UNIDADE 1 A HISTÓRIA E O INÍCIO DA CAMINHADA HUMANA NO PLANETA

A história e você: a importância da memória coletiva

Nesta unidade, você estudará, entre outros temas, o que é história e qual é a sua importância. Para compreender as sociedades de hoje, os historiadores estudam os modos de viver dos diversos grupos humanos em diferentes períodos. Para isso, utilizam as fontes históricas, vestígios do passado que, em muitos casos, são portadores de uma memória oficial e permitem compreender como povos e sociedades gostariam de ser lembrados. Assim, os historiadores trabalham, entre outras coisas, com a análise da construção dessas memórias.

Você já parou para pensar sobre os acontecimentos que afetaram a vida dos brasileiros? Por que alguns desses acontecimentos são relatados na história oficial ou nas comemorações cívicas e outros não?

Pense nos feriados nacionais. São celebrações que, de alguma fórma, estão relacionadas à memória coletiva. Um personagem muito importante da história brasileira foi Zumbi, líder negro que lutou contra a escravidão. O dia 20 de novembro, data de morte dele, não é feriado nacional. A história de outro personagem é mais conhecida que a de Zumbi. Esse personagem é Tiradentes, que, durante o período colonial, lutou pela libertação da região onde vivia contra a dominação portuguesa. O dia 21 de abril, data da morte de Tiradentes, é feriado nacional. Por que Tiradentes é oficialmente lembrado pelo Estado brasileiro e Zumbi não é?

O fato de Zumbi não ser lembrado pelo Estado brasileiro não impede, contudo, que sua memória seja mobilizada por diferentes grupos no presente. Ao longo do século vinte, os diferentes movimentos negros no Brasil têm reivindicado o direito de celebrar seus heróis e heroínas como parte da memória oficial da nação. Essa disputa pela história rendeu frutos: além de Zumbi, Dandara, por exemplo, figura entre as heroínas da pátria em um livro oficial que fica em Brasília (Distrito Federal).

A fim de contribuir com esse debate, você e os colegas produzirão cartazes com propostas de criação de um feriado que celebre a história da maior parte da população brasileira. Para isso, verifiquem as etapas seguir.

Organizar

  • Forme um grupo com quatro colegas.
  • Pesquisem na internet ou em livros, revistas e jornais impressos personagens ou fatos marcantes da história dos negros no Brasil. Na internet, é importante buscar as informações em sites confiáveis, como os de universidades ou de institutos consolidados.

Apresentem aos demais colegas o resultado da pesquisa que fizeram. Depois, selecionem uma data relacionada a um personagem ou evento que possa ser comemorada como feriado. Cada grupo deve produzir um cartaz de reivindicação.

Produzir

  • Produzam um texto resumido de apresentação do personagem ou evento escolhido. Depois, complementem o texto com os motivos que, na visão do grupo, justifiquem a criação de um feriado associado a esse personagem/evento.
  • Revisem o que escreveram para que fique compreensível e curto. Em seguida, copiem o texto no cartaz.
  • Selecionem imagens para decorar o cartaz – podem ser fotos, ilustrações ou desenhos e colagens produzidos por vocês. Lembrem-se de criar legendas para as imagens!

Compartilhar

No dia combinado com o professor, exponham os cartazes na sala de aula. Vocês podem tirar fotos da exposição e compartilhá-las em suas redes sociais ou no site da escola, caso isso seja possível.

Ilustração. Pessoas negras realizando diversas atividades. Da esquerda para a direita: mulher negra apresentando um telejornal, homem negro explicando dados econômicos, mulher negra presidindo uma sessão em um tribunal, homem negro dando uma palestra e mulher negra recebendo um diploma.
Ilustração atual representando pessoas negras em diversos espaços sociais: na comunicação, nas universidades, na economia, no sistema judiciário etcétera
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A população negra é parte fundamental da composição profissional, cultural e artística que define o que é ser brasileiro. Resgatar as histórias e memórias dessa parcela da população é algo com que historiadores, por exemplo, podem contribuir.

CAPÍTULO 1 QUE HISTÓRIA É ESTA?

Ilustração. Representação de uma manchete de jornal. Na parte superior, em letras menores, o texto: Ciência e tecnologia - 4 de fevereiro de 2021. Logo abaixo, em letras maiores, a manchete: Cidade do México proíbe uso de plásticos descartáveis. A seguir, em letras menores, o texto: Município, que tem cerca de 9 milhões de habitantes, é um dos maiores do mundo. Ao centro, uma fotografia de diversas garrafas plásticas vazias e sujas, amontoadas em uma grande pilha. Abaixo da fotografia, a legenda: Garrafas de plástico descartadas na Cidade do México.
Manchete e imagem publicadas em 2021 no site do Jornal Joca, dedicado ao público infantil e jovem.

De que modo estudar o passado, e mesmo o presente, pode ajudar alguém a refletir sobre o que tornou o mundo como é hoje? Para compreender isso, tente descobrir a história contada na notícia que acompanha a manchete e a imagem reproduzidas. Analise-as e, depois, responda às questões. Imagine que você é um historiador, investigando um documento histórico, e as questões são as suas pistas.

Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Qual é o tema da notícia?
  2. Quando ela foi publicada?
  3. Qual deve ter sido a origem do problema revelado na imagem? Compartilhe suas hipóteses com os colegas.

Por que estudar história?

Você já reparou que muitas pessoas encaram o modo como vivem e o que as rodeia como se nada mudasse e tudo fosse natural?

Essa percepção contrapõe-se a algo muito importante que a história ensina: o que se vive em sociedade é resultado de decisões tomadas há milhares de anos ou poucos dias atrás.

Os seres humanos agem no mundo: constroem relacionamentos, trabalham e produzem objetos e saberes. Elaboram e compartilham leis, linguagens, afetos e uma infinidade de coisas relacionadas às suas identidades e ao tempo e ao espaço em que vivem.

Os historiadores estudam essas ações e relações humanas no decorrer do tempo para tentar entender o passado, identificando as rupturas (mudanças) e as permanências (o que se manteve) entre ele e o presente.

Um exemplo de ruptura na história do Brasil foi a imposição, no século dezoito, do português como idioma oficial. Até então, o inheêngatú era a língua mais falada na colônia portuguesa.

Um exemplo de permanência em seu dia a dia é o estudo da geometria, nas aulas de matemática. Essa ciência reúne saberes que já eram conhecidos na Grécia antiga. Saberes como esse e ações realizadas desde tempos remotos têm impacto direto no presente.

Quadrinho composto por 4 quadros. Apresenta um professor de cabelos cacheados curtos, usando camiseta azul.
Quadro 1: O professor está diante de um quadro branco com caneta vermelha na mão, mostrando um desenho de uma forma geométrica e pergunta: 'E qual o nome de um polígono de cinco lados?'. Um dos alunos, cujo braço levantado com o dedo indicador em riste aparece no quadro, responde: 'Pentágono!'.
Quadro 2: Outro aluno responde: 'Depois vem o hexágono!'. E outro: 'E o heptágono!'. E outro: 'Octógono!'. O professor olha para eles com os olhos arregalados.
Quadro 3: Apagando o desenho da lousa, ele pensa: 'Nossa! De onde vem esse interesse por prefixos matemáticos?'.
Quadro 4: Uma aluna e dois alunos estão num campo de futebol, jogando e conversando. A aluna diz: 'Aí fomos bi em 62, tri em 70, treta em 94 e penta em 2002.'. Um dos alunos comenta: 'Rumo ao hexa!'. E o outro aluno completa: 'Vai Brasiiiiil!'.
Cientirinhas, tirinha de Marco Merlin, 2018.
Fotografia. Três adolescentes usando uniforme escolar, sentados um ao lado do outro, leem um livro segurado pela adolescente à direita e pelo adolescente ao centro.
Estudantes de escola pública na cidade de Salvador (Bahia). Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Após a luta de muitos grupos sociais, hoje, a legislação determina que lugar de criança é na escola e que a exploração do trabalho infantil é crime (embora continue existindo de fórma ilegal). Por meio do estudo da história, é possível entender por que foi necessário criar uma lei para proibir o trabalho de crianças.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1]: O que é história? [LOCUTOR 2]: Neste áudio, Maria Luísa de Castro e Damasceno, de 11 anos, conversa um pouco sobre história com o professor doutor José Geraldo Vinci de Moraes, da Universidade de São Paulo. Vamos ouvir? [MARIA LUISA]: O historiador francês Marc Bloch iniciou o seu livro Apologia da História com a lembrança de uma pergunta feita por uma criança: "Papai, para que serve a história?". Professor José Geraldo, para que serve a história? [JOSÉ GERALDO]: Bom... Olha, o Marc Bloch escreveu um livro para responder isso... Então, não é muito simples a resposta. Quando a gente pensa nas outras matérias que você tem na escola, a história não tem muito essa perspectiva prática de que ela "serve para alguma coisa". É importante a gente entender o passado para entender como é que você chegou até aqui. Para você entender quem é você, você precisa olhar quem você foi nenê, sua mãe te contar, seus amigos na escola, seus primos, seus colegas etc. E aí você olha para trás, para aquilo que você foi e entende: "Ah, eu sou a Malu hoje!". Então, as sociedades também fazem um pouco esse exercício que a gente faz com a gente mesmo. Olha lá para trás para tentar entender como é que ela chegou naquele momento no presente. [MARIA LUISA]: Como é o trabalho do historiador e com quais documentos o historiador trabalha? [JOSÉ GERALDO]: [TOM EXPLICATIVO] Não existe um trabalho do historiador. Pensa assim: o passado humano é uma coisa muito variada, cheio de informações, cheio de vidas que estão lá atrás. Então, depende muito de como o historiador vai trabalhar e de acordo com o que ele escolhe lá atrás, nesse passado. Se o historiador está preocupado com coisas econômicas, vai trabalhar com... [MARIA LUISA]: Dinheiro. [JOSÉ GERALDO]: Com dinheiro... Com tabelas... Esse tipo de coisa. Se ele está preocupado com questões artísticas, ele vai atrás de quadros, atrás de fotografias, atrás de uma música... Entendeu? Então, depende muito do tema que o historiador vai trabalhar. A partir dessa escolha, do tema que ele escolhe e do material que ele vai trabalhar é que ele desenvolve um método. Então, não há um [único] método para o historiador.

[MARIA LUISA]: [TOM DE DÚVIDA] Então, cada historiador trabalha com uma coisa? [JOSÉ GERALDO]: É, exatamente isso. Ou vários historiadores trabalham com temas muito semelhantes e eles desenvolvem entre si, conversando, lendo o trabalho um do outro, como é que eles acham a melhor maneira de trabalhar. Entendeu? [MARIA LUISA]: Entendi. [JOSÉ GERALDO]: Então, é difícil você dizer para o historiador que há um método só para trabalhar. [MARIA LUISA]: [TOM DE DÚVIDA] Existe uma história que é verdadeira? Assim... [JOSÉ GERALDO]: É... Então, o historiador trabalha com essa ideia de que há uma verdade. É diferente do romancista que pode inventar personagens, inventar uma história... A gente trabalha com a ideia de que existe verdade e não com ficção, só que na hora que a gente vai contar essa verdade... Como o personagem histórico Dom Pedro I, ele existiu. Não é invenção de cada um. Agora, como cada um vai interpretar quem foi Dom Pedro I tem diferença, entendeu? [MARIA LUISA]: Como a tecnologia de hoje em dia pode ajudar os estudantes a compreender a história? [JOSÉ GERALDO]: Ela ajuda muito, em todos os sentidos. Hoje em dia, por exemplo, um historiador que estuda a Grécia pode ter contato com documentos que 30 ou 40 anos atrás a gente não tinha acesso, só se ele fosse para a Grécia. Hoje está lá digitalizado, ele consegue ter acesso a esses documentos que antes não tinha. Isso é uma coisa importante. Outra coisa importante é que há um volume, agora, de informação muito grande. Isso ajuda muito os historiadores, de maneira geral, a terem vários tipos de informações e em quantidade. E tem o lado ruim disso, porque você vai para a internet e tem muita coisa ruim... [MARIA LUISA]: É... Tem muitas notícias falsas. [JOSÉ GERALDO]: Tem notícia falsa... Tem coisa que não tem importância nenhuma... Então, tem que filtrar muito, tem que peneirar muito essas informações todas. [MARIA LUISA]: O que os historiadores concluem quando eles discordam? [JOSÉ GERALDO]: Acho que a melhor coisa que eles concluem é que a discordância é importante. Mais do que você querer convencer o outro, é reconhecer a discordância. A melhor conclusão é: a discordância é importante. "Eu respeito a interpretação que você tem sobre a história, entendo o que você está falando e gostaria que você entendesse aquilo que eu interpreto sobre a história". O respeito a essa diferença acho que é a melhor coisa. [MARIA LUISA]: Quem foi o primeiro historiador? [JOSÉ GERALDO]: Classicamente, um que considero como pai da história, que é um cara que se chamava Heródoto, talvez você já tenha ouvido falar... [MARIA LUISA]: É... [JOSÉ GERALDO]: Mas isso é muito discutível. Aquilo que a gente aprende, geralmente, é isso: o pai da história é o Heródoto. Então... Ele desenvolve uma maneira de pensar baseada no testemunho. Quer dizer, a pessoa que estava lá me contar – se eu fosse o Heródoto, né? – me contar como é que a coisa aconteceu. E aí de uma maneira verdadeira e não com ficção, e não de acordo com o que um deus disse, que um mito disse... Então, é por isso que ele é considerado o primeiro historiador, tá? Mas é importante saber que é difícil determinar isso. Isso foi uma convenção que se criou... [MARIA LUISA]: Então é isso! [JOSÉ GERALDO]: É isso? Então tá bom... Adorei!

Você, agente histórico

Há mais de cem anos, acreditava-se que os agentes ou sujeitos históricos eram somente os poderosos, como reis e rainhas, presidentes e generais, que pareciam decidir o destino da humanidade. Hoje se entende que todos são produtores de história: homens e mulheres, adultos e idosos, jovens e crianças de qualquer camada social.

A história dos jovens, dos trabalhadores rurais, de pessoas escravizadas e dos estudantes – suas práticas, sentimentos, ações e crenças – é tão importante quanto a de conhecidos líderes, ainda que não vire notícia.

Há agentes históricos individuais (pessoas que, por conta própria, agem no mundo) e coletivos (como agremiações, partidos políticos, sindicatos, Organizações Não Governamentais – ônguis –, movimentos estudantis, igrejas e fôrças armadas), em que pessoas atuam em grupo.

É importante saber que cada sujeito é movido por interesses específicos. Além disso, é fundamental entender por que tal ação ou decisão foi tomada e quem se beneficiou dela. Isso ajuda a compreender como a história é produzida e contada.

Fotografia. Multidão reunida em manifestação em uma grande avenida. Muitas pessoas utilizam máscara facial e seguram cartazes. Em uma faixa, em primeiro plano, lê-se: 'Vidas negras importam'.
Manifestação do Dia da Consciência Negra em São Paulo São Paulo. Foto de 2020.
Fotografia em preto e branco. Em uma rua, mulheres negras usando vestidos e segurando bolsas e homens negros com terno e outros com camisa e calça fazem passeata segurando cartazes. Em alguns cartazes lê-se frases escritas em inglês, que podem ser traduzidas como: “Liberdade”, “Exigimos direitos iguais agora!” e “Nós marchamos por escolas integradas já!”.
Manifestação nos Estados Unidos pelo fim do preconceito, por moradias dignas e pela integração das escolas, que naquele período eram separadas por critérios racistas. Foto de 1963.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Desde o século dezenove, grupos de afrodescendentes se unem para reivindicar o reconhecimento de seu direito à cidadania plena. Eles são exemplos de sujeitos históricos coletivos.

As fontes históricas

Você descobriu que todas as pessoas são agentes históricos, mas como saber de que modo viviam e pensavam as pessoas no passado? Para os historiadores, só é possível compreender isso por meio da análise das fontes históricas, que podem ser documentos escritos, objetos, pinturas, fotografias, depoimentos orais etcétera

Fotografia. Homem idoso de cabelos brancos curtos, usando camisa branca com listras horizontais pretas, visto da cintura para cima.   Ele está falando e com a palma da mão esquerda aberta e erguida.
Senhor João Pereira narrando sua história no documentário Um centenário de histórias, de 2017. Fontes históricas orais, como os depoimentos e as entrevistas, são fundamentais para conhecer a história de muitos grupos.

Os documentos históricos, produzidos ou modificados pelos seres humanos em tempos e lugares determinados, contribuem para que os historiadores formulem questões e busquem respostas sobre o modo como as pessoas viviam e se organizavam em grupos, o que produziam e muito mais.

Tais questões são sempre despertadas por interesses e experiências da época em que o historiador vive. Dificilmente um historiador do século dezenove se perguntaria, por exemplo, sobre sustentabilidade e fontes renováveis de energia. Afinal, temas como esses são prioridades do presente.

Pintura. Representação de um descampado elevado, com vegetação esparsa e, na parte inferior direita, um rio. Em destaque, na parte superior, um homem de farda e chapéu, montado à cavalo, empunha sua espada para o alto. Os homens do seu lado, um pouco mais à esquerda, vestidos com casacos, levantam seus chapéus. À direita, homens montados a cavalo, usando roupas e chapéus de guarda empunham suas espadas na direção do homem ao centro. Na parte inferior, à esquerda, um carro de boi conduzido por um homem descalço, com calça curta, camisa aberta com os ombros expostos e chapéu de palha, que assiste à cena. Ao fundo, no alto à direita, um casebre.
O grito do Ipiranga, pintura de Pedro Américo, 1888.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na obra de Américo, é representada com grandiosidade a declaração de independência do Brasil, em 1822. Pedro Américo pintou esse quadro 66 anos após a declaração de independência. Ao analisar tal imagem, o historiador pode se questionar sobre a escola artística de que o artista fazia parte e as técnicas de pintura que ele utilizou. Além disso, pode procurar saber se o evento ocorreu da fórma como foi representado na obra, com a mesma paisagem, os mesmos animais, os mesmos personagens etcétera A intenção do pintor ao produzir a obra também é objeto de estudo do historiador.

Analisando o passado

Você já pensou no fato de que a escola, as aulas e até o que os professores ensinam têm uma história? Imagine como eram as aulas de educação física na época em que seus avós ou bisavós estudavam. Deviam ser bem diferentes das suas, não é? Mas como você pode comprovar isso?

De várias maneiras. Você pode conversar com seus pais, avós ou bisavós sobre isso ou procurar a resposta em livros, jornais ou revistas impressos e na internet. Pode, ainda, analisar fotografias de diferentes datas. Todos os materiais que podem ser usados para buscar respostas a questões sobre o passado são fontes históricas. Analise as fotos a seguir.

Fotografia em preto e branco. Meninos em um pátio, vestindo camisas, coletes e calças curtas, estão organizados em oito fileiras alternadas e seguram pesos em suas mãos. Em quatro das fileiras, os alunos estão agachados com os braços abertos para os lados. Nas outras quatro fileiras, os alunos estão em pé, erguendo os braços para cima. Ao fundo, as paredes de uma construção com grandes janelas.
Aula de educação física para meninos em São Paulo São Paulo. Foto de 1908.
Fotografia. Uma menina e três meninos, vestindo uniforme escolar composto de calça azul e camiseta cinza, dispostos em círculo, em uma quadra. A menina e dois dos meninos estão em pé, o outro menino, ao centro, está sentado em uma cadeira de rodas. Todos brincam com uma bola de vôlei. Ao fundo, uma escada e estruturas de vidro e metal.
Aula de educação física na mesma cidade. Foto de 2017.

Nessas imagens, foram registradas aulas de educação física em diferentes períodos no Brasil. Elas revelam algumas mudanças ocorridas em pouco mais de um século.

Responda no caderno.

Responda no caderno.

  1. Sobre cada uma das imagens, descreva:
    1. o espaço em que ocorreu a aula;
    2. o modo como os estudantes estão dispostos nesse espaço.
  2. Que rupturas e permanências você nota entre as imagens?
  3. Por que é possível afirmar que essas imagens podem ser usadas como fontes históricas?

O trabalho do historiador

O que ocorreu no passado pode ser denominado fato histórico. Para entender os fatos históricos, são estudadas as fontes que os registraram. Assim, se não existem registros sobre o passado, não há como saber o que ocorreu.

Em contrapartida, os fatos conhecidos podem ser registrados de diferentes maneiras. Um acidente de trânsito, por exemplo, pode ser relatado por um dos motoristas envolvidos nele e também filmado por uma câmera instalada na rua. O fato é o acidente: ele ocorreu e não há como negar. O motorista contou que não viu o sinal fechado. A imagem da câmera mostra que ele estava ao celular enquanto dirigia. Como interpretar a situação?

Essas fontes dão margem para produzir diferentes interpretações sobre o acidente, mas são evidências de que o fato ocorreu. Ou seja, elas são vestígiosglossário deixados pelos sujeitos históricos envolvidos no evento. Ao examiná-las, é possível debater o fato, mas não negar sua ocorrência.

O trabalho do historiador consiste, pois, na análise criteriosa, com método, das fontes. Nesse sentido, busca-se evitar qualquer tipo de anacronismoglossário nas explicações sobre o passado. Além disso, sua produção não é apenas uma opinião construída com base n o que se acredita ou se “acha” que o passado foi.

Fotografia. Campo de futebol, com dois atletas com a camisa do Brasil em primeiro plano, do lado direito, um deles de costas e abaixado. No centro, três atletas com a camisa da Alemanha comemoram. Em segundo plano, outros dois atletas com a camisa do Brasil e, ao fundo, a torcida nas arquibancadas.
Jogadores da seleção alemã e brasileira durante a semifinal da Copa do Mundo de Futebol, em Belo Horizonte (Minas Gerais). Foto de 2014.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na semifinal da Copa do Mundo de Futebol de 2014, o time masculino do Brasil perdeu de 7 a 1 para o da Alemanha e foi eliminado do torneio. Esse fato está registrado em vários documentos (jornais, imagens de televisão, internet, fotos de família, relatos orais etcétera). Pode haver interpretações diferentes sobre o que contribuiu para a derrota do time brasileiro, mas não é possível negar que ele perdeu.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Defina com suas palavras o objeto de estudo do historiador.
  2. O que é um agente histórico?
  3. Explique o que é uma fonte histórica.

O tempo e a história

Você sabe o que é o tempo? Os seres humanos se fazem essa pergunta há milênios! Mesmo sendo difícil explicar o que é o tempo, é possível sentir sua passagem.

A passagem do tempo é fundamental para a história, pois essa ciência é usada para estudar as rupturas e as permanências na vida dos seres humanos do passado até os dias atuais. Mas como, afinal, marcar a passagem de algo que não se consegue definir?

Você poderia citar os relógios de pulso, de parede, dos celulares etcétera e os calendários. Foi observando e aprendendo com a natureza que os povos da Antiguidade inventaram os relógios.

Entre os mais antigos estão os relógios de sol, que foram construídos pelos egípcios há mais de 3 mil anos. Os calendários também foram inventados para medir o tempo. O egípcio, criado há aproximadamente 6 mil anos, é um dos mais antigos.

Pode-se dizer que, apesar dos métodos de contagem, a percepção da passagem do tempo é subjetiva. Dependendo do momento, parece que o tempo voa ou, ao contrário, que ele se arrasta. Se você está se divertindo, sente que ele passa muito rápido, mas, se está entediado, tem a impressão de que ele demora mais a passar. Não é assim?

Para uma criança de 6 anos, uma semana é muito tempo, pois o ponto de vista dela é o de quem ainda está no início da vida. E, para alguém de 65 anos, a semana passa num piscar de olhos.

Há povos indígenas no Brasil, por exemplo, que acreditam que os dias longos são carregados por um caramujo e os curtos são transportados por um beija-flor. Essa dimensão subjetiva da percepção do tempo também é matéria de interesse do historiador.

fórmas de medir o tempo

Linha do tempo vertical com duas cotas. Na cota superior, há a indicação MAIS DE 3 MIL ANOS, acompanhada de duas fotografias. Uma delas, tirada em 2021, é de um relógio de sol em parque no município de Werribee, Austrália. Na fotografia, um ctógono de pedra com linhas desenhadas e uma placa de pedra triangular perpendicular a ele no centro. Abaixo da foto, consta o comentário: Os relógios de sol datam de mais de 3 mil anos! São superfícies planas, com marcações que permitem saber a hora do dia com base na posição do Sol. A OUTRA FOTOGRAFIA é de um relógio de água, ou clepsidra, encontrado na Grécia, do século V a.C. Na fotografia, dois vasos de cerâmica com duas alças dispostos um em cima de um suporte e o outro embaixo, em primeiro plano. Ambos têm um furo no centro da borda superior. O vaso que está embaixo tem inscrições em grego. Abaixo da foto, consta o comentário: As clepsidras foram inventadas na mesma época que os relógios de sol. Nesse instrumento, o tempo é medido pela quantidade de água que passa do recipiente de cima para o de baixo. NA COTA INFERIOR, há a indicação SÉCULO VIII, acompanhada de duas fotografias. Uma delas, tirada em 2019, é de uma ampulheta ou relógio de areia. Na fotografia, um suporte de madeira com recipiente de vidro, de base cilíndrica e afunilado no centro, contendo areia em seu interior. Abaixo da foto, consta o comentário: Acredita-se que a ampulheta tenha sido inventada por volta do século VIII. Na ampulheta, utiliza-se o fluxo da areia, que escorre de um recipiente para outro com a finalidade de medir o tempo. A OUTRA FOTOGRAFIA é de um relógio de vela produzido no Reino Unido em cerca de 1931. Na fotografia, uma vela com marcações ao longo de seu corpo em cima de uma base de metal com alça para segurar. Abaixo da foto, consta o comentário: Os relógios de vela são da mesma época das ampulhetas. O princípio é bastante simples: marca-se o tempo da queima da vela em escalas.

Fonte: BERGAMINI, C. Para conseguir contar o tempo, foi uma questão de tempo. ComCiência, 6 setembro 2018. Disponível em: https://oeds.link/x8ZmtC. Acesso em: 19 janeiro 2022.

Representação artística sem proporção para fins didáticos.

O calendário gregoriano

O tempo subjetivo é aquele que você sente e que depende de sua percepção como indivíduo. O tempo compartilhado é o que serve como referencial para um grupo maior de pessoas, pois é dividido entre os integrantes de uma comunidade.

Qual seria o referencial compartilhado pelos integrantes da comunidade em que você vive? A resposta está nos calendários.

Por meio do calendário, você sabe quais são os dias em que vai à escola, os dias em que seus familiares trabalham, o dia em que é celebrado seu aniversário (e quantos anos você tem) e em que comemora festividades como o Carnaval ou o Natal. É o calendário que possibilita às pessoas construir uma percepção da história.

Quadrinho composto por 3 quadros. Com Garfield, gato laranja com listras pretas, e seu dono, homem de cabelos castanhos encaracolados, usando camisa azul. Quadro 1: Garfield está olhando para um calendário do mês de junho com um dia circulado e, ao seu lado, o dono fala: “É sim, seu aniversário está chegando, calendários não mentem.”. Quadro 2: O dono pergunta: “Já pensou o que você quer?”. Garfield pensa, virado para frente, mas olhando de lado para o dono: “Sim, pensei...”. Quadro 3: Garfield sozinho em cena com as patas para o alto e o rosto voltado para cima, continua o pensamento: “Mas, oh não! Eles ainda não inventaram máquinas do tempo, não é?”.
Garfield, tirinha de Jim Davis, 2008.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Máquinas do tempo como a desejada por gárfild atraem muito a curiosidade das pessoas e, frequentemente, são temas de filmes de ficção científica. Existe, porém, uma máquina do tempo muito real: o cérebro! Com ele, por meio da memória, as pessoas podem relembrar momentos e, com a imaginação, especular sobre a vida no passado e também projetar cenários futuros. Não é incrível?

Há muitos calendários para fazer a contagem do tempo, mas para cada um deles foi considerado um acontecimento como o marco zero, ou seja, o início da contagem do tempo.

O calendário em uso oficial no Brasil é o gregoriano, que foi criado no século dezesseis a mando do papa Gregório treze. Para elaborar esse calendário, foi considerado como ano 1 (ou marco zero) o nascimento de Cristo. Por isso, para indicar algo que aconteceu antes do ano 1, utiliza-se a expressão antes de Cristo (antes de Cristo). O termo depois de Cristo (Depois de Cristo) é usado para marcar eventos ocorridos do ano 1 em diante.

O calendário gregoriano é constituído por doze meses. Onze deles são compostos de 30 ou 31 dias, e um tem 28 dias (fevereiro). Cada ano tem 365 dias, mas, de quatro em quatro anos, ocorre o ano bissexto, que tem 366 dias. Quando o ano é bissexto, o mês de fevereiro tem 29 dias.

Os calendários judaico e muçulmano

Para os judeus, tradicionalmente, era comum usar um calendário baseado nos movimentos do Sol e da Lua (lunissolar), no qual o marco zero seria a criação do mundo, que eles acreditam ter ocorrido em 3760 antes de Cristo (de acordo com o calendário gregoriano).

Note, no quadro a seguir, a correspondência entre os dias da semana no calendário judaico e os dias da semana no calendário gregoriano.

Semana judaica

Semana no calendário gregoriano

1º dia.
Iom Rishon

Início: noite de sábado
Término: final da tarde de domingo

2º dia.
Iom Sheni

Início: noite de domingo
Término: final da tarde de segunda-feira

3º dia.
Iom Shlishi

Início: noite de segunda-feira
Término: final da tarde de terça-feira

4º dia.
Iom Revii

Início: noite de terça-feira
Término: final da tarde de quarta-feira

5º dia.
Iom Chamishi

Início: noite de quarta-feira
Término: final da tarde de quinta-feira

6º dia.
Iom Shishi

Início: noite de quinta-feira
Término: final da tarde de sexta-feira

7º dia.
Iom Shabat

Início: noite de sexta-feira
Término: final da tarde de sábado
(último dia da semana)

Ilustração. Três círculos concêntricos: no círculo do menor, no centro, há uma estrela de seis pontas de contorno azul; no segundo círculo estão escritos os meses do ano em português, separados por cores: dezembro, janeiro e fevereiro em azul; março, abril e maio em verde; junho, julho e agosto em amarelo; setembro, outubro e novembro em vermelho. No círculo maior, há doze divisões em azul-claro com palavras em hebraico
Representação aproximada dos meses no calendário judaico (círculo externo) e dos meses correspondentes no calendário gregoriano (círculo interno).

Fonte: Calendário judaico: entenda como os judeus contam o tempo. Calendar Brasil. Disponível em: https://oeds.link/Lj9Clb. Acesso em: 10 dezembro 2021.

No calendário muçulmano, o início da contagem, isto é, o ano 1, corresponde ao momento da Hégira, ou seja, a saída do profeta Maomé da cidade de Meca à cidade de Medina, no ano 622 Depois de Cristo (de acordo com o calendário gregoriano).

Note, no quadro a seguir, a correspondência entre os dias da semana no calendário islâmico e os dias da semana no calendário gregoriano.

Semana islâmica

Semana no calendário gregoriano

1º dia. Yaum as-Sabt

Sábado

2º dia. Yaum al-Ahad

Domingo

3º dia. Yaum al-Ithnayn

Segunda-feira

4º dia. Yaum ath-Thalatha

Terça-feira

5º dia. Yaum al-Arba’a

Quarta-feira

6º dia. Yaum al-Khamis

Quinta-feira

7º dia. Yaum al-Jum’a

Sexta-feira

Ilustração. Três círculos concêntricos: no círculo do menor, no centro, há meia lua voltada para esquerda e uma estrela no meio, na cor verde; no segundo círculo estão escritos os meses do ano em português, separados por cores: dezembro, janeiro e fevereiro em amarelo; março, abril e maio em vermelho; junho, julho e agosto em azul; setembro, outubro e novembro em verde. No círculo maior, há doze divisões em azul-claro com palavras em árabe.
Representação dos meses no calendário islâmico (círculo externo) e dos meses correspondentes no calendário gregoriano (círculo interno).

Fonte: Calendário islâmico: conheça sua história e saiba como funciona.Calendar Brasil. Disponível em: https://oeds.link/LbGONY. Acesso em: 10 dezembro 2021.

A linha do tempo

Os meses e os anos do calendário gregoriano orientam as marcações históricas. Para organizar essas marcações, os historiadores usam um instrumento chamado linha do tempo.

Na linha do tempo os acontecimentos são dispostos em sequência. Observando-a, é possível visualizar o que aconteceu antes e depois de um fato histórico ou, ainda, os fatos que ocorreram simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo (no mesmo local ou em locais diferentes).

Observe a linha do tempo sobre a vida de Luísa.

Ilustração. Linha do tempo horizontal, apresentando a trajetória de Luísa. A linha é composta pela indicação de anos, textos e imagens. Da esquerda para a direita:
2011 – Os pais de Luísa se casam. – Ilustração de um homem e uma mulher com roupas de noivo e noiva.
2015 – Luísa nasce. – Ilustração de um homem e uma mulher abraçados, segurando um bebê no colo.
2016 – Nasce Pedro, irmão de Luísa. – Ilustração do homem e da mulher juntos, ele carregando uma menina no colo e ela carregando um bebê.
2019 – Luísa começa a estudar. – Ilustração de Luísa em primeiro plano usando uniforme e carregando uma mochila, em segundo plano, duas crianças também usando uniforme e carregando uma mochila, e, ao fundo, um prédio com o letreiro no alto: “escola”.
2020 – Luísa ganha um cachorrinho. – Ilustração da menina brincando com um cachorro.
2023 – Luísa conhece Ana Sofia, sua melhor amiga. – Ilustração de duas garotas com um braço erguido, fazendo pose.
Ilustração atual representando fases da vida de uma criança.

Representação artística sem proporção para fins didáticos.

As informações que estão na linha do tempo referem-se à vida de Luísa e de sua família.

Não foram, porém, citados todos os fatos ocorridos na vida dela. A seleção de fatos, portanto, é uma escolha motivada por aquilo que se quer destacar ao montar a linha do tempo.

No dia do nascimento de Luísa, muitas outras pessoas também nasceram. Poderia ser feita uma linha do tempo para cada uma dessas pessoas. Os acontecimentos, nesse caso, seriam simultâneos, isto é, teriam ocorrido ao mesmo tempo que os representados na linha do tempo de Luísa.

A lógica da linha do tempo é sempre a mesma: define-se um referencial e organizam-se os eventos em sequência com base nessa referência.

Nos países que adotam o calendário gregoriano, a linha do tempo é definida com base no nascimento de Cristo.

Dica

livro

Linha do tempo, de Cláudia de Castro Lima. São Paulo: Panda Books, 2008.

Nesse livro, Cláudia de Castro Lima organizou em linhas do tempo, datadas de milhares de anos antes de Cristo até os dias de hoje, centenas de informações a respeito de invenções das mais variadas categorias: habitação, saúde, vestuário, transporte etcétera

A divisão por períodos ou linha do tempo da história

A divisão por períodos, por sua vez, foi estabelecida por estudiosos europeus no século dezenove, para facilitar o estudo da história. Note o exemplo a seguir.

Ilustração. Linha do tempo horizontal apresentado as divisões da História. A linha é composta pela indicação de períodos, na parte superior, e de datas, textos e ilustrações, no centro e abaixo. Na parte superior, da esquerda para a direita, os períodos: Pré-História, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Abaixo, os seguintes marcos delimitam esses períodos, acompanhados de ilustrações, ao centro: início da Pré-História: Antes de 100 mil antes de Cristo – Surgimento do ser humano – ilustração de um homem com cabelo comprido, com um osso pendurado nos cabelos e roupa de pele de animais desenhando animais em uma parede. Início da Idade antiga: 4000 antes de Cristo  – Invenção da escrita –  ilustração de um homem com adorno na cabeça e tanga amarela escrevendo em uma pedra  com o auxílio de ferramentas; Na Idade Antiga, a indicação:  ano 1 – Nascimento de Cristo – ilustração de um homem e uma mulher observando um bebê em uma manjedoura. Início da Idade Média: Século quinto, 476 – Queda do Império Romano do Ocidente – ilustração de um homem com armadura correndo. Início da Idade Moderna: Século quinze, 1453 – Tomada de Constantinopla pelos turcos –  ilustração de um homem com barba comprida e chapéu com um lenço vermelho, montado em um cavalo, segurando uma bandeira. Início da Idade Contemporânea: Século dezoito, 1789 – Início da Revolução Francesa – ilustração de uma mulher de túnica branca segurando a bandeira da França.
Ilustração atual representando a divisão tradicional da história.

Representação artística sem proporção para fins didáticos.

Na linha do tempo da história, são marcados cinco períodos: Pré-história, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea (você está na Idade Contemporânea). Essa linha do tempo é eurocêntrica, isto é, tem como base valores e eventos ligados à história dos europeus.

É preciso dizer, ainda, que há mais um consenso entre os historiadores: o uso dos algarismos romanos para a representação dos séculos. Vale lembrar que um século representa um período de cem anos.

Anos

Século

1 a 100

I

101 a 200

II

201 a 300

III

301 a 400

IV

401 a 500

V

501 a 600

VI

601 a 700

VII


Anos

Século

701 a 800

VIII

801 a 900

IX

901 a 1000

X

1001 a 1100

XI

1101 a 1200

XII

1201 a 1300

XIII

1301 a 1400

XIV


Anos

Século

1401 a 1500

XV

1501 a 1600

XVI

1601 a 1700

XVII

1701 a 1800

XVIII

1801 a 1900

XIX

1901 a 2000

XX

2001 a 2100

XXI

Cruzando fronteiras

Os primeiros brinquedos foram inventados há milhares de anos e, até hoje, continuam produzindo alegria. Conheça a seguir um pouco da trajetória deles.

Ilustração. Linha do tempo sobre a produção de brinquedos. É composta por textos e ilustrações.
Há cerca de 6.500 anos.
Bola: Os registros mais antigos do brinquedo foram encontrados no Japão. Ilustração de uma bola com desenhos coloridos.
Há cerca de 5 mil anos.
Boneca: Desde o Egito antigo há registros desse brinquedo. No início, as bonecas eram feitas de barro, pano, papel e louça. Ilustração de uma boneca simples, sem detalhes ou feições. 
Bolinha de gude: Há registros desse brinquedo desde o Egito antigo. Na época, era feito de argila ou de madeira. Ilustração de duas bolinhas pequenas com listras pretas e azuis.
Há cerca de 3 mil anos.
Bambolê: No Egito antigo, o bambolê era fabricado com fios secos de parreira (a planta que dá origem à uva). Ilustração de um arco marrom com listras.
Há cerca de 2 mil anos.
Pião: Na Babilônia, já existiam piões feitos de argila. Ilustração de um pedaço de argila com uma estaca de madeira cravada co centro.
Século treze.
Soldadinho de chumbo: No início, era usado por reis em jogos de guerra. O rei francês Luís nono, por exemplo, articulava batalhas com soldadinhos. Ilustração de um soldado de chumbo com suporte segurando uma lança em uma mão e um escudo na outra.
1558.
Casa de boneca: Apareceu primeiro na Alemanha, com direito a cozinha, banheira e quarto de vestir. Ilustração de uma casinha de brinquedo com dois pavimentos, porta, janelas e telhado cinza.
1750.
Patins de roda: O primeiro par de patins foi construído pelo belga Joseph Merlin, que também fazia instrumentos musicais. Ilustração de uma chapa metálica com 4 rodinhas amarelas embaixo, duas na frente e duas atrás e tiras de couro para prender a estrutura no pé.
1902.
Bicho de pelúcia: O urso Teddy foi a primeira pelúcia vendida com grande sucesso. O nome era uma homenagem a Theodore Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos. Ilustração de um ursinho de pelúcia marrom.
1932.
Blocos de montar: Os blocos de montar mais conhecidos hoje foram inventados na Dinamarca pelo marceneiro Ole Kirk Christiansen. Ilustração de três bloquinhos retangulares coloridos, com pinos circulares para o encaixe, um em cima do outro.
1953.
Autorama: Inventado no Reino Unido e dez anos depois lançado no Brasil, deu origem a toda uma categoria de brinquedos. Ilustração de uma pista redonda com dois carrinhos em cima e controles na lateral.
1974.
Videogame: O primeiro vendido em larga escala simulava um tênis de mesa: cada jogador comandava uma barra e tinha de defender a bolinha de um lado da tela. Ilustração de uma máquina de fliperama, com estrutura vertical, tela quadrada e painel horizontal com botões.
Década de 1980.
Bonecos de super-heróis: Nos anos 1980, os bonecos de personagens de sucesso dos quadrinhos, da televisão e do cinema se tornaram muito populares. Ilustração de um boneco do Batman.
1989.
Segunda geração de videogames portáteis: O videogame portátil representou uma mudança importante: se antes era preciso dispor de um local para jogar, a partir dessa época, tornou-se cada vez mais comum levar jogos no bolso. Ilustração de um gameboy, pequeno aparelho retangular, com tela pequena e botões.
1996.
Bichinho virtual: Criado no Japão, o bichinho virtual foi uma febre: era preciso cuidar dele como se fosse um bichinho de verdade, alimentando-o e dando-lhe carinho e atenção. Ilustração de um aparelho pequeno e redondo com o desenho de um bichinho numa tela.
2010.
Tablet: Fez uma revolução e criou novas formas de brincar com tecnologia. Nele, é possível ver vídeos e jogar muito! Ilustração de um aparelho retangular, com tela grande e um pequeno botão na parte de baixo. na tela, nove quadradinhos coloridos empilhados.

Representação artística sem proporção para fins didáticos.

Fonte: elaborada com base em Recreio, ano 15, número 813, página 16, 8 outubro 2015.

Responda no caderno.

  1. Em que séculos foram inventados os patins, a bolinha de gude e o bicho de pelúcia?
  2. Compare dois grupos de brinquedos: o dos inventados até a década de 1970 e o dos inventados a partir dos anos 1980. Você nota alguma diferença entre eles? Qual?

Memória e história

Você já notou que os historiadores estudam as ações humanas em suas relações com o tempo (passado e presente) e o espaço, compreendendo as fórmas de viver de diferentes grupos sociais com base na análise e na interpretação de documentos. Pode-se também dizer que eles trabalham com a construção da memória.

Você já pesquisou as memórias de sua família? Memórias são as lembranças do passado que as pessoas organizam e contam. Elas não são exatas ou imutáveisglossário .

Provavelmente, as memórias que você tem de sua primeira infância são diferentes das que você tinha aos 6 anos. Elas também são diferentes das que seus pais têm sobre o mesmo período.

O processo de construção de uma memória é complexo, pois as pessoas se lembram e se esquecem com frequência dos eventos sobre elas e sua família.

Esse processo é ainda mais complexo quando envolve a memória coletiva ou social.

As memórias dos grupos não surgem de fórma espontânea, natural ou imparcial. Elas são negociadas e, em geral, atendem a interesses específicos.

Fotomontagem. No centro, o texto: Um exemplo de como a memória coletiva é negociada pode ser encontrado no fato de que, na história produzida no passado, a ação das mulheres não era contada, apesar do papel desempenhado por elas nas artes, nas lutas sociais, nas descobertas científicas e nos embates políticos. Por isso, afirma-se que as memórias das mulheres foram silenciadas.
Ao redor, fotografias de oito mulheres, identificadas pelos números de 1 a 8, acompanhadas de textos. 1. Fotografia. Mulher branca de cabelo castanho e comprido, usando camisa florida. Ela está segurando um microfone. Abaixo, o texto: A astrônoma Duília de Mello ministrando aula no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo (SP). Foto de 2018. 2. Fotografia. Mulher branca de cabelo curto branco e camisa xadrez verde-clara, usando óculos. Ao fundo, uma prateleira com livros. À direita, o texto: A cientista e engenheira agrônoma Johanna Döbereiner, em seu laboratório no Rio de Janeiro (RJ). Foto de 1995. 3. Fotografia. Mulher branca de cabelo preto longo, usando camisa preta. Ela está sentada, com mesas atrás. À esquerda, o texto: A neurocientista
brasileira Suzana Herculano-Houzel no Rio de Janeiro (RJ). Foto de 2015. 4. Fotografia. Mulher branca de cabelo curto branco, usando óculos e xale bege de crochê. Ela está sentada e, ao fundo, há uma estante de livros. Acima, o texto: A médica psiquiatra Nise da Silveira, referência mundial nos tratamentos de saúde mental, em sua casa no Rio de Janeiro (RJ). Foto de 1995. 5. Fotografia. Mulher negra de cabelos pretos longos e trançados, presos para trás. Ela usa óculos, blusa vermelha, xale colorido e fala ao microfone. Abaixo, o texto: A filósofa Djamila Ribeiro, durante a Festa Literária de Paraty (Flip), em Paraty (RJ). Foto de 2019. 6. Fotografia em preto e branco. Mulher branca de cabelos claros curtos, usando camisa de manga longa e colete. Ela está sentada lendo um livro em cima de uma mesa, com os braços apoiados. Abaixo, o texto: A escritora Clarice Lispector. Foto de 1955. 7. Fotografia em preto e branco. Mulher branca de cabelos escuros curtos, usando um vestido e uma boina na cabeça. Ela está apoiada em uma mesa, encurvada para frente. À direita, o texto: A bióloga e ativista Berta Lutz, durante a Conferência de San Francisco, nos Estados Unidos, em que foram discutidos os princípios da Carta das Nações Unidas. Foto de 1945. 8. Fotografia. Mulher branca de cabelos brancos médios, usando óculos, camiseta azul e calça branca. Ela está sentada em cima de uma pedra. Abaixo, o texto: A arqueóloga Niède Guidon, no Parque Nacional Serra da Capivara (PI). Foto de 2006.

Memórias silenciadas

Se você perguntar a seus pais e avós sobre as personalidades femininas que eles estudaram nas aulas de história, provavelmente se lembrarão de duas ou três, mas, se você perguntar sobre as figuras masculinas, eles provavelmente citarão vários nomes.

Na época em que seus pais ou seus avós eram estudantes, a memória oficial era escrita majoritariamente por homens brancos, que não tinham interesse em construir a memória das mulheres e de homens não brancos, por exemplo.

O resgate da participação feminina na história é recente e está em construção, graças à luta de grupos de mulheres por representatividade. O mesmo mecanismo de silenciamento tem sido confrontado por indígenas, negros, imigrantes e refugiados, entre outros grupos.

A representatividade é muito importante para a história. Como os humanos são seres diversos (com identidades, personalidades e opções de vida variadas), quanto mais plurais as memórias sociais e coletivas forem, mais as pessoas terão consciência dessa diversidade no passado e no presente.

Ilustração de quatro cartazes. No cartaz 1, há a Ilustração de silhueta de uma mulher negra de perfil, com o cabelo preso em coque. Abaixo, o texto: Não foram preservadas imagens, por exemplo, de Maria Firmina dos Reis, que viveu no Brasil entre 1822 e 1917: negra, defensora da abolição da escravatura e escritora, ela escreveu o livro Úrsula. Publicado em 1859, é considerado o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil. No cartaz 2, há a fotografia em preto e branco de uma mulher negra com um lenço claro preso à cabeça, usando camisa listrada. Ela está sentada diante de uma mesa, escrevendo. Abaixo, o texto: A escritora Carolina Maria de Jesus, em São Paulo (SP). Foto de 1961. Carolina escrevia sobre sua realidade na periferia de São Paulo. Entre suas obras está Quarto de despejo, de 1960. No cartaz 3, há a fotografia de uma mulher negra de cabelo curto grisalho preso por uma faixa. Ela usa camisa estampada; ao fundo, pinturas na parede. À direita, o texto: A escritora Conceição Evaristo, em São Paulo (SP). Foto de 2017. Ela escreveu obras como Olhos d’água, de 2014. À esquerda, sobre o fundo de papel envelhecido, o texto: O papel das mulheres negras na história brasileira foi constantemente ignorado, esquecido ou apagado. Em uma sociedade que valorizava o conhecimento e a fala produzida por homens brancos, as mulheres não tinham espaço na história oficial. No cartaz 4, há a capa de um livro. Na parte superior, o título. Ao fundo, ilustração de uma menina e palmeiras. Abaixo, o texto: Capa do livro Narrativas negras, uma das muitas ações atuais para destacar as memórias silenciadas.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Qual é a importância do tempo para a história?
  2. Por que os calendários são importantes meios de referência? Cite dois exemplos de calendários usados na atualidade.
  3. Defina memória e explique a diferença entre memória individual e memória coletiva.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Identifique no caderno a alternativa correta. De acordo com o que você estudou, um fato histórico:
    1. é algo que aconteceu e pode ser comprovado por meio de documentos.
    2. pode ser inventado por qualquer pessoa, assim como os documentos.
    3. é feito por homens importantes, que normalmente ocupam cargos políticos.
    4. pode ser negado com base na opinião da maioria da população.
  2. Relacione os números das imagens da linha do tempo a seguir aos eventos que marcam o início dos períodos históricos representados.
Conjunto de ilustrações. Na parte superior, cinco ilustrações, uma ao lado da outra. Da esquerda para a direita,  ilustração 1: Pré-história. Homem e mulher com roupas feitas de pele de animais e uma fogueira ao lado. Ilustração 2: Idade Moderna. Homem usando casaco de manga longa, calça bufante, sapato com a ponta virada para cima e um chapéu com uma pena no alto. Ilustração 3: Idade Contemporânea. Mulher usando um vestido branco, com uma faixa azul na cabeça cobrindo um dos olhos, segura a bandeira da França. Ao fundo, casas em chamas. Ilustração 4: Idade Antiga. Pessoa usando túnica curta escrevendo em uma pedra com o auxílio de ferramentas. Ilustração 5: Idade Média. Homem com armadura, uma lança e um escudo encostados ao lado, com chamas em primeiro plano, e um castelo em chamas ao fundo. Na parte inferior, ilustração. Linha do tempo horizontal. Apresenta os seguintes marcos, da esquerda para a direita: 100 mil antes de Cristo; 4000 antes de Cristo; 476; 1453; 1789.
  1. Omo sápiens.
  2. Escrita.
  3. Fim do Império Romano do Ocidente.
  4. Queda de Constantinopla.
  5. Revolução Francesa.
  1. Em seu caderno, indique o século correspondente a cada um dos anos a seguir.
    1. 1500.
    2. 2015.
    3. 700 antes de Cristo
    4. 2000 antes de Cristo
  2. Escreva em seu caderno o ano inicial e o final de cada século a seguir.
    1. quatro antes de Cristo
    2. vinte e um.
    3. quinze.
    4. nove antes de Cristo

Aprofundando

5. A tirinha a seguir apresenta um diálogo entre o personagem Armandinho e sua mãe. Leia-o atentamente e, em seguida, responda às questões.

Quadrinho composto por 3 quadros. Apresenta Armandinho, menino de cabelo azul, usando uma camiseta branca, bermuda azul e uma mochila vermelha nas costas; sua mãe, vista da cintura para baixo; e seu amigo sapo. Quadro 1: A mãe de Armandinho diz: 'Hoje às duas horas você vai ao francês...'. Armandinho observa atentamente e o sapo sorri. Quadro 2: A mãe continua: '.. Às quatro você vai ao futebol, às seis na música e às oito você vai ao reforço de aula! Alguma dúvida?'. Armandinho observa atentamente e o sapo apresenta olhar confuso. Quadro 3: Armandinho questiona: 'Que horas eu vou ser criança?'. O sapo observa.
Armandinho, tirinha de Alexandre Beck, 2015.
  1. Quais são as atividades que Armandinho deve realizar em seu dia?
  2. Considerando que na parte da manhã Armandinho frequenta a escola, ele tem muitas ou poucas obrigações?
  3. Existe uma diferença entre a percepção do tempo de Armandinho e a da mãe dele?
  4. Explique qual é a diferença entre a percepção de tempo entre eles.
  1. A memória coletiva pode ser representada por meio do patrimônio cultural. Você se lembra do que estudou sobre patrimônio cultural? Trata-se de um conjunto de bens transmitidos de geração em geração que as pessoas escolhem preservar para assegurar a memória de uma família, de um grupo de pessoas, de um povo ou de uma nação. Esses bens podem ser materiais, imateriais e naturais. Além disso, podem ser reconhecidos por meio de políticas públicas ou não. Com base nessas informações, façam uma pesquisa sobre os patrimônios culturais de seu município ou região para, depois, com o auxílio do professor, realizar uma visita guiada a um deles. Para isso, sigam essas etapas:
    1. Retomem o que já estudaram sobre o assunto. Se necessário, pesquisem as definições das seguintes categorias do patrimônio: material, imaterial e natural.
    2. Pesquisem exemplos de patrimônios, na região onde vocês moram, de cada uma dessas categorias. Escolham um deles e realizem uma visita com o auxílio do professor. Lembrem-se de que o professor deve agendar previamente essa visita, e que vocês precisam da autorização dos seus responsáveis para o passeio!
    3. No dia determinado, façam a visita guiada ao patrimônio. É importante que vocês se organizem para que alguns estudantes tirem fotografias e outros tomem nota das informações coletadas durante a visita.
    4. De posse das anotações e fotos do dia da visita, elaborem coletivamente uma pequena descrição do patrimônio, apresentando as justificativas sobre a importância desse patrimônio para o município ou a região.

Glossário

Vestígio
: rastro, pista ou sinal de algo ou de alguém.
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Anacronismo
: algo fóra de seu tempo. O anacronismo consiste em atribuir a uma época ou a um personagem ideias e sentimentos que são de outra época, distorcendo os fatos e a compreensão do passado.
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Imutável
: que não muda.
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