UNIDADE 1 Brasil República

Fotografia em tons de sépia. Vista de uma avenida com várias construções. Há diversas pessoas, usando terno e chapéu, caminhando pela avenida e calçadas. Há postes elétricos e alguns carros passando.
Vista parcial da avenida Central, atual avenida Rio Branco, na cidade do Rio de Janeiro, érre jóta, por volta de 1910.

A virada do século dezenove para o vinte foi marcada por acontecimentos que determinaram novos rumos para a sociedade brasileira. Foi nessa época, por exemplo, que o Brasil deixou de ser um Império e tornou-se uma República.

Nesta unidade, vamos estudar como a urbanização, as novidades tecnológicas e os ideais de modernidade transformaram o cotidiano de parte da população do país.

Iniciando a conversa

  1. Do século dezenove para o século vinte, várias cidades brasileiras foram modernizadas. Seguindo padrões europeus, as ruas foram ampliadas e pavimentadas, permitindo, assim, a circulação dos primeiros automóveis. Procure identificar esses elementos na foto.
  2. Na avenida retratada, percebe-se a presença predominante de homens. Você sabe por quê? Converse com os colegas sôbre isso.
  3. O que é uma república? Converse com os colegas sôbre as características dêsse sistema político implantado no Brasil no final do século dezenove.

Agora vamos estudar...

  • as transformações que ocorreram no Brasil durante os primeiros anos da República;
  • as principais mudanças econômicas, sociais e culturais vivenciadas pêla população do país nesse período;
  • as mobilizações sociais ocorridas no campo e nas cidades nesse período.

CAPÍTULO 1 República: os primeiros anos

Desde o final do século dezenove, fatores políticos, econômicos, sociais e culturais acarretaram grandes transformações na sociedade brasileira. Um dêsses fatores foi a expansão da cafeicultura no Brasil. Nessa época, o café tornou-se o nosso principal produto de exportação, o que favoreceu a formação de uma oligarquiaglossário cafeeira na atual Região Sudeste do Brasil.

A Proclamação da República

Nesse período, os grandes cafeicultores buscavam maior participação política e estavam insatisfeitos com o govêrno monárquico. êles criticavam abertamente o imperador dom Pedro dois e defendiam a implantação de uma república no Brasil.

Além disso, com a participação do Brasil na Guerra do Paraguai (1864-1870), o país ficou endividado e o govêrno foi obrigado a tomar empréstimos estrangeiros, o que gerou um aumento dos impostos. Os militares, por sua vez, saíram da guerra com grande prestígio e também passaram a exigir maior participação política.

Assim, com o apôio da oligarquia cafeeira, o marechal Deodoro da Fonseca liderou grupos de militares que simpatizavam com as ideias republicanas e, no dia 15 de novembro de 1889, proclamou a República no Brasil. O país, então, passou a ser governado por um presidente, e não mais por um imperador.

Pintura. Vista de um pátio com várias construções ao redor. À esquerda, diversos soldados segurando canhões e armas. Centralizado, há homens montados em cavalos erguendo chapeús com as mãos.
Proclamação da República, de Benedito Calixto. Óleo sôbre tela, 123,5centímetrospor200centímetros, 1893.

A consolidação do poder republicano

Após a Proclamação da República, foi instituído um govêrno provisório (1889-1891) sob a liderança de Deodoro da Fonseca. êsse govêrno tinha como objetivos consolidar o sistema republicano, realizar eleições para presidente da República e convocar uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Constituição.

Principais características da Constituição de 1891

A primeira Constituição republicana foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891 e, entre diversas leis, garantia:

  • maior autonomia às províncias, que passaram a se chamar estados;
  • o sistema presidencialista de govêrno;
  • a divisão dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário;
  • o direito de voto aos cidadãos brasileiros maiores de 21 anos. No entanto, mulheres, analfabetos, pessoas em situação de rua e soldados não podiam votar;
  • a separação entre a Igreja e o Estadoglossário .

O jôgo de poderes

Os protagonistas do processo que levou à Proclamação da República não formavam um grupo coeso. Os militares e os políticos, divididos ideologicamenteglossário entre liberais e positivistas, tinham visões opostas de como organizar o poder.

Os adeptos do modêlo liberal, que esteve na base da Constituição aprovada, desejavam consolidar uma República federativaglossário , em que os estados teriam maior autonomia. Já os que seguiam o modêlo positivista, cuja maioria era de militares, defendiam um tipo de govêrno centralizado e ligado aos ideiais de modernização e de desenvolvimento.

Charge em preto e branco. À esquerda, uma mulher, com chapéu e tecido ao redor do corpo, está de perfil, erguendo com uma das mãos uma coroa de flores e, com a outra, sobre um livro. Ao lado, um homem, com barba, usando farda militar com ombreiras e uma espada na cintura, está segurando um livro com as mãos. Atrás, um homem com bigode usando um terno.
Charge de Angelo Agostini publicada na Revista Illustrada, Rio de Janeiro, érre jóta, em 1890, que representa a “Pátria” recebendo a Constituição das mãos de Deodoro da Fonseca.

O positivismo no Brasil

O positivismo foi um movimento filosófico que surgiu na Europa no comêço do século dezenove. O principal pensador positivista foi o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857).

Comte afirmava que o verdadeiro conhecimento só poderia ser obtido por meios científicos. Por isso, o positivismo valorizava o pensamento racional e científico, em vez de explicações baseadas na subjetividade das pessoas ou exclusivamente na fé religiosa.

No Brasil, diversos políticos e militares seguiram a ideologia positivista. Seus princípios influenciaram a organização do Estado republicano, como a separação entre a Igreja e o Estado, a garantia da liberdade religiosa e a instituição do casamento civil. Além disso, o lema “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”, criado por Oguíste Comte, inspirou os dizeres da bandeira do Brasil.

Ilustração. Um retângulo verde, dentro, um losango amarelo. Centralizado, um círculo azul com estrelas e uma faixa branca com o texto: ORDEM E PROGRESSO.
Bandeira do Brasil. A influência do positivismo pode ser percebida também na frase “Ordem e progresso”, que aparece na bandeira mostrada nessa imagem.

A primeira eleição presidencial

A primeira eleição presidencial foi realizada excepcionalmente pelos membros do Congresso formado em 1890. Sendo assim, o primeiro presidente da República, Deodoro da Fonseca, não foi eleito pêlo voto direto e popular.

Ao assumir o cargo, Deodoro da Fonseca passou a enfrentar forte resistência dos membros do Congresso, que criticavam duramente o seu conservadorismo e a centralização do poder em suas mãos.

Na tentativa de manter-se no poder, êle dissolveu o Congresso em 3 de novembro de 1891, fato que acarretou muitas reações, como greves e uma revolta militar na Marinha. Impopular e sem apôio político, Deodoro renunciou vinte dias depois da dissolução do Congresso. O vice-presidente, o marechal Floriano Peixoto, assumiu, então, o poder.

Charge em preto e branco. Ao centro, um homem com barba, usando farda militar com ombreiras e espada na cintura, está em cima de um barril, segurando com as mãos dois potes com águas que caem sobre cordas com faíscas que saem do barril.
Charge de Angelo Agostini publicada na Revista Illustrada, satirizando a maneira como Deodoro da Fonseca enfrentou os problemas de sua gestão, Rio de Janeiro, érre jóta, em 1890.

Democracia para quem?

Embora a nova Constituição Federal tivesse características mais democráticas em relação à anterior, na prática, ela fortaleceu as oligarquias estaduais. Isso ocorreu porque o govêrno de cada estado passou a estabelecer as próprias políticas de cobrança de impostos e as próprias leis, desde que subordinadas à Constituição. Com maior liberdade para fazer uso do govêrno estadual a seu favor, as elites oligárquicas ampliaram ainda mais seu poder político e seu domínio econômico.

Fotografia em tons de sépia. Cinco homens, quatro deles usando terno e cartola, e um usando roupa militar. Alguns estão dentro de um carro aberto, parado em uma rua, e outros em pé, ao lado do carro. Ao fundo, uma criança negra em pé.
Membro da oligarquia paulista acompanhado de um padre e de um policial, no interior do estado de São Paulo em 1903.

O direito das minorias

A Constituição de 1891 garantia o direito de voto a todos os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos, exceto às mulheres, aos analfabetos, às pessoas em situação de rua e aos soldados. As eleições, nessa época, podiam ser facilmente manipuladas, pois o voto não era secreto, o que levou muitas pessoas a votar, sob ameaça, em determinados candidatos ou a vender seus votos em troca de favores ou bens de consumo.

A Constituição também não promoveu avanços nos direitos indígenas. Foram apenas reafirmadas as legislações já existentes, como a Lei Imperial norteº 601 de 1850, que dá ao govêrno o direito de usar terras desabitadas para a colonização dos indígenas.

Com relação aos afrodescendentes, nenhuma política foi criada para garantir sua participação e seu bem-estar social no novo sistema republicano. Após a abolição da escravidão, êsse grupo social continuou desamparado pêla falta de políticas de inclusão.

Fotografia em tons de sépia. À esquerda, um homem negro usando blusão e calça. Ao lado, uma mulher negra, usando um lenço na cabeça, casaco e saia. Eles estão sentados em um tronco. Atrás, uma moradia. Ao redor, árvores.
Foto de ex-escravizados na cidade de Pôrto Alegre, Rio Grande do Sul, por volta de 1900.

O poder das oligarquias

Floriano Peixoto governou de maneira autoritária, contrariando todas as fôrças políticas dos diferentes grupos no poder, principalmente dos liberais. êle depôs governadores, suprimiu duramente revoltas civis e militares e adotou medidas rígidas para combater a crise econômica vigente.

No final do mandato de Floriano Peixoto, o civil Prudente de Morais assumiu a pre­sidência, dando início, em 1894, ao período histórico que ficou tradicionalmente conhecido como República Oligárquica, quando o Brasil foi governado por presidentes civis que eram aliados às oligarquias latifundiárias.

Essas oligarquias tinham grande poder econômico e político e, naquela época, influenciavam na escolha dos presidentes da República.

A política dos governadores

Para estabelecer um equilíbrio entre as fôrças políticas regionais e o poder federal, o presidente Campos Sales, eleito em 1898, comprometeu-se a apoiar as oligarquias, favorecendo-as e mantendo seus privilégios, desde que os governadores dos estados garantissem apôio ao presidente da República e a suas decisões políticas. Assim, foi estabelecida a política dos governadores, um acôrdo entre as oligarquias, os governadores dos estados e o poder federal.

Fotografia. Várias pessoas em uma plantação. À esquerda, no primeiro plano, um homem de terno e chapéu. Ao lado, pessoas usando chapéu, camisa, calça, vestido e lenço na cabeça. Elas estão de pé no meio de uma plantação. À direita, dois cavalos puxando uma carroça com algumas sacas.
Imigrantes italianos trabalhando em um cafezal no interior do estado de São Paulo e sendo inspecionados pêlo latifundiário (que aparece de costas e com botas de cano alto, à direita), em 1902.

A política do café com leite

Muitos governadores tinham o apôio dos grandes proprietários de terras, membros da oligarquia latifundiária. Também conhecidos como “coronéis”, esses latifundiários exerciam considerável poder e influência regional.

Durante as eleições, os coronéis manipulavam os resultados praticando o chamado voto de cabresto. Naquela época, o voto não era secreto e, por isso, era comum que os eleitores votassem nos candidatos indicados pelos coronéis para evitar represálias e também em troca de favores pessoais.

A fôrça política dos coronéis garantia a manutenção no poder dos re­presentantes das principais oligarquias brasileiras.

Charge. Na parte superior, o texto: AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES... 'DE CABRESTO'. À esquerda, uma mulher, usando chapéu, vestido e sapatos com saltos, está de pé. Na barra do vestido, há o texto: SOBERANIA. Ao lado, uma escultura de um vaso. Seguido, um homem, usando óculos, chapéu, casaco e calça. No casaco, há o texto: POLÍTICO. Ele está segurando uma corda presa a um homem com cabeça de equino e usando um terno com o texto: ELEITOR.
Charge de Alfredo Istorni publicada na revista Careta, ironizando o voto de cabresto, Rio de Janeiro, érre jóta, em 1927.

Os estados de São Paulo e de Minas Gerais eram os mais ricos e populosos do Brasil na época. Os paulistas detinham o centro da produção cafeeira; já os mineiros, além de cafeicultores, eram grandes produtores de leite. Para garantir os polegadasteresses das oligarquias, foi estabelecida uma aliança entre o govêrno federal e os representantes dêsses dois estados, que ficou conhecida como política do café com leite (café para se referir aos paulistas e leite, aos mineiros). Com essa aliança, políticos mineiros e paulistas sucediam-se na presidência da República até o final da década de 1920.

Charge. Na parte superior, o texto: Careta. Abaixo, ilustração, dois homens usando chapéu, terno e lenço no pescoço. No chapéu de um, há o texto: SÃO PAULO e, no outro, MINAS. Eles estão de pé sobre um morro. Entre eles, uma cadeira, dourada com almofada vermelha, com o texto: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Abaixo, diversos homens usando chapéu terno e lenço no pescoço, estão com os braços erguidos em direção à cadeira. Na camisa ou no chapéu de alguns, há o texto: ALAGOAS, RIO GRANDE DO SUL, SANTA CATHARINA, MATTO GROSSO, PARANÁ, BAHIA, PERNANBUCO, PARÁ e AMAZONAS.
Charge de Alfredo Istorni publicada na revista Careta, representando a política do café com leite, Rio de Janeiro, érre jóta, em 1925.

Glossário

Oligarquia
: nesse sentido, pequeno grupo de pessoas que detém grande poder econômico e exerce forte influência no govêrno para defender os próprios interêssis.
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Estado
: nesse sentido, refere-se à instituição política que administra e governa uma nação.
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Ideologia
: conjunto de ideias ou valores referente a um indivíduo ou grupo.
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República federativa
: é um modêlo de Estado cuja nação é composta de diversos territórios autônomos (com suas próprias leis e govêrno), porém subordinados ao Estado.
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