UNIDADE 2 SOCIEDADES ANTIGAS E A INTERVENÇÃO HUMANA NA NATUREZA

A história e você: a fôrça da tradição das sociedades indígenas no Brasil

Nesta unidade, você estudará, entre outros temas, o desenvolvimento de sociedades da África, da região do Mar Mediterrâneo e da China antiga, que mantinham contato umas com as outras em razão das rotas comerciais. Antes disso, porém, conhecerá a origem e a diversidade cultural dos povos do continente americano.

Você já ouviu falar de astecas, maias e incas ou leu informações sobre esses povos? Alguns deles formaram importantes impérios e construíram grandes centros urbanos. Além disso, desenvolveram conhecimentos relacionados com a matemática e a astronomia.

Os feitos dessas sociedades geralmente são lembrados. No entanto, muitas vezes astecas, maias e incas são comparados aos povos indígenas que viviam no território correspondente ao do Brasil quando os europeus chegaram à América. Como esses povos não construíram grandes observatórios astronômicos nem formaram impérios, são chamados, de modo preconceituoso, de atrasados.

Esses indígenas não habitavam cidades e sua estrutura social era diferente da dos astecas, dos maias e dos incas. Entretanto, desenvolveram muitos conhecimentos para atender às necessidades deles. Como viviam em contato direto com a natureza, esses povos, por exemplo, utilizavam diversos tipos de planta para produzir remédios naturais.

Eles também classificaram as estrelas e compreenderam os ciclos da natureza. Observavam as constelações para se deslocar de um lugar a outro e, com base na observação dos ciclos da natureza, sabiam as épocas certas para plantar, caçar, pescar e organizar suas cerimônias. Eles ainda construíam habitações que se mantinham frescas nos dias quentes e retinham o calor nos dias frios e produziam canoas leves e ágeis.

Muitos desses grupos indígenas sobreviveram a séculos de dominação e massacres e continuam influenciando a cultura brasileira, com sua tradição e sabedoria. No Brasil, muitos indígenas importantes escrevem romances, histórias infantis, livros sobre mitologia e filosofia. Por meio de livros, artigos, sites e filmes, os povos indígenas continuam compartilhando suas tradições e seus modos de pensar, ser e estar no mundo.

Pensando nisso, você e seus colegas prepararão um podcast sobre a divulgação de escritores indígenas e algumas de suas produções. Para isso, verifiquem as etapas a seguir.

Organizar

  • Formem grupos de até cinco integrantes.
  • Pesquisem o nome de escritores indígenas e escolham um deles.
  • Levantem as seguintes informações sobre a pessoa escolhida: data de nascimento, etnia e obras escritas.
  • Escolham de um a três livros escritos pela pessoa escolhida e levantem as seguintes informações sobre a obra: data de publicação, público-alvo e tema abordado.

Produzir

  • Escrevam um texto resumido para apresentar esse autor e suas obras. Depois, produzam um pequeno texto sobre os livros que vocês selecionaram. Não se esqueçam de justificar a escolha de vocês.
  • Revisem o texto que escreveram para que ele fique compreensível, curto e adequado ao formato de podcast.
  • Ensaiem a apresentação do podcast, gravem várias vezes o texto e escolham a melhor versão do trabalho de vocês.

Compartilhar

  • Após a conclusão do trabalho, compartilhem o podcast com o professor e com os colegas dos outros grupos.
  • Divulguem os podcasts de todos os grupos em suas redes sociais e na página da escola na internet, se possível.
Fotografia. Um homem, ao centro, segurando um microfone. Veste camiseta preta, calça azul e um chapéu. À frente dele, pessoas vistas de costas, sentadas em cadeiras, assistindo-o falar. Atrás dele, uma parede de vidro com cartazes colados e estantes com muitos livros.
Líder indígena Ailton crenác no lançamento do livro Ideias para adiar o fim do mundo, em Manaus (Amazonas). Foto de 2019.

CAPÍTULO 4 OS PRIMEIROS HABITANTES DA AMÉRICA

Você já reparou que as pessoas com as quais você convive na escola e no município onde mora têm sobrenomes diferentes? Eles podem ser de origem portuguesa, espanhola, alemã, italiana, árabe, japonesa ou de muitas outras localidades. Isso acontece porque os ancestrais da maioria da população brasileira vieram de outros continentes.

As migrações sempre estiveram presentes na história. Como você sabe, a espécie humana originou-se na África e se espalhou pelos demais continentes. Hoje, muitas pessoas se deslocam pelo planeta, por diversos motivos.

Ilustração. Sala de aula com seis crianças sentadas em carteiras dispostas em duas fileiras. Na primeira fileira, da esquerda para a direita, há um menino branco com cabelos castanhos curtos usando óculos escuros e em sua carteira há uma bengala apoiada; uma menina branca de cabelos loiros, longos e presos e olhos azuis; um menino negro de cabelos pretos curtos e olhos pretos com óculos de grau. Na segunda fileira, da esquerda para a direita, há uma menina branca de cabelos pretos arrumados em uma trança e olhos castanhos; uma menina negra de cabelos pretos, longos e presos e olhos castanhos; e um menino de feições asiáticas com cabelos curtos e olhos castanhos.
Ilustração atual mostrando a diversidade étnica e cultural brasileira representada em uma sala de aula idealizada.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Uma das características da população brasileira é a heterogeneidade, ou seja, ela é composta de pessoas de diferentes etnias, provavelmente com ancestrais que vieram de lugares diferentes do planeta.

Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Em sua opinião, por que pessoas sozinhas ou em grupos migram atualmente?
  2. Por que o ser humano se deslocava no período da história antes da escrita?
  3. Em sua opinião, quais são as semelhanças e as diferenças entre as migrações dos primeiros seres humanos e as de hoje em dia?

A origem dos primeiros americanos

Você aprendeu que a espécie humana se originou na África e, aos poucos, espalhou-se pelo planeta Terra.

Até povoar a América, continente que você habita, os seres humanos tiveram de percorrer um longo caminho. Que caminho foi esse? Quando eles chegaram à América? Como conseguiram se deslocar por distâncias tão grandes?

De acordo com as hipóteses científicas mais aceitas para responder a essas questões, os seres humanos chegaram à América em sucessivas ondas migratórias e passaram principalmente pelo extremo norte do continente.

Se você já fez uma trilha, deve ter percebido como é difícil se deslocar por ambientes naturais, principalmente sem os atuais meios de transporte e sistemas de localização. Assim, pode imaginar que esses grupos humanos não concluíram o percurso rapidamente nem fizeram isso ao mesmo tempo. Em um processo que durou milhares de anos, pequenos grupos humanos foram se dispersando pelo planeta, devagar, até atingir a América.

As dificuldades para realizar um deslocamento tão grande eram muitas. Por que, então, esses grupos fizeram isso?

Como você já estudou, os integrantes de muitas comunidades primitivas viviam da caça e da coleta e sempre estavam se deslocando, pois dependiam de recursos naturais disponíveis em determinado local para sobreviver. É provável que, à medida que a população dessas comunidades aumentava, os recursos se tornavam cada vez mais insuficientes para alimentar a todos. Assim, os indivíduos tinham de explorar outros locais.

Esse pode ter sido um motivo para parte dos grupos humanos vir para a América. Independentemente dos motivos, porém, sabe-se que, por volta de 12 mil anos atrás, havia humanos em boa parte da América.

Fotografia. Em primeiro plano, um homem com blusão de capuz azul, luvas cinza e calça de pele branca guia vários cachorros presos por coleiras. O chão está coberto de neve. Ao fundo, pequena vila com casas de telhados triangulares cobertos de neve.
Caçador inuíte com seus cães, usados para transporte, em cúlor suác, na Groenlândia, território dinamarquês na América do Norte. Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os inuítes são indígenas que habitam a porção do extremo norte do continente americano, em territórios localizados na Groenlândia, no Canadá e nos Estados Unidos (no estado do Alasca). Até hoje, eles usam cachorros para puxar trenós e se deslocar sobre o gelo.

O impacto sobre a natureza

A presença humana na América causou um impacto muito forte sobre a natureza. Quando os primeiros Omo sápiens aqui chegaram, encontraram uma megafaunaglossário composta de mamutes e mastodontes, roedores do tamanho de ursos, camelídeosglossário , leões gigantescos, tigres-dentes-de-sabre e preguiças-gigantes. Alguns milênios depois, a maioria dessas e de outras espécies havia sido extinta.

Apesar de as causas ainda serem incertas, de acordo com os pesquisadores, alguns fatores podem ter contribuído para o desaparecimento da megafauna. Entre esses fatores, estavam as mudanças climáticas e a ação do ser humano.

Ilustração. Cinco espécies de animais extintos em um campo aberto. Da esquerda para a direita: um mastodonte (Mammut), animal semelhante ao elefante, com grandes presas voltadas para cima; um mamute (Mammuthus), animal também semelhante ao elefante, porém mais alto do que o mastodonte e com presas maiores e mais curvadas;  um tigre-dentes-de-sabre (Smilodon populator), animal semelhante a um tigre, com grandes dentes caninos; uma preguiça-gigante (Megatherium e Etemotherium), animal semelhante ao bicho-preguiça, porém de dimensões muito maiores; e um camelo gigante (Titanotylopus), animal com uma corcova nas costas, semelhante ao camelo, porém mais alto.
Ilustração atual representando a antiga megafauna americana.

Fonte: NASCIMENTO, C. R.; GALLO, V. Megafauna brasileira. Rio de Janeiro: ComCiência, 2020. E-book.

Como os primeiros grupos humanos se espalharam pelo continente?

Analisando registros arqueológicos encontrados no continente americano, os cientistas elaboraram algumas teorias a respeito dos primeiros habitantes da América e do povoamento do continente.

De acordo com a hipótese mais aceita, os primeiros seres humanos chegaram à América no final da última glaciação, pelo norte do continente, através do Estreito de Béring. Conforme essa hipótese, os primeiros povoadores vieram da Ásia.

Dica

FILME

A era do gelo

Direção: crís uédge, Carlos Saldanha. Estados Unidos, 2002. Duração: 81 minutos

A animação é imprecisa do ponto de vista científico, mas pode ajudá-lo a refletir sobre o modo como as pessoas imaginam algumas das espécies mencionadas no capítulo. Se você já assistiu ao filme, deve se lembrar do personagem síd. Ele é uma representação de uma preguiça-gigante. Esse animal, que viveu durante o Pleistoceno (aproximadamente de 12 a 13 mil anos atrás), chegava a medir 6 metros de altura e pesar 5 toneladas.

As glaciações (ou eras do gelo) são fenômenos recorrentes no planeta – a última ocorreu entre 50 mil e 12 mil anos atrás, aproximadamente. Durante os períodos de glaciação, ocorrem frio intenso e aumento das geleiras nos polos.

Hoje as geleiras ocupam 10% da área total da Terra. Na mais recente era do gelo, elas ocupavam cêrca de 30% da parte terrestre do planeta e dos oceanos. Esse fenômeno pode ter provocado o recuo dos mares em alguns locais, formando conexões de terra e gelo entre territórios que antes estavam separados pelas águas.

Uma dessas conexões pode ter ocorrido no Estreito de Béring, região entre a Sibéria (na Ásia) e o Alasca (na América). De acordo com a hipótese mais aceita sobre o povoamento da América, essa situação facilitou a vinda de pessoas para o continente americano, que navegavam em pequenas embarcações a partir de ilhas localizadas ao sul do Mar de Béring.

Outras hipóteses, hoje menos aceitas, foram propostas. De acordo com uma delas, povos originários da Oceania chegaram à América cruzando o Oceano Pacífico. Conforme outra teoria, proposta pela arqueóloga franco-brasileira niêd guidôn, os primeiros seres humanos que chegaram à América partiram da África, em pequenas embarcações, e atravessaram o Oceano Atlântico.

Os possíveis caminhos do ser humano para a América

Mapa. Os possíveis caminhos do ser humano para a América. Apresenta o planisfério com a representação dos continentes.  As possíveis rotas humanas são representadas por setas vermelhas. As rotas terrestres são acompanhadas pela silhueta de uma pessoa caminhando. As rotas marítimas são acompanhadas pela silhueta de duas pessoas em uma embarcação. Sem legenda. 
No mapa, uma rota terrestre parte do centro da África em direção ao norte do continente, passando pelo deserto do Saara. A partir daí há duas ramificações: uma rota vai para a Europa, na região da atual França e depois segue para a região da atual Escandinávia; a outra segue para a Ásia onde se ramifica em outras duas rotas. A primeira segue até a Sibéria, avança pelo Estreito de Bering, passa pelo Alasca até chegar à América do Norte e, na sequência, à América do Sul. A segunda rota segue por terra até o leste da Ásia, depois avança pelo mar, contornando a costa leste asiática pelo Oceano Pacífico, chegando ao Golfo do Alasca, à costa oeste da América do Norte e da América do Sul. Outras rotas marítimas partem da região da atual Tailândia e da Indonésia para a Oceania.
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 2.340 quilômetros.
 

FONTE: dubí, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 14-15.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. De acordo com as hipóteses científicas mais aceitas, como os primeiros seres humanos chegaram ao continente americano?
  2. Indique um impacto ecológico resultante da presença dos primeiros seres humanos no continente americano.
  3. Descreva o fenômeno das glaciações. Como ele está relacionado com uma das hipóteses sobre a ocupação do continente americano por seres humanos?

Os primeiros povos ameríndios

Os primeiros grupos que se estabeleceram na América, chamados de paleoíndios, são os ancestrais dos povos indígenas americanos. Eles deram origem a diversas etnias, com língua, costumes e organização social diferentes. Os instrumentos utilizados pelos habitantes do Alasca, como o arpão ou as agulhas de marfim, eram muito diferentes dos usados pelos grupos que viviam na região da Patagônia.

Havia, porém, semelhanças nos modos de vida desses primeiros habitantes da América, principalmente entre comunidades que mantinham contato umas com as outras. De modo geral, elas eram formadas por pequenos grupos nômades que praticavam a caça, a pesca e a coleta de vegetais e frutos.

Ao se deslocar, esses grupos transmitiram conhecimentos de certas práticas para outros que viviam na América. Um desses conhecimentos envolvia a técnica para fazer artefatos de pedra, como pontas de lanças e flechas. Além da pedra, esses povos empregavam outros materiais, como ossos e pele de animais, madeira e fibras vegetais, para construir abrigos e instrumentos de trabalho.

Alguns povos deixaram de ser nômades e, com o tempo, deram origem a sociedades complexas. O processo de sedentarização desses povos apresentou variações locais, mas esteve relacionado à domesticação de animais e ao início da agricultura, que ocorreram por volta de 7 mil anos atrás.

Os primeiros vegetais cultivados na América foram o feijão, a abóbora, o tomate, o algodão e especialmente o milho, que se tornou a base alimentar de muitos povos. Em diversas partes do continente, também teve destaque o cultivo da batata e da mandioca.

Fotografia. Vista aérea de um campo aberto gramado, com desenhos geométricos formados por sulcos na terra. Ao fundo, árvores e o céu azul entre nuvens.
Foto aérea do geoglifo do Tequinho, em Rio Branco Acre . Foto de 2013.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os geoglifos são vestígios da ocupação humana em determinada região. Na fronteira entre Brasil e Bolívia, há mais de duzentos deles, espalhados por 248 quilômetros, formando uma rede de avenidas e valas que datam de 200 antes de Cristo até o século treze. Estima-se que a área tenha abrigado até 60 mil pessoas.

Os maias

Os maias eram descendentes de povos caçadores-coletores nômades. Eles habitavam regiões da chamada Mesoaméricaglossário (veja o mapa a seguir) e cultivavam diversas espécies de milho, além de cacau, algodão, tomate e batatas. Eles também domesticavam animais, como a abelha (para obtenção de mel) e o peru (utilizado como parte de sua alimentação).

Mesoamérica: civilizações

Mapa. Mesoamérica: civilizações. O mapa apresenta a região que hoje corresponde à parte sul do México, Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica. Na área mais ao norte do Lago Chapala ficava a civilização chichimeca e, mais próximo do Golfo do México, a huasteca. Na altura do Lago Chapala e do Lago Texcoco, e das cidades de Tenochtitlán, Tula e Teotihuacán, ficava a civilização tolteca. Mais ao sul, perto das cidades de Tehuacán e Tres Zapotes, ficava a civilização asteca. Mais ao centro, estavam as civilizações olmeca e mixteca e, mais próximo do Oceano Pacífico, a zapoteca. Em seguida, na região das cidades de La Venta, Palenque, Piedras Negras, Bonampak, Tikal e Copán, estava a civilização maia. Na Península de Yucatã, abrangendo as cidades de Chichén Itzá e Uxmal, ficava a civilização maia-tolteca.
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 240 quilômetros.

Mapa. A Mesoamérica atual (2021). Apresenta o sul da América do Norte e parte da América Central com a divisão política dos países.
O México é representado parcialmente, considerando apenas a porção sul do território. Os demais países representados são: Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica. No território mexicano estão indicadas as regiões de Yucatã, Veracruz, Hidalgo, Tabasco, Chiapas, Guerrero e Oaxaca. No lado direito, fora do mapa, a rosa dos ventos e escala de 0 a 660 quilômetros.

FONTES: FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. quarta edição São Paulo: Moderna, 2013. página 67; dubí, G. átlas istorrique mondiál. Paris: Larrússi, 2003. página 236.

Os maias eram politeístas e, em rituais religiosos, realizavam sacrifícios humanos. Essa prática se relacionava à concepção de mundo deles, segundo a qual o sangue humano era necessário para que o Sol aparecesse todos os dias e a escuridão não tomasse conta da Terra.

Entre os séculos três e nove, eles aperfeiçoaram sistemas de calendários, relacionados ao culto religioso e à agricultura, e aprimoraram suas cidades, que funcionavam de maneira independente umas das outras. Em razão disso, podem ser chamadas de cidades-Estado.

Cada governante exercia o poder sobre uma cidade ou, no máximo, sobre uma região. As cidades se envolviam em guerras e também firmavam alianças umas com as outras. Além disso, estabeleciam redes comerciais de longa distância com outros povos da região.

As cidades maias acabaram desaparecendo. De acordo com algumas teorias, isso ocorreu em razão de fenômenos ecológicos e climáticos, como mudanças nos regimes de chuva e esgotamento dos recursos naturais. Já outras hipóteses apontam que as consecutivas guerras levaram a população maia a abandonar as cidades entre os séculos dez e catorze.

O fato de os maias terem abandonado suas cidades, voltando a viver em vilas e aldeias, não os extinguiu. Atualmente, seus descendentes compõem o segundo maior grupo de indígenas em países como o México.

Os astecas

Os astecas, nome mais convencional dado aos mexicas (como eles próprios se chamavam), desenvolveram sua civilização séculos depois que as cidades maias entraram em decadência.

Enquanto os maias habitavam locais entre o centro e o sul da Mesoamérica, os astecas viviam entre o centro e o norte dessa região (analise o mapa da página 73).

De acordo com seus relatos, eles habitavam inicialmente um local chamado aztlan, de onde migraram por muito tempo até chegar à região central do México. Lá, estabeleceram-se em uma pequena ilha, no centro do Lago tescôco. Esse foi o núcleo do que seria a cidade de Tenochtitlán.

O pequeno povoado, inicialmente muito pobre e militarmente fraco, recebeu forte influência de grupos que já habitavam a região, como o dos toltecas, passando a adotar costumes e deuses comuns na Mesoamérica.

Fotografia. Folha de papel quadrada com ilustrações. As bordas são cinzas. Duas linhas diagonais cruzam a folha, formando quatro triângulos. No centro, sobre as linhas, a representação de uma águia pousada em um cacto. Em cada um dos triângulos há desenhos de pessoas, espigas de milho, outras plantas, uma casa e outros objetos.
Detalhe de ilustração presente no Códice Mendônça, produzido no século dezesseis pelos espanhóis, representando a história de fundação de Tenochtitlán.

Como os demais indígenas da região, os astecas eram agricultores. Além de vegetais, eles comiam peixes, crustáceos e insetos aquáticos.

Como você deve imaginar, morar em uma ilha traz algumas dificuldades, como a falta de terras para cultivar, mas os astecas desenvolveram uma inteligente solução para desenvolver a agricultura, criando as tchinãmpas.

Fotografia. Detalhe de ilustração composta em um manuscrito. Em primeiro plano, homens vestindo tangas e mulheres com túnicas trabalhando; em segundo plano, dois homens estão construindo um canteiro em cima de um rio. Ao fundo, diversos canteiros com plantações e o canteiro central com duas construções.
Detalhe de um manuscrito espanhol do século dezesseis em que é representada a construção de tchinãmpas.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

tchinãmpas eram canteiros elevados construídos sobre o lago. Os astecas demarcavam os locais com estacas e junco e formavam os canteiros com terra, lodo e vegetação aquática, possibilitando a ampliação de áreas agricultáveis. Para realizar esse trabalho, eram necessárias muitas pessoas.

A técnica de cultivo tradicional desenvolvida pelos astecas ainda é utilizada. É produtiva e sustentável, pois contribui para que os seres que vivem no lago continuem a se desenvolver junto da produção agrícola.

Conforme Tenochtitlán crescia em população e fôrça, os astecas passaram a exercer influência sobre muitos povos vizinhos. Ao se aliar a cidades próximas, Tenochtitlán se tornou capital de uma poderosa confederação, que foi chamada pelos historiadores de Confederação Mexica ou Império Asteca.

Politicamente, os astecas eram governados por um tlatoãni (“aquele que fala”, em náuatle, língua dos astecas), que possuía muitos poderes.

Os povos submetidos ao império eram obrigados a pagar tributos na fórma de penas raras, pedras e metais preciosos, produtos agrícolas e, por vezes, até prisioneiros para os sacrifícios.

Assim como os maias, os astecas realizavam sacrifícios em rituais religiosos. De acordo com um de seus mitos de criação, alguns deuses se sacrificaram para que o Sol se movimentasse e a vida pudesse seguir seu curso. Assim, os seres humanos deveriam repetir essa ação, fornecendo sacrifícios para que a vida e o mundo não terminassem. Ser oferecido em sacrifício normalmente era considerado uma honra, e os prisioneiros eram bem tratados antes de ser executados nos rituais.

Fotografia. Artefato em círculo com desenhos e inscrições astecas em vermelho e amarelo. No centro, imagem similar a um rosto humano com olhos saltados e boca aberta.
Calendário asteca conhecido como Pedra do Sol. No centro do disco está representado tônatiú, o deus Sol.
Ilustração. Mapa antigo representando uma cidade dentro de um lago com pontes ligando-a à terra. Às margens do lago, há muitas construções. Do lado esquerdo, há um lago menor com muitas inscrições ao redor.
Mapa da cidade de Tenochtitlán produzido em 1524, com base nos relatos do conquistador espanhol Hernán Cortés.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No começo do século dezesseis, Tenochtitlán era uma das maiores cidades do planeta, com cêrca de 400 mil habitantes. No mesmo período, na maior cidade da Espanha, Sevilha, havia 60 mil habitantes e, em Paris, uma das maiores da Europa, viviam cêrca de 200 mil pessoas.

Os incas

O povo inca era formado principalmente por guerreiros que falavam uma língua chamada quêchua. É provável que eles tenham partido da região amazônica em direção à Cordilheira dos Andes, onde se estabeleceram por volta do século treze.

O povo inca dominou inicialmente a região de cúsco, que se tornou a capital do império, de onde se expandiu sobre territórios vizinhos.

A área incorporada pelo Império Inca chegou a quase 1 milhão de quilômetros quadrados em seu auge e abrangeu o território correspondente à atual região entre a Colômbia e a Argentina (analise o mapa).

Império Inca – séculos quinze-dezesseis

Mapa. Império Inca – séculos quinze a dezesseis. Destaque para a costa oeste da América do Sul. 
Legenda:
Hachurado laranja: Extensão do Império Inca.
Verde: Cordilheira dos Andes.
No mapa, a Cordilheira dos Andes abrange toda a costa oeste da América do Sul. A área de extensão do Império Inca abrange a maior parte da Cordilheira dos Andes, desde as proximidades da Linha do Equador (ao norte) até o Rio Maule (ao sul). Na área do Império Inca, do norte para o sul, estão localizadas as cidades de Quito, Túmbez e Cajamarca, na região de Mochica; Chan-Chan, na região de Chimu; Caral e Chavín de Huantar, na região de Chavín; Paramonga e Supe, na região de Huari; Machu Picchu e Cuzco, na região de Paraca; Pachacamac, na região de Nazca; e Tiahuanaco, na região de Tihuanaco.
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 530 quilômetros.
 

FONTES: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 238; quínder, H.; ríguelmân, W. Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página 218.

As características da região de cordilheira que os incas habitavam influenciaram seu modo de vida. Assim, eles desenvolveram técnicas agrícolas de cultivo em encostas de montanha ou em ambientes desérticos.

Fotografia. Mulheres usando casacos coloridos com saias pretas e calças felpudas por baixo, e grandes chapéus coloridos amarrados na cabeça. Elas manuseiam pedaços de palha em um monte no chão de terra. Há fumaça saindo do monte de palha.
Indígenas quéchuas preparando batatas em tínc, Peru. Foto de 2018. Foram os incas que iniciaram o cultivo da batata.
Agricultura e tecnologias incas

Para plantar nas regiões montanhosas, os incas desenvolveram a técnica de cultivo em terraços. Com essa técnica, eles construíam degraus nas encostas para conter a erosão do solo.

O trabalho agrícola era coordenado pelo Estado, e não havia propriedade privada da terra. A produção era realizada coletivamente por comunidades familiares chamadas de aiu. Cada aiu repartia suas terras em três partes: a do deus Sol, a do inca (ou imperador) e a da comunidade. Nessa última, as terras eram repartidas entre as famílias para que todas produzissem os alimentos necessários para seu sustento.

Os incas, assim como os demais povos ameríndios, não empregavam a roda como instrumento de trabalho, mas usavam alguns animais, como a lhama e a alpaca, para transportar carga. Eles desenvolveram um complexo sistema de estradas interligando as diferentes partes do império, que chamavam de tauantinsuiú (“quatro regiões” ou “quatro partes”). Como os territórios eram muito extensos, essas estradas eram vitais para o comércio, para a movimentação de exércitos e para a comunicação.

Fotografia. Em primeiro plano, escadaria de pedra coberta por vegetação em região montanhosa. Em segundo plano, diversas construções em pedra sobre as escadarias. Ao fundo, diversas montanhas e o céu azul entre nuvens.
Visão aérea de mátchu pítchu, no Peru. Foto de 2021.
Ilustração. Folha amarelada com desenho em preto representando um homem com xale, gorro e sandálias, segurando uma corda comprida com muitas linhas menores amarradas em sua extensão. Na parte superior, palavras escritas em espanhol antigo. No canto inferior esquerdo, quadro formado por vinte quadrados menores, cada um deles preenchido com diferentes quantidades de círculos.
Representação de um inca segurando um quipú, em ilustração da obra de Felipe guamãn pôma de aiála, século dezesseis.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A arquitetura é um dos aspectos que mais chamam a atenção na cultura inca: a capacidade de entalhar pedras e encaixá-las perfeitamente, mesmo em ângulos irregulares, possibilitou que os edifícios e as muralhas de mátchu pítchu e cúsco, por exemplo, resistissem ao tempo e aos terremotos, muito comuns nos Andes. Os incas também se destacaram por criar o único sistema de escrita tridimensional, o quipú, formado por cordas e nós de diferentes cores e espessuras que podiam atingir vários metros de comprimento.

Os primeiros habitantes do território correspondente ao do Brasil atual

Achados arqueológicos no Brasil sugerem que os primeiros habitantes do território correspondente ao do Brasil atual eram caçadores-coletores e fabricavam instrumentos com lascas de pedra e outros materiais.

Eles viviam em habitações ao ar livre, mas também se abrigavam embaixo de rochas e em cavernas, onde registravam, nos paredões de pedra, figuras de animais e pessoas, como as pinturas rupestres encontradas na Serra da Capivara, no estado do Piauí.

Os esqueletos humanos mais antigos descobertos no território brasileiro foram escavados em Lagoa Santa, no estado de Minas Gerais. Lá foi achado o crânio de uma mulher, apelidada pelos estudiosos de Luzia, que tem cêrca de 11 mil anos. No local, os pesquisadores também encontraram sepulturas datadas de 11 mil a 7 mil anos atrás.

Brasil: principais sítios arqueológicos e sambaquis

Mapa. Brasil: principais sítios arqueológicos e sambaquis. Apresenta o Brasil e a divisão política atual dos estados.
Legenda:
Uma concha bege-claro: Sambaquis.
Um rosto de cor cinza: Sítio arqueológico de Lagoa Santa (Minas Gerais). 
Uma mão estilizada em preto: Sítio arqueológico da Pedra Pintada (Pará).
Um pote cerâmico marrom: Sítio arqueológico da Ilha de Marajó.
Uma machadinha: Outros sítios arqueológicos.
A segunda parte da legenda se refere a Sítios arqueológicos com mais de 11.400 anos, identificados da seguinte maneira:
Pintura rupestre de um quadrúpede em preto: Parque Nacional Serra da Capivara (Piauí).
Pintura rupestre de uma pessoa em preto: Lapa do Boquete (Minas Gerais).
Pintura rupestre de animal com pescoço longo em preto: Lapa Vermelha 4 (Minas Gerais).
Pintura rupestre de ser bípede em preto: Santana do Riacho (Minas Gerais).
No mapa, os sambaquis abrangem a área que vai do litoral do Rio Grande do Sul até o litoral do Espírito Santo. O Sítio arqueológico de Lagoa Santa localiza-se na cidade de Lagoa Santa, em Minas Gerais. O
Sítio arqueológico da Pedra Pintada localiza-se na cidade de Monte Alegre, no Pará. O Sítio arqueológico da Ilha de Marajó localiza-se na Ilha de Marajó, no Pará. Outros sítios arqueológicos estão localizados nas cidades de Prainha, Santarém e Anapu, no Pará; Sete Cidades, no Piauí; Carnaúba dos Dantas e Parelhas, no Rio Grande do Norte; Pedra Lavada, Seridó e Campina Grande, na Paraíba; Venturosa, Iati e Petrolândia, em Pernambuco; Xique-Xique, Central e Irecê, na Bahia; Montalvânia, Januária, Peruaçu e Diamantina, em Minas Gerais; Serranópolis e Água Limpa, em Goiás; Serra Azul, Caieiras e Itapeva, em São Paulo; e São Miguel, no Rio Grande do Sul.
Dos quatro sítios arqueológicos com mais de 11.400 anos identificados no país, um está localizado no Piauí, o Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato; e os demais em Minas Gerais: o sitio da Lapa do Boquete, próximo à cidade de Januária, no norte do estado; o sítio Lapa Vermelha 4, próximo às cidades de Diamantina e Pedro Leopoldo; e o sítio de Santana do Riacho, próximo a Lagoa Santa. 
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 350 quilômetros.
 

Fonte: rétzél, B.; NEGREIROS, S. organização. Pré-história do Brasil. Rio de Janeiro: Manati, 2007. página 22.

O povo dos sambaquis

Os povos que você estudou neste capítulo precisavam se deslocar constantemente em busca de caça ou praticar agricultura para sobreviver. Já os habitantes da área litorânea, especialmente entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul, dispunham de uma fonte abundante e praticamente fixa de alimento: o mar. Eles pescavam e coletavam animais marinhos para se alimentar.

Estudos recentes sugerem que esses povos desenvolveram técnicas de criação de moluscos e até de algumas espécies de peixes. Caça e coleta apenas complementavam sua alimentação. Por causa da facilidade de encontrar alimentos, esses grupos podiam viver durante muito tempo em um mesmo local. Geralmente, eles escolhiam um local também próximo a algum rio para obter água doce.

Imagine um grande grupo de pessoas consumindo alimentos no mesmo local por muito tempo. O que resultaria desse processo? Se você pensou em algo como lixo, acertou!

Os restos de animais marinhos, conchas de moluscos, ferramentas, armas, cerâmicas quebradas etcétera foram se acumulando com o tempo até formar montanhas chamadas de sambaquis (do tupi tãmpa, “marisco”, e qui, “amontoado”). Alguns sambaquis têm mais de 30 metros de altura. Eles foram formados no litoral brasileiro entre 10 mil e mil anos atrás.

Fotografia. Destaque para montanha alta, coberta por areia, conchas e vegetação rasteira. No canto esquerdo, uma mulher vista de costas anda sobre um caminho de terra.
Sambaqui Cabo de Santa Marta um, na Estrada Geral do Farol, em Laguna (Santa Catarina). Foto de 2017.
Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Com base na imagem, elabore um texto comentando as influências recíprocas entre o ser humano e o espaço que ele habita.

Dica

JOGO

Sambaquis – uma história antes do Brasil

Disponível em: https://oeds.link/zQLkht. Acesso em: 29 março 2022.

Desenvolvido pelo grupo de pesquisa Arqueologia Interativa e Simulações Eletrônicas aráise, este jogo de simulação possibilita vivenciar as práticas de caça e coleta e aprofundar-se nos saberes de um grupo de sambaqueiros que ocupavam o nosso território 3 mil anos atrás.

Povos agrícolas

Os povos que habitavam o território brasileiro não dependiam exclusivamente da caça e da coleta para sobreviver. Alguns deles desenvolveram o cultivo de plantas e passaram a depender cada vez mais da agricultura.

Pesquisadores acreditam que, cêrca de 4 mil anos atrás, esses grupos aprenderam técnicas agrícolas ao manter contato com povos que viviam na região da Cordilheira dos Andes e na América Central.

Apesar de o cultivo de plantas ter sido praticado em quase todas as regiões do território correspondente ao do Brasil atual, foi na Amazônia que se concentrou a maior parte dos povos agricultores.

Esses grupos da Amazônia desenvolveram também técnicas para fazer potes, vasos, pratos e urnas de cerâmica. Eles misturavam argila a outros materiais, obtendo uma massa, e a moldavam no formato do objeto que queriam produzir. Depois, cozinhavam o objeto em um forno para que a argila endurecesse e ficasse resistente. Que tal conhecer um desses povos amazônicos?

A cultura marajoara

Na foz do Rio Amazonas, no Pará, existe uma ilha chamada Marajó. Há aproximadamente .1600 anos, habitou esse local um dos principais povos agricultores: os Marajoara. Pesquisas realizadas nos sítios arqueológicos indicam que em seu auge, entre os anos 1000 e 1300, a população pode haver alcançado até 100 mil pessoas.

A sociedade marajoara provavelmente era dividida por funções sociais: algumas famílias se responsabilizavam pela caça, outras pelo artesanato e outras assumiam funções religiosas e de governo. Os principais vestígios deixados pela cultura marajoara foram suas cerâmicas.

Fotografia. Destaque para praia com dois pequenos barcos, à direita, próximo à faixa de areia. Ao fundo, árvores e o céu azul.
Praia do Pesqueiro, na Unidade de Conservação Reserva Extrativista Marinha de Soure, na Ilha de Marajó Pará. Foto de 2019. Até hoje habitantes da ilha vivem da pesca, do extrativismo etcétera
Fotografia. Objeto cerâmico de base pequena e cilíndrica, corpo mais largo e boca larga. Apresenta desenhos em alto relevo.
Urna de cerâmica marajoara produzida entre 400 e 1350, encontrada na Ilha de Marajó (Pará).
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A produção de objetos de cerâmica diversos, como urnas e adornos, era característica das sociedades agrícolas da região amazônica. É possível que as cerâmicas marajoaras fossem produzidas pelas mulheres, que passavam adiante, de mãe para filha, as técnicas de fabricação e decoração das peças.

Cerâmica, agricultura e sedentarização

Você notou que nos exemplos anteriores os povos que desenvolveram cerâmica também praticaram a agricultura? Essa associação não é coincidência. Apesar de povos caçadores-coletores terem usado artefatos cerâmicos, como alguns da região sul, os estudos arqueológicos apontam uma relação entre a difusão da agricultura e a produção da cerâmica.

É possível compreender essa relação com o exemplo da produção de farinha de mandioca, planta que era originalmente venenosa (algumas ainda são).

Os grupos indígenas agricultores desenvolveram técnicas capazes de extrair a substância tóxica da raiz: eles a espremiam, retirando o suco, o cozinhavam e o deixavam fermentando durante alguns dias. Por fim, torravam a massa que restava, transformando-a em farinha – um alimento altamente nutritivo.

Para realizar esse complexo e trabalhoso processo, desenvolveram cerâmicas especiais, impermeáveis, que podiam ser levadas ao fogo como panelas.

Fotografia. Duas mulheres indígenas com cabelos pretos e usando vestidos estampados estão sentadas em um chão de terra, ao ar livre. Elas estão descascando raízes de mandioca e colocam as raízes descascadas dentro de uma bacia de alumínio. Ao lado da bacia, há uma grande panela de alumínio.
Mulheres indígenas da etnia calapálo descascando mandioca em Querência Mato Grosso. Foto de 2018.
Fotografia. Um homem e uma menina indígenas mexem farinha de mandioca em uma grande panela de boca larga colocada em cima de um forno circular de barro. Ao fundo, uma mulher indígena carrega um bebê no colo. Todos estão debaixo de uma estrutura da qual aparecem apenas estacas de madeira utilizadas como vigas.
Família indígena da etnia aparai uáianá preparando farinha de mandioca em Laranjal do Jari Amapá . Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A casa de farinha é um espaço de trabalho, socialização e cultura importante para os povos indígenas e ribeirinhos na região amazônica.

O processo de produção da farinha começa com plantio de manivas, pedaços de tronco de mandioca que dão origem a novos pés. Com a planta adulta, a raiz (que conhecemos como mandioca) é colhida e levada para a casa de farinha, onde é descascada, amolecida e fermentada em água. Em seguida, ela é ralada e espremida no tipiti – um cesto cilíndrico trançado, usado para secar a massa e retirar a manipueira, um ácido venenoso que não pode ser ingerido cru.

Ela então é peneirada e levada ao forno para a torra. Uma vez séca, a farinha está pronta para o consumo. As mulheres geralmente são as responsáveis pela produção da farinha: descascam a mandioca, transformam o vegetal em massa, peneiram a massa e a torram.

A expansão da agricultura e os Tupi-Guarani

No século quinze, a agricultura já era praticada em quase todas as partes do território correspondente ao do Brasil atual. A expansão das técnicas agrícolas provavelmente esteve relacionada aos povos da família linguística tupi-guarani.

Esses grupos saíram da parte sul da região amazônica em direção às áreas central e meridional do território. Nos locais em que se estabeleciam, cultivavam milho e mandioca usando a técnica da coivara. Essa técnica consiste na derrubada e na queimada de partes da floresta a fim de abrir espaço para a plantação.

O uso contínuo dessa técnica esgotava rapidamente o solo. Por isso, os grupos indígenas precisavam se mudar com frequência em busca de outras áreas de plantio. Essa constante necessidade de deslocamento favoreceu a difusão da prática agrícola pelo território.

Fotografia. Mulher indígena vestindo saia azul, colares brancos e chinelos, colhendo raízes de mandioca da terra. Ao fundo, um grande tronco de árvore caído e plantação de mandioca.
Indígena calapálo colhendo mandioca na Aldeia aiá, em Querência Mato Grosso. Foto de 2018.
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Imagens em contexto!

O domínio da tecnologia do plantio e da transformação da mandioca para consumo garantiu a segurança alimentar de muitos povos indígenas. Essa tecnologia foi transmitida posteriormente aos europeus.

Grafia dos nomes dos povos indígenas brasileiros

Nesta coleção, os nomes dos povos indígenas que vivem no Brasil foram grafados de acordo com a Convenção para a Grafia dos Nomes Tribais, aprovada em 1953 na Primeira Reunião Brasileira de Antropologia:

  • sem flexão de número ou gênero;
  • com inicial maiúscula quando usados como substantivo, sendo opcional quando usados como adjetivo.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Qual era a função dos sacrifícios humanos nas sociedades indígenas da Mesoamérica?
  2. Descreva exemplos de trocas culturais entre indivíduos destes grupos indígenas: paleoíndios, indígenas mesoamericanos e habitantes do território correspondente ao do Brasil atual.
  3. Cite uma das técnicas utilizadas pelos povos Tupi-Guarani. De que maneira ela se relaciona com a expansão desses grupos indígenas pelo território que correspondia ao do Brasil atual?

Vamos pensar juntos?

Os indígenas influenciaram o modo como os brasileiros se alimentam. Além do feijão, da abóbora, do milho e da mandioca, têm origem indígena o maracujá, o açaí, o caju etcétera Também é por influência deles que os brasileiros descansam em redes e têm o hábito de tomar banho diariamente.

Além disso, muito do conhecimento indígena sobre plantas medicinais é empregado pela indústria farmacêutica na produção de medicamentos. Um exemplo é o uso das folhas do arbusto jaborandi para a produção de um colírio para tratar glaucoma, uma doença ocular.

Os não indígenas que vivem no Brasil assimilaram muitos elementos dos povos nativos e nem por isso se tornaram indígenas, não é mesmo? E o que acontece quando os indígenas utilizam tecnologias que não foram desenvolvidas por eles?

Grande parte dos indígenas que vivem no Brasil, tanto nas cidades como nas aldeias, tem roupas como as dos não indígenas, smartphones, notebooks, acesso à internet etcétera Eles não deixam de ser indígenas por usarem essas coisas. Leia o que o artista Denilson bãníua declarou sobre esse assunto:

reticências pegamos esses conhecimentos e ferramentas e usamos para fortalecer nossas culturas. [....] Minhas obras falam desse tempo onde um celular ou um laptop não tornam você menos indígena, ao contrário, essas ferramentas podem ser essenciais para defendermos quem somos diante do mundo”.

GONZATTO, C. Conversa com Denilson bãníua. C& América Latina, 25 agosto 2020. Disponível em: https://oeds.link/uCXsFA. Acesso em: 30 dezembro 2021.

Fotografia. Em primeiro plano, homem indígena visto de costas, segurando uma câmera filmadora e, ao fundo, mulheres indígenas vistas de costas, de mãos dadas, no pátio de uma aldeia.
Indígena filma mulheres da aldeia Kamayurá em Gaúcha do Norte (MT). Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Conhecimentos ancestrais de diferentes povos indígenas podem ser transmitidos de geração a geração, não apenas por narrativas orais, como também com o uso de tecnologias. Dessa fórma, as tecnologias podem contribuir para o fortalecimento da identidade étnica, a preservação de costumes e valores, a defesa de terras, o contato com outros povos e a difusão da cultura.

Responda no caderno.

  1. Por que se pode dizer que os conhecimentos e os costumes indígenas estão presentes no cotidiano dos brasileiros? Justifique.
  2. O que o artista Denilson bãníua pensa sobre o uso de tecnologias pelos indígenas?
  3. De que maneira as tecnologias podem contribuir para a preservação da cultura indígena?

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Observe nas imagens a seguir a representação de dois sistemas agrícolas.

Ilustração A. Em primeiro plano, duas pessoas, uma vestindo tanga, outra vestindo túnica, com pás nas mãos revolvendo a terra. Em segundo plano, dois homens trabalhando em um canteiro em cima de um rio. Ao fundo, outros canteiros com plantações sobre o rio. Um deles, à direita, apresenta também uma construção com telhado de folhas. Nos canais do rio que se formam entre os canteiros, há duas canoas.
Ilustração atual representando o sistema agrícola asteca.
Ilustração B. Região montanhosa com degraus demarcados com pedras e plantações sobre eles.
Ilustração atual representando o sistema agrícola inca.
  1. Quais são os sistemas agrícolas representados nas imagens A e B?
  2. Quais são as principais funções de cada um deles?

Aprofundando

2. Analise a imagem a seguir e responda às questões.

Fotografia. Em primeiro plano, monte formado por conchas e areia branca, parcialmente coberto por vegetação rala. Em segundo plano, área gramada, árvores esparsas e algumas construções. Ao fundo, o mar.
Elefante Branco, também conhecido como sambaqui Carniça, localizado em Jaguaruna Santa Catarina. Foto de 2021.
  1. Que formação arqueológica é retratada na imagem?
  2. Em que regiões formações como essa são mais comuns? Em que período elas se constituíram?
  3. Quais são as hipóteses para a existência de formações como essa?
  4. Qual é a principal diferença entre o modo de vida do grupo ligado a essa formação e o de outros que viveram no mesmo período?

3. Analise as duas imagens a seguir para responder às questões.

Fotografia. Pintura rupestre nas cores vermelha, branca e amarela, com formas de animais e de seres humanos, em parede de uma caverna.
Registro rupestre no sítio Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Parque Nacional Serra da Capivara Piauí.
Fotografia. Objeto cerâmico com base pequena, bojo arredondado e boca alta e larga com diversos desenhos e inscrições e alguns adorno em alto-relevo.
Urna de cerâmica encontrada na Ilha de Marajó Pará.
  1. Que grupos ou povos produziram o registro rupestre e a urna de cerâmica?
  2. Que informações é possível obter a respeito do estilo de vida dos povos que deixaram esses vestígios?
  3. Qual é a importância desses tipos de vestígio para o conhecimento sobre os antigos habitantes do território correspondente ao do Brasil atual?
  4. Escolha dois ou três objetos que fazem parte de seu dia a dia e conte para os colegas o que eles podem revelar sobre suas preferências, suas características e seu modo de vida.

4. Junte-se a um colega e analisem o texto a seguir. Depois, façam o que se pede.

“Uma equipe multidisciplinar internacional com cientistas de 14 instituições comprovou, pela primeira vez, que as plantas de milho trazidas do México para a América do Sul há mais de 6,5 mil anos eram de um tipo genético mais primitivo do que até então se acreditava. As conclusões se basearam em evidências genéticas, arqueológicas e linguísticas. reticências a equipe coordenada por logã clistlêr reconstruiu a evolução da planta. Para isso, fez uma comparação genética de mais de 100 variedades de milho moderno que crescem em todas as Américas reticências.”

erbelê, M. D. Cientistas se baseiam em evidências genéticas e arqueológicas para uma nova versão da história do milho. Embrapa, 13 dezembro 2018. Disponível em: https://oeds.link/aRUmpm. Acesso em: 30 dezembro 2021.

  1. Identifiquem o tema abordado no texto.
  2. O que foi comprovado pela equipe de pesquisadores citada no texto?
  3. Que termos ou ideias caracterizam esse texto como científico?
  4. Que palavras foram utilizadas para convencer o leitor da veracidade das informações?
  5. Como é possível identificar nas referências, o texto foi publicado no site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Para saber se essa é uma fonte confiável, façam uma pesquisa sobre a história da Embrapa, suas relações institucionais e os trabalhos que ela desenvolve.

Glossário

Megafauna
: conjunto de animais de grandes proporções.
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Camelídeo
: mamífero da mesma família que o camelo, o dromedário, a lhama, a alpaca e outras espécies.
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Mesoamérica
: região do continente americano entre o sul do México e partes da América Central.
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