CAPÍTULO 2 A HISTÓRIA ANTES DA ESCRITA
Observe as imagens desta página. Você consegue perceber a diversidade de seres vivos que há no Brasil? Imagine agora a quantidade de espécies que existem no restante do planeta. Como explicar o modo como todos esses seres se estabeleceram na Terra? E o ser humano, como e onde surgiu? Se você já teve alguma dessas dúvidas, saiba que não está sozinho: as pessoas se questionam sobre sua origem há muito tempo. Neste capítulo, você estudará um pouco do que já se descobriu sobre esse tema.
Responda oralmente.
- O que você já leu ou ouviu a respeito do surgimento da vida na Terra?
- E os seres humanos, em que lugar do planeta surgiram?
- Os seres humanos sempre foram como os que vivem hoje ou mudaram ao longo do tempo?
- Em sua opinião, por que existem tantas espécies diferentes de plantas e animais no planeta?
Como explicar o desenvolvimento da vida na Terra?
Ao longo do tempo e em diferentes lugares, as pessoas tentaram encontrar sentido para sua existência e explicar questões como o surgimento da vida e dos seres humanos. Para isso, recorreram a crenças e saberes transmitidos de uma geração a outra.
Em algumas explicações, a origem humana foi atribuída à ação de seres divinos. Na Grécia antiga, por exemplo, acreditava-se que os humanos foram criados pelo titã Prometeu a pedido de Zeus, o maior dos deuses. Prometeu, então, para diferenciar os humanos dos outros animais, roubou o conhecimento do fogo e o deu a eles, sendo, por isso, castigado eternamente por Zeus.
Entre os antigos hebreus, acreditava-se que um deus todo-poderoso havia criado um homem a sua imagem e semelhança, moldando-o do barro e dando-lhe vida. Depois, esse deus criou a primeira mulher usando uma costela desse homem.
Já os antigos maias acreditavam que os deuses juntaram milho, água e sangue divino para criar os primeiros humanos, com a intenção de que estes os adorassem.
Narrativas como essas são consideradas explicações mítico-religiosas. Elas têm em comum uma ideia mágica ou sobrenatural de que os humanos foram criados pela vontade de um ou de vários deuses. Também é usual nessas explicações a espécie humana ser considerada superior às demais. Além disso, essas narrativas apresentam afirmações supostamente incontestáveis e expressões como “foi assim”, “deus ou os deuses quiseram assim”, “assim o é”, entre outras.
FONTE: bróderston, G.; MEDEIROS, S. ( organizador). Popol Vuh. São Paulo: Iluminuras, 2007. página 265-267.
Imagens em contexto!
As narrativas mítico-religiosas de criação dos humanos apresentam elementos relacionados às características geográficas e naturais do lugar onde viveram os povos que as imaginaram. Veja um exemplo: o mito de criação maia foi registrado no popol vu, livro escrito no século XVI. Segundo essa narrativa, os deuses tentaram criar uma figura humana de barro e, depois, de madeira, mas não conseguiram. A última tentativa deu certo: eles finalmente criaram os seres humanos usando como base um alimento fundamental para os maias – o milho.
O método científico
As explicações mitológicas ou religiosas são baseadas em crenças. Já as da ciência são obtidas por meio de um conjunto de procedimentos conhecido como método científico.
Ao empregar esse método, o cientista observa e analisa evidências para formular hipóteses que o ajudem a solucionar determinada questão. Em seguida, realiza testes e experimentos e, depois, apresenta a outros cientistas as conclusões que obteve. Após debater essas conclusões, os cientistas podem chegar a consensosglossário e elaborar teorias. No entanto, os resultados podem gerar outras dúvidas. Nesse caso, a pesquisa deve ser retomada até que se produza consenso. Algumas vezes, ela dá origem a pesquisas científicas diferentes, em um ciclo constante de produção de conhecimento.
Para responder às questões sobre a origem da vida, os cientistas coletam e analisam evidências do passado, como fósseisglossário de plantas e de animais. O avanço das investigações científicas ajuda os pesquisadores a montar as peças do quebra-cabeça da origem das espécies, incluindo a humana.
É importante respeitar as diversas explicações religiosas sobre a origem da espécie humana, mas elas não se baseiam em investigações científicas. Por isso, neste livro, serão apresentadas as explicações científicas para a história humana. A proposta científica mais aceita sobre o surgimento dos humanos e de outros seres vivos é a teoria da evolução, desenvolvida com base nos estudos do britânico Charles Dárvin, no século XIX.
O método científico
FONTE: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Método Científico. u éfe érre gê ésse Jovem, 2020. Disponível em: https://oeds.link/5s3Wlv. Acesso em: 1º dezembro 2021.
A teoria da evolução e a seleção natural
Você sabe que a altura, o tipo de cabelo e a cor dos olhos, entre outras características, das pessoas variam. Isso ocorre também com as outras espécies de seres vivos.
Charles Dárvin percebeu que indivíduos da mesma espécie se relacionavam com o ambiente de acordo com as características que apresentavam. Assim, dependendo das condições ambientais, alguns se tornavam mais aptos a sobreviver do que outros de sua espécie.
Com base nessas observações, Dárvin e o naturalista britânico Álfred Vallace propuseram a denominada teoria da seleção natural.
Para explicar como funciona a seleção natural, Dárvin utilizou o exemplo da girafa. Os ancestrais das girafas tinham pescoço de comprimentos variados: algumas nasciam com o pescoço mais comprido; outras, com o pescoço mais curto. Essas variações eram hereditárias, ou seja, passavam de uma geração a outra. Para compreender o processo, observe as imagens e leia o texto do boxe.
Imagens em contexto!
Só as girafas de pescoço comprido alcançavam as folhas dos galhos mais altos para alimentar-se. Assim, elas conseguiam chegar à fase adulta e geravam filhotes que herdavam a característica de ter pescoço comprido. Já as girafas de pescoço curto, como não conseguiam se alimentar, não viviam tempo suficiente para gerar descendentes; por isso, foram extintas.
Todas as espécies estão sujeitas a esse processo. Portanto, isso aconteceu com os primeiros humanos.
A Terra passou por consideráveis mudanças ao longo do tempo: houve períodos mais quentes, outros frios; alguns mais chuvosos, outros secos. Além disso, a história do planeta é marcada por eventos como erupções vulcânicas e terremotos.
Em um mundo em constante transformação, algumas espécies ancestrais do ser humano sobreviveram por apresentar determinadas características vantajosas, enquanto outras acabaram sendo extintas. Isso mesmo: no passado, existiram várias espécies de hominídeos, a família de espécies que incluía a humana.
Os primeiros humanos
Um dos primeiros exemplares de hominídeos de que foram encontrados vestígios era do gênero australupitécus. Existiram várias espécies desse gênero.
O esqueleto de australupitécus mais conhecido foi descoberto na Etiópia, país do leste africano, em 1974. Era de uma fêmea da espécie australopitécus afarênsis e foi batizado de Lucy, porque, no momento da descoberta, os arqueólogos estavam ouvindo a canção Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles, grupo musical britânico. Na época, a descoberta causou sensação, pois se tratava de um ancestral humano com cêrca de 3,2 milhões de anos.
Lucy tinha um pouco mais de um metro de altura e compartilhava com os humanos algumas características, como andar sobre duas pernas (bipedismo). No entanto, apresentava características de outros primatas, como os chimpanzés: braços longos e curvados e mandíbula inferior saliente, mais adaptada para mastigar vegetais crus.
Ao longo de milhões de anos, muitas espécies de hominídeos apareceram e foram extintas. Algumas deram origem aos seres humanos atuais; outras aos gorilas, chimpanzés e orangotangos.
Imagens em contexto!
Lucy também é conhecida por um nome menos popular, “ dincnéch”, que em aramaico, a língua oficial da Etiópia, quer dizer “Tu és maravilhosa”. As escavações arqueológicas encontraram 47 ossos de seu esqueleto, fazendo desta, à época, a descoberta mais completa do gênero. Esse material arqueológico encontra-se guardado em um cofre no Museu Nacional da Etiópia. Entretanto, a exemplo do que ocorre em outros museus espalhados pelo mundo, os visitantes só podem ver as réplicas, como na imagem desta página.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Identifique algumas características presentes em uma narrativa mítico-religiosa.
- Descreva as principais etapas de uma explicação científica.
- Resuma a teoria da seleção natural desenvolvida por Chárles Dárvin.
O gênero ômo
Por volta de 2,5 milhões de anos atrás, surgiu o gênero ômo, do qual faz parte a espécie Omo sápiens. É provável que esse gênero tenha evoluído do australupitécus, mas isso ainda está em investigação. Conheça a seguir características de algumas das espécies do gênero ômo.
- ômo ábilis (2,4-1,4 milhão de anos): foi provavelmente a primeira espécie do gênero. Os indivíduos dessa espécie desenvolveram a habilidade de produzir instrumentos cortantes de pedra, que utilizavam para preparar alimentos.
- ômo eréctus (1,9 milhão-110 mil anos): os indivíduos dessa espécie eram caçadores-coletores e usavam ferramentas de pedra lascada, como machados. Foram os primeiros a sair da África, ocupando regiões da Ásia e da Europa.
- ômo neãndertalêncis (400-40 mil anos): os neandertais viviam na Europa e na Ásia Ocidental em grupos de caçadores-coletores. Vestiam-se com peles de animais, fabricavam instrumentos de ossos, galhos e pedras e realizavam pinturas rupestres. Existem evidências de que alguns grupos enterravam os mortos.
- Homo sapiens: surgiu há cêrca de 300 mil anos. Por volta de 190 mil anos atrás, grupos de indivíduos dessa espécie começaram a migrar, ocupando boa parte da África e depois se espalhando pelos demais continentes. Eles produziram instrumentos e desenvolveram técnicas elaboradas, como as da cerâmica, da metalurgia e do curtumeglossário . Isso demonstra que eles tinham alta capacidade inventiva e de aprendizagem, atributos favorecidos pelo desenvolvimento da linguagem verbal.
FONTE: mécfi, L. The history of life on Earth. Northern Arizona University. Disponível em: https://oeds.link/iGJCpV. Acesso em: 2 dezembro 2021.
Imagens em contexto!
Se toda a história da vida na Terra durasse 24 horas, o ser humano teria surgido apenas no último segundo antes da meia-noite! Pode-se dizer, portanto, que a humanidade é jovem, considerando a época do aparecimento de outras espécies do gênero ômo, e, principalmente, o início do processo de desenvolvimento da vida na Terra.
Vamos pensar juntos?
É provável que você já tenha notado alguma imagem semelhante à da ilustração anterior: uma fila de hominídeos representando a evolução humana. Essa linha evolutiva está estampada em camisetas, revistas e anúncios e aparece em uma infinidade de charges e memes publicados na internet.
A ilustração de 1871 já é menos conhecida: nela, Chárles Dárvin, um dos autores da teoria da seleção natural, é representado com corpo de macaco. Várias outras imagens como essa foram produzidas logo após a publicação do livro A origem das espécies, em 1859, para ridicularizar o cientista por afirmar que seres humanos e macacos descendem de um ancestral em comum.
A primeira imagem – a da fila – também está relacionada ao equívoco de achar que o ser humano descende do macaco. A ideia de uma fila evolutiva passa a impressão de que as transformações que deram origem à espécie humana foram lineares, ou seja, sugere que em determinado momento um ancestral desaparecia para dar lugar a outro, mais evoluído.
O fato de os seres humanos compartilharem ancestrais com outros primatas (gorilas, chimpanzés e orangotangos, por exemplo) não significa que sejam descendentes deles.
Considere sua família: você não é descendente direto de seu tio, certo? Logo, seu primo não é seu irmão. Só que tanto você quanto seu primo são descendentes de seus avós. Pense, então, que os chimpanzés são como primos dos humanos na evolução, e o avô deles em comum foi extinto há milhões de anos.
Assim, a representação gráfica da evolução humana é mais parecida com uma árvore do que com uma linha: o caule representa os ancestrais comuns e os galhos, as espécies que se modificaram ao longo do tempo.
Observe na imagem a seguir que, quando o Omo sápiens apareceu, existiam ainda outras espécies de hominídeos, como a do ômo eréctus e a do Homo neanderthalensis. Ou seja, eles conviveram por muito tempo.
Árvore da evolução humana
FONTE: What does it mean to be human? Smithsonian National Museum of Natural History. Disponível em: https://oeds.link/zNSvmp. Acesso em: 2 dezembro 2021.
Responda no caderno.
- Em sua opinião, por que foram produzidas caricaturas de Dárvin com corpo de macaco?
- Por que é incorreto, do ponto de vista evolutivo, afirmar que os seres humanos descendem dos macacos?
- Explique de que maneira a representação em fórma de árvore ajuda a demonstrar o equívoco da ideia de uma evolução linear.
A importância do fogo
Você já reparou na importância das diferentes fórmas de energia que são utilizadas pelas pessoas? Percebeu que a falta de energia elétrica, por exemplo, transforma sua rotina? Imagine, então, como foi importante para os seres humanos aprender a produzir uma fórma de energia que hoje parece simples, mas é essencial: o fogo.
Há cêrca de 1 milhão de anos, algumas espécies de hominídeos provavelmente já usavam o fogo. Entretanto, utilizar não é o mesmo que saber produzir. O fogo se fórma naturalmente em decorrência da queda de um raio em um lugar seco, por exemplo. Esses hominídeos aproveitavam o fogo de incêndios naturais, mas não eram capazes de mantê-lo aceso.
A capacidade de produzir fogo só foi alcançada por espécies do gênero ômo. Com o contrôle e a produção de fogo, esses indivíduos puderam se proteger de maneira mais eficiente do ataque de outros animais, obter luz e calor para enfrentar o frio e preparar alimentos.
A comida cozida ou assada, além de diminuir a presença de bactérias e parasitas que causavam doenças, era mais fácil de mastigar e digerir, e seus nutrientes podiam ser mais bem absorvidos pelo corpo. Com isso, os indivíduos gastavam menos energia na digestão. A energia que sobrava podia ser usada pelo cérebro, o que ajudou no desenvolvimento de muitas habilidades.
FONTE: HIGHAM, C. La vida en el Paleolítico. Madrid: Ediciones Akal, 1990.
Imagens em contexto!
O ato de preparar e consumir alimentos ao redor de uma fogueira mudou a comunicação e a troca de conhecimentos entre os humanos, incentivando o convívio social e o desenvolvimento da linguagem.
Dica
FILME
Os Croods
Direção: Chris Sanders. Estados Unidos, 2013. Duração: 98 minutos
O filme não foi produzido com rigor histórico e científico, mas você vai se divertir assistindo ao convívio entre os neandertais e os Sápiens, com destaque para a aprendizagem da produção do fogo.
Quando nos tornamos humanos?
É difícil saber quando surgiram os primeiros ancestrais humanos, mas, de acordo com alguns cientistas, como os paleontólogosglossário , eles foram hominídeos que tiveram um desenvolvimento peculiar do cérebro. Graças a essa característica, eles puderam criar utensílios, ampliando sua ação sobre o ambiente e sua organização social.
Foi só com o surgimento dos primeiros indivíduos do gênero ômo que a capacidade de transformar materiais em instrumentos de trabalho passou a definir um traço humano que permaneceu. Ou seja, de acordo com essa interpretação, os humanos são caracterizados pela capacidade de transformar a natureza em objetos complexos.
Muitos outros animais utilizam objetos para certas finalidades: pássaros fazem ninhos com galhos e outros materiais e chimpanzés usam pedras para quebrar cascas de frutos. Contudo, eles agem de modo instintivo, sem refletir sobre sua ação. A intencionalidade presente na ação humana demonstra a capacidade de antecipação de necessidades futuras.
Em razão dessa capacidade, os seres humanos não são mais capazes de viver sem as ferramentas. Alguns estudiosos, considerando o fato de que os humanos fabricam o mundo em que vivem, criaram a expressão “homem fabricante” para definir a espécie.
FONTE: rígãm, C. La vida en el Paleolítico. Madrid: Ediciones Akal, 1990.
A necessidade de cultura e a expressão artística
A capacidade humana de transformar e produzir o ambiente é passada de geração em geração. O conjunto de saberes necessários para isso fórma o que se denomina cultura. Entre esses conhecimentos, estão os usados para fazer um avião, criar uma religião ou elaborar um código de leis de trânsito.
A necessidade de aprender e de produzir novos conhecimentos é uma característica dos seres humanos, e o desenvolvimento da linguagem é fundamental para isso. Uma geração aprende perguntando, ouvindo explicações e observando as produções e as técnicas da outra. As pessoas precisam receber a cultura das que as antecedem, aprender a se relacionar com diversos grupos, interagir e cooperar com eles.
A arte, por ser uma expressão humana, também faz parte do que se denomina cultura. Há mais ou menos 50 mil anos, os ômo neãndertalêncis e os Omo sápiens passaram a produzir várias manifestações artísticas em fórma de desenhos. A maioria desses desenhos foi feita em paredes de cavernas, paredões e abrigos rochosos; por isso, o conjunto deles é chamado de registro rupestre – o termo latino rúpes significa “pedra” ou “rocha”.
Nunca se saberá ao certo os sentimentos e pensamentos que os primeiros humanos quiseram registrar naquelas complexas manifestações, mas é provável que eles tenham expressado por meio da arte suas necessidades, crenças, medos e sonhos. O que se sabe é que a capacidade de produzir arte, ou seja, de imaginar mundos que não existem e aplicá-los ao mundo real é uma característica humana.
Imagens em contexto!
São encontrados registros rupestres de mãos pintadas, animais, constelações e outros elementos da natureza em várias partes do planeta.
Dica
FILME
Kiriku, os homens e as mulheres
Direção: michél Ocelot. França, 2012. Duração: 88 minutos
Nesse filme, o avô de Kiriku conta a história do menino, habitante de um vilarejo na África que salva sua aldeia de diversos perigos. Na trama, uma contadora de histórias aparece na aldeia, demonstrando que uma geração aprende com a outra e enfatizando a importância da transmissão oral do conhecimento entre seres humanos.
As divisões da história antes da escrita
No século dezenove, os pesquisadores pensavam que só poderia haver história quando houvesse escrita. Assim, criaram o termo Pré-história para designar todo o período anterior à escrita. Esse critério, porém, é muito simplificador, pois desconsidera todos os outros vestígios deixados pelos seres humanos antes de desenvolver a escrita, como os artefatos criados e os registros rupestres.
Por isso, atualmente, prefere-se chamar o período anterior ao uso da escrita de história Pré-escrita, em vez de Pré-história. Feita essa observação, você vai conhecer a divisão mais tradicional da história antes da escrita.
O Paleolítico
O primeiro marco da divisão da história Pré-escrita é o Paleolítico, que corresponde ao período em que os seres humanos usavam instrumentos feitos de pedra lascada, que já eram empregados havia cêrca de 2,5 milhões de anos por outros hominídeos.
Além de instrumentos de pedra, os humanos que viveram nesse período utilizavam outros tipos de material, como ossos, sementes e madeira. Eles compunham pequenos grupos e não havia definição de papéis para homens e mulheres, ou seja, indivíduos de ambos os sexos realizavam as mesmas atividades, apesar de poder existir uma divisão de tarefas entre eles.
Eles se alimentavam de pequenos mamíferos, peixes, crustáceos, insetos, raízes e frutas. Eram, portanto, caçadores-coletores. Como a caça se movimentava e a coleta dependia das estações do ano, esses grupos eram nômades.
Imagens em contexto!
No Paleolítico havia instrumentos líticos, ou seja, “feitos de pedra”, de diversos tipos: arpões para pesca, agulhas de costura, machadinhas (também chamadas bifaces) usadas para cortar os mais diversos tipos de material, facas, perfuradores e raspadores utilizados para separar a carne dos ossos dos animais caçados e tirar e tratar sua pele.
O “berço da humanidade”
Os vestígios mais antigos produzidos pelos seres humanos foram encontrados na África. É por isso que se afirma que o continente é o “berço da humanidade”.
África: vestígios dos primeiros seres humanos
FONTE: KI-ZERBO, J. Metodologia e pré-história da África. segunda edição Brasília: unêsco, 2010. página 454. volume um (Coleção História geral da África).
Imagens em contexto!
Os vestígios mais antigos que podem ser considerados humanos foram encontrados nos pontos marcados no mapa, ao leste e ao sul da África.
Por algum motivo que ainda se desconhece, no Paleolítico os humanos migraram para outras regiões, ultrapassando os limites do continente africano. Antes disso, outras espécies de hominídeos, como os neandertais, também tinham deixado a África, e seus fósseis foram encontrados na Ásia e na Europa.
De fórma geral, a migração humana começou na África Oriental entre 190 e 160 mil anos. No início, eles se deslocaram para outros lugares do continente africano. Depois, entre 100 e 60 mil anos, ocuparam regiões mediterrâneas, na Europa e no Oriente Médio.
Na China, os fósseis de humanos mais antigos têm cêrca de 80 mil anos. De lá, eles ocuparam a Oceania e, posteriormente, a América.
Mundo: expansão do gênero ômo
FONTE: SANTOS, F. R. A grande árvore genealógica humana. Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, volume 21, número 1-2, janeiro- dezembro 2014, página 105.
O Neolítico
Por volta de 12 mil anos atrás, alguns grupos humanos começaram a fazer instrumentos principalmente de pedra polida. O período em que isso ocorreu, marcado pelo aperfeiçoamento de pilões e moinhos de grãos, além de enxadas, foices e machados de pedra, entre outros objetos, é denominado Neolítico.
Você prestou atenção nos tipos de instrumento que foram citados? Não eram instrumentos de caça, certo? Eles são um forte indício de que os grupos humanos do Neolítico começaram a plantar vegetais. Essa tarefa era executada provavelmente pelas mulheres. Normalmente responsáveis pela coleta de vegetais, é provável que elas tenham percebido o ciclo reprodutivo das plantas. Assim, deram início ao processo de domesticação de espécies para cultivá-las.
Nesse processo, modificaram frutos, folhas e grãos por meio da seleção das sementes, aperfeiçoando as plantações. Além disso, passaram a escolher os terrenos mais adequados para plantar e programar as regas, a colheita e o armazenamento do que foi colhido, por exemplo.
Esse processo de domesticação da natureza, que recebeu o nome de Revolução Agrícola, durou milhares de anos e aconteceu em diversos lugares do planeta. São considerados berços da agricultura: o Oriente Próximo, a China e o sul do México.
Mundo: agricultura e criação de animais – a partir de 8000 antes de Cristo
FONTE: PARKER, G. ( edição). Atlas da história do mundo. São Paulo: Times: Folha de São Paulo, 1995. página 38-39.
Se liga no espaço!
Responda no caderno.
Observe no mapa os locais e as datas aproximadas da domesticação de certas espécies e depois explique por que a Revolução Agrícola não atingiu todos os grupos humanos ao mesmo tempo.
O processo da sedentarização
A Revolução Agrícola causou alterações profundas na vida dos humanos. Com o domínio da agricultura, vários grupos abandonaram os deslocamentos periódicos, tornando-se gradualmente sedentáriosglossário . Como as plantações precisavam de cuidados constantes, as pessoas tinham de permanecer perto dos locais cultivados. Por isso, começaram a construir nas proximidades das lavouras moradias com diferentes materiais, como pedra, madeira e barro.
Ao se fixar para cuidar das plantações, os humanos passaram a precisar de vasilhas para guardar o que colhiam e para cozinhar. Assim, desenvolveram a cerâmica. Ao mesmo tempo que isso ocorria, começaram a domesticar animais e explorá-los a fim de obter carne, leite e pele (para confeccionar roupas e utensílios).
A sedentarização tornou os humanos mais dependentes do grupo e do sucesso da colheita, da qual todos participavam de alguma fórma. Além disso, eles precisavam garantir a segurança alimentar e física uns dos outros (pois grãos em abundância podiam atrair grupos rivais buscando comida fácil), e a organização social foi ficando cada vez mais complexa. Com mais comida, eles puderam ampliar a capacidade de formar grupos maiores.
Essa revolução no modo de vida foi irreversível. Apesar de ainda existirem grupos humanos vivendo como caçadores-coletores, a maioria é sedentária.
Imagens em contexto!
Nos períodos Paleolítico e Neolítico, a habilidade de tecer fios e cordas era muito importante para a conquista do ambiente. Por isso, homens e mulheres teciam redes de pesca e de caça e, após se sedentarizarem, desenvolveram técnicas de trançar palha e outras fibras vegetais para com elas produzir telhados de casas, roupas, cestos, cordas e diversos outros utensílios.
A descoberta dos metais
Alguns grupos humanos desenvolveram a técnica de produzir objetos de metal no final do Período Neolítico. Há cêrca de 8 mil anos, o cobre começou a ser empregado na produção de ornamentos e utensílios.
A utilização do fogo para fundir o minério de cobre ao estanho originou o bronze, 2 mil anos depois. Essa liga metálica foi utilizada para produzir armas e ferramentas, entre outros objetos.
Por volta de .3500 anos atrás, passou a ser difundido o uso do minério de ferro aquecido em fornos e misturado ao carbono e ao manganês, obtendo uma liga ainda mais resistente. Os seres humanos, então, passaram a empregar o ferro na produção de armas e ferramentas agrícolas, como o arado e a enxada.
Os pioneiros no uso do ferro parecem ter sido os antigos habitantes da Índia, por volta de 1800 antes de Cristo, ou os mesopotâmicos, por volta de 2000 antes de Cristo
Assim como ocorreu com a agricultura, nem todos os grupos humanos criaram técnicas para fundir o ferro no mesmo período. Há até muitos grupos que nunca o fizeram, como os povos indígenas americanos. Além disso, antigos materiais e técnicas continuaram a ser utilizados após o desenvolvimento de outros.
Isso mostra como os grupos humanos são diferentes uns dos outros e, principalmente, que uma época não é melhor do que a anterior apenas por contar com uma tecnologia aperfeiçoada ou pela possibilidade de usar um metal mais resistente que outro.
Imagens em contexto!
Você percebeu que até os dias de hoje são utilizadas técnicas inventadas no período chamado de história pré-escrita, como as utilizadas para produzir fogo, forjar instrumentos de ferro e confeccionar redes de pesca? Toda a tecnologia empregada nessas tarefas foi desenvolvida pelos seus antepassados!
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Qual foi a importância do fogo para as espécies do gênero ômo?
- Por que os seres humanos têm necessidade de cultura?
- Explique o que foi a Revolução Agrícola apontando algumas das transformações que ela trouxe para os humanos.
Atividades
Responda no caderno.
Organize suas ideias
- Identifique o período da história pré-escrita em que os objetos das imagens a seguir começaram a ser usados.
b)
c)
d)
- Indique, no caderno, a correspondência entre letra e número nos itens a seguir.
- Lucy.
- Domínio do fogo.
- Linguagem verbal.
- Revolução Agrícola.
- Possibilitou proteção e mudanças no convívio social.
- Processo em que houve a domesticação de animais e plantas.
- Relaciona-se ao aprendizado e à transmissão de conhecimento.
- Um dos fósseis mais antigos de hominídeos.
- Leia as afirmações a seguir e verifique se elas são verdadeiras ou falsas. Anote as respostas no caderno.
- De acordo com a teoria da evolução, as espécies não se modificam ao longo do tempo.
- Ao desenvolver a agricultura, os seres humanos modificaram frutos, folhas e grãos por meio da seleção das sementes.
- O Omo sápiens é a única espécie do gênero ômo ainda existente, mas conviveu com outras espécies de hominídeos no passado.
- As narrativas mítico-religiosas partem de evidências verificáveis e metodologias científicas para explicar a origem da vida dos humanos.
- Após o desenvolvimento da agricultura, vários grupos humanos continuaram a caçar e coletar e a viver como nômades.
Aprofundando
4. Observe as tirinhas para responder às questões.
um
dois
- Que tipos de explicação para a origem da vida estão presentes nas tirinhas?
- Que elementos presentes nas imagens você observou para responder à questão anterior?
- “Se me mostrarem um único ser vivo que não tenha ancestral, minha teoria poderá ser enterrada.” Essa frase é atribuída a chárlis Dárvin. A tirinha dois está de acordo com essa ideia? Justifique sua resposta.
5. Leia o trecho a seguir e, depois, escreva um texto dissertativo sobre a importância da cultura para os seres humanos.
“[...] os resultados da experiência humana conservam-se reticências graças aos livros, aos monumentos [...], aos utensílios, a todo o gênero de instrumentos que se transmite de geração em geração, à tradição oral, etcétera reticências Em vez de se dissipar [...], a sabedoria humana acumula-se sem fim [...]”.
durcáim, E. Educação e sociologia. São Paulo: Edições 70, 2007. página 59.
Lembre-se de que uma redação deve apresentar pelo menos um parágrafo introdutório sobre o tema que você escreverá, uma parte de desenvolvimento do assunto, na qual você exporá suas ideias a respeito do tema e, por fim, a conclusão do texto, com pelo menos um parágrafo.Glossário
- Consenso
- : concordância de opiniões.
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- Fóssil
- : resto de um ser vivo ou evidência de suas atividades preservada em diversos materiais, como as rochas ou o gelo.
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- Curtume
- : técnica usada para curtir (ou seja, amaciar) couro.
- Voltar para o texto
- Paleontólogo
- : cientista dedicado ao estudo das fórmas de vida existentes em períodos geológicos passados, com base em fósseis.
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- Sedentário
- : indivíduo que não se movimenta muito, parado.
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