UNIDADE 1 Brasil República

Fotografia em tons de sépia. Vista de uma avenida com várias construções. Há diversas pessoas, usando terno e chapéu, caminhando pela avenida e calçadas. Há postes elétricos e alguns carros passando.
Vista parcial da avenida Central, atual avenida Rio Branco, na cidade do Rio de Janeiro, érre jóta, por volta de 1910.
Respostas e comentários

Professor, professora: Pergunte aos alunos se êles sabem o que significa república. Na sequência, explique-lhes que se trata de uma fórma de govêrno em que o poder político é exercido por tempo limitado por representantes eleitos pelos cidadãos.

A foto de abertura da unidade retrata as transformações econômicas e políticas que estavam acontecendo no Brasil desde o final do século dezenove, sobretudo no Rio de Janeiro. A capital federal passava por um período de reformas urbanas, promovidas pêlo prefeito da cidade, Pereira Passos, com o apôio das elites políticas e econômicas e do então presidente da República, Rodrigues Alves. Converse com os alunos sôbre as informações indicadas a seguir.

A avenida apresentada na foto foi inaugurada em 1905, servindo como via de ligação entre o centro e outras regiões da cidade. Em 1912, seu nome foi mudado para avenida Rio Branco.

É possível observar nas calçadas da avenida postes de iluminação elétrica.

É notória a expressiva presença de homens andando na avenida. Naquela época, não era comum ver mulheres em público sozinhas. Além disso, suas vestimentas indicam que pertenciam a grupos sociais favorecidos.

Foram feitos calçamentos e calçadas na rua, propiciando a circulação de automóveis e pessoas.

Há edifícios e veículos automotores, os quais começavam a circular com maior frequência no Rio de Janeiro.

Como uma fórma diferente de iniciar o estudo desta unidade, peça aos alunos, previamente, que pesquisem fotos antigas e atuais dessa avenida da cidade do Rio de Janeiro. êles podem pesquisar imagens de diferentes épocas, desde quando ainda era avenida Central até os dias atuais, momento em que é denominada avenida Rio Branco. Peça que comparem os cenários do passado com os atuais e conversem sôbre as mudanças que verificarem.

A virada do século dezenove para o vinte foi marcada por acontecimentos que determinaram novos rumos para a sociedade brasileira. Foi nessa época, por exemplo, que o Brasil deixou de ser um Império e tornou-se uma República.

Nesta unidade, vamos estudar como a urbanização, as novidades tecnológicas e os ideais de modernidade transformaram o cotidiano de parte da população do país.

Iniciando a conversa

  1. Do século dezenove para o século vinte, várias cidades brasileiras foram modernizadas. Seguindo padrões europeus, as ruas foram ampliadas e pavimentadas, permitindo, assim, a circulação dos primeiros automóveis. Procure identificar esses elementos na foto.
  2. Na avenida retratada, percebe-se a presença predominante de homens. Você sabe por quê? Converse com os colegas sôbre isso.
  3. O que é uma república? Converse com os colegas sôbre as características dêsse sistema político implantado no Brasil no final do século dezenove.

Agora vamos estudar...

  • as transformações que ocorreram no Brasil durante os primeiros anos da República;
  • as principais mudanças econômicas, sociais e culturais vivenciadas pêla população do país nesse período;
  • as mobilizações sociais ocorridas no campo e nas cidades nesse período.
Respostas e comentários

Questões 1 a 3. Respostas nas orientações ao professor.

Respostas

1. É possível identificar a rua larga e pavimentada, os automóveis circulando por ela e os postes de iluminação elétrica.

2. Resposta pessoal. Incentive os alunos a refletir sôbre o porquê de a quantidade de homens ser muito maior que a de mulheres nesse espaço. Leve-os a perceber que, naquela época, as mulheres não costumavam andar sozinhas na rua e, quando frequentavam locais públicos, geralmente o faziam acompanhadas de um homem.

3. Uma República é a fórma de govêrno na qual o povo elege representantes que por êle governem. Permita aos alunos que manifestem seus conhecimentos a respeito do conceito de República e incentive-os a estabelecer relações entre seu significado no passado e no presente. É possível que muitos dos conhecimentos deles sejam relacionados à atualidade.

CAPÍTULO 1 República: os primeiros anos

Desde o final do século dezenove, fatores políticos, econômicos, sociais e culturais acarretaram grandes transformações na sociedade brasileira. Um dêsses fatores foi a expansão da cafeicultura no Brasil. Nessa época, o café tornou-se o nosso principal produto de exportação, o que favoreceu a formação de uma oligarquiaglossário cafeeira na atual Região Sudeste do Brasil.

A Proclamação da República

Nesse período, os grandes cafeicultores buscavam maior participação política e estavam insatisfeitos com o govêrno monárquico. êles criticavam abertamente o imperador dom Pedro dois e defendiam a implantação de uma república no Brasil.

Além disso, com a participação do Brasil na Guerra do Paraguai (1864-1870), o país ficou endividado e o govêrno foi obrigado a tomar empréstimos estrangeiros, o que gerou um aumento dos impostos. Os militares, por sua vez, saíram da guerra com grande prestígio e também passaram a exigir maior participação política.

Assim, com o apôio da oligarquia cafeeira, o marechal Deodoro da Fonseca liderou grupos de militares que simpatizavam com as ideias republicanas e, no dia 15 de novembro de 1889, proclamou a República no Brasil. O país, então, passou a ser governado por um presidente, e não mais por um imperador.

Pintura. Vista de um pátio com várias construções ao redor. À esquerda, diversos soldados segurando canhões e armas. Centralizado, há homens montados em cavalos erguendo chapeús com as mãos.
Proclamação da República, de Benedito Calixto. Óleo sôbre tela, 123,5centímetrospor200centímetros, 1893.
Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

  • Compreender as principais mudanças que ocorreram no Brasil nos primeiros anos da República.
  • Perceber como foi a atuação das oligarquias durante a Primeira República.
  • Analisar as reformas urbanas ocorridas no início do século vinte.
  • Conhecer e analisar as transformações culturais do contexto histórico do final do século dezenove e início do século vinte.

Justificativas

Os conteúdos abordados neste capítulo são relevantes para que os alunos reconheçam a importância do processo de implantação da República brasileira, observando as mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais do período, o que favorece o trabalho com a habilidade ê éfe zero nove agá ih zero um.

Os alunos também conhecerão e analisarão o processo de modernização e urbanização das cidades no período, as transformações culturais cotidianas e as novas propostas artísticas da República, abordagem que contribui para desenvolver as habilidades ê éfe zero nove agá ih zero cinco e ê éfe zero nove agá ih zero nove.

  • A abordagem do contexto político e social da Proclamação da República possibilita o desenvolvimento da Competência específica de História 1. Ao conhecer os interêssis de diferentes grupos, como os dos cafeicultores, é possível entender os mecanismos de poder e como essas relações refletiam nas decisões políticas e sociais do Brasil.
  • Diga aos alunos que o ideal republicano no Brasil manifestou-se já na Colônia, trazido com as ideias iluministas do século dezoito e influenciado pêlas independências tanto dos Estados Unidos como das colônias espanholas no século dezenove. Em movimentos como a Conjuração Mineira já se propunha a instalação de uma República (de Minas Gerais), que, apesar de ampliar direitos de cidadania, não defendia o fim da escravidão. Entretanto, apesar dessas manifestações ao longo da História, foi só na última década do século dezenove que a ideia de derrubar o regime monárquico, substituindo-o pêlo republicano, tomou corpo, principalmente após a Guerra do Paraguai (1864-1870) e impulsionada pêlas crises políticas do período.

A consolidação do poder republicano

Após a Proclamação da República, foi instituído um govêrno provisório (1889-1891) sob a liderança de Deodoro da Fonseca. êsse govêrno tinha como objetivos consolidar o sistema republicano, realizar eleições para presidente da República e convocar uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Constituição.

Principais características da Constituição de 1891

A primeira Constituição republicana foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891 e, entre diversas leis, garantia:

  • maior autonomia às províncias, que passaram a se chamar estados;
  • o sistema presidencialista de govêrno;
  • a divisão dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário;
  • o direito de voto aos cidadãos brasileiros maiores de 21 anos. No entanto, mulheres, analfabetos, pessoas em situação de rua e soldados não podiam votar;
  • a separação entre a Igreja e o Estadoglossário .

O jôgo de poderes

Os protagonistas do processo que levou à Proclamação da República não formavam um grupo coeso. Os militares e os políticos, divididos ideologicamenteglossário entre liberais e positivistas, tinham visões opostas de como organizar o poder.

Os adeptos do modêlo liberal, que esteve na base da Constituição aprovada, desejavam consolidar uma República federativaglossário , em que os estados teriam maior autonomia. Já os que seguiam o modêlo positivista, cuja maioria era de militares, defendiam um tipo de govêrno centralizado e ligado aos ideiais de modernização e de desenvolvimento.

Charge em preto e branco. À esquerda, uma mulher, com chapéu e tecido ao redor do corpo, está de perfil, erguendo com uma das mãos uma coroa de flores e, com a outra, sobre um livro. Ao lado, um homem, com barba, usando farda militar com ombreiras e uma espada na cintura, está segurando um livro com as mãos. Atrás, um homem com bigode usando um terno.
Charge de Angelo Agostini publicada na Revista Illustrada, Rio de Janeiro, érre jóta, em 1890, que representa a “Pátria” recebendo a Constituição das mãos de Deodoro da Fonseca.
Respostas e comentários

Entre as questões (militar, política, social) que abalaram o final da monarquia brasileira, destacou-se também a questão religiosa. Houve um conflito entre o poder imperial e a Igreja católica quando os bispos D. Vital e D. Macedo Costa puniram irmandades que mantinham membros maçons e foram, por isso, presos e condenados a trabalhos forçados pêlas autoridades governamentais. Isso colocou em destaque a instituição do padroado, isto é, um dispositivo da Constituição imperial que dava ao imperador o poder de aceitar ou não decisões papais. A bula papal contra a maçonaria não havia sido aprovada por Pedro dois, pois a maioria das autoridades brasileiras e da elite pertencia a essa organização. Essa crise fortaleceu a proposta da separação total entre Igreja e Estado, uma característica do republicanismo.

Um texto a mais

Para expandir os conhecimentos dos alunos sôbre a implantação da República, leia para êles o texto a seguir.

reticências

Embora proclamado sem a iniciativa popular, o novo regime despertaria entre os excluídos do sistema anterior certo entusiasmo quanto às novas possibilidades de participação. O jornal Voz do Povo, também do Rio de Janeiro, cuja publicação foi iniciada menos de dois meses após a proclamação da República, referiu-se a uma nova era para operário brasileiro trazida pêlo novo regime, comparável à que foi aberta pêla Revolução de 1789. No regime antigo, segundo o articulista do jornal, os operários eram os servos da gleba, a canalha, com todos os deveres e nenhum direito. Agora, eram livres, iguais e soberanos, viam-se colocados na vanguarda do progresso da pátria. E terminava: “Saibamos ser operários e cidadãos de uma pátria livre”. reticências

CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. terceira edição São Paulo: Companhia das Letras, 2004. página 12.

O positivismo no Brasil

O positivismo foi um movimento filosófico que surgiu na Europa no comêço do século dezenove. O principal pensador positivista foi o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857).

Comte afirmava que o verdadeiro conhecimento só poderia ser obtido por meios científicos. Por isso, o positivismo valorizava o pensamento racional e científico, em vez de explicações baseadas na subjetividade das pessoas ou exclusivamente na fé religiosa.

No Brasil, diversos políticos e militares seguiram a ideologia positivista. Seus princípios influenciaram a organização do Estado republicano, como a separação entre a Igreja e o Estado, a garantia da liberdade religiosa e a instituição do casamento civil. Além disso, o lema “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”, criado por Oguíste Comte, inspirou os dizeres da bandeira do Brasil.

Ilustração. Um retângulo verde, dentro, um losango amarelo. Centralizado, um círculo azul com estrelas e uma faixa branca com o texto: ORDEM E PROGRESSO.
Bandeira do Brasil. A influência do positivismo pode ser percebida também na frase “Ordem e progresso”, que aparece na bandeira mostrada nessa imagem.

A primeira eleição presidencial

A primeira eleição presidencial foi realizada excepcionalmente pelos membros do Congresso formado em 1890. Sendo assim, o primeiro presidente da República, Deodoro da Fonseca, não foi eleito pêlo voto direto e popular.

Ao assumir o cargo, Deodoro da Fonseca passou a enfrentar forte resistência dos membros do Congresso, que criticavam duramente o seu conservadorismo e a centralização do poder em suas mãos.

Na tentativa de manter-se no poder, êle dissolveu o Congresso em 3 de novembro de 1891, fato que acarretou muitas reações, como greves e uma revolta militar na Marinha. Impopular e sem apôio político, Deodoro renunciou vinte dias depois da dissolução do Congresso. O vice-presidente, o marechal Floriano Peixoto, assumiu, então, o poder.

Charge em preto e branco. Ao centro, um homem com barba, usando farda militar com ombreiras e espada na cintura, está em cima de um barril, segurando com as mãos dois potes com águas que caem sobre cordas com faíscas que saem do barril.
Charge de Angelo Agostini publicada na Revista Illustrada, satirizando a maneira como Deodoro da Fonseca enfrentou os problemas de sua gestão, Rio de Janeiro, érre jóta, em 1890.
Respostas e comentários

Professor, professora: Ao abordar O positivismo no Brasil, explique para os alunos que a bandeira do Brasil foi criada e instituída após a Proclamação da República.

  • Comente com os alunos que Angelo Agostini (1843-1910) foi um dos maiores artistas a representar com caricaturas as mazelas sociais do Brasil e a fazer críticas ao govêrno republicano entre o final do século dezenove e o início do século vinte. Nascido na Itália, Agostini veio para o Brasil, aos 16 anos, e passou a morar na cidade de São Paulo, onde fundou sua primeira folha ilustrada, chamada O Diabo Coxo. A partir daí, Agostini atuou como ilustrador em diversas revistas e jornais, adquirindo reconhecimento e prestígio por parte dos leitores que acompanhavam seu trabalho. Em 1876, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro e fundou a Revista Illustrada. Uma das personalidades mais representadas nas caricaturas de Agostini nessa revista foi dom Pedro dois.
  • Como representação artística carregada de crítica, as charges foram amplamente utilizadas por artistas do final do século dezenove e do início do século vinte para denunciar a ordem estabelecida, o cenário político e os problemas sociais. Por meio de recursos de linguagem, como a ironia e a sátira, além do traço caricatural das personagens representadas, os artistas demonstravam sua visão sôbre o contexto político e social, publicando suas charges em jornais e periódicos que circulavam no país.

Um texto a mais

A fim de aprofundar os conhecimentos dos alunos sôbre o humor de Agostini, leia para êles o texto a seguir.

reticências

Em 1876, Angelo Agostini fundou a Revista Illustrada, que publicaria durante 22 anos, até 1898. Por opção de seu criador, a publicação buscou se manter independente e livre na produção de textos e ilustrações, contrastando com a postura de seus concorrentes. Dessa fórma, Agostini buscava se manter independente do comércio e poder dirigir suas críticas para onde bem entendesse, exercitando um jornalismo não subordinado a interêssis externos. Assim, êle se sentiu à vontade para acompanhar de perto uma fase crítica da história brasileira, o final do Segundo Império e o comêço da República, colocando-se, inclusive, de maneira crítica em relação a esta última. [...]

VERGUEIRO, Waldomiro. O humor gráfico no Brasil pêla obra de três artistas: Angelo Agostini, jóta. Carlos e Henfil. Revista da úspi, São Paulo, número 88, página 44-45, dezembro/fevereiro 2010-2011.

Democracia para quem?

Embora a nova Constituição Federal tivesse características mais democráticas em relação à anterior, na prática, ela fortaleceu as oligarquias estaduais. Isso ocorreu porque o govêrno de cada estado passou a estabelecer as próprias políticas de cobrança de impostos e as próprias leis, desde que subordinadas à Constituição. Com maior liberdade para fazer uso do govêrno estadual a seu favor, as elites oligárquicas ampliaram ainda mais seu poder político e seu domínio econômico.

Fotografia em tons de sépia. Cinco homens, quatro deles usando terno e cartola, e um usando roupa militar. Alguns estão dentro de um carro aberto, parado em uma rua, e outros em pé, ao lado do carro. Ao fundo, uma criança negra em pé.
Membro da oligarquia paulista acompanhado de um padre e de um policial, no interior do estado de São Paulo em 1903.

O direito das minorias

A Constituição de 1891 garantia o direito de voto a todos os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos, exceto às mulheres, aos analfabetos, às pessoas em situação de rua e aos soldados. As eleições, nessa época, podiam ser facilmente manipuladas, pois o voto não era secreto, o que levou muitas pessoas a votar, sob ameaça, em determinados candidatos ou a vender seus votos em troca de favores ou bens de consumo.

A Constituição também não promoveu avanços nos direitos indígenas. Foram apenas reafirmadas as legislações já existentes, como a Lei Imperial norteº 601 de 1850, que dá ao govêrno o direito de usar terras desabitadas para a colonização dos indígenas.

Com relação aos afrodescendentes, nenhuma política foi criada para garantir sua participação e seu bem-estar social no novo sistema republicano. Após a abolição da escravidão, êsse grupo social continuou desamparado pêla falta de políticas de inclusão.

Fotografia em tons de sépia. À esquerda, um homem negro usando blusão e calça. Ao lado, uma mulher negra, usando um lenço na cabeça, casaco e saia. Eles estão sentados em um tronco. Atrás, uma moradia. Ao redor, árvores.
Foto de ex-escravizados na cidade de Pôrto Alegre, Rio Grande do Sul, por volta de 1900.
Respostas e comentários
  • O assunto tratado no boxe desta página contempla aspectos da Competência geral 1, pois possibilita aos alunos relacionar a Constituição de 1891 com a Constitui­ção atual e analisar o que mudou ou não e o que pode ser melhorado, visando a uma sociedade mais justa e igualitária.
  • O conteúdo aborda aspectos da organização social e política do Brasil, mostrando como o domínio das oligarquias sôbre os povos indígenas e sôbre os ex-escravizados, após 1888, os manteve discriminados e destituí­dos de direitos. êsse conteúdo, assim, possibilita o trabalho com a habilidade ê éfe zero nove agá ih zero oito.
  • O conteúdo relacionado à situação histórica dos ex-escravizados após a abolição, bem como à questão indígena, presente na Constituição de 1891, pode ser abordado na perspectiva do tema contemporâneo transversal Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras. Ao discutir a situação de exclusão social e a ausência de direitos dessas populações, oriente uma reflexão dos alunos sôbre a atualidade, as conquistas efetuadas no último século e a necessidade de continuar lutando contra o preconceito e a discriminação. Comente que alguns dos caminhos para que isso aconteça são a continuidade e a ampliação das políticas afirmativas como meios de garantir o acesso às universidades, por exemplo, que são espaços ainda bastante elitizados.

O poder das oligarquias

Floriano Peixoto governou de maneira autoritária, contrariando todas as fôrças políticas dos diferentes grupos no poder, principalmente dos liberais. êle depôs governadores, suprimiu duramente revoltas civis e militares e adotou medidas rígidas para combater a crise econômica vigente.

No final do mandato de Floriano Peixoto, o civil Prudente de Morais assumiu a pre­sidência, dando início, em 1894, ao período histórico que ficou tradicionalmente conhecido como República Oligárquica, quando o Brasil foi governado por presidentes civis que eram aliados às oligarquias latifundiárias.

Essas oligarquias tinham grande poder econômico e político e, naquela época, influenciavam na escolha dos presidentes da República.

A política dos governadores

Para estabelecer um equilíbrio entre as fôrças políticas regionais e o poder federal, o presidente Campos Sales, eleito em 1898, comprometeu-se a apoiar as oligarquias, favorecendo-as e mantendo seus privilégios, desde que os governadores dos estados garantissem apôio ao presidente da República e a suas decisões políticas. Assim, foi estabelecida a política dos governadores, um acôrdo entre as oligarquias, os governadores dos estados e o poder federal.

Fotografia. Várias pessoas em uma plantação. À esquerda, no primeiro plano, um homem de terno e chapéu. Ao lado, pessoas usando chapéu, camisa, calça, vestido e lenço na cabeça. Elas estão de pé no meio de uma plantação. À direita, dois cavalos puxando uma carroça com algumas sacas.
Imigrantes italianos trabalhando em um cafezal no interior do estado de São Paulo e sendo inspecionados pêlo latifundiário (que aparece de costas e com botas de cano alto, à direita), em 1902.
Respostas e comentários

Analise com os alunos a foto que mostra um momento da colheita de café, em uma fazenda paulista no século vinte. Chame a atenção para o fato de os trabalhadores serem brancos e explique que, desde o final do século dezenove, a mão de obra imigrante, principalmente de italianos, era empregada nas fazendas paulistas. Mesmo livres, a situação dos trabalhadores permanecia penosa no país, pois os salários eram muito baixos, as jornadas muito extensas e não havia nenhuma legislação que protegesse os direitos dessas pessoas. A oligarquia continuava dominando, e apenas as bases da exploração tinham mudado.

A política do café com leite

Muitos governadores tinham o apôio dos grandes proprietários de terras, membros da oligarquia latifundiária. Também conhecidos como “coronéis”, esses latifundiários exerciam considerável poder e influência regional.

Durante as eleições, os coronéis manipulavam os resultados praticando o chamado voto de cabresto. Naquela época, o voto não era secreto e, por isso, era comum que os eleitores votassem nos candidatos indicados pelos coronéis para evitar represálias e também em troca de favores pessoais.

A fôrça política dos coronéis garantia a manutenção no poder dos re­presentantes das principais oligarquias brasileiras.

Charge. Na parte superior, o texto: AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES... 'DE CABRESTO'. À esquerda, uma mulher, usando chapéu, vestido e sapatos com saltos, está de pé. Na barra do vestido, há o texto: SOBERANIA. Ao lado, uma escultura de um vaso. Seguido, um homem, usando óculos, chapéu, casaco e calça. No casaco, há o texto: POLÍTICO. Ele está segurando uma corda presa a um homem com cabeça de equino e usando um terno com o texto: ELEITOR.
Charge de Alfredo Istorni publicada na revista Careta, ironizando o voto de cabresto, Rio de Janeiro, érre jóta, em 1927.

Os estados de São Paulo e de Minas Gerais eram os mais ricos e populosos do Brasil na época. Os paulistas detinham o centro da produção cafeeira; já os mineiros, além de cafeicultores, eram grandes produtores de leite. Para garantir os polegadasteresses das oligarquias, foi estabelecida uma aliança entre o govêrno federal e os representantes dêsses dois estados, que ficou conhecida como política do café com leite (café para se referir aos paulistas e leite, aos mineiros). Com essa aliança, políticos mineiros e paulistas sucediam-se na presidência da República até o final da década de 1920.

Charge. Na parte superior, o texto: Careta. Abaixo, ilustração, dois homens usando chapéu, terno e lenço no pescoço. No chapéu de um, há o texto: SÃO PAULO e, no outro, MINAS. Eles estão de pé sobre um morro. Entre eles, uma cadeira, dourada com almofada vermelha, com o texto: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Abaixo, diversos homens usando chapéu terno e lenço no pescoço, estão com os braços erguidos em direção à cadeira. Na camisa ou no chapéu de alguns, há o texto: ALAGOAS, RIO GRANDE DO SUL, SANTA CATHARINA, MATTO GROSSO, PARANÁ, BAHIA, PERNANBUCO, PARÁ e AMAZONAS.
Charge de Alfredo Istorni publicada na revista Careta, representando a política do café com leite, Rio de Janeiro, érre jóta, em 1925.
Respostas e comentários
  • O conteúdo desta página e a análise das charges de Alfredo Istorni(1881-1966) favorecem o desenvolvimento da Competência específica de História 3, pois recorrem à linguagem visual para auxiliar os alunos a construir suas próprias argumentações e hipóteses sôbre o contexto histórico com base nesses documentos imagéticos específicos.
  • Na primeira charge da página, Istorni, que trabalhou em vários periódicos de grande circulação na época, entre êles as revistas O Malho e Careta, faz uma crítica ao sistema eleitoral do período, satirizando o chamado voto de cabresto. Se necessário, explique que cabresto é um tipo de arreio que pode ser feito de corda ou couro e que serve para controlar a direção de animais, como o cavalo. No caso da charge, o cabresto seria atrelado ao povo, para controlá-lo. Para representar essa situação, Istorni procurou denunciar a relação de subordinação entre os eleitores e os políticos, caracterizando as personagens da charge de acôrdo com o papel de cada uma delas.
  • Já a segunda charge apresenta caricaturas que remetem aos estados de São Paulo e Minas Gerais no alto de um morro e ao lado de uma cadeira, que se relaciona à presidência da República. Os representantes de outros estados, também interessados no poder, tentam alcançar a presidência, mas não conseguem.

Atividade a mais

A fim de aprofundar o trabalho com a leitura da primeira charge, faça uma interpretação em conjunto com os alunos, de fórma pormenorizada, apresentando-lhes os seguintes elementos:

> A soberania do povo é representada pêla mulher. Essa personagem apresenta a urna eleitoral para as outras duas.

> No centro da charge, o homem que simboliza o político parece argumentar com a soberania, enquanto puxa a outra personagem, que está presa a um cabresto.

> Para representar o eleitor, o artista faz uso do zoomorfismo, caracterizando-o metade como humano e metade como animal.

> No caso da charge, a personagem foi representada com cabeça de burro ou mula, denotando sua subordinação ao político, que o traz sob contrôle com um cabresto.

> A charge é intitulada “As próximas eleições... ‘de cabresto’”, que sintetiza a abordagem feita pêlo artista na ilustração.

Glossário

Oligarquia
: nesse sentido, pequeno grupo de pessoas que detém grande poder econômico e exerce forte influência no govêrno para defender os próprios interêssis.
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Estado
: nesse sentido, refere-se à instituição política que administra e governa uma nação.
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Ideologia
: conjunto de ideias ou valores referente a um indivíduo ou grupo.
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República federativa
: é um modêlo de Estado cuja nação é composta de diversos territórios autônomos (com suas próprias leis e govêrno), porém subordinados ao Estado.
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