Os relatos de tortura

Durante o regime militar, a tortura foi utilizada de fórma sistemática pêlo govêrno para obter informações e confissões dos presos políticos e para intimidar os movimentos de oposição. Os métodos empregados afetavam profundamente a dignidade humana e envolviam ameaças psicológicas, violência sexual e outros tipos de agressão. Leia a seguir alguns depoimentos.

reticências Sofri a seguinte tortura: tortura psicológica, eu era mantido em vigilância durante a noite para ouvir os sons dos presos comuns que eram torturados na madrugada, porque não podiam fazê-lo de dia, quando havia imprensa. Ameaças de morte constante, ameaças de tortura constante, ofensas, chantagens reticências.

Raul Ellwanger (ex-militante da Vanguarda Armada Revolucionária). Tomada de depoimento. Comissão Nacional da Verdade. Pôrto Alegre, 2013, página 3. Disponível em: https://oeds.link/C4VIbW. Acesso em: 2 março 2022.

reticências E aí fui aguentando, desmaiava, ia pra cela. Nessa ocasião o dói códi tava superlotado, tinha muita gente deitada no chão no corredor, todo mundo machucadíssimo e êles me levavam entre uma sessão e outra de tortura, os intervalos eram muito pequenos, era mais tortura do que intervalo reticências.

Vânia Amoretty Abrantes (ex-militante política). Tomada de testemunho. Comissão Nacional da Verdade. Rio de Janeiro, 2014, página 14. Disponível em: https://oeds.link/ly63XH images/pdf/depoimentos/vitimas_civis/Vania_Amoretty_Abrantes.pdf. Acesso em: 24 março 2022.

Fotografia. Destacando as mãos de diversas pessoas em uma rua segurando cartazes e fotografias em preto e branco do busto de pessoas. Entre elas, há uma placa com o texto: DEMOCRACIA.
Manifestantes participando de ato em memória das vítimas do regime militar, na cidade de São Paulo, em 2019.
Respostas e comentários

O conteúdo favorece o desenvolvimento de aspectos da Competência específica de Ciências Humanas 1 e da Competência geral 9, pois, ao ler os relatos de tortura no regime militar e ao refletir criticamente sôbre a imagem de manifestantes expondo cartazes com fotos de pessoas mortas pêlo regime, os alunos poderão compreender a si e aqueles que relataram os horrores sofridos como identidades diferentes, exercendo, portanto, a empatia e o respeito, promovendo os direitos humanos a todos e conscientizando-os da necessidade de se opor a qualquer ideologia que pregue a tortura ou o abuso de poder.

O “milagre econômico”

Durante o período da ditadura, uma nova política econômica, idealizada pêlo então ministro da Fazenda, Delfim Netto, impulsionou a economia do país, fato que ficou conhecido como “milagre econômico”, entre os anos de 1968 e 1973.

O govêrno incentivou a entrada de empresas multinacionais no país com a isenção de alguns impostos, concedeu créditos a empresários e controlou os reajustes salariais dos trabalhadores com o arrocho salarial, prática que consiste em efetuar ajustes nos salários com índices abaixo dos da inflaçãoglossário . Essa medida favoreceu os empresários, pois o dinheiro que deveria ser investido na melhoria dos salários era aplicado em suas empresas, aumentando a produção.

Essa nova política favoreceu principalmente os grandes empresários vinculados aos setores da construção civil, da agropecuária e do automobilismo, que passaram a produzir também para o mercado externo.

Com isso, as classes de maior poder aquisitivo e que eram atreladas a esses setores puderam ter ganhos ainda maiores. O Produto Interno Bruto (Píbi) — índice que calcula a soma de todas as riquezas produzidas no país em determinado período — atingiu 14% em 1973, um dos maiores registrados no Brasil.

O outro lado do “milagre”

O fato de o “milagre econômico” favorecer a população de maior poder aquisitivo era defendido por Delfim Netto, que dizia que “antes era preciso crescer o bôlo para depois dividi-lo”. Porém, a “divisão do bôlo” nunca ocorreu.

Houve grande concentração de renda nas mãos dessas camadas mais ricas da sociedade, além de elevação no custo de vida. Essa situação, aliada à política de arrocho salarial dos trabalhadores, diminuiu o poder de compra das camadas mais pobres da sociedade dia após dia, aumentando as desigualdades sociais.

Fotografia em preto e branco. Diversos veículos da mesma marca e modelo enfileirados e um pátio, um do lado do outro.
Automóveis fabricados no Brasil sendo embarcados no Pôrto de Santos, São Paulo, com destino a países da África, em 1974.
Respostas e comentários
  • É importante abordar compreensões diferentes sôbre o chamado “milagre econômico”. Para aqueles com maior poder aquisitivo, foi um período positivo e favorável, porém, para as camadas mais pobres, foi um período negativo, pois houve uma concentração de ganhos entre os grupos mais elitizados, aumentando as desigualdades sociais. Explique aos alunos que o processo significou arrocho salarial e diminuição do poder de compra da população trabalhadora, ao mesmo tempo que ocorreu a entrada de empréstimos estrangeiros e investimento no setor industrial. Assim, com essa abordagem, pode-se abranger a Competência específica de História 4, permitindo ao aluno a identificação das diversas interpretações de um mesmo contexto por diferentes sujeitos históricos.
  • Explique para os alunos que a euforia do “milagre econômico” teve fim em decorrência de uma série de motivações internas e externas. A partir do último ano do govêrno Médici (1974), o preço internacional do petróleo triplicou em razão da crise envolvendo israelenses e árabes. Como o Brasil importava cêrca de 80% do petróleo utilizado no país, a inflação aumentou ainda mais, causando um déficit na balança comercial. A partir de então, os investimentos no país (tanto internos como de capital estrangeiro) decaíram significativamente, prejudicando o avanço dos anos posteriores. Entre 1974 e 1979, o Píbi cresceu aproximadamente 6,5% ao ano – muito longe dos 14% de crescimento de 1973. Com isso, a geração de empregos diminuiu e o valor de compra do brasileiro também, o que reduziu o mercado interno e prejudicou as empresas nacionais.

Os estudos sôbre a ditadura

Após mais de 60 anos do golpe civil-militar no Brasil, muitos historiadores e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento ainda buscam compreender melhor êsse período, considerado um dos mais violentos da nossa história.

Ao longo dos anos, muitas pesquisas e entrevistas foram realizadas e vários depoimentos foram coletados e registrados, ampliando cada vez mais as fontes disponíveis para os estudos a respeito da ditadura civil-militar no Brasil.

Uma das obras que se destacam nesse aspecto foi publicada pêla professora e cientista política Maria Celina D’Araujo, que, junto de seus colegas Gláucio Soares e Celso Castro, coletou e organizou relatos de militares que articularam o golpe de 1964 e participaram dos governos militares entre 1964 e 1985.

êsse trabalho deu origem a um livro, lançado em 1994, com o título Visões do golpe: 12 depoimentos de oficiais que articularam o golpe militar de 1964. Essa obra apresentou de fórma sistematizada a voz e a visão dos militares sôbre o regime militar no Brasil.

Leia alguns trechos a seguir.

Relato concedido pêlo General Otávio Pereira da Costa em 1992, trata dos principais motivos que, na visão dele, levaram ao golpe de 1964.

reticências

Basicamente, a Revolução se fundamentava no anticomunismo exacerbado, que vinha de 1935. Partia-se da convicção de que estava em marcha uma tentativa de socialização e que o agente dessa socialização era o presidente Goulart. reticências Considerava-se que as grandes ameaças estavam nas Ligas Camponesas, reticências no projeto da república sindicalista atribuído ao Goulart e, por tudo isso, Goulart e Brizola eram os grandes inimigos a combater. reticências

D’ARAUJO, Maria Celina; SOARES, Gláucio Ary Dillon; CASTRO, Celso. Visões do golpe: 12 depoimentos de oficiais que articularam o golpe militar de 1964. 3. edição Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. página 87.

Fotografia em preto e branco. No primeiro plano, vários homens de costas, segurando chapéu com as mãos. Eles estão olhando na direção de uma construção com o texto: SAPATARIA POPULAR e MERCEARIA STA. TEREZINHA.
Sindicalista Francisco Raimundo da Paixão fala aos trabalhadores rurais, em Governador Valadares, Minas Gerais, em 1964.
Respostas e comentários
  • O tema trabalhado neste boxe favorece o desenvolvimento de aspectos da Competência específica de História 4, uma vez que, com base nos conteúdos desenvolvidos, os alunos poderão identificar a existência de diferentes visões sôbre a ditadura civil-militar.
  • A atuação da sociedade civil foi bastante determinante para a efetivação do golpe. Relembre os alunos das chamadas Marchas da Família com Deus pêla Liberdade – abordadas na unidade 4 dêste volume –, cujos manifestantes protestavam contra a “ameaça comunista”, a qual julgavam representar o govêrno de João gulár.

Relato do Coronel Adyr Fiúza de Castro, em 1993, sôbre as divergências dos militares quanto ao projeto político do Brasil após a tomada do poder, em 1964.

reticências

Na preparação para o golpe de 64, todos os grupos eram unânimes em saber o que não queriam: não queriam uma república popular instalada no Brasil. Quanto aos que queriam, aí divergiam muito. Mesmo no interior de cada grupo havia grandes divergências. Uns queriam apenas afastar Goulart e sua turma. Outros queriam instalar realmente um regime forte, ditatorial, que limpasse a sociedade e impedisse de uma vez por todas que o país voltasse àquele estado. Naquele tempo havia uma confusão tremenda, uma indisciplina muito grande. O principal motivo que unia todos os grupos conspiratórios, embora um desconfiando do outro, era afastar a hipótese do Brasil se transformar numa república sindicalista ou popular ou o que seja. Isso era comum. Mas essas duas grandes correntes não tinham muito bom entrosamento. Ou aliás, não tinham quase nenhum. reticências

D’ARAUJO, Maria Celina; SOARES, Gláucio Ary Dillon; CASTRO, Celso. Visões do golpe: 12 depoimentos de oficiais que articularam o golpe militar de 1964. 3. edição Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. página 143.

Fotografia em preto e branco. Ao centro, homens usando terno e subindo uma rampa. Ao redor, soldados segurando armas.
Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco subindo a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, Distrito Federal, ao tomar posse como presidente da República em 15 de abril de 1964.

Os estudos e pesquisas sôbre a ditadura civil-militar no Brasil até hoje são muito importantes para que possamos compreender cada vez mais a fórma como as ditaduras (e também as democracias) funcionam no Brasil. O trabalho realizado com ética e rigor científico de historiadores, sociólogos, filósofos e outros intelectuais é fundamental no processo de construção de um conhecimento cada vez mais acessível e significativo para compreendermos a nossa história e a nossa realidade.

Agora, responda às questões a seguir.

Ícone ‘Atividade oral’.

1. Qual é a importância do trabalho realizado pêla professora Maria Celina D’Araujo e por seus colegas sôbre a ditadura civil-militar no Brasil?

Ícone ‘Atividade oral’.

2. Qual é a importância dêsses relatos para o estudo da História?

Respostas e comentários

1. Resposta: O trabalho dela e de seus colegas levantou informações inéditas sôbre o tema da ditadura civil-militar no Brasil, favorecendo uma melhor compreensão do período e a ampliação de fontes históricas.

2. Resposta: Os relatos são fontes históricas privilegiadas, pois permitem que conheçamos a fala de diferentes sujeitos históricos em determinados tempo e lugar.

As questões trabalhadas nesta página permitem o desenvolvimento da Competência específica de História 6, pois, ao refletir sôbre o papel dos estudos e pesquisas sôbre a ditadura civil-militar, os alunos poderão problematizar os conceitos e procedimentos da produção historiográfica.

Um texto a mais

O texto a seguir apresenta o estudo realizado pêlo historiador Marcos Napolitano, indicando, entre outras coisas, o projeto político dos militares, após a tomada do poder em 1964.

reticências

O regime evitava desencadear uma repressão generalizada, à base de violência policial direta e paralegal, como aquela exigida pêla extrema direita militar, sobretudo contra artistas, intelectuais e jornalistas. Os ideólogos e dignitários mais consequentes do govêrno militar sabiam que não seria possível governar um país complexo e multifacetado sem se apoiar em um sistema político com amplo respaldo civil, e com alguma aceitação na sociedade, principalmente junto à classe média que tinha sido a massa de manobra que legitimara o golpe “em nome da democracia”. Mas também não podia permitir dissensos e críticas diretas à “Revolução de 64”, sob pena de perder o apôio dos quartéis. Até que uma nova ameaça pudesse servir de justificativa ao endurecimento da repressão, o govêrno militar tinha que equilibrar o frágil consenso golpista e a unicidade militar, além de acalmar os cidadãos que não aderiram ao golpe, permitindo-lhes certa liberdade de expressão. O fato é que esta política de equilíbrio, mantida nos primeiros anos do regime, não ameaçava os objetivos fundamentais da revolução: acabar com a elite reformista de esquerda e centro-esquerda, dissolver os movimentos sociais organizados e reorganizar a política de Estado na direção de uma nova etapa de acumulação de capital.

reticências

NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2015. página 71.

Investigando fontes históricas

O antes e o depois da censura

Após a instauração do AI-5, a censura se intensificou no Brasil, restringindo cada vez mais a liberdade de expressão. O contrôle dos órgãos de censura sôbre os meios de comunicação passou a exigir que notícias e textos literários ou científicos fossem avaliados antes de sua publicação. Nos casos em que os conteúdos criticassem ou transmitissem uma imagem negativa do govêrno, êles eram censurados.

As ações restritivas dos censores atingiam a imprensa, o teatro, a música, a teledramaturgia, a literatura, as artes plásticas, entre outros. Observe a análise a seguir de uma página de jornal antes e depois de passar pêla censura.

Na página a seguir havia, originalmente, uma notícia com o título “A defesa da liberdade de imprensa não é solitária”, tema considerado subversivo pêla censura. Observe que, no acervo do jornal, a imagem da página aparece com a inscrição “CENSURADA”.

Jornal. Na parte superior, o texto: CENSURADA. Abaixo, a manchete. Júlio Mesquita Neto recebe Pena De Ouro. Seguido, um trecho destacado de uma reportagem com o texto: A defesa da liberdade de imprensa não é solitária.
Página do jornal O Estado de Sulponto Paulo, antes de ser censurada, escrita para ser publicada no dia 4 de setembro de 1974.

Em alguns casos, como fórma de protesto, os jornais colocavam outras informações no lugar da notícia censurada, como receitas culinárias e poemas. Nesse caso, foi colocado um trecho da obra Os Lusíadas, do poeta Luís Vaz de Camões (1524-1580).

Jornal. A manchete. Júlio Mesquita Neto recebe Pena De Ouro. Seguido, um trecho com o texto: Os Lusíadas, Canto Primeiro.
Página do jornal O Estado de Sulponto Paulo, após censura, publicada no dia 4 de setembro de 1974.
Respostas e comentários

Objetivos

  • Compreender o modo como se deu a censura na imprensa após a instauração do á í-5.
  • Reconhecer as maneiras como os aparelhos de repressão do Estado censuravam as produções culturais da época da ditadura.
  • Reconhecer a análise de fontes históricas como um método que contribui para a tomada de decisões cientificamente informadas.
  • A análise da página de jornal, bem como do texto proposto nesta seção, possibilita aos alunos reconhecer e refletir a respeito da censura sistematizada pêlo govêrno no contexto da ditadura civil-militar, favorecendo o exercício do pensamento histórico com base no método científico, tendo em vista a evidência demonstrada por ambas as fontes e contribuindo para evitar, assim, uma visão parcial ou enviesada dos significados da ditadura.
  • Ao tratar sôbre a epidemia da meningite e os subterfúgios do govêrno militar em esconder da população o que estava ocorrendo, o texto “A epidemia do silêncio” contribui para que os alunos reflitam e reconheçam o valor do desenvolvimento promovido pêla ciência no combate a diversas doenças, além da importância da ampla divulgação de casos como êsse pêlo poder público, a fim de alertar a população sôbre os cuidados necessários para se combater doenças e evitar sua proliferação. O texto propicia também o fortalecimento do método científico nas análises históricas face à pseudociência e ao alastramento de informações falsas, tanto no contexto da ditadura civil-militar quanto na atualidade.

Um texto a mais

sôbre a epidemia de meningite durante a ditadura civil-militar no Brasil, leia o texto a seguir.

reticências

Assim, sem nenhum conhecimento da doença, seus sintomas e como evitá-la, ela foi se espalhando. Na cidade de São Paulo saiu das áreas pobres e invadiu as regiões mais ricas. Da mesma maneira, a epidemia, inicialmente, restrita à cidade de São Paulo, avançou para outras regiões e depois para o restante do Brasil. A palavra epidemia não chegava à população. Ela não existia no vocabulário das autoridades. êles tratavam-na como ondas pandêmicas. Porém, ao atingir a população mais abastada financeiramente, a pressão cresceu. As reportagens sempre em off intensificaram-se à medida que a doença ia se aproximando da classe média e da elite. Ou seja, enquanto era doença de pobre, não tinha quase importância. Só ganhou mais espaço na mídia quando atingiu a população com maior poder de pressão.

reticências

xinaidêr, Catarina Menezes; TAVARES, Michele; MUSSE, Christina. O retrato da epidemia de meningite em 1971 e 1974 nos jornais O Globo e Folha de S.Paulo. RECIIS Rev. Eletrônica Comum. Infponto Inovponto Saúde, volume 9, número 4, 2015, página 8. Disponível em: https://oeds.link/LuEx00. Acesso em: 11 maio 2022.

Um caso emblemático de censura no período da ditadura ocorreu com a epidemia de meningite que atingiu o Brasil na década de 1970. Preocupados com a imagem do govêrno, os militares tentaram esconder da população o que estava acontecendo. O desconhecimento sôbre a epidemia ocasionou, por exemplo, que famílias demorassem a levar crianças ao hospital e que médicos não considerassem a meningite em um primeiro exame de pacientes, contribuindo para que um número ainda maior de pessoas morresse da doença. Analise o texto a seguir, que foi censurado por agentes da ditadura em 1974.

A epidemia do silêncio

O surto de meningite que matou mais de 200 pessoas em São Paulo só neste mês de julho não é lamentável apenas por suas consequências ou por revelar dramaticamente a precariedade do sistema de Saúde Pública do Estado reticências. Talvez ainda pior do que tudo isso seja o fato de que, com êle, atingiu o seu ponto mais alto também a epidemia de desinformação e ocultamento de fatos que as administrações públicas, a todos os níveis, resolveram desencadear faz já algum tempo.

Desde que reticências começaram a aumentar em ritmo alarmante os casos de meningite em São Paulo, as autoridades cuidaram de ocultar fatos, reticências levando, deliberadamente, a desinformação à população e abrindo caminho para que boatos ocupassem rapidamente o lugar que deveria ser preenchido por fatos.

reticências

ROSSI, Clóvis. A epidemia do silêncio. O Estado de Sulponto Paulo, São Paulo. Disponível em: https://oeds.link/TxatSZ. Acesso em: 29 abril 2022.

Agora, responda às questões a seguir.

Ícone ‘Atividade oral’.

1. Segundo o autor do texto, quais motivos tornam o surto de meningite lamentável?

Ícone ‘Atividade oral’.

2. Por que o texto analisado foi censurado? Quais eram os interêssis da ditadura em esconder da população o surto de meningite?

Ícone ‘Atividade oral’.

3. De que maneira a falta de informação sôbre a doença pode ter contribuído para que mais pessoas morressem?

Ícone ‘Atividade oral’.

4. Em sua opinião, qual é a importância da liberdade de imprensa? Converse com os colegas sôbre isso.

Respostas e comentários

Questões 1 a 4. Respostas nas orientações ao professor.

As questões propostas nesta seção mobilizam aspectos da Competência específica de História 3, já que os alunos deverão analisar e interpretar uma fonte histórica que foi censurada por agentes da ditadura em 1974, refletindo sôbre as razões dessa censura. Propiciam também o desenvolvimento da Competência específica de História 4, uma vez que, ao possibilitar que os alunos conheçam perspectivas diferentes sôbre o surto de meningite durante a ditadura, poderão identificar visões de diferentes sujeitos com relação a um mesmo contexto histórico, posicionando-se criticamente com base em princípios éticos e democráticos.

Respostas

1. A morte de pessoas, a questão de ela revelar a precariedade do sistema de saúde pública e a desinformação e o ocultamento de fatos que as administrações públicas promoveram.

2. O texto foi censurado porque revelava a tentativa do govêrno de não deixar a população saber sôbre o surto de meningite que ocorria no país. A ditadura tinha interêsse em esconder êsse surto para não causar uma má impressão sôbre os governos militares.

3. Sem a informação de que ocorria um surto da doença no país, muitos pais demoraram a levar seus filhos aos hospitais, assim como diversos médicos não consideraram a meningite em um primeiro exame de pacientes, por exemplo.

4. Resposta pessoal. Espera-se que os alunos reconheçam a importância da liberdade de imprensa para que, entre outras questões, a população possa se informar sôbre o que ocorre no país, não ficando refém de boatos e notícias falsas.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

Organizando os conhecimentos

  1. Qual era a intenção do govêrno militar ao decretar os Atos Institucionais?
  2. Por que, no final da década de 1960, a ditadura ficou conhecida como “anos de chumbo”?
  3. Analise a charge apresentada no tópico A Censura. Que crítica social o artista expõe na charge?
  4. Como era institucionalizada a repressão durante a ditadura? Cite alguns órgãos criados pêlo govêrno para exemplificar sua resposta.

Aprofundando os conhecimentos

5. Muitos opositores ao regime militar foram exilados, ou seja, tiveram de sair do Brasil por causa das perseguições que sofriam por parte de agentes do govêrno. Leia o texto a seguir e, depois, responda às questões.

reticências A partir do século vinte, o exílio político passa a ser usado cada vez mais frequentemente contra ativistas políticos e sindicais, intelectuais, estudantes e profissionais de todas as classes sociais, cujo único delito havia sido a participação e a mobilização política contra um govêrno ou regime eventual. reticências

    O exílio adquire, dêsse modo, seu perfil político como mecanismo de exclusão institucionalizada, ao lado da prisão, da pena de morte e de outras medidas de exceção e de emergência usadas exaustivamente desde então reticências.

RONIGER, Luis. Exílio massivo, inclusão e exclusão política no século vinte. Dados – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, volume 53, número 1, 2010. página 91-94.

  1. De acôrdo com o autor do texto, o exílio político atingiu quais parcelas da população a partir do século vinte?
  2. De acôrdo com o que foi estudado no capítulo e conforme o texto, aponte alguns dos motivos que levaram as pessoas a serem exiladas durante o regime militar brasileiro.
  3. Junte-se a um colega e pesquisem sôbre pessoas que foram exiladas durante a ditadura no Brasil. Procurem descobrir por que elas foram exiladas, em quais países elas foram viver e quais atividades passaram a realizar. Apresentem os resultados da pesquisa aos colegas da turma.
Respostas e comentários

1. Resposta: Por meio dos Atos Institucionais, o govêrno buscava consolidar o regime ditatorial, sobrepondo as leis previstas e legitimando o regime militar.

2. Resposta: A ditadura passou a ser chamada de “anos de chumbo” como referência às medidas que tornaram mais rígidas a censura e a repressão, a exemplo da Lei de Segurança Nacional, do á í-5 e da Lei de Imprensa.

3. Resposta: O artista procura criticar a censura nos meios de comunicação de fórma velada, não explícita, utilizando caricaturas e grafias propositalmente incorretas para transmitir a mensagem.

4. Resposta: A repressão era realizada por algumas instituições que faziam parte do sistema de perseguição e repressão aos opositores, como o Serviço Nacional de Informações (ésse êne i) e o Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (dói códi).

5. a) Resposta: De acôrdo com o texto, as pessoas exiladas geralmente eram ativistas políticos, representantes sindicais, intelectuais, estudantes e profissionais de todas as classes sociais que participavam de organizações políticas contrárias a determinado govêrno ou regime.

5. b) Resposta: Durante a ditadura, as pessoas eram exiladas por fazerem oposição ao regime militar brasileiro.

5. c) Resposta: Espera-se que os alunos pesquisem na internet, em livros ou jornais e percebam que ainda existem casos de pessoas exiladas durante a ditadura que continuam a viver em outros países.

  • As atividades 3 e 4 abordam manifestações de denúncia à violação dos direitos dos cidadãos e a repressão institucionalizada pêla ditadura, contribuindo para o desenvolvimento de aspectos das habilidades ê éfe zero nove agá ih um nove e ê éfe zero nove agá ih dois zero.
  • Ao abordar o exílio político de indivíduos contrários à ditadura civil-militar, a atividade 5 permite trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero nove agá ih um nove, com especial atenção para as questões relacionadas à memória dêsses indivíduos e à violação dos direitos humanos. Da mesma fórma, discutida em sala de aula pêla perspectiva do respeito e da resolução de conflitos, é possível utilizar a atividade para desenvolver a Competência geral 9.
  • O item c da atividade 5 possibilita o trabalho com fontes diversificadas de informação, pois os alunos poderão fazer a pesquisa na internet, em podcasts, em livros e em jornais; além disso, poderão buscar informações com familiares e integrantes da comunidade com saberes específicos.
  • Este item possibilita também o desenvolvimento do pensamento computacional, uma vez que os alunos deverão analisar as fontes coletadas e decompor suas informações, para que identifiquem aspectos do período de exílio vivenciado pêlas pessoas que foram obrigadas a deixar o país no contexto da ditadura civil-militar. Posteriormente, deverão organizar essas informações, coletando explicações fundamentais para serem apresentadas aos colegas.

6. Analise o gráfico a seguir e leia o texto. Depois, responda às questões.

Crescimento do PIB brasileiro (1964-1973)

Gráfico. Crescimento do PIB brasileiro (1964-1973). Gráfico em linha, porcentagem por anos. Os dados são: 1964: Aproximadamente 4%. 1965: Aproximadamente 3%. 1966: Aproximadamente 6%. 1967: aproximadamente 4,5%. 1968: Aproximadamente 10%. 1969: Aproximadamente 9,5%. 1970: Aproximadamente 10,5%. 1971: Aproximadamente 11%. 1972: Aproximadamente 12%. 1973: Aproximadamente 14%.

Fonte de pesquisa: NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. página 172.

reticências

A concentração de renda e o arrocho salarial reticências eram notórios. Em 1970, comparando-se os números com dez anos antes, os 5% mais ricos da população aumentaram sua participação na renda nacional em 9%, e detinham 36,3% da renda nacional. Os 80% mais pobres diminuíram sua participação em 8,7%, ficando com 36,8% da renda nacional. Quando a inflação voltou a subir com fôrça, a partir de 1974 e, sobretudo, a partir de 1979, os efeitos dessa perda de renda relativa e do arrocho salarial ficariam mais patentes, gerando ampla insatisfação nas classes populares que, ao contrário da classe média, não tinham gorduras para cortar. Era a própria subsistência que se via ameaçada.

reticências

NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. página 164.

  1. De acôrdo com o gráfico, como foi o desenvolvimento do Píbi brasileiro entre 1964 e 1973?
  2. No intervalo de tempo representado no gráfico, qual foi o período em que o crescimento do Píbi foi ininterrupto? Como êsse período ficou conhecido?
  3. Compare o gráfico com as informações do texto e responda: podemos afirmar que as vantagens do crescimento do Píbi durante o “milagre econômico” beneficiaram toda a população brasileira? Use as informações apresentadas no gráfico, no texto e no tópico sôbre o milagre econômico dêste capítulo para compor sua resposta.
Respostas e comentários

6. a) Resposta: Conforme o gráfico, houve crescimento no Píbi.

6. b) Resposta: Entre 1969 e 1973. êsse período foi caracterizado como “milagre econômico”.

6. c) Resposta: Espera-se que os alunos mencionem na resposta que o crescimento do Píbi não representou diretamente melhoria de vida para toda a população. Segundo o texto, a concentração de renda aumentou nesse período, beneficiando os setores mais ricos da população, ao passo que a parcela mais pobre sofria com o arrocho salarial.

A atividade 6 propõe aos alunos questionamentos com base em um recurso textual e gráfico. Para a composição das resoluções, êles devem utilizar seus conhecimentos gráficos e de interpretação do texto como auxílio para a o entendimento dêsses recursos, favorecendo, assim, o desenvolvimento da Competência específica de Ciências Humanas 7.

Glossário

Inflação
: alta de preços de produtos de um país em determinado período, que causa, entre outros problemas, a desvalorização da moeda. A inflação pode ser ocasionada por vários motivos, como o aumento da procura ou dos custos de produção de determinados produtos.
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