UNIDADE 6 Os governos militares no Brasil

Fotografia em preto e branco. Vista aérea de uma avenida. À esquerda, várias pessoas enfileiradas. À direita, quatro tanques de guerra.
Militares ocupam rua da cidade do Rio de Janeiro para conter manifestação de estudantes, em 1968.
Respostas e comentários
  • A imagem de abertura da unidade é bastante representativa do período estudado, por retratar um momento em que o Brasil vivia anos de repressão e autoritarismo. Em março de 1968 o estudante Edson Luís de Lima Souto foi morto pêla polícia, desencadeando uma série de protestos que foram reprimidos pêla ditadura.
  • Discuta com os alunos as diferenças entre tratar a instalação da ditadura civil-militar no Brasil como uma revolução ou como um golpe, explicando que o primeiro conceito legitima a retirada de João Goulart do poder e a entrada dos militares, enquanto o segundo têrmu aponta para a ideia de violência e de ilegitimidade da fórma como foi levada a cabo a ascensão do govêrno militar.
  • A foto das páginas de abertura da unidade propõe uma discussão sôbre aspectos da ditadura civil-militar no Brasil, favorecendo a compreensão dos mecanismos de transformação das estruturas políticas, sociais, culturais e econômicas nas diversas partes do país neste contexto, aspectos suscitados pêla Competência específica de História 1.
  • Os temas trabalhados ao longo desta unidade abordam as múltiplas faces do processo de implantação e desenvolvimento da ditadura civil-militar no Brasil entre 1964 e 1985, o que favorece a abordagem de questões vinculadas à habilidade ê éfe zero nove agá ih um nove. Também versam sôbre os movimentos de resistência ao regime militar e as propostas de reorganização da sociedade brasileira no período, aspectos suscitados pêla habilidade ê éfe zero nove agá ih dois zero. Ao discutir as demandas dos grupos indígenas e afrodescendentes ao govêrno instaurado, o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih dois um também é favorecido; e ao identificar as demandas sociais colocadas para a Assembleia Constituinte na elaboração da nova carta constitucional, é possível desenvolver as habilidades ê éfe zero nove agá ih dois dois e ê éfe zero nove agá ih dois três.

A ditadura civil-militar no Brasil foi um período que durou 21 anos. Ela foi marcada por repressão, perseguição e violência contra todos os que fizessem oposição ao govêrno.

Nesta unidade, vamos estudar êsse período, que foi um dos mais sombrios de nossa história. Vamos conhecer também pessoas que, arriscando a própria vida, lutaram contra o autoritarismo do govêrno e defenderam a democracia.

Iniciando a conversa

  1. Em que situação as pessoas retratadas na foto estão envolvidas?
  2. Em sua opinião, como era a vida durante o regime militar no Brasil, entre 1964 e 1985?
  3. Você já presenciou algum tipo de manifestação pública? O que você pensa sôbre isso?

Agora vamos estudar...

  • a consolidação do regime militar no Brasil;
  • a censura, a repressão e a violência dos militares;
  • o “milagre econômico”;
  • os movimentos de resistência à ditadura;
  • a produção cultural entre 1964 e 1985;
  • a redemocratização do país.
Respostas e comentários

Questões 1 a 3. Respostas nas orientações ao professor.

Ao abordar as questões 1, 2 e 3, comente com os alunos que as consequências da ditatura civil-militar eram sentidas em maior ou menor grau a depender do gênero, da classe ou da raça de um indivíduo. É próprio das ditaduras o fato de omitir e encobrir tais questões e, por meio do contrôle propagandista e repressor, passar a impressão de normalidade para a população. Enfatize que por isso há pessoas que, ao falar dêsse período, minimizam a violência e a restrição de direitos e exaltam o chamado “milagre econômico”, as construções faraônicas e uma suposta moralidade estatal.

Respostas

1. Resposta pessoal. As pessoas retratadas na foto estão envolvidas em uma movimentação, em uma rua da cidade do Rio de Janeiro, em meio a civis e militares, no ano de 1968. A rua foi ocupada por tanques e militares.

2. Resposta pessoal. Espera-se que os alunos respondam que a vida de diversas pessoas que viveram nesse período se caracterizou pêla constante restrição aos direitos e à liberdade de opinião e de expressão.

3. Resposta pessoal. Muitas manifestações públicas ocorreram no Brasil nos últimos tempos, como as que aconteceram em junho de 2013, sobretudo na cidade de São Paulo, nos grandes protestos contra o aumento das passagens do transporte público e contra a corrupção. Os jornais televisivos veicularam várias imagens de agressão policial contra os participantes dessas manifestações populares, ocorridas em várias partes do país. Além dêsse episódio, em abril de 2015 professores do estado do Paraná foram agredidos por policiais militares durante uma manifestação em Curitiba, os quais deixaram cêrca de duzentos manifestantes feridos. Fique atento para que as respostas dos alunos não sejam de cunho preconceituoso e não incitem a violência entre a população civil e os militares, por exemplo.


Aproveite a imagem para discutir com os alunos que a implantação de um govêrno ditatorial liderado por militares não foi uma exclusividade brasileira no período, mas sim um movimento pêlo qual passaram vários países da América Latina a partir da década de 1950, como o Paraguai, a Guatemala, a Argentina, o Chile, o Peru e o Uruguai. Se possível, leve imagens que retratem êsse momento da história nesses outros países, identificando semelhanças e diferenças entre elas e o período da ditadura no Brasil.

CAPÍTULO 12 A ditadura civil-militar

No início da década de 1960, o mundo estava dividido em áreas de influência dos Estados Unidos e da União Soviética. Era o período da Guerra Fria.

Nesse contexto, as reformas sociais propostas por João Goulart, então presidente do Brasil, foram vistas como uma ameaça de implantação do comunismo no país.

Para muitos brasileiros, a ideia que se tinha do comunismo era a divulgada pêla propaganda estadunidense, ou seja, de que se tratava de um regime de subversão da moral e dos valores éticos dos cidadãos. Assim, parte da população acreditava que era necessário deter a ameaça comunista e que somente os militares poderiam fazer isso.

Dessa fórma, por meio do golpe de 1º de abril de 1964, João Goulart foi deposto e os militares assumiram o poder.

As reações ao golpe de 1964

Muitas pessoas acreditavam que o golpe de 1964 impediria a “ameaça comunista” e que os militares, em pouco tempo, devolveriam o poder aos governantes civis. Leia o texto a seguir, publicado no jornal O Globo no dia seguinte ao golpe.

reticências Agora é a Nação toda de pé, para defender as suas fôrças Armadas, a fim de que essas continuem a defendê-la dos ataques e das insídiasglossário comunistas. Neste momento grave da História, quando os brasileiros, patriotas e democratas veem que não é mais possível contemporizarglossário com a subversão, pois a subversão partindo do govêrno fatalmente conduziria ao “Putschglossário ” e à entrega do país aos vermelhos, elevemos a Deus o nosso pensamento, pedindo-lhe que proteja a Pátria Cristã reticências.

O GLOBO, 1964 ápud FERREIRA, Jorge; GOMES, Angela de Castro. 1964: o golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. página 347.

Fotografia em preto e branco. No primeiro plano, à esquerda, um soldado de pé em uma rua. Ao lado, uma arma no chão. Atrás, uma fileira de soldados, seguidos de pessoas em uma rua.
Tropas do Exército ocupando as ruas da cidade Rio de Janeiro, após o golpe, no dia 1º abril de 1964.
Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

  • Estudar a consolidação da ditadura civil-militar no Brasil.
  • Analisar os aspectos que marcaram a ditadura no país.
  • Compreender o que foi o “milagre econômico” e suas consequências.

Justificativas

Os conteúdos abordados neste capítulo são relevantes para que os alunos compreendam o processo que levou à implantação da ditadura civil-militar no Brasil, bem como suas principais consequências. A percepção das transformações das estruturas políticas e sociais, dos acontecimentos históricos e relações de poder no país durante a ditadura e os impactos dêste período no mundo contemporâneo permitem o desenvolvimento da Competência específica de História 1.

Por meio da análise de fontes históricas distintas, o aluno poderá compreender a ditadura civil-militar e seus eventos mais significativos, exercitando a empatia, o diálogo e o respeito, desenvolvendo a Competência específica de História 3.

Os alunos também conhecerão e analisarão a ditadura civil-militar brasileira com base em questões relacionadas à memória e à justiça e entrarão em contato com os direitos humanos, discutindo processos de resistência e propostas de organização da sociedade brasileira durante o regime, o que propicia o desenvolvimento das habilidades EF09H19 e EF09H20.

lógo após o golpe, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu provisoriamente o cargo de presidente. No entanto, na prática, o poder era exercido por uma Junta Militar.

Com os militares no poder, muitas pessoas passaram a sofrer com a repressão, com as perseguições e com a violência. Leia a seguir o texto publicado no jornal Correio da Manhã, no dia 12 de abril de 1964.

reticências é claro, evidente, que não será viável coexistirem a autoridade sem limites de uma Junta Militar e o mecanismo de um sistema liberal-democrata. reticências Ou a Nação consegue restaurar sua ordem democrática ou terá que sofrer o jugo de uma ditadura que já se delineia.

reticências

A FACE e o braço. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 12 abril 1964. 1º Caderno, página 6. Disponível em: https://oeds.link/EgrBLr. Acesso em: 1º março 2022.

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 1.

Os textos citados anteriormente apresentam opiniões diferentes sôbre o golpe. Quais são essas diferenças? Justifique sua resposta.

O dia a dia sob a ditadura

Ícone ‘Atividade oral’.

Questão 2.

Por que a liberdade de expressão é importante para uma democracia?

Com a implantação da ditadura civil-militar no Brasil, muitos direitos garantidos pêla Constituição passaram a ser anulados pêlo govêrno.

Naquele período, a liberdade de expressão, por exemplo, não era um direito garantido. Qualquer manifestação crítica ao govêrno, feita em uma reunião de escola, no trabalho ou em qualquer outro lugar público, poderia ser reprimida pêla fôrça policial. A presença de tanques de guerra era comum no dia a dia das grandes cidades brasileiras durante a ditadura.

Fotografia em preto e branco 'A'. No primeiro plano, à direita, um tanque de guerra com um soldado dentro.  Ao fundo, várias pessoas em pé perto de veículos.
Fotografia em preto e branco 'B'. Uma fila de tanques de guerra em uma rua. Ao fundo, viaduto com várias pessoas e edifícios.
Na foto A, tanque de guerra percorre uma rua de Recife, Pernambuco, em 1964. Na foto B, tanques de guerra percorrem uma rua da cidade de São Paulo, no mesmo ano.
Respostas e comentários

Questão 1. Resposta: Espera-se que os alunos percebam que, enquanto o primeiro texto exalta a ditadura e justifica a aplicação do golpe como uma saída para conter o avanço “vermelho” – expressão utilizada para denominar os comunistas –, o segundo tece uma crítica ao regime e à inviabilidade da democracia, que naquele momento estava sob o jugo da ditadura.

Questão 2. Resposta: A liberdade de expressão permite às pessoas que expressem seu posicionamento sobre os mais diversos aspectos de uma sociedade, incluindo ações políticas.* *Assim, ela é importante para que possamos nos informar sobre o que está acontecendo no país e nos ajuda a acompanhar e a nos manifestar a respeito de ações governamentais, exigindo mudanças ou o aprimoramento delas, se for o caso. É importante ressaltar que a liberdade de expressão não inclui manifestações ofensivas, preconceituosas e antidemocráticas.

  • Aproveite a questão 1 para incentivar os alunos a fazer inferências nos textos, com base em alguns indícios presentes nos recursos, identificando, assim, seu conteúdo, o que possibilita também um exercício comparativo. Leve-os a perceber que no primeiro texto há expressões que exaltam o regime, enquanto no segundo são usados têrmus como “autoridade”, “ordem democrática” e ”ditadura”. Por meio dessas inferências e dos conhecimentos prévios sôbre a ditadura civil-militar, os alunos poderão identificar as diferentes abordagens e perceber a ditadura como um período em que houve a prática de tortura e o cerceamento da liberdade de expressão.
  • A situação-problema colocada pêla questão 2 propicia uma reflexão a respeito da importância da liberdade de expressão em nosso dia a dia. Incentive os alunos a imaginar como seria viver em uma sociedade na qual as liberdades fossem cerceadas e onde a censura e a repressão sobrepusessem a autonomia e a autodeterminação dos indivíduos.

Atividade a mais

  • Com o intuito de complementar o estudo sôbre alguns aspectos da ditadura civil-militar no Brasil, como a propaganda do regime e a repressão praticada pelos militares, realize uma atividade com os alunos com base na exibição do filme brasileiro O ano que meus pais saíram de férias, dirigido por Cao Hamburger. Seu enrêdo gira em tôrno de Mauro, um menino filho de militantes de esquerda. Por causa da perseguição empreendida pelos militares, seus pais são obrigados a se afastar dele por um período. Nesse intervalo de tempo, o garoto começa a perceber de outra maneira aquilo que ocorre ao seu redor e a conhecer melhor a realidade do país durante a ditadura civil-militar.
  • Após assistirem ao filme, os alunos deverão realizar pesquisas sôbre três dos temas abordados: o uso do futebol como propaganda do regime, mais especificamente da seleção brasileira durante a Copa do Mundo de 1970; o cotidiano da população civil durante a ditadura; e a repressão e a violência praticadas pelos militares. Depois de realizadas as pesquisas, êles deverão escrever um texto sôbre as semelhanças e possíveis diferenças entre o que pesquisaram e o conteúdo exibido no filme. > O ano em que meus pais saíram de férias. Direção: Cao Hamburguer. Brasil, 2006 (110 minutos).

A consolidação do regime militar

Em 11 de abril de 1964, o Congresso Nacional elegeu o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (1897-1967) como presidente da República.

A partir de então, foram criados os Atos Institucionais (á í’s), decretos de caráter centralizador e autoritário emitidos pelos governantes para garantir a legitimidade do regime militar. Conheça alguns deles.

  • á í-1 (abril de 1964): conferia o poder de cassar mandatos e suprimir direitos políticos dos cidadãos por um período de dez anos. Permitia ao govêrno decretar estado de sítioglossário .
  • á í-2 (outubro de 1965): extinguiu partidos políticos e estabeleceu o bipartidarismoglossário e as eleições indiretas para o cargo de presidente da República.
  • á í-3 (fevereiro de 1966): estabeleceu eleições indiretas para os cargos de governador e de vice-governador.
  • á í-4 (dezembro de 1966): convocou o Congresso Nacional para a elaboração de uma nova Constituição Federal.
  • á í-5 (dezembro de 1968): suspendeu o direito de habeas corpusglossário , regulamentou a censura prévia nos meios de comunicação e deu plenos poderes ao presidente para cancelar direitos políticos, públicos e privados.
Capa de jornal. Na parte superior, o nome do Jornal: Jornal da Tarde. O ESTADO DE S. PAULO. Abaixo, manchete com o texto: BRASIL ENTRA NO 5º ATO. Centralizado, fotografia em preto e branco de soldados sobre um tanque de guerra e, ao lado, um homem inclinado sobre uma mesa. Na parte inferior, as manchetes: CONGRESSO ENTRA EM RECESSO e ENTRE OS PRESOS, JUSCELINO
Reprodução da primeira página do Jornal da Tarde, de 14 de dezembro de 1968, anunciando a implementação do AI-5.

Os mecanismos de contrôle

Nos dias seguintes ao golpe, o govêrno estabeleceu mecanismos para controlar a sociedade, como o á í-1, por meio do qual muitas pessoas tiveram seus direitos políticos cassados, entre elas: Luís Carlos Prestes, que era secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (pê cê bê); o ex-presidente João Goulart, que foi deposto pelos militares.

Em junho de 1964, foi criado pêlo govêrno o Serviço Nacional de Informações (ésse êne i), com o intuito de vigiar e de perseguir os grupos considerados hostis ao regime.

Respostas e comentários

Os conteúdos apresentados nestas páginas permitem aos alunos a interpretação dos significados da criação dos Atos Institucionais e dos acontecimentos históricos presentes na cronologia do período da ditadura civil-militar, enquadrando-se em aspectos da Competência específica de História 2.

Atividade a mais

  • Os Atos Institucionais foram 17 normas criadas entre 1964 e 1969 e usadas como fórma de legitimação das práticas já em vigor pelos governos militares, sendo um instrumento para a legalização de diversas ações extraconstitucionais. Essas normas estavam acima de qualquer outra lei, inclusive da Constituição, tendo sido regulamentadas por 104 atos complementares. Assim como as apresentadas nesta página, outras medidas instituídas também feriam as liberdades dos cidadãos. O á í-13, de 1969, por exemplo, permitia banir do país as pessoas que fossem consideradas ameaças para a nação. Para ter acesso aos textos completos dos 17 Atos Institucionais, visite a página da Legislação Histórica do Palácio do Planalto.
  • Inicie o trabalho com o tema da página apresentando esses Atos aos alunos. Para isso, providencie algumas fotocópias do recurso, organize a turma em grupos e distribua-as entre êles. > Portal da Legislação – Atos Institucionais. Disponível em: https://oeds.link/mvV8Do. Acesso em: 30 março 2022.

Os presidentes da ditadura

Entre os anos de 1964 e 1985, o Brasil teve os seguintes militares na presidência:

  • Humberto de Alencar Castelo Branco, de 1964 a 1967;
  • Arthur da Costa e Silva, de 1967 a 1969;
  • Emílio Garrastazu Médici, de 1969 a 1974;
  • Ernesto Geisel, de 1974 a 1979;
  • João Baptista Figueiredo, de 1979 a 1985.
Fotografia em preto e branco. Em primeiro plano, vários militares segurando armas. Ao centro, uma carroça caída no chão, no meio de um cruzamento. Ao fundo, diversas pessoas. Algumas estão jogando pedras contra os soldados e outras estão correndo..
Confronto entre estudantes e militares na cidade do Rio de Janeiro, em 1968.

Uma cronologia da ditadura civil-militar

Imagem meramente ilustrativa

Gire o seu dispositivo para a posição vertical

Veja na linha do tempo a seguir alguns fatos históricos do perío­do da ditadura civil-militar no Brasil.

Linha do tempo: 1964; 1965; 1967; 1968; 1969; 1973; 1975; 1978; 1979; 1980, 1981; 1983, 1985.

1964 Golpe militar depõe o presidente João Goulart.

1965 á í-2, a ditadura amplia a perseguição aos seus adversários.

1967 Promulgação de uma nova Constituição Federal.

1968 Ocorrem diversas greves de trabalhadores e protestos estudantis. Criação do á í-5.

1969 Sequestro do embaixador estadunidense por grupo de resistência à ditadura.

1973 Com o “milagre econômico”, o Píbi brasileiro alcança o recorde de 14%.

1975 Morte do jornalista Vladimir Erzógui, após ser torturado por militares.

1978 Ocorrem grandes greves na região do á bê cê paulista. govêrno revoga o á í-5.

1979 É sancionada a Lei da Anistia. Ocorrem novas grandes greves no á bê cê paulista.

1981 Atentado no Centro de Convenções Riocentro.

1983 Início do movimento das Diretas Já.

1985 José Sarney se torna o primeiro presidente civil da República desde 1964.

Respostas e comentários
  • Os assuntos apresentados na página buscam desenvolver argumentos que promovam a ética pessoal e coletiva, que respeitem os direitos humanos, baseando-se em fatos e informações confiáveis, por exemplo, e analisando de maneira crítica e reflexiva a criação de mecanismos de contrôle pêlo regime militar para reprimir e perseguir grupos contrários à ditadura, como o Serviço Nacional de Informações (ésse êne i). Essa abordagem favorece o desenvolvimento de aspectos da Competência geral 7.
  • Explique aos alunos que, durante o período da ditadura civil-militar, o ésse êne i era o órgão responsável por investigar e fornecer informações ao govêrno sôbre possíveis atividades ilegais ou clandestinas, vigiando as ações de movimentos sociais, funcionários públicos ou privados, políticos, intelectuais, entre outros. No entanto, a vigilância não partia exclusivamente dêsse órgão. Naquela época, o govêrno estimulava as práticas de delação entre a população. Assim, as pessoas podiam denunciar à polícia possíveis atos considerados “subversivos” e “antipatrióticos”.
  • Faça uma leitura coletiva das informações presentes na linha do tempo, solicitando a cada aluno que leia uma parte, de acôrdo com a ordem cronológica. Aproveite para explorar os conhecimentos prévios dos alunos sôbre êsse tema, questionando-os a respeito daquilo que êles esperam estudar ao longo da unidade e se já conhecem algum aspecto sôbre os assuntos citados no recurso.

Ditaduras militares na América Latina

No contexto da Guerra Fria, diversos países da América Latina se tornaram alvo de disputas entre os blocos socialista e capitalista. Sobretudo após a Revolução Cubana, em 1959, países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, temiam que outros acontecimentos revolucionários semelhantes ocorressem, ameaçando seus interêssis.

Assim, os Estados Unidos, junto a diversos representantes das elites latino-americanas, promoveram uma série de ações que visavam consolidar o capitalismo na América Latina, como a criação da chamada Aliança para o Progresso, que pretendia melhorar os índices econômicos na região ao mesmo tempo que reafirmava a presença dos Estados Unidos e sua vigilância sôbre os possíveis focos de “agitação comunista”.

No entanto, essas ações não impediram o crescimento de grupos de esquerda que buscavam mudanças de ordem social, econômica e política.

A reação conservadora

Ícone ‘Ciências Humanas em foco’.

Em outros países da América Latina, grupos conservadores se articularam para conquistar a opinião pública e ganhar o apôio da população.

Então, entre as décadas de 1960 e 1970, com o apôio das elites industriais e agrícolas e da classe média, os militares promoveram golpes para assumir o poder em diversos países, dando início a regimes ditatoriais.

Fotografia em preto e branco. Centralizado, um homem com cabelos lisos, usando óculos, terno e calça. Ele está de pé em uma porta. Ao redor, homens de terno segurando armas com as mãos.
Presidente chileno Salvador Allende (ao centro) resistindo à invasão do Palácio de La Moneda durante o golpe militar em Santiago, Chile, em 1973.

A Operação Condor

Após a tomada do poder nos diversos países latinos, os militares do Chile, da Bolívia, do Uruguai, do Paraguai, da Argentina e do Brasil promoveram uma aliança que ficou conhecida como Operação Condor. Essa aliança tinha como principal objetivo perseguir as pessoas que eram contrárias às ideias e aos valores defendidos pelos ditadores, formando uma verdadeira rede de informação e repressão entre os países envolvidos.

Respostas e comentários

As temáticas trabalhadas neste boxe analisam e descrevem alguns dos governos ditatoriais da América Latina contemporâneos à ditadura brasileira, apresentando seus procedimentos, em nível local e internacional, e apontando para os movimentos de contestação surgidos. Além disso, por meio dessas temáticas, é possível realizar um exercício de comparação das características principais destas regimes, atentando para os processos opressivos, de censura e de utilização da fôrça, além das transformações econômicas e sociais que realizaram. Essa abordagem contempla aspectos das habilidades ê éfe zero nove agá ih dois nove e ê éfe zero nove agá ih três zero, respectivamente.

Ícone ‘Ciências Humanas em foco’.
  • O conteúdo desta página  explora aspectos da Competência específica de Ciências Humanas 5, pois, ao demonstrar as condições históricas e sociais que deram ensejo às ditaduras na América Latina, situando as interferências internacionais, a exemplo dos Estados Unidos, êle possibilita aos alunos comparar eventos ocorridos em tempos e em espaços diferentes, mobilizando, assim, conhecimentos dos componentes curriculares de Geografia e de História.
  • Explique aos alunos que o conceito de regime pode ser usado para se referir a diversos tipos de govêrno, pois êle é empregado como um modo de classificá-los, considerando a maneira como um conjunto de instituições políticas exerce seu poder sôbre a sociedade e conduz as atividades do estado. Por êsse motivo, podem existir regimes democráticos ou regimes autoritários, como é o caso do regime que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Por se tratar de um período que teve início com um golpe militar e em que houve cerceamento das liberdades individuais, perseguições e atos de violência contra os opositores do regime, inclusive com o apôio de uma parcela da sociedade civil, êsse período é conhecido como ditadura civil-militar. O texto a seguir aprofunda essa questão.

Um texto a mais

[...]

A ditadura instalada em 1964 perdurou até 1985. Muitos naquela época não planejavam que o regime autoritário durasse tanto tempo. [...]

Mas por que permaneceram no poder por 21 anos? Além da ajuda dada pelo govérno americano (o Brasil era visto como o principal aliado dos Estados Unidos na América do Sul) para benefício das multinacionais, houve outro fator mais determinante: a ditadura contou com o apoio de inúmeros setores da sociedade civil.

O suporte social ao autoritarismo foi fornecido por empresários, latifundiários, banqueiros, apoiadores do capital internacional, interventores dentro dos sindicatos, profissionais liberais da classe média, setores da igreja Católica e grande imprensa.

Portanto, não se pode chamar êsse período apenas de ditadura militar, mas sim de ditadura civil-militar, para deixar claro que o autoritarismo não estava somente no poder do Estado. Encontrava-se enraizado nas empresas, escritórios, sindicatos controlados por interventores, famílias, escolas e setores da grande imprensa.

MORAES, Mário Sérgio de. 50 anos construindo a democracia: do golpe de 64 à Comissão Nacional da Verdade. São Paulo: Instituto Vladimir Erzógui, 2014. página 62-63.

A violência dos regimes militares

As ditaduras que se estabeleceram no continente utilizaram vários métodos violentos para reprimir a população, como perseguições políticas, censura nos meios de comunicação, prisões, exílios e tortura.

Nesse período, muitas pessoas desapareceram ou foram mortas pêlo regime militar.

Fotografia em preto e branco. Ao centro, dois soldados segurando nos braços de uma mulher usando vestido. Ao lado, outra mulher conversa com os soldados. Ao fundo, um camburão e edifícios.
Repressão policial em manifestação contra a ditadura uruguaia (1973-1985), em Montevidéu, Uruguai, em 1984.

A resistência às ditaduras

Por um breve período, houve um crescimento econômico em alguns países da América Latina, promovido principalmente pêla ajuda financeira dos Estados Unidos. Porém, êsse crescimento econômico beneficiou principalmente as elites e não promoveu a melhoria das condições de vida das camadas mais pobres.

Essa situação, aliada à escalada da violência causada pelos militares, favoreceu o surgimento de grupos armados que lutaram contra a ditadura, como o Movimento 14 de Maio (M-14) e a Frente Unida de Libertação Nacional (Fulna), no Paraguai, mas também grupos de mobilização social, como as Mães da Praça de Maio, na Argentina, que buscam informações sôbre seus filhos e filhas desaparecidos durante a ditadura e promovem, até os dias atuais, ações pelos direitos humanos, pêla conscientização política, igualdade de direitos entre mulheres e homens, entre outros.

Fotografia. No primeiro plano, mulheres segurando fotografias de pessoas e um cartaz grande, com o texto: 30.000 COMPANEROS DETENIDOS DESAPARECIDOS. PRESENTE!!! AHORA Y SIEMPRE. Ao fundo, vários edifícios.
Mães da Praça de Maio durante manifestação, em Buenos Aires, Argentina, em 2021.
Respostas e comentários
  • O conteúdo da página discute os diversos casos de violência ocorridos nos regimes ditatoriais da América Latina e as fórmas de resistência à ditadura que surgiram nos países latino-americanos, apresentando questões ligadas às habilidades ê éfe zero nove agá ih dois nove e ê éfe zero nove agá ih três zero.
  • Além disso, tais temas permitem ao aluno compreender o contexto histórico vivido pêla América Latina por volta da década de 1960, em que valores e ideais conservadores se fortaleceram entre os grupos militares, classe média e elites industriais e agrícolas, possibilitando que diversos golpes ditatoriais se instalassem em vários países latino-americanos e modificassem as estruturas políticas, sociais e econômicas dessas sociedades. Abordados nessa perspectiva, é possível desenvolver aspectos da Competência específica de História 2, permitindo ao aluno relacionar criticamente e problematizar processos históricos ocorridos simultaneamente em diversos espaços. Do mesmo modo, é possível contemplar aspectos da Competência específica de Ciências Humanas 5, ao comparar eventos ocorridos em temporalidades próximas e em espaços variados.

Os “anos de chumbo” no Brasil

Em março de 1967 foi criada a Lei de Segurança Nacional, que tinha como objetivos principais impedir o suposto avanço do comunismo e reforçar a segurança interna do país para garantir o desenvolvimento nacional. Assim, era dever do Estado vigiar e reprimir os conflitos sociais internos que pudessem desestabilizar a nação.

Na prática, essa lei aumentou o poder dos militares, que passaram a reprimir sistematicamente, em nome da segurança nacional, os diversos setores da sociedade insatisfeitos com o regime.

Com a Lei de Segurança Nacional, junto à promulgação do á í-5, em 1968, o govêrno dispunha de todo o aparato necessário para vigiar e punir pessoas de diversos grupos sociais, dando início a um período da ditadura que ficou conhecido como “anos de chumbo”.

Fotografia em preto e branco. Diversos tanques de guerra enfileirados em uma rua. Ao redor, soldados e algumas pessoas.
Fila de tanques de guerra mobilizados para impedir uma manifestação estudantil na cidade do Rio de Janeiro, em 1968.

A censura

Com o estabelecimento da Lei de Imprensa, em 1967, e da censura prévia, em 1968, muitos meios de comunicação passaram a ser censurados diretamente pêlo govêrno. Qualquer conteúdo que pudesse ser considerado subversivo ou que divulgasse uma imagem negativa do govêrno poderia ser censurado.

Muitos jornais e revistas tiveram os conteúdos censurados. A censura atingia também peças de teatro, letras de canções, filmes e documentários.

Charge. À esquerda, um homem sentado em uma mesa. Os olhos e o bigode têm formato de uma tesoura. Acima o texto: A CENSURA TIVÊ! Ao lado, um homem com orelhas grandes e sons de notas musicais passando pelos ouvidos. As orelhas e a gravata têm formato de uma tesoura. Acima, o texto: A CENSURA TI OUVE. À direita, um homem com o corpo no formato de uma tesoura ao lado de um homem pequeno segurando um papel. O homem com corpo de tesoura diz: O SENHOR SABE COM QUEM TÁ FALANDO?!!! Abaixo, o texto: A CENSURA TICALA.
Tirinha de Carlos Jorge Guidacci, publicada no jornal O Pasquim em 1975, ironizando a censura durante a ditadura civil-militar.
Respostas e comentários
  • A discussão proposta acêrca da Lei da Segurança Nacional e da instituição da censura permite a identificação e a compreensão dos elementos que garantiram o fortalecimento do regime ditatorial no Brasil, de modo a apresentar a emergência de algumas das questões relacionadas à violação dos direitos humanos, abordando aspectos da habilidade ê éfe zero nove agá ih um nove.
  • O conteúdo da página permite o desenvolvimento da Competência específica de História 4, uma vez que apresenta a reação do regime militar contra aqueles que se posicionaram de maneira adversa ao govêrno. Identificar essas visões contrárias na arte, na música, nos filmes, nos documentários e nas peças de teatro, sendo duramente censuradas e reprimidas pêlo regime, permite que o aluno se posicione de maneira crítica em relação aos regimes ditatoriais.

A repressão

No ano de 1970 o govêrno criou o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (dói códi), órgão responsável pêla repressão sistemática e captura dos opositores do regime.

Os integrantes do dói códi realizavam prisões e interrogatórios de muitas pessoas usando tortura física e psicológica para obter informações. Nesses interrogatórios, as vítimas ficavam suscetíveis aos mais terríveis traumas, decorrentes de agressões como afogamentos, choques elétricos e mutilações.

Por causa dessa violência que sofreram, várias pessoas morreram nas dependências dêsse órgão. A verdadeira causa das mortes geralmente era ocultada ou justificada com a emissão de certidões de óbito forjadas ou com falsas alegações de fuga ou de resistência armada.

Houve, ainda, a morte de várias pessoas consideradas desaparecidas pêlas autoridades, mas que foram sepultadas em valas coletivas; outras vítimas tiveram a identidade trocada pelos militares para dificultar o reconhecimento dos corpos.

A morte de Vladimir Erzógui

Em 25 de outubro de 1975, o jornalista da tê vê Cultura de São Paulo Vladimir Erzógui compareceu à séde do dói códi, em São Paulo, para atender a uma intimação e esclarecer sua suposta ligação com o Partido Comunista Brasileiro.

No mesmo dia, após ser intensamente torturado, Vladimir Erzógui morreu. Na versão oficial dos militares, que incluía um laudo médico falso, uma carta de confissão e uma cena forjada registrada em foto, o jornalista havia cometido suicídio na cela em que estava.

No entanto, essa versão foi contestada por muitas pessoas. Assim, com enorme comoção e revolta, cêrca de 8 mil pessoas reuniram-se no dia 31 de outubro de 1975 em frente à catedral da Sé, na cidade de São Paulo, onde foi realizada uma missa ecumênica para Erzógui. Essa mobilização foi uma das primeiras grandes manifestações populares contra a ditadura civil-militar desde a promulgação do AI-5.

Fotografia em preto e branco. Diversas pessoas em uma rua, na frente de uma igreja com duas torres. Ao redor, diversos prédios.
Missa ecumênica em memória de Vladimir Herzog, na cidade de São Paulo, em 1975.
Respostas e comentários
  • Explique aos alunos que, em 4 de julho de 2018, o Estado brasileiro foi condenado pêla côrte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pêla falta de investigação, julgamento e punição dos responsáveis pêla tortura e assassinato do jornalista Vladimir Erzógui. O tribunal internacional também responsabilizou o Estado pêla violação ao direito dos familiares de Erzógui de conhecer a verdade sôbre o caso.
  • Ao ter conhecimento da criação dos órgãos de repressão e da maneira como atuavam com aqueles que resistiam à ditadura, assim como da repercussão internacional do caso Vladimir Erzógui, os alunos podem expressar sentimento e dúvidas em relação ao contexto, podendo desenvolver resoluções e reflexões críticas com base no respeito e acolhimento dos grupos reprimidos e traumatizados pêlas torturas físicas e psicológicas a que foram submetidos. Por meio dessa abordagem, é possível desenvolver aspectos da Competência específica de Ciências Humanas 4, promovendo a valorização da diversidade.

Glossário

Insídia
: cilada, traição.
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Contemporizar
: estar de acôrdo.
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Putsch
: palavra de origem alemã que significa “golpe de Estado”.
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Bipartidarismo
: estabelecia a existência de somente dois partidos, a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (ême dê bê).
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Estado de sítio
: situação que suspende os direitos individuais e dá plenos poderes às fôrças policiais em casos de conflito.
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Habeas corpus
:medida judicial que visa garantir a liberdade de pessoas que foram aprisionadas por atos injustificados ou por abuso de autoridade.
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