UNIDADE 6 A transição do Império para a República

Fotografia em preto e branco. Vista de pátio em uma propriedade rural. Várias mulheres e homens negros, alguns estão segurando enxadas e rastelos e outros carregando cestos. No chão, vários grãos de café.
Escravizados trabalhando em fazenda de café na região do vale do Paraíba (Rio de Janeiro). Foto de Marc Ferrês, em 1882.
Respostas e comentários
  • A foto de abertura desta unidade mostra pessoas escravizadas trabalhando em uma das etapas da produção de café. O cultivo e a exportação cafeeira ganharam grande destaque no século dezenove, passando a constituir uma das principais atividades econômicas do Brasil. Como abordagem inicial da unidade, aproveite a imagem para comentar essas informações. Mencione também que a foto foi feita por márc ferrês, fotógrafo brasileiro que se destacou no século dezenove. Suas fotos são importantes fontes históricas dêsse período.
  • Esta unidade aborda diversos aspectos do período da transição do Império para a República no Brasil. Entre eles, destaca-se a abordagem do trabalho escravo e dos movimentos abolicionistas, bem como as tensões em que o Brasil se envolveu nessa época, como a Guerra do Paraguai. Assim, são trabalhadas habilidades que se articulam com a compreensão dêsse período, entre elas a ê éfe zero oito agá ih um cinco, a ê éfe zero oito agá ih um sete, a ê éfe zero oito agá ih um oito e a ê éfe zero oito agá ih dois dois.

No período conhecido como Segundo Reinado (1840-1889), sob o govêrno de dom Pedro dois, ocorreram diversas mudanças na sociedade brasileira, que com a expansão do café se modernizava e se diversificava. Nessa época, o Império se envolveu em um conflito de grandes proporções conhecido como a Guerra do Paraguai.

Nesse contexto, grupos sociais críticos ao govêrno imperial cresceram, se organizaram, e aumentaram a pressão, colocando em pauta questões como o abolicionismo e o republicanismo, principalmente a partir da segunda metade do século dezenove.

Iniciando a conversa

  1. Além do trabalho nas fazendas de café, como o retratado nesta foto, quais outros trabalhos eram realizados por pessoas escravizadas no Brasil, no século dezenove?
  2. Conte aos colegas o que você já sabe sôbre o Segundo Reinado no Brasil.
  3. A abolição da escravidão, em 1888, e a Proclamação da República, em 1889, são eventos marcantes na história do Brasil. Explique por quê.

Agora vamos estudar...

  • a produção cafeeira e a introdução da mão de obra de imigrantes europeus;
  • o trabalho escravo no século dezenove;
  • as manifestações culturais no século dezenove;
  • a Guerra do Paraguai;
  • o movimento abolicionista e o movimento republicano;
  • a mudança do regime monárquico para o republicano.
Respostas e comentários

Questões 1 a 3. Respostas nas orientações ao professor.

Aproveite as questões da abertura para verificar os conhecimentos prévios dos alunos quanto aos assuntos que serão trabalhados ao longo desta unidade. Peça-lhes que anotem suas respostas para que depois possam confrontá-las com os conhecimentos construídos ao longo da unidade.

Respostas

1. As pessoas escravizadas trabalhavam no campo, em plantações de outros produtos além do café, como a cana-de-açúcar, e também no meio urbano, como artesãos, em serviços domésticos e como escravizados de ganho.

2. Resposta pessoal. Verifique os conhecimentos prévios dos alunos sôbre êsse período histórico. Se necessário, relembre os alunos da unidade 5 dêste volume, que tratou do golpe da maioridade, permitindo a ascensão de dom Pedro dois ao govêrno.

3. Tais acontecimentos marcaram o período de transição entre o govêrno monárquico e o republicano, este último até hoje em nosso país. Além disso, a abolição, mesmo que não tenha representado uma melhoria efetiva na qualidade de vida da população afrodescendente, permitiu a ampliação do regime de trabalho assalariado, o qual também faz parte do dia a dia dos brasileiros atualmente.

CAPÍTULO 11 Trabalho e sociedade no Império

A sociedade brasileira durante o período colonial e o período imperial era essencialmente escravista. A mão de obra escravizada, de origem africana, esteve presente no meio rural e no meio urbano, em diferentes tipos de trabalho. Por isso, podemos dizer que as condições de vida dos escravizados variou dependendo da região em que estavam inseridos ou do tipo de trabalho realizado.

O texto a seguir trata de aspectos dessa mentalidade escravista na sociedade imperial.

reticências

A grande presença do escravo na sociedade brasileira marcou, fortemente, as atitudes com relação ao trabalho, especialmente o manual, tornando-o algo vil e indigno no entender das pessoas livres. Assim, considerava-se que a liberdade de cada um era medida pêlo número de escravos possuídos e, portanto, pêla ausência da necessidade de trabalhar. Essas atitudes de desdém com relação ao trabalho não se limitavam às camadas de proprietários de escravos; eram compartilhadas por não proprietários também. Para estes últimos, empregar-se por um salário equivalia a tornar-se uma espécie de escravo, pois, para êles, cabia apenas aos cativos trabalhar para os outros.

reticências

, Côl; PAIVA, Eduardo França. A escravidão no Brasil: relações sociais, acôrdos e conflitos. São Paulo: Moderna, 2000. página 38. (Coleção Polêmica).

Nesta cena, retratada por debrê, senhores ricos descansam após o jantar (que no período colonial era equivalente ao almôço).

Pintura. Homens na área externa de uma moradia. À esquerda, um homem negro, usando blusa e short branco, está encostado em uma parede segurando com as mãos uma flauta na direção na boca. Ao lado, um homem, usando roupas coloridas, está deitado no chão segurando um livro com as mãos. À direita, um homem, usando casaco amarelo, está de pé, segurando com as mãos um copo em direção à boca. Atrás, um homem sentado em uma cadeira segurando com as mãos um instrumento de corda.
Passatempo dos ricos depois do jantar, de Jan- debrê. Aquarela, ​15centímetrospor21, 1826.
Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 1.

De acôrdo com o texto, qual era a visão que as pessoas livres tinham sôbre o trabalho na época imperial?

Respostas e comentários

Questão 1. Resposta: De acôrdo com o texto, o trabalho era visto como algo vil e indigno, principalmente o trabalho manual. Essa lógica se aplicava às pessoas livres, proprietários ou não proprietários de escravizados. Os não proprietários de pessoas escravizadas acreditavam que trabalhar para os outros era equivalente a trabalhar como escravizado.

Objetivos do capítulo

  • Relacionar a expansão do cultivo do café com a ampliação das ferrovias e com a questão da mão de obra.
  • Compreender o contexto que estimulou a chegada de imigrantes europeus ao Brasil.
  • Conhecer os aspectos culturais do Brasil no Segundo Reinado.

Justificativas

Os conteúdos abordados neste capítulo são relevantes para que os alunos compreendam os vários aspectos da história do Brasil no que diz respeito ao período de transição do Império à República. Nesse sentido, abordam-se, entre outros temas, o trabalho escravo e o trabalho assalariado dos imigrantes europeus, conteúdo que se articula com a atualidade, tendo em vista seus desdobramentos.

Este capítulo contempla, ainda, a habilidade ê éfe zero oito agá ih um quatro por abordar as condições sociais dos escravizados e ex-escravizados, bem como as dos povos indígenas, e as permanências de preconceitos relativos a povos; a habilidade ê éfe zero oito agá ih um nove ao tratar do legado da escravidão no Brasil, com base em fontes de diferentes tipos; e a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois dois ao abordar aspectos da cultura letrada e não letrada no século dezenove e seu papel na construção da identidade nacional.


A questão 1, ao abordar a mentalidade escravista na era imperial, permite instigar os alunos a pensar como, mesmo com a abolição da escravatura há mais de 130 anos, a mentalidade escravista ainda está presente na sociedade brasileira e se manifesta de diversas fórmas, por meio de problemas como as desigualdades sociais, o racismo, o preconceito, a misoginia, entre outros.

O trabalho escravo no campo

No século dezenove, grande parte do trabalho de pessoas escravizadas era utilizada nas lavouras de café. Nas fazendas, os escravizados estavam sujeitos a longas e extenuan­tes jornadas de trabalho e também à violência física e psicológica.

Além de trabalhar na lavoura, algumas pessoas escravizadas executavam serviços domésticos como cozinheiras, lavadeiras, costureiras, amas de leite, entre outros relacionados à manutenção dos casarões e dos sobrados. Dessa fórma, elas conviviam mais diretamente com as famílias dos proprietários rurais.

Pintura. Homens negros, usando calça, estão segurando sacas sobre a cabeça em uma estrada rochosa. Um dos homens está à frente dos demais carregando um galho de árvore com as mãos.
Carregadores de café a caminho da cidade, de Jan- debrê. Aquarela, ​29,57centímetrospor21,43, 1826.

O trabalho escravo nas cidades

Na época do Império, além das atividades agrícolas e rurais, as pessoas escravizadas exerciam diversas atividades nas cidades, relacionadas ao artesanato, ao comércio ambulante, aos serviços de infraestrutura urbana e ao ambiente doméstico. Conheça alguns detalhes a seguir.

Os artesãos

Nas cidades, havia muitos escravizados que trabalhavam como artesãos, em profissões de carpinteiros, joalheiros, alfaiates, sapateiros, ferreiros, oleiros (que fabricam tijolos), entre outras. Naquela época, alguns escravizados que realizavam atividades artesanais conseguiam abrir sua própria oficina, após a conquista da alforria, e transmitiam o conhecimento e as técnicas de sua profissão aos seus filhos ou pupilosglossário .

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 2.

Durante o Império, quais eram as principais atividades exercidas pêlas pessoas escravizadas no campo e nas cidades?

Respostas e comentários

Questão 2. Resposta: No campo, trabalhavam nas lavouras, principalmente de café. Exerciam também diversas atividades domésticas relacionadas à manutenção dos casarões e dos sobrados. Nas cidades, trabalhavam como carpinteiros, joalheiros, alfaiates, sapateiros, ferreiros, oleiros etcétera

  • O assunto trabalhado nas páginas 183 e 184 dispõe de pinturas representando os tipos de trabalho realizados pêlas pessoas escravizadas. recursos podem ser interpretados pelos alunos para que êles formulem seus argumentos e pontos de vista em relação ao tema abordado, favorecendo o desenvolvimento de aspectos da Competência geral 7.
  • Promova uma articulação com o tema contemporâneo transversal Trabalho com base no conteúdo destas páginas. Converse com os alunos sobre o regime de trabalho representado nas imagens, ressaltando suas principais características. Auxilie-os na identificação dos trabalhos realizados, o carregamento de café, representado na imagem da página 183, e o trabalho dos calceteiros, representado na imagem da página 184, ressaltando que se trata de trabalho escravo. Comente que nesse regime de trabalho a pessoa era considerada propriedade de um senhor e não recebia pagamento em troca dos serviços prestados, além disso, podia sofrer castigos corporais por qualquer atitude considerada de insubmissão pelos seus senhores. Leve-os a refletir sôbre as consequências dêsse regime de trabalho, que perdurou por mais de 300 anos no Brasil. Comente que a escravidão legou aos africanos e aos afrodescendentes séculos de exclusão e marginalização, que podem ser sentidos até os dias de hoje. Enalteça a importância de políticas de acesso às escolas, às universidades e ao trabalho voltadas aos afro-brasileiros, e do reconhecimento legal das comunidades quilombolas como um importante caminho para a superação do preconceito e do racismo em nosso país. Abordado nessa perspectiva, o assunto propicia trabalhar aspectos da Competência específica de História 2, pois propõe que os alunos compreendam a historicidade da escravidão e das consequências dessa fórma de trabalho no Brasil.
  • A questão 2 favorece o reconhecimento das diversas atividades realizadas pêlas pessoas escravizadas no Brasil na época imperial. Ao trabalhar essa questão, retome os aspectos da mentalidade colonial acêrca do trabalho e da escravidão no Brasil, tratados nas páginas anteriores.

Os escravizados de ganho

Havia também pessoas escravizadas, principalmente nas cidades, que ficaram conhecidas como escravizados de ganho e que prestavam serviços temporários em troca de pagamento. Geralmente, a maior parte da quantia recebida era entregue ao senhor, mas em muitos casos o escravizado conseguia reservar uma parte do dinheiro para si. Por essa razão, nas cidades, a situação dos escravizados era relativamente mais flexível do que nas áreas rurais.

trabalhadores costuma­vam atuar como vendedores ambulantes, carregadores, pedreiros, calceteirosglossário , entre outros. Os escravizados de ganho também prestavam serviços ao govêrno, quando eram convocados para trabalhar em obras públicas.

Litogravura. Pessoas negras trabalhando. No primeiro plano, dois homens negros estão segurando uma haste de madeira com a ponta achatada na posição vertical. Metade do chão é de areia e a outra metade é de pedra. Atrás, alguns homens negros estão carregando objetos e outros com ferramentas nas mãos. Ao fundo, fachada de casas e silhueta de pessoas negras carregando uma placa de pedra.
Calceteiros, de Jan- debrê. Litogravura, ​29,28centímetrospor22,41, 1824.

O café e a imigração no Brasil

No século dezenove, alguns países da Europa passaram por uma crise econômica em decorrência de diversos conflitos e guerras civis. Nesse contexto, pequenos produtores rurais estavam sujeitos à cobrança de altos impostos sôbre suas terras. Sem ter como concorrer com os grandes produtores e garantir, assim, seu sustento e o de sua família, e manter suas propriedades, êles passaram a procurar emprêgo e melhores condições de vida nas cidades.

Na segunda metade do século dezenove, a população europeia alcançou uma alta taxa de crescimento, acompanhada de altos índices de desemprêgo em muitos países.

Na Itália, por exemplo, desde o comêço do século, ocorreram diversos conflitos políticos que provocaram guerras internas e levaram, posteriormente, à unificação das províncias independentes da península Itálica. Dessa maneira, grande parte da população italiana, além de conviver com as dificuldades da crise econômica que afetava muitas regiões da Europa, passou a sofrer também com os problemas decorrentes dêsses conflitos.

Respostas e comentários
  • Comente com os alunos que, em alguns casos, escravizados de ganho, com o tempo, conseguiam acumular certa quantia em dinheiro e comprar a própria alforria. Havia, ainda, casos em que os libertos juntavam dinheiro para comprar pessoas escravizadas, aumentando, assim, a sua possibilidade de ganho com o trabalho delas.
  • O contexto da imigração dos europeus para o Brasil está relacionado ao processo de industrialização que ocorreu na Europa ao longo do século dezenove. Explique aos alunos que, com a urbanização, as cidades europeias passaram a abrigar maior número de pessoas. Porém, a adoção de máquinas e de tecnologias mais sofisticadas nas fábricas acabou deixando grande parte das pessoas sem emprêgo. êsse fato estimulou algumas famílias a buscar uma solução alternativa e a deslocar-se para o Brasil.

Algo a mais

O livro a seguir aborda a trajetória do cultivo de café no Brasil, do século dezenove aos dias atuais.

> GANCHO, Cândida Vilares; TOLEDO, Vera Vilhena. Sua majestade, o café. São Paulo: Moderna, 2014.

Os imigrantes no século dezenove

Os primeiros imigrantes europeus vieram para o Brasil em busca de terras para cultivar e de melhores condições de vida, ainda no Primeiro Reinado, isto é, no início do século dezenove. Entre êles estavam alemães, suíços e italianos, que se fixaram principalmente nas atuais regiões Sul e Sudeste do país, formando núcleos baseados na pequena propriedade. As terras foram doadas aos colonos pêlo Estado, com o intuito de explorar áreas consideradas improdutivas.

Com o aumento das pressões inglesas para abolir o tráfico de pessoas escravizadas a partir de 1830, passou a haver uma preocupação dos cafeicultores com a mão de obra utilizada em suas lavouras.

Dessa fórma, foram feitas as primeiras experiências de substituição da mão de obra escravizada pêla mão de obra assalariada de imigrantes nos cafezais na década de 1840. Trabalhadores de diferentes nacionalidades, como suíça, alemã, italiana, espanhola e portuguesa, foram levados para fazendas do oeste paulista, onde passaram a trabalhar seguindo o sistema de parceria.

Pintura. Pessoas em um porto. No primeiro plano, mulheres, usando vestido e tecido no cabelo, estão com as mãos no rosto e a cabeça baixa. Ao lado, um homem segurando uma criança no colo. Ao redor, algumas pessoas sentadas e outras carregando malas. Ao fundo, embarcações.
Emigranti, de . Óleo sôbre tela, ​146centímetrospor196, 1894. A pintura retrata imigrantes italianos partindo para a América.

O sistema de parceria

Nesse sistema, o fazendeiro ficava responsável pelos custos da viagem dos colonos da Europa à América, pêlo transporte deles até sua fazenda e pêlo fornecimento de produtos de primeira necessidade, como alimentos e roupas.

Em troca, cada família de colonos ficava responsável por cultivar um grande número de pés de café. No final da colheita, cada família devia entregar metade da produção ao proprietário das terras. A outra metade ficava com os colonos, que a utilizavam para as despesas cotidianas e para pagar, ao fazendeiro, os custos de viagem, transporte e produtos fornecidos a êles.

Respostas e comentários

Algo a mais

No site a seguir, é possível encontrar um variado acervo com informações sôbre a imigração no Brasil. Você pode utilizar as imagens, os textos e os documentos de época como subsídios para abordar êsse tema e iniciar o trabalho com o assunto da página de maneira diferente.

> ACERVO digital do Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Disponível em: https://oeds.link/T8DNpn. Acesso em: 14 junho 2022.


É possível abranger a Competência específica de História 5 ao compreender que a imigração europeia para o Brasil foi resultado de diferentes fatores, como a crise econômica, os altos impostos e o desemprêgo, assim como o tipo de trabalho que exerceram no Brasil, conhecido como sistema de parceria.

A introdução do trabalho assalariado

O sistema de parceria não teve êxito e, gradualmente, as colônias formadas com êsse tipo de acôrdo chegaram ao fim entre as décadas de 1860 e 1870.

Diversos motivos contribuíram para que isso ocorresse, como os maus-tratos dispensados aos colonos pelos fazendeiros. Além disso, não conseguiam pagar suas dívidas com os fazendeiros, que cobravam altos juros pelos custos com a viagem, a alimentação, as vestimentas, entre outras despesas.

Com a progressiva escassez de mão de obra escravizada, na década de 1880, os cafeicultores paulistas se organizaram para atrair novos imigrantes europeus, a maioria italianos, para as lavouras do oeste paulista. Porém, nesse período, os imigrantes passaram a ser contratados mediante o pagamento de salários e não mais pêlo sistema de parceria.

Fotografia em preto e branco. No primeiro plano, à esquerda, um menino, usando chapéu, camisa e calça, está em cima de uma escada encostada em um pé de café. Ao fundo, homens, mulheres e crianças em pé e ao lado de uma plantação.
Imigrantes trabalhando em uma lavoura de café no oeste paulista, no final do século dezenove.

Leia a seguir um texto que aborda a imigração italiana para o Brasil.

reticências Em 1885 e 1886, o Brasil recebeu cêrca de 35 mil imigrantes, sendo 20 mil italianos; em 1887, 55 mil imigrantes, sendo 40 mil italianos; em 1888, 135 mil imigrantes, sendo 105 mil italianos. Nos anos 1880, o Brasil recebeu um total de 450 mil imigrantes reticências: 62% eram italianos, 23% portugueses, 7% espanhóis, 4% alemães e 2% franceses. A grande maioria dos imigrantes, 60% em 1888/1889, e quase todos italianos foram para São Paulo, que desde 1884 estava subsidiando as passagens dos imigrantes. O censo de 1890 mostrou 22% de estrangeiros na população de São Paulo, a maior parte, italianos. reticências

bétel, . O Brasil no mundo. ín: CARVALHO, José Murilo de. (coordenação). A construção nacional: 1830-1889. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. volume 2. página 152. (História do Brasil Nação: 1808-2010).

Respostas e comentários
  • O conteúdo desta página possibilita trabalhar a Competência específica de História 5 ao abordar a questão dos movimentos imigratórios para o Brasil. Leve os alunos a reconhecer os desdobramentos históricos da vinda de imigrantes, reconhecendo também os diferentes costumes trazidos por êles. Além disso, ao compreender que os imigrantes tinham uma identidade diferente da brasileira, mas que, ao mesmo tempo, contribuíram para a formação da nossa cultura, é possível abordar aspectos da Competência específica de Ciências Humanas 1.
  • A foto da página, que mostra imigrantes italianos trabalhando em um cafezal, também retrata uma criança em meio à lavoura. Assim, é possível trabalhar o tema contemporâneo transversal Direitos da criança e do adolescente, abordando o conceito de trabalho infantil. Na época da imigração, muitas crianças estrangeiras vieram para o Brasil acompanhando a família. Uma das políticas de imigração exigia que a família do imigrante tivesse pêlo menos um membro do sexo masculino com idade entre 12 e 45 anos, o qual serviria como mão de obra nas fazendas de café. Chame a atenção dos alunos para a diferente concepção de infância que se tinha naquela época, uma vez que o estudo e o lazer não eram considerados direitos garantidos às crianças como são hoje. Assim, no contexto da imigração, tal qual os adultos, as crianças podiam trabalhar, desempenhando, inclusive, tarefas pesadas para essa fase da vida, o que podia atrapalhar de diversas maneiras o seu desenvolvimento físico e cognitivo.
  • Ressalte que, atualmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (éca), documento criado em 1990, assegura a proteção integral à criança e ao adolescente, sem distinção de raça, classe social e sem qualquer outra fórma de discriminação. O éca também garante como prioridade às crianças e aos adolescentes o direito à convivência familiar e comunitária, à educação, à segurança, à saúde, entre outros direitos.

O aumento do número de imigrantes no Brasil

Nas últimas décadas do século dezenove, milhares de imigrantes de diferentes regiões do mundo, como libaneses, turcos, russos e japoneses, entraram no Brasil, não apenas para atender à demanda da mão de obra nos cafezais, mas também para atuar em diversas áreas, no meio rural ou urbano, contribuindo de várias maneiras para o crescimento econômico e cultural do país. Observe o mapa a seguir.

Mapa. Território da província de São Paulo. Na área leste, província está pintada com tom amarelado e com linhas vermelhas e azuis demarcando rotas, estradas e rios e seus afluentes. A área oeste da província está pintada de verde com o texto: TERRENOS DESPOVOADOS. No canto superior, à esquerda, mapa da América dos Sul destacando o território do Brasil. Abaixo, retângulo com a ilustração de relevo rochoso e o texto: DISTÂNCIAS EM KILOMETROS DO PORTO DE SANTOS. À direita, o texto: MAPA DA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO. MANDADO ORGANISAR PELA SOCIEDADE PROMOTORA DA IMIGRAÇÃO DE SÃO PAULO. 1886.
Mapa do estado de São Paulo de 1886 elaborado a pedido da Sociedade Promotora da Imigração de São Paulo com o objetivo de promover a imigração estrangeira para as fazendas do estado.
Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 3.

Agora, analise o mapa anterior e procure identificar as seguintes informações.

  1. Título do mapa.
  2. Data de produção.
  3. Órgão responsável pêla elaboração do mapa.

Os imigrantes e a Lei de Terras

Como vimos no capítulo anterior, a Lei de Terras, aprovada em 1850, estabeleceu que, a partir daquele momento, as terras do Estado só poderiam ser adquiridas por meio da compra. Isso significava que só quem tivesse recursos suficientes para comprá-las poderia tornar-se proprietário.

A lei também determinou que os imigrantes só poderiam possuir terras após se fixarem por pêlo menos três anos no Brasil. Em decorrência dessa lei, o acesso à terra tornou-se ainda mais difícil aos imigrantes e às pessoas pobres em geral, favorecendo as camadas mais ricas da sociedade e os grandes proprietários rurais.

Respostas e comentários

Questão 3. a) Resposta: Mapa da Província de São Paulo.

Questão 3. b) Resposta: 1886.

Questão 3. c) Resposta: Sociedade Promotora da Imigração de São Paulo.

  • Comente que o auge do fluxo de chegada de imigrantes no Brasil foi na virada do século dezenove para o vinte, sobretudo por causa da expansão cafeeira no Sudeste.
  • A questão 3 possibilita desenvolver o saber geográfico ao propor que o aluno realize uma leitura do mapa do estado de São Paulo de 1886 e localize nesse documento histórico algumas informações relevantes a respeito de sua produção.

Um texto a mais

Leia o texto a seguir para mais informações sôbre a Sociedade Promotora de Imigração (ésse pê ih).

Na Europa da segunda metade do século dezenove, o Brasil era apresentado como um paraíso: um lugar de muita fartura, terras férteis e povo gentil, onde se podia enriquecer com facilidade. O Brasil chegava aos lares dos camponeses europeus por meio de propaganda feita em caixas-de-fósforos, lenços de cabeça, panfletos, anúncios de jornal e cartazes. A propaganda prometia a êles montes de dinheiro, vida duradoura e a certeza de que em alguns anos de trabalho se tornariam donos de muitas terras.

Os homens que fabricavam e espalhavam essas imagens do Brasil pêla Europa trabalhavam, em sua maioria, para a Sociedade Promotora de Imigração (ésse pê ih), a mais importante sociedade de auxílio à imigração no Brasil. Ela era dirigida pelos grandes fazendeiros paulistas e tinha como presidente Martinho Prado Júnior, dono de imensos cafezais no oeste paulista.

Criada em 1886, em São Paulo, a ésse pê ih fornecia passagens gratuitamente e providenciava o transporte dos imigrantes até as fazendas de café. Para isso recebia altas somas de dinheiro do govêrno paulista, que desde 1884 assumiu integralmente as despesas de viagem dos imigrantes que vinham trabalhar nas fazendas de café.

BOULOS JÚNIOR, Alfredo. Imigrantes no Brasil: (1870-1920). São Paulo: FTD, 2000. página 89. (Coleção O Sabor da História).

A Hospedaria dos Imigrantes

Com a chegada de milhares de pessoas ao Brasil, o govêrno organizou várias hospedarias para acolhê-los. Com o interêsse voltado para a contratação de mão de obra para a agricultura e colonização, a Sociedade Promotora de Imigração de São Paulo, financiada por ricos produtores de café, decidiu construir a Hospedaria dos Imigrantes, um grande prédio situado no atual bairro da Mooca, em São Paulo. A hospedaria foi construída próximo à estação de trem onde desembarcavam os imigrantes vindos do porto de Santos.

A construção foi iniciada em 1886 e concluída em 1888. Com capacidade para abrigar .1200 pessoas, o edifício contava com lavanderia, cozinha, pavilhão para desinfecção de roupas e ambulatórios médicos e dentários. Cotidianamente, os funcionários dos próprios cafeicultores frequentavam a Hospedaria e lá contratavam os imigrantes para o trabalho nas fazendas. Calcula-se que do ano de 1887 até 1978, passaram pêla Hospedaria cêrca de 2,5 milhões de pessoas vindas de diversas partes do mundo e de outras regiões do Brasil.

Fotografia em preto e branco. No primeiro plano, um homem de terno está de costas em um balcão. Atrás,  diversas pessoas em pé.
Família de imigrantes chegando na Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, ésse pê, no início do século vinte.

O Museu da Imigração

A Hospedaria dos Imigrantes fechou em 1978 e, quatro anos depois, seu conjunto arquitetônico foi tombado como patrimônio histórico. Em 1993, ela se tornou o Museu da Imigração do Estado de São Paulo, passando a administrar o acervo do Centro Histórico do Imigrante. O museu também abriga o Centro de Pesquisa, Preservação e Referência ().

Fotografia. Fachada de uma construção com dois andares e muitas portas, janelas e colunas formando arcos. Na frente, um pequeno jardim com escultura.
Fachada do Museu da Imigração, no bairro da Mooca, em São Paulo, ésse pê, em 2021.
Respostas e comentários

Atividade a mais

  • O tema da imigração pode ser abordado de maneira que integre a realidade próxima dos alunos. Para isso, organize-os em grupos e peça-lhes que pesquisem se houve imigrantes que tenham se estabelecido na região onde moram. Os alunos podem pesquisar em instituições que contenham os acervos históricos da cidade, como museus, bibliotecas e prefeituras, ou por meio de entrevistas com moradores ou famílias que vivam na região há muitos anos, além de verificar em livros e na internet. Para expor as informações coletadas, êles deverão montar uma exposição com fotos, textos e cartazes explicando a origem dos imigrantes, o motivo de terem vindo ao Brasil, as atividades que passaram a desempenhar no Brasil etcétera Verifique a possibilidade de expor os trabalhos dos alunos em um lugar da escola onde outras turmas possam ver.
  • Ao final da atividade, procure averiguar se os alunos relacionaram a vinda de imigrantes ao Brasil, ocorrida sobretudo a partir do final do século dezenove, em razão da política de imigração, que estimulou o uso da mão de obra de imigrantes nas fazendas de café. Com base nisso, êles devem procurar saber as motivações dos imigrantes pesquisados para se mudarem para o Brasil e as condições de vida que enfrentaram ao chegar ao novo país. Se os alunos apresentarem dificuldades para compreender o contexto histórico abordado, retome o tema com êles, contextualizando os antecedentes da chegada dos imigrantes ao Brasil, por exemplo.

  • Comente que é possível saber se um antepassado nosso passou pêla Hospedaria dos Imigrantes. Para isso, basta ter em mãos nome, sobrenome e ano em que a pessoa chegou ao Brasil e, depois, acessar o site a seguir. > PESQUISA: registro de matrícula. Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Disponível em: https://oeds.link/nPm2tC. Acesso em: 5 julho 2022.
  • Ao realizar o acesso à página indicada, tem-se uma oportunidade para que o aluno utilize as tecnologias digitais para buscar informações de maneira responsável e crítica, propiciando abordar a Competência geral 5.

A cultura no Brasil do século dezenove

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 4.

Você conhece as origens do carnaval no Brasil? Converse com os colegas.


Muitas manifestações culturais do período imperial, como as festas e a música, permaneceram na cultura brasileira atual ou a influenciaram, tornando-se muito populares em diversas regiões do Brasil. Conheça um pouco mais a seguir.

O entrudo e o Carnaval

Desde o período colonial, tornou-se comum em diversas regiões do Brasil o entrudo, uma brincadeira de origem portuguesa, que consistia em sair às ruas para molhar as pessoas, por vezes utilizando limões de cheiroglossário , água ou líquidos malcheirosos.

Como o entrudo era uma brincadeira de rua, participavam dela principalmente pessoas escravizadas e pobres. Muitas pessoas da elite, por sua vez, não participavam da festa nas ruas porque a consideravam pouco civilizada e violenta.

Litogravura. À esquerda, uma mulher negra, sentada na porta de uma construção, está segurando com as mãos uma bacia. Ao lado, um homem negro, usando chapéu e calça, está pegando algumas bolas brancas dentro da bacia. Centralizado, uma mulher negra, usando vestido, está segurando sobre a cabeça um cesto com frutas e, atrás, um homem negro, usando cartola, está pintando o rosto da mulher com tinta branca. À direita, um menino negro, com o rosto pintado de branco, aponta um objeto na direção do homem e da mulher com o rosto pintando de branco.
Cena de carnaval, de Jan- debrê. Litografia, ​18centímetrospor23, 1823.

Por volta de 1840, muitas pessoas passaram também a festejar o Carnaval de maneira semelhante à que ocorria na Europa, com pessoas utilizando máscaras e fantasias em bailes, principalmente no Rio de Janeiro, capital do Império. bailes eram promovidos por membros da elite, que se inspiravam nos carnavais realizados na Itália e na França.

Por causa da pressão das camadas mais ricas, o entrudo passou a ser reprimido pêla polícia. Aos poucos, o antigo divertimento se transformou. Os bailes de máscara se difundiram, assim como o uso de fantasias no Rio de Janeiro e em diversas cidades brasileiras, contribuindo para a formação do Carnaval.

Respostas e comentários

Questão 4. Resposta pessoal. Espera-se que os alunos expressem o que sabem sôbre o assunto e interajam com os colegas de turma, o que pode contribuir para instigar a curiosidade sôbre o tema desenvolvido na página.

  • A página inicia com a questão 4, que busca explorar os conhecimentos prévios dos alunos quanto a algumas manifestações culturais brasileiras, trabalhando o tema contemporâneo transversal Diversidade cultural. Ressalte que o Brasil possui um vasto território e que a formação da sociedade brasileira contou com diversos povos, entre êles os indígenas, os africanos que para cá foram trazidos de maneira forçada e os europeus. Os costumes e a cultura dessas populações se misturaram de diversas maneiras, e podem ser percebidos em manifestações, como a prática do entrudo – costume de origem portuguesa praticado também pelos africanos escravizados no período do Império – e no ritmo musical conhecido como maxixe, composto de uma mistura de influências europeias e africanas.
  • Evidencie aos alunos alguns detalhes da litogravura representando o entrudo, do artista francês Jean Batísti debrê, e estabeleça uma relação entre a imagem ê o texto. A cena foi representada na porta de uma venda, estabelecimento comercial pequeno e típico daquela época. A pessoa escravizada que está sentada segura um recipiente com limões de cheiro para serem utilizados nas festas de rua. Mostre aos alunos que, corroborando o texto da página, era comum as pessoas molharem umas às outras durante as celebrações de entrudo. Na imagem, vê-se um homem passando uma mistura branca feita de água e polvilho no rosto de uma mulher.
  • Por fim, comente que, segundo o próprio debrê, o garoto segura uma “seringa de lata”, que esguicha água e movimenta ainda mais as celebrações de entrudo na cidade.

Algo a mais

O site a seguir traz mais informações sôbre os costumes de Carnaval no Império.

> NOGUEIRA, Natania A. Silva. Do Império à República: o carnaval visto pelos quadrinhos. Educação Pública. Disponível em: https://oeds.link/O1orl3. Acesso em: 14 junho 2022.

A música

Durante o século dezenove, a música tocada no Brasil era bastante diversa. Entre as elites, era comum que em seus bailes e festas fossem tocadas músicas de origem europeia, como a e a valsa, ao passo que, entre a população mais pobre, prevalecia a música de origem africana, como o lâmdu, tocada principalmente com instrumentos de percussão.

A partir de 1870, desenvolveu-se um gênero musical conhecido como maxixe, que recebeu influências tanto da música europeia como da africana e que se popularizou entre as várias camadas sociais. No início, parte da elite demonstrava ter preconceito em relação a êsse gênero, porém, ao longo dos anos, êle passou a ser cada vez mais assimilado e se difundiu na sociedade.

A criatividade é a capacidade que temos de criar, inventar e produzir coisas novas mesmo a partir de elementos que já existem.

A literatura no Brasil Império

No século dezenove, a literatura ganhou espaço no Brasil, principalmente depois da criação da Imprensa Régia, que estimulou a publicação de livros, jornais e revistas. A princípio, as obras literárias eram publicadas em formato de folhetins na imprensa periódica, ou seja, cada edição trazia uma parte da história a ser acompanhada continuamente pelos leitores.

Os temas trazidos pêlas obras literárias dêsse período eram variados. Algumas tratavam de aspectos da nacionalidade brasileira, com a abordagem idealizada dos indígenas e da paisagem nativa. Outras apresentavam uma visão crítica do Império e eram caracterizadas pêla denúncia social.

Um dos principais escritores da época, que explorou a crítica social e política em seus livros, foi Machado de Assis (1839-1908). Por meio de suas personagens e de uma linguagem muitas vezes irônica, êle representava em suas obras os costumes da sociedade imperial, explorando os conflitos políticos e o cotidiano da época na cidade do Rio de Janeiro.

Fotografia. Destacando o busto de um homem negro, com cabelos e barba branca, usado óculos, gravata, colete e terno escuro.
Machado de Assis em foto tirada no Rio de Janeiro, érre jóta, em 1896 e colorizada em 2019 pêla Faculdade Zumbi dos Palmares.
Respostas e comentários

Um texto a mais

Leia a seguir o trecho de uma crônica escrita por Machado de Assis.

Não tendo assistido à inauguração dos bonds elétricos, deixei de falar neles. Nem sequer entrei em algum, mais tarde, para receber as impressões da nova tração e contá-las. reticências Anteontem, porém, indo pêla Praia da Lapa, em um bond comum, encontrei um dos elétricos, que descia. Era o primeiro que estes meus olhos viam andar.

Para não mentir, direi o que me impressionou, antes da eletricidade, foi o gesto do cocheiro. Os olhos do homem passavam por cima da gente que ia no meu bond, com um grande ar de superioridade. pôsto não fosse feio, não eram as prendas físicas que lhe davam aquele aspecto. Sentia-se nele a convicção de que inventara, não só o bond elétrico, mas a própria eletricidade. reticências

Em seguida, admirei a marcha serena do bond, deslizando como os barcos dos poetas, ao sôpro da brisa invisível e amiga. Mas, como íamos em sentido contrário, não tardou que nos perdêssemos de vista, dobrando êle para o Largo da Lapa e Rua do Passeio, e entrando eu na Rua do Catete. Nem por isso o perdi de memória. reticências

De repente ouvi vozes estranhas, pareceu-me que eram os burros que conversavam, inclinei-me (ia no banco da frente); eram êles mesmos. Como eu conheço um pouco a língua dos [cavalos] reticências, não me foi difícil apanhar o diálogo. Bem sei que cavalo não é burro; mas reconheci que a língua era a mesma. O burro fala menos, decerto; é talvez o trapista daquela grande divisão animal, mas fala. Fiquei inclinado e escutei:

— Tens e não tens razão, respondia o da direita ao da esquerda.

O da esquerda:

— Desde que a tração elétrica se estenda a todos os bonds, estamos livres, parece claro.

reticências

ASSIS, Machado de. A semana. ín: ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. volume 3.

Durante o trabalho com esta página, ressalte a importância da criatividade, competência que nos possibilita pensar de diferentes maneiras o espaço que nos rodeia, tanto para criar algo original quanto para desenvolver algo com fortes influências de outros elementos, a exemplo do maxixe.

As mulheres também desempenhavam um papel de destaque na literatura brasileira do período imperial, mesmo tendo de enfrentar dificuldades para conseguir uma educação de qualidade e combater o preconceito. Uma das mais importantes escritoras foi Maria Firmina dos Reis (1825-1917), considerada a primeira mulher a escrever um romance no Brasil, em 1859.

Maria Firmina pertencia a uma família pobre do Maranhão, era filha de africanos e esforçou-se com a ajuda de parentes para conseguir estudar. Ela produziu diversas obras em defesa dos direitos dos africanos e dos afrodescendentes, apoiando abertamente a abolição da escravidão. Além de escritora, ela fundou escolas e atuou como professora.

Observe que Maria Firmina dos Reis assinou a obra com o pseudônimo “uma maranhense”.

Capa. Na parte superior, o título do livro: URSULA. Abaixo, o nome da autora: UMA MARANHENSE. Na parte inferior, ilustração da silhueta de uma vegetação. Abaixo, o texto: SAN LUIZ: Na Typographia do Progresso, 1859
Reprodução da capa do livro Úrsula, de 1859, de Maria Firmina dos Reis.

História e Língua Portuguesa

A literatura de cordel

A literatura popular brasileira é muito rica e diversificada. Entre as fórmas tradicionais de produção poética estão os poemas impressos em livretos chamados de cordel.

De origem portuguesa, o cordel foi introduzido no Nordeste brasileiro no final do século dezoito. Seu nome deriva da maneira como os livretos costumavam ser expostos para a venda: pendurados em cordas, formando longos varais.

Os cordéis eram uma das principais fórmas de registro e de circulação da obra dos poetas-cantadores, que entoavam seus poemas ao vivo, ao som da viola ou da rabeca, e dominavam as rimas, a versificação e os ritmos. Essa tradição popular é muitas vezes comparada à dos trovadores medievais.

Fotografia. Um homem usando óculos, chapéu e camisa preta, está sentado com as mãos sobre uma mesa onde estão vários livros pequenos expostos em uma banca..
Escritor de cordel Jesus em sua barraca no Mercado Central de Fortaleza, Ceará, em 2018.
Respostas e comentários
  • A abordagem sôbre a literatura de cordel possibilita trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois dois, uma vez que propicia aos alunos entrar em contato com uma manifestação característica da cultura popular brasileira, o cordel, introduzido no Brasil no final do século dezoito.
  • Entrar em contato com a tradicional literatura de cordel é uma das maneiras de conhecer mais a literatura popular brasileira. Com isso, os alunos poderão compartilhar suas opiniões e experiências, bem como valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais oriundas do Nordeste brasileiro, o que condiz com o desenvolvimento de aspectos da Competência específica de Ciências Humanas 4.

O primeiro e mais importante poeta popular e cordelista foi o paraibano ­Leandro Gomes de Barros (1865-1918), autor de cêrca de 240 poemas de cordel. Entre seus poemas, destacam-se O punhal e a palmatória e O cavalo que defecava dinheiro, que inspirou a peça teatral O auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

Na segunda metade do século dezenove e no século vinte, outros cordelistas se destacaram, como Firmino Teixeira do Amaral, João Melchiades Teixeira e Patativa do Assaré.

Temas e versificação

Os temas dos poemas de cordel são diversos, como os romances de amor e de guerra, o cangaço, a política, a sátira e a paródia de histórias clássicas. Não há limites para a invenção poética do cordelista.

Em um poema de cordel, a métrica e a rima são essenciais. Na sua fórma tradicional, há a sextilha, estrofes de seis versos, com rimas nos versos pares. Há ainda a setilha, isto é, as estrofes de sete versos, com versos de sete sílabas poé­ticas, chamados de redondilhas maiores. A décima é outra fórma tradicional muito usada pelos cordelistas, que é uma estrofe de dez versos de sete sílabas poéticas. Leia, a seguir, um trecho do Cordel África, de César obeid, construído em redondilhas maiores.

Africanos no Brasil

De “boçais” eram chamados

Aqueles recém-chegados,

Pois não eram acostumados

Com os costumes dessa terra,

Pois quando a história erra

Precisa ser consertada

Pra que a vida abonada

Surja no lugar da guerra.

No Brasil foram pedreiros,

Alfaiates e barbeiros,

Carpinteiros, açougueiros,

Cozinheiros, pescadores,

Ferreiros e vendedores,

Mineiros e lavadeiras

Remadores, quitandeiras

E também agricultores.

Ser humano escravizado

Nunca fica conformado,

Sempre tem um plano armado

Para tentar lógo escapar,

Seja pra negociar

As melhores condições

Ou soltar os seus grilhões

Para livre caminhar.

obeid, César. Cordel África. São Paulo: Moderna, 2014. página 24.

Respostas e comentários
  • Comente com os alunos que a maioria dos livretos mede 13 centímetros por 18 centímetros e tem até 64 páginas, e uma das principais características do cordel é a riqueza e a diversidade das ilustrações, tradicionalmente impressas com técnicas de xilogravura.
  • A análise dêsse poema de cordel permite aos alunos conhecer êsse gênero característico da cultura do Nordeste e também compreender como era a situação das pessoas escravizadas na época do Império.
  • Verifique se os alunos conseguem identificar o gênero literário do cordel antes de iniciar a leitura. Se necessário, comente com êles que êsse gênero teve origem na tradição portuguesa e foi trazido pelos colonizadores. No Brasil, a literatura de cordel adquiriu características próprias, abordando temas regionais, sendo impressos no formato de folheto.
  • Realize uma leitura inicial do cordel com a turma em voz alta. Peça a cada aluno que leia um dos versos, para que percebam as rimas e o encadeamento das palavras na estrutura do poema.
  • Aproveite êsse momento para verificar a construção do conhecimento pelos alunos e se êles estão apresentando alguma dificuldade de compreensão. Caso seja necessário, retome os conteúdos sôbre os quais tiverem dúvidas para possibilitar melhor aproveitamento dos assuntos.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Quais eram os tipos de mão de obra utilizados nas lavouras cafeeiras no século dezenove?
  2. De que maneira a Lei de Terras de 1850 afetou os imigrantes que viviam no Brasil naquele período?
  3. Explique como funcionava o sistema de parceria que regeu o contrato dos primeiros trabalhadores imigrantes europeus que vieram para o Brasil, no século dezenove.
  4. Cite algumas características da literatura produzida durante o Segundo Reinado.

Aprofundando os conhecimentos

5. Ao longo do tempo, foram utilizados diferentes tipos de mão de obra no território brasileiro. Analise as imagens a seguir e, depois, responda às questões.

Fotografia em preto e branco 'A'. Plantação de café. Pessoas apoiadas em escadas ao redor de um pé de café.
Plantação de café no Brasil, cêrca de 1882.
Ilustração em preto e branco 'B'. Vista de uma área rural. No primeiro plano, à esquerda, carroça com bois. Ao lado, um homem com os joelhos no chão segurando caules de cana-de-açúcar e uma construção com barris e pessoas trabalhando. Ao fundo, uma construção de madeira, dentro dela, engrenagens anexadas a uma grande roda.
Engenho de açúcar no Brasil, no século dezoito.
  1. Identifique que tipo de produção foi representado em cada imagem e a qual período da história do Brasil cada uma se refere.
  2. Agora, imagine que você seja um trabalhador em uma plantação de café do século dezenove ou em um engenho de açúcar do século dezoito. Escolha um dêsses contextos históricos e produza um texto narrativo descrevendo suas atividades e seu cotidiano.
Respostas e comentários

1. Resposta: A mão de obra era escrava, mas, com a Lei Eusébio de Queiroz e as leis abolicionistas, passou a predominar o trabalho imigrante.

2. Resposta: A lei determinou que os imigrantes só poderiam possuir terras após se fixarem por pêlo menos três anos no Brasil, o que dificultou o acesso à terra para êles, assim como para a maioria das pessoas das camadas mais pobres da sociedade.

3. Resposta: No sistema de parceria, os proprietários de terra pagavam as despesas de viagem, alimentação e estadia dos imigrantes, que, por sua vez, ficavam responsáveis por determinado número de pés de café; porém, na época da colheita, deveriam entregar metade da produção ao proprietário das terras.

4. Resposta: A literatura dêsse período era caracterizada pelos folhetins (publicações periódicas) e pelos romances. As obras abordavam aspectos da nacionalidade, como indígenas e a mata nativa, mas também havia escritores que tinham uma visão crítica da sociedade e da política.

5. a) Resposta: A imagem A mostra trabalhadores na lavoura de café no Segundo Reinado e a imagem B mostra trabalhadores em um engenho de açúcar no período colonial.

5. b) Resposta pessoal. No texto, os alunos podem mencionar como era o dia a dia de trabalho, que atividades êles realizavam, qual era o regime de mão de obra etc.

  • As atividades 1, 2, 3 e 5 desta página favorecem o trabalho com as habilidades ê éfe zero oito agá ih dois zero e ê éfe zero oito agá ih dois três por retomarem os temas que envolvem a questão da mão de obra utilizada na produção cafeeira e a questão da imigração europeia, diretamente relacionada com as ideologias raciais que vigoraram no período.
  • Já a atividade 4 favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois dois, uma vez que os alunos devem retomar os conhecimentos construídos no capítulo sôbre a literatura impressa nos chamados folhetins e os romances, que abordavam assuntos relacionados à sociedade, fazendo também uma crítica política e social do Brasil no período.
  1. Observe a capa da revista O , de 1908. Em seguida, responda às questões.
    1. A partir da análise da fonte, reproduza o quadro a seguir em seu caderno e complete-o com as informações solicitadas.
Ícone Modelo

Qual é o nome da revista?

Qual é o ano de publicação?

Quem foi o responsável pela publicação?

  1. Para qual público a revista foi direcionada?
  2. Qual foi o principal objetivo dessa publicação?
  3. O que está representado no mapa ilustrado na capa da revista?
  4. Qual estado brasileiro está destacado no mapa? Qual é o motivo dêsse destaque?
Capa. Na parte superior, o texto: ESTADO de SÃO PAULO. BRAZIL. Abaixo, o texto: O IMMIGRANTE. No fundo, mapa da América do Sul, destacando o Brasil e o estado de São Paulo e parte da Europa e África. Da Europa, saem várias linhas tracejadas em direção à São Paulo.
Capa da revista O , de janeiro de 1908.

7. Leia o relato de Nini Demarchi, que conta como foi a chegada de seus parentes imigrantes ao Brasil.

reticências

Meu bisavô e minha bisavó vieram da cidade de Udine, na região do Vêneto, norte da Itália. Ele veio com alguns irmãos, mas êles foram para o Sul. Eles chegaram ao Brasil em 23 de julho de 1887 reticências. Naquela época o pessoal era mais aventureiro do que a gente, eles ouviram falar que na América as pessoas tinham muito futuro e por isso vieram.

Quando meus bisavós chegaram ficaram numa hospedaria para imigrantes. De lá foram para as terras doadas a êles pêlo govêrno de São Paulo, localizadas onde é hoje o município de São Bernardo. No comêço faziam carvão e plantavam repolho, pimentão, tomate, etcétera Meu avô levava tudo isso numa carroça e ia vender em São Paulo. As mulheres ajudavam carregando o carvão e trabalhando na lavoura. reticências

, Nini. Entrevista a Alfredo Boulos Júnior. ín: BOULOS JÚNIOR, Alfredo. Imigrantes no Brasil (1870-1920). São Paulo: éfe tê dê, 2000. página 33. (Coleção O Sabor da História).

  1. Qual foi o modêlo de ocupação utilizado pêla família de Nini no Brasil?
  2. Como era o trabalho realizado por êles?
  3. Converse com seus pais ou responsáveis a respeito da origem de sua família. Você tem algum parente ou conhece alguma pessoa que tenha imigrado ao Brasil? Traga as informações que você descobriu para a sala e compartilhe com a turma.
Respostas e comentários

6. a) Respostas nas orientações ao professor.

6. b) Resposta: A revista foi direcionada aos trabalhadores europeus.

6. c) Resposta: O principal objetivo da publicação era atrair imigrantes para trabalhar nas fazendas de café no Brasil.

6. d) Resposta: O mapa ilustrado na capa da revista representa partes dos continentes americano, europeu e africano.

6. e) Resposta: O estado brasileiro destacado no mapa é São Paulo. destaque se deve ao Pôrto de Santos, polo principal de entrada de imigrantes ao Brasil.

7. a) Resposta: A família de Nini recebeu as terras como doação do govêrno.

7. b) Resposta: O trabalho da família era feito no campo, com a produção de repolho, tomates e pimentão, e na cidade, onde vendiam os produtos.

7. c) Resposta pessoal. Caso algum aluno não tenha parentes imigrantes, oriente-o a citar alguém que conheça. Converse com êles sôbre as nacionalidades dessas pessoas e as influências que elas deixaram no modo de vida brasileiro.

As atividades 6 e 7 desta página favorecem a abordagem da Competência geral 2, pois, por meio da análise crítica da capa da revista O e do relato de uma bisneta de imigrantes, os alunos são incentivados a exercitar sua curiosidade intelectual a fim de que respondam às questões propostas com base nos conhecimentos das ciências.

Resposta

6. a ) Qual é o nome da revista? R: O ; Qual é o ano de publicação? R: 1908; Quem foi o responsável pêla publicação? R: Estado de São Paulo Brazil.

Glossário

Pupilo
: aquele que é educado por alguém e recebe proteção dessa pessoa. Discípulo, protegido.
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Calceteiro
: trabalhador que pavimenta ruas e caminhos com pedras ou paralelepípedos.
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Limão de cheiro
: pequena esfera feita de cêra e preenchida com um líquido perfumado.
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