Investigando fontes históricas

As charges no govêrno Vargas

Durante o govêrno de Getúlio Vargas, muitas charges veiculadas pêla imprensa satirizavam as ações do presidente.

A revista Careta era publicada semanalmente, entre os anos de 1908 e 1960, e foi um dos veículos de informação da época que recorria a charges de diversos artistas para criticar o govêrno.

Leia a seguir a análise de uma dessas charges, publicada em 1937, alguns meses antes da implantação do Estado Novo.

Capa de revista. Na parte superior, o nome da revista: CARETA. Abaixo, ilustração, um homem calvo usando roupas azuis e brancas. Ele está colocando cascas de bananas no chão. Sobreposto à letra 'C'. Atrás, um edifício com três andares com esculturas de pássaros com as asas abertas. Sobreposto à letra 'A'. No fundo, na lateral do prédio, a silhueta de uma pessoa de perfil. Sobreposto à letra 'B'. Na parte inferior, o texto: LÁ NO PALÁCIO DAS ÁGUIAS. Sobreposto à letra 'D'.
Charge de José Carlos de Brito Cunha (J. Carlos) publicada na revista Careta, no Rio de Janeiro, érre jóta, em 1937.

 A.  O autor da charge ironiza o autoritarismo de Vargas durante o Estado Novo ao retratar as águias do teto do palácio do Catete, séde do govêrno federal, no Rio de Janeiro, no estilo de águias nazistas.

 B.  A personagem que assiste à cena (no fundo, à esquerda, encostada no prédio) era conhecida como Jeca e simboliza o povo brasileiro.

 C.  As cascas de banana colocadas na entrada do palácio do Catete são uma fórma de mostrar como Vargas estava manipulando a política da época. Sua intenção era manter-se no poder, e quem se aproximasse corria o risco de escorregar.

 D.  A charge apresenta a seguinte legenda: “Lá no palácio das águias; – Para que arame farpado, se é possível arranjar tudo com as habituais cascas de bananas?”.

Leia agora a análise de outra charge, também publicada em 1937.

Capa de revista. Na parte superior, o nome da revista: Careta. Abaixo, ilustração de um homem calvo, usando terno, está deitado em cima de um telhado. Seguido, uma janela, com uma mulher com cabelos loiros. Ela está inclinada na direção de diversas pessoas deitadas em uma cama. Sobreposto à letra 'B'. Na parte inferior, o texto: GAROTOS TRAVESSOS. Sobreposto à letra 'A'.
Charge de José Carlos de Brito Cunha (J. Carlos) publicada na revista Careta, no Rio de Janeiro, érre jóta, em maio de 1937.

 A.  A charge vem acompanhada da seguinte inscrição: “Dorme, dorme. O papãoglossário está em cima do telhado.”.

Vargas é representado como “bicho-papão”, à espreita em cima do telhado.

 B. Os candidatos à sucessão presidencial aparecem dormindo em uma cama, indefesos. As eleições presidenciais estavam marcadas para o início de 1938.

Agora, analise a charge a seguir para responder às questões.

Charge. À esquerda, um homem usando terno claro. Ele está de pé, segurando uma chave com as mãos para trás. Ao lado, um homem calvo, usando óculos e terno, está segurando com as mãos um papel com o texto: TRABALHO. Atrás. Uma casa com a placa: CÂMARA. ALUGA-SE ESTA CASA. Abaixo, um cadeado.
Charge de José Carlos de Brito Cunha (J. Carlos) publicada na revista Careta, no Rio de Janeiro, érre jóta, em dezembro de 1937.
Ícone ‘Atividade oral’.

1. Observe a data de publicação da charge. A qual acontecimento histórico ela está relacionada?

Ícone ‘Atividade oral’.

2. Explique o que o local identificado como “Câmara” representa e o que significa a inscrição da placa colocada na porta.

Ícone ‘Atividade oral’.

3. Por que o artista representou Vargas segurando a chave da Câmara?

Ícone ‘Atividade oral’.

4. Em sua opinião, as charges são importantes para a conscientização da população? Por quê? Converse com os colegas.

Rádio e política

Entre as décadas de 1930 e 1950, o rádio representava uma das poucas alternativas para ter acesso às informações, pois mais da metade da população brasileira era analfabeta.

Com o rádio, os ouvintes podiam acompanhar diversas notícias sôbre política, cultura, cotidiano e competições esportivas nacionais e internacionais, como a Copa do Mundo de Futebol.

Fotografia em preto e branco. Ao centro, mulher, com cabelos presos e usando vestido, está segurando com as mãos um violão e com a boca próxima a um microfone. Ao redor, homens usando terno.
Cantora e compositora Marília Batista cantando na rádio Mayrink Veiga, na cidade do Rio de Janeiro, ao lado de vários artistas, em 1935.

Em 1932, a veiculação de propagandas foi regulamentada, e as estações começaram a ser patrocinadas pelos anunciantes. A programação foi perdendo seu caráter educativo e, aos poucos, tornando-se cada vez mais voltada para o lazer e para o entretenimento, o que visava ampliar o número de ouvintes.

Os programas de variedades ganharam espaço e passaram a incluir humor, notícias, histórias e música popular. Diversos cantores e cantoras faziam sucesso, e muitos deles se apresentavam ao vivo nos programas da época. O samba era um dos ritmos de maior popularidade. Carmem Miranda, Francisco Alves e Orlando Silva eram alguns dos cantores mais conhecidos dêsse período. 

   Getúlio Vargas, ao perceber o potencial comunicativo do rádio, incentivou a ampliação do sistema de radiodifusão por todo o país, além de estabelecer uma série de medidas para controlá-lo.

   Vargas criou um programa de rádio que divulgava notícias oficiais de sua gestão. Diariamente, durante uma hora, as emissoras ficavam proibidas de transmitir outros programas. O programa intitulado Hora do Brasil era transmitido em rede nacional. Assim, o rádio passou a ser utilizado para divulgar informações que criassem uma boa impressão do governo e exaltassem sua importância.

Fotografia em preto e branco. Homem com cabelos curtos, usando óculos e terno branco, está de pé em um púlpito com microfones e segurando uma folha de papel com as mãos.
Getúlio Vargas faz discurso transmitido pêlo rádio, na cidade do Rio de Janeiro, em 1942.

O Brasil e a Segunda Guerra Mundial

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 2.

Em sua opinião, como foi a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial? Converse com os colegas.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial na Europa, em 1939, o Brasil, a princípio, manteve-se neutro. Apesar de o govêrno do Estado Novo ter características claramente próximas ao fascismo italiano, Getúlio Vargas não declarou apôio aos países do Eixo nem aos Aliados.

Essa postura influenciava diretamente a política externa brasileira naquele momento: Getúlio Vargas negociava com os países que oferecessem vantagens ao Brasil.

Em fevereiro de 1942, os nazistas atacaram embarcações brasileiras, provocando a morte de centenas de pessoas e ocasionando grande comoção na população, que passou a pressionar o govêrno para que o Brasil entrasse no conflito contra os países do Eixo. Junto a isso, os Estados Unidos, que estavam no conflito desde 1941 ao lado dos Aliados, também pressionavam as autoridades brasileiras. Quando o govêrno estadunidense se comprometeu a financiar a construção de uma usina de siderurgia em Volta Redonda (Rio de Janeiro), o Brasil deixou a neutralidade e garantiu apôio aos Aliados.

O Brasil vai à guerra

Em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo, aliando-se à Inglaterra, à União Soviética e aos Estados Unidos.

Inicialmente, a participação do Brasil no conflito era restrita ao apôio estratégico, permitindo a instalação de bases aliadas no litoral nordeste do país. Porém, em 1944, as tropas da fôrça Expedicionária Brasileira (féb) foram mobilizadas e começaram a ser enviadas à Europa.

Atuando na Itália com um contingente de 25 mil soldados, a féb teve um significativo papel no conflito. Os pracinhas, como eram conhecidos, lutaram em regiões como Monte Prano e Monte Castelo, importantes frentes de batalha, entre julho de 1944 e o final da guerra na Europa, em maio de 1945.

Fotografia em preto e branco. Diversos homens usando fardas. Ao fundo, uma embarcação.
Pracinhas desembarcando no Pôrto de Nápoles, na Itália, em agosto de 1944.

Os pracinhas

A maioria dos soldados brasileiros enviados à Itália fazia parte da camada mais pobre da sociedade. Muitos eram analfabetos e não tinham treinamento militar completo. No entanto, antes de partir para a guerra, todos recebiam tratamento médico, algum treinamento e armas, fornecidas pelos Aliados.

Assim, os pracinhas puderam resistir e derrotar as experientes tropas nazistas na Itália, contrariando as expectativas de muitas pessoas, que não acreditavam ser possível as tropas brasileiras exercerem um papel relevante no conflito.

Os “soldados da borracha”

Nos acôrdos comerciais firmados com os Estados Unidos, o Brasil se comprometeu a fornecer diversos produtos, entre os quais, a borracha. Com a entrada dos estadunidenses na Segunda Guerra, o Brasil teve de aumentar o fornecimento dêsse produto, iniciando uma campanha de recrutamento de pessoas para trabalhar nos seringais e, assim, atender a demanda.

Enquanto os pracinhas lutavam na Europa, acredita-se que aproximadamente 30 mil pessoas migraram para a Amazônia, a maioria oriunda da atual Região Nordeste. Esses seringueiros ficaram conhecidos como “soldados da borracha”, pois o trabalho deles era visto como um verdadeiro esfôrço de guerra a favor dos Aliados.

De volta ao Brasil

Com o fim da guerra na Europa, em 1945, os pracinhas retornaram ao Brasil como heróis. A participação da féb ao lado dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, lutando em defesa da democracia e contra o fascismo e o nazismo, levou grande parte da população a refletir sôbre as contradições que havia no país, cujo govêrno era autoritário e marcado pêla censura e pêla repressão.

Desde 1943, diversos grupos opunham-se à ditadura de Getúlio Vargas, alguns sendo formados por estudantes, outros por políticos, intelectuais etcétera Esses grupos organizaram diversas manifestações, como passeatas, congressos e abaixo-assinados, exigindo o fim da ditadura, a liberdade de expressão e a convocação de novas eleições.

Em 29 de outubro de 1945, enfrentando pressões populares e setores insatisfeitos do Exército, que se encontrava fortalecido após as vitórias na Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas foi forçado a renunciar, deixando o govêrno e encerrando o Estado Novo.

Fotografia em preto e branco. Um tanque de guerra em uma rua. Há dois soldados sobre ele e outro em pé, na lateral do tanque. Atrás, um edifício. Ao redor, pessoas caminhando.
Tanque de guerra em frente ao palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, lógo após a deposição de Vargas, em 1945.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Explique o processo histórico que levou Getúlio Vargas ao poder em 1930.
  2. Quais eram as reivindicações do movimento tenentista?
  3. Copie o quadro a seguir em seu caderno e complete-o de acôrdo com o seguinte questionamento: Como as ideologias políticas europeias influenciaram os partidos e movimentos políticos no Brasil, no início do século vinte?
Ícone Modelo.

Socialismo e comunismo

Fascismo e nazismo

Aprofundando os conhecimentos

4. A Coluna Prestes foi um movimento que se originou com o tenentismo, denunciando a corrupção na política e as ideias consideradas retrógradas da República Oligárquica. Na década de 1920, êsse movimento percorreu o país, fazendo oposição ao govêrno de Artur Bernardes. Observe o mapa e responda às questões.

Coluna Prestes (1924-1927)

Mapa. Coluna Prestes (1924-1927). Mapa territorial destacado conforme legenda: Marcha da Coluna Prestes: Partindo de São Luís Alegrete no Rio Grande Sul, Santa Catarina e Paraná. Seguindo por Dourado e Três Lagos em Mato Grosso. Passa por Porto Nacional, em Goiás; Carolina no Maranhão; Floriano no Piauí; Cratéus no Ceará; Piancó na Paraíba; Triunfo em Pernambuco; Paraíba; Alagoas; Rio Grande do Norte, Sergipe; Bahia e Minas Gerais em direção à Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia e no Paraguai. No canto inferior, à esquerda, planisfério destacando parte da América do Sul. Ao lado, representação da rosa dos ventos e escala de 470 quilômetros por centímetro.

Fonte de pesquisa: Nosso Século: 1910-1930. São Paulo: Abril Cultural, 1980. página 229.

  1. De acôrdo com o mapa, quais estados do Brasil a Coluna Prestes percorreu?
  2. Qual era a intenção dos líderes ao organizar uma marcha que passasse por todos esses lugares?
  3. Qual fórma de govêrno era combatida pêla Coluna Prestes? Explique.

5. A cartilha A juventude no Estado Novo foi produzida durante a década de 1940 pêlo Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo. Analise uma das páginas da cartilha com atenção e responda às questões a seguir.

Na inscrição dessa página, lê-se: “Crianças!

Aprendendo, no lar e nas escolas, o culto da Pátria, trareis para a vida prática todas as probabilidades de êxito.

Só o amor constrói e, amando o Brasil, forçosamente o conduzireis aos mais altos destinos entre as Nações, realizando os desejos de engrandecimento aninhados em cada coração brasileiro.”.

Ilustração. À esquerda, uma menina uniformizada com um laço na cabeça. Ao lado, um homem, usando terno azul, está com uma mão no queixo da menina e sorri. A menina também sorri. Ao fundo, um menino uniformizado segurando com a mão a bandeira do Brasil. No canto inferior direito, caixa com texto.
A juventude no Estado Novo, década de 1940.
  1. Qual era a importância do Departamento de Imprensa e Propaganda durante o contexto do Estado Novo?
  2. Quais características do Estado Novo estão destacadas na imagem?
  3. Como a legenda da imagem reforça o nacionalismo defendido pelos governos autoritários, como o Estado Novo? Quais outros regimes do mesmo contexto defendem ideias semelhantes?

6. Os imigrantes japoneses, alemães e italianos que viviam no Brasil entre 1939 e 1945 sofreram algumas consequências durante a Segunda Guerra Mundial. Por serem originários de países que faziam parte do Eixo, muitos foram demitidos de onde trabalhavam e perseguidos; outros tiveram seus bens confiscados e seus direitos restringidos; e outros ainda foram forçados a trabalhar nos chamados campos de internamentoglossário . Leia o trecho a seguir e faça o que se pede.

reticências

O preconceito contra os que passaram a ser chamados, pejorativamenteglossário , de “súditos do Eixo” se disseminou entre os brasileiros. Lojas estrangeiras foram saqueadas e apedrejadas em cidades do Sul e Sudeste do Brasil, onde havia mais colônias italianas, alemãs e japonesas. reticências

dítric, Ana Maria. Uma história sonegada. História Viva, São Paulo, Duetto, número 67, maio 2009. página 62.

  1. Quem eram os “súditos do Eixo”? Por que êles eram chamados dessa fórma?
  2. Cite algumas atitudes geradas pêlo preconceito contra os imigrantes.
  3. êsse preconceito ainda existe na atualidade? Em grupos, reflitam e escrevam um texto sôbre as manifestações de preconceito contra estrangeiros vistas atualmente na sociedade brasileira e o que pode ser feito para combatê-las.

7. Em 1924 foi criado o jornal O Clarim d’Alvorada. Uma de suas propostas era veicular histórias e trajetórias de homens e mulheres afrodescendentes que combatiam a discriminação promovendo a igualdade racial.

Em 1935, Eunice de Paula Cunha escreveu um artigo nesse periódico denunciando o papel atribuído às mulheres afrodescendentes naquela época. A seguir, leia um trecho dêsse artigo e responda às questões.

reticências O cativeiro moral para nós, negros, ainda perdura. Notemos a fundação desta Escola Luís Gama com o fim de preparar meninas de côr para serviços domésticos. reticências Por esta iniciativa se vê que para os brancos não possuímos outra capacidade, outra utilidade ou outro direito a não ser eternamente o de escravos. reticências Mas isto não sucederáreticências A vida de um povo depende da sua juventude. Pois bem, nós, além de jovens, somos mulheres.

chumáier, Schuma; BRAZIL, Érico Vital. Mulheres negras do Brasil. Rio de Janeiro: Senáqui Nacional, 2013. página 109.

Capa do jornal. Na parte superior, o nome do jornal: O CLARIM DA ALVORADA. Abaixo, manchete com o texto: BRAVO, DAMAS NEGRAS.
Capa do periódico O Clarim d’Alvorada, de 1930.
  1. Para a autora do texto, o que representa a criação da Escola Luís Gama?
  2. Em sua opinião, o que a autora quis dizer com a frase “Mas isto não sucederá...”? Explique.
  3. No Brasil atual, ainda existem casos de discriminação contra a população afrodescendente? Converse com os colegas sôbre o tema.

Glossário

Papão
: também conhecido como “bicho-papão”, é uma personagem monstruosa, que faz parte do folclore brasileiro. Ela assusta as crianças e está presente em diversas cantigas populares.
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Campos de internamento
: campos de confinamento criados no Brasil a partir de 1942.
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Pejorativo
: que é depreciativo, que exprime desaprovação.
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