CAPÍTULO 3 AS PRIMEIRAS CIDADES: MESOPOTÂMIA E PALESTINA
Você tem ideia de quando as pessoas começaram a viver em cidades? Ur, na região da Mesopotâmia, é uma das mais antigas cidades de que foram encontrados vestígios. Ela era habitada em cêrca de 5000 antes de Cristo
Ur tinha características parecidas com as das cidades de hoje: as pessoas que viviam nela moravam em casas, iam a templos religiosos, vendiam produtos, prestavam serviços umas às outras e se submetiam a um mesmo conjunto de leis.
A formação das cidades na Antiguidade é um dos temas deste capítulo.
FONTE: lêic, G. Mesopotâmia: a invenção da cidade. Rio de Janeiro: Imago, 2003.
Imagens em contexto!
Com base nos estudos arqueológicos, é possível compreender o funcionamento dos primeiros núcleos urbanos. Hoje se pode recriar o desenho de uma cidade da Antiguidade por meio dos vestígios encontrados nos sítios arqueológicos.
Responda oralmente.
- Com base no que você já estudou, nos textos e na ilustração, cite pelo menos uma região da Terra onde havia cidades na Antiguidade.
- Analise a ilustração e responda: que diferenças ou semelhanças você nota entre a cidade de Ur e as de hoje?
A formação das primeiras cidades
Você tem ideia de como se formaram as primeiras cidades? No capítulo anterior você estudou que, cêrca de 10 mil anos atrás, além de domesticarglossário animais e plantar alimentos, os seres humanos inventaram uma série de itens dos quais dependeriam por milhares de anos: armas, como lanças e machadinhas, utensílios, como agulhas (essenciais para costurar roupas e, com elas, proteger-se do frio), e diversos tipos de lâmina. Os primeiros indícios de joalheria também datam desse período, em que os ancestrais humanos viviam em pequenos grupos nômades ou seminômades.
As divisões de tarefas nesses grupos não eram rígidas e, muitas vezes, o mesmo indivíduo caçava, cozinhava e cuidava da defesa de um acampamento. No entanto, o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais provocaram mudanças profundas no modo de vida dos seres humanos.
À medida que as aldeias cresciam, seus moradores começaram a se especializar em determinadas atividades: alguns eram responsáveis pela construção de canais para a agricultura, outros pela produção de alimentos e outros ainda pela defesa das comunidades.
O trabalho passou, dessa maneira, a ser dividido. Essa capacidade humana de trabalhar em conjunto e se organizar com divisão de tarefas está na origem das primeiras cidades.
Imagens em contexto!
É por meio de vestígios como os mostrados nas imagens desta página que os pesquisadores conseguem verificar os períodos e os lugares em que as pessoas desenvolveram a agricultura e a criação de animais na Antiguidade.
O Crescente Fértil
Os primeiros núcleos urbanos provavelmente se formaram em uma região chamada Crescente Fértil. Ela recebeu esse nome em razão de seu formato, semelhante ao da Lua na fase crescente (note na representação no mapa). Pelo Crescente Fértil, passavam três grandes rios: o Tigre, o Eufrates e o Nilo. O solo perto desses rios era bem fértil. Por isso, a região foi escolhida por alguns grupos humanos para morar e plantar alimentos.
Crescente Fértil
FONTE: VIDAL-NAQUET, P.; BERTIN, J. Atlas histórico: da Pré-história aos nossos dias. Lisboa: Círculo de Leitores, 1990. página 39.
Se liga no espaço!
Responda no caderno.
Analise o mapa e identifique de que recursos a área destacada em rosa dispunha. Esses recursos poderiam favorecer a formação de cidades nessa região? Por quê?
A parte do Crescente Fértil localizada entre os rios Tigre e Eufrates é chamada Mesopotâmia. Esse nome grego significa “região entre rios”. As cheias desses rios ocorriam na época adequada à colheita de alimentos, principalmente dos cereais, e o volume das águas deles diminuía no período da plantação. Assim, na Mesopotâmia, era preciso construir barragens e canais de irrigação para armazenar a água e poder usá-la depois na agricultura.
O conhecimento desenvolvido pelos humanos foi fundamental para resolver problemas relacionados à plantação e planejar a produção de alimentos. Foi importante também para solucionar questões ligadas às fórmas de moradia, pois com a sedentarização os indivíduos passaram a viver cada vez mais próximos uns dos outros. Essa proximidade favoreceu o aproveitamento dos recursos disponíveis e as habilidades de cada pessoa para facilitar a sobrevivência da comunidade.
Com isso, algumas funções acabaram se tornando mais valorizadas que outras. Formou-se, então, um complexo processo de valorização e desvalorização de certas funções, dando origem ao que se denomina estratificação socialglossário .
O desenvolvimento do comércio
A especialização do trabalho e a estratificação social foram decisivas no processo de estabelecimento do Estado, na ampliação do comércio e na formação das primeiras civilizações.
Com a formação e o crescimento das primeiras cidades, o comércio se intensificou entre os grupos humanos, tornando-se mais complexo.
As transações comerciais eram feitas com base no escambo, que era a troca de um produto por outro. As partes envolvidas nas negociações passaram a reconhecer algumas mercadorias como moedas comuns. Foi assim que os cereais, o gado (bovino, caprino e ovino) e o sal passaram a ser utilizados como fórma de pagamento por outros produtos.
Em algumas regiões, materiais mais duráveis e raros, como ouro, prata e cobre, também começaram a ser usados como moedas.
FONTE: TONON, R. A corrente da moeda. Aventuras na História. 23 outubro 2017. Disponível em: https://oeds.link/nV71xI. Acesso em: 25 fevereiro 2022.
O estabelecimento do Estado
Com as trocas comerciais, intensificaram-se a circulação de pessoas e as trocas culturais no mundo antigo. Isso explica, em parte, por que havia tradições religiosas e costumes comuns em diversas partes da Mesopotâmia.
Foi provavelmente nos núcleos urbanos dessa região que se organizaram as primeiras fórmas de Estado que se conhece. Mas o que é Estado?
De maneira geral, pode-se afirmar que o Estado é a instituição que define as regras de convivência em determinado território. Isso significa que os habitantes de um local devem obedecer a essas regras. Para as civilizações que você estudará na sequência, o Estado cumpria também um papel fundamental na organização e no planejamento da agricultura, do comércio e da religião.
Na Mesopotâmia, a função política dos chefes de Estado era comumente mesclada à vida religiosa: os reis eram considerados representantes de alguma divindade na Terra. Por causa disso, eles tinham muito poder sobre a vida da comunidade.
Imagens em contexto!
As moedas mais antigas já encontradas foram produzidas na China. Elas apresentavam formatos variados e eram usadas apenas nas cidades. No Ocidente, as moedas mais antigas que foram encontradas estavam em sítios arqueológicos da Turquia. Como você pode observar nas imagens, não havia representações de pessoas nas moedas. Com o passar do tempo e o fortalecimento do Estado, as imagens de governantes dos reinos e dos impérios antigos começaram a ser representadas nas moedas.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Descreva as transformações que o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais provocaram na vida dos seres humanos.
- De que modo os rios Nilo, Tigre e Eufrates favoreceram a formação das primeiras cidades?
- Resuma o conceito de Estado.
A Mesopotâmia: sociedades, cultura e política
A história da Mesopotâmia tem quase 6 mil anos! Entre o período no qual viveram os sumérios, primeiro povo destacado na linha do tempo, e o período em que viveram os caldeus, o último deles, passaram-se mais de 3 mil anos.
Esses povos eram muito diferentes dos que existem hoje, mas algumas crenças, costumes e hábitos deles, de alguma fórma, chegaram à época atual. A divisão das horas do dia em 60 minutos e dos minutos em 60 segundos, por exemplo, foi criada pelos antigos sumérios.
Entre os povos que se estabeleceram na Mesopotâmia, você estudará os sumérios e os amoritas.
Povos da Mesopotâmia
Fonte: REDE, M. Família e propriedade na Antiga Mesopotâmia. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. página 35.
Mesopotâmia: reinos e impérios
FONTE: VIDAL-NAQUET, P.; BERTIN, J. Atlas histórico: da Pré-história aos nossos dias. Lisboa: Círculo de Leitores, 1990. página 25, 29.
A Baixa Mesopotâmia era uma região muito fértil por causa dos regimes de cheias dos rios que deságuam no Golfo Pérsico. Já a Alta Mesopotâmia era uma região desértica e montanhosa.
Os sumérios
O grupo dos sumérios foi o primeiro a fundar cidades na região que, hoje, é chamada Baixa Mesopotâmia. Isso ocorreu por volta de 5000 antes de Cristo
As cidades sumérias eram conhecidas por terem autonomia para decidir sua vida política, econômica e cultural. Por isso, foram denominadas cidades-Estado pelos estudiosos.
Por funcionarem como Estados, não eram necessariamente vinculadas a outras cidades, reinos ou impérios. Nipur, lagach, Uruk e Ur foram cidades que funcionaram assim.
Duas características comuns a elas foram a prática de religiões politeístasglossário e uma organização política na qual os líderes (chefes de Estado) tinham, além de funções políticas, atribuições religiosas.
No centro das cidades sumérias, havia construções chamadas zigurates. Os zigurates eram dedicados aos deuses e funcionavam como locais de culto e de celebração de festividades, como o aquítu, realizado para comemorar o ano-novo.
A localização dos zigurates no centro das cidades demonstra que os deuses e os sacerdotes tinham papel central na cultura desses povos. A religião, portanto, era fundamental na vida cotidiana dessas cidades.
Imagens em contexto!
Em geral, os zigurates eram construções quadrangulares, feitas de tijolos, terra e areia, e circundadas por escadarias, com uma área de culto no topo.
Dica
LIVRO
A Mesopotâmia, de Marcelo Rede. São Paulo: Saraiva, 2014.
Nesse livro, o professor de história antiga Marcelo Rede reconstrói parte da trajetória dos povos que habitaram a região. Além disso, ele analisa documentos e objetos arqueológicos produzidos por diferentes civilizações do mundo mesopotâmico.
Religiosidade e sociedade suméria
Os deuses mais importantes para os sumérios eram na(deus do céu), ênlil (deus do ar), ênqui (deus da água) e ninrursag (mãe-terra). Os sumérios acreditavam que esses deuses eram os criadores do universo e da vida, e os filhos e os netos deles formavam uma extensa e complexa cosmogoniaglossário .
Na sociedade suméria, a divisão do trabalho e das ocupações era evidente. Você estudou como os zigurates eram importantes. Assim, os sacerdotes, responsáveis pelos zigurates, eram muito valorizados na sociedade suméria, por exemplo.
Os sumérios viviam em uma sociedade hierarquizada, ou seja, dividida em grupos sociais. Alguns desses grupos, como o dos sacerdotes e o dos militares, eram ricos e concentravam poderes políticos. Os mais pobres, como os camponeses e os escravizados, tinham pouca ou nenhuma participação na vida política.
Entre as figuras mais poderosas na sociedade suméria, estavam o Ên , que desempenhava a função de sumo sacerdote, e o Ensi, o governante, que desenvolvia também a função militar.
Pirâmide social suméria
FONTE: crãmer, S. N. Mesopotâmia: o berço da civilização. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. página 43. (Coleção Life).
Analisando o passado
As fotos a seguir são de dois fragmentos de uma peça arqueológica mesopotâmica conhecida pelo nome de Estandarte de Ur.
Trata-se de uma caixa de madeira decorada de aproximadamente 5 mil anos. Essa caixa, que pode ter sido um instrumento musical, foi encontrada no cemitério real de Ur, no sul do Iraque. O primeiro fragmento representa a paz, o segundo, a guerra.
O estandarte é constituído por alguns materiais que não são encontrados na região dos rios Tigre e Eufrates, como conchas, calcárioglossário vermelho e lápis-lazúliglossário , provenientes do território do atual Afeganistão e do Vale do Rio Indo, na Índia.
Imagens em contexto!
No painel referente à paz, é possível identificar certa hierarquia e estratificação social entre os personagens. Nas duas fileiras de baixo, foram representados trabalhadores carregando sacos de grãos e conduzindo rebanhos de diversos animais. No topo, foram desenhados personagens sentados em um banquete. A posição dos personagens sugere que eles não precisavam realizar trabalhos braçais e agrícolas. Eles vestem uma espécie de saia com franjas, seguram taças e, possivelmente, ingerem um tipo de bebida. No canto direito, dois personagens em pé, um deles segurando uma espécie de lira, parecem cantar e tocar instrumentos musicais para entreter os que estão sentados. Dentre os personagens representados na primeira fileira à esquerda, um se destaca por ser maior que os demais. Atente ao fato de que quase todos os outros têm o olhar voltado para ele.
Imagens em contexto!
Na base do mosaico da guerra, na primeira fileira, são representados carros de combate puxados por animais. Os carros são conduzidos por soldados em batalha, que levam vantagem sobre os inimigos, alguns deles caídos no chão. Na segunda fileira, os soldados conduzem os inimigos que perderam o combate e foram capturados pelos sumérios. Os prisioneiros são privados de suas vestimentas. Na terceira fileira, esses prisioneiros são conduzidos ao líder, representado no topo da imagem em tamanho maior que o dos demais personagens. O líder é acompanhado por uma comitiva composta de guardas e, atrás dessa escolta, uma carruagem o aguarda.
Responda no caderno.
- Identifique nas imagens algumas características destacadas nos boxes “Imagens em contexto!”.
- Que atividades sociais foram representadas nas imagens? Cite e explique pelo menos duas delas.
- Descreva a relação entre as atividades dos personagens representados em fileiras diferentes desses painéis e a organização social na Suméria.
- Reflita sobre os materiais utilizados na fabricação do Estandarte de Ur, como o calcário e o lápis-lazúli. Por que o uso desses materiais ajuda a entender o comércio praticado pelos sumérios?
- Com base nas figuras representadas nas imagens, explique o papel da guerra e dos guerreiros na sociedade suméria. Como você chegou a essa conclusão?
A escrita suméria
Como hoje se sabe tudo isso sobre os sumérios? Essas informações foram encontradas em tabuletas (tabletes) e objetos com o registro do sistema de escrita dos sumérios, chamado cuneiforme.
O sistema recebeu esse nome por causa do formato de cunha das ferramentas dessa escrita, que era gravada em tabletes de argila com pequenos objetos cortantes.
Com essa escrita, os sumérios não tinham a finalidade de registrar a língua falada, mas de armazenar informações para controlar a produção agrícola e o pagamento de impostos.
Os sumérios combinavam vários símbolos para representar números, pessoas, animais, mercadorias, territórios etcétera Entre 3000 antes de Cristo e 2500 antes de Cristo, mais símbolos foram acrescentados ao sistema sumério.
FONTE: POTTS, D. T. Mesopotamian civilization: the material foundations. New York: Cornell University Press, 1997.
Imagens em contexto!
Na Antiguidade, outros povos também realizavam o registro escrito de informações. Assim, é possível afirmar que a escrita cuneiforme era um dos elementos compartilhados pelas diferentes cidades-Estado na Mesopotâmia.
Por volta de 2500 antes de Cristo, os acádios, que provavelmente já viviam na região, passaram a controlar militarmente os sumérios e transformaram suas cidades em parte de um impérioglossário , pondo fim ao domínio sumério na região.
Os amoritas
Por volta de 2000 antes de Cristo, os amoritas construíram um dos impérios mais conhecidos do período mesopotâmico, quando reunificaram a região e expandiram o território original do Império Acádio, Estado anterior que funcionou por cêrca de um século.
O império governado pelos amoritas era chamado de Babilônico, porque a principal cidade da região era a Babilônia. O governante amorita mais conhecido chamava-se Hamurábi. Ao chegar ao trono, ele fortaleceu a centralização do poder sobre todo o território imperial, impondo determinados aspectos culturais aos povos conquistados por meio da construção de templos e zigurates.
Para diminuir a resistência ao poder central, Hamurábi buscou manter algumas estruturas religiosas e políticas locais e adotou elementos da cultura dos povos conquistados em todo o império, como o idioma acádio e a escrita cuneiforme desenvolvida primeiro na Suméria.
Imagens em contexto!
Assim como outros povos da região mesopotâmica, os amoritas eram politeístas. Com base na inscrição em escrita cuneiforme, ao lado direito da representação de Hamurábi, acredita-se que o fragmento fazia parte de uma oferenda do imperador à deusa asratúm em troca de proteção.
Por causa das tensões entre os poderes locais e o poder central e das invasões de outros povos, o Império Babilônico perdeu grande parte de seu território.
Entre 1750 antes de Cristo e 1300 antes de Cristo houve um longo período marcado por fragmentação política e por disputas territoriais nessa região. Nesse período, formaram-se diferentes impérios, como o dos assírios, o dos caldeus e o dos persas. Você estudará de fórma mais aprofundada o Império Persa no capítulo 6.
Lei de Talião
O imperador amorita Hamurábi foi responsável por uma das mais antigas coleções de leis de que se tem conhecimento.
O Código de Hamurábi foi organizado com base em compilados anteriores, como o sumério de Ur-Nammu, escrito entre 2100 antes de Cristo e 2050 antes de Cristo, e o babilônico de êchuna, redigido por volta de 1930 antes de Cristo Esses códigos foram inspirados na Lei de Talião.
A expressão talião quer dizer que a punição para um crime deve ser tal como o crime em si, ou seja, “olho por olho, dente por dente”. No entanto, essa regra não era seguida à risca, pois o Código de Hamurábi também levava em conta o státus social dos indivíduos ao decidir sua pena.
A Lei de Talião pode parecer muito dura para os padrões atuais de penas a criminosos e condenados, mas, na época, era inovadora, pois estabelecia pena proporcional ao crime cometido.
O código babilônico era baseado na punição, e não na ideia de correção da conduta, como as leis de hoje, e foi um dos primeiros a considerar a presunçãoglossário de inocência e a necessidade de haver evidências, como testemunhas e provas materiais, para punir um criminoso.
A Lei de Talião influenciou muitas sociedades que tiveram contato com os babilônicos, como a dos hebreus, que você estudará a seguir. Com base em documentos como o Código de Hamurábi, é possível saber que, na antiga Mesopotâmia, as mulheres não eram consideradas iguais aos homens nem tinham os mesmos direitos que eles.
Elas podiam, por exemplo, sair livremente de casa e ir ao mercado, possuir propriedade, começar um negócio, envolver-se em processos judiciais e ter emprego remunerado, mas não podiam propor leis nem julgar pessoas.
Imagens em contexto!
O Código de Hamurábi foi registrado em basalto, provavelmente em Sippar, cidade de chamách, deus da justiça. Monumentos desse tipo foram construídos em outras cidades do império. O Código é reconhecido pelos estudiosos como o compêndio jurídico mais importante do antigo Oriente Próximo. A cena principal representada na estela é a do rei recebendo poderes de chamách.
Os antigos hebreus
A história do povo hebreu relaciona-se diretamente à dos povos cristãos pelo fato de eles terem criado e seguido uma religião monoteístaglossário .
Os hebreus narraram sua história em textos religiosos tidos como sagrados. Os personagens principais desses textos são denominados pais ou grandes patriarcas.
Os fundamentos religiosos estabelecidos por esses patriarcas regiam diferentes aspectos da vida pública e privada dos hebreus. As regras sobre o modo de se comportar em locais religiosos, de estudo e em outros espaços, sobre o que comer e vestir, entre outras, estão prescritas no livro sagrado dos hebreus: a Torá (que equivale aos cinco primeiros livros da Bíblia cristã).
De fórma geral, os livros sagrados de um povo servem de fontes históricas para compreender suas relações sociais no passado e no presente.
Os fatos narrados na Torá se iniciaram com a suposta criação do universo e da humanidade e terminaram cêrca de 3 mil anos atrás. O livro, porém, foi escrito entre o século cinco antes de Cristo e o século um antes de Cristo, muito tempo depois desses fatos. Antes do registro escrito, a história hebraica era transmitida oralmente de uma geração a outra.
Palestina – século dez antes de Cristo
FONTE: HILGEMANN, W.; quínder, H. Atlas historique: de l’apparition de l’homme sur la terre à l’ère atomique. Paris: perrã, 1992. página 32.
Imagens em contexto!
O termo Palestina é utilizado neste livro para designar a área geográfica da Antiguidade localizada próxima ao Mar Mediterrâneo e ao Rio Jordão. O nome Palestina é uma fórma grega do termo aramaico pelichtain (em hebraico pelichtin) e dava nome ao território habitado por povos filisteus no litoral.
Os hebreus na região da antiga Palestina
Os estudiosos enfrentam dois grandes desafios ao usar livros como a Torá para desvendar o passado de um povo: o primeiro relaciona-se ao fato de que esses livros misturam narrativas históricas com versões míticas.
O segundo está na linguagem empregada nesses textos, como metáforasglossário e outros instrumentos narrativos, usados para transmitir valores éticos e morais: o bem e o mal, o certo e o errado, a origem e o fim, entre outros.
Por isso, os estudos linguísticos têm contribuído para que se compreenda o contexto de composição da Torá e de outros textos judaicos. Com o deciframento das línguas orientais antigas, foram reveladas outras versões para eventos narrados na Torá. Aliado ao material encontrado pelos arqueólogos, esses estudos linguísticos contribuem para desvendar o passado desse povo.
Em razão das investigações científicas, hoje é possível, por exemplo, escrever uma história dos hebreus sem usar como fonte a Torá, embora ela ainda seja considerada para o estudo do passado.
Segundo a abordagem tradicional, de base religiosa, a história dos hebreus está ligada à do patriarca Abraão. De acordo com seus textos sagrados, eles eram pastores nômades que se deslocavam no território entre a Mesopotâmia e o Egito. Em cêrca de 2000 antes de Cristo, Abraão teria recebido uma mensagem divina ordenando-lhe que migrasse, com seu povo, para a Palestina.
Imagens em contexto!
A construção mostrada na imagem foi chamada de Portão de Abraão em razão da narrativa religiosa de que o profeta Abraão havia visitado a cidade cananeia de Dã.
De acordo com o que se sabe, as condições climáticas da região e a experiência no pastoreio dificultaram a fixação dos hebreus no entorno do Rio Jordão. Por isso, eles migraram para outras regiões da Palestina. Eles viveram, durante centenas de anos, em pequenos grupos e caravanas.
Segundo a Torá, depois de fixados na Palestina, os hebreus receberam o comando divino de migrar para o Egito. Apesar de não haver comprovação material nem registro em outro documento, essa narrativa se tornou uma das mais conhecidas da cultura hebraica.
Sabe-se que muitos hebreus conviveram com os egípcios, assim como vários outros povos da Antiguidade. No entanto, sabe-se também que alguns deles continuaram a viver na Palestina no mesmo período. Logo, não parece ter havido uma migração em massa, como sugerido nos textos religiosos.
De acordo com a Torá, os hebreus foram escravizados no Egito. Não há, entretanto, menção a esse acontecimento nos documentos egípcios. Ainda segundo a Torá, os hebreus fugiram do Egito liderados por Moisés. Contudo, até o momento não há evidências arqueológicas de que Moisés existiu.
O retorno dos hebreus para a Palestina é chamado na Torá de Êxodo. Ainda conforme a Torá, na Palestina, os hebreus organizaram-se elegendo juízes da comunidade e fundaram uma monarquia por volta do ano 1000 antes de Cristo Foram encontradas evidências de cidades hebraicas daquela época e, por isso, sabe-se do contato comercial e de disputas entre os hebreus e povos vizinhos.
Em algum momento por volta do século dez antes de Cristo, a monarquia hebraica foi derrubada após uma série de invasões estrangeiras ao território palestino, que passou a ser dominado por diferentes povos ao longo do tempo.
Imagens em contexto!
Essa estrela é um dos principais símbolos do judaísmo. De acordo com a tradição, ela estava nos escudos dos guerreiros hebreus durante o reinado de Davi. Contudo, ainda não foram encontrados vestígios concretos dos grandes templos e dos reis mencionados na Bíblia.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Qual foi a estratégia utilizada por Hamurábi para diminuir a resistência dos povos conquistados?
- Descreva a importância da Torá para a compreensão da história dos hebreus.
- Explique a importância do estudo dos vestígios materiais para a construção da história.
Atividades
Responda no caderno.
Organize suas ideias
1. Produza um quadro com duas colunas, conforme o modelo a seguir, completando as informações sobre os outros dois povos estudados no capítulo.
Povo |
Características culturais |
---|---|
SUMÉRIO (4000 a.C.-2500 a.C.) |
Organização em cidades-Estado, associação entre poder político-religioso e militar, existência de hierarquia social, prática de politeísmo, utilização de escrita cuneiforme. |
2. Relacione cada imagem a seguir às informações dos itens abaixo, sobre as fases da produção agrícola que os povos da Mesopotâmia realizavam próximo aos rios Eufrates e Tigre.
- Semeadura dos campos: a semeadura ocorria no outono, principalmente entre outubro e novembro.
- Irrigação dos campos: no fim do verão, entre os meses de agosto e setembro, os campos eram irrigados por meio da construção de barragens e canais para liberar o solo ressecado após o período de elevadas temperaturas.
- Colheita das plantações: na primavera, entre os meses de abril e maio, a colheita começava um pouco antes de o nível do rio subir ou ao mesmo tempo que ele subia, pois o pico da cheia ocorria nesses meses.
Aprofundando
- Elabore um pequeno texto descrevendo o processo de formação das primeiras cidades da Antiguidade.
- Explique por que o crescimento das cidades favoreceu o desenvolvimento comercial, identificando alguns itens usados como moedas de troca nesse momento.
- Leia o texto a seguir, escrito em um tablete de argila por volta do ano 2000 antes de Cristo, na região da Mesopotâmia, conhecido hoje como Os tempos da escola.
“— Estudante, onde tu tens ido desde tua primeira infância?
— Tenho ido à escola.
— O que tens feito na escola?
— Decorei o meu tablete, almocei, preparei meu novo tablete, escrevi-o, terminei-o; depois, apresentaram meus tabletes de recitação [ler em voz alta]; e, à tarde, trouxeram-me os tabletes de exercício. No fim da aula, eu fui para casa, entrei em casa e encontrei meu pai. Expliquei os meus tabletes de exercício ao meu pai, recitei-lhe o meu tablete e ele ficou deliciado [contente], pois enchi-o de alegria reticências
[No dia seguinte] o meu professor leu o meu tablete e disse:
— Falta aqui qualquer coisa — e bateu-me com a vara.
O vigilante encarregado do bom comportamento disse:
— Por que te levantas sem autorização? — e bateu-me com a vara.
O meu professor disse:
— A tua ortografia não é satisfatóriaglossário — e bateu-me com a vara.”
bácos, M. M. e outros. Origens do ensino. Porto Alegre: êdí púc érre ésse, 2000. página 165-166.
Com base no texto, faça as atividades.- O que o estudante mencionado no texto aprendia?
- Por que o pai do estudante teria ficado “deliciado”? Qual teria sido o motivo da alegria dele?
- A reação do professor foi parecida com a do pai do estudante? Justifique sua resposta com base no texto.
- Como era o cotidiano desse estudante? Compare seu cotidiano escolar ao dele e explique possíveis semelhanças e diferenças.
6. Analise a imagem a seguir, prestando atenção à legenda, e depois faça o que se pede.
- O vaso encontrado em Israel pode ser classificado como fonte histórica? Por quê?
- A representação de deuses mesopotâmicos no vaso hebreu é uma prova do contato entre os diferentes povos que habitavam a região na Antiguidade? Justifique.
- O que o desenho de javé convivendo com deuses da Mesopotâmia pode indicar sobre o período inicial da religiosidade hebraica? Por quê?
Glossário
- Domesticar
- : dominar e controlar um animal selvagem, habituando-o ao contato com humanos.
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- Estratificação social
- : diferenciação entre as camadas sociais que constituem uma sociedade.
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- Politeísta
- : baseada na crença na existência de vários deuses/divindades.
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- Cosmogonia
- : conjunto de princípios religiosos usados para explicar a origem do universo.
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- Calcário
- : tipo de rocha sedimentar formada pelo acúmulo de microrganismos, como bactérias, ou pela presença de carbono.
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- Lápis-lazúli
- : um tipo de rocha azul. A tonalidade da cor varia de opaca até quase translúcida.
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- Império
- : termo usado para designar uma grande extensão de territórios – que nem sempre estão ligados uns aos outros – na qual povos de culturas diferentes são governados por um soberano, denominado imperador.
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- Presunção
- : nesse caso, ideia de que a pessoa é inocente e está dizendo a verdade até que se prove o contrário.
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- Estela
- : coluna ou placa de pedra usada como base para escrever.
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- Monoteísta
- : relacionado a monoteísmo, crença em só um deus. O monoteísmo prevalece em duas das maiores religiões em número de fiéis do mundo: o cristianismo e o islamismo.
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- Metáfora
- : palavra ou expressão usada com sentido diferente do original por meio de uma comparação.
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- Satisfatório
- : suficiente, bom o bastante.
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