CAPÍTULO 13 A América portuguesa

No contexto da expansão marítima europeia, a partir do século quinze, os portugueses lançaram-se ao mar para expandir seu império em busca de novos territórios e riquezas, como especiarias e artigos de luxo.

A Coroa portuguesa, após a viagem de Vasco da Gama à Índia, enviou uma expedição marítima, comandada por Pedro Álvares Cabral, com o intuito de estabelecer relações comerciais com o Oriente por meio da instalação de feitoriasglossário na cidade de Calicute.

A chegada dos portugueses ao litoral do Brasil

A esquadra de Cabral, formada por 13 embarcações, havia saído do porto de Lisboa, em Portugal, em 9 de março de 1500. Cabral tinha planejado chegar à cidade de Calicute, mas, ao longo da viagem, desviou-se da rota com a intenção de tomar posse de terras que fossem encontradas pêlo caminho.

Em 22 de abril de 1500, portanto após mais de 40 dias de viagem, os navegadores portugueses avistaram as terras que viriam a chamar de Vera Cruz e que hoje correspondem ao litoral sul do estado da Bahia.

Mapa. Representando parte do litoral do atual território do nordeste do Brasil. No continente, ilustração de diversas aves coloridas, macacos e um réptil com asas. Há também indígenas sem vestes e adereços com penas, alguns estão carregando madeiras nas costas e outros em pé, com objetos nas mãos. Entre eles, há várias árvores e a inscrição: TERRA BRASILIS. Nas margens do oceano, ilustração de embarcações a vela. As velas são brancas com uma cruz vermelha no meio. Na parte inferior, apresentação de parte de uma rosa dos ventos.
Terra Brasilis, de Lopo Homem. Mapa, 1519. (Detalhe).
Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 1.

O mapa Terra Brasilis demonstra o conhecimento que os europeus tinham na época da costa do território brasileiro. Você consegue identificar semelhanças entre êsse mapa e o mapa do Brasil atual? Converse com os colegas sôbre isso.

Respostas e comentários

Questão 1. Resposta: É possível que os alunos identifiquem semelhanças entre o mapa de Lopo Homem e o mapa do Brasil atual, sobretudo no contôrno da costa brasileira.

Objetivos do capítulo

  • Compreender os primeiros anos de ocupação portuguesa na América e o impacto causado nos povos originários pêlo contato de diferentes sociedades.
  • Analisar as fórmas de organização e de administração do Brasil como colônia de Portugal.
  • Compreender, por meio de observação, a variedade de relações entre indígenas e portugueses.
  • Identificar que a América foi ocupada por outros povos europeus, entre êles ingleses e franceses.

Justificativas

Os conteúdos abordados neste capítulo são relevantes para que os alunos reconheçam as interações e conexões entre as sociedades indígenas do atual território brasileiro e os portugueses, especialmente durante seus contatos iniciais, o que favorece o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Os alunos também analisarão as fórmas de organização das sociedades ameríndias no período da colonização portuguesa e identificarão os diversos impactos dêsse processo para as populações nativas, incluindo suas fórmas de resistência, abordagem que contribui para desenvolver as habilidades ê éfe zero sete agá ih zero oito e ê éfe zero sete agá ih zero nove.


  • A imagem apresentada nesta página é de um mapa produzido em 1519. Chamado Terra Brasilis, êle apresenta detalhes de como a costa do território brasileiro era percebida pelos europeus.
  • Durante a discussão da questão 1, mostre aos alunos que, ao longo da costa, em pequenas letras vermelhas e marrons, aparecem os nomes dos rios, cabos e acidentes geográficos próximos ao litoral. Já os indígenas foram representados de acôrdo com os primeiros contatos com as comunidades litorâneas, com alguns deles desempenhando tarefas de interêsse do colonizador. A fauna e a flora estão indicadas com sinais de terra intocada, quase paradisíaca. A presença portuguesa é registrada por meio das embarcações, representadas navegando pêlo oceano Atlântico.

Os primeiros contatos

Ao desembarcar no território do atual Brasil, os portugueses fizeram os primeiros contatos com os indígenas pertencentes ao povo Tupiniquim que viviam no local.

Algumas de suas impressões sôbre os nativos foram registradas na carta escrita por Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Cabral. Leia a seguir.

A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos reticências.

Seus cabelos são lisos. E andavam tosquiados, de tosquia alta reticências de bom comprimento e rapados até por cima das orelhas. reticências

CAMINHA, Pero Vaz de. ín: CALDEIRA, Jorge (organizador). Brasil: a história contada por quem viu. São Paulo: Mameluco, 2008. página 27.

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 2.

Ao ler êsse relato, você acha que os portugueses ficaram impressionados com os indígenas? Por quê?

Inicialmente, os portugueses não tiveram interêsse em se estabelecer nessas terras, sendo os primeiros anos após o contato marcados pêla extração de riquezas naturais encontradas nelas.

A exploração das riquezas

Um dos principais produtos explorados no território pelos portugueses foi o pau-brasil, madeira de grande valor comercial utilizada na produção de um corante avermelhado usado para tingir tecidos.

Os portugueses utilizaram a mão de obra indígena para a extração dessa madeira em troca de produtos que os indígenas não conheciam, como machados, foices, facas e algumas peças de roupa. êsse tipo de comércio baseado em trocas de mercadorias ou serviços é conhecido como escambo. As madeiras obtidas por meio do escambo eram cortadas, transportadas e armazenadas nas feitorias.

Gravura em tom sépia. À esquerda, na margem do continente, há pessoas, sem vestes, algumas estão com machados cortando árvores e outras carregando madeira. Na margem oceânica, embarcações a vela e uma criatura marinha.
Indígenas trabalhando na extração do pau-brasil, de André Têvet. Gravura, 1575.
Respostas e comentários

Questão 2. Resposta: É possível que os alunos comentem que sim, principalmente pêla questão da nudez, pêlas maneiras de se ornamentarem e pêlo córte de cabelo dos indígenas, aspectos bastante diferentes dos relacionados aos europeus.

  • Os conteúdos destas páginas permitem desenvolver a Competência específica de História 5, uma vez que abordam o movimento de populações – a chegada dos portugueses ao Brasil – e de mercadorias – o escambo entre portugueses e nativos, a extração de pau-brasil e a construção de engenhos para produção de açúcar para exportação.
  • O trabalho com a questão 2 favorece a abordagem de aspectos da Competência específica de História 3, permitindo aos alunos elaborar questionamentos e hipóteses em relação às informações apresentadas e aos contextos históricos analisados. Também permite o desenvolvimento da leitura inferencial. Peça aos alunos que façam a leitura do trecho da carta de Pero Vaz de Caminha com atenção. Para isso, realize questionamentos como: “Para que eram utilizadas as cartas no contexto da colonização?”; “Qual visão de mundo o texto de Caminha revela?”; “Com base em quais parâmetros o autor faz suas comparações para descrever os indígenas?”. A questão também aborda as Competências gerais 2 e 3, pois incentiva os alunos a analisar fontes históricas e a valorizar manifestações culturais diferentes.
  • sôbre os interêssis dos portugueses em colonizar as terras, comente com os alunos que, apesar de declarar a posse do território em nome do rei de Portugal, dez dias após os primeiros contatos, eles reabasteceram suas embarcações com água potável e outros mantimentos e seguiram viagem em direção ao Oriente. Enquanto isso, uma das embarcações foi destacada para retornar a Lisboa e informar o rei sôbre a novidade.
  • O conteúdo relacionado à exploração do pau-brasil permite uma articulação com o tema contemporâneo transversal Educação ambiental, favorecendo que os alunos reflitam sôbre a situação atual da Mata Atlântica e a necessidade de preservação dêsse bioma e do meio ambiente.
  • Explique-lhes que, nos primeiros anos de exploração do território brasileiro, os portugueses ocuparam-se da extração do pau-brasil, espécie de árvore característica da Mata Atlântica. Hoje, ela está sob ameaça de extinção e vem sendo motivo de campanhas de proteção ambiental.

A colonização do território

O pau-brasil era extraído de territórios de exclusividade portuguesa; no entanto, no início do século dezesseis, os reis de outras nações europeias passaram a contestar a divisão estabelecida pêlo Tratado de Tordesilhas (1494) e o monopólio português sôbre a extração do pau-brasil.

lógo, outros exploradores, entre êles espanhóis, holandeses e, principalmente, franceses, passaram também a buscar e extrair êsse recurso natural. Para combater a extração do pau-brasil por outros exploradores, a Coroa portuguesa enviou expedições marítimas, chamadas guarda-costas. Além disso, para garantir o contrôle de sua colônia americana, a Coroa iniciou a colonização do território conquistado.

Titulo do carrossel
Imagem meramente ilustrativa

Gire o seu dispositivo para a posição vertical

Mapa. Detalhe representando parte do litoral do atual território do Brasil. Na margem continental, há a ilustração de árvores, uma construção de madeira, pessoas sem vestes carregando madeira e duas pessoas com roupas coloridas. No oceano, várias embarcações a vela e diversos peixes.
Versão colorizada do mapa produzido pêlo cartógrafo italiano Giacomo Gastaldi, que descreve a viagem do navegador francês Jean pêla costa brasileira em 1520. No mapa estão representados os indígenas extraindo o pau-brasil.

A ocupação portuguesa no litoral

A primeira expedição colonizadora foi enviada ao Brasil em 1532. Os colonos, liderados por Martim Afonso de Sousa, fundaram o primeiro núcleo de povoamento colonial, a vila de São Vicente, localizada no litoral do atual estado de São Paulo.

O açúcar era muito valorizado na Europa e rendia altos lucros à Coroa portuguesa, que já praticava o cultivo de cana-de-açúcar em algumas de suas colônias, como na ilha de Cabo Verde e na ilha da Madeira.

Assim, para explorar as terras da nova colônia e torná-las ainda mais lucrativas para a Coroa, os portugueses instalaram engenhos açucareiros em São Vicente, onde o solo fértil e as condições climáticas favoráveis viabilizaram o cultivo da cana, além de terem a possibilidade de usar a mão de obra indígena.

Respostas e comentários
  • Para ampliar os conhecimentos dos alunos sôbre a madeira vermelha que deu nome ao nosso país, explique-lhes que o pau-brasil pode ter até cêrca de 30 metros de altura, apresentando flores amarelas com pequenas manchas vermelhas. Ressalte que, em 1530, a exportação dessa espécie vegetal representava 90% dos produtos extraídos do Brasil por Portugal. O pau-brasil é uma espécie típica da Mata Atlântica, que cobria cêrca de 15% das terras brasileiras quando os portugueses aqui chegaram. A mata existia em todo o litoral, desde o Rio Grande do Norte até Santa Catarina. Dada a exploração desenfreada do pau-brasil, especialmente nas regiões litorâneas, seu desaparecimento do território começou a ser notado durante o século dezenove, período em que deixou de ser usado com tanta frequência na Europa para a produção de corantes artificiais usados no tingimento de tecidos.
  • O mapa apresentado nesta página abrange a Competência específica de Ciências Humanas 7, pois leva os alunos a utilizar a linguagem cartográfica para o desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal.
  • A questão da conquista do território pelos portugueses e seu impacto sôbre as diferentes populações indígenas que aqui viviam permite o trabalho com o tema contemporâneo transversal Educação em direitos humanos, pois visa a facilitar a compreensão do aluno sôbre a maneira arbitrária como os portugueses dominaram o território, fazendo uso da violência, fator que dizimou milhões de indígenas. Além do extermínio em massa dessas populações, grande parte dos nativos que sobreviveram foram escravizados e submetidos ao domínio europeu por meio da imposição de sua cultura. Com base nessa reflexão, incentive os alunos a argumentar sôbre a necessidade de respeitar os direitos do outro, não obstante as diferenças.

O sistema de capitanias hereditárias

Para organizar a ocupação e a administração da colônia, em 1534, o govêrno português dividiu o território em 15 grandes lotes de terras, denominados capitanias hereditárias.

As capitanias hereditárias eram doadas pêla Coroa portuguesa a membros da nobreza e a militares indicados pêlo rei. Por ser hereditária, a administração das capitanias podia ser passada de geração para geração. No entanto, continuavam sendo propriedade do govêrno.

Ao tomar posse de uma capitania, o donatário, ou seja, a pessoa que recebia a doação de terra, passava a ter uma série de direitos e de responsabilidades. Entre os direitos do donatário estavam: distribuir sesmariasglossário aos colonos, administrar a cobrança de impostos, estabelecer as leis, julgar e aplicar as penalidades. Por outro lado, êle tinha o dever de defender militarmente o território, protegendo-o de invasores estrangeiros e de indígenas hostis. Além disso, o donatário deveria tornar e manter produtiva a capitania, enviando parte de seus rendimentos à Coroa.

Capitanias hereditárias (1534)

Mapa. Capitanias hereditárias (1534). Mapa territorial representando parte do atual litoral do território brasileiro, ao lado do Oceano Atlântico. No mapa, há uma linha reta na posição vertical com a indicação: Linha do Tratado de Tordesilhas. Adjacente à linha vertical, há várias linhas paralelas na posição horizontal, cada uma destacando um território. Os territórios são:  Pará, Maranhão, Ceará, Rio Grande, Itamaracá, cidade destacada: Vila dos Cosmes. Pernambuco, cidade destacada: Olinda, Bahia de Todos os Santos, cidade destacada: Salvador. Ilhéus, cidade destacada: São Jorge dos Ilhéus. Porto Seguro, cidades destacadas: Santa Cruz e Porto Seguro. Espírito Santo, cidade destacada: Espírito Santo. São Tomé, cidade destacada: Vila da Rainha. São Vicente, cidade destacada: Rio de Janeiro. Santo Amaro, cidade destacada: Santos. São Vicente, cidade destacada: São Vicente. Santana.

Fonte de pesquisa: HOLANDA, Sérgio Buarque de (organizador). História geral da civilização brasileira. São Paulo: Difel, 1981. página 101.

Ícone 'Atividade oral'. Ícone 'Ciências Humanas em foco'.

Questão 3.

Ao observar o mapa que apresenta a divisão em capitanias hereditárias, o que é possível perceber com relação à região que atualmente fórma o estado em que você vive?

Respostas e comentários

Questão 3. Resposta: Espera-se que os alunos percebam que o estado em que vivem não tinha a fórma atual. Se necessário, auxilie-os na identificação da região onde vivem atualmente.

  • A análise do mapa com a representação das capitanias hereditárias (1534) contribuiu para o trabalho com a habilidade ê éfe zero sete agá ih um um, possibilitando aos alunos compreender a formação histórico-geográfica do território brasileiro.
  • Na questão 3, ao analisar o mapa da página, ressalte que a divisão das capitanias hereditárias foi realizada como um esfôrço para que outras nações europeias não tentassem invadir o território brasileiro. É importante que os alunos entendam que a divisão foi arbitrária, sem levar em consideração os povos indígenas que viviam na região, o que originou uma série de revoltas contra os donatários e sesmeiros. Se possível, compare um mapa das capitanias com o mapa político do Brasil atual, identificando quais territórios as capitanias ocupavam. A atividade auxilia o desenvolvimento do saber geográfico, visto que os alunos farão uma leitura atenta do mapa e o relacionarão às questões culturais e à delimitação de fronteiras do território brasileiro.
Ícone 'Ciências Humanas em foco'.

O trabalho com o mapa mobiliza conhecimentos dos componentes curriculares de História e de Geografia, possibilitando o trabalho com a Competência específica de Ciências Humanas 7, pois faz uso da linguagem cartográfica para o desenvolvimento de noções de localização e direção no início da ocupação do território brasileiro. Ao verificar as divisões territoriais brasileiras no período das capitanias hereditárias e na atualidade, a atividade também atende a aspectos da Competência específica de Ciências Humanas 5, pois compara eventos ocorridos em temporalidades diferentes, mas no mesmo espaço.

O govêrno-geral

Com o tempo, o sistema de capitanias hereditárias apresentou uma série de problemas, como o alto custo de manutenção e de proteção dos territórios e a resistência dos indígenas à presença portuguesa.

Para garantir a posse, organizar e centralizar a administração da colônia, no ano de 1549 o govêrno português enviou Tomé de Sousa para estabelecer o govêrno-geral, com séde na cidade de Salvador, primeira capital da colônia, localizada no atual estado da Bahia.

A administração da colônia

No govêrno-geral foram criados cargos como: o de ouvidor, que administrava assuntos relacionados à justiça; o de capitão-mor, responsável pêla vigilância e proteção da costa litorânea; e o de provedor-mor, encarregado da cobrança de impostos.

Além disso, o govêrno português enviou missionários jesuítas para estabelecer contato com os indígenas e catequizá-los.

As câmaras municipais

Subordinadas ao govêrno-geral, as câmaras municipais eram responsáveis pêla conservação das vias públicas, pêla fiscalização do comércio e pêla realização de obras públicas, entre outras funções.

As câmaras eram administradas por juízes, que supervisionavam e aplicavam a lei, e pelos vereadores, que determinavam os impostos e fiscalizavam sua arrecadação, entre outras ações.

Fotografia. Fachada de uma construção de dois andares, de cor branca dom detalhes em marrom. Há várias janelas no andar superior e colunas com arcos na parte inferior. No centro, há uma torre.
Prédio da Câmara Municipal de Salvador, construído no século dezesseis. Foto de 2021.
Respostas e comentários
  • O conteúdo sôbre a instalação do govêrno-Geral e a criação de cargos políticos, bem como sôbre a análise das Câmaras Municipais e seus devidos cargos, refere-se à estruturação e aos processos de funcionamento do poder colonial. Essas questões desenvolvem a Competência específica de História 1.
  • Trabalhe com os alunos o conceito de homens bons, ou seja, os que compunham a elite e eram proprietários de terra na época. Peça a eles que reflitam sôbre a ação dêsses indivíduos de elite para com as populações indígena, africana e afrodescendente.

Um texto a mais

sôbre a relação entre a decadência das capitanias hereditárias e o govêrno-Geral, leia o texto a seguir.

reticências

Os interêssis e preocupações comuns aos administradores metropolitanos e aos colonos promoveram uma confluência entre as ações dos dois segmentos, visando ao mesmo objetivo – a conquista e o domínio das novas terras. As dificuldades vividas, aliadas à pressão dos franceses e às possíveis alianças que se desenhavam entre estes e alguns grupos indígenas, preocupavam a Coroa. O quadro se agravava ante a incapacidade dos donatários de efetivarem os projetos de povoamento e colonização, a ausência de mecanismos coordenadores das fôrças defensivas terrestres e navais e das ações coletivas voltadas para o mesmo objetivo – colonizar e garantir a posse da terra conquistada. Essa dificuldade decorria do fato de as capitanias se constituírem em unidades independentes e os conflitos entre os capitães serem constantes. A decisão tomada pêlo govêrno metropolitano foi a de intervir de fórma mais efetiva através da criação de um govêrno-Geral no Brasil como fórma de solucionar as ameaças internas e externas aos seus empreendimentos.

A instituição de um delegado régio que se responsabilizaria por montar uma estrutura político-administrativa, judicial, fiscal e militar diretamente ligada a Lisboa foi a alternativa adotada. Ele deveria ordenar o caos que parecia rondar os projetos de conquista/povoamento e colonização e tentar garantir os investimentos realizados e a vida dos colonos.

reticências

PARAISO, Maria Hilda Baqueiro. Revoltas indígenas, a criação do govêrno-Geral e o regimento de 1548. Clio – Revista de Pesquisa Histórica, Recife. ú éfe pê é, volume 29, número 1, 2011, página 5. Disponível em: https://oeds.link/Mr66Da. Acesso em: 28 maio 2022.

As relações entre indígenas e portugueses

Os primeiros contatos entre portugueses e algumas sociedades indígenas foram amistosos. Os colonos só puderam sobreviver no território por conta do auxílio que receberam dos indígenas em algumas tarefas, como a caça, a pesca e a coleta de alimentos.

No entanto, ao longo dos anos, as relações entre êles foram se modificando. No cultivo das primeiras lavouras de cana e na produção do açúcar, os indígenas foram forçados a trabalhar por longas e exaustivas jornadas, em situação degradante, sofrendo diversos tipos de castigos físicos e maus-tratos.

Os nativos não aceitaram passivamente a escravização imposta pelos portugueses e resistiram de diversas fórmas: recusando-se a trabalhar, destruindo e sabotando lavouras e engenhos de cana, enfrentando os colonizadores em conflitos armados, entre outras.

A atuação dos jesuítas

Com a instauração do govêrno-geral, os jesuítas iniciaram um projeto de catequização dos indígenas, opondo-se à escravização deles. Os colonos construíram aldeamentos onde os jesuítas reuniam indígenas para convertê-los à fé católica, além de ensinar-lhes sua língua e seus costumes.

Apesar da oposição à escravização, as missões jesuíticas transformaram profundamente o modo de vida dos povos indígenas. Muitos deles passaram a lutar para manter seus costumes, suas tradições e sua religiosidade. Diversos elementos da cultura indígena foram preservados e, ainda hoje, têm grande importância na manutenção de seu modo de vida e de sua identidade étnica e cultural.

Fotografia. Ruínas da fachada de uma construção de tijolos marrom, com uma torre à direita, colunas, porta central e topo do telhado em formato triangular. Atrás, vegetação.
Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul, onde funcionava uma missão jesuítica no século dezoito. Foto de 2018.
Respostas e comentários

A análise das relações entre indígenas e portugueses trabalha a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove, pois mostra o impacto da conquista sôbre as populações originárias e suas fórmas de resistência, além de verificar interpretações de diferentes sujeitos sôbre um dado processo, aspectos da Competência específica de História 4. Também favorece o trabalho com o tema contemporâneo transversal Educação em direitos humanos, pois reflete como os portugueses dominaram o território por meio do uso da violência. Incentive os alunos a argumentar sôbre a necessidade de respeitar os direitos fundamentais do outro, universais e igualitários, apesar das diferentes características individuais.

Um texto a mais

As relações entre portugueses e indígenas alteraram-se de acôrdo com o aprofundamento do processo colonial. Leia o texto a seguir, que aborda êsse tema.

reticências

Inicialmente, os portugueses não afetaram a vida dos indígenas e a autonomia do sistema tribal. Enfurnados em apenas três ou quatro feitorias dispersas ao longo do litoral, dependiam dos nativos, seus “aliados”, para sua alimentação e proteção. O escambo de produtos como pau-brasil, farinha, papagaios e escravos – motivos de guerras intertribais – por enxadas, facas, foices, espelhos e quinquilharias dava regularidade aos entendimentos. Mas, a partir de 1534, aproximadamente, tais relações começaram a se alterar. reticências

Não por acaso, nesse momento multiplicam-se as queixas dos portugueses em relação aos índios. Os tupinambás, no entender dos lusos, “usavam de bestialidades mui estranhas”: pedras ou ossos nos beiços, por exemplo, vivendo como “alimárias monteses”, ou seja, como animais. O fato de não possuírem nem fé, nem lei, nem rei – traços inicialmente vistos com certa condescendência, transformou-se pouco a pouco em justificativa para desprezá-los.

Pior: o canibalismo, registrado primeiramente em 1502, por Américo Vespúcio, transformou muitos grupos tribais em símbolo por excelência da barbárie aos olhos dos europeus.

Ao substituir o escambo pêla agricultura, os portugueses começavam a virar o jôgo. O indígena passou a ser o grande obstáculo para a ocupação da terra e a fôrça de trabalho necessária para colonizá-la. Submetê-los, sujeitá-los, escravizá-los, negociá-los tornaram-se a grande preocupação. reticências

DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta, 2010. página 24.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. O que motivou a Coroa portuguesa a estabelecer colônias no atual território brasileiro, após 1530?
  2. Quais eram os direitos e as responsabilidades dos donatários ao tomar posse de uma capitania?
  3. Cite três fórmas de resistência indígena às tentativas de dominação dos colonizadores portugueses.

Aprofundando os conhecimentos

4. Durante o século dezesseis, diversas expedições francesas ao litoral brasileiro foram organizadas. O francês Jean de lerrí (1534-1611) escreveu o livro Viagem à terra do Brasil, que relata o período em que êle esteve em uma dessas expedições. Em uma das passagens do livro, lerrí relata uma conversa que teve com um indígena. Mesmo tendo sido escrito pêlo francês, o relato demonstra a visão que o indígena tinha sôbre a exploração econômica empreendida pelos europeus. Leia a seguir um trecho dêsse texto e, depois, responda às questões.

reticências

Os nossos tupinambás muito se admiram de os franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar seu arabutã (pau-brasil). Uma vez um velho perguntou-me: “Por que vindes vós outros, mairs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?” Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como êle supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam êles com seus cordões de algodão e suas plumas.

Retrucou o velho imediatamente: “E porventura precisais de muito?”. “Sim”, respondi-lhe, “pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados”. “Ah!”, retrucou o selvagem, “tu me contas maravilhas”, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhes dissera: “Mas êsse homem tão rico de que me falas não morre?”. “Sim”, disse eu, “morre como os outros”.

Respostas e comentários

1. Resposta: Após 1530, as colônias foram estabelecidas para o contrôle do território, buscando evitar que outros países explorassem ou criassem colônias no mesmo local.

2. Resposta: Os donatários tinham o direito de administrar todo o território da capitania, cobrando impostos, estabelecendo leis e aplicando as penalidades previstas. Suas responsabilidades eram defender militarmente o território, manter a capitania produtiva e enviar parte dos rendimentos à Coroa portuguesa.

3. Resposta: Entre as fórmas de resistência indígena podemos citar: a recusa ao trabalho, a sabotagem de engenhos e lavouras e os ataques armados contra os colonizadores.

Ao propor que os alunos discorram sôbre as motivações do estabelecimento de colônias no atual território brasileiro pelos portugueses, a atividade 1 propicia que aspectos da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois sejam desenvolvidos. A atividade 2 propõe que os alunos expliquem os direitos e as responsabilidades dos donatários, o que favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero oito. A habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove pode ser trabalhada na atividade 3, pois aborda os impactos da colonização portuguesa na América e as fórmas de resistência dos nativos.

Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso, perguntou-me de novo: “E quando morrem, para quem fica o que deixam?”. “Para seus filhos, se os têm”, respondi. “Na falta dêstes, para os irmãos ou parentes mais próximos”. “Na verdade”, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, “agora vejo que vós outros mairs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados”.

lerrí, Jean de. Viagem à terra do Brasil. ín: CALDEIRA, Jorge (organizador). Brasil: a história contada por quem viu. São Paulo: Mameluco, 2008. página 91-92.

  1. Segundo Jean de lerrí, por que os europeus vinham de longe para buscar o pau-brasil?
  2. Na visão do indígena, por que era estranha a ideia de os europeus viajarem de tão longe para explorar o atual território brasileiro?
  3. Converse com os colegas sôbre a diferença entre o pensamento dos europeus e dos indígenas. Depois, escreva um pequeno texto sôbre as informações comentadas.

5. Analise a tira a seguir e depois responda às questões.

Tirinha. Armandinho, um menino com cabelos azuis, usando camisa branca e short. Ele está sentado em uma carteira escolar com uma mochila vermelha ao lado. A tirinha é dividida em três quadrinhos. Q1. À direita, fala de uma pessoa: '...E ASSIM FOI O DESCOBRIMENTO DO BRASIL!' Ao lado, Armandinho olhando para frente. Q2. Armandinho, com os olhos arregalados, diz: 'COMO ASSIM?!' Q3. Armandinho, ainda com olhos arregalados e a boca aberta diz: 'E A VERSÃO DOS POVOS INDÍGENAS?!'

BECK, Alexandre. Armandinho quatro. Florianópolis: S. C. Beck, 2015. p. 79. (Versão atualizada pelo autor).

  1. Em que ambiente está o garoto da tira? Que elementos representados na história fornecem essa informação?
  2. De acôrdo com a abordagem da tira, com base em que ponto de vista foi explicada a história da chegada dos portugueses ao Brasil?
  3. Em sua opinião, por que é importante considerar diferentes pontos de vista ao estudar História?
Respostas e comentários

4. a) Resposta: Porque o produto (pau-brasil) rendia lucro e possibilitava aos europeus o acúmulo de riqueza.

4. b) Resposta: A ideia de acumular riquezas era estranha para os indígenas. Para êle, não fazia sentido os europeus arriscarem a vida e sofrer tanto nas viagens marítimas para acumular recursos que não eram capazes de consumir.

4. c) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos compreendam os distintos pontos de vista de Jean de lerrí e do indígena, percebendo as diferenças culturais entre êles.

5. a) Resposta: O garoto foi representado em uma sala de aula, pois está sentado em uma carteira escolar e possui uma mochila.

5. b) Resposta: De acôrdo com a tira, a história foi explicada com base na visão dos portugueses.

5. c) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos compreendam que diferentes pontos de vista devem ser considerados ao construir a história, dando voz a diferentes povos que podem interpretar os fatos de maneiras distintas.

  • As atividades 4 e 5 contemplam a Competência específica de História 3, pois apresentam fontes textuais e imagéticas para que os alunos questionem e elaborem hipóteses sôbre elas. Também favorecem o desenvolvimento da habilidade EF07HI09, pois versam sôbre o impacto da colonização para os povos indígenas.
  • A atividade 4 permite o desenvolvimento da leitura inferencial. Peça aos alunos que façam a leitura do texto de Jean de Léry sôbre os ameríndios, analisando o discurso do cronista e os preconceitos embutidos nele. Para isso, realize questionamentos do tipo: “Como o autor descreve os indígenas brasileiros?”; “Como seu texto indica o olhar do europeu sôbre os indígenas?”; “Como o indígena com quem ele conversa se expressa sôbre os europeus?”; “Como o texto mostra as diferentes visões de mundo entre europeus e indígenas?”. Também favorece a abordagem da Competência específica de História 3, propiciando que os alunos elaborem hipóteses e interpretações em relação a essa fonte, de modo a compreenderem alguns aspectos sociais e culturais do período em que foi produzida.

Metodologias ativas

Uma proposta de realização da atividade 4 é permitir que os alunos interajam, em duplas ou pequenos grupos, embasados no problema proposto pêla questão, verificando durante a realização da atividade o entendimento deles sôbre o objeto de discussão. Utilizando a metodologia ativa think-pair-share, por meio da proposta do item, avalie os possíveis equívocos e as ideias propostas pelos alunos durante as discussões, garantindo o respeito aos diferentes pontos de vista. Separe um momento para a socialização das respostas de fórma coletiva, incentivando os alunos a complementar ou refutar as ideias dos colegas a respeito do conteúdo estudado. Confira mais orientações sôbre essa estratégia no tópico Metodologias e estratégias ativas nas orientações gerais manual.


A atividade 5 desenvolve aspectos da Competência específica de Ciências Humanas 6, ao permitir que os alunos construam argumentos em defesa do respeito e da promoção dos direitos humanos.

6. Analise a imagem a seguir e, depois, responda à questão.

Gravura. À esquerda, há um grupo de indígenas olhando na direção da praia, onde há um grupo de pessoas com roupas coloridas segurando uma bandeira branca com uma cruz vermelha no meio. Ao fundo, oceano e embarcações a vela.
O desembarque dos portugueses no Brasil ao ser descoberto por Pedro Álvares Cabral em 1500, de Alfredo Roque Gameiro. Gravura, ​28centímetrospor42, cêrca de 1900.

Em sua opinião, a imagem apresentada é um retrato fiel da realidade vivida naquele momento? Por quê?

7. Os jesuítas chegaram ao Brasil sob a liderança de Padre Manuel da Nóbrega e Padre Anchieta. Analise a imagem a seguir, leias as afirmações e depois copie a resposta correta em seu caderno.

Pintura. Detalhe da parte interior de uma moradia de madeira. À esquerda, um homem, usando batina, está de costas e de joelhos na direção de um altar com uma cruz. Ao lado, outro homem, usando batina, está em pé e com uma das mãos levantadas para cima. À direita, indígenas usando adereço com penas na cabeça e tecido ao redor da cintura, estão olhando para o homem em pé com batina.
Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu, de Benedito Calixto. Óleo sôbre tela, ​42,5centímetrospor65,8, 1927.
  1. A imagem mostra jesuítas e indígenas em uma cabana, durante um ritual dos povos nativos. No processo de cristianização, as culturas e os costumes tradicionais dos indígenas eram respeitados pelos jesuítas.
  2. Os jesuítas tiveram um importante papel na colonização, principalmente na captura de indígenas para serem vendidos como escravizados.
  3. Nos aldeamentos e nas missões, durante o processo de catequização, não houve resistência dos povos indígenas. Todos êles aceitaram a língua, os costumes e a religião dos colonizadores europeus.
  4. Os jesuítas desenvolveram um projeto de cristianização dos indígenas, mas se opuseram à escravização de suas comunidades. êles reuniram indígenas em aldeamentos e missões, nos quais impuseram a cultura e os costumes europeus.
Respostas e comentários

6. Resposta pessoal. Espera-se que os alunos respondam que não, a imagem foi produzida cêrca de 400 anos após o fato retratado, constituindo a interpretação do artista Alfredo Roque Gameiro sôbre a chegada dos portugueses ao atual território brasileiro.

7. Resposta: Alternativa d.

As atividades 6 e 7 contemplam a Competência específica de História 3, pois apresentam fontes imagéticas para que os alunos questionem e elaborem hipóteses sôbre elas. Também favorecem o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove, pois versam sôbre o impacto da colonização para os povos indígenas.

Glossário

Feitoria
: entreposto comercial onde as mercadorias eram armazenadas e negociadas.
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Sesmaria
: extensão de terra ainda não explorada pelos colonizadores. As sesmarias geralmente eram distribuídas entre os colonos ricos, com condições de mantê-las e torná-las produtivas.
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