UNIDADE 2 A Revolução Francesa e a Era de Napoleão

Gravura. Um homem, robusto com cabelos brancos, usando roupa lilás e um crucifixo. Ao lado, um homem, usando chapéu com penas, roupas vermelhas e uma espada. Eles estão sentados sobre as costas de um homem com cabelos e barba branca, usando roupas rasgadas e se apoiando no cabo de uma enxada. No chão, pássaros, coelhos e um repolho.
Você deve esperar que este jôgo acabe em breve, de autor desconhecido. Gravura, 1789.

As ideias iluministas contribuíram para transformar profundamente a sociedade europeia. Uma das maiores expressões dessa transformação foi a Revolução Francesa, que teve início em 1789 e marcou o fim do Antigo Regime na França.

A instabilidade causada pêla revolução terminou com a chegada ao poder de Napoleão Bonaparte, o qual teve o apôio da grande burguesia e dos setores mais conservadores da sociedade e formou, até mesmo, um império na Europa.

Iniciando a conversa

  1. Na gravura da página anterior estão representados os três principais grupos sociais da França no século dezoito: o primeiro estado, o segundo estado e o terceiro estado. Tente identificá-los.
  2. Em sua opinião, por que o título da gravura é Você deve esperar que este jôgo acabe em breve?
  3. Um dos mais importantes documentos elaborados durante a Revolução Francesa foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Você sabe por que êsse documento é importante? Converse com os colegas.

Agora vamos estudar...

  • o Antigo Regime;
  • a tomada da Bastilha;
  • a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão;
  • a monarquia constitucional;
  • a república francesa;
  • o Império Napoleônico;
  • o Congresso de Viena.

CAPÍTULO 3 A Revolução Francesa

Como foi estudado no capítulo 1, no século dezoito, a Europa estava estruturada politicamente em monarquias absolutistas. Na França, onde o absolutismo alcançou seu auge, o descontentamento com relação ao regime monárquico, associado à influência das ideias iluministas, desencadeou um processo de mudanças significativas que foram chamadas de Revolução Francesa.

O Antigo Regime

A expressão Antigo Regime foi criada no início da Revolução Francesa para referir-se à sociedade europeia, em especial à francesa, formada entre o fim da Idade Média e o fim do século dezoito. Além da desigualdade, havia grande hierarquização entre as camadas sociais na Europa absolutista. Na França, a sociedade era dividida em três camadas, chamadas estados (ou estamentos).

O primeiro estado era composto pelos membros da Igreja católica: alto clero (bispos e abades) e baixo clero (párocos e padres), que formavam uma das camadas sociais mais ricas e poderosas na época. A Igreja tinha uma série de privilégios, como a não obrigatoriedade do pagamento de impostos à Coroa francesa. Além disso, ela recolhia diversos tributos dos fiéis.

O segundo estado era composto pêla nobreza, e seus membros ocupavam os melhores cargos em instituições como a Igreja, o govêrno e o exército. Além de serem isentos do pagamento de impostos, eram donos de grandes extensões de terra, de onde recolhiam tributos senhoriais pagos pelos camponeses.

O terceiro estado englobava a maioria da população francesa, formada pelos burgueses (comerciantes e banqueiros, entre outros), pelos camponeses e pelos tra­balhadores urbanos. No final do século dezoito, essa camada da população passou a criticar o sistema social vigente, que valorizava a origem nobre da pessoa, mais do que seu trabalho e sua capacidade individual.

Gravura. Um homem, com cabelos e barba branca, usando um chapéu preto e batina azul, segura um objeto na mão esquerda. Ao lado, um homem, usando chapéu em forma de arco, casaco vermelho e calça, segura uma espada com a mão esquerda. Eles estão sobre uma pedra, que está esmagando um homem com casaco vermelho e calça. Ao lado, um tronco quebrado com uma cruz e uma roda
Representação de membro do terceiro estado sendo “esmagado” por membros do primeiro e do segundo estados. Gravura de artista desconhecido, feita no século dezoito.

O cotidiano na França no Antigo Regime

A população francesa no século dezoito constituía alguns núcleos urbanos, mas vivia prioritariamente no ambiente rural. Nesse período, eram mais de 20 milhões de camponeses por toda a França, enquanto Paris, a cidade mais populosa, tinha cêrca de 500 mil habitantes.

A nobreza e seus privilégios

A nobreza do Antigo Regime tinha seu cotidiano marcado por diversas atividades, como caminhadas, refeições ao ar livre e caçadas. Além disso, os nobres participavam de bailes e banquetes promovidos pêla côrte.

Nessa época, os hábitos dos nobres deviam seguir as regras de conduta previamente instituídas, como utilizar vestimentas características, manter a postura e a cordialidade, assim como demonstrar educação e polidez. Essas eram algumas maneiras de os nobres se diferenciarem dos outros grupos sociais.

O modo de vida e a cultura popular

Diferentemente da nobreza, as camadas populares tinham pouco tempo livre para atividades de lazer, pois a maior parte de seu tempo era dedicada ao trabalho.

O cultivo de cereais era uma das atividades mais importantes na França e era realizado principalmente pelos camponeses e pelos pequenos proprietários de terras. Com os cereais eram produzidos os pães, a base da alimentação da população mais pobre.

O comércio das feiras e dos núcleos urbanos fazia parte do cotidiano da população na época e tinha grande variedade de produtos.

Pintura. À esquerda, uma mulher, usando um lenço na cabeça, vestido e xale no pescoço, está sentada, ao lado de uma panela. Ao redor, várias pessoas, com roupas coloridas e rasgadas, entendem pratos em direção à mulher sentada. À direita, um homem, usando chapéu e casaco, estende a palma da mão, com moedas, em direção à duas pessoas.
A fome do pão e o penhorista, de irmãos . Guache no cartão, 1792. (Detalhe).

A luta contra o Antigo Regime

Na França, grande parte dos camponeses e dos trabalhadores urbanos vivia em situação de pobreza e pagava muitos impostos. Os camponeses ainda estavam submetidos a taxas do período medieval, como as banalidades, em que parte de sua produção era paga aos donos das terras como tributo.

A burguesia, que fazia parte do terceiro estado, era composta por diferentes grupos: a pequena, a média e a alta burguesia, que tinham interêssis diferentes. Mesmo com tantas diferenças, o que uniu os membros do terceiro estado (trabalhadores urbanos e rurais e burgueses) foi o empenho em abolir os privilégios do clero e da nobreza e exigir igualdade de direitos.

População francesa (século XVIII)

Gráfico de setores. População francesa (século 18). Os dados são: Primeiro estado: 0,5%. Segundo estado: 1,5%. Terceiro estado: 98%.

Fonte de pesquisa: , franssoáze. Composição da população. História Viva, São Paulo, Duetto Editorial, número 2, página 42. (Coleção Grandes Temas: Revolução Francesa).

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 1.

De acôrdo com o gráfico, o terceiro estado representava qual porcentagem da população francesa no século dezoito?


A crise econômica

No final do século dezoito, a França passava por grave crise econômica, gerada por vários fatores, entre êles a fórma como o Estado era administrado. Nesse período, o govêrno francês gastou mais do que recolhia por meio de impostos.

Essa crise econômica piorou ainda mais a partir de 1776, por causa do apôio militar da monarquia francesa à guerra de independência das Treze Colônias inglesas da América contra a Inglaterra (tema que será abordado na próxima unidade).

Além disso, na década de 1780, houve uma queda na produção agrícola, decorrente de uma sequência de más colheitas. Com isso, o preço dos alimentos subiu, gerando o aumento da fome entre a população pobre. As safras ruins também provocaram a queda de arrecadação de impostos, intensificando a crise financeira do Estado francês.

Mesmo em meio a uma grave crise econômica, a família real ostentava luxo e riqueza, como representado na imagem a seguir.

Gravura. Uma mulher com cabelos presos e com adornos de penas na cabeça, usando vestido com mangas até os cotovelos, corpete apertado, saia rodada com suporte e babados brancos e vermelho. Na mão direita, ela segura um leque fechado. A lado, uma poltrona com estofado estampado
Representação de Maria Antonieta, rainha da França. Ilustração de Piérr Tômas él í , gravura de Charles Emmanuel Patas, 1780.

A convocação dos Estados Gerais

Com o objetivo de resolver a crise econômica, o govêrno francês propôs, em 1787, a reforma do sistema de arrecadação de tributos, prevendo o pagamento de impostos pêla Igreja católica e pêla nobreza. Até então, grupos estavam livres dessas obrigações. No entanto, êles não aceitaram perder seus antigos privilégios. Para solucionar êsse impasse, o rei francês, Luís dezesseis, convocou os Estados Gerais, uma assembleia que reunia representantes dos três estados.

A reunião dos Estados Gerais foi realizada em 4 de maio de 1789, em Versalhes. Inicialmente, parte da nobreza e do clero almejava limitar os poderes do rei e fazer com que o restante da população pagasse ainda mais impostos para solucionar a crise. A burguesia, por sua vez, desejava diminuir a interferência do govêrno na economia e apoiava o pagamento de impostos por parte do primeiro e do segundo estados.

Gravura. Diversas pessoas, com roupas em tons de azul, espalhadas por uma praça. Atrás, construções com várias janelas.
Abertura dos Estados Gerais, procissão em Versalhes, 4 de maio de 1789, de , Gravura, século dezoito.

A criação da Assembleia Nacional

Na assembleia dos Estados Gerais, o sistema de votos era por estado. Cada estado tinha direito a um voto. Como o primeiro e o segundo estados costumavam votar juntos, defendendo seus interêssis em comum, o terceiro estado não tinha chances de aprovar suas propostas. Assim, uma das principais reivindicações dos representantes do terceiro estado era que o voto passasse a ser individual, ampliando suas chances de vencer algumas votações, já que possuíam aproximadamente o mesmo número de representantes que o primeiro e o segundo estados juntos.

A resistência em mudar o sistema de votação motivou representantes do terceiro estado, com alguns membros liberais da nobreza e do clero, a se rebelar e a formar uma nova assembleia em 17 de junho: a Assembleia Nacional, que tinha como principal objetivo criar uma Constituição que impusesse mais limites ao poder do rei.

A Assembleia Nacional Constituinte

Após ser pressionado pêla população, Luís dezesseis reconheceu a legitimidade da Assembleia Nacional e ordenou que os demais membros do primeiro e do segundo estados se juntassem aos rebeldes para elaborar uma Constituição para a França, formando, assim, a Assembleia Nacional Constituinte. Entretanto, receoso de perder parte de seu poder e apoiado por setores conservadores da nobreza e do clero, o rei ordenou que suas tropas ficassem de prontidão em Versalhes e que cercassem Paris, onde havia forte tensão, para evitar revoltas populares.

A tomada da Bastilha

A população francesa acompanhava atentamente, na cidade de Paris, os acontecimentos políticos que ocorriam em Versalhes. Sofrendo com a fome e com os altos preços dos alimentos, alguns grupos das camadas mais pobres passaram a saquear mercados e armazéns.

A suspeita de que as tropas reais pudessem acabar com a assembleia e atacar Paris, impedindo que a população reagisse, agravou a situação. Em 14 de julho de 1789, uma multidão invadiu a Bastilha, antiga prisão localizada na cidade de Paris, em busca de armas e munições para combater as tropas reais.

A tomada da Bastilha teve importantes consequências, pois inspirou novos atos de reação popular em diferentes regiões da França e fez com que Luís dezesseis ordenasse o recuo de suas tropas. Assim, êsse acontecimento contribuiu para a continuidade da Assembleia Nacional Constituinte.

Para muitos historiadores, a tomada dessa antiga prisão, símbolo da autoridade real, representa um marco importante no processo da Revolução Francesa, pois significou o início da reação popular e as primeiras vitórias dos grupos que compunham o terceiro estado contra o Antigo Regime.

A pintura a seguir foi feita por um morador de Paris que participou do ataque à Bastilha.

Gravura. Pessoas em uma praça, dentro de prédios e sobre uma ponte. Elas estão segurando espadas e armas na direção de uma construção de pedra com torres. No chão, há pessoas caídas e sangue espalhado.
O cerco da Bastilha, de Clôd . Guache no cartão, 48,5centímetrospor61,5centímetros, 1789.

O Grande Medo

Entre julho e agosto de 1789, a revolução se espalhou para o campo. Várias propriedades foram saqueadas por camponeses, nobres foram mortos e muitas de suas moradias foram incendiadas.

levantes camponeses ficaram conhecidos como Grande Medo e fizeram com que muitos nobres deixassem a França, indo para países vizinhos, como a Prússia e a Áustria. Além disso, com as insurreições populares ocorridas em Paris e as reivindicações dos representantes burgueses na Assembleia Nacional, levantes contribuíram para pressionar a nobreza a abrir mão de seus privilégios.

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Os levantes populares contribuíram para que algumas reformas fossem aprovadas pêla Assembleia Nacional Constituinte, abalando as estruturas do Antigo Regime. Entre as reformas estavam o fim dos privilégios da nobreza e do clero e a elaboração da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Os 17 artigos dêsse documento defendiam alguns preceitos fundamentais do Iluminismo, como os direitos à igualdade de todos os homens perante a lei, à liberdade de expressão, à liberdade religiosa, e a ideia de que o govêrno pertence ao povo.

No entanto, essas reformas precisavam ser aprovadas por Luís dezesseis, que procurou adiar a decisão. Em 5 de outubro de 1789, uma multidão de aproximadamente 7 mil mulheres, que protestava em Paris contra a falta de pão, resolveu marchar até o palácio de Versalhes para exigir do rei uma atitude sôbre o problema da fome. No caminho, outras pessoas se juntaram ao movimento. Para acalmar a população, Luís dezesseis aprovou as reformas da Assembleia Nacional Constituinte e foi obrigado a transferir a sêde da monarquia francesa para Paris.

A obra a seguir representa a marcha das mulheres ao palácio de Versalhes, em 5 de outubro de 1789.

Gravura. Diversas mulheres, usando vestidos coloridos, estão carregando arpões, machados, bastões, lanças e, algumas delas, empurrando um canhão.
A , a , de autor desconhecido. Gravura, século dezoito.

Monarquia constitucional

Ao mesmo tempo em que procurou acalmar os revolucionários, aprovando as reformas sugeridas na Assembleia Nacional Constituinte, Luís dezesseis articulava um plano para retomar o contrôle do govêrno francês.

Em 25 de junho de 1791, o rei e sua família, disfarçados, tentaram fugir, mas foram descobertos antes mesmo de deixar a França e reconduzidos a Paris. A intenção do monarca era juntar-se aos nobres que haviam deixado o país e organizar um exército para combater a revolução.

Gravura. Vários homens, vestindo farda azul e chapéu preto, estão  caminhando com armas nas mãos. Atrás, uma carruagem com pessoas dentro. Ao redor da carruagem, mais homens fardados.
Representação do aprisionamento da família real francesa, em 25 de junho de 1791. Gravura de artista desconhecido, século dezoito.

Alguns meses depois, a Assembleia Nacional promulgou a Constituição francesa. Entre suas principais resoluções, estavam:

  • a estruturação de uma monarquia constitucional na França, substituindo a monarquia absolutista;
  • a garantia de que todos os franceses teriam igualdade de tratamento perante a lei;
  • a divisão do poder entre três instituições: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário;
  • o estabelecimento do voto censitário, ou seja, só podiam votar os cidadãos que tivessem a renda mínima estabelecida pêla lei;
  • a adoção de medidas que eliminavam as restrições econômicas ao livre comércio.

A elaboração da Constituição francesa teve maior participação da alta burguesia, que conseguiu fazer com que seus interêssis fossem atendidos. Entretanto, as camadas mais pobres da população, do campo e da cidade, permaneciam insatisfeitas. O desgaste político de Luís dezesseis, principalmente após sua tentativa de fuga, fez com que ganhasse fôrça a ideia de acabar totalmente com a monarquia e estabelecer uma república. Entre os partidários dessa ideia estavam os sans-culottesglossário , que reivindicavam mudanças consideradas radicais pêla burguesia, como a extinção dos impostos sôbre os alimentos e a criação de leis que acabassem com as desigualdades entre ricos e pobres.

A reação das monarquias europeias

A revolução em curso na França repercutiu pêlo restante da Europa. Alguns monarcas, receosos com a influência das ideias revolucionárias sôbre a população, passaram a condenar a revolução. Em agosto de 1791, os governos da Áustria e da Prússia declararam que pretendiam invadir a França para combater o movimento revolucionário.

Após muitos debates, em abril de 1792, o govêrno francês declarou guerra à Áustria e à Prússia. Inicialmente, os franceses sofreram derrotas, mas a participação popular, em especial a dos sans culótes, fez com que os exércitos inimigos recuassem.

A imagem a seguir representa a população francesa partindo para lutar contra as tropas austro-prussianas, em 1792.

Pintura. À esquerda, pessoas em uma ponte, segurando bandeiras e observando homens fardados marchando. À direita, um palanque com pessoas em cima. Ao fundo, construções.
A partida dos voluntários, de Jean Batísti . Aquarela sôbre papel, 1907.

A luta feminina por direitos durante a revolução

Vimos até aqui, em diversos momentos, várias questões voltadas aos direitos “do homem e do cidadão”, mas você percebeu que as mulheres ainda não estavam plenamente incluídas nessas mudanças?

Apesar da intensa participação feminina na Revolução Francesa, as transformações ocorridas após os seus primeiros anos não contemplavam os direitos das mulheres. Assim, em 1791, a francesa Marie (1748-1793), que adotou o pseudônimoglossário de Olamp Gúge, publicou um manifesto que reivindicava a igualdade de direitos entre mulheres e homens, a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Suas reivindicações não foram atendidas, mas alguns direitos foram conquistados pêlas mulheres nesse período, como o de pedir o divórcio.

As mulheres, apesar de serem impedidas de participar da vida política e de assumir cargos públicos, não deixaram de lutar por direitos. Elas organizaram diversos clubes políticos nos quais se reuniam para discutir e exigir soluções para os problemas da sociedade.

Também reivindicavam o direito de integrarem o exército, mas foram novamente derrotadas. Mesmo assim, diversas voluntárias se alistaram no exército francês disfarçadas de homens para combater as tropas austro-prussianas.

A luta feminina durante a Revolução Francesa até hoje inspira mulheres de diferentes lugares do mundo, que se mobilizam em diversos movimentos sociais para fazer valer seus direitos e ampliá-los.

Gravura. Uma mulher, usando chapéu e vestido cor-de-rosa, está montada em um cavalo empinado, com a mão direita erguida segurando uma espada.
Representação de Olamp Gúge, autora da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Gravura de artista desconhecido, século dezoito.

Com organização, união e resiliência, as mulheres não deixaram de lutar por seus direitos e por mais igualdade na sociedade.

Agora, responda às questões a seguir.

Ícone ‘Atividade oral’.

1. Com base no que você estudou até aqui, por que a autora da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã viu a necessidade de elaborar êsse documento?

Ícone ‘Atividade oral’. Ícone ‘Em grupo’.

2. Em sua opinião, se a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã fosse publicada hoje, como ela seria? Junte-se a um colega, conversem sôbre o assunto e elaborem um pequeno esboço dêsse documento.

A implantação da república na França

Sob a ameaça das fôrças contrarrevolucionárias na guerra contra a Áustria e a Prússia, foram realizadas, em 1792, eleições que substituíram a Assembleia Nacional pêla Convenção Nacional.

A Convenção Nacional promoveu mudanças radicais, como a abolição da monarquia e o estabelecimento da república como regime de govêrno. Também criou uma nova Constituição, que aboliu a escravidão nas colônias francesas e a prisão por dívidas, bem como estabeleceu o voto universal masculinoglossário , a educação pública primária gratuita e a assistência médica para idosos e crianças.

Após a França se tornar uma república, o rei deposto Luís dezesseis e sua espôsa, a rainha Maria Antonieta, foram presos e levados a julgamento. Luís dezesseis foi condenado à morte e executado em 21 de janeiro de 1793. Maria Antonieta foi executada meses depois.

Gravura. Um palanque com três pessoas e uma guilhotina. Uma das pessoas segura uma cabeça com a mão. Ao redor, pessoas com fardas azul. Algumas delas estão de pé e outras montadas em cavalos. Ao fundo, diversas construções.
Execução de Luís dezesseis Capeto, de autor desconhecido. Gravura do século dezoito.

A formação da Convenção Nacional

A Convenção Nacional era composta por 749 deputados que estavam divididos em três grupos principais.

  • Jacobinos: eram identificados pêla defesa radical da igualdade, do fim da cobrança de taxas feudais e da organização do regime republicano, entre outros ideais. êles se sentavam à esquerda na sala da Convenção Nacional e eram, em sua maioria, representantes da pequena e da média burguesia, além das camadas populares (sans-culottes).
  • Girondinos: formavam o grupo conservador e moderado. Havia entre êles nobres, membros da alta burguesia e outros representantes das classes mais ricas da sociedade. êles eram contra as ideias radicais dos jacobinos e defendiam a monarquia constitucional, assim como a manutenção da Constituição de 1791. Os girondinos sentavam-se à direita na sala da Convenção Nacional.
  • Planície ou pântano: grupo de políticos que não tinham posição política totalmente definida. êles ficavam sentados na região central da sala.

A fase do Terror

A execução da família real provocou diversas reações entre a população francesa e também entre os líderes de outros países europeus, causando agitações externas e internas.

A guerra da Áustria e da Prússia contra a França continuava, agora com a coalizão de diversas outras nações absolutistas europeias, lideradas pêla Inglaterra, na tentativa de restabelecer o Antigo Regime na Europa. Nesse período, o govêrno francês passou a convocar os cidadãos de 18 a 25 anos para compor fileiras do exército e mobilizou diversos recursos econômicos para o conflito.

Ao mesmo tempo, em 1793, em Vendeia, no oeste da França, camponeses liderados pelos nobres locais organizaram uma revolta contra a alta cobrança de impostos e o recrutamento militar. De caráter contrarrevolucionário, os participantes da chamada Guerra da Vendeia defendiam a volta da monarquia e a manutenção das tradições católicas.

Litogravura. Um homem, usando chapéu, camisa, colete, casaco e calça, está de pé olhando para a direita e segurando com as mãos uma arma. Ao fundo, outro homem com roupas parecidas e segurando uma arma.
Representação de camponeses que combateram durante a Guerra da Vendeia. Litogravura de Charpentier, feita no século dezenove.

O Comitê de Salvação Pública

Nesse contexto, na tentativa de salvar a república e os princípios da revolução contra as investidas monarquistas, o govêrno republicano francês criou, em abril de 1793, o Comitê de Salvação Pública. Os jacobinos, que eram a maioria no Comitê, começaram, então, a perseguir sistematicamente todas as pessoas consideradas “inimigas da revolução”, eliminando violentamente qualquer tipo de oposição ao govêrno revolucionário.

Essas perseguições deram início ao período que ficou conhecido como Terror. Acredita-se que, entre agosto de 1793 e julho de 1794, mais de 40 mil pessoas tenham morrido por causa das perseguições e das execuções na guilhotina, entre elas girondinos, padres, nobres, monarquistas e jacobinos que não respeitavam a autoridade do Comitê.

A reação termidoriana

Durante a fase do Terror, houve inúmeras prisões, julgamentos e execuções, provocando enorme contrariedade entre a população. Diante disso, os políticos girondinos reagiram e organizaram-se contra a chamada “ditadura jacobina”.

Assim, mediante um golpe, os girondinos ordenaram a prisão de en Rubespiér (um dos principais líderes jacobinos) e de seus partidários na Convenção Nacional. Em 28 de julho de 1794, 10 Termidor no calendário revolucionário (ver boxe na próxima página), Rubespiér foi executado na guilhotina.

êsse acontecimento deu início a uma nova fase do processo revolucionário, marcado por uma política moderada e liderada pelos girondinos, que formaram o govêrno chamado de Diretório (composto por cinco deputados – os diretores – eleitos por um mandato de cinco anos).

Gravura. À esquerda, um homem, usando chapéu, camisa e colete, está de pé, erguendo com as mãos uma peça de madeira de uma guilhotina. Ao lado, um homem, com roupas brancas, está inclinado com a cabeça em direção à guilhotina. À direita, um homem, vestindo chapéu, camisa e colete, está com as mãos sobre o homem de roupas brancas, colocando-o na guilhotina.
A Morte de Robespierre: Que foi guilhotinado em Paris em 28 de julho de 1794, derrubado de seu trono sangrento, de Giacomo Aliprandi. Gravura, 1799.
Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 2.

Por que a fase do Terror ficou conhecida como “ditadura jacobina”?


Uma nova Constituição

Uma das principais mudanças promovidas durante o govêrno do Diretório foi a elaboração, em 1795, de uma nova Constituição. Mais conservadora que a anterior, ela restabeleceu o voto censitário e proibiu as execuções sumárias, como as que ocorreram na fase do Terror, entre outras medidas.

No entanto, nesse período, mesmo com a retomada do desenvolvimento nos setores da indústria e do comércio, a situação econômica era crítica, e as agitações provocadas pêlas insurreições tanto de monarquistas como de sans-cullotes ainda causavam instabilidade na França.

O calendário revolucionário francês

Com a proclamação da república francesa, em 1792, foi instituído um novo calendário, baseado nos ciclos da natureza e sem os feriados religiosos. êle dividia o ano em 12 meses de 30 dias, e mais 5 ou 6 dias complementares.

Cada mês possuía um nome relacionado às condições climáticas francesas ou às épocas agrícolas. Veja a seguir alguns exemplos.

Vindimário: referente à vindima, época de colheita de uvas. Corresponde ao período de 22 de setembro a 21 de outubro.

Brumário: referente às brumasglossário . Corresponde ao período de 22 de outubro a 20 de novembro.

Termidor: referente ao calor, no período de 19 de julho a 17 de agosto.

Frutidor: referente à época das frutas, de 18 de agosto a 16 de setembro.

Gravura. À esquerda, há o texto: CALENDRIER. Abaixo, segue uma linha na posição vertical acompanhada de textos. No meio da linha há um círculo. Dentro do círculo há a ilustração de um homem, ajoelhado, abraçando uma mulher. Ao centro, há o texto: LIBERTE. Ao redor, há dois círculos com ilustrações. De um lado, ilustração de animais em meio à vegetação. De outro, uma mulher sentada perto de alguns animais. Abaixo um círculo grande. Dentro do círculo, há textos e números. À direita, há o texto: PERPÉTUEL. Abaixo, segue uma linha na posição vertical acompanhada de textos. No meio da linha há um círculo. Dentro do círculo, há a ilustração de um homem e uma mulher, um de frente para o outro.
Calendário Perpétuo Republicano, de Antuâne . Gravura, 1804.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Qual era o objetivo da convocação dos Estados Gerais? O que ocorreu a partir dessas reuniões?
  2. O que o episódio da tomada da Bastilha representou durante a Revolução Francesa?
  3. Explique o que foi o Grande Medo e como êle influenciou o contexto revolucionário francês.
  4. Como funcionou o processo de elaboração da Constituição da França, em 1791? Comente algumas das medidas adotadas e mencione qual grupo da população teve maior influência na elaboração dêsse documento.
  5. Copie o quadro a seguir no caderno e depois complete-o com as principais características de cada grupo.
'Ícone.Modelo'

Jacobinos

Girondinos

6. No caderno, associe as duas colunas apresentadas a seguir referentes a alguns dos eventos da Revolução Francesa.

A. Antigo Regime

B. Fase da Assembleia Nacional Constituinte

C. Convocação dos Estados Gerais

D. Fase do Terror

1. Quando o Comitê de Salvação Pública, de maioria jacobina, começou a realizar perseguições às pessoas consideradas “inimigas da revolução”, eliminando violentamente qualquer tipo de oposição ao govêrno revolucionário.

2. Período em que os representantes dos estados se reuniram com o objetivo de criar uma Constituição que impusesse mais limites ao poder do rei.

3. Período no qual predominou a monarquia absolutista e no qual a população francesa estava dividida em três estados: clero, nobreza e camadas populares (camponeses, burgueses e trabalhadores urbanos).

4. Reuniões e encontros realizados no final do século dezoito para sanar alguns dos problemas franceses, como a crise econômica.

Aprofundando os conhecimentos

7. Na França, a sociedade era dividida em três estados. Identifique cada um dêsses setores da sociedade na imagem ê responda às questões.

Gravura. À esquerda, um homem, vestindo chapéu, batina branca com detalhes e tecido vermelho ao redor do corpo. Sobreposto à letra 'A'. Ao lado, um homem vestindo chapéu com adorno de plumas, lenço no pescoço, casaco com botões e calça vermelha, meias até os joelhos, sapatos, capa e espada presa na cintura. Sobreposto à letra 'B'. À direita, um homem, com chapéu preto sem adornos, lenço no pescoço, casaco e calça cinza e sapatos, está segurando um livro em uma das mãos. Sobreposto à letra 'C'.
Representação dos três estados da sociedade francesa durante o Antigo Regime. Gravura de artista desconhecido, século dezoito.
  1. Descreva como cada uma das personagens foi representada.
  2. Identifique elementos que caracterizam os membros dos três estados na imagem.
  3. Explique quem fazia parte de cada um dêsses estados e comente a situação deles na sociedade francesa.
  4. Faça um desenho no caderno de acôrdo com a sua interpretação sôbre a sociedade francesa durante o Antigo Regime. Depois, compare seu desenho com o de um colega e verifique as semelhanças e as diferenças entre êles.
Versão adaptada acessível

a ) Descreva como cada uma das personagens foi representada.

b ) Identifique elementos que caracterizam os membros dos três estados na imagem.

c ) Explique quem fazia parte de cada um desses estados e comente a situação deles na sociedade francesa.

d ) Com base em sua interpretação, comente sobre a sociedade francesa durante o Antigo Regime. Depois, compare com a interpretação de um colega e verifique as semelhanças e as diferenças entre elas.

8. Os motivos que levaram diversas camadas sociais francesas a se mobilizarem a favor da revolução foram variados. A seguir, o historiador ériqui . róbisbáum apresenta alguns deles. Leia o trecho e responda às questões.

reticências O que transformou uma limitada agitação reformista em uma revolução foi o fato de que a conclamação dos Estados Gerais coincidiu com uma profunda crise socioeconômica. Os últimos anos da década de 1780 tinham sido, por uma complexidade de razões, um período de grandes dificuldades praticamente para todos os ramos da economia francesa. Uma má safra em 1788 (e 1789) e um inverno muito difícil tornaram aguda a crise. As más safras faziam sofrer o campesinato, pois significavam que enquanto os grandes produtores podiam vender cereais a altos preços, a maioria dos homens em suas insuficientes propriedades tinha reticências que se alimentar do trigo reservado para o plantio ou comprar alimentos àqueles preços reticências. Obviamente as más safras faziam sofrer também os pobres das cidades cujo custo de vida – o pão era o principal alimento – podia duplicar. [...]

róbisbáum, ériqui . A era das revoluções: 1789-1848. Tradução: Maria Tereza Teixeira e Marcos Penchel. vigésima quinta edição São Paulo: Paz e Terra, 2010. página 108109.

  1. De acôrdo com o autor do texto, que fatores influenciaram a transformação da “agitação reformista” em uma “revolução”?
  2. Quais camadas da sociedade francesa foram as mais afetadas pêlo processo descrito no texto?
  3. Você concorda com o ponto de vista dêsse autor? Explique.

9. Em 25 de abril de 1792, o capitão do exército francês (1760-1836) compôs a canção que veio a ser conhecida como o hino nacional francês. Em 30 de julho do mesmo ano, a música foi entoada por soldados que voltavam da cidade de Marselha e adentravam Paris, ficando conhecida então como La Marseillaise (do francês, A Marselhesa). Leia um trecho do hino a seguir e responda às questões.

A Marselhesa

Vamos, filhos da pátria,

O dia da glória chegou!

Contra nós se levanta

O estandarte ensanguentado da tirania,

reticências

Para as armas cidadãos!

Formai vossos batalhões!

Marchemos, marchemos!

reticências

LA MARSEILLAISE . Élysée. Disponível em: https://oeds.link/hwOblF. Acesso em: 12 maio 2022. (Tradução nossa).

Gravura. Na parte superior, o texto: LA MARSELLAISE. Abaixo, ilustração, homens segurando com as mãos espadas, armas e tambores são guiados por um anjo com tecido vermelho ao redor do corpo que aponta o dedo para a direita. Entre eles, há homens montados sobre cavalos. Ao lado, uma mulher, usando um vestido branco, está segurando com as mãos uma bandeira com as cores azul, branca e vermelha. Ela observa a multidão guiada pelo anjo. À direita, uma partitura. Abaixo, texto.
La Marseillaise, gravura, letra e partitura publicadas no él í petí djournau, em 1912.
  1. É possível reconhecer no trecho do hino e por meio da imagem os ideais revolucionários? Dê exemplos.
  2. Desde 14 de julho de 1795, essa canção é reconhecida como hino nacional da França. Você conhece o hino nacional do Brasil? Converse com os colegas sôbre a importância dos hinos como símbolo nacional.

Glossário

Sans-culottes
: em português significa sem culote, têrmu criado para se referir às pessoas das camadas populares que não utilizavam calças até os joelhos, como as usadas pêla nobreza antes da revolução. Classe formada por artesãos, assalariados e pequenos comerciantes.
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Pseudônimo
: nome fictício adotado por um autor.
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Voto universal masculino
: nesse caso, o direito de voto a todos os homens adultos, independentemente de sua condição social ou econômica.
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Bruma
: neblina, nevoeiro.
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