UNIDADE 8 Neocolonialismo e a expansão dos Estados Unidos

Fotografia em preto e branco. Homens negros, com adornos sobre o corpo, dispostos em duas fileiras. Na fileira da frente, eles estão sentados segurando lanças e escudos brancos e, na fileira de trás, estão em pé segurando lanças e escudos pretos. Atrás, uma moradia.
Grupo de guerreiros zulus em Ulundi, região da atual África do Sul, em 1875.

Durante o século dezenove, diversas potências econômicas europeias, como a Inglaterra, a França e os Estados Unidos buscaram promover políticas imperialistas sôbre outros países.

Nesta unidade, vamos conhecer um pouco mais sôbre o Neocolonialismo nesse período, assim como entender algumas consequências dessas práticas para os povos colonizados e de que maneira êles resistiram a essa dominação.

Iniciando a conversa

  1. Com que tipo de equipamentos os guerreiros zulus estão armados?
  2. Você acha que a atuação dêsses guerreiros pode ter sido importante na resistência à dominação europeia na África?
  3. A dominação de um povo sôbre outro pode causar que consequências? Você conhece algum exemplo na atualidade?

Agora vamos estudar...

  • o neocolonialismo na África;
  • o neocolonialismo na Ásia;
  • as resistências ao Neocolonialismo;
  • a expansão dos Estados Unidos;
  • a Guerra de Secessão;
  • o imperialismo estadunidense.

CAPÍTULO 15 O neocolonialismo europeu

No século dezenove, o continente africano era habitado por cêrca de 100 milhões de pessoas, que estavam reunidas em diversas sociedades, cada uma com sua própria organização política, econômica e social.

A África no século dezenove

Nesse período, a maior parte da população africana trabalhava na agricultura de subsistência. O comércio interno entre as diferentes regiões do continente era uma atividade econômica importante e foi um fator relevante para a interligação territorial e cultural entre os povos da África.

Os povos de diferentes etnias que habitavam o continente organizavam-se de vários modos. Havia desde pequenas aldeias, compostas por diversas famílias e lideradas por um chefe, até grandes reinos, que englobavam várias aldeias e eram liderados por um chefe com mais poder e autoridade sôbre todos os outros. Alguns reinos formavam Estados centralizados, os quais praticavam a coleta de tributos e cuja hierarquia social era bastante definida.

As sociedades envolvidas com o comércio de mão de obra escravizada destinada às nações europeias conseguiam obter grandes lucros, tornando-se ricas e poderosas. As autoridades africanas adquiriam armas de fogo e outros produtos dos europeus em troca de pessoas escravizadas e, assim, impunham seu poder na região.

Gravura. Várias construções, uma do lado da outra, em formato circular na base e triangular no teto. Na frente, há uma pessoa conduzindo um animal quadrúpede e outras pessoas caminhando.
Vila sudanesa, de . Gravura, 1861.
Gravura. No primeiro plano, ponte larga sobre um corpo de água. Sobre a ponte, há pessoas caminhando. Ao fundo, cidade com várias construções.
Argel (atual Argélia), de . Gravura, cêrca de 1890.

A Confederação Axânti

Na costa ocidental da África, próximo aos atuais países Gana e Togo, situava-se a Confederação Axânti. Com origem no século dezesseis, essa sociedade ocupava a região conhecida como Costa do Ouro.

A Confederação Axânti era formada por diversos Estados provinciais. Havia os Estados antigos, administrados por representantes Axânti, e os Estados conquistados, que mantinham seus governantes, mas pagavam impostos ao poder central.

Para manter a unidade da organização administrativa da Confederação, foi criada uma rede de comunicação na capital Kumasi, com estradas e locais para vigilância que facilitavam o trânsito nas rotas comerciais e o escoamento de produtos.

A principal fonte de recursos financeiros, além do comércio de produtos e da extração do ouro, era a venda de pessoas escravizadas ao mercado internacional. Por volta de 1820, a Confederação Axânti dominava aproximadamente quarenta povos, e chegou a ter um exército de cêrca de 80 mil homens.

Fotografia em preto e branco. Diversos homens e meninos negros com tecido ao redor da cintura. Alguns estão sentados segurando instrumentos de percussão e outros estão de pé com os braços erguidos. No fundo, vegetação.
Grupo de guerreiros Axânti em foto tirada em Kumasi, atual Gana, em 1890.

O Reino Zulu

Os zulus são um povo originário do sul do continente africano, com uma cultura tradicionalmente guerreira. Um de seus principais líderes, Shaka, foi um incentivador do expansionismo dêsse povo e, no século dezenove, organizou uma estrutura de formação militar rígida, baseada em estratégias de pilhagens, de guerra ilimitada contra o adversário e de destruição de seus recursos.

Nessa época, o Reino Zulu, cuja capital era Ulundi, passou a controlar e receber tributos de várias populações menores próximas ao sudeste africano. Além disso, sua complexa organização militar possibilitou a atuação em movimentos de resistência contra o neocolonialismo europeu.

A Conferência de Berlim

No final do século , diversas nações europeias tinham interêssis em colonizar territórios africanos. Para organizar a disputa pêla divisão territorial da África entre essas nações, foi realizada a Conferência de Berlim, entre o final de 1884 e o início de 1885. Nessa conferência, foram definidos os territórios que seriam ocupados por cada um dos países envolvidos. Ao todo, participaram treze países europeus, além dos Estados Unidos e da Turquia. Porém, o continente africano foi dividido apenas entre sete países: Inglaterra, França, Portugal, Espanha, Bélgica, Itália e Alemanha.

A partilha da África ocorreu sem levar em consideração os aspectos étnicos, culturais, sociais, políticos e econômicos existentes no continente, o que gerou consequências que perduram até a atualidade em muitas sociedades africanas. As disputas entre os países participantes, no entanto, não foram totalmente solucionadas, o que provocou conflitos entre êles, entre o final do século dezenove e o início do século vinte.

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Questão 1.

De acôrdo com o mapa, quais nações europeias tinham os maiores domínios coloniais na África?

A divisão da África de acordo com a Conferência de Berlim (século XIX)

Mapa. A divisão da África de acordo com a Conferência de Berlim (século 19). Mapa territorial destacado conforme legenda: Países independentes: ETIÓPIA e LIBÉRIA. Possessões coloniais Francesa: MARROCOS, ARGÉLIA, TUNÍSIA, MAURITÂNIA, ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA, SENEGAL, COSTA DO MARFIM, ÁFRICA EQUATORIAL FRANCESA, GUINÉ (FRANÇA), SOMÁLIA (FRANÇA), COMORES e MADAGASCAR. Possessões coloniais Britânica: GÂMBIA, SERRA LEOA, COSTA DO OURO, NIGÉRIA, EGITO, SUDÃO ANGLO-EGÍPCIO, SOMÁLIA (BRITÂNICA), UGANDA, ÁFRICA ORIENTAL BRITÂNICA, NIASSA, RODÉSIA, BECHUNALÂNDIA, SUAZILÂNDIA, BASUTOLÂNDIA, SEYCHELLES e UNIÃO SUL-AFRICANA. Possessões coloniais Alemã: TOGO, CAMARÕES, ÁFRICA ORIENTAL ALEMÃ e ÁFRICA DO SUDOESTE. Possessões coloniais Portuguesa: MADEIRA, CABO VERDE, ANGOLA, MOÇAMBIQUE e GUINÉ (PORTUGAL). Possessões coloniais Espanhola: ILHAS CANÁRIAS, TÂNGER e RIO DO OURO. Possessões coloniais Belga: CONGO BELGA. Possessões coloniais Italiana: LÍBIA, ERITREIA e SOMÁLIA (ITÁLIA). No canto inferior à esquerda, planisfério destacando a África e parte da Europa. Ao lado, rosa dos ventos e escala de 680 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. página 158.

A colonização francesa

Os franceses ocuparam a Argélia em 1830. A conquista do território argelino foi marcada pêla desapropriação das terras dos nativos, que foram doadas ou vendidas a colonizadores franceses. Nas propriedades agrícolas que, em sua maioria, tinha a produção voltada para o mercado externo, usava-se a mão de obra forçada da população local. Para garantir essa exploração, os franceses proibiram que os nativos frequentassem escolas ou tivessem acesso a qualquer tipo de instrução.

Com o fortalecimento das ideias imperialistas no final do século dezenove, a França expandiu seus domínios, tornando-se, ao lado da Inglaterra, um dos países com maior extensão de territórios coloniais no continente africano.

Ilustração representando uma batalha entre africanos e militares franceses durante a colonização de Madagascar.

Capa de jornal. Na parte superior, o texto: Le Petit Journal. Ao centro, ilustração de homens negros, usando chapéu e segurando com as mãos armas, correm em direção a um grupo de homens fardados e armados. Abaixo, o texto: A MADAGASCAR. DÉFAITE DES SAKALAVES.
Capa do Le Petit Journal, publicação francesa de 1898.

A colonização belga

Na região central da África, onde atualmente está localizada a República Democrática do Congo, ocorreu uma das dominações mais cruéis e violentas praticadas pelos europeus. êsse território foi colonizado pêla Associação Internacional do Congo, fundada em 1876 por Leopoldo dois, rei da Bélgica, que estava interessado em explorar o marfim e a borracha como matéria-prima para a indústria belga. Após a Conferência de Berlim, a região tornou-se propriedade pessoal do rei belga. Nessa época, diversos métodos violentos foram utilizados para forçar a população nativa a trabalhar para os dominadores europeus, como amputações, estupros e assassinatos. Em 1908, após forte pressão internacional, o Congo deixou de ser um domínio pessoal do rei belga e passou a ser um território administrado pêlo Parlamento da Bélgica.

Fotografia em preto e branco. Na frente diversas presas de animais no chão. Atrás, homens usando chapéu, camisa e calça. Eles estão de pé. No fundo, construção com teto de palha.
Colonizadores belgas pousam para foto com trabalhadores nativos africanos e presas de marfim, no Congo Belga. Foto de cêrca de 1900.

A colonização inglesa

Em 1869, foi inaugurado o Canal de Suez, no Egito, interligando o mar Mediterrâneo ao mar Vermelho. Assim, o interêsse da Inglaterra sôbre a região aumentou, pois o canal representava um importante caminho para a Índia.

Inicialmente, o Canal de Suez pertencia à França e ao Egito, mas por causa das dificuldades do govêrno egípcio em pagar sua dívida externa, sua parte foi comprada em 1875 pelos ingleses. Além do canal de Suez, os ingleses também tinham grande interêsse no algodão egípcio, importante para a indústria têxtil britânica. Assim, em 1882, a Coroa britânica dominou o Egito e, anos depois, ocupou também o Sudão, transformando-os em colônias.

Fotografia em preto e branco. À esquerda, uma embarcação sobre um corpo de água estreito. À direita, construções.
Trecho do Canal de Suez em Pôrto saíd, Egito. Foto de cêrca de 1913.

Como estratégia de dominação, os colonizadores ingleses incentivaram conflitos entre os diferentes povos que habitavam as regiões ocupadas, buscando, assim, evitar uma possível união e a formação de uma resistência à presença europeia.

Os ingleses também colonizaram o sul do continente, que era ocupado pelos holandeses desde o século dezessete. No início do século dezenove, porém, os ingleses dominaram a região, obrigando os descendentes de holandeses, os bôeres, a se deslocar mais para o norte.

O interêsse britânico sôbre as terras ocupadas pelos bôeres, que eram ricas em minerais preciosos, provocou desentendimentos que fizeram eclodir a Primeira Guerra dos Bôeres (1880-1881) e a Segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902). A segunda guerra terminou com um tratado que anexou os territórios bôeres ao Reino Unido.

Fotografia em tons de sépia. Diversos homens usando capacete e farda sobre cavalos enfileirados.
Tropas britânicas a cavalo na África do Sul durante a Segunda Guerra dos Bôeres, que eclodiu em 1899.

A colonização portuguesa

No início do século dezenove, Portugal passava por uma grave crise econômica, decorrente, principalmente, da ocupação militar das tropas napoleônicas em Portugal e do consequente deslocamento da família real portuguesa para o Brasil. Com a ocupação francesa, os portugueses perderam o monopólio comercial sôbre as suas colônias. Além disso, ocorreram diversas manifestações políticas liberais que defendiam a substituição da monarquia absolutista por uma monarquia constitucional em Portugal.

Em 1822, com a Independência do Brasil, Portugal perdeu o domínio sôbre o seu território mais lucrativo. No entanto, ainda manteve suas colônias na China, na Índia e na África. A partir de então, a Coroa portuguesa passou a intensificar a exploração das suas colônias remanescentes.

As colônias africanas

Por volta de 1870, temendo perder suas colônias para as potências europeias concorrentes, as autoridades portuguesas financiaram diversas expedições para garantir a ocupação sôbre os territórios na África. A ocupação abrangeria toda faixa territorial entre Angola e Moçambique, e foi proposta em 1885 pêla Sociedade de Geografia de Lisboa.

No entanto, o plano teve grande oposição dos ingleses, aliados da Coroa portuguesa. Por causa da pressão britânica, o plano de ocupação fracassou. Mesmo assim, Portugal conseguiu manter colônias no continente africano, como a África Ocidental Portuguesa (atual Angola), a África Oriental Portuguesa (atual Moçambique), o Cabo Verde, a Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau), São Tomé e Príncipe e São João Baptista de Ajudá. Nessas colônias, a ocupação portuguesa continuou marcada pêla violência, pêla aculturação dos povos nativos e pêla exploração desenfreada dos recursos naturais e da mão de obra local.

Gravura em preto e branco. Quatro homens negros carregando uma rede presa em um bastão. Eles estão de costas, caminhando. No fundo, uma moradia de madeira com teto de palha.
pôsto de sinalização para os vapores e a casa do Senhor Pinto, de . Gravura, 1890, que representa trabalhadores africanos carregando um colonizador português na África Oriental Portuguesa, atual Moçambique.

A crise dos refugiados e o crescimento da xenofobia na Europa atual

Ícone ‘Ciências Humanas em foco’.

O preconceito e o racismo, estimulados pêlas visões etnocêntricas dos europeus ao longo de todo período colonial na Ásia e na África, ainda são um grave problema. Essa relação violenta de lidar com pessoas de diferentes culturas pode ser percebida até hoje.

Você já deve ter visto notícias a respeito da crise dos refugiados na Europa ou imagens de pessoas cruzando as fronteiras, muitas vezes, sem a ajuda humanitária. Trata-se de um acontecimento muito sério que vem ocorrendo nos últimos anos. De acôrdo com a avaliação da Organização das Nações Unidas (ônu), este é um dos mais graves problemas humanitários do século vinte e um.

Fotografia. Na frente, dois homens usando farda policiais e capacetes. Eles estão na frente de um portão fechado. Atrás, diversas pessoas, mulheres e crianças.
Refugiados sírios na Eslovênia tentando seguir em direção a Alemanha, durante a crise de refugiados na Europa, em 2015.

Emigrante, imigrante e refugiado

Para conhecer essa crise, precisamos compreender a diferença entre os têrmus emigrante, imigrante e refugiado. Emigrante é quem deixa seu país de origem. Quando essa pessoa entra em outro país, ela se torna imigrante. No caso do Brasil, os italianos que aqui chegaram no século dezenove são imigrantes. Para a Itália, de onde êles saíram, êles são considerados emigrantes. O têrmu geral para definir essas pessoas é migrante. Hoje em dia, muitas delas saem de seus países de origem e se instalam em outros para melhorar suas condições econômicas ou estudar.

De acôrdo com a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados (ônu, 1951, página 2), assinado por 128 países, refugiado é toda pessoa que deixa seu país: "temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas reticências e que reticências em consequência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a êle [país de origem].” Nessa condição, todo aquele que é reconhecido no país de chegada como “refugiado” tem direito a uma série de proteções, como solicitar asilo político e não retornar a seu país, onde sua vida corre perigo.

Para entender a gravidade do problema dos refugiados, até 2015 a Europa recebeu mais de 900 mil refugiados; em 2016, recebeu mais 400 mil. êsse fluxo de imigrantes é composto, em sua maioria, por pessoas vindas do Oriente Médio e da África, especialmente sírios que fogem da guerra civil que assola seu país desde 2011.

Em 2022, iniciou-se outra crise de refugiados, causada pelos conflitos entre Rússia e Ucrânia. Nos três primeiros meses de conflito, por exemplo, a ônu contabilizou cêrca de 6 milhões de refugiados ucranianos, que se deslocaram para diversos países do mundo, principalmente para países vizinhos.

Difícil travessia

A busca por melhores condições de vida e liberdade não é fácil, pois os refugiados correm riscos ao tentar fugir. No caso dos refugiados do Oriente Médio e da África, muitos morrem ao cruzar o mar Mediterrâneo em embarcações precárias e superlotadas. êsse enorme contingente de pessoas busca chegar aos países europeus, como Alemanha, França, Reino Unido, Suécia, Holanda, Dinamarca, Noruega, Áustria e Hungria.

A escalada do racismo e da xenofobia

Nesse contexto de aumento do número de refugiados, há um crescimento considerável de casos de racismo e de xenofobiaglossário em toda a Europa. Tornaram-se frequentes atos de violência contra os refugiados vindos de outros continentes. Entre os diversos motivos para o radicalismo dos europeus está o preconceito contra a religião e os costumes dos refugiados, de maioria islâmica, e sua diferença étnica, de origem árabe e persa, por exemplo.

Fotografia. Diversas pessoas em uma rua segurando cartazes coloridos e faixas. No fundo, muitos prédios.
Manifestação contra o racismo e a xenofobia, em Londres, Inglaterra, em 2022.

Resistência na África

Em praticamente todos os territórios coloniais da África, houve resistência dos povos nativos à dominação europeia. Muitos movimentos de resistência foram organizados contra as práticas opressivas dos europeus, como a cobrança de impostos, o uso de mão de obra forçada, a repressão às manifestações culturais, entre outras, e conseguiram atuar por longo tempo.

A revolta

Desde a realização da Conferência de Berlim, entre os anos de 1884 e 1885, a Alemanha passou a dominar territórios como Tanganica (atual Tanzânia), Burundi e Ruanda, que formavam a África Oriental Alemã.

Entre 1905 e 1907, ocorreu uma revolta promovida pêlo povo , que habitava o território de Tanganica e se opunha à exploração colonialista alemã. A principal motivação da revolta era a luta contra o uso de mão de obra forçada pelos colonizadores. Para isso, seu líder, inguále, uniu cêrca de vinte grupos étnicos diferentes difundindo os princípios de liberdade, vinculando-os a elementos da cultura tradicional e da religiosidade dêsses povos. A revolta, porém, foi violentamente reprimida pelos alemães.

Fotografia em preto e branco. Pessoas trabalhando em uma plantação. Homens e mulheres negras estão inclinadas com ferramentas nas mãos. No fundo, dois homens, usando chapéu, camisa e calça, estão de pé olhando para as pessoas trabalhando.
trabalhando em plantação de seringueira na África Oriental Alemã, em 1900.

Assim como para o povo , a religiosidade foi um componente importante em outras rebeliões contra o domínio estrangeiro na África, como a rebelião de , envolvendo os do Alto Senegal, entre 1898 e 1901, contra o domínio francês; e a rebelião Axânti, na Costa do Ouro (atual Gana), contra o domínio britânico, que durou dez anos, de 1890 a 1900.

Apesar das dificuldades em vencer os europeus nos conflitos, principalmente por causa da superioridade bélica dos colonizadores, muitos movimentos de resistência continuaram a surgir e se fortaleceram, acumulando experiências e tornando-se cada vez mais organizados contra a dominação europeia na África.

Os brasileiros na África

Você sabia que existiam comunidades afro-brasileiras vivendo na África no século dezenove? grupos, chamados de agudá, eram formados por pessoas ex-escravizadas de origem ou ascendência africana, libertados no Brasil, que regressaram à África, principalmente para a atual região do Benin. Vários dêsses africanos e seus descendentes haviam sido deportados após a participação na Revolta dos Malês, que ocorreu em 1835 no atual estado da Bahia. Então, grande parte resolveu voltar à África.

Mesmo instaladas em seu continente de origem, muitos africanos não se identificavam mais com a cultura e os costumes locais, os quais, com o passar do tempo, haviam sofrido várias transformações. Assim, ao retornar para a África, êles mantinham hábitos fortemente influenciados por aspectos culturais desenvolvidos no Brasil.

Os agudás formaram na África comunidades marcadas pêlo intercâmbio cultural, ou seja, pêla combinação de elementos africanos e aspectos característicos das tradições culturais afro-brasileiras ligados, por exemplo, às festividades, à culinária, à religião, às técnicas de produção agrícola etcétera

Os agudás estão presentes até hoje em algumas regiões africanas. No Benin, por exemplo, muitos de seus costumes ainda estão ligados à cultura brasileira, como a festa de Nosso Senhor do Bonfim, o Carnaval e as tradições festivas referentes ao Bumba meu boi.

O autoconhecimento é importante, pois nos ajuda a saber quem somos e a reconhecer nossas origens e identidades.

Fotografia. Pessoas negras com roupas coloridas segurando a bandeira do Brasil em uma rua de uma cidade.
Carnaval dos agudás, em Pôrto Novo, Benin, em 2011.

O imperialismo e o neocolonialismo na Ásia

No século dezenove, assim como ocorreu na África, houve grande avanço do Imperialismo e dos interêssis das potências econômicas europeias no continente asiático. Como principais interêssis dos europeus, destaca-se, nesse processo, a expansão dos seus mercados consumidores, a extração de matérias-primas para suprir suas indústrias, a exploração de recursos naturais e a ampliação das possibilidades de investimento de capitais.

A China antes da colonização

Durante o século dezenove, a China era governada pêla dinastia Tchím (1644-1912), que havia alcançado o apogeu em meados do século dezoito, com um amplo desenvolvimento cultural e um govêrno fortemente centralizado. Entre o final do século dezoito e o início do dezenove, essa dinastia entrou gradualmente em declínio, causado principalmente pêla fragilidade administrativa do Estado, pêla corrupção e pelos excessivos gastos da côrte.

A presença de europeus na China se intensificou a partir do século dezesseis, com a chegada dos portugueses ao país, o que ampliou a comercialização de produtos chineses na Europa, como a seda, o chá, as porcelanas e o artesanato de luxo. Entretanto, até o final do século dezoito, a ocupação europeia havia afetado pouco a sociedade chinesa. Até então, a China era um país economicamente autossuficiente e sua população não demonstrava interêsse em consumir os produtos da Europa. Havia, assim, muitos obstáculos para a venda dos produtos industrializados europeus para os chineses, além de o govêrno da China procurar manter uma política econômica que permitia pouca participação estrangeira em seu mercado, desagradando as potências imperialistas.

Charge que representa Djón (que simboliza a Inglaterra) forçando um chinês a aceitar o ópio.

Charge. À esquerda, um homem asiático, com cabelos presos, usando blusa de magas compridas e saia colorida, está de pé com as mãos a frente do corpo. À direita, um homem branco, usando chapéu, casaco azul e calça, está segurando com a mão direita uma arma apontada na direção do homem asiático e, na mão esquerda, um embrulho.
Para a relação fraca, de autor desconhecido. Charge, 1864.

Um dos poucos produtos estrangeiros que alcançaram grande consumo na China foi o ópioglossário , que era produzido na Índia e comercializado pêla Companhia das Índias Orientais inglesa, desde o século dezoito. Em 1800, o govêrno chinês proibiu o consumo do ópio no país, mas os britânicos continuaram a comercializar êsse produto de maneira ilegal. Em 1839, o imperador chinês tomou medidas para acabar com o tráfico dêsse produto.

A ocupação colonial na China

As medidas do govêrno da China em relação ao ópio fizeram com que o govêrno britânico procurasse forçar a abertura do mercado chinês, dando início a um conflito que ficou conhecido como Primeira Guerra do Ópio (18391842).

O govêrno chinês foi derrotado e obrigado a assinar o Tratado de Nanquim, em 1842, que concedia benefícios aos ingleses, como a abertura de portos ao comércio estrangeiro e a transferência da ilha de Hong Kong para o domínio inglês.

No entanto, um novo incidente reiniciou as agressões quando, em 1856, um navio com a bandeira britânica foi inspecionado pêlas autoridades chinesas e doze tripulantes foram presos, sob a suspeita de contrabando e pirataria.

êsse fato foi interpretado pelos ingleses como uma violação ao Tratado de Nanquim e, em 1858, a Coroa britânica deu início à Segunda Guerra do Ópio. Mais uma vez derrotado, o govêrno chinês teve de assinar o Tratado de , que legalizava o consumo de ópio no país e abria outros portos chineses aos comerciantes estrangeiros.

Assim, os ingleses passaram a ocupar diversos territórios da China. Nas décadas seguintes, franceses, alemães, russos e japoneses também ocuparam a região.

Charge publicada no Le Petit Journal, em 1898, que satiriza a atuação das potências imperialistas na China.

Charge. No primeiro plano, à esquerda, uma mulher, usando uma coroa e um véu, está sentada segurando uma faca. Ao lado, um homem, usando chapéu e farda azul, está segurando uma faca com as duas mãos. Seguido, um homem, com cabelos loiros, usando chapéu e farda verde, está olhando para frente e com uma faca na mão. À direita, um homem asiático, com a mão no queixo e do lado de uma espada.  Atrás, uma mulher com cabelos loiros, chapéu vermelho e vestido. Eles estão olhando na direção de uma mesa com um círculo escrito CHINE. Ao fundo, um homem asiático, usando chapéu e roupas vermelhas e amarelas, está com os olhos arregalados e as mãos estendidas para cima. As unhas das mãos são grandes e afiadas.
China. O bôlo de reis e... imperadores, de Enrri méier. Charge, 1898.

O Japão imperialista

Até meados do século dezenove, o Japão mantinha uma política de isolamento em relação às nações ocidentais. Porém, com as pressões das potências econômicas europeias, o govêrno japonês deu início a um processo de abertura do país. Após assumir o poder em 1867, o imperador mugtissurríto instaurou um projeto de transformação do Japão. Durante seu govêrno, conhecido como Era meidjí, o imperador buscou industrializar o país, estabeleceu acôrdos comerciais com diferentes potências econômicas e investiu na ampliação de um novo modêlo de educação inspirado no modêlo ocidental, entre outras medidas.

As transformações promovidas por mugtissurríto tornaram o país uma potência econômica imperialista. Assim, com o objetivo de garantir novos mercados para seus produtos e matéria-prima para suas indústrias, o govêrno japonês estabeleceu seu domínio sôbre diversos territórios vizinhos, como Manchúria, Formosa e Coreia.

Gravura que mostra oficiais do govêrno japonês vestindo trajes e acessórios ocidentais durante a Era meidjí.

Gravura. Ao centro, um homem asiático, usando roupas verdes, está sentado. Ao redor, cinco homens asiáticos, usando farda preta e espadas, estão sentados.
Dignatários meidjí, de . Gravura, 36,8centímetrospor24,8centímetros, 1877. (Detalhe).

A Índia no século dezenove

Desde o século dezesseis, os portugueses haviam estabelecido comércio direto com a Índia. No século seguinte, os ingleses, por meio da Companhia das Índias Orientais, também passaram a comercializar diretamente com os indianos.

No início do século dezenove, a Índia estava dividida em centenas de reinos e principados e sua economia era majoritariamente agrária. Havia também uma importante produção de artigos artesanais, como tecidos de algodão, os quais, além de atenderem ao mercado interno, eram levados por comerciantes para a Europa e outras regiões.

O domínio colonial na Índia

Em meados do século dezoito, muitos territórios indianos estavam sob o domínio da Companhia das Índias Orientais inglesa. Para garantir a atuação da companhia, a Coroa britânica reforçou a ocupação militar nas regiões dominadas. Aos poucos, vários reinos e principados indianos foram conquistados pelos ingleses.

Um dos métodos de ocupação do território utilizado pêla Companhia foi a formação e o treinamento de um exército de soldados nativos, chamados cipaios. Parte da elite indiana, composta de príncipes e grandes proprietários rurais, apoiava o domínio inglês, recebendo benefícios em troca de sua colaboração.

Além disso, a Companhia das Índias Orientais havia introduzido, na Índia, os tecidos ingleses industrializados, prejudicando a produção artesanal de tecidos local, o que gerou desemprêgo. Isso, somado aos abusos cometidos pelos colonizadores ingleses, contribuiu para a eclosão da Revolta dos Cipaios.

A Revolta dos Cipaios

Em 1857, um grupo de cipaios deu início a um movimento contra a dominação inglesa que ficou conhecido como Revolta dos Cipaios. Os cipaios chegaram a tomar a cidade de Nova Déli com a ajuda das autoridades locais. No entanto, a rebelião foi violentamente sufocada pêlas fôrças britânicas em 1858.

Com o fim da rebelião, os ingleses aumentaram o contrôle sôbre a colônia e nomearam o governador-geral inglês na Índia como vice-rei, representando diretamente os interêssis britânicos na região. Dessa maneira, a maior parte da Índia tornou-se colônia da Inglaterra.

Apesar da derrota dos rebeldes, a Revolta dos Cipaios foi uma importante experiência contra a dominação colonial, influenciando outros movimentos pêla independência da Índia nos anos seguintes.

Litografia. Homens usando chapéu redondo na cabeça e roupas brancas. Eles estão com armas. Um deles está montado em um cavalo e segurando uma espada. Ao fundo, paisagem desértica e bandeiras.
Cipaios amotinados, de djêordji Frânclin . Litografia, 1859.

Resistência na Ásia

As ações promovidas pêlas potências imperialistas na Ásia provocaram diferentes manifestações de resistência, mobilizando diversos grupos sociais.

A resistência chinesa

No final do século dezenove, várias sociedades secretas surgiram na China com a intenção de expulsar as nações imperialistas do território chinês. Uma das mais atuantes foi a Sociedade dos Punhos Harmoniosos e Justiceiros, cujos integrantes, conhecidos como boxers pelos ingleses, praticavam artes marciais chinesas e faziam uso da luta armada para resistir à dominação.

Inicialmente, as ações dos boxers concentraram-se em atos de sabotagem a tudo o que pudesse representar a dominação estrangeira, como a destruição de ferrovias e de linhas de telégrafo. Essas ações tornaram-se cada vez mais frequentes e difundiram-se para diferentes regiões da China.

Em 1900, os boxers promoveram a ocupação de parte da cidade de Pequim e atacaram estrangeiros. A imperatriz chinesa manifestou seu apôio à revolta e declarou guerra às potências que ocupavam o território. Porém, uma ação conjunta foi organizada pelos países imperialistas para combater os revoltosos.

Assim, em 1901, os boxers foram derrotados e os chineses tiveram de assinar um acôrdo de paz que estabelecia uma série de medidas que prejudicavam ainda mais a China. Dessa fórma, o descontentamento da população intensificou-se e cresceram os movimentos de resistência contra o domínio estrangeiro.

Fotografia em preto e branco. Três homens asiáticos, usando lenço na cabeça e roupas escuras, estão em pé segurando com as mãos bastão.
Grupo de combatentes chineses que se opunham à dominação inglesa, por volta de 1900.
Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 2.

De que fórma os boxers resistiram à ocupação britânica na China?

A resistência indiana

Na Índia, os vínculos entre os ingleses e parte da elite indiana permitiram aos filhos de algumas famílias ricas estudar na Europa. Ao ter um contato mais intenso com a cultura dos dominadores, essas pessoas passaram a apontar as contradições existentes entre as atitudes colonialistas e os ideais presentes em países de cultura ocidental, como a liberdade de expressão e os direitos políticos. Havia também grupos populares radicais, que desejavam a expulsão dos ingleses e a volta do modo de vida tradicional indiano.

Entre o final do século dezenove e o início do século vinte, houve o crescimento do nacionalismo na Índia, que passou a ameaçar o domínio britânico na região. Ao longo dos anos, diversas associações, muitas delas de origem popular, foram criadas para combater o neocolonialismo inglês e para reivindicar a independência do país.

Busca por maior participação no govêrno

No final do século dezenove, visando disputar o espaço político na colônia, muitos políticos e intelectuais indianos se organizaram e fundaram partidos para garantir a participação dos nativos no govêrno.

Nesse contexto, formou-se o Partido do Congresso Nacional Indiano, em 1885, o qual contou com a participação de muitos indianos que se opunham à dominação britânica no continente, tornando-se um movimento político pêla independência muito atuante nos anos seguintes.

Fotografia. Diversos homens usando turbantes e túnicas. Alguns estão sentados e outros em pé.
Participantes da primeira sessão do Congresso Nacional Indiano, em Bombaim, na Índia, em 1885.

A pressão pêla independência levou à criação, pelos britânicos, da Lei dos Conselhos Indianos, em 1892, que aumentou o número de membros do conselho do vice-rei e passou a admitir indianos em sua composição, permitindo-lhes participar de reuniões orçamentárias, questionar e opinar sôbre assuntos administrativos.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Antes das dominações neocoloniais, como estavam organizadas as diversas sociedades africanas?
  2. Quais foram as consequências da Conferência de Berlim para os povos da África?
  3. Observe novamente a charge apresentada no tópico “A ocupação colonial na China” e explique a ironia dessa representação.
  4. Como foi implantada a política imperialista inglesa na China?

Aprofundando os conhecimentos

5. Muitos povos africanos resistiram à dominação europeia, alguns por meio da luta armada. Os zulus, por exemplo, enfrentaram os britânicos em um conflito que chegou a envolver cêrca de 20 mil guerreiros africanos. Em janeiro de 1879, êles venceram a Batalha de , que configurou uma das maiores derrotas militares inglesas na época. Observe a gravura e responda às questões.

Gravura em preto e branco. À esquerda, homens negros segurando com as mãos, escudos e lanças. Eles estão enfileirados e apontando as lanças para a direita. À direita, homens usando farda e chapéu. Alguns estão montados em cavalos e outros fugindo ou caídos no chão. Atrás, diversas tendas.
A Guerra Zulu, de Djón chárlis . Gravura, 1879.
  1. Você consegue identificar os zulus e os ingleses na imagem anterior? Explique como você chegou a essa conclusão.
  2. De acôrdo com a imagem, qual dos grupos está em vantagem no conflito? Justifique sua resposta.
  3. Produza um texto em seu caderno comentando as fórmas de resistência dos povos africanos à dominação imperialista.

6. Durante o século dezenove, a Inglaterra dominou diversas regiões do mundo. Analise o mapa-múndi a seguir, produzido no século dezenove, depois, responda às questões.

Mapa. Planisfério representando a América, a Europa, a África, a Ásia e a Oceania, destacando em cor-de-rosa algumas regiões. À esquerda, grande extensão de terra na América do Norte. Sobreposto ao número '1' . Abaixo, destaque em grande parte da América Central e pequena porção de terra na América do Sul. Sobreposto ao número '2'. Centralizado, pequenas poções de terra na Europa. Na África, destaque para o atual território da África do Sul e porções de terra na costa oeste. Sobreposto ao número '3'. Seguido, na Ásia, destaque para o atual território da  Índia. Sobreposto ao número '4'. À direita, na Oceania, destaque para o território atual da Austrália. Sobreposto ao número '5'. Há também diversas ilhas em destaque espalhadas pelos oceanos. Na parte superior e inferior, ilustrações de diversas pessoas de diferentes etnias.
Império Britânico em todo o mundo, de Djón . Século dezenove.
  1. Descreva a imagem. Como é possível identificar que êsse mapa mostra os territórios sob domínio britânico?
  2. Compare o mapa desta atividade com um mapa-múndi atual e identifique as indicações de 1 a 5 na imagem. Quais são os nomes dêsses territórios na atualidade?
  3. Quais foram os fatores que motivaram a Inglaterra a exercer o domínio sob as regiões que você indicou anteriormente?
  4. Reflita com os colegas sôbre as seguintes questões: por que os ingleses produziam e difundiam publicações como a representada na imagem? Que vantagens isso poderia proporcionar na época?
  1. sôbre os movimentos de resistência à colonização na China e na Índia, responda às seguintes questões.
    1. Que grupo social participou da Revolta dos Cipaios?
    2. Quais eram as características dos participantes da Revolta dos Boxers?
    3. Qual foi o desfecho de cada uma das revoltas e por que elas foram importantes para os movimentos de resistência colonial?

Glossário

Xenofobia
: medo, desconfiança, antipatia ou hostilização de pessoas vindas de outros países.
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Ópio
: substância extraída da planta da papoula e que possui efeito anestésico e narcótico, podendo causar alucinações. Seu uso pode causar dependência e sérios riscos à saúde do usuário.
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