UNIDADE 8 Os desafios do mundo contemporâneo

Fotografia. Vista de diversas pessoas usando máscaras no rosto. Elas estão caminhando em uma rua com muitas luzes, segurando com as mãos cartazes e faixas com textos como: 13 DE MAIO DE LUTA. NEM BALA, NEM FOME, NEM COVID. O POVO NEGRO QUER VIVER. Em outro cartaz: O POVO PRETO QUER VIVER. Há também cartaz com o texto: PAREM DE NOS MATAR. Outros com o texto: VIDAS NEGRAS IMPORTAM.
Manifestação organizada pêlo Movimento Negro, na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, em 13 de maio de 2021.

No mundo atual, há grandes desafios a enfrentar, como as desigualdades sociais, a intolerância entre as pessoas e a degradação do meio ambiente. A globalização, apesar de diminuir as fronteiras culturais entre os países, não tem conseguido solucionar muitas dessas questões.

Nesta unidade, vamos conhecer melhor quais são esses desafios e refletir sôbre as maneiras como cada um de nós pode contribuir para superarmos os problemas do mundo contemporâneo.

Iniciando a conversa

  1. Quais são as reivindicações das pessoas retratadas na foto? Como você chegou a essa conclusão?
  2. Você conhece pessoas que já foram vítimas de discriminação? Comente.
  3. Quais grupos sociais sofrem discriminação no Brasil? Em sua opinião, por que isso ocorre?

Agora vamos estudar...

  • as desigualdades sociais, econômicas e de gênero em nossa sociedade;
  • as adversidades enfrentadas por afrodescendentes, mulheres, idosos, indígenas, pessoas com deficiência e membros da comunidade éle gê bê tê quê i a mais;
  • a importância do respeito e da valorização das diferentes culturas;
  • problemas ambientais da atualidade.

CAPÍTULO 16 Por um futuro melhor

Como vimos na unidade anterior, a democracia é uma conquista recente da história do Brasil. A participação política e a conquista de direitos é um processo que se constrói cotidianamente, e a garantia da cidadania depende da ação dos diversos sujeitos históricos.

As desigualdades no Brasil

Veja, a seguir, alguns dos principais problemas que constituem as desigualdades sociais no Brasil.

Má distribuição de renda

No Brasil, as primeiras medidas de enfrentamento da pobreza foram implantadas no início da década de 1990 por meio de programas de transferência de renda. A partir de 2001, esses programas foram ampliados.

De acôrdo com o Banco Mundial, os programas federais de transferência de renda contribuíram para que 25 milhões de pessoas deixassem de viver em condição de pobreza extrema entre os anos de 2001 e 2013. Apesar dos resultados, aproximadamente 20 milhões de brasileiros ainda viviam em condição de extrema pobreza em 2013.

Segundo o í bê gê É, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (pê nádi Contínua), divulgados em 2021, mostraram que, em 2020, o rendimento domiciliar per cápita do país foi de cêrca de R$ 285 bilhões. dêsse total, 41,6% estavam concentrados nas mãos de 10% da população mais rica, ou seja, com os maiores rendimentos.

Distribuição da população por rendimento em 2020

Infográfico. Distribuição da população por rendimento em 2020. Os dados são: 10% da população tem 41,6% da renda e 90% da população tem 58,4% da renda.

Fonte de pesquisa: pê nádi Contínua: rendimento de todas as fontes 2020. í bê gê É. Disponível em: https://oeds.link/U5M8Lo. Acesso em: 2 maio 2022.

O problema do desemprêgo

Nos últimos anos, o aumento do desemprêgo no país vem gerando muita preocupação, principalmente após 2014. A diminuição do crescimento econômico foi um dos fatores que ocasionaram a redução da oferta de vagas de emprêgo e as demissões em diversos setores, sobretudo na indústria.

No Brasil, o desemprêgo atinge uma parcela significativa da população. Conforme dados do í bê gê É, no último trimestre de 2021, a taxa de desemprêgo era de 11,1% entre a População Economicamente Ativa (péa). Para garantir a sobrevivência, inúmeras pessoas recorrem ao trabalho informal, sem registro na carteira de trabalho. Dessa fórma, muitos direitos, como férias remuneradas e salário mínimo, não são garantidos ao trabalhador.

Fotografia. No primeiro plano, um homem, usando casaco, está de costas e encostado em uma barraca com vários potes coloridos. Ao fundo, rua com vários carros..
Vendedor ambulante na cidade de São Paulo, em 2019.

A educação

Embora tenha ocorrido elevação do número de crianças frequentando a escola nas últimas décadas, ainda há muito o que ser feito pêla educação no Brasil. Várias medidas são necessárias, como o aumento nos investimentos em infraestrutura das escolas e a melhoria da remuneração e das condições de trabalho dos professores.

A educação de qualidade possibilita que crianças e adolescentes desenvolvam noções de respeito, de tolerância e de valorização da diversidade. Isso é imprescindível para a superação de outros problemas graves atuais em nossa sociedade, como o preconceito e a discriminação.

Fotografia. Pessoas segurando placas e cartazes em uma rua. Ao centro, o cartaz com o seguinte texto: EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA. APOSENTADORIA E TRABALHO. FRENTE EM DEFESA DA EDUCAÇÃO. RIO DE JANEIRO.
Estudantes e professores durante manifestação na cidade do Rio de Janeiro, em 2019.

Preconceito e intolerância

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[Narrador]

Racismo estrutural

[Laura]

[tom animado]

Olá! Está começando mais um episódio do podcast “De olho na História”. Eu sou a Laura.

[Rodrigo]

[tom animado]

E eu sou o Rodrigo. Sejam bem-vindos!

[Laura]

[tom sério]

Hoje vamos conversar sobre uma questão muito séria.

[Rodrigo]

[tom sério]

Sim, vamos falar sobre o racismo estrutural na sociedade brasileira. Vocês sabem o que isso significa?

[Laura]

[tom explicativo, de lamento]

O racismo estrutural está pautado em uma mentalidade colonial e escravagista, que naturalizou a exclusão social das pessoas negras ao mesmo tempo em que privilegiou as pessoas brancas.

[Rodrigo]

[tom explicativo, de lamento]

Sim, por esse motivo, infelizmente, a discriminação racial é uma realidade no Brasil, mesmo que ela aconteça de maneira velada, sem que o preconceito seja escancarado.

[Laura]

[tom explicativo, de lamento]

O que torna ainda mais difícil lutar contra essa situação.

[Rodrigo]

[tom explicativo]

É por isso que para se combater o racismo é preciso primeiro compreender a fundo suas raízes históricas e assim perceber como ele ainda está arraigado em nossa sociedade.

[Laura]

[tom explicativo]

Tendo essa compreensão e falando abertamente sobre o assunto, podemos, inclusive, desconstruir a ideia equivocada de que o racismo não existe.

[Rodrigo]

[tom explicativo]

Pois é. No dia a dia, os atos mais explícitos de racismo são considerados pontuais ou tratados como exceções, nunca como fenômeno social.

[Laura]

[tom explicativo]

Só que, se para muita gente o racismo é invisível, a população negra sente na pele o quanto ele é destrutivo e cruel.

[Rodrigo]

[tom explicativo]

A explicação para tanta invisibilidade está no fato de essa realidade ter sido desde sempre normalizada e naturalizada.

[Laura]

[tom explicativo]

Exato. Mas o racismo está presente em todas as esferas da vida cotidiana. Por isso é importante entender como ele se tornou tão intrínseco à nossa estrutura social.

[Rodrigo]

[tom explicativo]

Muita coisa mudou desde o período colonial. Mas, lamentavelmente, a herança cultural da escravidão continua muito forte em nosso país.

[Laura]

[tom explicativo]

Sim, o nosso passado escravagista é o principal responsável pelo racismo entranhado na sociedade.

[Rodrigo]

[tom explicativo, indignado]

E foi justamente na época da colonização que o preconceito racial foi naturalizado, inclusive com o apoio da Igreja.

[Laura]

[tom explicativo]

E mesmo depois de a escravidão ser oficialmente abolida, em 1888, a população negra continuou a sofrer os reveses do racismo.

[Rodrigo]

[tom explicativo]

Sim, por isso precisamos entender que a abolição aconteceu por causa da pressão internacional, principalmente por parte da Inglaterra, e não por uma questão de conscientização social por parte da elite brasileira.

[Laura]

[tom explicativo]

E o problema ainda maior é que ela não veio acompanhada de propostas de reinserção dos negros na sociedade.

[Rodrigo]

[tom explicativo]

Ou seja, não houve qualquer preocupação em inserir a população negra liberta na educação ou no mercado de trabalho. De uma hora para outra, os escravizados estavam livres, mas desamparados pela sociedade.

[Laura]

[tom explicativo]

A ausência de políticas públicas que atendessem aos ex-escravizados contribuiu ainda mais para a marginalização dessas pessoas, que se encontraram sem moradia, sem emprego ou qualquer tipo de estrutura adequada a uma vida digna.

[Rodrigo]

[tom explicativo]

A união e a resistência da população negra para resgatar a identidade e a memória de seus ancestrais, ao longo dos anos, foram fundamentais para a preservação de sua cultura de origem e para o enfrentamento do racismo.

[Laura]

[tom explicativo]

Ainda assim, mesmo após um longo processo de lutas, o racismo continua muito presente em nossa sociedade.

[Rodrigo]

[tom explicativo, indignado]

Um exemplo disso é que, embora os afrodescendentes correspondam a 52% da população brasileira, ainda são raros os casos de negros em cargos de liderança. Assim como ainda é consideravelmente baixa a quantidade de estudantes afrodescendentes nas universidades.

[Laura]

[tom explicativo, indignado]

E não param aí as expressões do racismo. No noticiário, por exemplo, vemos com frequência o tratamento estigmatizado dispensado às pessoas negras. Isso sem contar que essas pessoas são a maioria dos mortos em ações policiais.

[Rodrigo]

[tom explicativo, indignado]

Além disso, é preciso refletir criticamente sobre a representação dos afrodescendentes nos espaços públicos e privados, dando visibilidade às suas vozes e às suas lutas. Eles precisam ser colocados como protagonistas em diversas esferas do cotidiano.

[Laura]

[tom explicativo, indignado]

Sem dúvida. O fato é que são inúmeras as manifestações do racismo estrutural. Por isso precisamos estar muito atentos para detectá-lo e assim combatê-lo.

[Rodrigo]

[tom explicativo, indignado]

Com certeza. Bem, chegamos ao final de mais um episódio. Reflitam sobre as formas veladas de racismo que existem em nosso dia a dia.

[Laura]

[tom de encerramento]

Boa! E aproveitem para conversar com seus colegas sobre como combater a discriminação racial. Até a próxima pessoal!

[Rodrigo]

[tom de encerramento]

Até mais!

[Narrador]

O áudio inserido neste conteúdo é da Incompetech.

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 1.

Reflita sôbre os anúncios publicitários em jornais, revistas e outros meios de comunicação atuais. Em quantos deles aparecem pessoas negras? Por que você acha que isso acontece? Converse com os colegas.

No Brasil, são muitos os problemas sociais a serem enfrentados, como visto anteriormente. Além disso, há ainda outros problemas que devem ser combatidos por toda a sociedade, como o preconceito e a intolerância, os quais provocam situações de racismo, de homofobia e de violência, tanto verbal quanto psicológica ou física.

Preconceito, a base do racismo

De acôrdo com a Constituição de 1988, o racismo é considerado um crime inafiançável e imprescritível, ou seja, não há possibilidade de alívio da pena e o autor do crime pode ser punido pêlo Estado a qualquer tempo. As raízes do racismo no Brasil são antigas, e antes da segunda metade do século vinte, pouco havia sido feito para combatê-lo. Após a abolição da escravidão em 1888, por exemplo, não houve nenhum plano de inclusão social e econômica dos ex-escravizados. Assim, a maior parte da população afrodescendente, além de sofrer discriminação e racismo, não teve acesso à educação e a boas oportunidades de trabalho.

A herança cultural do escravismo continua sendo bastante forte em nosso país, ainda que em alguns momentos ela seja velada. Passados mais de 130 anos desde o fim da escravidão, a população afro-brasileira ainda sofre com os problemas decorrentes do racismo, como a discriminação, a violência e a desigualdade social e econômica.

Fotografia em preto e branco. À esquerda, um menino negro usando chapéu, camisa e calça e uma mulher negra usando vestido. Ao lado, dois homens negros usando chapéu, camisa e calça. Um deles está segurando uma galinha nos braços. À direita, uma mulher negra usando vestido, segurando no colo uma criança negra. Atrás, uma moradia construída com telhas.
Família de ex-escravizados na cidade do Rio de Janeiro, no início do século vinte.

Lutas e conquistas

Atualmente, muitos grupos e organizações do Movimento Negro promovem campanhas para combater o racismo, a discriminação e a intolerância, por meio de projetos de inclusão social, organização de eventos para a conscientização e promoção da cultura africana e afro-brasileira, entre outras medidas.

Fotografia. Pessoas em uma rua segurando uma faixa com o texto: REAJA À VIOLÊNCIA RACIAL. RACISMO É CRIME.
Manifestação contra o racismo em Goiânia, Goiás, em 2020.

Uma organização de forte atuação na atualidade é o Geledés Instituto da Mulher Negra. Criado em 1988, êsse instituto desenvolve projetos com a intenção, entre outras propostas, de valorizar a cultura afro-brasileira e de combater o racismo, o preconceito contra mulheres negras e a exclusão.

O sistema de cotas

Para combater as desigualdades sociais, o govêrno federal sancionou em 2012 a Lei norteº .12711, conhecida como Lei de Cotas, que garante vagas nas universidades e nos concursos públicos para grupos sociais vulneráveis, entre êles, estudantes pobres, oriundos de escolas públicas, além de estudantes negros e indígenas.

O sistema de cotas, como é chamado, é uma medida temporária com o objetivo de corrigir as desigualdades que atingem os grupos discriminados historicamente.

Desigualdade entre homens e mulheres

Em nossa sociedade, milhares de pessoas de diferentes idades sofrem constantemente preconceito e discriminação relacionados ao gênero, nos mais diversos espaços. Por isso, o debate sôbre essas questões é uma importante fórma de combater os problemas gerados pêla desigualdade entre homens e mulheres.

Um dos movimentos cuja principal bandeira é o combate à desigualdade de gêneros é o feminismo, que luta pêla liberdade e pêla igualdade de direitos entre homens e mulheres no Brasil e no mundo.

No Brasil, os movimentos feministas garantiram muitos avanços, como o direito das mulheres ao voto, obtido em 1932. No entanto, ainda existem grandes desafios na luta pêla igualdade de direitos, como a disparidade salarial. De acôrdo com a Organização Mundial do Trabalho, em seu Relatório Global de Salários de 2018, as mulheres no Brasil recebem em média 26% a menos que os homens.

Violência contra a mulher

Atualmente, a violência contra a mulher é reconhecida como um grave problema social. No Brasil, a cada ano aumentam as denúncias de casos de agressões contra as mulheres, com os agressores sendo, na maioria das situações, pessoas próximas às vítimas, como maridos e namorados.

Um marco na defesa das mulheres contra a violência foi a aprovação da Lei norteº .11340, a Lei Maria da Penha, em 7 de agosto de 2006, por meio da qual são considerados crimes todos os tipos de violência contra a mulher (física, verbal, psicológica, entre outras situações). A violência contra a mulher é uma grave violação aos direitos humanos.

Fotografia. Diversas mulheres em uma rua, segurando bandeiras, faixas e cartazes. Ao centro, cartaz com o texto: FEMINICÍDIO.
Manifestantes durante ato de repúdio à violência contra as mulheres, no Dia Internacional das Mulheres, na cidade de São Paulo, em 2020.

Intolerância religiosa

Outro problema que deve ser combatido é a intolerância religiosa, como a que afeta os seguidores das diversas religiões de matriz africana no país, entre elas o candomblé e a umbanda.

A intolerância religiosa muitas vezes leva as pessoas que professam tais religiões a se isolarem ou até mesmo a negar sua identidade cultural para se protegerem.

Para combater essa intolerância, é necessário que todos compreendam a religião como um aspecto cultural importante para muitas pessoas, e que a negação ou a proibição das expressões religiosas fere o princípio constitucional de liberdade de culto.

Fotografia. Diversa pessoas, com roupas brancas, caminhando em uma rua e segurando um cartaz com o texto: CONTRA A INTOLERÂNCIA! PELA LIBERDADE RELIGIOSA.
Caminhada em defesa da liberdade religiosa realizada na cidade do Rio de Janeiro, em 2019.

Homofobia

Homofobia é um dos têrmus utilizados para se referir ao preconceito e à aversão aos grupos inseridos na sigla éle gê bê tê quê i a mais.

Casos de discriminação e violência motivados por homofobia ainda ocorrem com frequência no Brasil. De acôrdo com pesquisas, o país é um dos que registram maior número de crimes por homofobia no mundo. Dessa maneira, para combater esses problemas, grupos e organizações ligados ao Movimento éle gê bê tê quê i a mais buscam promover campanhas de conscientização contra a intolerância e organizam eventos e manifestações exigindo respeito, liberdade e segurança.

Fotografia. À esquerda, um homem usando terno, está sentado, com a mão direita erguida e, com a esquerda, segurando um microfone. Ao lado, uma mulher negra usando vestido. Ela está sentada em um sofá. Seguido mais quatro pessoas sentadas em sofás com o olhar direcionado para o homem com a mão erguida. Atrás, alguns cartazes e fotografias coladas na parede e um telão.
Debate realizado durante o 16º Seminário LGBTI+ do Congresso Nacional, em Brasília, Distrito Federal, em 2019.