UNIDADE 5 O período Regencial e o Segundo Reinado

Fotografia. Um mural branco com ilustrações em azul. À esquerda, há uma pessoa, em pé e com os braços abertos, dentro de um círculo. Ao lado, uma cruz, uma embarcação a vela, várias pessoas montadas a cavalos segurando lanças e espadas, uma bandeira com faixas na diagonal com as cores verde, vermelha e azul e, à direita, o busto de um homem fardado. Ao redor das ilustrações, há os textos: Lanceiros Negros, Giuseppe Garibaldi.
Detalhe do painel Memorial da Epopeia Rio-grandense, Missioneira e Farroupilha, produzido por Danúbio Vilamil Gonçalves em 2007 e localizado na praça da Revolução Farroupilha, Pôrto Alegre (Rio Grande do Sul). O painel apresenta personagens e frases que ilustram as diferentes fases da Revolução Farroupilha, ocorrida na segunda metade do século dezenove. Foto de 2018.

Após a abdicação de dom Pedro um, o govêrno imperial foi assumido por regentes até que o príncipe dom Pedro, então com cinco anos de idade, atingisse a maioridade. Essa época, que ficou conhecida como Período Regencial, foi marcada por diversos conflitos e instabilidade política.

Já durante o Segundo Reinado, sob o govêrno de dom Pedro dois, ocorreu a expansão da produção cafeeira e um processo que provocou diversas mudanças na sociedade brasileira e o surgimento de uma nova elite econômica.

Apesar disso, o sistema escravista que havia estruturado a produção e a economia desde o período Colonial ainda persistia, marcando profundamente a sociedade brasileira em formação.

Iniciando a conversa

  1. Descreva o mural retratado na foto da página anterior.
  2. Identifique o autor do mural. Quando essa representação artística foi produzida? Com qual objetivo?
  3. Em sua cidade há representações artísticas semelhantes a esta? Se houver, converse com os colegas, descrevendo-as e comentando suas características e importância.

Agora vamos estudar...

  • o período Regencial;
  • as revoltas regenciais;
  • os aspectos políticos e econômicos do Segundo Reinado;
  • a expansão cafeeira;
  • a questão indígena no período Imperial.

CAPÍTULO 9 Período Regencial

Em 1831, com a abdicação de dom Pedro um, o govêrno do Brasil foi assumido por regentes, que eram governantes eleitos pelos deputados e senadores para administrar o país temporariamente.

Dessa fórma, entre os anos de 1831 e 1840, formaram-se Regências Trinas (1831- -1834), compostas por três líderes, e Regências Unas (1834-1840), compostas por apenas uma liderança. Os regentes unos foram Diogo Antônio Feijó (1784-1843) e Araújo Lima (1793-1870).

êsse período foi marcado pêla instabilidade política e pelos conflitos entre o govêrno central e os governos das províncias. Os principais grupos políticos que atuavam nesse período eram: os restauradores, que defendiam o retôrno de dom Pedro um e de sua monarquia (porém, após a morte dele, em 1834, o grupo se dissolveu); os liberais moderados, que representavam os interêssis das elites agrárias e defendiam a monarquia constitucional e a manutenção dos poderes políticos vigentes; e os liberais exaltados, que representavam os interêssis das classes médias urbanas e de parte dos proprietários de terras, e pretendiam dar maior autonomia para as províncias por meio de uma monarquia federativa. Entre êles havia ainda, em menor número, os que eram republicanos.

Para lidar com essas disputas regionais e manter a ordem interna do país, foi criada, em 1831, a Guarda Nacional. Diferentemente do Exército, que tinha a responsabilidade de manter afastados principalmente os inimigos externos, essa milícia atuava nos conflitos internos.

Leia o trecho a seguir sôbre a Guarda Nacional.

reticências Chamada de Milícia Cidadã, ela copiou o espírito da instituição francesa do mesmo nome, qual seja, colocar a manutenção da ordem nas mãos de quem tinha algo a defender, isto é, dos proprietários. Para pertencer à Guarda era exigida renda de 200 mil-réis nas quatro maiores cidades e de 100 mil-réis no resto do país.

reticências

CARVALHO, José Murilo de. A vida política. ín: CARVALHO, José Murilo de. (coordenação). A construção nacional: 1830-1889. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. volume 2. página 89. (História do Brasil nação: 1808-2010).

Litogravura. À esquerda, um homem usando farda, chapéu com pena e espada, está de pé e de costas. Ao lado, um homem usando farda, chapéu com pena e espada, está montado em um cavalo branco. À direita, um homem usando farda e chapéu com pena, está de pé, segurando com as mãos uma espada na frente do corpo.
Corpo da Cavalaria da Guarda Nacional, de Heaton e Rensburg. Litogravura, ​45,5centímetrospor62centímetros, século dezenove.

A instabilidade política

Na tentativa de equilibrar as tensões entre os grupos de tendências mais liberais e os de tendências mais conservadoras que atuavam nas províncias, o govêrno aprovou, em 1834, uma emenda à Constituição, que concedia às províncias maior autonomia em relação ao govêrno federal e criou a Regência Una. Essa medida ficou conhecida como Ato Adicional. Apesar disso, a instabilidade política manteve-se durante o período Regencial. Em diversas regiões do país, eclodiram movimentos, revoltas e rebeliões.

Analise a linha do tempo sôbre o período Regencial e as rebeliões ocorridas.

Pintura que representa um participante da Cabanagem, revolta que teve início em 1835, no Grão-Pará.

Pintura. Um homem, usando short e chapéu de palha, está de pé, segurando com as mãos uma arma.
Cabano paraense, de Alfredo . Aquarela, 1940.
Linha do tempo: Na cor laranja: Dom Pedro I. 1822 a 1831. 1831. Agitações de cunho antilusitano de civis e também de militares se espalham pelo país. Na cor azul: Regências Trinas. 1831 a 1834. 1831 A Regência cria a Guarda Nacional. Na cor amarela: Regências Unas. 1834 a 1840. 1835 A Cabanagem, a Farroupilha e a Revolta dos Malês eclodem. 1836 Criação da República de Piratini, pelos farrapos. 1838 Tem início a Balaiada, movimento formado por camponeses e escravizados. 1839 Foi fundada pelos farrapos a República Juliana, em Laguna, Santa Catarina. Na cor vermelha: Dom Pedro II. 1840 a 1889. 1840 Golpe da maioridade. Dom Pedro II assume o poder com 14 anos.
Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 1.

Em qual período ocorreram a maioria das rebeliões do govêrno regencial?

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 2.

De acôrdo com a linha do tempo, o que ocorre após o ano de 1839?

O golpe da maioridade

Para encerrar o clima de instabilidade do período Regencial e as disputas políticas nas províncias, um grupo de políticos liberais realizou uma manobra e decretou (antecipadamente) a maioridade de dom Pedro dois. Assim, em julho de 1840, com apenas 14 anos, o príncipe assumiu o trono do Brasil e teve início o período conhecido como Segundo Reinado, que estudaremos adiante.

As revoltas regenciais

Durante o período Regencial, como vimos, ocorreram muitas revoltas em diferentes regiões do Brasil. No entanto, elas não tiveram as mesmas motivações nem pretendiam alcançar os mesmos objetivos, pois buscavam intervir na realidade e nas condições de vida de cada localidade. Confira no mapa a seguir as principais revoltas regenciais e suas localizações no território.

De modo geral, as rebeliões ocorreram de maneira isolada e foram fortemente repreendidas pêlas fôrças do exército do govêrno.

Revoltas regenciais (1831-1840)

Mapa. Revoltas regenciais (1831-1840). Mapa destacando o território brasileiro e os limites territoriais de suas províncias no século XIX. Conforme a legenda: Revolução Farroupilha (1835-1845): Províncias de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Cidades destacadas: Desterro (Florianópolis) e Porto Alegre. Cabanagem (1835-1840): Província do Grão-Pará. Cidade destacada: Belém. Sabinada (1837-1838): Nordeste: Província da Bahia. Cidade destacada: Salvador. Balaiada (1838-1841): Região Norte: Província do Maranhão. Cidade destacada: São Luís. Revolta dos Malês (1835): Nordeste: Província da Bahia. Cidade destacada: Salvador. À esquerda, planisfério destacando parte da América do Sul. À direita, representação da rosa dos ventos e escala de 410 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Cipiône, 2011. página 128.

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 3.

Qual é o nome da rebelião que ocorreu na região sul do Brasil? Quando ela aconteceu?

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 4.

Em qual cidade ocorreu a Revolta dos Malês? Quando ela aconteceu?

A Farroupilha

Em 1835, teve início no Rio Grande do Sul a mais longa revolta do período Regencial, a Farroupilha, também conhecida como Guerra dos Farrapos.

A população gaúcha, insatisfeita com o govêrno central desde a época colonial, criticava a centralização do poder e a cobrança reduzida de taxas de importação dos produtos da região do Prata, que concorriam com os produtos gaúchos, como o charque. Além disso, consideravam que o govêrno central privilegiava as províncias do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de São Paulo. Assim, êles reivindicavam maior autonomia para a província, fato que atendia também os interêssis das elites locais.

A revolta teve início quando os rebeldes, liderados por produtores de gado da região da fronteira com o Uruguai tomaram a cidade de Porto Alegre. No início de 1836, os revoltosos chegaram a proclamar a independência em relação ao Império, formando a República Rio-Grandense (República de Piratini). Em 1839, depois de conquistarem a cidade de Laguna, em Santa Catarina, eles proclamaram a República Juliana. Porém, no mesmo ano, após intensos combates com as tropas imperiais, os rebeldes começaram a recuar.

A partir de 1840, teve início um processo de negociação entre o movimento e o govêrno de dom Pedro dois. Os rebeldes resistiram até 1845, quando assinaram um acôrdo que, entre outras medidas, anistiou os revoltosos, incorporou os oficiais da Farroupilha ao Exército imperial, transferiu as dívidas da guerra para o Império e permitiu que a província pudesse escolher seu próprio governante.

Pintura. Centralizado, uma pessoa, usando chapéu e capa marrom, está em cima de um cavalo, levantando uma espada. Ao redor, pessoas montadas em cavalos com espadas levantadas. Entre elas, há uma bandeira hasteada.
Estudo para Proclamação da República de Piratini, de Antônio Parreiras. Óleo sôbre madeira, ​350centímetrospor600centímetros, cêrca de 1915.

A Cabanagem

A Cabanagem foi uma revolta ocorrida na província do Grão-Pará, entre 1835 e 1840. A maioria da população dessa província era formada por pessoas pobres, afrodescendentes, indígenas, mestiços, escravizados e livres, que viviam em péssimas condições. Muitos participantes dessa revolta moravam em cabanas, muitas delas em áreas ribeirinhas, por isso ficaram conhecidos como cabanos.

Havia pouco vínculo entre a província e o govêrno central, o que fez com que alguns grupos questionassem a sua legitimidade e reivindicassem maior participação política da população nas decisões que interferiam na vida local.

Divergências entre as elites locais, que reivindicavam o direito de escolher o governante da província, iniciaram a revolta. Um dos líderes da oposição ao govêrno foi assassinado em 1834. Como resposta, os rebeldes se organizaram e, em 1835, executaram o presidente da província, estabelecendo um novo govêrno.

O govêrno cabano durou cêrca de dez meses. Após diversos confrontos, as tropas imperiais recuperaram o contrôle da província, porém as batalhas contra os cabanos continuaram no interior, até 1840. Estima-se que cêrca de 30 mil pessoas, entre rebeldes e soldados das tropas imperiais, tenham morrido nesse conflito.

Extensão do movimento da Cabanagem (1835-1840)

Mapa. Extensão do movimento da Cabanagem (1835-1840). Mapa territorial destacando parte a província do Grão-Pará. Conforme a legenda: Expansão da rebelião cabana: Localizada nas margens do Rio Amazonas e seus afluentes. Cidades destacadas: Barcelos, Barra do Rio Negro (Manaus), Tapajós (Santarém), Monte Alegre, Breves, Belém, Gurupá e Macapá. Indígenas rebelados em apoio à Cabanagem: Mura, perto do Rio Solimões; Sateré-Mawé, ao sul do Rio Solimões; e Munduruku, perto da cidade destacada de Tapajós (Santarém). Áreas de quilombos, aliados dos cabanos: Faixa de terra ao norte de Tapajós (Santarém) e outra na costa do Oceano Atlântico, cidade destacada de Belém. Na parte superior, à esquerda mapa do Brasil, destacando a região Norte. À direita, representação da rosa dos ventos e escala de 250 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: GEOPOLÍTICA das rebeliões de 1831-1848. Atlas histórico do Brasil: éfe gê vê/cê pê dóc. Disponível em: https://oeds.link/H9Giz6. Acesso em: 12 maio 2022.

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 5.

De acôrdo com o mapa, quais foram os povos indígenas que apoiaram a Cabanagem? Em sua opinião, qual é a importância do envolvimento de povos indígenas e quilombolas para a extensão do movimento?

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[Narrador]

As muitas Áfricas no Brasil

[Laura]

[tom de voz animado]

Olá! Está começando mais um episódio do nosso podcast “De olho na História”.

[Rodrigo]

[tom de voz animado]

Sejam todos muito bem-vindos!

[Laura]

[tom de voz animado]

Hoje vamos conversar sobre a escravidão, mas sob um outro ponto de vista.

[Rodrigo]

[tom de voz animado]

Sim, vamos falar um pouco sobre quem eram as pessoas que foram escravizadas e trazidas para o Brasil.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

O processo de colonização brasileiro foi também um processo de deslocamento forçado de um número imenso de africanos, que eram capturados em seu território e trazidos para cá em condições precárias.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Para vocês terem uma ideia, os navios em que eles vinham eram conhecidos como tumbeiros, pois cerca de um quarto das pessoas embarcadas acabavam morrendo.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

Os pesquisadores avaliam que, do início da colonização até o fim da escravidão, foram feitas cerca de 9.200 viagens para o Brasil.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo, de perplexidade]

A estimativa é que quase 5 milhões de africanos tenham sido trazidos como trabalhadores escravizados. Assustador, não?

[Laura]

[tom de voz explicativo]

Pois é. Os comerciantes europeus estimulavam a guerra entre povos africanos rivais e ofereciam todo tipo de produto em troca dos cativos: fumo, aguardente, alguns manufaturados...

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

As populações capturadas nesses conflitos, e também por traficantes locais, eram vendidas a comerciantes portugueses, holandeses ou ingleses.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

A primeira região onde os portugueses estabeleceram comércio de escravizados foi o Castelo de São Jorge da Mina, na Costa do Ouro, em Gana.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

O povo que vivia nessa área eram os fantis, que monopolizavam o comércio de armas de fogo com os portugueses.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

Já o reino de Ashanti, localizado no interior, era uma sociedade militarizada que costumava comprar armas e munição com suas reservas de ouro.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Com o desenvolvimento do comércio com os europeus, os ashantis passaram a capturar povos vizinhos que, com a ajuda dos fantis, entravam no sistema de trocas.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

À medida que o comércio de escravizados aumentava, os ashantis se tornavam mais organizados.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

O reino, então, estendeu seus domínios até a região costeira, eliminando os intermediários comerciais nas negociações com os europeus.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

Dali, foram trazidos os sudaneses, grande grupo étnico do qual fazem parte os gegês, os próprios fanti-ashantis e os iorubás.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Tendo como principal destino o porto de Salvador, os sudaneses acabaram ocupando a Bahia. Foram eles que trouxeram grande parte das tradições religiosas do Candomblé.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

O grupo mais numeroso trazido para o Brasil foi o dos bantos, que compreendia cativos que viviam na Angola, no Congo e em Moçambique.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Os principais destinos desses africanos foram Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Apesar da origem comum, esses grupos possuíam organizações e costumes distintos entre si.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

O português falado no Brasil incorporou várias palavras da língua banta falada em Angola, como moleque, cafuné, fubá e farofa.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

E não foi só isso. Dos bantos também veio grande parte dos ritmos e instrumentos musicais que formam a raiz musical e cultural brasileira.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

O último grande grupo africano trazido para o Brasil foi o dos guineano-sudaneses, que se dividiam em quatro subgrupos: fula, mandinga, hauçás e tapas.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Os guineano-sudaneses eram muçulmanos. Vinham da mesma região que os sudaneses e acabaram ocupando as mesmas áreas que eles aqui no Brasil.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

Uma curiosidade: os negros muçulmanos eram conhecidos aqui como malês, palavra iorubá que significa muçulmano.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Em 1835, esses africanos muçulmanos promoveram uma das poucas rebeliões lideradas exclusivamente por escravizados na história do Brasil, a Revolta dos Malês.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

Além dessa, houve muitas outras formas de reação por parte dos escravizados. O quilombo dos Palmares, por exemplo, foi o maior símbolo dessa resistência e inspirou os africanos na luta pela liberdade.

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Outro acontecimento importante, que também influenciou os escravizados no Brasil, foi a Independência do Haiti, primeiro movimento liderado por negros ex-cativos das Américas.

[Laura]

[tom de voz explicativo]

Puxa, são muitas as formas de resistência desses escravizados que podem ser identificadas em nossa história, não é, Rodrigo?

[Rodrigo]

[tom de voz explicativo]

Sim, Laura! Assim como são inúmeras as contribuições que esses povos africanos deixaram para a formação de uma identidade brasileira.

[Laura]

[tom de voz de encerramento]

Com certeza! Bem, por hoje terminamos aqui.

[Rodrigo]

[tom de voz de encerramento]

Procurem saber mais sobre as contribuições e as lutas dos africanos no Brasil. Até mais!

[Laura]

[tom de voz de encerramento]

Tchau, pessoal. Até a próxima!

[Narrador]

O áudio inserido neste conteúdo é da Incompetech.

A Revolta dos Malês

A Revolta dos Malês ocorreu na cidade de Salvador, na província da Bahia, em 1835, e é considerada por muitos historiadores como uma das poucas rebeliões lideradas exclusivamente por escravizados na história do Brasil.

Ela foi organizada por africanos escravizados e libertos que seguiam o islamismo e, por isso, eram chamados malês (que significa muçulmanos). A revolta buscava libertar os escravizados de origem muçulmana, além de garantir melhores condições de vida e a liberdade religiosa aos africanos e afrodescendentes.

êsse levante, que pretendia tomar o govêrno da Bahia, foi denunciado à polícia. Houve, então, uma repressão que fez a revolta eclodir antes do previsto, com a ocorrência de diversos conflitos na cidade, resultando na morte de dezenas de rebeldes.

A Revolta dos Malês despertou um forte sentimento de medo e insegurança na população branca, que temia um novo levante. Assim, aumentou-se a patrulha nas ruas, iniciando uma violenta repressão policial contra a população negra da Bahia.

Foram realizadas, por determinações de juízes na época, rondas para perseguir e prender membros da revolta. Inspetores, membros da Guarda Nacional, além de cidadãos, invadiam moradias e estabelecimentos de afrodescendentes, principalmente libertos, suspeitos de serem rebeldes muçulmanos.

Entre os itens que podiam motivar a prisão estavam armas e qualquer objeto que fosse considerado ligado a práticas muçulmanas, como amuletos (usados como símbolo de proteção) e papéis escritos em árabe.

Malê usando amuleto no pescoço.

Pintura. Homem negro, usando camisa, adereço no pescoço, short e sem calçado, está de pé segurando com a mão direita um vaso com flores apoiado na cabeça e, com a mão esquerda, uma tábua de madeira com flores.
Negro vendedor de flores, de Jean Batísti debrê. Aquarela ​16,9centímetrospor9,8, século dezenove.

Diversos amuletos malês foram encontrados junto a rebeldes mortos no conflito e também após a rebelião, durante a perseguição aos suspeitos.

Fotografia. folha de papel com elementos da escrita árabe.
Pequena página de um amuleto da primeira metade do século dezenove com escrita árabe, contendo a sura (Noite de Glória, em português).

Investigando fontes históricas

Imagens do cotidiano brasileiro

Você já imaginou como era viver na época colonial? Como você se alimentaria? Quais roupas você vestiria?

O dia a dia dos habitantes das áreas rurais e das áreas urbanas no Brasil, no século dezenove, foi representado por diversos artistas em pinturas e gravuras. As imagens feitas no período costumam mostrar detalhes do trabalho e das atividades realizados nas ruas das vilas e cidades. Essas representações revelam também costumes, aspectos do cotidiano e as diferenças sociais existentes na época, como as relações entre senhores e escravizados.

O artista francês Jean Batísti debrê representou o Pôrto do Rio de Janeiro, no largo do Paço, localizado na atual praça 15 de Novembro. Por meio da imagem, é possível analisar uma cena cotidiana do século dezenove. Observe.

Litogravura 'A'. À direita, um grupo de pessoas negras carregando baldes. Sobreposto ao número 1. Ao lado, há uma construção de pedra no formato retangular com o teto em formato triangular. Ao redor, há algumas pessoas. Sobreposto ao número 2. No segundo plano, vários mastros e velas de embarcações. Sobreposto ao número 3. Perto de um homem negro inclinado na direção de um barril, há um cachorro bebendo água de uma poça. Sobreposto ao número 4. À direita, mulheres negras segurando bandejas e objetos em formato circular. Sobreposto ao número 5. Seguido, há pessoas, vestindo roupas coloridas e chapéus ornamentados, sentadas perto das mulheres com bandejas e objetos em formato circular. Sobreposto ao número 6. Em pé, ao lado das pessoas sentadas, há um homem vestindo farda azul, chapéu e arma nas mãos. Sobreposto ao número 7.
Os refrescos no largo do Paço, depois do jantar, de Jãn Batiste Dêbret. Litogravura, ​38,07centímetrospor42,34centímetros, 1835.

1. Ao fundo, escravizados carregam potes com mercadorias e produtos.

2. Chafariz construído em 1789 pêlo arquiteto e escultor Mestre Valentim. Sua função era disponibilizar água para a população e para os tripulantes que desembarcavam no local.

3. É possível identificar o Pôrto representado na imagem pêla presença de muitas embarcações ancoradas.

4. A imagem é bastante detalhada, mostrando inclusive os animais que costumavam circular pelos locais públicos naquela época.

5. As mulheres são escravas de ganho e foram representadas vendendo doces e refrescos.

6. As pessoas que compram os produtos são de um grupo social elevado, pois estão vestindo acessórios e roupas considerados elegantes para a época.

7. êsse homem está usando uniforme militar, indicando que a região requeria segurança.

Agora, analise outras cenas cotidianas do século dezenove.

Litogravura 'B'. No primeiro plano, uma mesa com muitos alimentos e garrafas de bebidas. À esquerda, há uma mulher branca, usando um arco dourado nos cabelos, vestido amarelo e chale vermelho, está sentada em uma cadeira, com uma das mãos sobre uma mesa e, com a outra, entregando um pedaço de alimento para uma criança negra sem vestes. Ao lado, um homem branco, usando camisa com botões e calça, está sentado em uma cadeira com as mãos sobre a mesa levando um talher em direção à boca. No segundo plano, há uma mulher negra segurando um abanador e, ao lado, um homem negro de pé com os braços cruzados e uma pessoa negra encostada perto de uma porta.
Um jantar brasileiro, de Jãn Batiste Dêbret. Litogravura, ​36,44 centímetrospor42,34centímetros, 1839.
Litogravura 'C'. No primeiro plano, mulheres negras, usando tecido na cabeça e vestido até os joelhos, estão na borda de um corpo de água com trouxas de roupa. À direita, um homem negro, usando chapéu, camisa e calça, está montado em um cavalo observando as mulheres negras. No segundo plano. muro branco com portão de madeira e vegetação.
Lavadeiras do rio das Laranjeiras, de Jãn Batiste Dêbret. Litogravura, ​36,78 centímetrospor37,47centímetros, 1839.

Agora, responda às questões no caderno.

  1. Compare as imagens A, B e C. Quais delas representam locais públicos? E quais representam ambientes privados? Explique como você chegou a essa conclusão.
  2. Explique as diferenças entre as imagens B e C em relação aos trabalhadores representados na cena.
  3. Você consegue identificar diferentes condições sociais nas imagens B e C? Escreva sôbre o tema.
  4. Em sua opinião, as obras de debrê podem auxiliar na compreensão de aspectos do cotidiano brasileiro do século dezenove? Produza um texto com as informações que você descobriu acêrca do dia a dia da população, com base nas imagens apresentadas nesta seção e nos conteúdos estudados.

A assertividade é a capacidade que temos de saber nos expressar de maneira clara e objetiva, expondo nossas ideias de fórma adequada e respeitosa.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Explique as duas medidas adotadas no período Regencial que pretendiam acabar com os conflitos regionais.
  2. Qual foi o principal objetivo do golpe da maioridade?
  3. A partir dos conteúdos estudados sôbre os conflitos no período Regencial no Brasil, reproduza o quadro a seguir em seu caderno e, em seguida, complete-o com as informações solicitadas.
'Ícone Modelo'

Item

Farroupilha

Cabanagem

Revolta dos Malês

Período

Local

Grupos participantes

Motivações

Consequências

Aprofundando os conhecimentos

4. No atual estado do Pará, há diversos registros históricos referentes à Cabanagem, como o monumento retratado na foto a seguir. Analise-o.

Mural. Monumento de pedra com detalhes em relevo. À esquerda, pessoas dentro de uma embarcação pequena. Ao lado, dois homens, um de frente para o outro, com objetos nas mãos. À direita, um homem, vestindo batina, está segurando uma cruz com as mãos. Seguido, um grupo de homens fardados apontando armas. Entre as pessoas da esquerda e da direita, há uma cerca dividindo-as. Na parte inferior, há o texto: 1835. A RESISTÊNCIA À CABANAGEM.
Monumento A Resistência à Cabanagem, de , localizado na praça da Cultura da cidade de Cametá, Pará, em 2017.
  1. Descreva o monumento retratado na foto.
  2. Onde êle está localizado?
  3. êsse monumento foi construído com qual intenção?
  4. Comente a importância dêsse e de outros tipos de representações e registros da história do nosso país.
  1. sôbre a Guarda Nacional, criada pêlo govêrno regencial em 1831, responda às seguintes questões.
    1. Qual foi o principal objetivo da criação dessa milícia?
    2. Quem fazia parte da Guarda quando ela foi criada?
    3. Quais são as principais diferenças entre a Guarda Nacional e o Exército na época?
  2. Leia o texto a seguir sôbre a Revolta dos Malês. Depois, responda às questões propostas.

A data escolhida para a rebelião foi o domingo da Festa de Nossa Senhora da Guia. A escolha tinha razões estratégicas reticências. A festa levaria para a distante localidade do Bonfim um grande número de pessoas, especialmente homens livres. Boa parte do corpo policial também iria para lá, com o objetivo de controlar a multidão.

Como conheciam bem o cotidiano da cidade e de sua festa, os Malês devem ter calculado que, dada a distância e a precariedade dos transportes e vias de acesso da época, ia-se ao Bonfim, para ficar pêlo menos todo o fim de semana na festa. A cidade ficaria vazia de homens livres e policiais e seria mais fácil dominá-la.

Mas a eleição do dia 25 de janeiro como data da rebelião possuía um significado ainda mais importante para os Malês. A revolta foi planejada para acontecer num momento especial do calendário muçulmano, na verdade, o mais importante do ano: o Ramadã. Era o final do jejum, data muito próxima da festa do Lailat al Qadr, expressão que traduzida para os idiomas ocidentais quer dizer “Noite de Glória”, ou “Noite do Poder”. O Qadr é celebrado em toda a África Ocidental e encerra o Ramadã. Acredita-se que nessa noite aprisiona os djins (espíritos) para livremente reordenar os negócios do mundo.

reticências

, kabenguelê; GOMES, Nilma Lino. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global, 2006. página 9495. (Coleção Para Entender).

  1. De acôrdo com o texto, quais são as possíveis justificativas para a escolha da data da rebelião?
  2. Segundo o texto, os malês conheciam o cotidiano da população na época. Transcreva no caderno o trecho que justifica essa hipótese.
  3. Considerando o que você estudou neste capítulo e o texto desta atividade, o plano dos revoltosos saiu como esperado? Explique sua resposta.
  4. Examine novamente a fonte apresentada no tópico “A Revolta dos Malês”. Quais são as relações entre o documento escrito em árabe e as informações do texto?
  5. Explique a repressão aos africanos e seus descendentes no Brasil após o movimento. Qual foi a principal motivação na época?