UNIDADE 1 A HISTÓRIA E O INÍCIO DA CAMINHADA HUMANA NO PLANETA
A história e você: a importância da memória coletiva
Nesta unidade, você estudará, entre outros temas, o que é história e qual é a sua importância. Para compreender as sociedades de hoje, os historiadores estudam os modos de viver dos diversos grupos humanos em diferentes períodos. Para isso, utilizam as fontes históricas, vestígios do passado que, em muitos casos, são portadores de uma memória oficial e permitem compreender como povos e sociedades gostariam de ser lembrados. Assim, os historiadores trabalham, entre outras coisas, com a análise da construção dessas memórias.
Você já parou para pensar sobre os acontecimentos que afetaram a vida dos brasileiros? Por que alguns desses acontecimentos são relatados na história oficial ou nas comemorações cívicas e outros não?
Pense nos feriados nacionais. São celebrações que, de alguma , estão relacionadas à memória coletiva. Um personagem muito importante da história brasileira foi Zumbi, líder negro que lutou contra a escravidão. O dia 20 de novembro, data de morte dele, não é feriado nacional. A história de outro personagem é mais conhecida que a de Zumbi. Esse personagem é Tiradentes, que, durante o período colonial, lutou pela libertação da região onde vivia contra a dominação portuguesa. O dia 21 de abril, data da morte de Tiradentes, é feriado nacional. Por que Tiradentes é oficialmente lembrado pelo Estado brasileiro e Zumbi não é? fórma
O fato de Zumbi não ser lembrado pelo Estado brasileiro não impede, contudo, que sua memória seja mobilizada por diferentes grupos no presente. Ao longo do século vinte, os diferentes movimentos negros no Brasil têm reivindicado o direito de celebrar seus heróis e heroínas como parte da memória oficial da nação. Essa disputa pela história rendeu frutos: além de Zumbi, Dandara, por exemplo, figura entre as heroínas da pátria em um livro oficial que fica em Brasília ( Distrito Federal).
A fim de contribuir com esse debate, você e os colegas produzirão cartazes com propostas de criação de um feriado que celebre a história da maior parte da população brasileira. Para isso, verifiquem as etapas seguir.
Organizar
- Forme um grupo com quatro colegas.
- Pesquisem na internet ou em livros, revistas e jornais impressos personagens ou fatos marcantes da história dos negros no Brasil. Na internet, é importante buscar as informações em sites confiáveis, como os de universidades ou de institutos consolidados.
• Apresentem aos demais colegas o resultado da pesquisa que fizeram. Depois, selecionem uma data relacionada a um personagem ou evento que possa ser comemorada como feriado. Cada grupo deve produzir um cartaz de reivindicação.
Produzir
- Produzam um texto resumido de apresentação do personagem ou evento escolhido. Depois, complementem o texto com os motivos que, na visão do grupo, justifiquem a criação de um feriado associado a esse personagem/evento.
- Revisem o que escreveram para que fique compreensível e curto. Em seguida, copiem o texto no cartaz.
- Selecionem imagens para decorar o cartaz – podem ser fotos, ilustrações ou desenhos e colagens produzidos por vocês. Lembrem-se de criar legendas para as imagens!
Compartilhar
• No dia combinado com o professor, exponham os cartazes na sala de aula. Vocês podem tirar fotos da exposição e compartilhá-las em suas redes sociais ou no site da escola, caso isso seja possível.
Imagens em contexto!
A população negra é parte fundamental da composição profissional, cultural e artística que define o que é ser brasileiro. Resgatar as histórias e memórias dessa parcela da população é algo com que historiadores, por exemplo, podem contribuir.
CAPÍTULO 1 QUE HISTÓRIA É ESTA?
De que modo estudar o passado, e mesmo o presente, pode ajudar alguém a refletir sobre o que tornou o mundo como é hoje? Para compreender isso, tente descobrir a história contada na notícia que acompanha a manchete e a imagem reproduzidas. Analise-as e, depois, responda às questões. Imagine que você é um historiador, investigando um documento histórico, e as questões são as suas pistas.
Responda oralmente.
- Qual é o tema da notícia?
- Quando ela foi publicada?
- Qual deve ter sido a origem do problema revelado na imagem? Compartilhe suas hipóteses com os colegas.
Por que estudar história?
Você já reparou que muitas pessoas encaram o modo como vivem e o que as rodeia como se nada mudasse e tudo fosse natural?
Essa percepção contrapõe-se a algo muito importante que a história ensina: o que se vive em sociedade é resultado de decisões tomadas há milhares de anos ou poucos dias atrás.
Os seres humanos agem no mundo: constroem relacionamentos, trabalham e produzem objetos e saberes. Elaboram e compartilham leis, linguagens, afetos e uma infinidade de coisas relacionadas às suas identidades e ao tempo e ao espaço em que vivem.
Os historiadores estudam essas ações e relações humanas no decorrer do tempo para tentar entender o passado, identificando as rupturas (mudanças) e as permanências (o que se manteve) entre ele e o presente.
Um exemplo de ruptura na história do Brasil foi a imposição, no século dezoito, do português como idioma oficial. Até então, o inheêngatú era a língua mais falada na colônia portuguesa.
Um exemplo de permanência em seu dia a dia é o estudo da geometria, nas aulas de matemática. Essa ciência reúne saberes que já eram conhecidos na Grécia antiga. Saberes como esse e ações realizadas desde tempos remotos têm impacto direto no presente.
Imagens em contexto!
Após a luta de muitos grupos sociais, hoje, a legislação determina que lugar de criança é na escola e que a exploração do trabalho infantil é crime (embora continue existindo de fórma ilegal). Por meio do estudo da história, é possível entender por que foi necessário criar uma lei para proibir o trabalho de crianças.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
Transcrição do áudio
[LOCUTOR 1]: O que é história? [LOCUTOR 2]: Neste áudio, Maria Luísa de Castro e Damasceno, de 11 anos, conversa um pouco sobre história com o professor doutor José Geraldo Vinci de Moraes, da Universidade de São Paulo. Vamos ouvir? [MARIA LUISA]: O historiador francês Marc Bloch iniciou o seu livro Apologia da História com a lembrança de uma pergunta feita por uma criança: "Papai, para que serve a história?". Professor José Geraldo, para que serve a história? [JOSÉ GERALDO]: Bom... Olha, o Marc Bloch escreveu um livro para responder isso... Então, não é muito simples a resposta. Quando a gente pensa nas outras matérias que você tem na escola, a história não tem muito essa perspectiva prática de que ela "serve para alguma coisa". É importante a gente entender o passado para entender como é que você chegou até aqui. Para você entender quem é você, você precisa olhar quem você foi nenê, sua mãe te contar, seus amigos na escola, seus primos, seus colegas etc. E aí você olha para trás, para aquilo que você foi e entende: "Ah, eu sou a Malu hoje!". Então, as sociedades também fazem um pouco esse exercício que a gente faz com a gente mesmo. Olha lá para trás para tentar entender como é que ela chegou naquele momento no presente. [MARIA LUISA]: Como é o trabalho do historiador e com quais documentos o historiador trabalha? [JOSÉ GERALDO]: [TOM EXPLICATIVO] Não existe um trabalho do historiador. Pensa assim: o passado humano é uma coisa muito variada, cheio de informações, cheio de vidas que estão lá atrás. Então, depende muito de como o historiador vai trabalhar e de acordo com o que ele escolhe lá atrás, nesse passado. Se o historiador está preocupado com coisas econômicas, vai trabalhar com... [MARIA LUISA]: Dinheiro. [JOSÉ GERALDO]: Com dinheiro... Com tabelas... Esse tipo de coisa. Se ele está preocupado com questões artísticas, ele vai atrás de quadros, atrás de fotografias, atrás de uma música... Entendeu? Então, depende muito do tema que o historiador vai trabalhar. A partir dessa escolha, do tema que ele escolhe e do material que ele vai trabalhar é que ele desenvolve um método. Então, não há um [único] método para o historiador.
[MARIA LUISA]: [TOM DE DÚVIDA] Então, cada historiador trabalha com uma coisa? [JOSÉ GERALDO]: É, exatamente isso. Ou vários historiadores trabalham com temas muito semelhantes e eles desenvolvem entre si, conversando, lendo o trabalho um do outro, como é que eles acham a melhor maneira de trabalhar. Entendeu? [MARIA LUISA]: Entendi. [JOSÉ GERALDO]: Então, é difícil você dizer para o historiador que há um método só para trabalhar. [MARIA LUISA]: [TOM DE DÚVIDA] Existe uma história que é verdadeira? Assim... [JOSÉ GERALDO]: É... Então, o historiador trabalha com essa ideia de que há uma verdade. É diferente do romancista que pode inventar personagens, inventar uma história... A gente trabalha com a ideia de que existe verdade e não com ficção, só que na hora que a gente vai contar essa verdade... Como o personagem histórico Dom Pedro I, ele existiu. Não é invenção de cada um. Agora, como cada um vai interpretar quem foi Dom Pedro I tem diferença, entendeu? [MARIA LUISA]: Como a tecnologia de hoje em dia pode ajudar os estudantes a compreender a história? [JOSÉ GERALDO]: Ela ajuda muito, em todos os sentidos. Hoje em dia, por exemplo, um historiador que estuda a Grécia pode ter contato com documentos que 30 ou 40 anos atrás a gente não tinha acesso, só se ele fosse para a Grécia. Hoje está lá digitalizado, ele consegue ter acesso a esses documentos que antes não tinha. Isso é uma coisa importante. Outra coisa importante é que há um volume, agora, de informação muito grande. Isso ajuda muito os historiadores, de maneira geral, a terem vários tipos de informações e em quantidade. E tem o lado ruim disso, porque você vai para a internet e tem muita coisa ruim... [MARIA LUISA]: É... Tem muitas notícias falsas. [JOSÉ GERALDO]: Tem notícia falsa... Tem coisa que não tem importância nenhuma... Então, tem que filtrar muito, tem que peneirar muito essas informações todas. [MARIA LUISA]: O que os historiadores concluem quando eles discordam? [JOSÉ GERALDO]: Acho que a melhor coisa que eles concluem é que a discordância é importante. Mais do que você querer convencer o outro, é reconhecer a discordância. A melhor conclusão é: a discordância é importante. "Eu respeito a interpretação que você tem sobre a história, entendo o que você está falando e gostaria que você entendesse aquilo que eu interpreto sobre a história". O respeito a essa diferença acho que é a melhor coisa. [MARIA LUISA]: Quem foi o primeiro historiador? [JOSÉ GERALDO]: Classicamente, um que considero como pai da história, que é um cara que se chamava Heródoto, talvez você já tenha ouvido falar... [MARIA LUISA]: É... [JOSÉ GERALDO]: Mas isso é muito discutível. Aquilo que a gente aprende, geralmente, é isso: o pai da história é o Heródoto. Então... Ele desenvolve uma maneira de pensar baseada no testemunho. Quer dizer, a pessoa que estava lá me contar – se eu fosse o Heródoto, né? – me contar como é que a coisa aconteceu. E aí de uma maneira verdadeira e não com ficção, e não de acordo com o que um deus disse, que um mito disse... Então, é por isso que ele é considerado o primeiro historiador, tá? Mas é importante saber que é difícil determinar isso. Isso foi uma convenção que se criou... [MARIA LUISA]: Então é isso! [JOSÉ GERALDO]: É isso? Então tá bom... Adorei!
Você, agente histórico
Há mais de cem anos, acreditava-se que os agentes ou sujeitos históricos eram somente os poderosos, como reis e rainhas, presidentes e generais, que pareciam decidir o destino da humanidade. Hoje se entende que todos são produtores de história: homens e mulheres, adultos e idosos, jovens e crianças de qualquer camada social.
A história dos jovens, dos trabalhadores rurais, de pessoas escravizadas e dos estudantes – suas práticas, sentimentos, ações e crenças – é tão importante quanto a de conhecidos líderes, ainda que não vire notícia.
Há agentes históricos individuais (pessoas que, por conta própria, agem no mundo) e coletivos (como agremiações, partidos políticos, sindicatos, Organizações Não Governamentais – ônguis –, movimentos estudantis, igrejas e fôrças armadas), em que pessoas atuam em grupo.
É importante saber que cada sujeito é movido por interesses específicos. Além disso, é fundamental entender por que tal ação ou decisão foi tomada e quem se beneficiou dela. Isso ajuda a compreender como a história é produzida e contada.
Imagens em contexto!
Desde o século dezenove, grupos de afrodescendentes se unem para reivindicar o reconhecimento de seu direito à cidadania plena. Eles são exemplos de sujeitos históricos coletivos.
As fontes históricas
Você descobriu que todas as pessoas são agentes históricos, mas como saber de que modo viviam e pensavam as pessoas no passado? Para os historiadores, só é possível compreender isso por meio da análise das fontes históricas, que podem ser documentos escritos, objetos, pinturas, fotografias, depoimentos orais etcétera
Os documentos históricos, produzidos ou modificados pelos seres humanos em tempos e lugares determinados, contribuem para que os historiadores formulem questões e busquem respostas sobre o modo como as pessoas viviam e se organizavam em grupos, o que produziam e muito mais.
Tais questões são sempre despertadas por interesses e experiências da época em que o historiador vive. Dificilmente um historiador do século dezenove se perguntaria, por exemplo, sobre sustentabilidade e fontes renováveis de energia. Afinal, temas como esses são prioridades do presente.
Imagens em contexto!
Na obra de Américo, é representada com grandiosidade a declaração de independência do Brasil, em 1822. Pedro Américo pintou esse quadro 66 anos após a declaração de independência. Ao analisar tal imagem, o historiador pode se questionar sobre a escola artística de que o artista fazia parte e as técnicas de pintura que ele utilizou. Além disso, pode procurar saber se o evento ocorreu da fórma como foi representado na obra, com a mesma paisagem, os mesmos animais, os mesmos personagens etcétera A intenção do pintor ao produzir a obra também é objeto de estudo do historiador.
Analisando o passado
Você já pensou no fato de que a escola, as aulas e até o que os professores ensinam têm uma história? Imagine como eram as aulas de educação física na época em que seus avós ou bisavós estudavam. Deviam ser bem diferentes das suas, não é? Mas como você pode comprovar isso?
De várias maneiras. Você pode conversar com seus pais, avós ou bisavós sobre isso ou procurar a resposta em livros, jornais ou revistas impressos e na internet. Pode, ainda, analisar fotografias de diferentes datas. Todos os materiais que podem ser usados para buscar respostas a questões sobre o passado são fontes históricas. Analise as fotos a seguir.
Nessas imagens, foram registradas aulas de educação física em diferentes períodos no Brasil. Elas revelam algumas mudanças ocorridas em pouco mais de um século.
Responda no caderno.
Responda no caderno.
- Sobre cada uma das imagens, descreva:
- o espaço em que ocorreu a aula;
- o modo como os estudantes estão dispostos nesse espaço.
- Que rupturas e permanências você nota entre as imagens?
- Por que é possível afirmar que essas imagens podem ser usadas como fontes históricas?
O trabalho do historiador
O que ocorreu no passado pode ser denominado fato histórico. Para entender os fatos históricos, são estudadas as fontes que os registraram. Assim, se não existem registros sobre o passado, não há como saber o que ocorreu.
Em contrapartida, os fatos conhecidos podem ser registrados de diferentes maneiras. Um acidente de trânsito, por exemplo, pode ser relatado por um dos motoristas envolvidos nele e também filmado por uma câmera instalada na rua. O fato é o acidente: ele ocorreu e não há como negar. O motorista contou que não viu o sinal fechado. A imagem da câmera mostra que ele estava ao celular enquanto dirigia. Como interpretar a situação?
Essas fontes dão margem para produzir diferentes interpretações sobre o acidente, mas são evidências de que o fato ocorreu. Ou seja, elas são vestígiosglossário deixados pelos sujeitos históricos envolvidos no evento. Ao examiná-las, é possível debater o fato, mas não negar sua ocorrência.
O trabalho do historiador consiste, pois, na análise criteriosa, com método, das fontes. Nesse sentido, busca-se evitar qualquer tipo de anacronismoglossário nas explicações sobre o passado. Além disso, sua produção não é apenas uma opinião construída com base n o que se acredita ou se “acha” que o passado foi.
Imagens em contexto!
Na semifinal da Copa do Mundo de Futebol de 2014, o time masculino do Brasil perdeu de 7 a 1 para o da Alemanha e foi eliminado do torneio. Esse fato está registrado em vários documentos (jornais, imagens de televisão, internet, fotos de família, relatos orais etcétera). Pode haver interpretações diferentes sobre o que contribuiu para a derrota do time brasileiro, mas não é possível negar que ele perdeu.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Defina com suas palavras o objeto de estudo do historiador.
- O que é um agente histórico?
- Explique o que é uma fonte histórica.
O tempo e a história
Você sabe o que é o tempo? Os seres humanos se fazem essa pergunta há milênios! Mesmo sendo difícil explicar o que é o tempo, é possível sentir sua passagem.
A passagem do tempo é fundamental para a história, pois essa ciência é usada para estudar as rupturas e as permanências na vida dos seres humanos do passado até os dias atuais. Mas como, afinal, marcar a passagem de algo que não se consegue definir?
Você poderia citar os relógios de pulso, de parede, dos celulares etcétera e os calendários. Foi observando e aprendendo com a natureza que os povos da Antiguidade inventaram os relógios.
Entre os mais antigos estão os relógios de sol, que foram construídos pelos egípcios há mais de 3 mil anos. Os calendários também foram inventados para medir o tempo. O egípcio, criado há aproximadamente 6 mil anos, é um dos mais antigos.
Pode-se dizer que, apesar dos métodos de contagem, a percepção da passagem do tempo é subjetiva. Dependendo do momento, parece que o tempo voa ou, ao contrário, que ele se arrasta. Se você está se divertindo, sente que ele passa muito rápido, mas, se está entediado, tem a impressão de que ele demora mais a passar. Não é assim?
Para uma criança de 6 anos, uma semana é muito tempo, pois o ponto de vista dela é o de quem ainda está no início da vida. E, para alguém de 65 anos, a semana passa num piscar de olhos.
Há povos indígenas no Brasil, por exemplo, que acreditam que os dias longos são carregados por um caramujo e os curtos são transportados por um beija-flor. Essa dimensão subjetiva da percepção do tempo também é matéria de interesse do historiador.
fórmas de medir o tempo
Fonte: BERGAMINI, C. Para conseguir contar o tempo, foi uma questão de tempo. ComCiência, 6 setembro 2018. Disponível em: https://oeds.link/x8ZmtC. Acesso em: 19 janeiro 2022.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.
O calendário gregoriano
O tempo subjetivo é aquele que você sente e que depende de sua percepção como indivíduo. O tempo compartilhado é o que serve como referencial para um grupo maior de pessoas, pois é dividido entre os integrantes de uma comunidade.
Qual seria o referencial compartilhado pelos integrantes da comunidade em que você vive? A resposta está nos calendários.
Por meio do calendário, você sabe quais são os dias em que vai à escola, os dias em que seus familiares trabalham, o dia em que é celebrado seu aniversário (e quantos anos você tem) e em que comemora festividades como o Carnaval ou o Natal. É o calendário que possibilita às pessoas construir uma percepção da história.
Imagens em contexto!
Máquinas do tempo como a desejada por gárfild atraem muito a curiosidade das pessoas e, frequentemente, são temas de filmes de ficção científica. Existe, porém, uma máquina do tempo muito real: o cérebro! Com ele, por meio da memória, as pessoas podem relembrar momentos e, com a imaginação, especular sobre a vida no passado e também projetar cenários futuros. Não é incrível?
Há muitos calendários para fazer a contagem do tempo, mas para cada um deles foi considerado um acontecimento como o marco zero, ou seja, o início da contagem do tempo.
O calendário em uso oficial no Brasil é o gregoriano, que foi criado no século dezesseis a mando do papa Gregório treze. Para elaborar esse calendário, foi considerado como ano 1 (ou marco zero) o nascimento de Cristo. Por isso, para indicar algo que aconteceu antes do ano 1, utiliza-se a expressão antes de Cristo ( antes de Cristo). O termo depois de Cristo ( Depois de Cristo) é usado para marcar eventos ocorridos do ano 1 em diante.
O calendário gregoriano é constituído por doze meses. Onze deles são compostos de 30 ou 31 dias, e um tem 28 dias (fevereiro). Cada ano tem 365 dias, mas, de quatro em quatro anos, ocorre o ano bissexto, que tem 366 dias. Quando o ano é bissexto, o mês de fevereiro tem 29 dias.
Os calendários judaico e muçulmano
Para os judeus, tradicionalmente, era comum usar um calendário baseado nos movimentos do Sol e da Lua (lunissolar), no qual o marco zero seria a criação do mundo, que eles acreditam ter ocorrido em 3760 antes de Cristo (de acordo com o calendário gregoriano).
Note, no quadro a seguir, a correspondência entre os dias da semana no calendário judaico e os dias da semana no calendário gregoriano.
Semana judaica |
Semana no calendário gregoriano |
---|---|
1º dia. |
Início: noite de sábado |
2º dia. |
Início: noite de domingo |
3º dia. |
Início: noite de segunda-feira |
4º dia. |
Início: noite de terça-feira |
5º dia. |
Início: noite de quarta-feira |
6º dia. |
Início: noite de quinta-feira |
7º dia. |
Início: noite de sexta-feira |
Fonte: Calendário judaico: entenda como os judeus contam o tempo. Calendar Brasil. Disponível em: https://oeds.link/Lj9Clb. Acesso em: 10 dezembro 2021.
No calendário muçulmano, o início da contagem, isto é, o ano 1, corresponde ao momento da Hégira, ou seja, a saída do profeta Maomé da cidade de Meca à cidade de Medina, no ano 622 Depois de Cristo (de acordo com o calendário gregoriano).
Note, no quadro a seguir, a correspondência entre os dias da semana no calendário islâmico e os dias da semana no calendário gregoriano.
Semana islâmica |
Semana no calendário gregoriano |
---|---|
1º dia. Yaum as-Sabt |
Sábado |
2º dia. Yaum al-Ahad |
Domingo |
3º dia. Yaum al-Ithnayn |
Segunda-feira |
4º dia. Yaum ath-Thalatha |
Terça-feira |
5º dia. Yaum al-Arba’a |
Quarta-feira |
6º dia. Yaum al-Khamis |
Quinta-feira |
7º dia. Yaum al-Jum’a |
Sexta-feira |
Fonte: Calendário islâmico: conheça sua história e saiba como funciona. Calendar Brasil. Disponível em: https://oeds.link/LbGONY. Acesso em: 10 dezembro 2021.
A linha do tempo
Os meses e os anos do calendário gregoriano orientam as marcações históricas. Para organizar essas marcações, os historiadores usam um instrumento chamado linha do tempo.
Na linha do tempo os acontecimentos são dispostos em sequência. Observando-a, é possível visualizar o que aconteceu antes e depois de um fato histórico ou, ainda, os fatos que ocorreram simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo (no mesmo local ou em locais diferentes).
Observe a linha do tempo sobre a vida de Luísa.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.
As informações que estão na linha do tempo referem-se à vida de Luísa e de sua família.
Não foram, porém, citados todos os fatos ocorridos na vida dela. A seleção de fatos, portanto, é uma escolha motivada por aquilo que se quer destacar ao montar a linha do tempo.
No dia do nascimento de Luísa, muitas outras pessoas também nasceram. Poderia ser feita uma linha do tempo para cada uma dessas pessoas. Os acontecimentos, nesse caso, seriam simultâneos, isto é, teriam ocorrido ao mesmo tempo que os representados na linha do tempo de Luísa.
A lógica da linha do tempo é sempre a mesma: define-se um referencial e organizam-se os eventos em sequência com base nessa referência.
Nos países que adotam o calendário gregoriano, a linha do tempo é definida com base no nascimento de Cristo.
Dica
livro
Linha do tempo, de Cláudia de Castro Lima. São Paulo: Panda Books, 2008.
Nesse livro, Cláudia de Castro Lima organizou em linhas do tempo, datadas de milhares de anos antes de Cristo até os dias de hoje, centenas de informações a respeito de invenções das mais variadas categorias: habitação, saúde, vestuário, transporte etcétera
A divisão por períodos ou linha do tempo da história
A divisão por períodos, por sua vez, foi estabelecida por estudiosos europeus no século dezenove, para facilitar o estudo da história. Note o exemplo a seguir.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.
Na linha do tempo da história, são marcados cinco períodos: Pré-história, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea (você está na Idade Contemporânea). Essa linha do tempo é eurocêntrica, isto é, tem como base valores e eventos ligados à história dos europeus.
É preciso dizer, ainda, que há mais um consenso entre os historiadores: o uso dos algarismos romanos para a representação dos séculos. Vale lembrar que um século representa um período de cem anos.
Anos |
Século |
---|---|
1 a 100 |
I |
101 a 200 |
II |
201 a 300 |
III |
301 a 400 |
IV |
401 a 500 |
V |
501 a 600 |
VI |
601 a 700 |
VII |
Anos |
Século |
---|---|
701 a 800 |
VIII |
801 a 900 |
IX |
901 a 1000 |
X |
1001 a 1100 |
XI |
1101 a 1200 |
XII |
1201 a 1300 |
XIII |
1301 a 1400 |
XIV |
Anos |
Século |
---|---|
1401 a 1500 |
XV |
1501 a 1600 |
XVI |
1601 a 1700 |
XVII |
1701 a 1800 |
XVIII |
1801 a 1900 |
XIX |
1901 a 2000 |
XX |
2001 a 2100 |
XXI |
Cruzando fronteiras
Os primeiros brinquedos foram inventados há milhares de anos e, até hoje, continuam produzindo alegria. Conheça a seguir um pouco da trajetória deles.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.
Fonte: elaborada com base em Recreio, ano 15, número 813, página 16, 8 outubro 2015.
Responda no caderno.
- Em que séculos foram inventados os patins, a bolinha de gude e o bicho de pelúcia?
- Compare dois grupos de brinquedos: o dos inventados até a década de 1970 e o dos inventados a partir dos anos 1980. Você nota alguma diferença entre eles? Qual?
Memória e história
Você já notou que os historiadores estudam as ações humanas em suas relações com o tempo (passado e presente) e o espaço, compreendendo as fórmas de viver de diferentes grupos sociais com base na análise e na interpretação de documentos. Pode-se também dizer que eles trabalham com a construção da memória.
Você já pesquisou as memórias de sua família? Memórias são as lembranças do passado que as pessoas organizam e contam. Elas não são exatas ou imutáveisglossário .
Provavelmente, as memórias que você tem de sua primeira infância são diferentes das que você tinha aos 6 anos. Elas também são diferentes das que seus pais têm sobre o mesmo período.
O processo de construção de uma memória é complexo, pois as pessoas se lembram e se esquecem com frequência dos eventos sobre elas e sua família.
Esse processo é ainda mais complexo quando envolve a memória coletiva ou social.
As memórias dos grupos não surgem de fórma espontânea, natural ou imparcial. Elas são negociadas e, em geral, atendem a interesses específicos.
Memórias silenciadas
Se você perguntar a seus pais e avós sobre as personalidades femininas que eles estudaram nas aulas de história, provavelmente se lembrarão de duas ou três, mas, se você perguntar sobre as figuras masculinas, eles provavelmente citarão vários nomes.
Na época em que seus pais ou seus avós eram estudantes, a memória oficial era escrita majoritariamente por homens brancos, que não tinham interesse em construir a memória das mulheres e de homens não brancos, por exemplo.
O resgate da participação feminina na história é recente e está em construção, graças à luta de grupos de mulheres por representatividade. O mesmo mecanismo de silenciamento tem sido confrontado por indígenas, negros, imigrantes e refugiados, entre outros grupos.
A representatividade é muito importante para a história. Como os humanos são seres diversos (com identidades, personalidades e opções de vida variadas), quanto mais plurais as memórias sociais e coletivas forem, mais as pessoas terão consciência dessa diversidade no passado e no presente.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Qual é a importância do tempo para a história?
- Por que os calendários são importantes meios de referência? Cite dois exemplos de calendários usados na atualidade.
- Defina memória e explique a diferença entre memória individual e memória coletiva.
Atividades
Responda no caderno.
Organize suas ideias
- Identifique no caderno a alternativa correta. De acordo com o que você estudou, um fato histórico:
- é algo que aconteceu e pode ser comprovado por meio de documentos.
- pode ser inventado por qualquer pessoa, assim como os documentos.
- é feito por homens importantes, que normalmente ocupam cargos políticos.
- pode ser negado com base na opinião da maioria da população.
- Relacione os números das imagens da linha do tempo a seguir aos eventos que marcam o início dos períodos históricos representados.
- . Omo sápiens
- Escrita.
- Fim do Império Romano do Ocidente.
- Queda de Constantinopla.
- Revolução Francesa.
- Em seu caderno, indique o século correspondente a cada um dos anos a seguir.
- 1500.
- 2015.
- 700 antes de Cristo
- 2000 antes de Cristo
- Escreva em seu caderno o ano inicial e o final de cada século a seguir.
- quatro antes de Cristo
- . vinte e um
- . quinze
- nove antes de Cristo
Aprofundando
5. A tirinha a seguir apresenta um diálogo entre o personagem Armandinho e sua mãe. Leia-o atentamente e, em seguida, responda às questões.
- Quais são as atividades que Armandinho deve realizar em seu dia?
- Considerando que na parte da manhã Armandinho frequenta a escola, ele tem muitas ou poucas obrigações?
- Existe uma diferença entre a percepção do tempo de Armandinho e a da mãe dele?
- Explique qual é a diferença entre a percepção de tempo entre eles.
- A memória coletiva pode ser representada por meio do patrimônio cultural. Você se lembra do que estudou sobre patrimônio cultural? Trata-se de um conjunto de bens transmitidos de geração em geração que as pessoas escolhem preservar para assegurar a memória de uma família, de um grupo de pessoas, de um povo ou de uma nação. Esses bens podem ser materiais, imateriais e naturais. Além disso, podem ser reconhecidos por meio de políticas públicas ou não.
Com base nessas informações, façam uma pesquisa sobre os patrimônios culturais de seu município ou região para, depois, com o auxílio do professor, realizar uma visita guiada a um deles. Para isso, sigam essas etapas:
- Retomem o que já estudaram sobre o assunto. Se necessário, pesquisem as definições das seguintes categorias do patrimônio: material, imaterial e natural.
- Pesquisem exemplos de patrimônios, na região onde vocês moram, de cada uma dessas categorias. Escolham um deles e realizem uma visita com o auxílio do professor. Lembrem-se de que o professor deve agendar previamente essa visita, e que vocês precisam da autorização dos seus responsáveis para o passeio!
- No dia determinado, façam a visita guiada ao patrimônio. É importante que vocês se organizem para que alguns estudantes tirem fotografias e outros tomem nota das informações coletadas durante a visita.
- De posse das anotações e fotos do dia da visita, elaborem coletivamente uma pequena descrição do patrimônio, apresentando as justificativas sobre a importância desse patrimônio para o município ou a região.
Glossário
- Vestígio
- : rastro, pista ou sinal de algo ou de alguém.
- Voltar para o texto
- Anacronismo
- : algo fóra de seu tempo. O anacronismo consiste em atribuir a uma época ou a um personagem ideias e sentimentos que são de outra época, distorcendo os fatos e a compreensão do passado.
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- Imutável
- : que não muda.
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