Os Estados Unidos entram na guerra

Em janeiro de 1917, a Alemanha iniciou um plano de ataque a navios na costa britânica para impedir a chegada de suprimentos bélicos e o abastecimento de bens de consumo à Grã-Bretanha.

Como os Estados Unidos forneciam grande parte dos produtos para a Inglaterra, essa decisão alemã ameaçava também os interêssis estadunidenses. Em 3 de abril de 1917, um navio mercante estadunidense foi atacado por um submarino alemão, o que levou os Estados Unidos a declarar guerra à Alemanha. Dotados de grande fôrça militar, os Estados Unidos, ao entrar na guerra, reforçaram os países das Potências da Entente.

A participação do Brasil

No mesmo dia em que os Estados Unidos sofreram o ataque da Alemanha, um navio mercante brasileiro foi alvo de submarinos alemães na costa britânica. Por causa disso, o presidente brasileiro Wenceslau Brás cortou as relações diplomáticas com a Alemanha e demonstrou solidariedade aos estadunidenses.

Meses depois, outras embarcações brasileiras foram atacadas pelos alemães. A opinião pública e os jornais da época demonstraram grande indignação e, assim, em 26 de outubro de 1917, o Brasil declarou guerra contra as Potências Centrais.

A participação do Brasil na Primeira Guerra ocorreu até o final do conflito e limitou-se à abertura dos portos aos países aliados, à cessão de fôrças navais e à disponibilização de aviadores e soldados. O govêrno brasileiro também mobilizou civis, como médicos, para atender os feridos de guerra.

Fotografia em preto e branco. Homens, usando casacos, calças e óculos na cabeça, estão de pé, um do lado do outro, com as mãos nos bolsos.
Grupo de pilotos brasileiros na Inglaterra, em 1918.

A Rússia se retira da guerra

Os altos gastos com a guerra, a fome e o grande número de mortos causaram grande insatisfação na população russa, que já se mostrava descontente com o autoritarismo do govêrno, além de outras questões, o que levou o país a uma revolução em fevereiro de 1917 (assunto que será estudado no capítulo 4).

Em março de 1918, os russos assinaram com as Potências Centrais um tratado de não agressão, o Tratado de Brêst Litôvisqui, e se retiraram da guerra.

O fim da guerra

Após uma série de ofensivas dos Aliados, que contavam com o refôrço bélico dos Estados Unidos, os alemães foram obrigados a assinar um armistícioglossário , encerrando o conflito em 11 de novembro de 1918.

O saldo do conflito

No final da guerra, contabilizou-se uma quantidade de mortos e feridos nunca antes vista. Somaram-se cêrca de 9 milhões de soldados mortos e 21 milhões de soldados gravemente feridos. Entre as vítimas civis, foram 7 milhões de pessoas que morreram durante os conflitos ou por causa das consequências da guerra, como a fome.

Soldados e mortos

Gráfico. Soldados e mortos. Gráfico em coluna em número de soldados (em milhões). Aliados (Potências da Entente): Rússia: Soldados mobilizados: aproximadamente: 12 milhões. Soldados mortos: aproximadamente: 1,8 milhão. França: Soldados mobilizados: aproximadamente: 8,8 milhões. Soldados mortos: aproximadamente: 1,7 milhão. Inglaterra: Soldados mobilizados: aproximadamente: 8,9 milhões. Soldados mortos: aproximadamente: 0,9 milhão. Itália: Soldados mobilizados: aproximadamente: 6 milhões. Soldados mortos: aproximadamente: 0,7 milhão. EUA: Soldados mobilizados: aproximadamente: 4 milhões. Soldados mortos: aproximadamente: 0,2 milhão. Potências Centrais: Alemanha: Soldados mobilizados: aproximadamente 13,5 milhões. Soldados mortos: aproximadamente: 1,8 milhão. Império Austro-Húngaro: Soldados mobilizados: aproximadamente: 7,9 milhões. Soldados mortos: aproximadamente: 1,2 milhão. Império Turco-Otomano: Soldados mobilizados: aproximadamente: 1 milhão. Soldados mortos: aproximadamente: 0,5 milhão. Bulgária: Soldados mobilizados: aproximadamente: 1,3 milhão. Soldados mortos: aproximadamente: 0,1 milhão.

Fonte de pesquisa: HART-DAVIS, adam (edição). History: the definitive visual guide. Lôndon: dórlin Kindersley, 2007. página 375.

Os tratados de paz

Após a Primeira Guerra Mundial, os países participantes do conflito assinaram vários tratados de paz, sendo o Tratado de Versalhes (1919) o mais importante.

êle foi assinado por representantes dos países Aliados e também da Alemanha, considerada pêlo tratado a principal responsável pêla guerra. Os alemães foram obrigados a pagar uma alta indenização aos países vencedores e a restringir drasticamente sua fôrça militar, reduzida a 100 mil soldados e seis navios de guerra. A Alemanha perdeu diversos territórios na Europa e também suas colônias na África e na Ásia.

Por causa das imposições aos alemães e dos benefícios aos países vitoriosos, o Tratado de Versalhes ficou também conhecido como Paz dos Vencedores. Para a população alemã, que se encontrava em situação de extrema pobreza, as cláusulas do Tratado de Versalhes foram consideradas humilhantes.

Fotografia em preto e branco. Mulheres usando vestidos e lenços na cabeças. Elas estão inclinadas sobre o lixo.
Alemães reviram o lixo em busca de alimentos, Berlim, Alemanha, em 1918.

Consequências físicas e psicológicas da guerra em soldados

Por causa da grande quantidade de mortos durante a Primeira Guerra Mundial, uma geração de jovens cresceu traumatizada com as consequências do conflito. Além disso, outro grave resultado dessa guerra foi a grande quantidade de mutilações entre os soldados. Apenas na França, cêrca de 300 mil homens entraram nas estatísticas dos “mutilados de guerra”, enquanto a Alemanha registrou aproximadamente 80 mil soldados nessas condições.

Como a economia dos países envolvidos nos conflitos estava devastada, não era possível oferecer pensões ou programas de caridade para manter os soldados atingidos. Com isso, tiveram início vários programas de reintegração dêsses homens para a fôrça de trabalho.

Para êsse processo, foram desenvolvidas próteses, que buscavam substituir os membros amputados, contribuindo para a inserção dos soldados em atividades laborais, como a agricultura, os escritórios, as oficinas e as fábricas.

O conflito também gerou outras consequências físicas e psicológicas nos ex-combatentes, como problemas de visão e de audição, taquicardia, pesadelos frequentes, confusão mental, fadiga e dificuldade de concentração. Além disso, muitos deles descreviam a sensação de reviver cenas dos combates, tendo dificuldades para se readaptarem ao convívio social, familiar e profissional. A esses sintomas, foi dado o nome de “neurose de guerra”, que atualmente é conhecido como transtôrno de estresse pós-traumático. Os próprios soldados o chamavam de shell shock, referindo-se à constante chuva de cápsulas e de projéteis que caíam sôbre êles nas trincheiras.

Na pintura a seguir, o alemão Óto dicsrepresenta as condições físicas dos ex-combatentes da Primeira Guerra Mundial. O autor esteve no front de batalha entre 1915 e 1917 e fez mais de 600 desenhos retratando os mutilados da França, da Bélgica e da Rússia.

Pintura. À esquerda, um homem com cabelos claros, várias cicatrizes e usando farda verde, está segurando cartas de baralho com os pés. Ao lado, um homem com cabelos curtos, várias cicatrizes, rugas e bigode, está segurando cartas de baralho com os lábios. À direita, um homem, com várias cicatrizes, usando farda azul, está  segurando cartas de baralho com as mãos.
Jogadores de cartas, de Óto dics. Óleo sôbre tela, 110centímetrospor87centímetros, 1920.

A solidariedade em tempos de guerra

Os voluntários

A Primeira Guerra Mundial teve intensa mobilização da população civil dos países envolvidos no conflito. Além de contribuir no esfôrço de guerra e na produção de armamentos, muitas pessoas procuravam amenizar as dificuldades enfrentadas pêla população no dia a dia.

Nesse contexto, moradores de cidades atingidas pêla guerra, tanto adultos quanto crianças, atuaram de fórma solidária para ajudar pessoas que sofriam com a fome ou a falta de moradia, por exemplo.

Uma menina alemã chamada Piete Kuhr, por exemplo, deixou relatos escritos sôbre essa época na cidadezinha chamada Schneidemühl, na Alemanha, onde morava com sua avó. Ela contou em seus relatos que centenas de refugiados chegavam todos os dias à cidade onde vivia. Para ajudá-los, os moradores distribuíam diariamente sopa e centenas de quilos de pão. Além disso, doavam roupas e tricotavam gorros e meias para aquecer as crianças. Cenas como essas se repetiam em todas as regiões afetadas pêla guerra.

Fonte de pesquisa: tchélenger, Melanie; filipovíti, isláta (organizador). Vozes roubadas: diários de guerra. Tradução: Augusto Pacheco Calil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. página 46-47.

Cartaz. Na parte superior, o texto: Free Milk for France. À esquerda, duas crianças segurando um pote com as mãos. À direita, um soldado, em pé ao lado de um barril, está segurando com as mãos uma colher que ele utiliza para servir leite no pote de uma das crianças. Atrás, uma mulher, usando um lenço na cabeça, está segurando uma criança no colo. Ao lado, um homem usando chapéu e roupas azuis.
Cartaz incentivando a população dos Estados Unidos a fazer doações para alimentar crianças francesas, em 1918.

Os cuidados com os feridos

Os horrores da guerra atingiram milhares de pessoas, e os hospitais disponíveis não eram suficientes para abrigar todos os feridos. Dessa maneira, muitos espaços, como teatros e casas particulares, foram transformados em centros de atendimento à população e aos soldados feridos.

Fotografia em preto e branco. Diversas camas enfileiradas em um salão. Há algumas pessoas de pé e outras deitadas nas camas.
Pavilhão Real em Bráiton, na Inglaterra, transformado em hospital durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915.

O papel de uma organização humanitária

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha foi fundado em 1863, na Suíça, e é uma organização considerada neutra, que presta assistência aos soldados e à população, independentemente de qualquer govêrno ou de outra autoridade. Como órgão reconhecido internacionalmente, a Cruz Vermelha tem como objetivos assegurar a proteção e a assistência às vítimas de conflitos armados e promover o princípio humanitário em situações de tragédia, valorizando a vida e a cooperação internacional.

Durante a Primeira Guerra Mundial, essa instituição intensificou suas ações e teve um papel importante. Ela formou uma central de atendimento que auxiliava no restabelecimento do contato entre soldados e suas famílias e também realizou missões de assistência médica em campos de batalha e centros urbanos. Os voluntários eram recrutados para diversas tarefas, como organizar pacotes com equipamentos médicos, dirigir ambulâncias, prestar visitas aos feridos de guerra e transmitir mensagens de civis às pessoas que estavam nas frentes de batalha.

A instituição existe até os dias de hoje, com milhares de funcionários que atuam globalmente, até mesmo no Brasil. Suas funções se ampliaram muito desde a época de sua fundação. Atualmente, a Cruz Vermelha presta assistência em casos de violência sexual, além de dar suporte e fornecer água e alimentos em situações de tragédias naturais.

Cartaz. Na parte superior, o texto: Join now! Na parte inferior, o texto: The Red Crosss serves humanity. No fundo, ilustração de uma mulher usando roupas de enfermeira e um casaco. Ela está com um dos braços estendidos para cima. Sobreposto, uma cruz vermelha.
Cartaz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha produzido por C. W. Ânderson, entre 1914-1918, convocando ajuda com uma frase que, em português, significa: “Participe agora. A Cruz Vermelha serve à humanidade”.

Agora, converse com os colegas sôbre as questões a seguir.

Ícone ‘Atividade oral’.

1. Como os moradores de regiões afetadas pêla guerra auxiliavam as pessoas desabrigadas e os refugiados?

Ícone ‘Atividade oral’.

2. Qual foi a importância das ações solidárias e humanitárias do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na Primeira Guerra Mundial?

Ícone ‘Atividade oral’.

3. Você conhece alguma pessoa ou instituição que faça trabalhos voluntários em sua cidade? Que atividades são realizadas?

Ícone ‘Atividade oral’.

4. Em sua opinião, qual é a importância do trabalho voluntário na atualidade? Explique aos colegas.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

1. Copie o esquema a seguir em seu caderno e complete cada um dos quadros com uma explicação sôbre os principais processos da Primeira Guerra Mundial.

Esquema. 'Disputas imperialistas': Espaço para preencher. 'Rivalidades': Espaço para preencher.  'Movimentos nacionalistas': Espaço para preencher. Seta de indicação, para: 'Estopim da guerra': Espaço para preencher. Seta de indicação, para: 'Formação das alianças': Espaço para preencher. Seta de indicação, para: 'Potências Centrais': Espaço para preencher. 'Potências da Entente': Espaço para preencher. Seta de indicação, para: 'Guerra total'. Espaço para preencher..

Aprofundando os conhecimentos

2. No ano de 2014, o início da Primeira Guerra Mundial completou 100 anos. Analise a imagem e, depois, responda às questões.

Fotografia. Uma trincheira, um buraco no chão. Ao redor, pessoas caminhando e vegetação.
Exposição de trincheiras feitas durante a Primeira Guerra em Ypres, na Bélgica, 2014.
  1. Analise a foto e descreva de que maneira a Primeira Guerra Mundial está sendo relembrada?
  2. Você acredita que conhecer uma exposição com as trincheiras das batalhas é uma fórma de rememorar o conflito? Por quê?

3. Leia o texto a seguir, que aborda a trégua de 1914 ocorrida durante os combates da Primeira Guerra Mundial. Depois, responda às questões.

reticências Na noite do dia 24, em Fleurbaix, na França, uma visão deixou os britânicos intrigados: iluminadas por velas, pequenas árvores de Natal enfeitavam as trincheiras inimigas. A surpresa aumentou quando um tenente alemão gritou em inglês perfeito: “Senhores, minha vida está em suas mãos. Estou caminhando na direção de vocês. Algum oficial poderia me encontrar no meio do caminho?”. Silêncio. Seria uma armadilha? êle prosseguiu: “Estou sozinho e desarmado. Trinta de seus homens estão mortos perto das nossas trincheiras. Gostaria de providenciar o entêrro”.

Dezenas de armas estavam apontadas para êle. Mas, antes que disparassem, um sargento inglês, contrariando ordens, foi ao seu encontro. reticências

No dia seguinte, 25 de dezembro, ao longo de toda a frente ocidental, soldados armados apenas com pás escalaram suas trincheiras e encontraram os inimigos no meio da terra de ninguém. Era hora de enterrar os companheiros, mostrar respeito por êles — ainda que a morte ali fosse um acontecimento banal.

reticências

reticências Os soldados britânicos e alemães descobriam ter mais em comum entre si que com seus superiores — instalados confortavelmente bem longe da frente de batalha. O medo da morte e a saudade de casa eram compartilhados por todos.

reticências

LEUZINGER, Bruno. Quando o Natal fez a Grande Guerra parar: a trégua de 1914. Aventuras na História, São Paulo, 24 dezembro 2018. Disponível em: https://oeds.link/R4PHbs. Acesso em: 18 fevereiro 2022.

Jornal. Na parte superior, o nome do Jornal: The Daily Mirror. Abaixo, do título, o texto: AN HISTORIC GROUP: BRITISH AND GERMAN SOLDIERS PHOTOGRAPHED TOGHETER.  Ao centro, fotografia de uma grupos de soldados usando chapéu e casaco. Eles estão de pé, um do lado do outro.
Reprodução do periódico inglês The Daily Mirror, que retrata soldados ingleses e alemães durante a trégua de Natal, no ano de 1914.
  1. De acôrdo com o texto, os soldados inimigos se encontraram na “terra de ninguém” para realizar um ato de demonstração de respeito. Que ato foi êsse?
  2. Explique a seguinte afirmação: “Os soldados britânicos e alemães descobriam ter mais em comum entre si que com seus superiores — instalados confortavelmente bem longe da frente de batalha”.

4. A imagem a seguir retrata a aliança entre franceses, russos e britânicos durante a Primeira Guerra Mundial. sôbre a construção das alianças militares nesse contexto, responda às questões.

Cartão postal. À esquerda, um homem, usando farda azul, está segurando a bandeira da França. Centralizado, um homem, usando farda verde com quepe na cabeça, está segurando com as mãos a bandeira da Rússia. À direita, um homem, com farda verde, está segurando com as mãos a bandeira britânica.
Cartão-postal publicado em 1914, na França. Os soldados carregam as bandeiras francesa, russa e britânica, simbolizando a aliança militar entre os três países durante a Primeira Guerra Mundial.
  1. Como ocorreu o processo de formação da aliança militar representada no cartão-postal? Qual era essa aliança?
  2. As bandeiras representam a afirmação do nacionalismo de cada país envolvido no conflito. Como êsse nacionalismo influenciou no processo de eclosão da guerra?

5. Pôl Néchi foi um dos principais pintores expressionistas do século vinte. êle esteve no front de batalha na Bélgica servindo a Marinha britânica durante a Primeira Guerra. Analise a obra de arte a seguir e compare-a com a visão otimista do conflito que os europeus defendiam.

Pintura. Uma terra ondulada com troncos queimados. Ao fundo, pôr-do-sol.
A obra Estamos construindo um mundo novo, de Pôl Néchi, retrata um campo de batalha próximo à cidade de Ypres, na Bélgica, em 1918.
  1. Em janeiro de 1919, as principais potências mundiais se reuniram para a assinatura do Tratado de Versalhes, à exceção da Alemanha. O fim da Primeira Guerra Mundial havia definido uma política de determinação da paz sem vencedores, mas não foi êsse o resultado da reunião. sôbre êsse encontro, responda às questões a seguir.
    1. Quais foram as implicações do Tratado de Versalhes para os alemães?
    2. O que foi a Liga das Nações, criada a partir dêsse tratado? Quais eram suas principais funções?

Glossário

Armistício
: trégua, suspensão das agressões em uma guerra.
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