenda: Mineração: Porção de terra na região Centro-Oeste, cortada pelo Tratado de Tordesilhas, cidades destacadas de Cuiabá e Vila Boa. Pequenas porções de terra no Nordeste e pequena faixa de terra no Sudeste, cidades destacadas de Sabará, Vila Rica, São João del Rei, e V. do Ribeirão do Carmo. Todos à leste do Tratado de Tordesilhas. Pecuária: Pequenas porcões de terra, tanto no lado leste como oeste do Tratado de Tordesilhas, nas regiões Sul, Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste e Norte. Cidades destacadas: Curitiba, Castro e Quixeramobim. Drogas do Sertão: Grande faixa de terra que se estende, em sua maioria, na região oeste do Tratado de Tordesilhas, acompanhando o curso do Rio Amazonas e seus afluentes. Cidades destacadas: Obidos e Macapá. Cana-de-açúcar: Faixa de terra que segue o litoral do Brasil com o Oceano Atlântico, à leste do Tratado de Tordesilhas. Cidades destacadas: São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Recife, Paraíba, Natal, Fortaleza e São Luís. À direita, na parte superior, representação da rosa dos ventos. Abaixo, planisfério destacando parte da América do Sul e, ao lado, escala de 405 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2002. página 41.

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Questão 1.

De com o mapa, qual era a principal atividade econômica desenvolvida no litoral da Colônia? E quais eram desenvolvidas no interior?

A importância da pecuária na Colônia

A criação de gado foi uma das atividades que contribuiu para a interiorização do território da Colônia. O gado bovino foi trazido para o Brasil no início da colonização e era utilizado nos engenhos para mover as moendas de açúcar, transportar produtos, auxiliar no arado da terra, além de fornecer carne, leite e couro para os moradores.

A atividade pecuária lógo ganhou importância econômica e começaram a ser formados pastos fóra dêsses locais. Com receio de que os animais fossem criados em áreas destinadas às plantações de cana-de-açúcar, produto muito mais rentável, em 1701, a Coroa portuguesa proibiu a atividade pecuária no litoral.

Gravura em preto e branco. Ao centro, uma máquina de madeira com engrenagens de metal. Acima, hastes de madeira presas em bois que fazem movimentos circulares, girando as engrenagens . Perto das engrenagens, um homem negro coloca caules de cana-de-açúcar entre as engrenagens.
Moenda de açúcar movida a boi, de e djêordji . Gravura, 1648.

As fazendas de gado

Com a proibição, a pecuária avançou para o Sertãoglossário da atual Região Nordeste do Brasil. Fazendas de gado bovino começaram a ser formadas às margens dos rios, entre êles o rio São Francisco.

Nessas fazendas, a organização do trabalho era diferente da que havia nos engenhos de açúcar. As atividades de um engenho requeriam um grande número de pessoas escravizadas para sua realização, além de um rígido contrôle da produção. Já nas fazendas de gado, era preciso um número reduzido de pessoas, incluindo os africanos escravizados e os chamados vaqueiros — estes faziam seu trabalho de maneira mais independente, em uma vasta extensão de terras.

Na atual Região Sul do Brasil, a pecuária era desenvolvida desde o século dezesseis, quando os colonizadores trouxeram os primeiros bois e cavalos. Nessa região, predominavam extensas planícies cobertas de pastos, o que favorecia essa atividade.

No final do século dezessete, com a expansão do território, a região passou a ser ocupada por colonos que se dedicavam à criação de mulas, animal que se tornou o principal meio de transporte de pessoas e de mercadorias no período colonial.

A exploração das drogas do sertão

Outra importante atividade que contribuiu para a expansão do território colonial foi a exploração das drogas do sertão, desenvolvida na atual Região Norte do Brasil. Além de serem utilizados na alimentação, produtos tinham uso medicinal e terapêutico, e seu comércio gerava grandes lucros. Nessa época, tais produtos tornaram-se muito valiosos, como o cacau e o cravo, e muitos foram utilizados como moeda de troca no território colonial. Leia o texto a seguir.

reticências o cacau era abundante na região, e sua importância econômica foi das maiores desde que as côrtes europeias aderiram ao chocolate como bebida. Tanto que, para estimular sua coleta e mesmo o plantio, no fim do século dezessete o govêrno português determinou a isenção de impostos de exportação para o produto. reticências

Outros produtos significativos, de uso alimentar e como , eram: a salsaparrilha, o pau-cravo, a noz de pixurim, a castanha-do-pará, o gergelim, o pequi, o anil e a baunilha.

reticências

quítin, Vallandro; MARANHÃO, Ricardo. Caminhos da conquista: a formação do espaço brasileiro. São Paulo: Terceiro Nome, 2008. página 221.

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Questão 2.

Quais produtos amazônicos são citados no texto? Algum deles faz parte do seu cotidiano? Comente com os colegas.

Jesuítas e indígenas

A grande presença de populações indígenas no norte da Colônia chamou a atenção de missionários religiosos europeus.

Os padres da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada na Europa, em 1534, empreenderam diversas ações na região com o objetivo de catequizar os povos indígenas, convertendo-os ao cristianismo. Os jesuítas (como eram chamados) também se destacaram por combater a escravização dêsses povos.

Para facilitar a conversão dos indígenas ao cristianismo, muitos jesuítas aprendiam as línguas nativas, entre elas o guarani.

Capa. Na parte superior, há o texto: EXPLICACION DE EL CATECHISMO EN LENGUA GUARANI POR NICOLAS YAPUGUAI CON DIRECCION DEL P. PAULO RESTIVO DELA COMPAÑIA DE JESUS. Abaixo, ilustração de uma mulher com tecido cobrindo os cabelos e segurando uma criança com as mãos. Abaixo, há o texto: Enel Pueble de S. Maria La Mayor. AÑO DE MDCCXXIV.
Reprodução da capa da obra Explicación de el catechismo en lengua guarani, de Nicolas , publicada pêla Companhia de Jesus, em 1724.

Apesar de exercer forte oposição à escravização indígena, os jesuítas exploravam sua mão de obra em diversas atividades, como na agricultura, na criação de animais e, principalmente, na coleta de drogas do sertão. Eram os indígenas que entravam nas matas, coletavam produtos e os transportavam até os aldeamentos, também denominados missões ou reduções, para depois serem vendidos na Europa.

Os aldeamentos indígenas

Nos aldeamentos indígenas, administrados pelos jesuítas, o modo de vida dos nativos era completamente alterado. Além de serem submetidos a uma rígida rotina de trabalho, êles estavam sujeitos a atividades como educação religiosa, leitura e escrita, além de aprender os hábitos e os costumes do colonizador, como usar roupas de algodão e fazer orações.

Muitos colonos criticavam o trabalho catequizador dos jesuítas por causar, de acôrdo com êles, a redução da mão de obra nativa. Como os jesuítas combatiam a escravização dos indígenas, havia constantes atritos entre os missionários e os colonos. Por isso, muitos deles foram expulsos das áreas próximas dos engenhos, direcionando-se para o interior do norte e do sul da Colônia, onde fundaram novos aldeamentos.

No entanto, a contínua busca pêla mão de obra indígena não evitou que aldeamentos também sofressem ataques, principalmente de expedições que buscavam aprisionar os nativos para vendê-los como pessoas escravizadas. Para resistir a ataques, indígenas e missionários construíram pequenas fortalezas e formaram tropas armadas.

Gravura. À esquerda, homens indígenas, com tecido colorido ao redor da cintura, estão segurando bastões com as mãos. Centralizado, um homem, usando batina, está segurando um tecido colorido sobre a face de um homem indígena. À direita, homens indígenas, com tecido colorido ao redor da cintura. Dois deles estão segurando bastões com tecidos coloridos na ponta. Atrás, moradias de madeira e vegetação.
Padre jesuíta batizando um indígena tupinambá em 1550, de autor desconhecido. Gravura, 1850.

A capitania de São Vicente

A capitania de São Vicente foi fundada em 1534 e ficava localizada no litoral do atual estado de São Paulo.

Nessa capitania, assim como em outras da Colônia, a produção de açúcar foi uma das primeiras atividades econômicas. Entretanto, essa produção não obteve o mesmo êxito que o alcançado na Região Nordeste.

O declínio dos engenhos da capitania de São Vicente impulsionou muitas pessoas a subir a Serra do Mar e a se instalar no planalto de Piratininga, perto de onde foi fundada a vila de São Paulo de Piratininga e o colégio jesuíta, em 1554. Mais tarde, a vila formada no local deu origem à cidade de São Paulo. Atualmente, o local do antigo colégio jesuí­ta abriga o Museu Anchieta.

Fotografia. Fachada de prédio branco com portas e janelas azuis e com uma torre central. Em frente, pátio com pessoas com vestindo roupas coloridas.
Museu Anchieta, na cidade de São Paulo, São Paulo, em 2019.

Em São Vicente, os habitantes desenvolviam atividades agrícolas voltadas para o mercado interno, por meio do cultivo de produtos como o milho, o trigo, o algodão, o feijão e a mandioca.

Eram os indígenas escravizados que realizavam a maior parte do trabalho nas lavouras, o que tornava a captura e a venda dos nativos uma importante fonte de lucro para alguns colonos. Assim, diversas expedições de apresamentoglossário de indígenas foram feitas no interior do território, as chamadas bandeiras. Embora inicialmente não fosse seu principal objetivo, nessas expedições também se realizavam buscas por minerais preciosos, como ouro, prata e pedras preciosas.

Litogravura. Uma fila de pessoas caminhando. À esquerda, um haomem, usando chapéu, camisa e calça, está segurando com uma das mãos uma arma. Ao lado, mulheres e crianças indígenas com as mãos amarradas. As crianças estão agarradas as mulheres. À direita, dois homens usando chapéu, camisa e calça, carregam armas, bolsa e uma ave.
Soldados índios da província de Curitiba escoltando selvagens, de Jan- debrê. Litogravura, 21centímetrospor32,5centímetros, 1834.

Tipos de bandeiras

Os integrantes das bandeiras ficaram conhecidos como bandeirantes. Inicialmente, êles realizavam alianças com aldeias que estavam em guerra com povos rivais, adquirindo indígenas capturados nas batalhas. Com o aumento da procura por mão de obra indígena, os bandeirantes passaram a atacar diretamente as aldeias para capturar os indígenas. Essas expedições ficaram conhecidas como bandeiras de apresamento.

Aos poucos, algumas populações indígenas do litoral foram sendo dizimadas. Outras se deslocavam para o interior da Colônia para evitar os ataques. Além disso, muitas missões jesuíticas foram atacadas pelos bandeirantes, pois elas reuniam grande número de indígenas.

fatores fizeram com que os bandeirantes realizassem expedições cada vez mais distantes do litoral. Em meados do século dezessete, êles chegaram a territórios que hoje fazem parte das regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil.

A partir da segunda metade do século dezessete, houve intensificação das bandeiras em busca de minerais preciosos. Em parte, isso ocorreu por causa do incentivo da Coroa portuguesa, que passou a oferecer prêmios e títulos de nobreza para os que encontrassem fontes dêsses minerais.

As expedições em busca de pedras e de metais preciosos ficaram conhecidas como bandeiras de prospecçãoglossário . No final do século dezessete, os bandeirantes encontraram as primeiras minas de ouro em regiões onde hoje se localiza o estado de Minas Gerais.

Bandeiras de apresamento e bandeiras de prospecção (século XVII)

Mapa. Bandeiras de apresamento e bandeiras de prospecção (século 18). Mapa territorial de parte da América do Sul, destacando o limite atual do território do Brasil. Conforme a legenda: Bandeira de apresamento: Expedição de Antônio Raposo Tavares, A. Fernandes e Fernão Dias Paes. Partindo da região de Santos e São Paulo em direção ao Sul. Expedição de Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares. Partindo da região de Santos e São Paulo em direção ao Sul, perto da fronteira com o Paraguai. Expedição de Antônio Raposo Tavares. Partindo da região de Santos e São Paulo em direção ao Centro-Oeste. Expedição de Antônio Raposo Tavares. Partindo da região Centro-Oeste, passa pela atual fronteira do Brasil com a Bolívia e o Peru, segue pelo Rio Amazonas até a cidade destacada de Gurupá, na região Norte. Todas essas expedições, com exceção da expedição de Antônio Raposo Tavares para Gurupá, atravessaram o Tratado de Tordesilhas da direção leste para oeste. Bandeira de prospecção: Expedição de Fernão Dias Paes e A.M. Borba Gato. Partindo da cidade destacada de Taubaté até a região da cidade destacada de Porto Seguro. Expedição de Bartolomeu B. da Silva. Partindo da região de São Paulo e Santos. A rota bifurca na região Centro-Oeste, uma seguindo até a região da cidade destacada de Vila Boa e a outra até a região Norte, na cidade destacada de Belém. Expedição de Pascoal Moreira Cabral. Partindo da região de São Paulo e Santos em direção à região da cidade destacada de Cuiabá. A rota de Pascoal Moreira Cabral, para Cuiabá, e a de Bartolomeu Dias, para a região de Vila Boa, atravessam o Tratado de Tordesilhas de leste para oeste. Na parte inferior à direita, planisfério destacando parte da América do Sul. Acima, representação da rosa dos ventos e, abaixo, escala de 430 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2002. página 39.

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Questão 3.

De acôrdo com o mapa, considerando o ponto de origem, quais foram as vilas e cidades mais distantes que as bandeiras alcançaram?

O cotidiano durante as bandeiras

Uma bandeira podia durar semanas ou meses e reunir centenas de pessoas. Considerando essas questões, procure imaginar quem eram essas pessoas e como era o cotidiano delas durante o tempo da expedição.

Os indígenas constituíam a maior parte dos integrantes de uma bandeira, seguidos por mamelucosglossário . Já os europeus e seus descendentes, que geralmente lideravam as expedições, eram em menor número.

Os bandeirantes caminhavam a pé, mata adentro, seguindo, principalmente, por trilhas já formadas pelos nativos. êles partiam no início da manhã e acampavam ao entardecer, realizando poucos intervalos para se alimentarem. Em seus acampamentos, dormiam em redes e faziam fogueiras para espantar insetos e animais ferozes. Geralmente, tinham poucos recursos e levavam apenas a roupa do corpo e alguns equipamentos.

Monções e entradas

Além das bandeiras, havia outras expedições:

As monções eram expedições que utilizavam vias fluviais para abastecer as regiões mineradoras do atual Centro-Oeste do território. As embarcações carregavam mantimentos, armas e munições, além de mercadorias para serem comercializadas nos povoados e nas vilas que se formaram nas margens dos rios.

As entradas eram expedições financiadas pêla Coroa portuguesa que partiam do litoral da atual Região Nordeste rumo ao interior do território. Tinham o objetivo de explorar o interior da Colônia para combater ataques às vilas e às cidades realizados por indígenas ou por outros invasores europeus. Além disso, também buscavam minérios preciosos.

Ilustração. À esquerda, um homem, usando chapéu, camisa, colete e calça, está com o braço estendido para esquerda e, com a outra mão, segurando uma arma. Ao lado, um homem negro segurando uma grande trouxa na cabeça. Seguido, um homem, usando camisa e colete, está segurando uma arma com uma das mãos. Atrás, um homem negro, sem camisa e short. Todos eles estão caminhando em uma estrada de terra.

Esta ilustração é uma representação artística contemporânea feita com base em estudos históricos.

Fonte de pesquisa: MONTEIRO, Djón Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

Alimentação

Os bandeirantes obtinham alimentos principalmente através da pesca, da caça e da coleta de alimentos que encontravam pêlo caminho, como frutas, palmito e mel. Muitas vezes, êles roubavam alimentos das plantações mantidas por indígenas. Em outras ocasiões, os próprios bandeirantes plantavam feijão, abóbora e milho, que costumavam colhêr apenas na viagem de volta.

Nas monções, diversos suprimentos, como feijão, farinha, toucinho e galinhas, eram transportados nas embarcações.

Entretanto, nem sempre havia alimentos para todos, e há relatos sôbre bandeirantes que passaram fome durante as expedições ou até morreram pêla falta de alimentação.

A representação dos bandeirantes

É comum que em algumas representações de bandeirantes, como em pinturas e monumentos, êles apareçam imponentes, bem-arrumados, utilizando botas de cano alto e carregando armas de fogo. Muitas dessas representações buscam valorizar a figura do bandeirante como um bravo explorador, de fórma a enaltecê-los como heróis fundadores.

Entretanto, estudos recentes contestam essa imagem, revelando que era mais comum que êles caminhassem descalços e utilizassem roupas desgastadas, além de, muitas vezes, preferir arcos e flechas a armas de fogo, já que elas podiam apresentar problemas por causa da ferrugem provocada pêla umidade.

Escultura. Borba Gato, um homem de barba, usando chapéu, camisa, calça e botas, está de pé, segurando com uma das mãos uma arma na posição vertical.
Monumento de Borba Gato, de Júlio Guerra. Argamassa, pedras e mármore, 13 métros de altura, 1957. Cidade de São Paulo, São Paulo, em 2020.

Os saberes indígenas na vida colonial

O modo de vida e as expressões culturais indígenas exerceram grande influência sôbre o cotidiano da Colônia. Muitos bandeirantes recorreram aos conhecimentos dêsses povos para adentrar as matas e os territórios ainda desconhecidos. Os habitantes dos povoados e das fazendas formados no interior também adotaram elementos indígenas no seu modo de vida.

Mata adentro

As expedições em direção ao interior do território brasileiro, muitas vezes, exigiam o conhecimento de técnicas de navegação fluvial. Assim, a experiência indígena foi indispensável para os bandeirantes e os monçoeiros na escolha dos materiais a serem utilizados para a fabricação de canoas e no desenvolvimento dos sistemas de navegação.

Os bandeirantes também aprenderam a caçar seguindo os rastros deixados pelos animais. Além disso, muitos passaram a caminhar descalços e a se alimentarem de acôrdo com as tradições dos povos indígenas.

Modo de vida

Acostumados com a vida na mata e com o clima da região, os indígenas desenvolveram técnicas de cultivo adaptadas às condições do território onde viviam.

Ilustração. Homens indígenas dentro de uma embarcação a remo. À esquerda, um indígena segurando um arco e flecha, apontando para um corpo de água. Ao lado, um indígena, segurando uma lança, apontando o braço para a direita. À direita, três homens indígenas com remos na mão. Ao fundo, vegetação.

Esta ilustração é uma representação artística contemporânea feita com base em estudos históricos. Fontes de pesquisa: DONATO, Hernâni. Os índios do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 2010; MUNDURUKU, Daniel. Coisas de índio. São Paulo: Callis, 2000.

A coivara, por exemplo, é um método em que, antes do plantio, se queima a vegetação rasteira como fórma de limpar e adubar o terreno. Depois de alguns anos, quando o solo se esgota, uma nova área de plantio é aberta, enquanto a área esgotada é desocupada, para permitir que o solo possa ser restabelecido naquele local.

Atualmente, a coivara ainda é comum em diferentes lugares do Brasil, mas essa prática é combatida pêlas autoridades ambientais. Se praticada em larga escala e por muito tempo no mesmo lugar, ela se torna altamente prejudicial ao solo e contribui para a devastação da mata nativa.

Outra contribuição indígena foi a prática da medicina preventiva e curativa com a utilização de elementos naturais, como ervas, plantas e minerais, na produção de medicamentos para tratar e evitar doenças.

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Questão 4.

Você conhece ou já ouviu falar de saberes tradicionais indígenas? Comente com os colegas.

Os saberes indígenas na atualidade

Os conhecimentos tradicionais da medicina curativa, além de terem sido importantes no dia a dia colonial, mantêm-se presentes na sociedade atual.

Muitas aldeias utilizam elementos naturais no tratamento de doenças e na melhoria da qualidade de vida.

Para que conhecimentos continuem sendo transmitidos de geração para geração, algumas comunidades têm buscado organizar materiais para registrar e divulgar sua cultura.

Um exemplo é a cartilha intitulada Cartilha de plantas medicinais ( ), que foi desenvolvida com a participação de comunidades das aldeias da Terra Indígena caxinauá Nova Olinda, no município de Feijó, estado do Acre. Nela, estão registrados tipos e maneiras de preparar e usar de diversas plantas medicinais. êsse registro serve tanto para os aprendizes do povo caxinauá quanto para estudiosos da cultura indígena.

Capa. Na parte superior, o título: CARTILHA DE PLANTAS MEDICINAIS. (RAU XARABU). TERRA INDÍGENA KAXINAWÁ NOVA OLINDA, FEIJÓ, ACRE, BRASIL. Abaixo, desenho de uma árvore e o nome dos autores: Moacir Haverroth, Bárbara Pacheco Carita Simões da Silva, Mauricília Pereira da Silva, Almecina Balbino Ferreira. Na parte inferior, fotografias de plantas e o logotipo da Embrapa.
A cartilha de medicina tradicional do povo caxinauá está disponível em: https://oeds.link/7fj5FC. Acesso em: 2 abril 2022.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

1. De que maneira cada uma das atividades econômicas mencionadas a seguir contribuiu para a expansão do território brasileiro? Copie o esquema no caderno, completando-o com a resposta a essa pergunta.

Ícone modelo.

Atividade

Pecuária

Extração de drogas do sertão

Bandeiras

Entradas

Monções

Resposta

  1. Quem eram os jesuítas? Como era a relação deles com os indígenas?
  2. Cite as principais diferenças entre as bandeiras de apresamento e as bandeiras de prospecção.

Aprofundando os conhecimentos

4. Leia o texto a seguir, que aborda os diversos usos das drogas do sertão no período colonial, e, depois, faça o que se pede.

reticências A definição [“droga”] abarcava reticências uma infinidade de plantas, vegetais, tintas, óleos, raízes e mercadorias de lã ou seda. E devido à baixa circulação de moedas metálicas, as “drogas” cumpriam também o papel de facilitar as trocas no território luso-americano.

Entre os africanos da Bahia, a aguardente era trocada por feijões, aipins e batatas. No Pará, os indígenas que trabalhavam no plantio do gengibre recebiam pagamento com cacau, que, assim como o cravo e a salsa, era moeda corrente na Amazônia. reticências

As drogas tinham também sua importância para a saúde da população. Distantes das boticas europeias, vulneráveis às moléstias tropicais e pouco familiarizados com as plantas medicinais da flora brasileira, os colonos tinham de se submeter aos ensinamentos naturais, procurando combiná-los com as vagas noções terapêuticas que traziam da metrópole. As fórmulas milenares que conheciam nem sempre eram suficientes para combater os males causados por bichos e plantas típicos da mata tropical. reticências

AVELAR, Lucas. Uso se branco, abuso se preto. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Sabin, ano 10, número 110, Sul.página.

  1. Que tipos de produtos eram chamados de drogas do sertão?
  2. Cite pêlo menos dois exemplos que mostrem a importância das drogas do sertão no período colonial.
  3. Considere a seguinte oração: “os colonos tinham de se submeter aos ensinamentos naturais”. Qual foi o papel dos indígenas com relação a isso?

5. Analise a representação do bandeirante Domingos Jorge Velho (1641-1705) e faça o que se pede.

Pintura. À esquerda, homem robusto, com cabelos e barba branca, usando chapéu, camisa com botões, cinto, calça, casaco e bainha com facão. Ele está de pé, segurando com uma das mãos uma arma na posição vertical. Ao fundo, um homem, com bigode, usando chapéu e casaco azul.
Domingos Jorge Velho, de Benedito Calixto. Óleo sôbre tela, 100centímetrospor140centímetros, 1903.
  1. Descreva a pintura e o modo como o bandeirante foi representado. Atenção para a vestimenta, para as armas e para a postura dele.
  2. Em sua opinião, qual era a intenção do artista ao representar o bandeirante dessa maneira?
  3. De acôrdo com estudos recentes, os bandeirantes eram realmente do modo como aparecem em muitas representações? Explique.

6. Muitas cidades brasileiras, ruas, praças, bairros e estátuas receberam nomes de bandeirantes como Domingos Jorge Velho e Antônio Raposo Tavares. Apesar de terem contribuído para a expansão do território brasileiro, alguns estudiosos ressaltam que, no período das expedições, grande quantidade de indígenas foi dizimada pelos bandeirantes.

Com seus colegas de turma, façam uma pesquisa em livros, revistas e na internet e procurem informações sôbre os tópicos a seguir. Utilizem também os temas estudados no capítulo para organizar sua argumentação.

a. Em sua cidade existe alguma rua, praça, bairro ou monumento em homenagem aos bandeirantes? Se sim, descreva-o.

b. Qual foi a importância atribuída aos bandeirantes na história colonial?

c. Em sua opinião, as práticas bandeirantes tiveram diferentes papéis e efeitos na história do Brasil? Por quê?

Glossário

Drogas do sertão
: produtos originários da região amazônica, como cacau, cravo, baunilha, salsaparrilha, urucum, anil etcétera, além de óleos vegetais e de raízes.
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Sertão
: como era chamada no período colonial a região afastada do litoral, ou o interior.
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Apresamento
: aprisionamento, captura.
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Prospecção
: trabalho de busca e pesquisa de jazidas minerais.
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Mameluco
: mestiço que tem ascendência indígena e europeia.
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