CAPÍTULO 11 EUROPA MEDIEVAL E ÁFRICA: CIRCULAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO
Você reconhece os alimentos retratados nesta página? O prato de uma das fotos está presente na mesa dos moradores de algumas regiões brasileiras: é o cuscuz marroquino. Os frutos da outra foto são obis (nozes-de-cola). Eles são usados para fazer refrigerantes. Tanto o cuscuz marroquino quanto o obi são de origem africana e se espalharam pela Europa e pela Ásia a partir do século . três
Responda oralmente.
- De que fórma o cuscuz marroquino e o obi chegaram aos continentes europeu e asiático?
- Como a história dos alimentos pode contribuir para a compreensão da relação entre pessoas de diferentes sociedades?
O cristianismo na Europa medieval
Ao longo da Idade Média, a religião cristã e a Igreja Católica tinham muita influência sobre a vida cotidiana, social, econômica e cultural das pessoas. Por causa dessa importância da religião, pode-se dizer que a sociedade medieval europeia apresentava um caráter teocêntricoglossário .
Os sacerdotes católicos eram uma das principais fontes de conhecimento durante boa parte do período medieval. Nos sermões realizados nas paróquias, os fiéis recebiam conforto espiritual, notícias sobre os acontecimentos, além de explicações sobre o mundo em que viviam.
Entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, a Igreja Católica tornou-se uma das mais importantes instituições europeias, e o cristianismo já havia atingido praticamente todo o planeta.
Imagens em contexto!
Há aproximadamente 1,3 bilhão de católicos em todo o mundo. Para preservar sua doutrina e seus rituais, como missas e outras cerimônias, a Igreja Católica Romana mantém uma estrutura organizada nos cinco continentes onde atua.
O Cisma do Oriente
No Oriente, após o fim do reinado de Justiniano, em 565, o Império Bizantino abandonou a ideia de recuperar territórios ocidentais, e Constantinopla foi aos poucos se distanciando de Roma.
A separação entre as duas cidades foi ampliada pelas pressões persas, muçulmanas e eslavas nas fronteiras do Império Bizantino. Com isso, as comunidades cristãs da Europa Ocidental e do Oriente adquiriram características próprias.
As tensões entre os dois grandes centros do cristianismo atingiram o ponto máximo no século onze. Em Constantinopla, os bizantinos não gostavam da ideia de o papa se considerar dirigente de toda a cristandade e, ainda, coroar imperadores. Por sua vez, Roma criticava a intervenção dos imperadores e patriarcas bizantinos em assuntos religiosos. Juntaram-se a isso os desentendimentos em relação às diferentes maneiras de praticar e compreender o cristianismo, com acusações mútuas de heresia.
Em 1054, Roma e Constantinopla se separaram definitivamente. Esse fato ficou conhecido como Cismaglossário do Oriente. Como resultado, formaram-se duas igrejas: a Igreja Católica Apostólica Romana, com séde em Roma e liderada pelo papa, e a Igreja Ortodoxa, sediada em Constantinopla, comandada pelo patriarca da cidade (chefe espiritual da Igreja Ortodoxa). Com essa divisão, a área de influência da Igreja Católica passou a ser a Europa Ocidental. A Igreja Ortodoxa, por sua vez, passou a ser a religião dominante em regiões do território correspondente ao do atual Leste Europeu, fragmentando-se em vários patriarcadosglossário independentes.
Imagens em contexto!
A construção no centro da imagem chama-se Edícula. Os cristãos acreditam que o corpo de Jesus Cristo foi sepultado nesse local.
A sociedade medieval: a regionalização da Europa
Como você estudou no capítulo 10, com a assinatura do Tratado de Vêrdun em 843, o Império Carolíngio foi dividido em três domínios. Nesse período, houve uma onda de invasões de povos de outras regiões. Assim, aumentou a divisão dos territórios na Europa Ocidental.
O rei (ou imperador) continuava a existir, mas ele tinha cada vez menos autoridade sobre seus domínios. Os títulos de nobreza, como os de duque, conde e marquês, passaram a ser hereditários. Os donos desses títulos governavam territórios – chamados ducados, condados, marcas etcétera – de diversos tamanhos e tornaram-se cada vez mais independentes dos monarcas. Esses nobres e os membros do alto clero, em geral proprietários de muitas terras, exerciam autoridade sobre tudo e todos que estivessem em seus domínios.
Somaram-se a esse processo as invasões de vikings, muçulmanos e magiares (ou húngaros), nos séculos nove e dez. A população da Europa Ocidental, com medo dos invasores, procurou abrigo nos territórios desses grandes senhores. Como resultado, os centros urbanos foram se esvaziando, o que intensificou o processo de ruralização que vinha ocorrendo desde o século três.
Além disso, aumentou a dependência pessoal entre os que procuravam proteção e os que podiam oferecê-la. Essas relações de servidão, como eram chamadas, desenvolveram-se ao longo do período medieval. Eram realizados também pactos entre os integrantes da nobreza. Esses vínculos estruturaram boa parte das relações sociais e políticas da sociedade medieval.
FONTE: médonald, F. O Viking Côdequis. Brighton: Salária, 2008.
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Os vikings partiam da Escandinávia em expedições marítimas com várias embarcações. Ao chegar à Europa Ocidental, eles atacavam e saqueavam cidades costeiras ou avançavam pelo interior dos territórios pelos rios. Cidades como Londres e Paris foram saqueadas por eles diversas vezes. Além disso, eles ocuparam a Groenlândia e, de lá, alcançaram o território correspondente ao do atual Canadá, sendo os primeiros europeus a formar colônias na América.
As relações feudais
Feudo é provavelmente uma das palavras mais comuns associadas à Idade Média. Dela derivam conceitos como o de feudalismo, o de senhores feudais e o de relações feudais de vassalagem.
No latim utilizado na Idade Média, Fêudum designava um benefício que um proprietário (nobre ou clérigo) entregava a alguém de posição inferior. Esse benefício podia ser de vários tipos, mas geralmente era uma propriedade de terras ou uma renda extraída delas. O doador do benefício (ou feudo) era chamado suserano (ou, simplesmente, senhor) e o recebedor era denominado vassalo.
Essas relações só ocorriam entre pessoas que pertenciam à nobreza e ao clero. As camadas populares, portanto, estavam excluídas dos acordos de suserania e vassalagem.
A doação do feudo era vantajosa para os dois lados. O suserano fornecia o feudo e se comprometia a proteger o vassalo. Prometia também cuidar da família do vassalo quando este morresse. Em troca, o vassalo devia fazer um juramento conhecido como homenagem, no qual oferecia lealdade e obediência ao suserano. Entre suas obrigações estavam a de fornecer auxílio militar ao suserano, a de contribuir com o dote das filhas e com a armaçãoglossário dos filhos do senhor e a de hospedá-lo quando necessário.
O monarca era geralmente considerado o senhor mais importante, porque possuía mais domínios. Abaixo dele se situavam os duques, condes e marqueses, que também podiam conceder feudos e se tornar suseranos de nobres menos poderosos, como os barões. Os cavaleiros ficavam na base desse sistema.
A propriedade da terra era fundamental para o estabelecimento das relações de poder. Logo, quanto mais terras um nobre possuísse, mais vassalos ele teria e maior seria sua influência.
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A imagem da página representa uma cerimônia de vassalagem, que seguia um ritual composto basicamente de três etapas. Na primeira (a homenagem), o aspirante a vassalo se ajoelhava diante do senhor e ambos entrelaçavam as mãos. Isso significava que daquele momento em diante o vassalo respeitaria a liderança do suserano e lhe seria fiel. Na etapa seguinte, geralmente diante de um padre, o vassalo fazia o juramento de fidelidade, colocando suas mãos sobre uma Bíblia ou outro objeto sagrado. Era comum vassalo e senhor selarem o acordo com um beijo. Por fim, ocorria a investidura, parte do ritual em que o senhor concedia o benefício (ou feudo) ao vassalo.
Os cavaleiros
A obediência e a fidelidade que ligavam os vassalos a seus suseranos não os vinculavam, necessariamente, ao rei. Por isso, o poder político do monarca foi se diluindo com o fortalecimento dos laços de suserania e vassalagem.
Nesse universo, os nobres compartilhavam certos comportamentos e convenções ligados à atividade militar, principal característica da camada social a que pertenciam. Ao combater nas guerras, eles conquistavam fama, terras e riquezas, além de bens valiosos, como cavalos e armamentos.
Assim, os cavaleiros tornaram-se um grupo privilegiado, e a Igreja estava interessada em controlá-los. Para isso, passou a valorizar princípios como o da honra do cavaleiro e o da defesa da Igreja e do cristianismo. Nos séculos doze e treze, começou a ser divulgada a ideia do cavaleiro como um indivíduo nobre e honrado, que seria representado na literatura por personagens como Lãncelót, um dos Cavaleiros da Távola Redonda na lenda do rei Artur, e Tristão, da história Tristão e Isolda.
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Na literatura da Idade Média, a mulher inacessível e o comportamento do cavaleiro representam o ideal amoroso medieval, conhecido como amor cortês.
Esse relacionamento amoroso encontra correspondência, segundo estudiosos, no vínculo entre o vassalo e seu senhor, no qual imperam a fidelidade, a distância e a submissão.
O senhorio medieval
Nas propriedades de terra, em geral, havia um castelo fortificado, onde moravam o senhor e sua família. Próximo ao castelo, ficavam as aldeias e vilas onde habitavam os vilões e servos. Nesses locais, as casas eram modestas, geralmente feitas de madeira, palha e barro.
Servos e vilões não eram nobres. Eles formavam a maior parte da população europeia. Os servos constituíam a principal fórma de mão de obra, sendo responsáveis por praticamente tudo o que era produzido nos domínios de um senhor. Entre eles havia artesãos, pedreiros, carpinteiros e padeiros, mas a maior parte trabalhava na agricultura, principal atividade econômica. Os vilões eram camponeses que tinham mais liberdade que os servos. Geralmente, possuíam pequenos lotes de terra.
De modo geral, as terras de um senhor eram divididas em três partes. Uma delas era o manso senhorial, em que a produção era destinada ao senhor e a seus dependentes. Outra era o manso servil, que compreendia as terras arrendadas aos servos, os quais podiam trabalhar e produzir nelas em troca do pagamento de impostos e outras obrigações. Havia, também, áreas coletivas, como os bosques, as florestas e os campos, nos quais os servos podiam coletar matérias-primas e alimentar seus animais, por exemplo. Essas áreas eram chamadas mansos comunais.
FONTE: Luí à Pômiê M Les châteaux forts. Paris: Hachette, 2000. página 18-19.
Os servos
As obrigações dos servos variavam de acordo com as tradições e os costumes locais. As mais comuns, porém, eram a corveia, a talha e as banalidades. A corveia era a obrigatoriedade de trabalhar no manso senhorial em determinados dias da semana. Os servos não ficavam com o que produziam nesses dias. A talha era a parte da produção do manso servil que os servos eram obrigados a entregar ao senhor. As banalidades eram todos os outros impostos que os servos deviam ao senhor, entre os quais o pagamento pela utilização de equipamentos do feudo (como fornos e moinhos) e a prestação de serviços de manutenção (no castelo, nas muralhas e nas lavouras senhoriais).
As divisões sociais na Europa medieval foram muitas vezes explicadas por pessoas ligadas à Igreja. De acordo com a visão dessas pessoas, os nobres eram guerreiros que protegiam com suas armas aqueles que não podiam se defender. O clero, com suas orações, era responsável pela salvação das almas. Já os servos, com seu trabalho, sustentavam todos os demais.
Os integrantes do clero defendiam a ideia de que essa visão tradicional da sociedade medieval, dividida em três ordens ou estamentos sociais, tinha origem divina. De acordo com esses religiosos, cada um tinha uma função social no mundo. Caso as pessoas não realizassem suas funções, toda a sociedade desmoronaria. Para o perfeito funcionamento desse sistema, cada grupo deveria aceitar sua posição e suas tarefas, pois essa era a vontade de Deus.
As mulheres
Assim como na Antiguidade, no período medieval as mulheres não participavam dos assuntos públicos e, em geral, não saíam de casa. Esse posicionamento era embasado em argumentos religiosos.
Eva, considerada pelos cristãos a primeira mulher, foi responsabilizada pelo pecado original e por ter sido, com Adão, expulsa do paraíso. Essa visão negativa recaiu sobre todas as mulheres.
A imagem da Virgem Maria, por sua vez, foi utilizada como exemplo de santidade, maternidade e devoção a Deus. Se o comportamento de Eva era considerado “natural” para as mulheres, o de Maria era o ideal, apesar de ser inatingível, pois ela era a mãe de Jesus.
Esses dois modelos, entre o pecado e a santidade, faziam parte da mentalidade medieval sobre as mulheres. Eles se baseavam em uma noção simplificadora, assim como as ideias sobre as divisões sociais na Idade Média.
Muitas mulheres que viveram naquele período exerceram funções que não correspondiam necessariamente a esses modelos. Várias delas tornaram-se abadessasglossário , regentesglossário ou gerentes de entidades de caridade. Centenas foram consideradas santas por suas ações comunitárias e por colaborar para a expansão da fé cristã.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Por que a Igreja se tornou a principal instituição da Europa Ocidental durante a Idade Média?
- Explique o processo de ruralização que ocorreu na sociedade medieval.
- Quais eram as obrigações dos servos em relação a seus senhores?
- Descreva a mentalidade medieval sobre as mulheres.
A África entre os séculos cinco e catorze
Entre os séculos cinco e catorze, havia na África diversas etnias, culturas e organizações políticas. Diferentemente da Europa Ocidental, o continente não passou por um período denominado Idade Média. O termo África medieval, portanto, não é adequado para explicar as especificidades das sociedades que lá se formaram. Nesse período, contudo, ocorreram aproximações entre reinos da África e o Ocidente por meio de rotas comerciais e de disputas religiosas.
Os reinos do Sael
Sael é o nome de uma região semiárida de transição entre o Deserto do Saara e as savanas úmidas, no continente africano. Nessa região, viviam diversos povos.
Com base em escavações arqueológicas, acredita-se que existiram rotas comerciais no Sael desde o século três. As principais atividades econômicas da área eram a extração de ouro e cobre, a produção de cereais e o comércio de artigos muito valorizados no Oriente, como a noz-de-cola e o marfim.
As rotas comerciais eram controladas por grupos nômades africanos, denominados berberes. Eles percorriam todo o norte da África em caravanas realizando o comércio. No século sete, os berberes adotaram o islamismo e passaram a divulgar sua fé para pessoas de outras etnias.
Com o tempo, os povos do Sael que se converteram ao islamismo se uniram. Passaram, então, a ser liderados pelo Reino de Gana, localizado no noroeste da África e chefiado por clãs glossário de origem berbere. Esse processo, porém, foi lento. Apenas no século , Gana se tornou um império africano. dez
Reinos do Sael e rotas transaarianas – séculos dez- dezesseis
FONTES: Galimár. L’Atlas Gallimard Jeunesse. Paris: Gallimard Jeunesse, 2002. página 122; Niãne, D. T. ( edição). África do século doze ao dezesseis. 3. edição São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2010. volume 4, página173. (Coleção História geral da África).
O Império de Gana
A maior parte do conhecimento que se tem a respeito do Império de Gana foi obtida por meio de escavações arqueológicas, das tradições orais locais e de manuscritos produzidos depois que o território foi islamizado, a partir do século dez.
Supõe-se que, no período anterior à islamização de Gana, tenha existido um imperador que era ao mesmo tempo líder político e chefe religioso. Entre suas funções políticas estavam a de manter a unificação do império e a de administrar as finanças do Estado.
Grande parte da riqueza desse império era obtida por meio do contrôle da produção e da comercialização do ouro e dos impostos cobrados dos mercadores.
Passavam pelo território desse império as principais rotas de travessia do Deserto do Saara. A região era, portanto, visitada por muitos mercadores e suas caravanas de camelos. Eles compravam pedras preciosas, metais e escravizados. Também eram vendidos em Gana porcelanas e tapetes, entre outras mercadorias.
Como o império era composto de vários povos, com diferentes costumes, havia liberdade religiosa e cultural. De acordo com as fontes históricas, havia em Gana cidades como Cumbí Salé, capital política do império, com cêrca de 20 mil habitantes.
Imagens em contexto!
A imagem do século treze, mostra um mercado de pessoas escravizadas. A escravidão, é importante apontar, não tinha motivos raciais. A maior parte dos escravizados em Gana era formada por prisioneiros de guerra. A outra imagem mostra uma caravana destinada ao turismo atualmente. Entre os séculos onze e quinze, o comércio realizado por meio de caravanas era intenso. Eram transportadas pessoas para serem escravizadas, sal, ouro e outros metais, cavalos, frutas secas, noz-de-cola e tecidos.
Por causa das disputas pelo contrôle comercial da região, Gana tinha rivais. Um deles era o Império de Tacrúsr. Em 1030, quando seu governante se converteu ao islamismo, esse império se fortaleceu por contar com o apoio dos berberes. O fortalecimento do Império de Tacrúsr foi um dos fatores responsáveis pelo declínio do império ganês.
Outro fator está relacionado à expansão almorávida sobre a região. Em 1042, o líder marroquino Abdalá âban iássim organizou um exército de 30 mil homens, que invadiram e conquistaram o Império de Gana.
âban iássim fundou um movimento denominado almorávida, com o objetivo de dominar territórios e expandir o islamismo. Ele conquistou muitos grupos berberes e de outras etnias, fundando, em 1040, o Império Almorávida, que durou até 1147.
O Império Almorávida ultrapassou os limites do continente africano e conquistou parte do sul da Europa, incluindo regiões da Espanha. As trocas comerciais e culturais tornaram-se intensas em todo o império. Conhecimentos matemáticos, militares, médicos e literários circulavam nesse território.
Imagens em contexto!
A imagem mostra um local de culto islâmico em Gana. Antigamente, a cidade de Cumbí Salé, localizada no território correspondente ao da atual Mauritânia, era dividida em duas áreas distantes 10 quilômetros uma da outra. Uma delas foi habitada por muçulmanos desde o século dez e abrigava 12 mesquitas. A outra permaneceu por mais tempo dominada pelo rei de Gana, com cultura e religiosidade ligadas à tradição pré-islâmica.
A diversidade de práticas religiosas
Quando o islamismo se expandiu pelas rotas de comércio que ligavam todo o continente, os vários povos locais adotavam diversas religiões, denominadas ancestrais.
Na maioria delas, as pessoas não acreditavam em um ser supremo, criador do mundo e dos seres humanos, como os muçulmanos e cristãos. Os seguidores dessas religiões acreditavam em entidades criadoras do universo, que teriam precedido qualquer ser supremo. Para eles, todas as coisas no mundo continham a essência do divino.
Nessas religiões, as explicações sobre a origem do universo e da humanidade eram bastante variadas e, geralmente, passadas de geração em geração por meio de histórias contadas oralmente. O contato dessas práticas ancestrais com as religiões monoteístas resultou em crenças ainda mais heterogêneas.
Há relatos da presença do judaísmo na África desde o século cinco antes de Cristo Essa religião estava concentrada nos territórios hoje conhecidos como Líbia, Egito e Etiópia e nos territórios cuxitas, na região da Núbia. Havia também comunidades cristãs na Núbia, no Reino de Axum e na Etiópia. Posteriormente, muitas dessas comunidades se tornaram muçulmanas.
Dica
LIVRO
Griot: histórias que ouvimos da África, de Júlio Emílio Braz. São Paulo: Melhoramentos, 2017.
O romance narra a história de uma guerra religiosa fictícia entre muçulmanos e cristãos em Kaduna, na Nigéria. A história se desenrola com base no personagem Ubuntu, um griot muçulmano que trabalha como motorista de táxi. Griots são os contadores de história que transmitem oralmente, de geração em geração, as tradições de seus povos.
Havia várias fórmas de islamismo na África. Além disso, o islamismo se fundiu com as práticas religiosas ancestrais, como as dos mandingas.
Nesse cenário, a parte islamizada da África, com suas múltiplas rotas comerciais, abria-se para outros continentes, fazendo contatos com a Europa e a Ásia. A costa oriental, por exemplo, recebia árabes e persas, que levavam os produtos africanos à Indonésia! O mundo daquelas pessoas separadas por terras e mares conectava-se.
África: religiões – 750-1450
FONTE: ôu bráien pí quêi ( edição). Atlas of world history: concise edition. London: Octopus Publishing Group, 2005. página 42.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Qual é a importância de refletir sobre o termo Idade Média para compreender a África entre os séculos três e catorze?
- Quais eram os principais recursos econômicos do Império de Gana?
- Qual foi a importância das rotas comerciais para a difusão de diferentes práticas culturais?
Versões em diálogo
Segundo fontes orais e escritas, Sundiata Keita foi o responsável pela construção de um governo exemplar no Império do Mali. Na condição de mansa, ou seja, de soberano, ele fez uma administração sensataglossário , estabelecendo o cumprimento de leis em todo o território e criando o primeiro exército profissional do continente africano.
Ainda segundo essas fontes, em sua investidura, realizada na cidade de Cãngabá, em 1236, ele e outros chefes de clãs do Mali escreveram a Carta de Mandê ou de Curucãn Fúga. Nesse documento, foram estabelecidas 44 leis e normas, que forneceram a base legal para todo o império.
Para o historiador Djíbril Tãmsír Niãne, o documento determinava o respeito à vida e à dignidade humanas, aos direitos humanos e às mulheres e a busca de soluções para a resolução de conflitos.
De acordo com os historiadores Neri Braz Lopes e José Rivair Macedo, o documento, por seu alcance e significado:
“ reticências tem suscitado grande discussão acadêmica e alimenta uma controvérsia entre especialistas africanos e não africanos, alguns deles julgando tratar-se de uma ‘invenção historiográfica’. Sua autenticidade foi amplamente debatida num congresso em Bamacôno ano de 2004. reticências”.
LOPES, N. B.; MACEDO, J. R. Dicionário de história da África: séculos sete a dezesseis. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. E-book.
Apesar da polêmica, em 2009, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura ( unêsco) reconheceu a Carta de Mandê como parte do patrimônio imaterial da humanidade por ser a base dos valores e das tradições das populações envolvidas e por defender:
“ reticências a paz social na diversidade, a inviolabilidade do ser humano, a educação das pessoas, a integridade da pátria, a segurança alimentar, a abolição da escravatura pela razão e a liberdade de expressão e comércio”.
UNESCO. La Carta del Mandén, proclamada en Kurukan Fuga. Patrimonio Cultural Inmaterial. Disponível em: https://oeds.link/OXapuQ. Acesso em: 26 janeiro 2022. Tradução e adaptação nossas.
As versões sobre a existência ou não do documento e seu posterior reconhecimento pela unêsco indicam a centralidade dos temas e debates propostos na Carta de Mandê. No mundo contemporâneo, o respeito à diversidade e o direito à educação, à vida e à liberdade devem ser defendidos universalmente.
Imagens em contexto!
A Carta de Mandê foi transmitida pela tradição oral das populações da região do Mali. Muitas versões escritas dessa carta foram publicadas. Ela é composta de um preâmbulo e sete capítulos.
Responda no caderno.
- Como o líder Sundiáta Quêita foi descrito nas fontes históricas sobre o Império do Mali?
- Explique o que é a Carta de Mandê.
- Enumere os temas abordados na Carta de Mandê.
- Por que há controvérsia entre os historiadores sobre essa carta?
Atividades
Responda no caderno.
Organize suas ideias
- Descreva a relação de suserania e vassalagem.
- Sobre as práticas religiosas na África, analise as informações a seguir e verifique se elas são verdadeiras ou falsas. Anote a resposta no caderno.
- Na África havia diversas fórmas de islamismo.
- Após o contato com o islamismo e o cristianismo, as crenças religiosas em diferentes partes do continente africano se transformaram.
- As práticas religiosas se mantiveram intactas, sem se misturar com outras tradições religiosas.
- Há relatos da prática do judaísmo na África desde o século dez.
Aprofundando
3. Com base no que você estudou neste capítulo, analise o mapa para fazer as atividades a seguir.
África: comércio transaariano – século catorze
FONTE: NIANE, D. T. ( edição). História geral da África: África do século doze ao dezesseis. 3. edição São Paulo: Cortez; Brasília: unêsco, 2010. volume 4, página 173. (Coleção História geral da África).
- Relacione as áreas ocupadas por atividades comerciais às características da região do Sael.
- Explique a importância das redes comerciais para a expansão do islamismo.
4. Na imagem a seguir, é reproduzida uma parte do Atlas catalão, possivelmente produzido pelo cartógrafo Abrarrã crésques, na segunda metade do século catorze. Ele foi oferecido como presente a um monarca europeu. Analise a imagem, leia a legenda e responda às questões.
- Como o Mãnsa Musa foi representado no mapa?
- Em sua opinião, por que um monarca europeu foi presenteado com o Atlas catalão?
5. De acordo com um estudo publicado em 2017 pelo Centro de Pesquisas Pew, sediado nos Estados Unidos, o islamismo será a religião que mais crescerá nos mundo até 2060. Analise o gráfico a seguir.
Estimativa de crescimento das religiões no mundo – 2015-2060
FONTE: Lípca ême ráquêt, C. Why Muslims are the world’s fastest-growing religious group. Pew Research Center, 6 abril 2017. Disponível em: https://oeds.link/m0hmem. Acesso em: 26 janeiro 2022.
- Que informações podem ser extraídas do gráfico?
- Reúna-se com dois colegas e façam uma pesquisa sobre as razões para a projeção de amplo crescimento do islamismo. Para isso, utilizem jornais, revistas, artigos de divulgação científica e outros materiais impressos ou digitais encontrados em fontes confiáveis, conforme a orientação do professor. Registrem no caderno suas descobertas.
- Com base nessas descobertas, respondam: os motivos para o provável crescimento do islamismo no século vinte e um são os mesmos de seu crescimento entre os séculos cinco e catorze? Por quê?
Glossário
- Teocêntrico
- : que considera um deus o centro da vida das pessoas.
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- Cisma
- : divisão.
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- Patriarcado
- : nesse caso, divisões internas da Igreja Ortodoxa que podem apresentar diferenças administrativas e ritualísticas. Atualmente, há oito patriarcados: Constantinopla, Alexandria, Antioquia, Jerusalém, Rússia, Sérvia, Romênia e Bulgária.
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- Armação
- : nesse caso, valor necessário para a confecção da armadura usada pelos cavaleiros medievais.
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- Abadessa
- : chefe religiosa de um mosteiro ou abadia.
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- Regente
- : nesse caso, pessoa que dirige uma entidade de caridade.
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- Clã
- : conjunto de famílias que descendem de um ancestral comum.
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- Sensato
- : aquele que age ou pensa com cautela e equilíbrio.
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