UNIDADE 4 A EUROPA MEDIEVAL, A FORMAÇÃO DO ISLAMISMO E A ÁFRICA
A história e você: intolerância religiosa no Brasil atual
A questão religiosa teve papel importante na Europa, na Ásia e na África entre os séculos quatro e quinze. Naquela época, boa parte das pessoas que viviam no continente europeu se converteu ao cristianismo. A partir do século sete, formou-se no Oriente Médio outra importante religião, que se espalhou por regiões da Ásia, da África e da Europa: o islamismo.
Nesta unidade, você estudará, entre outros temas, a formação e a expansão do islamismo e os conflitos entre muçulmanos e cristãos. Além disso, conhecerá alguns reinos, impérios, rotas comerciais e elementos culturais do continente africano entre os séculos quatro e quinze.
A relação do cristianismo com o islamismo, e entre eles e povos adeptos de outras religiões, nem sempre foi tranquila. Além das questões relativas à fé, muitos povos se converteram à fôrça por interesses políticos e/ou econômicos. Os conflitos religiosos colocaram em evidência a questão da intolerância, motivando preconceitos e ações violentas.
Atualmente, diversos grupos ainda são vítimas de intolerância religiosa. No Brasil, por exemplo, muitas pessoas são perseguidas por causa de suas crenças, apesar de documentos como a Constituição Brasileira, de 1988, assegurarem o direito das pessoas à liberdade religiosa no país.
De acordo com dados do Disque 100, serviço de proteção dos direitos humanos, foram registradas no Brasil 354 denúncias de intolerância religiosa no primeiro semestre de 2019.
Os conflitos envolvendo religião, independentemente de como e onde começam, podem ser movidos por fanatismo. De modo geral, os fanáticos consideram sua religião a única legítima e, com suas ações, procuram desestabilizar a sociedade, ferir pessoas e impedir o direito à liberdade religiosa.
Pensando nisso, você e os colegas da turma prepararão fôlderes de uma campanha de combate à intolerância religiosa no país. Para isso, verifiquem as etapas a seguir.
Organizar
- Formem grupos de até cinco integrantes.
- Pesquisem na internet, em livros, jornais e revistas impressos, as religiões que são seguidas no Brasil.
- Levantem informações sobre as religiões que mais sofrem intolerância religiosa no país.
- Com base na pesquisa, escolham duas religiões diferentes e levantem as seguintes informações sobre elas: país ou região em que se formaram, como estão organizadas (descrevendo a hierarquia de poder, se houver), principais crenças e número de adeptos.
Produzir
- Escrevam um texto resumido com as informações referentes a cada religião pesquisada, justificando o direito de existência de cada uma delas.
- Revisem o texto que escreveram para que ele fique compreensível, curto e adequado ao formato de fôlder: um material que combina textos e imagens destinado à divulgação de produtos e ideias.
Compartilhar
- Após a conclusão do trabalho, compartilhem os fôlderes com o professor e com os colegas dos outros grupos, conversando sobre a experiência de realizar a atividade.
- Divulguem os fôlderes de todos os grupos em suas redes sociais.
CAPÍTULO 10 O INÍCIO DA IDADE MÉDIA
Você já deve ter tido contato com animações, filmes, histórias em quadrinhos ou games ambientados na Idade Média. Deve conhecer, por exemplo, as histórias do rei Artur ou de Róbin , ambientadas em cenário medieval. Rúd
Castelos, catapultas, dragões, feiticeiros, guerreiros com armaduras, vikings etcétera são elementos presentes nessas histórias, como você pode notar na imagem do detalhe do cartaz da animação reproduzido nesta página. Na história, que se passa durante a Idade Média, os vikings têm dragões como animais de estimação.
Outra produção cultural em que a Idade Média é usada como pano de fundo é a série de tirinhas de Agás, o Horrível, criada em 1973 por Diqui Bráun, que faleceu em 1989. Desde então, as tirinhas são desenhadas por seu filho, Cris Bráune.
Hagar é o comandante de um exército viking que invade e saqueia cidades da Europa, sempre acompanhado de seu fiel escudeiro, Eddie Sortudo.
Responda oralmente.
- Na tirinha, é mencionada uma expressão normalmente associada à Idade Média. Qual é essa expressão?
- Em sua opinião, por que se criou essa ideia sobre o período medieval?
- A Idade Média pode ser reduzida a essa ideia? Debata esse assunto com os colegas.
Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.
Como periodizar a Idade Média?
De modo geral, os historiadores utilizam o ano 476, em que terminou o Império Romano do Ocidente, para demarcar o fim da Antiguidade e o início da chamada Idade Média, que durou aproximadamente mil anos (do século cinco ao século quinze).
Pense um pouco sobre isso. Transformações profundas não acontecem da noite para o dia, certo? Ninguém dorme antigo e acorda medieval. Refletindo a respeito dessas questões, alguns estudiosos propuseram outra divisão para esses períodos.
Como você estudou no capítulo 9, eles chamaram de Antiguidade tardia o intervalo de tempo entre o século três, na fase final do Império Romano do Ocidente, e o século oito. Nesse período, ocorreram fatos como os seguintes:
- a transformação da cultura clássica greco-romana com a adoção, pelos romanos, do cristianismo e de modelos culturais e sociais vinculados a essa religião;
- o crescimento do cristianismo, que se tornou a religião mais praticada na Europa, no norte da África e em regiões da Ásia próximas ao Mar Mediterrâneo;
- a formação e o fortalecimento do islamismo como religião monoteísta a partir do século sete.
Esses fatos demonstram que na Antiguidade essas regiões estavam se modificando com a adoção de diferentes valores. Assim, os estudiosos passaram a relativizar a ideia de que, com a queda do Império Romano do Ocidente, o mundo antigo acabou de maneira abruptaglossário , dando lugar ao período medieval, no qual supostamente a Europa passou por uma Idade das Trevas, marcada pela violência e pela estagnaçãoglossário .
Imagens em contexto!
Seria impossível cidades medievais como a da imagem, com castelos e muralhas, surgirem de uma hora para outra por causa de uma mudança de período histórico. Aliás, as divisões da história, como você estudou no capítulo 1, foram determinadas pelos estudiosos muito tempo depois de ocorrerem os fatos usados como marcos para defini-las.
Os reinos germânicos
No capítulo anterior, você estudou as interações que os romanos tiveram ao longo de sua história com os chamados bárbaros, que desempenharam um papel importante na desestruturação do império.
Durante a Antiguidade tardia, especialmente a partir do século cinco, esses povos, que haviam se estabelecido no território romano, começaram a fundar reinos. Um desses reinos foi o dos francos, de origem germânica, fundado na região correspondente à de uma parte da França atual. Diferentemente de reinos vizinhos, o dos francos teve longa duração, tornando-se muito poderoso.
Reinos germânicos – séculos cinco- seis
FONTE: HILGEMANN, W.; KINDER, H. Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página 112.
Se liga no espaço!
Responda no caderno.
No mapa estão representados reinos germânicos. Qual é a diferença entre a organização espacial desse mapa e o da página 173, que representa um período em que ainda existia o Império Romano do Ocidente?
Dica
LIVRO
Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, de . São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2020. Rosalind Quérven
O livro narra acontecimentos em diversas fases da vida do rei Artur, figura mítica inglesa que teria vivido no início da Idade Média. Artur é associado à imagem de um guerreiro que luta contra a invasão dos saxões à Grã-Bretanha.
O Reino Franco
Ao longo de sua história, o Reino Franco foi dominado por duas dinastias – a dos merovíngios e a dos carolíngios. Essas dinastias foram muito importantes para a expansão do cristianismo entre os povos germânicos.
Os francos se aproximaram bastante da Igreja a partir do reinado de Clóvis, da dinastia merovíngia, que governou entre 496 e 511. No primeiro ano de seu reinado, Clóvis unificou as várias tribos francas. Além disso, ele se converteu ao cristianismo. Esse gesto foi muito significativo, pois reforçou a união dos francos com base em uma religião e fortaleceu a autoridade do rei com o apoio da Igreja.
Imagens em contexto!
Clóvis está representado ao centro da imagem, na pia batismal. À esquerda, estão os bispos da Igreja, que o abençoam, e, à direita, os nobres francos, que lhe entregam a coroa.
Na prática, os reis dessa dinastia tiveram pouco poder, pois quem governava de fato eram os chamados mordomos do paço, funcionários indicados pelo rei para administrar o reino e organizar a defesa.
Um dos mais importantes mordomos foi Carlos Martel, que liderou o exército franco contra os muçulmanos na Batalha de Poitiers, em 732. A vitória dos francos barrou o avanço muçulmano na Europa e deu enorme prestígio a Carlos Martel e sua família.
Depois disso, a influência dos mordomos cresceu tanto que Pepino, o Breve, filho de Carlos Martel, depôs o último rei merovíngio e assumiu o trono em 751, iniciando uma nova e poderosa dinastia: a carolíngia.
O Império Carolíngio
As relações do Reino Franco com a Igreja se tornaram mais fortes quando o papa Estevão dois pediu auxílio militar a Pepino, o Breve, para enfrentar os lombardos na Itália.
Após derrotá-los, Pepino doou à Igreja um grande território na região central da Península Itálica, que deu origem aos Estados Pontifíciosglossário . Em contrapartida, o sumo pontíficeglossário reconheceu a legitimidade de Pepino como rei dos francos. Pepino morreu em 768, quando foi sucedido por seu filho Carlos Magno.
Durante o reinado de Carlos Magno, os francos conseguiram expandir consideravelmente suas fronteiras. Como seus antecessores, ele agiu protegendo as áreas da Igreja e levando a fé cristã aos territórios conquistados.
No ano 800, Carlos Magno foi coroado em Roma pelo papa Leão terceiro, consolidando a relação entre a monarquia franca e a Igreja.
Com a coroação, Carlos Magno recebeu o título de imperador romano do Ocidente. A cerimônia foi conduzida pelo papa Leão terceiro, em Roma, simbolizando a autoridade da Igreja até mesmo sobre os reis. Entendia-se, assim, que o poder do rei partia de Deus, cabendo à Igreja legitimar o governo dos monarcas.
A Igreja pretendia restaurar o antigo Império Romano do Ocidente para garantir a influência sobre grandes territórios que havia adquirido no século terceiro, quando o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma.
Como imperador do Ocidente, Carlos Magno tornou-se mais poderoso e incorporou o papel de defensor da cristandade latinaglossário .
O Império Carolíngio – séculos oito- nove
FONTE: DUBY, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 87.
Renascimento Carolíngio
Durante o reinado de Carlos Magno, o território franco aumentou muito, a produção agrícola cresceu e o comércio ganhou impulso. Além disso, ele promoveu o desenvolvimento artístico e cultural do império. Para isso, procurou recuperar elementos da cultura greco-romana. O período em que houve essa renovação cultural ficou conhecido como Renascimento Carolíngio.
No dia a dia, o idioma falado no império era o franco, mas o estudo da língua latina, realizado apenas em comunidades religiosas e de estudiosos, foi encorajado e a escrita em latim, valorizada.
Também houve o desenvolvimento de um tipo de caligrafia: a cursiva minúscula. A escrita dessa caligrafia era mais prática e mais fácil de ler do que as usadas antes na Europa. Isso facilitou a leitura e favoreceu a preservação de muitas obras clássicas, que puderam ser copiadas de maneira mais eficiente.
Copiadas? Exatamente. Muitas obras da chamada Antiguidade clássica foram preservadas no período medieval graças à atuação dos monges copistas. A maioria dos textos era escrita em pergaminhos feitos com peles de animais, o que tornava os livros raros e caros.
Imagens em contexto!
Os monges copistas trabalhavam no Iscriptórium, lugar do mosteiro destinado à produção de manuscritos. Os primeiros mosteiros formaram-se no século cinco, no processo de institucionalização da Igreja Católica. Os monges viviam em isolamento e era comum que fizessem voto de pobreza e obedecessem a regras voltadas ao trabalho e à devoção religiosos. Os monges que atuaram como copistas contribuíram para a preservação de obras clássicas importantes no processo do Renascimento Carolíngio.
No campo da justiça, Carlos Magno estabeleceu leis válidas em todo o império para resolver questões relacionadas a crimes, impostos, administração pública, direitos de herança etcétera Além disso, adotou medidas unificadoras, como a criação de moedas.
Após sua morte, em 814, seus descendentes entraram em disputa pelo trono e, em 843, acabaram assinando o Tratado de Vêrdun, por meio do qual dividiram o império em três domínios.
Nesse período, intensificaram-se as invasões de povos não cristãos aos territórios da cristandade latina, que ficaram fragilizados por causa das divisões.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Cite duas importantes transformações que ocorreram no período chamado Antiguidade tardia.
- O que significou a aproximação entre o Reino Franco e a Igreja?
- Quais foram as consequências do Tratado de Vêrdun?
Vamos pensar juntos?
Leia a tirinha a seguir.
Como você leu na abertura deste capítulo, Agás é um personagem viking. Originários da Escandinávia, os vikings formaram um dos povos que invadiram os territórios da cristandade latina. Na tirinha, Hagar explica a seu filho Rãmlet a diferença entre bárbaros e não bárbaros. Essa oposição esteve presente nas mais diferentes culturas e, embora com outros sentidos, permanece até hoje, como a fala de Agás ajuda a compreender.
Como você estudou na unidade anterior, o termo bárbaro foi criado para nomear o diferente. Para os romanos, bárbaros eram todos os que não partilhavam a cultura greco-romana e viviam fóra das fronteiras do império. Ninguém, entretanto, se autodenomina bárbaro ou nomeia seu grupo dessa maneira. A ideia de barbárie depende, portanto, do ponto de vista daquele que se considera civilizado (não bárbaro).
A respeito desse assunto, leia o texto a seguir, escrito pelo historiador romano Amiano Marcelino, que viveu no século quatro.
“O prazer que os espíritos amáveis e pacíficos encontram num passatempo instrutivo eles encontram nos perigos e na guerra. Aos seus olhos, a suprema felicidade é perder a vida no campo de batalha [...].”
ápud: Lê Gófi Jóta Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. página 27-28.
Responda no caderno.
- Explique a afirmação de Agás de que só existem dois tipos de pessoas no mundo: os não bárbaros e os bárbaros, de acordo com os bárbaros.
- De acordo com o texto de Amiano Marcelino, quais eram as características dos povos bárbaros?
- Você leu uma tirinha atual que simula um diálogo entre personagens vikings e um trecho de um texto escrito por um historiador romano do século quatro. Esses documentos baseiam-se em ideias semelhantes ou diferentes a respeito da existência de povos bárbaros? Justifique.
A formação do islamismo: a terceira religião monoteísta
O cristianismo não foi a única religião monoteísta a se desenvolver e a se expandir na bacia do Mediterrâneo durante a Antiguidade tardia. Na Península Arábica, no comêço do século sete, formou-se o islamismo (ou islã). Os seguidores dessa religião são chamados muçulmanos (termo que significa “submissos a Deus”).
Atualmente, o islamismo é a religião que mais cresce no mundo. Ela está presente em praticamente todo o planeta, inclusive no Brasil. No entanto, são divulgados muitos preconceitos e informações distorcidas sobre os muçulmanos.
Que ideias ou imagens você associa ao islamismo? Nos meios de comunicação – internet, televisão ou jornais impressos –, que notícias ou informações são transmitidas sobre o mundo islâmico?
As respostas a essas perguntas são variadas, mas geralmente envolvem as ideias de violência, fundamentalismoglossário religioso, ataques terroristas, falta de liberdade, principalmente das mulheres, e a intolerância a outras religiões.
Essas ideias, porém, não correspondem à doutrina islâmica, que condena a violência, embora grupos radicais que se denominam muçulmanos pratiquem ações extremistas. Além disso, o radicalismo religioso não é exclusividade de muçulmanos.
Estudar a história do islamismo ajuda a desconstruir esses estereótipos e a superar essa visão negativa. Ao fazer isso, você perceberá que as relações entre a Europa Ocidental e o mundo islâmico não foram sempre marcadas pela violência e pelo confronto, e que muitas invenções fundamentais para a Europa – como a prensa móvel, o papel e a pólvora – não seriam conhecidas sem os muçulmanos.
Meca pré-islâmica
A origem do islamismo está relacionada a Maomé, que nasceu em 570, na cidade de Meca, localizada na região correspondente à da atual Arábia Saudita, então dominada pela tribo dos coraixitas.
Naquela época, os povos da Península Arábica estavam organizados em tribos independentes. O que os aproximava era a língua (falavam vários dialetos do árabe) e a religião politeísta.
No século seis, a cidade de Meca era um dos centros comerciais mais importantes da península por ser uma alternativa à Rota da Seda, extensa rede de vias que conectavam, por terra e por mar, a China ao Mediterrâneo.
A cidade foi utilizada como um importante entreposto de abastecimento de água das caravanas de mercadores que vendiam produtos de diferentes locais da Ásia, da África e da Europa. Por estar em um caminho alternativo às rotas tradicionais que conectavam o Oriente ao Mediterrâneo, Meca atraiu mercadores e viajantes de diferentes regiões e culturas.
Parte de sua riqueza provinha também do fato de a cidade ter sido convertida nessa época em importante centro religioso para o qual diversos grupos árabes peregrinavam a fim de cultuar seus símbolos sagrados. Todos esses fatores foram determinantes para a formação do islamismo.
A Península Arábica – século sete
FONTE: MANTRAN, R. Expansão muçulmana: séculos sete- onze. São Paulo: Pioneira, 1977. página 57. (Série Nova Clio).
Se liga no espaço!
Responda no caderno.
Analise no mapa a posição geográfica da Península Arábica e as rotas comerciais que a atravessavam. Essa posição facilitou o processo de expansão do comércio no local? Explique.
Imagens em contexto!
A Rota da Seda era composta de vários itinerários e foi utilizada do século dois antes de Cristo a meados do século dezesseis. Através dela, caravanas transportavam uma série de produtos de luxo. Ao transitar por locais perigosos e por enormes distâncias, os mercadores que percorriam a Rota da Seda acabavam cobrando um alto valor como frete, o que tornava os produtos caríssimos.
Maomé e a fundação do islamismo
Maomé trabalhava como condutor de caravanas e viajou por vários locais do Oriente Médio, em que viviam pessoas de diferentes culturas. Em contato com comerciantes judeus e cristãos, ele conheceu as religiões monoteístas.
Aos 25 anos, sua vida mudou radicalmente quando se casou com radíja, viúva que fazia parte da elite de Meca e era dona das caravanas nas quais ele trabalhava.
De acordo com a tradição religiosa do islamismo, em 610, aos 40 anos de idade, aproximadamente, Maomé estava meditando em uma caverna quando teve uma visão. Nessa visão, o anjo Gabriel lhe anunciou uma missão: pregar a devoção a apenas um Deus. Ainda conforme a tradição, ao longo de 23 anos, Maomé teve outras visões em que o anjo lhe revelou mensagens de Deus, as quais foram posteriormente reunidas no Alcorão (do árabe Al Quran, que significa “As recitações”), livro sagrado dos muçulmanos.
radíja desempenhou papel central na divulgação da nova fé e foi a primeira a se converter ao islamismo. Ela e Maomé tiveram quatro filhos, mas só uma de suas filhas, Fátima, sobreviveu à infância. radíja e Fátima são duas das personagens femininas mais reverenciadas na história islâmica.
Para os muçulmanos, sua religião é a continuação e o aperfeiçoamento do judaísmo e do cristianismo, estabelecendo com elas semelhanças, como o culto ao mesmo Deus, e diferenças, como a inclusão da ideia de que Maomé é o último e principal profeta.
Os princípios da fé islâmica
Os muçulmanos devem cumprir cinco tarefas, que são consideradas a base da religião islâmica:
- dar testemunho de fé, declarando que existe apenas um Deus (Alá) e que Maomé é seu profeta;
- orar cinco vezes ao dia, voltando-se em direção a Meca;
- ajudar os necessitados, se tiver condições para isso;
- jejuar durante o Ramadã (nono mês do calendário muçulmano), não consumindo alimentos nem líquidos do nascer ao pôr do sol;
- peregrinar ao menos uma vez a Meca, se tiver condições para isso.
Embora não faça parte dos cinco princípios considerados fundamentais, é importante considerar também a jirrád, prevista no Alcorão. Popularmente traduzido como “guerra santa”, o termo pode ser entendido como empenho individual, para se manter longe dos vícios, e coletivo, para defender a fé de possíveis inimigos.
A Hégira
Por volta de 613, Maomé começou a anunciar a nova religião em frente ao santuário da Caabaglossário , em Meca. Isso revoltou os coraixitas, que eram os guardiões do local, principal centro da religião politeísta.
Perseguido, Maomé se refugiou com seus seguidores na cidade de Iátrib. Esse evento, ocorrido em 622, ficou conhecido como Hégira (“migração”) e marcou o ano 1 do calendário muçulmano. Com o tempo, a população de Iátrib se converteu ao islamismo, e a cidade passou a ser chamada Medina (“cidade do profeta”).
Em 630, Maomé retornou a Meca com um numeroso exército para retirá-la do domínio dos coraixitas, estabelecendo na cidade o centro da religião islâmica. Foram, então, removidos do interior da Caaba as imagens e os ídolos.
Imagens em contexto!
A Pedra Negra é um conjunto de fragmentos rochosos unidos por uma moldura de prata. Escura e polida, ela tem cêrca de 30 centímetros de diâmetro. Sua origem mineral é desconhecida, mas se supõe tratar-se de um meteorito. Foi o único objeto do politeísmo mantido pelos muçulmanos na Caaba.
Disputas e conflitos no mundo islâmico
Quando Maomé morreu, em 632, praticamente todos os habitantes da Península Arábica tinham aderido à fé islâmica. Seus seguidores iniciaram, então, o registro do Alcorão, que era usado para resolver questões religiosas e também sociais.
Imagens em contexto!
O Alcorão é organizado em 114 capítulos, chamados suratas, e contém mais de 6 mil versos, nos quais são tratadas questões religiosas, políticas, comportamentais, jurídicas e morais.
Com o tempo, porém, a população foi mudando: aumentou a quantidade de moradores das cidades e o comércio se intensificou. Assim, as regras contidas no livro sagrado do islamismo se tornaram insuficientes para resolver os problemas da sociedade. Para melhor organizar essas questões, juristas e teólogos juntaram diretrizes, histórias e ditos atribuídos a Maomé que não estavam nas revelações, formando a Suna (“caminho trilhado”). A maioria dos muçulmanos aceitou os conteúdos da Suna, sendo, por isso, chamados sunitas.
O escolhido para suceder Maomé foi abú bácr, que se tornou o primeiro califa (“sucessor”). Os partidários de Alí âban Tálib (primo de Maomé e marido de sua filha, Fátima), porém, não aceitaram essa escolha.
Alí âban Tálib posteriormente chegou ao poder e se tornou o quarto califa com o apoio desses partidários, para os quais somente os que tinham parentesco direto com Maomé poderiam liderar corretamente a população muçulmana. Esse grupo não aceitava a Suna como guia e, por isso, passou a ser conhecido como xiíta (“partido de Ali”).
A divisão entre sunitas e xiítas permaneceu desde então. Estima-se que aproximadamente 90% dos muçulmanos sejam sunitas e 10% sejam xiítas.
A expansão do islamismo
Quando os califas assumiram a direção do mundo islâmico, iniciaram um rápido processo de expansão: em menos de um século, controlaram territórios que abrangiam a Índia, todo o Oriente Médio, o norte da África e a Península Ibérica. Esse imenso espaço constituiu o Dár ál islãm (“Casa da Paz”), território em que a maioria da população era muçulmana e podia praticar sua fé sem restrições.
A expansão do islamismo era motivada pela necessidade de conquistar terras apropriadas para a agricultura e pela possibilidade de realizar trocas comerciais e culturais com habitantes de diversas regiões. Nesse processo, cidades como Bagdá, Damasco, Barca, Bugia, Córdoba e Toledo tornaram-se grandes centros de comércio e cultura.
Os povos conquistados pelos muçulmanos podiam manter sua língua, suas tradições, seus costumes e sua religião, desde que pagassem um tributo especial e realizassem seus cultos de fórma privada. Além disso, foram tolerados casamentos entre muçulmanos e integrantes de povos não islamizados. Isso demonstra que os muçulmanos eram tolerantes com culturas e religiões distintas das deles.
No século dez, o mundo muçulmano começou a se dividir por causa de disputas internas pelo poder e da dificuldade de administrar um território muito grande com apenas um centro. Formaram-se, então, califados independentes na África do Norte e na Península Ibérica.
A expansão do mundo islâmico – séculos sete- oito
FONTE: FRANCO JÚNIOR, H.; ANDRADE FILHO, R. O. Atlas: história geral. São Paulo: Scipione, 2006. página 19.
O legado muçulmano
Os muçulmanos constituíram um império que ligava a Europa, a África e a Ásia por movimentadas rotas comerciais. Foi graças ao intenso trânsito de conhecimentos nos domínios muçulmanos que chegou à Europa uma série de inovações, como as técnicas para plantar algodão, amora, cana-de-açúcar, arroz, limão e laranja, entre outros vegetais, e os sistemas de irrigação empregados na região de Valência, que hoje fica no território da Espanha. Os muçulmanos também levaram para a Europa o conhecimento sobre técnicas de construção, como a do mosaico, a da cerâmica e a do vidro.
Na arte, divulgaram o uso do arabesco, uma técnica de decoração baseada na pintura de figuras geométricas. Nas ciências, inovaram na matemática – com o emprego dos algarismos indo-arábicos (os que você utiliza), criados pelos hindus e modificados pelos árabes –, na astronomia, na física e na química (na época, chamada alquimia).
Imagens em contexto!
Na iluminura, é possível identificar vários instrumentos, como réguas, quadrantes e astrolábio, utilizados para medir distâncias e posições dos corpos celestes.
O islamismo também trouxe mudanças positivas às mulheres, que passaram a ter o direito de possuir propriedade, herdar bens da família e escolher a pessoa com quem iriam se casar. Caso decidissem, poderiam se divorciar e casar-se novamente com outra pessoa. Essas conquistas, entretanto, não significaram igualdade de direitos entre mulheres e homens.
Os homens continuaram a deter certos privilégios, como os de ter várias esposas, castigar uma mulher considerada desobediente e receber o dobro da herança.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Como era a situação dos povos árabes antes do islamismo?
- Como ocorreu a divisão entre sunitas e xiitas no islamismo? Cite uma diferença entre eles.
- Que mudanças o islamismo trouxe para as mulheres? Elas conquistaram os mesmos direitos que os homens? Explique.
Atividades
Responda no caderno.
Organize suas ideias
- Releia a tirinha reproduzida na abertura deste capítulo e responda: é correto chamar a Idade Média de Idade das Trevas? Justifique.
- Sobre o Império Carolíngio, considere as afirmações a seguir. Depois, identifique no caderno a alternativa correta.
- Carlos Magno foi responsável pela unificação política e pela expansão dos territórios francos na Europa.
- O apoio do papa Leão terceiro a Carlos Magno aproximou-o do imperador bizantino.
- O Renascimento Carolíngio é caracterizado pelo fortalecimento da cultura árabe muçulmana.
- A Europa cristã, fragilizada pelo declínio do Império Carolíngio no século , sofreu muitas invasões, principalmente por parte dos povos não cristãos. nove
Estão corretas apenas as afirmações:
-
- e dois.
-
- e três.
-
- e três.
-
- e quatro.
-
- , três e quatro.
- Leia as afirmações a seguir e verifique se elas são verdadeiras ou falsas. Anote a resposta no caderno.
- Clóvis combateu o cristianismo como uma fórma de centralizar o poder da dinastia merovíngia.
- A Igreja de Roma se tornou mais forte na cristandade latina ao se aproximar do Reino Franco.
- Durante o Renascimento Carolíngio, foi desenvolvido um tipo de caligrafia que facilitou a escrita e a leitura na Europa medieval.
- Após a morte de Carlos Magno, o Reino Franco se consolidou como o mais poderoso do continente europeu.
Aprofundando
4. Durante a Idade Média, nos mosteiros, os monges copiavam diversos tipos de livro com tratados de gramática e textos bíblicos. Esse trabalho foi muito valorizado durante a dinastia carolíngia. O texto a seguir trata desse assunto. Leia-o e depois faça o que se pede.
“ reticências foram conservadas algumas obras literárias clássicas (por exemplo, de César, Tito Lívio e Virgílio) que, do contrário, hoje estariam perdidas. Cada mosteiro, preocupado em ter um exemplar de determinadas obras consideradas básicas, mantinha copistas para que, apesar de lenta e custosamente, fosse formada sua biblioteca. Quase toda igreja de importância média tinha uns 200 ou 300 livros
reticências. Formaram-se dessa maneira diversos reservatórios de cultura intelectual, nos quais os séculos seguintes iriam frequentemente beber.”
FRANCO JÚNIOR, H. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001. página 145-146.
- Como eram formadas as bibliotecas dos mosteiros?
- Qual era o tamanho médio delas?
- Explique, com base na leitura do texto, a importância dos monges copistas para a cultura intelectual.
5. Leia o texto a seguir e depois faça o que se pede.
“O modo como o mundo islâmico é estereotipado pela mídia leva ao julgamento e à condenação dos muçulmanos sem que seja necessária a apresentação de argumentos consistentesglossário . Um exemplo disso é o uso do conceito de fundamentalismo como sinônimo do islã. Ainda que existam movimentos fundamentalistas nas outras religiões monoteístas, a mídia associa essa palavra quase que exclusivamente aos muçulmanos . reticências
O mundo islâmico, como retratado pela mídia, tem ódio e ressentimento em relação ao Ocidente, e a violência é uma de suas principais características. reticências”
RIBEIRO, E. M. O Oriente Médio e o islã sob o viés da mídia. Monografia (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. página 46-48.
- Segundo a autora do texto, qual é a imagem do islamismo apresentada na mídia ocidental? Justifique com trechos do texto.
- Como você estudou neste livro, o cristianismo e o islamismo tornaram-se conhecidos em regiões muito distantes dos locais onde foram formados. Nesta atividade, você ampliará seu conhecimento sobre essas religiões. Para isso, reúna-se com um colega e, com base no que vocês aprenderam, façam uma pesquisa a respeito dessas duas religiões e produzam um quadro comparativo entre o processo de expansão do cristianismo e o do islamismo. Para isso, atentem às instruções a seguir.
- Dividam o trabalho de pesquisa em tarefas menores:
- localizem, no capítulo anterior e neste, os trechos que abordam o cristianismo e o islamismo;
- montem um quadro com duas colunas – uma destinada ao cristianismo e outra ao islamismo – e duas linhas.
- Procurem nos trechos selecionados o nome do principal líder e o período e o modo como cada religião se expandiu.
- Preencham as duas linhas do quadro correspondentes a cada religião com as informações que encontraram.
- Com base no quadro, elaborem um manual de instruções que possa ser utilizado por qualquer pessoa que queira comparar religiões diferentes.
- Comparem o trabalho de vocês com os dos outros grupos e, se necessário, procurem melhorar as instruções que elaboraram.
- Dividam o trabalho de pesquisa em tarefas menores:
Glossário
- Abrupto
- : algo que ocorre de fórma rápida e inesperada.
- Voltar para o texto
- Estagnação
- : paralisação; falta de movimento, de atividade.
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- Estados Pontifícios
- : territórios que estiveram sob autoridade direta da Igreja de 756 a 1870.
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- Sumo pontífice
- : chefe supremo da Igreja Católica; o papa.
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- Cristandade latina
- : conjunto das comunidades cristãs liderado pelo papa, em Roma, e pelos carolíngios, no Reino Franco.
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- Fundamentalismo
- : associação a ideias inflexíveis sobre determinados temas, sobretudo relacionados à religião.
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- Caaba
- : santuário de estrutura cúbica feito de granito em cujo interior é guardada a Pedra Negra, na cidade de Meca.
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- Consistente
- : que possui uma boa explicação lógica, uma crítica válida.
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