UNIDADE 2 O mundo em conflito
O século vinte foi marcado por intensas transformações e também por guerras e conflitos que causaram enorme destruição e perda de milhões de vidas humanas.
Nesta unidade, vamos estudar o primeiro grande conflito do século vinte, a Primeira Guerra Mundial, e suas consequências.
Também vamos conhecer aspectos da Revolução Russa, ocorrida em 1917, e os ideais do socialismo, além da repercussão dêsse evento sôbre outros países do mundo.
Iniciando a conversa
- Observe a foto da abertura e responda: qual é o nome da escavação onde os soldados estão? Para que serve essa escavação?
- Quais motivos podem levar um país a entrar em guerra contra outro? Comente com os colegas.
- Em sua opinião, como é o dia a dia de pessoas que moram em um país que está em guerra?
Agora vamos estudar...
- as fases da Primeira Guerra Mundial;
- o conceito de “guerra total”;
- as dificuldades e os horrores vividos pêlas pessoas durante a guerra;
- a Revolução Russa;
- o stalinismo.
CAPÍTULO 3 A Primeira Guerra Mundial
No final do século dezenove, a Europa vivia um período de grande entusiasmo, em parte por causa das inovações tecnológicas proporcionadas pêla Revolução Industrial. Essa época ficou conhecida como Belle Époque, expressão francesa que significa “bela época”. No entanto, as mudanças ocorridas nesse período beneficiaram principalmente os membros das elites das grandes cidades.
Apesar dêsse entusiasmo, essa época foi marcada também por rivalidades entre as potências europeias, como analisaremos a seguir.
O imperialismo e as tensões nacionalistas
Durante as últimas décadas do século dezenove, a recém-unificada Alemanha obteve grande crescimento industrial e rápido desenvolvimento de sua marinha mercantil e de guerra. Esses fatores contribuíram para acirrar a concorrência entre ela e as duas principais potências econômicas europeias do período, Inglaterra e França.
A disputa entre as potências europeias por territórios coloniais na Ásia e na África se intensificou nessa época. O crescimento industrial dêsses países os levou a buscar novos mercados consumidores para seus produtos, assim como novas fontes de matéria-prima para suas indústrias. O domínio de novos territórios coloniais era, portanto, uma solução para essas questões.
Além disso, o desenvolvimento industrial estava bastante ligado às tensões nacionalistas manifestadas na Europa no período. Nesse sentido, a indústria armamentista desempenhou importante papel, pois cada potência queria demonstrar seu poder bélico, o que gerou uma corrida armamentista entre elas.
O crescimento do nacionalismo
Outro fator que contribuiu para ampliar as tensões entre os países europeus foi o forte sentimento nacionalista. êsse sentimento estimulou a formação de nações imperialistas, que buscavam expandir seu território dominando politicamente e economicamente outras nações.
Na França, o nacionalismo manifestava-se em um sentimento de revanche em relação à Alemanha desde a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), quando os franceses perderam para os alemães a região da Alsácia-Lorena, rica em minérios.
O sentimento nacionalista também deu origem a movimentos como o pan-eslavismo e o pangermanismo, que pretendiam unir, em uma mesma nação, povos de uma mesma etnia, mas que viviam em países diferentes.
O pan-eslavismo, liderado pêla Rússia, pregava a união dos povos eslavos. Já o pangermanismo era liderado pêla Alemanha e pregava a união dos povos de origem germânica.
O estopim da Primeira Guerra Mundial
No início do século dezenove, vários países da península Balcânicaglossário eram dominados pêlo Império Turco-Otomano. No final do século dezenove, essa região foi palco de movimentos nacionalistas e de conflitos pêla independência dos países, os quais eram incentivados pêlas potências europeias, como o Império Austro-Húngaro, que tinham interêssis econômicos na região.
Os nacionalistas sérvios, que também apoiavam os movimentos de independência nos Bálcãs, tinham interêssis distintos: desejavam formar um Estado, a Grande Sérvia, que seria uma confederação de territórios sérvios e croatas. Para manter o domínio sôbre a região, os governantes austro-húngaros combatiam os nacionalistas sérvios.
No dia 28 de junho de 1914, durante uma visita oficial à cidade de Sarajevo, na Bósnia, o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando, sucessor do trono do Império Austro-Húngaro, e sua espôsa, Sofia Chotek, foram mortos por Gavrilo príncip, um estudante e nacionalista sérvio. Diante dêsse fato, no dia 28 de julho de 1914 o Império Austro-Húngaro declarou guerra contra a Sérvia.
A guerra declarada
A declaração de guerra mobilizou países aliados de ambos os lados. A Rússia, aliada da Sérvia, movimentou suas tropas. A Alemanha, aliada do Império Austro-Húngaro, interveio, exigindo que a Rússia desmobilizasse suas tropas. Como não houve resposta, a Alemanha declarou guerra à Rússia.
Até novembro de 1914, a situação era a seguinte: a Rússia, a França e a Grã-Bretanha estavam unidas no bloco chamado Potências da Entente ou Aliados. O Império Austro-Húngaro, a Alemanha e a Itália pertenciam ao bloco que ficou conhecido como Potências Centrais, porém a Itália se manteve neutra no início do conflito e a partir de maio de 1915 passou a apoiar o bloco Potências da Entente. A guerra entre esses países durou quatro anos e contou com o envolvimento de outros países.
Os blocos na Primeira Guerra Mundial em 1914
Fonte de pesquisa: róbisbáum, ériqui J. A era dos impérios. Tradução: Sieni Maria Campos e Yolanda Steidel de Toledo.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. página 486.
Questão 1.
De acôrdo com o mapa, quais países europeus se mantiveram neutros ao longo de todo o conflito?
As fases da guerra
As agressões tiveram início ainda em agosto de 1914, com a invasão alemã a Luxemburgo e à Bélgica, marcando a primeira fase da guerra, que durou até novembro de 1914. Nessa fase, conhecida como Guerra de Movimento, houve enorme deslocamento de tropas, principalmente alemãs e francesas.
A segunda fase, conhecida como Guerra de Posição ou Guerra de Trincheiras, começou em 1915 e durou até o final do conflito, em 1918. Essa fase se iniciou com a instalação de trincheiras, que possibilitou condições de combate até o final da guerra.
Por dentro das trincheiras
Questão 2.
Como você imagina que era o cotidiano dos combatentes nas trincheiras?
Além da permanência das trincheiras, o aumento do poder de fogo foi outro aspecto que gerou impasse e estabilização de fôrças de ambos os lados. Fuzis de repetição e metralhadoras, por exemplo, matavam com rapidez e eficiência, forçando os exércitos a permanecer nas trincheiras para se protegerem.
As condições de vida nesses lugares eram extremamente precárias. Além do risco constante de morte em batalha, os soldados estavam sujeitos à falta de higiene e à má alimentação, o que provocava doenças que se espalhavam facilmente entre as tropas.
Observe, na ilustração, as principais características de uma trincheira.
Esta ilustração é uma representação artística contemporânea produzida com base em estudos históricos.
Fontes de pesquisa: Quígan, . Djón História ilustrada da Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Ediouro, 2005.
WILLMOTT, H. P. World War um. : Lôndon dórlin Kindersley, 2007.
A. As trincheiras eram reforçadas com sacos de areia e arame farpado.
B. Nas linhas de frente, ficavam os soldados em combate. Os que ocupavam essas trincheiras também deveriam comer e dormir nesse local, mas isso nem sempre era possível.
C. Nas linhas de reserva, ficavam os soldados que descansavam depois de cumprir o seu turno e os soldados feridos que conseguiam ser resgatados.
D. Trincheiras de comunicação ligavam as linhas de frente e as linhas de reserva.
E. Em dias de chuva, muitas trincheiras inundavam e os soldados eram obrigados a suportar vários dias com o corpo coberto de água e lama.
A “guerra total”
Os conflitos da Primeira Guerra Mundial mobilizaram não somente as fôrças militares, mas também toda a sociedade civil.
De acôrdo com muitos historiadores e especialistas, foram conflitos que inauguraram o conceito de “guerra total”, que consiste na mobilização completa das fôrças militares e civis dos países envolvidos, direcionando todos os recursos humanos e materiais possíveis para esses eventos. Voluntários ajudavam militares e civis atingidos pêla guerra fornecendo abrigo, cuidados médicos e produtos essenciais. Durante o conflito, lavouras inteiras foram bombardeadas e navios mercantes sofriam ataques, o que contribuía para a escassez de alimentos. Até mesmo navios de passageiros passaram a ser atacados, como foi o caso do navio britânico Lusitânia, que em 1915 foi torpedeado por um submarino alemão e naufragou, causando a morte de cêrca de .1200 pessoas. O texto a seguir apresenta uma definição do conceito de “guerra total”.
A um Guerra Mundial foi uma guerra total — abarcou a nação inteira e não teve limites. Os Estados exigiram a vitória total e o compromisso total de seus cidadãos. Regulamentaram a produção industrial, desenvolveram técnicas de propaganda sofisticadas para fortalecer o moral e exerceram um contrôle cada vez maior sôbre as vidas de seu povo, organizando-o, disciplinando-o como soldados. reticências
Péri, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. página 540.
Muitas mulheres foram engajadas durante a guerra exercendo atividades que antes eram consideradas exclusivamente masculinas.
dêsse modo, a destruição de recursos humanos e materiais também passou a fazer parte das estratégias de guerra, dando início a uma série de atrocidades, que continuaram em prática em diferentes conflitos ao longo do século vinte.
Os relatos da guerra
Durante a Primeira Guerra Mundial, um dos principais meios de comunicação utilizados foram as cartas. Trocadas entre soldados e familiares ou amigos, elas tratavam dos mais diversos assuntos, como os horrores da guerra, as preocupações e a saudade da família e de amigos.
As cartas fornecem informações importantes sôbre as duras condições de vida nas frentes de batalha e sôbre os horrores da guerra. Muito do que sabemos atualmente sôbre êsse conflito é resultado da análise dessas importantes fontes históricas.
Leia a seguir um trecho de carta, escrita pêlo soldado canadense Fred ádams a sua tia, em maio de 1915.
Querida tia:
Este é o primeiro dia que nos permitiram escrever cartas desde que esta batalha começou, e não tenho dúvida de que você está ansiosa por saber de mim. Bem, nós perdemos uma quantidade enorme de companheiros, e para nós que ficamos parece um milagre que cada um esteja vivo.
Como não me acertaram eu não sei, mas fui um dos que tiveram sorte de passar sem um arranhão, embora eu tenha vários buracos de bala nas minhas roupas.
reticências
Foi um pesadelo, um inferno, a retirada arrastando pêlo chão, com os canhões alemães abrindo grandes buracos e os estilhaços chovendo sôbre nós, as balas batendo em todo lugar. Pudemos ver os rapazes caindo em toda a parte, e foi horrível ouvi-los gritar.
Graças a Deus a artilharia e os reforços ingleses chegaram a tempo e expulsaram os alemães.
reticências Bem, todos os rapazes fizeram o melhor que podiam e eu estou pronto para fazer de novo, apenas espero que a guerra termine lógo, por causa dos pais, espôsas e namoradas de todos os soldados.
Agradeço a Deus por ser poupado e rezo sempre para que êle acabe logo com a guerra.
Com amor.
Fred.
, ádams Fred. Cartas da Primeira Guerra Mundial. CBC ponto (Tradução nossa). Disponível em: https://oeds.link/LCmrQB. Acesso em: 19 fevereiro 2022.
Questão 3.
Que tipo de informações podemos obter por meio da leitura dessa carta?
O uso da tecnologia e a indústria da guerra
Durante a Primeira Guerra Mundial, houve grande desenvolvimento tecnológico e industrial nos Estados Unidos e na Europa. Alguns países envolvidos no conflito, como a Inglaterra e a Alemanha, destinaram muitos recursos para o desenvolvimento de novas armas e de novas tecnologias.
Conheça um pouco mais sôbre as tecnologias desenvolvidas nesse período.
Armas químicas
Diferentes tipos de gases venenosos foram utilizados na guerra, tanto letais como não letais. Com o desenvolvimento da máscara de gás, muitos soldados puderam proteger-se dos gases venenosos. Porém, as armas químicas foram responsáveis pêla morte de aproximadamente 90 mil soldados durante o conflito.
Os horrores causados por essas armas levaram à proibição delas após o fim da guerra até os dias de hoje.
Tanques de guerra
O tanque de guerra foi desenvolvido pelos ingleses para auxiliar o avanço das tropas nas batalhas de trincheiras e foi utilizado pêla primeira vez em 1916. No início, como ainda estavam em desenvolvimento, êles não foram muito importantes. No entanto, ao longo da guerra êles passaram a ser mais efetivos, sendo largamente utilizados em 1918.
Aviões
Durante a guerra, a aviação teve um grande desenvolvimento. Nos primeiros anos do conflito, os aviões eram usados apenas em missões de reconhecimento de territórios e na observação dos movimentos das tropas inimigas. Posteriormente, êles passaram a ser equipados com metralhadoras. No final do conflito, os aviões eram capazes de carregar duas toneladas de bombas e voar a cêrca de 230 quilômetros por hora, quase o dobro da velocidade atingida pelos aviões utilizados no início da guerra.
Submarinos
Uma das armas de maior relevância na guerra foi o submarino. Os alemães passaram a usá-lo para afundar navios que levavam suprimentos para a Grã-Bretanha. Os ingleses adotaram a mesma estratégia contra a Alemanha, causando sérios prejuízos à economia e à população alemã.
Tecnologia e inovação: heranças da indústria de guerra
A tecnologia desenvolvida durante a Primeira Guerra foi utilizada de diferentes maneiras após o término do conflito.
O contrôle do tráfego aéreo e o sistema de comunicação por meio de rádio, por exemplo, são usados na aviação civil até hoje.
Outro exemplo é o aço inoxidável, que foi desenvolvido durante a guerra em uma tentativa fracassada dos ingleses de criar uma liga metálica resistente ao calor.
Atualmente, o aço inoxidável, que não enferruja, é utilizado em instrumentos médicos, como bisturis, e em objetos domésticos, como panelas e talheres.
Glossário
- Península Balcânica
- : localizada na região sudeste da Europa, é formada por países como os atuais Bósnia-Herzegovina, Grécia, Macedônia, Sérvia, Montenegro, Romênia, Croácia e Bulgária.
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