UNIDADE 4 A EUROPA MEDIEVAL, A FORMAÇÃO DO ISLAMISMO E A ÁFRICA

A história e você: intolerância religiosa no Brasil atual

A questão religiosa teve papel importante na Europa, na Ásia e na África entre os séculos quatro e quinze. Naquela época, boa parte das pessoas que viviam no continente europeu se converteu ao cristianismo. A partir do século sete, formou-se no Oriente Médio outra importante religião, que se espalhou por regiões da Ásia, da África e da Europa: o islamismo.

Nesta unidade, você estudará, entre outros temas, a formação e a expansão do islamismo e os conflitos entre muçulmanos e cristãos. Além disso, conhecerá alguns reinos, impérios, rotas comerciais e elementos culturais do continente africano entre os séculos quatro e quinze.

A relação do cristianismo com o islamismo, e entre eles e povos adeptos de outras religiões, nem sempre foi tranquila. Além das questões relativas à fé, muitos povos se converteram à fôrça por interesses políticos e/ou econômicos. Os conflitos religiosos colocaram em evidência a questão da intolerância, motivando preconceitos e ações violentas.

Atualmente, diversos grupos ainda são vítimas de intolerância religiosa. No Brasil, por exemplo, muitas pessoas são perseguidas por causa de suas crenças, apesar de documentos como a Constituição Brasileira, de 1988, assegurarem o direito das pessoas à liberdade religiosa no país.

Ilustração. Da esquerda para a direita, cinco pessoas: uma mulher vestindo uma roupa branca e um turbante de mesma cor sobre a cabeça, usando brincos, bracelete e colar nas cores amarelo e laranja; um homem calvo, de bigode grisalho, vestindo um manto amarelo e laranja e sandálias, com as palmas das mãos unidas à frente de seu corpo; uma mulher usando um vestido cor de rosa, de cabelos escuros presos em um coque, segurando com as duas mãos um livro de capa preta, onde há o desenho de uma cruz branca; uma mulher usando uma longa veste preta de gola branca, uma touca preta com detalhe branco que parte do topo da cabeça até o pescoço e um crucifixo ao redor do pescoço; e um homem de barba comprida branca com duas mechas de cachos compridos nas laterais usando um chapéu preto largo e um terno escuro com lenço laranja no pescoço.
Ilustração atual representando adeptos de algumas das diferentes religiões do mundo.

De acordo com dados do Disque 100, serviço de proteção dos direitos humanos, foram registradas no Brasil 354 denúncias de intolerância religiosa no primeiro semestre de 2019.

Os conflitos envolvendo religião, independentemente de como e onde começam, podem ser movidos por fanatismo. De modo geral, os fanáticos consideram sua religião a única legítima e, com suas ações, procuram desestabilizar a sociedade, ferir pessoas e impedir o direito à liberdade religiosa.

Pensando nisso, você e os colegas da turma prepararão fôlderes de uma campanha de combate à intolerância religiosa no país. Para isso, verifiquem as etapas a seguir.

Organizar

  • Formem grupos de até cinco integrantes.
  • Pesquisem na internet, em livros, jornais e revistas impressos, as religiões que são seguidas no Brasil.
  • Levantem informações sobre as religiões que mais sofrem intolerância religiosa no país.
  • Com base na pesquisa, escolham duas religiões diferentes e levantem as seguintes informações sobre elas: país ou região em que se formaram, como estão organizadas (descrevendo a hierarquia de poder, se houver), principais crenças e número de adeptos.

Produzir

  • Escrevam um texto resumido com as informações referentes a cada religião pesquisada, justificando o direito de existência de cada uma delas.
  • Revisem o texto que escreveram para que ele fique compreensível, curto e adequado ao formato de fôlder: um material que combina textos e imagens destinado à divulgação de produtos e ideias.

Compartilhar

  • Após a conclusão do trabalho, compartilhem os fôlderes com o professor e com os colegas dos outros grupos, conversando sobre a experiência de realizar a atividade.
  • Divulguem os fôlderes de todos os grupos em suas redes sociais.
Ilustração. À esquerda, uma mulher usando um hijab cinza e roupas compridas bege, conversando com outra mulher, à direita, com cabelo preto preso em um coque, usando adornos no rosto, pulseiras, braceletes e colar. Ela veste uma camisa verde com detalhes amarelos e saia comprida listrada.
Ilustração atual representando diálogo entre pessoas de diferentes religiões.

CAPÍTULO 10 O INÍCIO DA IDADE MÉDIA

Você já deve ter tido contato com animações, filmes, histórias em quadrinhos ou games ambientados na Idade Média. Deve conhecer, por exemplo, as histórias do rei Artur ou de Róbin Rúd, ambientadas em cenário medieval.

Castelos, catapultas, dragões, feiticeiros, guerreiros com armaduras, vikings etcétera são elementos presentes nessas histórias, como você pode notar na imagem do detalhe do cartaz da animação reproduzido nesta página. Na história, que se passa durante a Idade Média, os vikings têm dragões como animais de estimação.

Cartaz de animação. Em primeiro plano, quatro personagens vikings, três homens e uma mulher, alguns usando armaduras e outros vestimentas feitas de peles de animais. Ao redor deles, vários dragões de cores diferentes. No alto, no centro, outras duas pessoas com chapéu de viking, com dois chifres nas laterais.
Detalhe do cartaz da animação estadunidense Como treinar o seu dragão 2, dirigido por Dean DeBlois, de 2014.

Outra produção cultural em que a Idade Média é usada como pano de fundo é a série de tirinhas de Agás, o Horrível, criada em 1973 por Diqui Bráun, que faleceu em 1989. Desde então, as tirinhas são desenhadas por seu filho, Cris Bráune.

Hagar é o comandante de um exército viking que invade e saqueia cidades da Europa, sempre acompanhado de seu fiel escudeiro, Eddie Sortudo.

Quadrinho. História contada em dois quadros. Apresenta Hagar e Sortudo, dois personagens vikings, conversando no escuro.
Quadro 1. Hagar pergunta: 'Que horas são, Sortudo?'. Sortudo responde: 'Meio-dia, Hagar.'.
Quadro 2. Indicação de 'Suspiro'. Hagar continua: 'É chato viver na Idade das Trevas!!'.
Agás, o Horrível, tirinha de Dik e Cris Bráune, 2004.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Na tirinha, é mencionada uma expressão normalmente associada à Idade Média. Qual é essa expressão?
  2. Em sua opinião, por que se criou essa ideia sobre o período medieval?
  3. A Idade Média pode ser reduzida a essa ideia? Debata esse assunto com os colegas.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Como periodizar a Idade Média?

De modo geral, os historiadores utilizam o ano 476, em que terminou o Império Romano do Ocidente, para demarcar o fim da Antiguidade e o início da chamada Idade Média, que durou aproximadamente mil anos (do século cinco ao século quinze).

Pense um pouco sobre isso. Transformações profundas não acontecem da noite para o dia, certo? Ninguém dorme antigo e acorda medieval. Refletindo a respeito dessas questões, alguns estudiosos propuseram outra divisão para esses períodos.

Como você estudou no capítulo 9, eles chamaram de Antiguidade tardia o intervalo de tempo entre o século três, na fase final do Império Romano do Ocidente, e o século oito. Nesse período, ocorreram fatos como os seguintes:

  • a transformação da cultura clássica greco-romana com a adoção, pelos romanos, do cristianismo e de modelos culturais e sociais vinculados a essa religião;
  • o crescimento do cristianismo, que se tornou a religião mais praticada na Europa, no norte da África e em regiões da Ásia próximas ao Mar Mediterrâneo;
  • a formação e o fortalecimento do islamismo como religião monoteísta a partir do século sete.

Esses fatos demonstram que na Antiguidade essas regiões estavam se modificando com a adoção de diferentes valores. Assim, os estudiosos passaram a relativizar a ideia de que, com a queda do Império Romano do Ocidente, o mundo antigo acabou de maneira abruptaglossário , dando lugar ao período medieval, no qual supostamente a Europa passou por uma Idade das Trevas, marcada pela violência e pela estagnaçãoglossário .

Fotografia. Vista aérea de uma cidade, rodeada por uma muralha com torres pontiagudas em alguns trechos, com castelos e outras construções em seu interior. Ao fundo, vegetação. Ao redor, área gramada e estradas.
Vista área da cidade medieval de Carcassonne, na França. Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Seria impossível cidades medievais como a da imagem, com castelos e muralhas, surgirem de uma hora para outra por causa de uma mudança de período histórico. Aliás, as divisões da história, como você estudou no capítulo 1, foram determinadas pelos estudiosos muito tempo depois de ocorrerem os fatos usados como marcos para defini-las.

Os reinos germânicos

No capítulo anterior, você estudou as interações que os romanos tiveram ao longo de sua história com os chamados bárbaros, que desempenharam um papel importante na desestruturação do império.

Durante a Antiguidade tardia, especialmente a partir do século cinco, esses povos, que haviam se estabelecido no território romano, começaram a fundar reinos. Um desses reinos foi o dos francos, de origem germânica, fundado na região correspondente à de uma parte da França atual. Diferentemente de reinos vizinhos, o dos francos teve longa duração, tornando-se muito poderoso.

Reinos germânicos – séculos cinco-seis

Mapa. Reinos germânicos - séculos cinco e seis. No centro, o Mar Mediterrâneo. Ao norte, parte da Europa. Ao sul, parte do norte da África. A leste, parte da Ásia. A oeste, o Oceano Atlântico. 
Legenda: 
Rosa: Reino dos francos em 486.
Rosa com linhas inclinadas em preto: Reino dos francos em 511.
No mapa, o Reino dos francos em 486, localiza-se no norte da Europa, com destaque para as cidades de Reims, Cambrai e Tournai. 
O Reino dos francos em 511 abrange desde a cidade de Toulouse até a região a leste do Rio Reno. Fazendo fronteira com os Saxões, os Lombardos e o Reino dos Turíngios, a leste; o Reino dos Burgúndios, em cor laranja, ao sul, e o Reino dos Ostrogodos, ao sul. A oeste, o Oceano Atlântico.
Destacados em roxo, Reino dos Visigodos e o Reino dos Ostrogodos, abrangendo as regiões da Península Ibérica, a costa mediterrânica do território que hoje corresponde à França, a Península Itálica e parte dos Bálcãs. A cidade de Toledo está destacada no Reino dos Visigodos. As cidades de Verona, Ravena, Roma e Siracusa estão destacadas no Reino dos Ostrogodos.
No noroeste da Península Ibérica, e dentro dos limites ocupados pelos visigodos, destaca-se em marrom, o Reino dos Suevos, incluindo as cidades de Lugo e Braga. 
A leste do Reino dos Francos, destacado em amarelo, o Reino dos Turíngios. 
A leste do Reino dos Ostrogodos, destacado na cor verde claro, o Reino dos Gépidas, às margens do Rio Danúbio.
No norte da África, na costa mediterrânica em torno do Cabo Bon, incluindo as Ilhas Baleares, a Córsega e a Sardenha, destacado em verde escuro, o Reino dos Vândalos, incluindo a cidade de Cartago. 
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos com escala de 0 a 260 quilômetros.

FONTE: HILGEMANN, W.; KINDER, H. Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página 112.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

No mapa estão representados reinos germânicos. Qual é a diferença entre a organização espacial desse mapa e o da página 173, que representa um período em que ainda existia o Império Romano do Ocidente?

Dica

LIVRO

Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, de Rosalind Quérven. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2020.

O livro narra acontecimentos em diversas fases da vida do rei Artur, figura mítica inglesa que teria vivido no início da Idade Média. Artur é associado à imagem de um guerreiro que luta contra a invasão dos saxões à Grã-Bretanha.

O Reino Franco

Ao longo de sua história, o Reino Franco foi dominado por duas dinastias – a dos merovíngios e a dos carolíngios. Essas dinastias foram muito importantes para a expansão do cristianismo entre os povos germânicos.

Os francos se aproximaram bastante da Igreja a partir do reinado de Clóvis, da dinastia merovíngia, que governou entre 496 e 511. No primeiro ano de seu reinado, Clóvis unificou as várias tribos francas. Além disso, ele se converteu ao cristianismo. Esse gesto foi muito significativo, pois reforçou a união dos francos com base em uma religião e fortaleceu a autoridade do rei com o apoio da Igreja.

Iluminura. No centro, um homem nu, de cabelos castanhos, com as mãos cruzadas sobre o peitoral, dentro de uma pia batismal. À esquerda, quatro homens com túnicas religiosas, longas e com cores diferentes, e chapéu branco triangular sobre a cabeça. Um deles à frente, mais próximo do centro, segura um bastão de ponta encurvada com uma mão e ergue a palma da outra mão em direção ao homem ao centro. À direita, quatro homens com vestes nobres compridas. Um deles, mais próximo do centro, segura uma coroa em direção ao homem na pia batismal.
O batismo de Clóvis, iluminura do manuscrito A vida de São Denis, século treze.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Clóvis está representado ao centro da imagem, na pia batismal. À esquerda, estão os bispos da Igreja, que o abençoam, e, à direita, os nobres francos, que lhe entregam a coroa.

Na prática, os reis dessa dinastia tiveram pouco poder, pois quem governava de fato eram os chamados mordomos do paço, funcionários indicados pelo rei para administrar o reino e organizar a defesa.

Um dos mais importantes mordomos foi Carlos Martel, que liderou o exército franco contra os muçulmanos na Batalha de Poitiers, em 732. A vitória dos francos barrou o avanço muçulmano na Europa e deu enorme prestígio a Carlos Martel e sua família.

Depois disso, a influência dos mordomos cresceu tanto que Pepino, o Breve, filho de Carlos Martel, depôs o último rei merovíngio e assumiu o trono em 751, iniciando uma nova e poderosa dinastia: a carolíngia.

Vitral. Mosaico colorido do busto de um homem com barba, usando uma coroa e um manto. Atrás dele, um círculo com escritas na borda.
Detalhe de vitral do século treze, na Catedral de Estrasburgo, França, retratando Pepino, o Breve.

O Império Carolíngio

As relações do Reino Franco com a Igreja se tornaram mais fortes quando o papa Estevão dois pediu auxílio militar a Pepino, o Breve, para enfrentar os lombardos na Itália.

Após derrotá-los, Pepino doou à Igreja um grande território na região central da Península Itálica, que deu origem aos Estados Pontifíciosglossário . Em contrapartida, o sumo pontíficeglossário reconheceu a legitimidade de Pepino como rei dos francos. Pepino morreu em 768, quando foi sucedido por seu filho Carlos Magno.

Durante o reinado de Carlos Magno, os francos conseguiram expandir consideravelmente suas fronteiras. Como seus antecessores, ele agiu protegendo as áreas da Igreja e levando a fé cristã aos territórios conquistados.

No ano 800, Carlos Magno foi coroado em Roma pelo papa Leão terceiro, consolidando a relação entre a monarquia franca e a Igreja.

Com a coroação, Carlos Magno recebeu o título de imperador romano do Ocidente. A cerimônia foi conduzida pelo papa Leão terceiro, em Roma, simbolizando a autoridade da Igreja até mesmo sobre os reis. Entendia-se, assim, que o poder do rei partia de Deus, cabendo à Igreja legitimar o governo dos monarcas.

A Igreja pretendia restaurar o antigo Império Romano do Ocidente para garantir a influência sobre grandes territórios que havia adquirido no século terceiro, quando o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma.

Como imperador do Ocidente, Carlos Magno tornou-se mais poderoso e incorporou o papel de defensor da cristandade latinaglossário .

O Império Carolíngio – séculos oito-nove

Mapa. O Império Carolíngio - séculos oito e nove. Destaque para parte do continente europeu e uma pequena parte do norte da África.  No centro, a região dos Alpes e dos Pirineus. A oeste, a Península Ibérica. A leste, a região dos Cárpatos e dos Bálcãs. Há territórios destacados em cores diferentes. 
Legenda:
Amarelo: Reino dos Francos no início do governo de Carlos Magno.
Verde: Conquistas de Carlos Magno.
Roxo. Estados tributários.
Rosa: Área de influência carolíngia.
Laranja: Domínio bizantino.
No mapa, o Reino dos Francos no início do governo de Carlos Magno abrange vasta área da Europa Ocidental e Central. Algumas regiões se destacam, como, ao sul, a Aquitânia e a Borgonha; no centro, a Nêustria e a Alemanha; a nordeste, a Austrásia. Ao norte, as cidades de Aquisgrã, Trévis, Attigny, Reims e Worms.
As Conquistas de Carlos Magno expandiram o território a noroeste, na região da Marca da Bretanha; a sudoeste, na região da Marca Hispânica; ao sul, compreendendo o Reino da Itália, os Estados da Igreja e o Ducado de Espoleto; a leste, incluindo Veneza, Aquileia, Ístria e Baviera; e a nordeste, compreendendo a Saxônia e a cidade de Verden.
Os Estados tributários compreendem o Ducado de Benevento, incluindo a cidade de Benevento, no sul da Península Itálica; e a Marca da Panônia e Ávaros, no leste do continente europeu. 
A área de influência carolíngia abrange a Ilha da Córsega, e parte do leste da Europa, na divisa com os reinos Eslavos. 
O Domínio bizantino compreende as ilhas da Sardenha e da Sicília, no extremo sul da Península Itálica; Nápoles; uma pequena região a leste de Veneza, bem como o litoral mediterrânico da Península Balcânica e na Península do Peloponeso.
 À esquerda, no centro, rosa dos ventos e escala de 0 a 240 quilômetros.

FONTE: DUBY, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 87.

Renascimento Carolíngio

Durante o reinado de Carlos Magno, o território franco aumentou muito, a produção agrícola cresceu e o comércio ganhou impulso. Além disso, ele promoveu o desenvolvimento artístico e cultural do império. Para isso, procurou recuperar elementos da cultura greco-romana. O período em que houve essa renovação cultural ficou conhecido como Renascimento Carolíngio.

No dia a dia, o idioma falado no império era o franco, mas o estudo da língua latina, realizado apenas em comunidades religiosas e de estudiosos, foi encorajado e a escrita em latim, valorizada.

Também houve o desenvolvimento de um tipo de caligrafia: a cursiva minúscula. A escrita dessa caligrafia era mais prática e mais fácil de ler do que as usadas antes na Europa. Isso facilitou a leitura e favoreceu a preservação de muitas obras clássicas, que puderam ser copiadas de maneira mais eficiente.

Copiadas? Exatamente. Muitas obras da chamada Antiguidade clássica foram preservadas no período medieval graças à atuação dos monges copistas. A maioria dos textos era escrita em pergaminhos feitos com peles de animais, o que tornava os livros raros e caros.

Iluminura. Em primeiro plano, três homens. Dois deles estão sentados, virados para a direita, em frente a mesas inclinadas de madeira, escrevendo em folhas de livro. De frente para eles, virado para a esquerda, um homem com túnica comprida preta e touca comprida de mesma cor sentado de frente a uma mesa com um livro em mãos.
Representação de monges copistas produzindo livros manuscritos em iluminura do Livro dos jogos, de 1283, encomendado por Afonso décimo, rei de Leão e Castela. A partir do século doze, esse trabalho passou a ser feito também em universidades e espaços não ligados à Igreja.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os monges copistas trabalhavam no Iscriptórium, lugar do mosteiro destinado à produção de manuscritos. Os primeiros mosteiros formaram-se no século cinco, no processo de institucionalização da Igreja Católica. Os monges viviam em isolamento e era comum que fizessem voto de pobreza e obedecessem a regras voltadas ao trabalho e à devoção religiosos. Os monges que atuaram como copistas contribuíram para a preservação de obras clássicas importantes no processo do Renascimento Carolíngio.

No campo da justiça, Carlos Magno estabeleceu leis válidas em todo o império para resolver questões relacionadas a crimes, impostos, administração pública, direitos de herança etcétera Além disso, adotou medidas unificadoras, como a criação de moedas.

Após sua morte, em 814, seus descendentes entraram em disputa pelo trono e, em 843, acabaram assinando o Tratado de Vêrdun, por meio do qual dividiram o império em três domínios.

Nesse período, intensificaram-se as invasões de povos não cristãos aos territórios da cristandade latina, que ficaram fragilizados por causa das divisões.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Cite duas importantes transformações que ocorreram no período chamado Antiguidade tardia.
  2. O que significou a aproximação entre o Reino Franco e a Igreja?
  3. Quais foram as consequências do Tratado de Vêrdun?

Vamos pensar juntos?

Leia a tirinha a seguir.

Quadrinho. História contada em três quadros. Apresenta dois personagens vikings, um adulto, chamado Hagar, e um menino, chamado Hamlet. Os dois estão sentados um de frente para o outro, cada um em uma pedra.
Quadro 1. Hagar fala: 'Hamlet, só existem dois tipos de pessoas nesse mundo...'
Quadro 2. Hagar continua: 'Bárbaros e os não bárbaros.'
Quadro 3. Hamlet pergunta: 'De acordo com quem, pai?'. Hagar responde: 'Com os bárbaros.'
Agás, o Horrível, tirinha de Dik e Cris Bráune, 1990.

Como você leu na abertura deste capítulo, Agás é um personagem viking. Originários da Escandinávia, os vikings formaram um dos povos que invadiram os territórios da cristandade latina. Na tirinha, Hagar explica a seu filho Rãmlet a diferença entre bárbaros e não bárbaros. Essa oposição esteve presente nas mais diferentes culturas e, embora com outros sentidos, permanece até hoje, como a fala de Agás ajuda a compreender.

Como você estudou na unidade anterior, o termo bárbaro foi criado para nomear o diferente. Para os romanos, bárbaros eram todos os que não partilhavam a cultura greco-romana e viviam fóra das fronteiras do império. Ninguém, entretanto, se autodenomina bárbaro ou nomeia seu grupo dessa maneira. A ideia de barbárie depende, portanto, do ponto de vista daquele que se considera civilizado (não bárbaro).

A respeito desse assunto, leia o texto a seguir, escrito pelo historiador romano Amiano Marcelino, que viveu no século quatro.

“O prazer que os espíritos amáveis e pacíficos encontram num passatempo instrutivo eles encontram nos perigos e na guerra. Aos seus olhos, a suprema felicidade é perder a vida no campo de batalha [...].

ápud: Lê Gófi Jóta Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. página 27-28.

Responda no caderno.

  1. Explique a afirmação de Agás de que só existem dois tipos de pessoas no mundo: os não bárbaros e os bárbaros, de acordo com os bárbaros.
  2. De acordo com o texto de Amiano Marcelino, quais eram as características dos povos bárbaros?
  3. Você leu uma tirinha atual que simula um diálogo entre personagens vikings e um trecho de um texto escrito por um historiador romano do século quatro. Esses documentos baseiam-se em ideias semelhantes ou diferentes a respeito da existência de povos bárbaros? Justifique.

A formação do islamismo: a terceira religião monoteísta

O cristianismo não foi a única religião monoteísta a se desenvolver e a se expandir na bacia do Mediterrâneo durante a Antiguidade tardia. Na Península Arábica, no comêço do século sete, formou-se o islamismo (ou islã). Os seguidores dessa religião são chamados muçulmanos (termo que significa “submissos a Deus”).

Atualmente, o islamismo é a religião que mais cresce no mundo. Ela está presente em praticamente todo o planeta, inclusive no Brasil. No entanto, são divulgados muitos preconceitos e informações distorcidas sobre os muçulmanos.

Que ideias ou imagens você associa ao islamismo? Nos meios de comunicação – internet, televisão ou jornais impressos –, que notícias ou informações são transmitidas sobre o mundo islâmico?

As respostas a essas perguntas são variadas, mas geralmente envolvem as ideias de violência, fundamentalismoglossário religioso, ataques terroristas, falta de liberdade, principalmente das mulheres, e a intolerância a outras religiões.

Essas ideias, porém, não correspondem à doutrina islâmica, que condena a violência, embora grupos radicais que se denominam muçulmanos pratiquem ações extremistas. Além disso, o radicalismo religioso não é exclusividade de muçulmanos.

Estudar a história do islamismo ajuda a desconstruir esses estereótipos e a superar essa visão negativa. Ao fazer isso, você perceberá que as relações entre a Europa Ocidental e o mundo islâmico não foram sempre marcadas pela violência e pelo confronto, e que muitas invenções fundamentais para a Europa – como a prensa móvel, o papel e a pólvora – não seriam conhecidas sem os muçulmanos.

Fotografia. Quatro mulheres reunidas. Duas delas usam hijabes e seguram celulares. Elas estão sorrindo.
Jovens muçulmanas na Malásia. Foto de 2020.

Meca pré-islâmica

A origem do islamismo está relacionada a Maomé, que nasceu em 570, na cidade de Meca, localizada na região correspondente à da atual Arábia Saudita, então dominada pela tribo dos coraixitas.

Naquela época, os povos da Península Arábica estavam organizados em tribos independentes. O que os aproximava era a língua (falavam vários dialetos do árabe) e a religião politeísta.

No século seis, a cidade de Meca era um dos centros comerciais mais importantes da península por ser uma alternativa à Rota da Seda, extensa rede de vias que conectavam, por terra e por mar, a China ao Mediterrâneo.

A cidade foi utilizada como um importante entreposto de abastecimento de água das caravanas de mercadores que vendiam produtos de diferentes locais da Ásia, da África e da Europa. Por estar em um caminho alternativo às rotas tradicionais que conectavam o Oriente ao Mediterrâneo, Meca atraiu mercadores e viajantes de diferentes regiões e culturas.

Parte de sua riqueza provinha também do fato de a cidade ter sido convertida nessa época em importante centro religioso para o qual diversos grupos árabes peregrinavam a fim de cultuar seus símbolos sagrados. Todos esses fatores foram determinantes para a formação do islamismo.

A Península Arábica – século sete

Mapa. “A Península Arábica – século VII”. Apresenta o mapa do oeste da Ásia, seus climas e rotas de comércio, com as informações:
Deserto: regiões da África e regiões próximas às cidades de Aqaba, Jerusalém, Damasco, Madali, Kulã, Al-Jawf, Yathrib e Najran.
Região montanhosa: regiões na África e próximas às cidades de Sana, Maarib, Meca, Talf, Tabuk, Constantinopla, Niceia, Irônio, Cesarela, Tarso, Antioquia, Melbena, Divin, Ecbatana, Nishapur, Ispaan, Persépolis, Siraf e Ormuz.
Principais rotas de comércio.
Terrestres: passando por Dostate, Tabuk, Meca, Talf, Najran, Maarib, Sana, Al-Jawf, Kulã, Madali, Mossul, Edessa, Melbena, Antioquia, Tarso, Ironio, Cesarela, Nicela, Constantinopla, Dvin, Ecbatania, Nishapur, Ispaan, Persépolis, Ormuz e Basra, para a Ásia Central.
Marítimas: saindo de Maarib e Sana, Basra, Siraf e Ormuz, para a Índia.
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 390 km.

FONTE: MANTRAN, R. Expansão muçulmana: séculos sete-onze. São Paulo: Pioneira, 1977. página 57. (Série Nova Clio).

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise no mapa a posição geográfica da Península Arábica e as rotas comerciais que a atravessavam. Essa posição facilitou o processo de expansão do comércio no local? Explique.

Fotografia. Ao fundo, uma torre oriental no estilo pagode. Ela é protegida por uma muralha, que aparece em segundo plano. Em primeiro plano, uma pessoa montada em um camelo.
Fortaleza de Jiayuguan, na China. Foto de 2018. Esse local era um dos principais pontos da Rota da Seda.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Rota da Seda era composta de vários itinerários e foi utilizada do século dois antes de Cristo a meados do século dezesseis. Através dela, caravanas transportavam uma série de produtos de luxo. Ao transitar por locais perigosos e por enormes distâncias, os mercadores que percorriam a Rota da Seda acabavam cobrando um alto valor como frete, o que tornava os produtos caríssimos.

Maomé e a fundação do islamismo

Maomé trabalhava como condutor de caravanas e viajou por vários locais do Oriente Médio, em que viviam pessoas de diferentes culturas. Em contato com comerciantes judeus e cristãos, ele conheceu as religiões monoteístas.

Aos 25 anos, sua vida mudou radicalmente quando se casou com radíja, viúva que fazia parte da elite de Meca e era dona das caravanas nas quais ele trabalhava.

De acordo com a tradição religiosa do islamismo, em 610, aos 40 anos de idade, aproximadamente, Maomé estava meditando em uma caverna quando teve uma visão. Nessa visão, o anjo Gabriel lhe anunciou uma missão: pregar a devoção a apenas um Deus. Ainda conforme a tradição, ao longo de 23 anos, Maomé teve outras visões em que o anjo lhe revelou mensagens de Deus, as quais foram posteriormente reunidas no Alcorão (do árabe Al Quran, que significa “As recitações”), livro sagrado dos muçulmanos.

Gravura. Sob um fundo de papel bege, nas partes inferior e superior do papel, textos em língua árabe. Na parte central, o desenho de uma figura humana com asas nas cores azul, vermelha e preta. A figura está suspensa no ar, como se estivesse voando, e entrega um objeto a outra pessoa que está ajoelhada sobre um tapete azul. Esta pessoa ajoelhada está vestindo uma túnica verde e possui um lenço branco cobrindo a face e a cabeça. Ao fundo dessa cena, uma porta alta com figuras em arabesco. Nas laterais direita e esquerda da imagem, vários homens com vestimentas semelhantes às do homem ajoelhado, mas com os rostos à mostra. À direita, dois homens negros em pé observam a cena. No centro da imagem, em primeiro plano, uma jarra com duas alças sobre um suporte.
Gravura representando o anjo Gabriel revelando um capítulo do Alcorão a Maomé, século dezesseis.

radíja desempenhou papel central na divulgação da nova fé e foi a primeira a se converter ao islamismo. Ela e Maomé tiveram quatro filhos, mas só uma de suas filhas, Fátima, sobreviveu à infância. radíja e Fátima são duas das personagens femininas mais reverenciadas na história islâmica.

Para os muçulmanos, sua religião é a continuação e o aperfeiçoamento do judaísmo e do cristianismo, estabelecendo com elas semelhanças, como o culto ao mesmo Deus, e diferenças, como a inclusão da ideia de que Maomé é o último e principal profeta.

Fotografia. Ao fundo e à direita, uma grande construção retangular. Na lateral da construção, colunas que se unem no topo formando arcos. Do telhado, em formato plano, partem torres de ponta triangular e uma cúpula. À direita, um pátio com postes que sustentam guarda-sóis gigantes. Em primeiro plano, pessoas caminhando pelo local. A maioria usa vestes claras.
Mesquita do Profeta, em Medina, Arábia Saudita. Foto de 2018.

Os princípios da fé islâmica

Os muçulmanos devem cumprir cinco tarefas, que são consideradas a base da religião islâmica:

  • dar testemunho de fé, declarando que existe apenas um Deus (Alá) e que Maomé é seu profeta;
  • orar cinco vezes ao dia, voltando-se em direção a Meca;
  • ajudar os necessitados, se tiver condições para isso;
  • jejuar durante o Ramadã (nono mês do calendário muçulmano), não consumindo alimentos nem líquidos do nascer ao pôr do sol;
  • peregrinar ao menos uma vez a Meca, se tiver condições para isso.

Embora não faça parte dos cinco princípios considerados fundamentais, é importante considerar também a jirrád, prevista no Alcorão. Popularmente traduzido como “guerra santa”, o termo pode ser entendido como empenho individual, para se manter longe dos vícios, e coletivo, para defender a fé de possíveis inimigos.

A Hégira

Por volta de 613, Maomé começou a anunciar a nova religião em frente ao santuário da Caabaglossário , em Meca. Isso revoltou os coraixitas, que eram os guardiões do local, principal centro da religião politeísta.

Perseguido, Maomé se refugiou com seus seguidores na cidade de Iátrib. Esse evento, ocorrido em 622, ficou conhecido como Hégira (“migração”) e marcou o ano 1 do calendário muçulmano. Com o tempo, a população de Iátrib se converteu ao islamismo, e a cidade passou a ser chamada Medina (“cidade do profeta”).

Em 630, Maomé retornou a Meca com um numeroso exército para retirá-la do domínio dos coraixitas, estabelecendo na cidade o centro da religião islâmica. Foram, então, removidos do interior da Caaba as imagens e os ídolos.

Ilustração. Representação de homens com barba, turbantes e túnicas compridas. Dois à direita e dois à esquerda seguram um tapete esticado. No centro, um homem coloca uma pedra preta em cima do tapete. No fundo, dois homens levantam uma cortina preta, atrás da qual aparecem uma porta e uma parede de pedra. No canto direito, há cinco homens e, no canto esquerdo, há quatro homens que observam a cena.
Maomé e a purificação da Caaba e da Pedra Negra, ilustração do livro Jami’al- Tawarikh, escrito por Ráxid ál din e publicado na Pérsia (atual Irã) em 1315.
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A Pedra Negra é um conjunto de fragmentos rochosos unidos por uma moldura de prata. Escura e polida, ela tem cêrca de 30 centímetros de diâmetro. Sua origem mineral é desconhecida, mas se supõe tratar-se de um meteorito. Foi o único objeto do politeísmo mantido pelos muçulmanos na Caaba.

Disputas e conflitos no mundo islâmico

Quando Maomé morreu, em 632, praticamente todos os habitantes da Península Arábica tinham aderido à fé islâmica. Seus seguidores iniciaram, então, o registro do Alcorão, que era usado para resolver questões religiosas e também sociais.

Fotografia. Capa de livro feita com arabescos desenhados em ouro e cravejado de pedras azuis.
Capa do Alcorão publicado na Pérsia (atual Irã), no século dezesseis, e adornado com turquesas.
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O Alcorão é organizado em 114 capítulos, chamados suratas, e contém mais de 6 mil versos, nos quais são tratadas questões religiosas, políticas, comportamentais, jurídicas e morais.

Com o tempo, porém, a população foi mudando: aumentou a quantidade de moradores das cidades e o comércio se intensificou. Assim, as regras contidas no livro sagrado do islamismo se tornaram insuficientes para resolver os problemas da sociedade. Para melhor organizar essas questões, juristas e teólogos juntaram diretrizes, histórias e ditos atribuídos a Maomé que não estavam nas revelações, formando a Suna (“caminho trilhado”). A maioria dos muçulmanos aceitou os conteúdos da Suna, sendo, por isso, chamados sunitas.

O escolhido para suceder Maomé foi abú bácr, que se tornou o primeiro califa (“sucessor”). Os partidários de Alí âban Tálib (primo de Maomé e marido de sua filha, Fátima), porém, não aceitaram essa escolha.

Alí âban Tálib posteriormente chegou ao poder e se tornou o quarto califa com o apoio desses partidários, para os quais somente os que tinham parentesco direto com Maomé poderiam liderar corretamente a população muçulmana. Esse grupo não aceitava a Suna como guia e, por isso, passou a ser conhecido como xiíta (“partido de Ali”).

A divisão entre sunitas e xiítas permaneceu desde então. Estima-se que aproximadamente 90% dos muçulmanos sejam sunitas e 10% sejam xiítas.

Ilustração. Representação em dois quadros, um em cima do outro. Na ilustração superior, dois homens de túnica verde e turbante branco, sentados de joelhos em um tapete, um de frente para o outro. No centro, há uma pequena mesa com um livro em cima. O homem da esquerda segura um livro na mão. Na ilustração inferior, dois homens, um de túnica roxa e turbante verde e outro de túnica verde e turbante branco, sentados de joelhos em um tapete, um de frente para o outro. No centro, há uma pequena mesa com papéis e um pequeno pote. O homem da direita entrega um livro para o homem da esquerda, que tem uma espada curva com duas pontas no chão, à sua frente.
Os quatro primeiros califas, ilustração presente no livro italiano A história das nações, do século XIX.

A expansão do islamismo

Quando os califas assumiram a direção do mundo islâmico, iniciaram um rápido processo de expansão: em menos de um século, controlaram territórios que abrangiam a Índia, todo o Oriente Médio, o norte da África e a Península Ibérica. Esse imenso espaço constituiu o Dár ál islãm (“Casa da Paz”), território em que a maioria da população era muçulmana e podia praticar sua fé sem restrições.

A expansão do islamismo era motivada pela necessidade de conquistar terras apropriadas para a agricultura e pela possibilidade de realizar trocas comerciais e culturais com habitantes de diversas regiões. Nesse processo, cidades como Bagdá, Damasco, Barca, Bugia, Córdoba e Toledo tornaram-se grandes centros de comércio e cultura.

Os povos conquistados pelos muçulmanos podiam manter sua língua, suas tradições, seus costumes e sua religião, desde que pagassem um tributo especial e realizassem seus cultos de fórma privada. Além disso, foram tolerados casamentos entre muçulmanos e integrantes de povos não islamizados. Isso demonstra que os muçulmanos eram tolerantes com culturas e religiões distintas das deles.

No século dez, o mundo muçulmano começou a se dividir por causa de disputas internas pelo poder e da dificuldade de administrar um território muito grande com apenas um centro. Formaram-se, então, califados independentes na África do Norte e na Península Ibérica.

A expansão do mundo islâmico – séculos sete-oito

Mapa. A expansão do mundo islâmico – séculos sete e oito. Destaque para parte da Europa, da Ásia e do norte da África.
Legenda:
Verde-escuro: Conquistas até a morte de Maomé.
Verde-claro: Conquistas até 661.
Amarelo: Conquistas até 750.
Seta roxa: Principais rotas comerciais.
Seta laranja: Produtos importados.
No mapa, as conquistas até a morte de Maomé compreendem a porção centro-sul da Península Arábica, incluindo as cidades de Medina, Meca, Najran e Áden; e região leste da Península Arábica.
As conquistas até 661 compreendem toda a Península Arábica, regiões próximas as cidades de Petra, Jerusalém, Tiro, Damasco e Bagdá; a região oeste e central da Pérsia, incluindo a cidade de Xiraz; a Península do Sinai; o Egito incluindo as cidades de Fostate e Alexandria; e o norte da África, passando pela cidade de Barca até Trípoli, à oeste.
As conquistas até 750 compreendem o restante do norte da África, a oeste de Trípoli até a região do atual Saara Ocidental, incluindo as cidades de Fez, Ceuta, Bugia, Túnis e Ghdamés; a Península Ibérica, incluindo as cidades de Gibraltar, Córdoba, Almeria, Toledo, Barcelona e Narbona; a ilha da Sicília, incluindo a cidade de Palermo; o extremo sul da Península Itálica; a região da cidade de Antioquia, na Ásia; e as regiões à norte e à leste da Pérsia, incluindo as cidades de Ispaan e Samarcanda.
As principais rotas comerciais partem: de Verdum, no norte da Europa, para Córdoba (couro); de Ceuta para Bugia e ilhas Baleares (algodão); de Barcelona, Narbona e Marselha para ilhas da Córsega e de Sardenha; de Fez, no norte da África, para Bugia, depois de Túnis até Palermo, na Sicília; de Palermo para Trípoli e para Chipre; de Trípoli para Barca (e vice-versa); de Barca para Alexandria (e vice-versa); de Veneza para Alexandria; de Fostate para Petra; de Damasco para Tiro, Jerusalém, Petra, Bagdá, Áden e Axoum (especiarias, mirra).
As rotas de produtos importados partem: da África subsaariana para o norte da África (ouro, sal e escravizados); da Abissínia, no leste da África, para o Egito (escravizados); da África subsaariana, via Oceano Índico, para Alexandria (marfim, perfumes) e para região ao sul de Antioquia (pedras preciosas, especiarias); da região às margens do Rio Eufrates, próximo à Bagdá, para região ao sul da Antioquia (trigo, azeite, linho); de Verdum para a região da atual França (ferro, escravizados); da margem leste do Mar Negro para a Pérsia (escravizados); da margem leste do Mar Cáspio para o nordeste da Pérsia (âmbar); do Oriente para Bagdá (porcelana); da Índia para a Pérsia (perfumes, caxemira). A Rota da Seda parte do Oriente, à leste, passa por Samarcanda e vai até Bagdá. 
Na região do Egito, sem seta direcional, há a indicação de produtos como milho, açúcar, linho e papiro. No sul da Pérsia, sem seta direcional, há a indicação de cavalos e prata. Na região central da Península Arábica, sem seta direcional, há a indicação de cavalos e dromedários.
No canto inferior direito, rosa de ventos e escala 0 a 390 quilômetros.

FONTE: FRANCO JÚNIOR, H.; ANDRADE FILHO, R. O. Atlas: história geral. São Paulo: Scipione, 2006. página 19.

O legado muçulmano

Os muçulmanos constituíram um império que ligava a Europa, a África e a Ásia por movimentadas rotas comerciais. Foi graças ao intenso trânsito de conhecimentos nos domínios muçulmanos que chegou à Europa uma série de inovações, como as técnicas para plantar algodão, amora, cana-de-açúcar, arroz, limão e laranja, entre outros vegetais, e os sistemas de irrigação empregados na região de Valência, que hoje fica no território da Espanha. Os muçulmanos também levaram para a Europa o conhecimento sobre técnicas de construção, como a do mosaico, a da cerâmica e a do vidro.

Na arte, divulgaram o uso do arabesco, uma técnica de decoração baseada na pintura de figuras geométricas. Nas ciências, inovaram na matemática – com o emprego dos algarismos indo-arábicos (os que você utiliza), criados pelos hindus e modificados pelos árabes –, na astronomia, na física e na química (na época, chamada alquimia).

Iluminura. Vários homens com turbantes brancos e túnicas compridas coloridas diante de uma mesa com instrumentos astronômicos. Os homens estão usando vários desses instrumentos, como astrolábio, quadrante, balestilhas, entre outros, além de compasso, ampulheta e réguas. No fundo, uma parede com quadros pendurados com escritos em árabe.
Astrônomos no observatório de Galata, em Istambul, representados em iluminura de cêrca de 1581.
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Imagens em contexto!

Na iluminura, é possível identificar vários instrumentos, como réguas, quadrantes e astrolábio, utilizados para medir distâncias e posições dos corpos celestes.

O islamismo também trouxe mudanças positivas às mulheres, que passaram a ter o direito de possuir propriedade, herdar bens da família e escolher a pessoa com quem iriam se casar. Caso decidissem, poderiam se divorciar e casar-se novamente com outra pessoa. Essas conquistas, entretanto, não significaram igualdade de direitos entre mulheres e homens.

Os homens continuaram a deter certos privilégios, como os de ter várias esposas, castigar uma mulher considerada desobediente e receber o dobro da herança.

Fotografia. Duas mulheres sentadas em um sofá, uma de frente para outra. Uma delas usa um hijab e tem um estetoscópio ao redor do pescoço. Ela também segura uma prancheta.
Mulher sendo atendida por médica muçulmana, na Malásia. Foto de 2019.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Como era a situação dos povos árabes antes do islamismo?
  2. Como ocorreu a divisão entre sunitas e xiitas no islamismo? Cite uma diferença entre eles.
  3. Que mudanças o islamismo trouxe para as mulheres? Elas conquistaram os mesmos direitos que os homens? Explique.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Releia a tirinha reproduzida na abertura deste capítulo e responda: é correto chamar a Idade Média de Idade das Trevas? Justifique.
  2. Sobre o Império Carolíngio, considere as afirmações a seguir. Depois, identifique no caderno a alternativa correta.
    1. Carlos Magno foi responsável pela unificação política e pela expansão dos territórios francos na Europa.
    2. O apoio do papa Leão terceiro a Carlos Magno aproximou­-o do imperador bizantino.
    3. O Renascimento Carolíngio é caracterizado pelo fortalecimento da cultura árabe muçulmana.
    4. A Europa cristã, fragilizada pelo declínio do Império Carolíngio no século nove, sofreu muitas invasões, principalmente por parte dos povos não cristãos.

Estão corretas apenas as afirmações:

    1. e dois.
    1. e três.
    1. e três.
    1. e quatro.
    1. , três e quatro.
  1. Leia as afirmações a seguir e verifique se elas são verdadeiras ou falsas. Anote a resposta no caderno.
    1. Clóvis combateu o cristianismo como uma fórma de centralizar o poder da dinastia merovíngia.
    2. A Igreja de Roma se tornou mais forte na cristandade latina ao se aproximar do Reino Franco.
    3. Durante o Renascimento Carolíngio, foi desenvolvido um tipo de caligrafia que facilitou a escrita e a leitura na Europa medieval.
    4. Após a morte de Carlos Magno, o Reino Franco se consolidou como o mais poderoso do continente europeu.

Aprofundando

4. Durante a Idade Média, nos mosteiros, os monges copiavam diversos tipos de livro com tratados de gramática e textos bíblicos. Esse trabalho foi muito valorizado durante a dinastia carolíngia. O texto a seguir trata desse assunto. Leia-o e depois faça o que se pede.

reticências foram conservadas algumas obras literárias clássicas (por exemplo, de César, Tito Lívio e Virgílio) que, do contrário, hoje estariam perdidas. Cada mosteiro, preocupado em ter um exemplar de determinadas obras consideradas básicas, mantinha copistas para que, apesar de lenta e custosamente, fosse formada sua biblioteca. Quase toda igreja de importância média tinha uns 200 ou 300 livros

reticências. Formaram-se dessa maneira diversos reservatórios de cultura intelectual, nos quais os séculos seguintes iriam frequentemente beber.”

FRANCO JÚNIOR, H. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001. página 145-146.

  1. Como eram formadas as bibliotecas dos mosteiros?
  2. Qual era o tamanho médio delas?
  3. Explique, com base na leitura do texto, a importância dos monges copistas para a cultura intelectual.

5. Leia o texto a seguir e depois faça o que se pede.

“O modo como o mundo islâmico é estereotipado pela mídia leva ao julgamento e à condenação dos muçulmanos sem que seja necessária a apresentação de argumentos consistentesglossário . Um exemplo disso é o uso do conceito de fundamentalismo como sinônimo do islã. Ainda que existam movimentos fundamentalistas nas outras religiões monoteístas, a mídia associa essa palavra quase que exclusivamente aos muçulmanos reticências.

O mundo islâmico, como retratado pela mídia, tem ódio e ressentimento em relação ao Ocidente, e a violência é uma de suas principais características. reticências

RIBEIRO, E. M. O Oriente Médio e o islã sob o viés da mídia. Monografia (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. página 46-48.

  • Segundo a autora do texto, qual é a imagem do islamismo apresentada na mídia ocidental? Justifique com trechos do texto.
  1. Como você estudou neste livro, o cristianismo e o islamismo tornaram-se conhecidos em regiões muito distantes dos locais onde foram formados. Nesta atividade, você ampliará seu conhecimento sobre essas religiões. Para isso, reúna-se com um colega e, com base no que vocês aprenderam, façam uma pesquisa a respeito dessas duas religiões e produzam um quadro comparativo entre o processo de expansão do cristianismo e o do islamismo. Para isso, atentem às instruções a seguir.
    1. Dividam o trabalho de pesquisa em tarefas menores:
      • localizem, no capítulo anterior e neste, os trechos que abordam o cristianismo e o islamismo;
      • montem um quadro com duas colunas – uma destinada ao cristianismo e outra ao islamismo – e duas linhas.
    1. Procurem nos trechos selecionados o nome do principal líder e o período e o modo como cada religião se expandiu.
    2. Preencham as duas linhas do quadro correspondentes a cada religião com as informações que encontraram.
    3. Com base no quadro, elaborem um manual de instruções que possa ser utilizado por qualquer pessoa que queira comparar religiões diferentes.
    4. Comparem o trabalho de vocês com os dos outros grupos e, se necessário, procurem melhorar as instruções que elaboraram.

Glossário

Abrupto
: algo que ocorre de fórma rápida e inesperada.
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Estagnação
: paralisação; falta de movimento, de atividade.
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Estados Pontifícios
: territórios que estiveram sob autoridade direta da Igreja de 756 a 1870.
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Sumo pontífice
: chefe supremo da Igreja Católica; o papa.
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Cristandade latina
: conjunto das comunidades cristãs liderado pelo papa, em Roma, e pelos carolíngios, no Reino Franco.
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Fundamentalismo
: associação a ideias inflexíveis sobre determinados temas, sobretudo relacionados à religião.
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Caaba
: santuário de estrutura cúbica feito de granito em cujo interior é guardada a Pedra Negra, na cidade de Meca.
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Consistente
: que possui uma boa explicação lógica, uma crítica válida.
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