CAPÍTULO 8 TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA

No Brasil, país em que se fala a língua portuguesa, é comum chamarmos uma pessoa que vai à escola de estudante. Em castelhano (espanhol), ela é denominada estudiante; em francês, étudiant; em italiano, studente; em romeno, stúdent.

Sabe por que essas palavras são tão parecidas? Porque elas derivam do latim, idioma falado pelos antigos romanos, que deu origem às chamadas línguas românicas ou neolatinas: a portuguesa, a castelhana, a francesa, a italiana e a romena, entre outras.

Fotografia. Superfície com relevo entalhado, mostrando um homem usando manto, ao centro, sentado segurando um livro aberto. Ao redor dele, quatro jovens observam atentamente.
Relevo romano produzido no século quatro antes de Cristo, entalhado na parte frontal de uma urna funerária.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A imagem representa um tutor ensinando retórica a alguns estudantes. De modo geral, na Roma antiga, a educação era tarefa de um tutor, e a retórica – a arte da palavra, da argumentação e do convencimento – era uma disciplina fundamental. Ela manteve sua importância nas universidades até o período medieval.

Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. O que você sabe sobre a civilização romana?
  2. Que outras características os brasileiros compartilham com os grupos que falam línguas de origem romana?
  3. Quais são as semelhanças e as diferenças entre os estudantes representados na imagem e você e seus colegas? Explique.

Os povos da Península Itálica

A civilização romana se desenvolveu na Península Itálica, região localizada no sul da Europa, banhada pelo Mar Mediterrâneo. A existência de recursos hídricos e de terras relativamente férteis favoreceu a prática da agricultura, atraindo diferentes povos para lá ao longo do tempo.

No capítulo anterior, você estudou a civilização grega, formada por vários povos que migraram para a Península Balcânica. A civilização romana também foi constituída por diversos povos com diferentes tradições culturais, origens e línguas. Note no mapa a representação das populações que habitavam a Península Itálica por volta do século oito antes de Cristo

Na área central da península (denominada Lácio ou Látium, em latim), viviam, por exemplo, os povos latinos – responsáveis pela criação do núcleo que deu origem à cidade de Roma. Ao longo do tempo, eles mantiveram diferentes fórmas de contato com seus vizinhos – às vezes amistosas, outras não. Tais contatos definiram diversos aspectos da civilização romana. Dois dos povos que viveram nessa região merecem destaque por sua influência na formação romana: os gregos, ao sul, e os etruscos, ao norte.

A partir do século oito antes de Cristo, nas proximidades do Mar Mediterrâneo, os gregos fundaram colônias como Neapolis (hoje chamada Nápoles) e Heracléia, no sul da Península Itálica, e Agrigento, Siracusa e Panormos (hoje Palermo), na Sicília. Eles chamavam essa região de Magna Grécia. Lá encontraram os cartagineses (descendentes dos fenícios) e os demais povos itálicos. Tais povos impediram o avanço dos gregos para outras áreas.

Os romanos, portanto, tiveram contato próximo com as colônias gregas. Por essa razão, adotaram vários elementos da religião, da arte e da cultura gregas. Por exemplo, o consumo de produtos derivados de uvas e de azeitonas, como vinho e azeite produzidos pelos gregos, era comum entre os povos do Mediterrâneo, incluindo os romanos.

Península Itálica: povos cêrca de século oitoantes de Cristo

Mapa. Península Itálica: povos – por volta do século oito antes de Cristo. 
Apresenta a Península Itálica, as ilhas de Córsega, Sardenha e Sicília e a região de Cartago, no norte da África.
Legenda:
Verde: Etruscos.
Vermelho: Gregos.
Lilás: Cartagineses.
Amarelo: Povos latinos.
Roxo: Outros.
No mapa, os etruscos ocupam o norte da Península Itálica, em uma área que abrange parte do curso do Rio Pó e o Rio Arno, e as cidades de Felsina (Bolonha), Ravena, Vetulônia, Perúsia, Tarquínia, Veios e Caere. Ocupam também uma pequena área do litoral sudoeste da península, incluindo as cidades de Cápua e Nápoles.
Os gregos ocupam uma pequena área próxima a Nápoles e o litoral sul da península, incluindo as cidades de Paestum, Rhegio, Crotona, Síbaris (Túrio) e Tarento, e áreas no leste e no sul da Sicília, abrangendo Messina, Siracusa e Agrigento, além de Himera, no norte da Sicília. 
Os cartagineses ocupam a parte oeste da Sicília e a área ao redor da cidade de Cartago, no norte da África. 
Os povos latinos ocupam a área central da Península Itálica, ao sul e a leste do Rio Tibre. Estão divididos em úmbrios, sabinos, latinos, samintas, volscos e oscos.
Outros povos ocupam o sudeste da península, na área que margeia o Mar Adriático. Ocupam também a faixa oeste do Rio Pó até os Alpes e uma área à noroeste do Rio Pó.
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 110 quilômetros.

FONTE: HADA, M. Roma imperial. Rio de Janeiro: Time-Life Livros: José Olympio, 1969. página 37.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

A região habitada pelos povos latinos era vizinha de territórios onde viviam vários outros povos. Que povos eram esses? Com base no mapa, explique por que a localização dos latinos facilitava o contato com esses diferentes povos.

Os povos etruscos

Os povos etruscos foram fundamentais na formação de Roma. Como você estudará a seguir, eles exerceram influência, por exemplo, na arte, na arquitetura, nas estratégias de guerra, na fórma de escrever e na organização social dos romanos.

Os etruscos viviam em cidades-Estado. Por volta do século oito antes de Cristo, eles formavam uma das principais potências da região. Apesar de não terem constituído uma civilização unificada, os povos que habitavam a Etrúria compartilhavam a língua, a escrita, os deuses e os costumes. Eles estabeleceram amplas redes comerciais, negociando com os gregos e os fenícios.

Fotografia. Sarcófago retangular com desenhos de flores e flautas entalhados na lateral e uma escultura em cima representando uma mulher reclinada usando um longo vestido branco com detalhes dourados, um longo véu e uma diadema na cabeça, com um braço apoiado numa almofada segurando um objeto e o outro erguendo o véu.
Sarcófago de Seianti Hanunia Tlesnasa, cêrca de 150 antes de Cristo Essa peça etrusca, feita de terracota, foi encontrada na Itália.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Existem túmulos bem preservados que apresentam valiosas informações sobre os etruscos. Na maior parte dos sarcófagos, estão representados homens e mulheres da aristocracia. Tal fato é revelado pelos enfeites de ouro e pelas roupas luxuosas encontrados nesses locais. Nas esculturas que recobrem os túmulos, muitas mulheres foram retratadas segurando pequenos espelhos com inscrições no verso. Isso indica que, possivelmente, algumas delas sabiam ler e escrever.

A fundação da cidade de Roma

Assim como outros povos da Antiguidade, os romanos criaram histórias para explicar sua origem. O mais conhecido mito de fundação de Roma é a lenda dos irmãos gêmeos Rômulo e Remo, contada pelo poeta latino Virgílio em uma obra do século um antes de Cristo, chamada Eneida.

A Eneida conta a história do troiano Eneias, herói que fugiu de Troia em direção ao Lácio depois de ser derrotado pelos gregos. Segundo a tradição, o filho de Eneias fundou o reino de Alba Longa, inaugurando uma dinastia de reis. Uma das descendentes dessa dinastia era Rea Sílvia, que engravidou de Marte, o deus romano da guerra, e deu à luz os gêmeos Rômulo e Remo. Depois de um desentendimento, Remo teria sido morto pelo irmão, Rômulo, que teria fundado Roma em 753 antes de Cristo

Do mito à história

Apesar de intrigante, a narrativa mitológica da fundação da cidade de Roma não é confirmada pelas informações reveladas pelos vestígios arqueológicos.

Os romanos criaram o mito séculos depois da fundação da cidade, quando já haviam se tornado uma potência. Assim, provavelmente eles queriam associar sua cidade a uma família de reis com sangue divino e guerreiro. Afinal, os gêmeos eram filhos do deus da guerra com uma princesa!

Fotografia. Escultura de cor escura representando uma loba com as tetas fartas, amamentando duas crianças humanas sentadas debaixo dela.
Loba capitolina, escultura de bronze do século cinco antes de Cristo representando a loba da lenda de Rômulo e Remo.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

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Segundo o mito romano, Numitor, rei de Alba Longa, teria sido deposto pelo irmão Amúlio. Para garantir o poder, ele teria ordenado a execução de Rômulo e Remo, netos do rei e herdeiros do trono. Abandonados às margens do Rio Tibre, os gêmeos teriam sido amamentados por uma loba e resgatados por um pastor. Depois de adultos, os gêmeos teriam derrubado Amúlio e recolocado o avô no trono. Como prêmio teriam recebido a permissão de fundar uma cidade às margens do Rio Tibre: Roma.

A narrativa lendária funcionou como fórma de engrandecer a cidade, que, como muitas outras da época, resultou de assentamentosglossário . Formados em uma área pantanosa nas proximidades do Rio Tibre, por volta de 1000 antes de Cristo, eles foram iniciados, provavelmente, por comunidades de pastores e agricultores que viviam nas colinas da região, em cabanas de madeira e de ramos entrelaçados.

Por volta de 700 antes de Cristo, Roma passou por mudanças sociais e econômicas. O contato dos latinos com os etruscos e suas caravanas comerciais aumentou. Por influência dos etruscos, os latinos drenaram os pântanos. Assim, puderam construir casas de tijolos e telhas, fóra das colinas.

A divisão da sociedade romana entre nobres e seus dependentes também foi incorporada dos etruscos. No século sete antes de Cristo, Roma já havia se tornado um centro comercial que atraía populações de outras regiões.

Roma: sete colinas

Mapa. Roma: sete colinas. Representa uma pequena porção da Península Ibérica próxima ao Rio Tibre. Sem legenda. No mapa, a cidade de Roma é representada a leste do Rio Tibre, próximo à Ilha Tiberina. Uma linha marrom representa uma muralha que cerca a cidade. No interior da muralha, estão indicadas sete colinas. Do sul para o norte: Aventino, Caelius, Palatino, Capitolino, Esquilino, Viminal e Quirinal. A noroeste de Roma, o Monte Pinciano, e a oeste, o Campo de Marte. No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 400 quilômetros.
 

FONTE: dubí, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Debate, 1987. página 25.

O núcleo inicial de Roma compreendia sete colinas cercadas por uma muralha.

O funcionamento da Monarquia Romana

A história romana foi dividida em três grandes períodos, de acordo com o tipo de governo: o período monárquico (entre 753 antes de Cristo e 509 antes de Cristo), o republicano (entre 509 antes de Cristo e 27 antes de Cristo) e o imperial (entre 27 antes de Cristo e 476 Depois de Cristo).

História política de Roma: cronologia

Linha do tempo. História política de Roma: cronologia. Uma linha vertical em tons de verde informa os períodos da história romana e, ao lado, setas que indicam as datas e os eventos que marcam cada um dos períodos. De cima para baixo: Monarquia: 753 antes de Cristo - Fundação de Roma, segundo a tradição mítica. República: 509 antes de Cristo - Deposição do último rei, Tarquínio, o Soberbo, e início da república. Império: 27 antes de Cristo - Investidura de Otávio como primeiro imperador de Roma; 476 depois de Cristo - Deposição do último imperador romano do Ocidente.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.

FONTE: GRIMAL, P. História de Roma. São Paulo: Editora Unésp, 2011.

No início do período monárquico, a cidade de Roma estava restrita ao núcleo das colinas, cercadas por uma muralha. Entre os montes Palatino e Capitolino, encontrava-se o Fórum, local que reunia os principais templos religiosos. No Fórum, os romanos realizavam negócios, compravam e vendiam produtos e discutiam e aprovavam leis.

De acordo com a tradição, durante esse período Roma foi governada por sete reis. A maior parte deles tinha origem estrangeira: alguns eram sabinos e outros eram etruscos. Além disso, a monarquia não era hereditária, ou seja, quando um rei morria, o cargo não era ocupado por um descendente dele. O novo governante era escolhido pelos integrantes do Senado e da Assembleia.

Fotografia. Ruínas de construções em campo aberto, tendo restado algumas colunas cilíndricas, pedras do piso e um pórtico. Ao fundo, construções atuais.
Vestígios do Fórum Romano, em Roma, Itália. Foto de 2020. O Fórum abrigava dezenas de templos e edifícios construídos em diferentes períodos.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Resuma as duas explicações para a fundação de Roma: a lendária e a baseada em evidências históricas e arqueológicas.
  2. Qual era a importância do mito da fundação da cidade para os romanos?
  3. Quais foram as influências dos etruscos nas transformações sociais e econômicas ocorridas em Roma?
  4. Qual era a importância do Fórum romano?

Instituições da monarquia: Senado e Assembleia

O Senado era um conselho de anciãos escolhidos pelo monarca para auxiliá-lo no governo da cidade. Não havia idade mínima para ocupar o cargo, mas esperava-se que um senador tivesse experiência em funções públicas.

A Assembleia Curial (ou Comício das Cúriasglossário ) desempenhava atribuições religiosas, jurídicas e políticas. Seus membros podiam aprovar ou rejeitar propostas de lei e julgar questões familiares.

No decorrer do período monárquico, essas instituições, assim como outros setores da sociedade de Roma, passaram por muitas transformações. A sociedade romana era dividida em grupos que estão indicados na ilustração a seguir.

Grupos sociais em Roma

Ilustração. Grupos sociais em Roma.  Apresenta imagens acompanhadas de boxes com textos explicativos sobre os diferentes grupos que compunham a sociedade romana.
Em um ambiente urbano e aberto, no topo de uma escadaria, um homem e uma mulher usando túnicas longas, a mulher com pano roxo preso nos ombros, e o homem com um pano vermelho em volta do pescoço. À esquerda deles, um boxe com o texto: Patrícios: Formavam a elite política e econômica. Detinham os principais cargos e as propriedades de terra e desfrutavam do ócio. Compunham uma aristocracia de nascimento, ou seja, seus membros pertenciam a famílias cuja origem, supostamente, datava da fundação de Roma. 
À direita deles, nos degraus mais baixos da escadaria, uma mulher virada para o homem patrício usando uma túnica longa azul com um pano azul-claro preso em um dos ombros segurando um objeto redondo, e um menino ao pé da escadaria com túnica curta azul-claro segurando um recipiente circular. À direita deles, um boxe com o texto: Clientes: Pessoas de camadas mais baixas que viviam sob a dependência das grandes famílias patrícias, para as quais prestavam serviços. A relação na qual um homem livre se colocava sob a proteção de outro, tornando-se dependente dele, era chamada de clientela. 
Em um pátio à frente da escadaria, um soldado de túnica marrom e capa vermelha, utilizando um capacete amarelo, segurando uma lança pontiaguda em uma mão e um escudo grande em outra. À esquerda dele, um homem e uma mulher usando túnicas longas (azul para mulher e marrom para o homem) e mantos sobrepostos (marrom para a mulher e azul para o homem). A mulher segura um jarro de cerâmica em uma das mãos. Entre o homem e a mulher, um boxe com o texto: Plebeus: Homens e mulheres livres que exerciam diferentes funções, trabalhando para os patrícios ou como agricultores, comerciantes e artesãos. Estavam excluídos de quase todos os cargos políticos, mas podiam participar das cúrias e serviam de soldados. Compunham a maioria da população e do exército.
À direita do soldado, sendo observado por ele, um homem descalço com torso nu carregando um saco nas costas. À direita do homem, um boxe com o texto: Escravizados: Considerados instrumentos de trabalho, eram, em geral, prisioneiros de guerra ou pessoas endividadas. Diferentemente dos plebeus, não tinham cidadania.

 

Ócioglossário

FONTES: BRANDÃO, J. L.; OLIVEIRA, F. de (coordenação). História de Roma antiga: das origens à morte de César. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015. volume um, página 46-47, 69-84; fórman, J. Os romanos. São Paulo: Melhoramentos, 1990. página 20-23.

Dica

LIVRO

Nos passos dos... fundadores de Roma, de Philippe Castejon. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

Nesse livro, é contada a história de Eneias em sua jornada até o Lácio, onde fundará o reino de Alba Longa. Você poderá conhecer as histórias do período monárquico romano e outras lendas, como a de Tarquínio, o Soberbo. O livro também trata do crescimento da cidade e da importância do comércio no Mar Mediterrâneo.

A República Romana

No comêço do século seis antes de Cristo, ocorreu uma mudança na fórma de governo de Roma. Os patrícios estavam descontentes com o rei, chamado Tarquínio, o Soberbo. Por isso, em 509 antes de Cristo, organizaram um golpe com apoio dos plebeus para retirá-lo do poder, dando início ao período republicano em Roma.

A palavra república significa “coisa pública”, ou seja, aquilo que pertence a todos, e não apenas a um grupo ou indivíduo. Portanto, ao criar a república, os romanos tiraram do rei o poder de governar, passando-o para os cidadãos.

Mas quem eram os cidadãos? A princípio, a cidadania podia ser exercida por todos os homens livres nascidos em Roma, mas havia diferenças entre eles: os patrícios tinham todos os direitos políticos assegurados, podendo votar e ser votados para todos os cargos. Já os plebeus só podiam votar se comprovassem que tinham renda e posses. Além disso, eles não podiam concorrer a quase nenhum cargo. Ambos os grupos participavam do exército, mas os soldados tinham de obter armas por conta própria.

O Senado

Para exercer o governo e organizar a república, os patrícios contavam com três instituições principais: o Senado, as magistraturas e as assembleias.

No período republicano, o Senado se tornou a principal e mais poderosa instituição de Roma. Composto de centenas de membros com mandato vitalício, o Senado tinha a função de nomear os magistrados e os embaixadores, preparar as leis, controlar as finanças e os impostos, além de decidir sobre questões da política interna e externa da cidade.

Fotografia. Vista aérea de uma sala com carpete azul com diversas bancadas e cadeiras enfileiradas, com algumas pessoas sentadas e, ao fundo, num patamar mais alto uma grande mesa com homens sentados atrás dela. No alto, dois painéis eletrônicos nas laterais.
Sessão no Senado Federal, em Brasília (Distrito Federal). Foto de 2021. Até os dias de hoje, o Senado é uma das instituições de governo mais importantes nos países democráticos.

Magistraturas e assembleias em Roma

As magistraturas desempenhavam as funções administrativas do Estado romano. Na república, os magistrados eram eleitos pelos cidadãos para mandatos de um ano. Eles realizavam tarefas equivalentes às dos funcionários do poder público atuais. A República Romana também contava com assembleias cujas atribuições eram estabelecidas de acordo com a categoria:

  • Assembleia Curial – tratava de assuntos religiosos;
  • Assembleia Tribal – elegia questores e edis;
  • Assembleia Centurial (ou Centuriata) – reunia os cidadãos em centúriasglossário de acordo com a riqueza, elegia os principais magistrados e votava projetos de lei, declarações de guerra e tratados de paz.

A “coisa pública” referia-se em especial aos patrícios, pois o acesso a vários cargos era proibido aos plebeus. Estes também eram praticamente excluídos das principais assembleias e, quando conquistavam o direito de participar delas, por vezes nem chegavam a votar. Além disso, os cargos nas magistraturas não eram remunerados. Assim, podiam ser assumidos somente por aqueles que dispunham de certa riqueza.

Magistraturas romanas

Ilustração. Magistraturas romanas. Apresenta um homem em primeiro plano discursando para outros sentados em arquibancadas, ao fundo, todos vestidos com túnicas brancas curtas. Alguns dos homens da arquibancada estão ligados a boxes com textos.
À esquerda, junto a um homem sentado no segundo degrau da arquibancada, um boxe com o texto: Questores: Cuidavam do tesouro público e da arrecadação de impostos.
Um pouco mais à direita, junto a outro homem sentado no segundo degrau da arquibancada, um boxe com o texto: Edis: Encarregados da manutenção da cidade.
Acima desse homem, sentado em uma poltrona posicionada no terceiro degrau da arquibancada, outro homem, ligado a um boxe com o texto: Pretores: Responsáveis pela aplicação da justiça.
Ainda no terceiro degrau da arquibancada, à direita, outro homem ligado ao boxe com o texto: Censores: Elaboravam o censo, classificando os cidadãos conforme a riqueza, e fiscalizavam as obras públicas e o comportamento dos cidadãos. 
No topo da arquibancada, um homem sentado em uma poltrona, ligado ao boxe com o texto: Cônsules: Ocupantes do cargo mais alto da república, exerciam as funções que antes eram do rei. Eram eleitos dois cônsules: um para administrar a cidade e outro para comandar o exército. Precisavam ser aprovados pelo Senado para assumir o cargo.

FONTE: FERREIRA, O. L. Visita à Roma antiga. São Paulo: Moderna, 2003. página 11-13.

Vamos pensar juntos?

Como você estudou no capítulo 7 e neste, os conceitos de república (“coisa pública”) e democracia (“governo do povo”) tiveram origem, respectivamente, em Roma e em Atenas, na Antiguidade. Eles parecem inseparáveis e, às vezes, são usados como sinônimos, mas são diferentes. Por isso, não se podem comparar os sistemas de governo romano e ateniense, mas há semelhanças na maneira como funcionavam e no modo como se formaram.

Tanto no sistema republicano romano quanto na democracia ateniense, a escravidão esteve presente. Sem ela, o ócio seria impensável para aqueles que tinham direito à cidadania. A instauração dos dois regimes de governo foi o resultado de lutas históricas por direitos: democracia e república não nasceram prontas; foram modificadas e aperfeiçoadas ao longo do tempo. O conceito de cidadania envolvia, entre outros aspectos, o direito de participar da vida política; por isso, esteve no centro dessas transformações.

No entanto, romanos e atenienses tinham diferentes ideias sobre o que é ser cidadão. Os romanos nunca se consideraram plenamente iguais entre si, pois havia diferentes graus de cidadania e de direitos. Patrícios e plebeus eram cidadãos, mas seus direitos e deveres eram diferentes. A República Romana era aristocrática, chefiada por uma elite que criava leis que a favoreciam.

Na democracia ateniense não havia diferença de direitos e deveres entre os cidadãos. Todos tinham os mesmos direitos, apesar de serem a minoria da população. Como você estudou, mulheres, escravizados e estrangeiros, por exemplo, não eram considerados cidadãos e não participavam da vida política em Atenas.

O acesso do povo à “coisa pública” variava conforme o modo como se concebia a cidadania, mas tanto em Roma como em Atenas apenas uma pequena parcela da população fazia parte do “povo”.

Fotografia. Mulheres em uma manifestação, com muitos cartazes. Em destaque, no centro uma flâmula lilás, onde se lê com letras brancas: "Resistência feminista" e, abaixo, o símbolo de um círculo com uma cruz embaixo.
Manifestação no Dia Internacional da Mulher, no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Foto de 2020. Naquela ocasião, as mulheres reivindicaram, entre outras coisas, mais representatividade na política. A lógica de que todo cidadão é igual fundamenta as democracias atuais. Ainda assim, muitos grupos sociais continuam a lutar pela igualdade de fato.

Responda no caderno.

  1. Qual era a principal diferença entre o conceito de cidadania em Roma no período republicano e o de Atenas?
  2. Em que o regime republicano do Brasil atual é diferente do romano?

Insatisfação plebeia: revoltas e conquistas

Na república, a vida da plebe romana continuava precária. Plebeus endividados podiam ser escravizados e muitos dos que participavam das guerras, ao retornar para casa, encontravam suas propriedades tomadas por patrícios, destruídas ou empobrecidas.

Diante disso, eles se revoltaram contra os patrícios e seus privilégios, exigindo mais direitos e participação política. Eles questionavam o caráter excludenteglossário da cidadania romana, que negava direitos à maioria da população. Como os patrícios estavam pouco dispostos a ceder, somente após muitos anos de lutas e pressões a situação foi alterada com reformas nas leis romanas.

A primeira grande revolta ocorreu em 494 antes de Cristo, quando os plebeus abandonaram a cidade de Roma, recusando-se a retornar. Pressionados, os patrícios foram obrigados a fazer concessões. A primeira delas foi a criação do cargo de tribuno da plebe, que tinha o poder de vetar as decisões do Senado. Dez plebeus assumiam esse cargo. Eles eram eleitos em assembleias plebeiasglossário . Os tribunos da plebe tinham de convocar plebiscitosglossário antes de criar uma lei ou um decreto.

Atendendo aos protestos de plebeus, em 445 antes de Cristo, foi decretada a Lei Canuleia. Com base nessa lei, foi permitido o casamento entre patrícios e plebeus. Foi decretada também a Lei das Doze Tábuas, em 450 antes de Cristo Ela garantiu que as leis romanas, até então orais, fossem escritas e tornadas públicas. Dessa maneira, elas puderam ser lidas e interpretadas por toda a população, e não apenas pelos patrícios.

Em 367 antes de Cristo, foi abolida a escravidão por dívidas, uma das principais queixas plebeias. No mesmo ano, foi criada a Lei Licínia Sêxtia. De acordo com ela, um dos cônsules devia ser plebeu, garantindo à plebe acesso ao mais alto cargo da magistratura republicana.

Fotografia. Superfície retangular de pedra com desenho em alto-relevo que mostra quatro homens trabalhando em uma oficina. Um deles, ao centro, segura uma marreta. À esquerda, uma criança os observa. Acima deles, objetos dispostos em prateleiras e pendurados nas paredes, como sacos e cestos.
Relevo romano de mármore, do século um antes de Cristo, representando a fabricação de objetos de lata. Encontrada na cidade de Pompeia, a peça era usada como placa na oficina de um latoeiro.

Analisando o passado

As mulheres romanas não podiam participar formalmente da política, mas tinham direitos, que variavam de acordo com a posição social, a idade e a origem familiar.

De modo geral, as mulheres romanas eram subordinadas a um homem – o pai ou marido. Conforme as leis romanas, incluindo a Lei das Doze Tábuas, o páter famílias, ou seja, o patriarca, detinha direitos e autoridade sobre as mulheres da família, seus clientes e os escravizados. Elas raramente recebiam instrução, pois eram proibidas de exercer cargos públicos e de participar da política.

Pensando nesse assunto, analise as duas pinturas encontradas na cidade romana de Pompeia, produzidas no século um Depois de Cristo, e depois faça as atividades.

Pintura. Retrato de uma mulher de cabelos castanhos cacheados presos e um homem de cabelos bem curtos pretos, ambos usando mantos compridos, o dela marrom e o dele branco. A mulher segura uma haste semelhante a um estilete e uma prancha de madeira enquanto o homem segura um pergaminho enrolado.
Representação do padeiro Terêncio Neo e sua esposa em afresco de cêrca de 55-79 Depois de Cristo
Pintura. Retrato de uma mulher de cabelos curtos cacheados com um adorno dourado na cabeça usando vestido verde e um pano marrom, segurando uma haste semelhante a um estilete com uma das mãos e uma prancha de madeira com a outra.
Representação de uma jovem chamada Safo em afresco de cêrca de 50 Depois de Cristo

Responda no caderno.

  1. As mulheres representadas nas imagens seguram dois objetos: uma tábula ceráta(prancha de madeira coberta por cera de abelha) e um stílus (espécie de estilete). Em sua opinião, para que esses objetos eram utilizados?
  2. O que o uso desses objetos pode indicar sobre essas mulheres?
  3. O que a escolha desses objetos (tábula ceráta e stílus) para serem respresentados nessas obras de arte evidencia sobre o que era ou não valorizado na sociedade romana do período?

A expansão da República Romana e as Guerras Púnicas

No início da república, a área controlada por Roma se restringia aos arredores da cidade. Durante a expansão territorial, os romanos construíram um dos maiores impérios da Antiguidade. Esse processo de expansão, porém, foi lento e marcado por várias dificuldades. Como você pode notar no mapa, ele teve início com a conquista de territórios da Península Itálica.

Ao avançar em direção ao sul, os romanos se depararam com a cidade de Cartago, uma das maiores potências do Mar Mediterrâneo. Entre 264 antes de Cristo e 146 antes de Cristo, romanos e cartagineses se enfrentaram pelo domínio das rotas comerciais marítimas do Mediterrâneo. Os dois povos travaram três guerras, que ficaram conhecidas como Guerras Púnicas. Esse termo é derivado de púni, nome pelo qual os romanos chamavam os cartagineses, que tinham origem fenícia.

Roma venceu todos os confrontos, arrasou a cidade de Cartago, escravizou sua população e seus territórios tornaram-se províncias romanasglossário . O domínio romano sobre o Mediterrâneo cresceu tanto que eles passaram a se referir ao mar como máre nóstrum (“Nosso Mar”).

Expansão romana – até o século um antes de Cristo

Mapa. Expansão romana – até o século um antes de Cristo. 
Destaque para porções do território da Europa, Ásia e África ao redor do Mar Mediterrâneo. 
Legenda:
Em roxo: Roma e suas possessões em 201 antes de Cristo, após a Segunda Guerra Púnica.
Estrela preta: Destruição de Cartago e de Corinto em 146 antes de Cristo.
Em verde: Conquistas de Roma no século dois antes de Cristo.
Em laranja: Conquistas do século um antes de Cristo (até 59 antes de Cristo).
No mapa, a área de Roma e suas possessões em 201 antes de Cristo, após a Segunda Guerra Púnica abrange a Itália, as ilhas de Sicília, Córsega e Sardenha, e todo o litoral sul da Hispânia. A estrela preta indica a localização das cidades de Cartago, no norte da África, e de Corinto, na Macedônia.
A área referente às conquistas de Roma no século dois antes de Cristo abrange a Hispânia, a sul da Gália, a Cilíria, a Macedônia, incluindo as cidades de Corinto e de Atenas, a Ásia Menor, a ilha de Creta e uma porção da Numídia, incluindo a cidade de Cartago. A área referente às conquistas do século um antes de Cristo abrange a Gália, na Europa; a Numídia, Cirenaica, e parte do Egito, incluindo a cidade de Alexandria, na África; a Judeia, incluindo a cidade de Jerusalém, a Síria, incluindo a cidade de Antioquia, na Ásia, a ilha de Chipre, no Mar Mediterrâneo; e Bitínia e Ponto, no litoral do Mar Negro.
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 380 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 1987. página 25.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Com base no mapa, analise a importância do Mar Mediterrâneo para os romanos.

Viver em Roma

Após a conquista do Mediterrâneo, Roma deixou de ser uma pequena aldeia de pastores e de agricultores para se tornar a principal potência econômica e militar da região. Durante esse processo, o exército se profissionalizou e muitas riquezas chegaram a Roma. Grande parte delas, entretanto, foi incorporada pelos mais ricos, aumentando a desigualdade social.

Outra consequência do processo de expansão foi o aumento significativo de escravizados. Capturados dos povos conquistados, eles realizavam as mais diversas atividades. Nas cidades, atuavam em tarefas domésticas, em oficinas de artesanato e nos jogos de gladiadoresglossário . Nas grandes propriedades, produziam, principalmente, vinho e azeite, que eram consumidos em Roma ou exportados para outras regiões.

Cotidiano da plebe urbana em Roma

Ilustração. Cotidiano da plebe urbana em Roma. Apresenta a ilustração de uma área urbana da cidade de Roma com aquedutos ao fundo; uma fonte com recipientes de barro ao redor, à esquerda; dois sobrados do lado direito com armazéns no térreo. No armazém do sobrado da frente há comerciantes atrás de balcões, com pedaços de carne pendurados acima e prateleiras com comida. Na rua, à frente dos sobrados, há pessoas circulando. A maioria veste túnica curta branca. À esquerda, um homem veste uma armadura cinza e vermelha. Em primeiro plano, uma carroça puxada por um burro com vasos de barro dentro. 
Ao redor da ilustração, boxes com textos.
Ligado à parte superior do sobrado do fundo, que apresenta janelas e uma pequena sacada, o boxe com o texto: Ínsulas: As ínsulas eram os edifícios habitados pelos pobres. Nelas, não havia instalações sanitárias e, para cozinhar, as pessoas usavam braseiros. Em cada ínsula, viviam muitas famílias. 
Ligado à fonte, o boxe com o texto: Fontes públicas: A água limpa chegava às fontes por meio dos aquedutos. Em geral, essas fontes eram instaladas nas esquinas. 
No sobrado da frente, há um pequeno pote fixado na parede externa. Ligado a esse pote, um boxe com o texto: Iluminação: A iluminação era cara e cheirosa, pois era obtida queimando azeite. 
Ligado ao armazém do sobrado da frente, o boxe com o texto: Lojas: Os comércios se localizavam na parte baixa das ínsulas. Na entrada dos estabelecimentos, os comerciantes expunham objetos que identificavam seu ofício. 
Ligado à carroça, o boxe com o texto: Carroças: As mercadorias eram distribuídas por pessoas a pé ou em carroças puxadas por burros.

FONTE: ROSS, S. Roma antiga. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2007. página 20-21; 24-25.

A república em crise

Diante da crescente desigualdade social proporcionada pela expansão, os plebeus se revoltaram novamente. Eles foram, então, defendidos pelos irmãos Tibério e Caio Graco, que atuaram como tribunos da plebe.

Em 133 antes de Cristo, Tibério propôs ao Senado uma reforma agráriaglossário para regulamentar a distribuição das terras públicas romanas, que eram denominadas aguêr públicus. Por causa dessas medidas e por tentar a reeleição como tribuno da plebe, Tibério foi assassinado em 132 antes de Cristo

Dez anos depois, Caio foi eleito tribuno da plebe. Em 123 antes de Cristo, ele propôs a Lei Frumentária, que reduzia o preço do trigo para os mais pobres, retomou a ideia da reforma agrária, além de sugerir a extensão da cidadania romana aos aliados romanos da Península Itálica. Diante da resistência da elite às medidas em favor dos plebeus e temendo o mesmo fim do irmão, em 121 antes de Cristo, Caio ordenou a um escravo que o matasse.

Conflitos, revoltas e conspirações

Com o fracasso das reformas, Roma passou por uma profunda crise social que alteraria o futuro da república. Agitações e revoltas dos plebeus e escravizados tomaram as ruas das cidades. Nas províncias, camponeses se revoltaram contra o governo, que enviou tropas para reprimi-los.

Os escravizados reagiam contra a situação opressora em que viviam por meio de rebeliões, de fugas ou do assassinato de seus proprietários. Esses eventos eram, em geral, isolados e não envolviam grande número de pessoas.

Por volta de 136 antes de Cristo, uma revolta de grandes proporções ocorreu na Sicília, mas foi reprimida com violência. Em 73 antes de Cristo, o gladiador Espártaco liderou outra rebelião na região de Cápua, no sul da Itália. Escravizados, plebeus miseráveis, libertos e prisioneiros de guerra aderiram ao movimento. É provável que Espártaco tenha reunido 100 mil pessoas, uma fórça impressionante que derrotou os exércitos romanos em várias batalhas. Em 71 antes de Cristo, contudo, os revoltosos foram vencidos pelas fôrças de generais romanos, que impuseram aos derrotados um castigo cruel: mandaram crucificar 6 mil revoltosos. Esses generais acabaram ficando famosos pela repressão da revolta.

Ilustração. Homem usando calça curta, sandálias de tiras de couro, e uma túnica curta marrom com armadura por cima. Ele usa um capacete com prolongamentos protegendo as laterais do rosto e tem uma espada curta dourada presa na cintura. Segura um escudo retangular em uma mão e uma lança na outra.
Ilustração de êtiêne ronjá, produzida no século dezenove, representando um soldado romano.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os soldados romanos utilizavam escudo retangular, um gládio (espécie de espada curta muito utilizada na Antiguidade), uma pilo (lança de arremesso), armadura, sandálias de couro e um elmo ou gálea (capacete sobre a cabeça). Também eram conhecidos como legionários, pois pertenciam a uma legião que contava com milhares de homens.

Tentativas de contornar a crise: os triunviratos

Ao longo da expansão territorial, os generais tiveram o importante papel de garantir as conquistas e manter a ordem nas províncias e em Roma. Com o agravamento da crise social e política, eles conquistaram cada vez mais espaço e poder político.

Em 60 antes de Cristo, o Senado aceitou o estabelecimento de uma aliança informal entre três generais no governo para tentar superar a crise em que Roma estava mergulhada. Essa aliança, que ficou conhecida como triunvirato (do termo latino que significa “três homens”), foi formada por generais que disputavam o poder. O Primeiro Triunvirato foi composto por Marco Licínio Crasso, Pompeu, o Grande, e Júlio César.

Em 53 antes de Cristo, Crasso morreu em uma batalha no Oriente. Júlio César e Pompeu, por sua vez, mantiveram-se em conflito durante dois anos. César derrotou Pompeu e suas fôrças no Egito. Para isso, ele teve ajuda da rainha local, Cleópatra sete. Após a vitória, em 46 antes de Cristo, César voltou a Roma fortalecido pelos sucessos militares. Em janeiro de 44 antes de Cristo, foi nomeado ditadorglossário pelo Senado e recebeu apoio do exército e dos plebeus. Assim, ele concentrou cada vez mais poderes, e a influência do Senado sobre o governo diminuiu.

Alguns dos títulos e cargos que Júlio César acumulou foram o de pontífice máximo (mais alto sacerdote na religião romana), o de ditador perpétuo (com poder de alterar leis) e o de cônsul vitalício (o que lhe dava poder supremo sobre o exército).

Com poderes ampliados, César modernizou o calendário, realizou obras públicas, atendeu a demandas da plebe e reprimiu revoltas. Em março de 44 antes de Cristo, contudo, alguns senadores planejaram seu assassinato, acusando-o de trair a república e de desejar restaurar a monarquia para tornar-se rei. Prepararam, então, uma emboscada: atraíram César para uma reunião do Senado e o mataram a facadas.

Fotografia. Escultura de mármore da cabeça de um homem de cabelos curtos e ligeiramente calvo no centro. Tem os lábios finos, olhos redondos e marcas de expressão na testa, abaixo do nariz e ao redor dos olhos.
Busto romano de mármore, produzido no século um antes de Cristo, representando Júlio César.
Fotografia. Bloco retangular de pedra visto de lado. Cada uma das laterais apresenta desenhos na parte superior e inscrições no restante da superfície.
Réplica de calendário público romano, do período republicano.
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O calendário juliano recebeu esse nome em homenagem a Júlio César. Nesse calendário feito de pedra, o nome de cada mês é acompanhado das seguintes indicações: signo do zodíaco correspondente, divindade protetora, dias do mês, trabalho agrícola a ser feito e os festivais a serem celebrados.

Rumo ao império

Após o assassinato do governante de Roma, formou-se o Segundo Triunvirato, composto de homens ligados a César: Marco Antônio, general experiente e braço direito do antigo governante, Otaviano, o jovem sobrinho-neto que César havia adotado, e Lépido, general que serviu o exército com Júlio César.

Lépido foi afastado do poder em 36 antes de Cristo, após uma revolta na Sicília. Marco Antônio e Otaviano envolveram-se em intensas lutas pelo poder. Marco Antônio buscou no Egito o auxílio de Cleópatra sete, por quem se apaixonou. Otaviano invadiu o Egito e derrotou as fôrças de Marco Antônio, que se suicidou com a amada em 30 antes de Cristo

Cleópatra foi a última rainha do Egito. Depois da morte dela, o Egito tornou-se província romana, mas, mesmo nessa condição, seus habitantes conservaram sua língua, sua escrita e seus deuses.

Ao retornar a Roma, em 29 antes de Cristo, Otaviano foi aclamado salvador da República Romana, adotando o nome Otávio e o sobrenome César, para homenagear o tio-avô e mostrar-se como seu legítimo herdeiro político. Ele recebeu do Senado todos os títulos e honrarias que haviam sido dadas a César.

Além disso, em 27 antes de Cristo, Otávio César assumiu o título de Augústus (“magnífico”), que lhe atribuía caráter sagrado na religião romana. Assim, naquele ano, tornou-se o primeiro imperador de Roma.

Fotografia. Construção retangular, com uma escadaria na entrada e vários desenhos entalhados nas laterais. Ao lado, uma fotografia destacando um dos desenhos, com pessoas usando túnicas, caminhando na mesma direção com as mãos unidas à frente do corpo.
O Altar da Paz (Ara pácis), produzido entre 13 antes de Cristo e 9 antes de Cristo, em homenagem à paz estabelecida por Augusto. No detalhe do friso, representação de procissão de sacerdotes.
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Imagens em contexto!

Na Antiguidade, o Altar da Paz (Ara pácis) estava localizado no Campo de Marte, onde o exército romano fazia exercícios militares e comemorava suas vitórias. Ao longo dos séculos, o altar foi coberto por sedimentos e redescoberto somente no século dezesseis, debaixo de outras construções. No século vinte, ele foi desmontado, restaurado e remontado. No início do século vinte e um, foi inaugurado um museu em Roma com a finalidade de preservá-lo.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Descreva os grupos sociais em que se dividia a sociedade romana.
  2. Explique o contexto em que foi criado o cargo de tribuno da plebe.
  3. Que consequências a expansão territorial produziu em Roma?

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Relacione no caderno as instituições republicanas romanas com as suas respectivas funções.

I.

Senado

II.

Magistraturas

III.

Assembleias


a.

Votação de leis e escolha de magistrados.

b.

Controle de finanças, declaração de guerra, projetos de lei.

c.

Administração do Estado romano.

Aprofundando

2. Analise a tirinha e responda: como a fala do soldado se relaciona à expansão territorial romana?

Quadrinho composto de um quadro. Ao fundo, soldado dentro de uma biga puxada por um cavalo e, no alto da colina, soldados enfileirados erguendo lanças pontiagudas. Em primeiro plano, à esquerda, homem usando roupas de comandante romano, com uma espada presa à cintura, capa vermelha e chapéu amarelo com detalhes vermelhos. Ele está com a mão erguida, fazendo o sinal de 2 com os dedos. À direita, dois homens usando roupas de soldado estão segurando lanças pontiagudas. Ao lado deles, no chão, há uma placa escrito 'Roma'. Um desses soldados fala: 'Esse é o décimo sujeito a quem perguntamos qual o caminho para Roma, e todos os dez responderam: 'Todos'.

Frenc end Érnest, tirinha de Bob Teives, 2010.

3. O texto a seguir trata da diferença de direitos entre patrícios e plebeus.

Ou, como nas palavras irônicas de um reformador plebeu, registradas por Lívio [historiador romano] reticências Por que vocês não aprovam uma lei para impedir um plebeu de morar vizinho a um patrício, ou de andar na mesma rua, ou de frequentar a mesma festa, ou de ficar em pé, lado a lado, no mesmo Fórum?.’”

BEARD, M. ése pê quê érre: uma história da Roma antiga. São Paulo: Planeta, 2017. página 181.

  1. Qual foi a principal crítica do reformador plebeu registrada por Lívio?
  2. Descreva a situação da plebe romana no início do período republicano.
  3. Essa situação da plebe foi alterada? Como?

4. Analise a tirinha a seguir. Ela aborda o direito de participação política.

Quadrinho composto por 6 quadros. Apresenta um homem com túnica longa vermelha e amarela discursando para uma plateia a sua frente. O homem que discursa está posicionado em um nível acima da plateia, sobre a escadaria de uma construção feita de colunas.
Quadro 1: O homem diz: 'Todos têm direito ao voto!'. A plateia comemora: 'Oba!!'. 'Bravo!'.
Quadro 2: Ele continua: 'Menos as mulheres, obviamente!'. A plateia, com menos pessoas, comemora: 'Oba!!'. 'Bravo!'.
Quadro 3: O homem diz: 'Claro que menos os pobres também.'. A plateia, com ainda menos pessoas comemora: 'Oba!!'. 'Bravo!'.
Quadro 4: O homem diz: 'Menos os escravos, tá certo?'. A plateia, agora com poucas pessoas, comemora: 'Oba!!'. 'Bravo!'.
Quadro 5: Ele continua: 'E menos os menores de 18 anos, claro!'. Apenas quatro homens restam na plateia. Eles comemoram: 'Oba!!'. 'Bravo!'.
Quadro 6: 'Fora esses detalhes, todos podem votar!', o homem finaliza. Resta na plateia apenas um homem, que comemora: 'Bravo!'.
Todos têm direito ao voto, charge de Gilmar, 2010.
  1. Com base na charge, comente uma semelhança entre a república em Roma e a democracia ateniense.
  2. Que grupos representados na charge estavam excluídos do direito ao voto tanto em Roma quanto em Atenas? Explique.

5. Analise o trecho a seguir.

“A Escravidão reticências constitui a ‘desigualdade radical’ por excelência. O Escravo é obviamente aquele que perdeu a Liberdade reticências mas é também aquele que perdeu quase (senão todos) os direitos sobre si, sobre o seu trabalho, sobre a sua própria capacidade de oferecer ou recusar-se ao trabalho. Em muitas sociedades, o escravo é também aquele que perde o parentesco, a sua própria identidade. Não raro, o escravo é também aquele que é levado a sofrer uma espécie de ‘morte social’ reticências conceito que chama atenção para um aspecto importante da Escravidão, que é a sua necessária relação com uma dimensão social sem a qual o escravismo não pode ser pensado”.

BARROS, J. d’A. Escravidão clássica e escravidão moderna: desigualdade e diferença no pensamento escravista: uma comparação entre os antigos e os modernos. Ágora: Estudos Clássicos em Debate, Aveiro, volume 15, página 195-230, 2013.

  1. Com base no texto, crie uma lista dos elementos que os seres humanos perdiam ao ser escravizados.
  2. Como você definiria a noção de “morte social”?
  3. Os conceitos de escravidão e liberdade são opostos? Explique.

Glossário

Assentamento
: núcleo rural de povoamento.
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Cúria
: mais antiga divisão do povo romano. Havia trinta cúrias determinadas por nascimento ou conforme o local de residência. As cúrias compunham a base da organização militar.
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Ócio
: nesse caso, tempo dedicado aos estudos e à política.
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Centúria
: unidade do exército romano composta de cem cavaleiros. Indicava também a divisão dos cidadãos romanos feita por critérios de riqueza e posição social.
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Excludente
: que exclui, põe de lado.
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Assembleia plebeia
: formada unicamente por plebeus, não se baseava em critérios de riqueza, como as centúrias, mas na localização (tríbus).
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Plebiscito
: no contexto da Roma antiga, consulta ou convocatória da plebe com poder de transformar decisões em lei.
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Província romana
: território tomado por um general romano. Os habitantes desse local perdiam os direitos políticos (condição vigente a partir do século três antes de Cristo). Porém, se fossem favoráveis a Roma, os habitantes das províncias podiam receber direitos e privilégios.
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Gladiador
: escravizado, prisioneiro de guerra ou criminoso condenado que era obrigado a lutar nas arenas romanas durante espetáculos.
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Reforma agrária
: redistribuição de terras para que os camponeses empobrecidos recebessem uma pequena propriedade.
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Ditador
: magistrado romano com poderes extraordinários por um período limitado.
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