UNIDADE 1 A HISTÓRIA E O INÍCIO DA CAMINHADA HUMANA NO PLANETA
A história e você: a importância da memória coletiva
Nesta unidade, você estudará, entre outros temas, o que é história e qual é a sua importância. Para compreender as sociedades de hoje, os historiadores estudam os modos de viver dos diversos grupos humanos em diferentes períodos. Para isso, utilizam as fontes históricas, vestígios do passado que, em muitos casos, são portadores de uma memória oficial e permitem compreender como povos e sociedades gostariam de ser lembrados. Assim, os historiadores trabalham, entre outras coisas, com a análise da construção dessas memórias.
Você já parou para pensar sobre os acontecimentos que afetaram a vida dos brasileiros? Por que alguns desses acontecimentos são relatados na história oficial ou nas comemorações cívicas e outros não?
Pense nos feriados nacionais. São celebrações que, de alguma , estão relacionadas à memória coletiva. Um personagem muito importante da história brasileira foi Zumbi, líder negro que lutou contra a escravidão. O dia 20 de novembro, data de morte dele, não é feriado nacional. A história de outro personagem é mais conhecida que a de Zumbi. Esse personagem é Tiradentes, que, durante o período colonial, lutou pela libertação da região onde vivia contra a dominação portuguesa. O dia 21 de abril, data da morte de Tiradentes, é feriado nacional. Por que Tiradentes é oficialmente lembrado pelo Estado brasileiro e Zumbi não é? fórma
O fato de Zumbi não ser lembrado pelo Estado brasileiro não impede, contudo, que sua memória seja mobilizada por diferentes grupos no presente. Ao longo do século vinte, os diferentes movimentos negros no Brasil têm reivindicado o direito de celebrar seus heróis e heroínas como parte da memória oficial da nação. Essa disputa pela história rendeu frutos: além de Zumbi, Dandara, por exemplo, figura entre as heroínas da pátria em um livro oficial que fica em Brasília ( Distrito Federal).
A fim de contribuir com esse debate, você e os colegas produzirão cartazes com propostas de criação de um feriado que celebre a história da maior parte da população brasileira. Para isso, verifiquem as etapas seguir.
Organizar
- Forme um grupo com quatro colegas.
- Pesquisem na internet ou em livros, revistas e jornais impressos personagens ou fatos marcantes da história dos negros no Brasil. Na internet, é importante buscar as informações em sites confiáveis, como os de universidades ou de institutos consolidados.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
A proposição de pesquisa em grupo sobre a valorização de memórias coletivas por muito tempo silenciadas incentiva o protagonismo e a socialização dos resultados entre os estudantes, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 1, nº 2, nº 4, nº 9 e nº 10, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 4 e nº 6 e da Competência Específica de História nº 1.
Abertura de unidade
Essa unidade abarca os capítulos 1 (“Que história é esta?”), 2 (“A história antes da escrita”) e 3 (“As primeiras cidades: Mesopotâmia e Palestina”) do volume. O tema escolhido para esse momento inicial foi a questão dos marcos de memória da história brasileira, problematizando a celebração dos feriados nacionais. A questão da memória, dos silenciamentos e da valorização seletiva de determinadas histórias será tratada no capítulo 1.
Atividade
Se considerar necessário, antes de iniciar as etapas da atividade proposta, peça aos estudantes que pesquisem quais são os feriados nacionais. É interessante mencionar a diferença entre feriado nacional, estadual, municipal e ponto facultativo. Ao comentar o texto de abertura, informe que o movimento revoltoso de que Tiradentes participou tinha abrangência regional, sendo alçado a uma dimensão nacional apenas no século vinte.
Nas aberturas de unidade são necessárias a orientação e a supervisão para a execução das etapas. Ao propor a produção da pesquisa e do cartaz, reserve uma aula para a primeira parte da atividade (“Organizar”). Essa etapa pode ser realizada, sob sua supervisão, na biblioteca da escola, familiarizando os estudantes com a pesquisa nesse local. Caso não seja possível ir à biblioteca ou usar a internet no espaço escolar, oriente-os a realizar a pesquisa como tarefa de casa. Se houver necessidade, pré-selecione algumas opções e oferte-as em sala de aula para que cada grupo escolha o tema que mais lhe interessar. Você pode apresentar aos estudantes opções como o dia da eclosão de uma revolta como a dos Malês (1835) ou a data de morte de personagens como Luís Gama (1882) e Francisco José do Nascimento (1914), conhecido como Dragão do Mar. Feita a seleção dos temas pelos grupos, se possível, reserve um tempo em sala de aula para supervisionar e revisar a produção dos textos que entrarão nos cartazes, apontando, se necessário, eventuais incoerências nas justificativas para a escolha do tema, entre outros problemas.
A produção artística do cartaz pode ser realizada como tarefa de casa, se os estudantes apresentarem condições para tanto. Se não, pode ser usada uma segunda aula para essa etapa. Adote a estratégia que melhor corresponda a sua realidade escolar. Por fim, agende uma data para a realização da exposição dos cartazes em sala de aula. Incentive os estudantes a fazer uma breve apresentação do trabalho dos grupos, explicando os procedimentos adotados, as dificuldades e as estratégias usadas na realização da tarefa, informando se ela foi significativa e se contribuiu para que pensassem sobre a questão da construção da memória.
• Apresentem aos demais colegas o resultado da pesquisa que fizeram. Depois, selecionem uma data relacionada a um personagem ou evento que possa ser comemorada como feriado. Cada grupo deve produzir um cartaz de reivindicação.
Produzir
- Produzam um texto resumido de apresentação do personagem ou evento escolhido. Depois, complementem o texto com os motivos que, na visão do grupo, justifiquem a criação de um feriado associado a esse personagem/evento.
- Revisem o que escreveram para que fique compreensível e curto. Em seguida, copiem o texto no cartaz.
- Selecionem imagens para decorar o cartaz – podem ser fotos, ilustrações ou desenhos e colagens produzidos por vocês. Lembrem-se de criar legendas para as imagens!
Compartilhar
• No dia combinado com o professor, exponham os cartazes na sala de aula. Vocês podem tirar fotos da exposição e compartilhá-las em suas redes sociais ou no site da escola, caso isso seja possível.
Imagens em contexto!
A população negra é parte fundamental da composição profissional, cultural e artística que define o que é ser brasileiro. Resgatar as histórias e memórias dessa parcela da população é algo com que historiadores, por exemplo, podem contribuir.
Respostas e comentários
Tema Contemporâneo Transversal
A atividade da abertura, por envolver a pesquisa sobre eventos e personagens da história dos negros no Brasil, valorizando essas heranças culturais, contribui para o desenvolvimento do Tema Contemporâneo Transversal Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.
Curadoria
Memoria coletiva (Livro)
Mourrice Albvaquis. 2. edição São Paulo: Centauro, 2013.
O livro do sociólogo francês, publicado originalmente em 1968, é fundamental para a compreensão do conceito de memória coletiva. A obra rompeu com a concepção, até então vigente, de que a memória era uma função meramente individual. Na obra, o sociólogo evoca o fator social e as relações entre o individual e o coletivo na produção da memória.
CAPÍTULO 1 QUE HISTÓRIA É ESTA?
De que modo estudar o passado, e mesmo o presente, pode ajudar alguém a refletir sobre o que tornou o mundo como é hoje? Para compreender isso, tente descobrir a história contada na notícia que acompanha a manchete e a imagem reproduzidas. Analise-as e, depois, responda às questões. Imagine que você é um historiador, investigando um documento histórico, e as questões são as suas pistas.
Responda oralmente.
- Qual é o tema da notícia?
- Quando ela foi publicada?
- Qual deve ter sido a origem do problema revelado na imagem? Compartilhe suas hipóteses com os colegas.
Respostas e comentários
Abertura
Pretende-se, com o texto e a imagem da abertura, despertar nos estudantes o interesse pelo sentido de um documento histórico, no caso uma notícia, e as possíveis perguntas que o historiador pode fazer sobre ele. Se possível, comente que, no final da Segunda Guerra Mundial, o plástico passou a ser utilizado em larga escala na indústria por ser um material barato, resistente e considerado moderno. De lá para cá, o consumo excessivo desse material gerou um problema de difícil solução: o plástico não desaparece com a mesma rapidez com que é produzido, restando o acúmulo de produtos feitos com esse material, que, se não são reciclados, poluem cada vez mais o planeta Terra.
Atividades
1. A imagem de abertura do capítulo é a reprodução da manchete de uma notícia publicada no site do Jornal Joca, produzido para crianças e adolescentes, cujo tema é a proibição do uso de plásticos descartáveis na Cidade do México.
2. A matéria foi publicada no dia 4 de fevereiro de 2021.
3. A ideia é levar os estudantes a refletir e apresentar hipóteses sobre o problema apresentado. Comente com eles que, ao longo do capítulo, será desenvolvida a ideia de que os valores e as fórmas de vida no presente não são naturais, ou seja, resultam das ações dos seres humanos no passado. Questione-os a respeito da presença do plástico na vida deles, para que percebam a multiplicidade de objetos produzidos com esse material. Em seguida, incentive-os a imaginar como era a vida sem plástico. Espera-se que percebam que a praticidade, o consumo desenfreado e o descarte desregulado desse material, que não se decompõe facilmente, geraram situações de poluição como a apresentada na notícia publicada no Jornal Joca.
Ampliando
No texto a seguir, o historiador Marc Blok trata do objeto da história.
“Há muito tempo, com efeito, nossos grandes precursores, Mixelê, Fustél dê culãnge, nos ensinaram a reconhecer: o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo gramatical da relatividade, convém a uma ciência da diversidade. reticências Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça.”
bloque, M. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2001. página 54.
Por que estudar história?
Você já reparou que muitas pessoas encaram o modo como vivem e o que as rodeia como se nada mudasse e tudo fosse natural?
Essa percepção contrapõe-se a algo muito importante que a história ensina: o que se vive em sociedade é resultado de decisões tomadas há milhares de anos ou poucos dias atrás.
Os seres humanos agem no mundo: constroem relacionamentos, trabalham e produzem objetos e saberes. Elaboram e compartilham leis, linguagens, afetos e uma infinidade de coisas relacionadas às suas identidades e ao tempo e ao espaço em que vivem.
Os historiadores estudam essas ações e relações humanas no decorrer do tempo para tentar entender o passado, identificando as rupturas (mudanças) e as permanências (o que se manteve) entre ele e o presente.
Um exemplo de ruptura na história do Brasil foi a imposição, no século dezoito, do português como idioma oficial. Até então, o inheêngatú era a língua mais falada na colônia portuguesa.
Um exemplo de permanência em seu dia a dia é o estudo da geometria, nas aulas de matemática. Essa ciência reúne saberes que já eram conhecidos na Grécia antiga. Saberes como esse e ações realizadas desde tempos remotos têm impacto direto no presente.
Imagens em contexto!
Após a luta de muitos grupos sociais, hoje, a legislação determina que lugar de criança é na escola e que a exploração do trabalho infantil é crime (embora continue existindo de fórma ilegal). Por meio do estudo da história, é possível entender por que foi necessário criar uma lei para proibir o trabalho de crianças.
Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.
Transcrição do áudio
[LOCUTOR 1]: O que é história? [LOCUTOR 2]: Neste áudio, Maria Luísa de Castro e Damasceno, de 11 anos, conversa um pouco sobre história com o professor doutor José Geraldo Vinci de Moraes, da Universidade de São Paulo. Vamos ouvir? [MARIA LUISA]: O historiador francês Marc Bloch iniciou o seu livro Apologia da História com a lembrança de uma pergunta feita por uma criança: "Papai, para que serve a história?". Professor José Geraldo, para que serve a história? [JOSÉ GERALDO]: Bom... Olha, o Marc Bloch escreveu um livro para responder isso... Então, não é muito simples a resposta. Quando a gente pensa nas outras matérias que você tem na escola, a história não tem muito essa perspectiva prática de que ela "serve para alguma coisa". É importante a gente entender o passado para entender como é que você chegou até aqui. Para você entender quem é você, você precisa olhar quem você foi nenê, sua mãe te contar, seus amigos na escola, seus primos, seus colegas etc. E aí você olha para trás, para aquilo que você foi e entende: "Ah, eu sou a Malu hoje!". Então, as sociedades também fazem um pouco esse exercício que a gente faz com a gente mesmo. Olha lá para trás para tentar entender como é que ela chegou naquele momento no presente. [MARIA LUISA]: Como é o trabalho do historiador e com quais documentos o historiador trabalha? [JOSÉ GERALDO]: [TOM EXPLICATIVO] Não existe um trabalho do historiador. Pensa assim: o passado humano é uma coisa muito variada, cheio de informações, cheio de vidas que estão lá atrás. Então, depende muito de como o historiador vai trabalhar e de acordo com o que ele escolhe lá atrás, nesse passado. Se o historiador está preocupado com coisas econômicas, vai trabalhar com... [MARIA LUISA]: Dinheiro. [JOSÉ GERALDO]: Com dinheiro... Com tabelas... Esse tipo de coisa. Se ele está preocupado com questões artísticas, ele vai atrás de quadros, atrás de fotografias, atrás de uma música... Entendeu? Então, depende muito do tema que o historiador vai trabalhar. A partir dessa escolha, do tema que ele escolhe e do material que ele vai trabalhar é que ele desenvolve um método. Então, não há um [único] método para o historiador.
[MARIA LUISA]: [TOM DE DÚVIDA] Então, cada historiador trabalha com uma coisa? [JOSÉ GERALDO]: É, exatamente isso. Ou vários historiadores trabalham com temas muito semelhantes e eles desenvolvem entre si, conversando, lendo o trabalho um do outro, como é que eles acham a melhor maneira de trabalhar. Entendeu? [MARIA LUISA]: Entendi. [JOSÉ GERALDO]: Então, é difícil você dizer para o historiador que há um método só para trabalhar. [MARIA LUISA]: [TOM DE DÚVIDA] Existe uma história que é verdadeira? Assim... [JOSÉ GERALDO]: É... Então, o historiador trabalha com essa ideia de que há uma verdade. É diferente do romancista que pode inventar personagens, inventar uma história... A gente trabalha com a ideia de que existe verdade e não com ficção, só que na hora que a gente vai contar essa verdade... Como o personagem histórico Dom Pedro I, ele existiu. Não é invenção de cada um. Agora, como cada um vai interpretar quem foi Dom Pedro I tem diferença, entendeu? [MARIA LUISA]: Como a tecnologia de hoje em dia pode ajudar os estudantes a compreender a história? [JOSÉ GERALDO]: Ela ajuda muito, em todos os sentidos. Hoje em dia, por exemplo, um historiador que estuda a Grécia pode ter contato com documentos que 30 ou 40 anos atrás a gente não tinha acesso, só se ele fosse para a Grécia. Hoje está lá digitalizado, ele consegue ter acesso a esses documentos que antes não tinha. Isso é uma coisa importante. Outra coisa importante é que há um volume, agora, de informação muito grande. Isso ajuda muito os historiadores, de maneira geral, a terem vários tipos de informações e em quantidade. E tem o lado ruim disso, porque você vai para a internet e tem muita coisa ruim... [MARIA LUISA]: É... Tem muitas notícias falsas. [JOSÉ GERALDO]: Tem notícia falsa... Tem coisa que não tem importância nenhuma... Então, tem que filtrar muito, tem que peneirar muito essas informações todas. [MARIA LUISA]: O que os historiadores concluem quando eles discordam? [JOSÉ GERALDO]: Acho que a melhor coisa que eles concluem é que a discordância é importante. Mais do que você querer convencer o outro, é reconhecer a discordância. A melhor conclusão é: a discordância é importante. "Eu respeito a interpretação que você tem sobre a história, entendo o que você está falando e gostaria que você entendesse aquilo que eu interpreto sobre a história". O respeito a essa diferença acho que é a melhor coisa. [MARIA LUISA]: Quem foi o primeiro historiador? [JOSÉ GERALDO]: Classicamente, um que considero como pai da história, que é um cara que se chamava Heródoto, talvez você já tenha ouvido falar... [MARIA LUISA]: É... [JOSÉ GERALDO]: Mas isso é muito discutível. Aquilo que a gente aprende, geralmente, é isso: o pai da história é o Heródoto. Então... Ele desenvolve uma maneira de pensar baseada no testemunho. Quer dizer, a pessoa que estava lá me contar – se eu fosse o Heródoto, né? – me contar como é que a coisa aconteceu. E aí de uma maneira verdadeira e não com ficção, e não de acordo com o que um deus disse, que um mito disse... Então, é por isso que ele é considerado o primeiro historiador, tá? Mas é importante saber que é difícil determinar isso. Isso foi uma convenção que se criou... [MARIA LUISA]: Então é isso! [JOSÉ GERALDO]: É isso? Então tá bom... Adorei!
Respostas e comentários
• A resposta à pergunta “Por que estudar história?” é atrelada a questões sobre o ofício do historiador. Parte-se da premissa de que nada na sociedade é natural e tudo o que se vivencia como sociedade tem história. Conhecê-la é imperativo para refletir sobre futuros possíveis mais justos.
• Nesse tópico, são apresentados dois conceitos fundamentais para o trabalho do historiador: rupturas e permanências. Os seres humanos procuram diálogos entre os tempos para compreender as características do presente.
• Apesar de crime, o trabalho infantil persiste no planeta. Para obter mais informações sobre o tema, acesse o site do Observatório da Prevenção e da Erradicação do Trabalho Infantil. Disponível em: https://oeds.link/wi48VC. Acesso em: 7 dezembro2021.
Objetivos do capítulo
• Apresentar definições relacionadas à história e ao ofício do historiador, com destaque para o trabalho com os vestígios e com as diferentes fontes históricas.
• Mostrar que os objetos de estudo da história são as ações humanas no tempo e no espaço e que há múltiplos sujeitos históricos, individuais e coletivos.
• Reconhecer o caráter circunstancial e cultural de demarcação do conhecimento e dos objetos históricos.
• Identificar a importância da história para a ação no presente.
• Apresentar as definições de tempo histórico e processo histórico como fórmas de conceituar a experiência temporal e a noção de periodização como uma convenção para organizar o tempo histórico.
• Discutir as relações entre a memória (individual e coletiva) e a história como prática de produção de saber.
Justificativa
Os objetivos selecionados para este capítulo são relevantes na medida em que sensibilizam os estudantes para a noção de que valores, estruturas, concepções e crenças presentes na sociedade não são naturais, mas sim historicamente construídos em diferentes tempos e espaços. Portanto, objetiva-se sensibilizar os estudantes com relação à importância do conhecimento histórico para a compreensão e para a ação no presente. Nesse sentido, processos como o de definir e identificar, aplicados a noções como as de tempo e de sujeito histórico, são fundamentais, pois permitem que os estudantes reconheçam a existência de diferentes fórmas de percepção e interpretação do mundo, incentivando a formação de sujeitos capazes de reconhecer as pluralidades da sociedade e atuarem nesta como protagonistas.
Você, agente histórico
Há mais de cem anos, acreditava-se que os agentes ou sujeitos históricos eram somente os poderosos, como reis e rainhas, presidentes e generais, que pareciam decidir o destino da humanidade. Hoje se entende que todos são produtores de história: homens e mulheres, adultos e idosos, jovens e crianças de qualquer camada social.
A história dos jovens, dos trabalhadores rurais, de pessoas escravizadas e dos estudantes – suas práticas, sentimentos, ações e crenças – é tão importante quanto a de conhecidos líderes, ainda que não vire notícia.
Há agentes históricos individuais (pessoas que, por conta própria, agem no mundo) e coletivos (como agremiações, partidos políticos, sindicatos, Organizações Não Governamentais – ônguis –, movimentos estudantis, igrejas e fôrças armadas), em que pessoas atuam em grupo.
É importante saber que cada sujeito é movido por interesses específicos. Além disso, é fundamental entender por que tal ação ou decisão foi tomada e quem se beneficiou dela. Isso ajuda a compreender como a história é produzida e contada.
Imagens em contexto!
Desde o século dezenove, grupos de afrodescendentes se unem para reivindicar o reconhecimento de seu direito à cidadania plena. Eles são exemplos de sujeitos históricos coletivos.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao tratar sobre os agentes históricos, as rupturas e as permanências do passado e as fontes históricas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero um e ê éfe zero seis agá ih zero dois.
• No texto desta página é desenvolvida a noção de sujeito histórico, destacando o fato de que a história plural rompe com a valorização do homem branco, ligado ao mundo da política ou da religiosidade como único agente da história. Espera-se que os estudantes também se percebam como sujeitos históricos e, assim, atuantes no mundo.
• Sobre o tema dos interesses dos diferentes agentes históricos em disputa, pode-se citar a seguinte pergunta, utilizada pelos antigos romanos: “Cui bono?” – “Quem se beneficia?”. Converse com os estudantes sobre o fato de que, quando refletirem a respeito do papel de determinado agente histórico, devem sempre questionar: “Quem está se beneficiando com essa atitude?”; “Por que essas decisões e ações estão sendo tomadas?”. Isso ajuda a compreender o cenário em análise de fórma mais ampla.
Curadoria
Novos temas nas aulas de história (Livro)
Carla Bessanezi Pínsqui ( organizador). São Paulo: Contexto, 2009.
Essa obra é uma coletânea de textos de diversos autores sobre o trabalho docente com temas como relações de gênero e direitos humanos. O livro pode ser um bom ponto de partida para a aplicabilidade desses temas em sala de aula, especificamente, nas aulas de história. Outros temas tratados na obra são corpo, cultura, alimentação e uso de biografias. Além da discussão teórica, são sugeridos atividades, materiais didáticos alternativos e leituras comentadas.
As fontes históricas
Você descobriu que todas as pessoas são agentes históricos, mas como saber de que modo viviam e pensavam as pessoas no passado? Para os historiadores, só é possível compreender isso por meio da análise das fontes históricas, que podem ser documentos escritos, objetos, pinturas, fotografias, depoimentos orais etcétera
Os documentos históricos, produzidos ou modificados pelos seres humanos em tempos e lugares determinados, contribuem para que os historiadores formulem questões e busquem respostas sobre o modo como as pessoas viviam e se organizavam em grupos, o que produziam e muito mais.
Tais questões são sempre despertadas por interesses e experiências da época em que o historiador vive. Dificilmente um historiador do século dezenove se perguntaria, por exemplo, sobre sustentabilidade e fontes renováveis de energia. Afinal, temas como esses são prioridades do presente.
Imagens em contexto!
Na obra de Américo, é representada com grandiosidade a declaração de independência do Brasil, em 1822. Pedro Américo pintou esse quadro 66 anos após a declaração de independência. Ao analisar tal imagem, o historiador pode se questionar sobre a escola artística de que o artista fazia parte e as técnicas de pintura que ele utilizou. Além disso, pode procurar saber se o evento ocorreu da fórma como foi representado na obra, com a mesma paisagem, os mesmos animais, os mesmos personagens etcétera A intenção do pintor ao produzir a obra também é objeto de estudo do historiador.
Respostas e comentários
• Se possível, aprofunde a discussão perguntando aos estudantes o que pode e o que não pode ser considerado fonte histórica.
• Destaque o fato de que as fontes escritas são as mais comumente associadas ao trabalho do historiador: jornais, revistas, livros e manuscritos diversos (cadernos, diários, notas, rascunhos etcétera), nos mais variados suportes (papel, couro, madeira, pedra, digital etcétera).
• As fontes escritas são imprescindíveis ao trabalho do historiador, mas não são fáceis de decifrar. Um historiador (ou qualquer outra pessoa que queira analisar um texto) deve estar ciente do contexto de produção e circulação de um texto para localizar seu autor ou seus autores no tempo e no espaço, entender o que disse ou disseram e como o disse ou disseram, com que intenções e para que público.
• Ainda há outras questões a analisar: como esse texto foi armazenado, quem o guardou e por quê? Ao guardar esse texto, outros foram descartados? A formação de arquivos, bibliotecas, hemerotecas e outros locais de guarda de documentos privados ou públicos, virtuais ou físicos, exige critério: o que será mantido e o que será descartado? Nota-se que a política de memória, o que (e como) deve ser guardado ou descartado em um acervo, é complexa e exige reflexões sobre o que se deseja para o futuro.
• A pintura de Pedro Américo é uma obra icônica da visão historicista que caracterizava a chamada história pátria. Os artistas apresentavam os eventos com intenção de realizar uma projeção, como algo que inauguraria um novo tempo. Ao longo da coleção, os estudantes serão encorajados a analisar pinturas e outros documentos visuais. Procure dar atenção a esses momentos.
• Uma análise da obra de Pedro Américo, relacionando obras inspiradoras, intenções e detalhes da pintura, pode ser encontrada no site Cultura Genial. Disponível em: https://oeds.link/yiWYe4. Acesso em: 7 dezembro 2021.
Analisando o passado
Você já pensou no fato de que a escola, as aulas e até o que os professores ensinam têm uma história? Imagine como eram as aulas de educação física na época em que seus avós ou bisavós estudavam. Deviam ser bem diferentes das suas, não é? Mas como você pode comprovar isso?
De várias maneiras. Você pode conversar com seus pais, avós ou bisavós sobre isso ou procurar a resposta em livros, jornais ou revistas impressos e na internet. Pode, ainda, analisar fotografias de diferentes datas. Todos os materiais que podem ser usados para buscar respostas a questões sobre o passado são fontes históricas. Analise as fotos a seguir.
Nessas imagens, foram registradas aulas de educação física em diferentes períodos no Brasil. Elas revelam algumas mudanças ocorridas em pouco mais de um século.
Responda no caderno.
Responda no caderno.
- Sobre cada uma das imagens, descreva:
- o espaço em que ocorreu a aula;
- o modo como os estudantes estão dispostos nesse espaço.
- Que rupturas e permanências você nota entre as imagens?
- Por que é possível afirmar que essas imagens podem ser usadas como fontes históricas?
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao abordar rupturas e continuidades, a seção “Analisando o passado” contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero um. Além disso, possibilita o trabalho com as Competências Gerais da Educação Básica nº 1 e nº 8, as Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1 e nº 2 e a Competência Específica de História nº 1.
Analisando o passado
Nessa seção, destaca-se a noção de historicidade com base nos registros fotográficos de práticas relacionadas ao componente curricular educação física, no Brasil, em diferentes períodos.
As atividades propostas demandam descrição, comparação e explicação. Discuta com os estudantes as diferenças entre os documentos relativas à cor e à nitidez. Vale lembrar que a comparação depende da enumeração das diferenças que resultam da observação e da descrição criteriosa das fontes.
Atividades
1. a) Nas duas imagens, as cenas foram registradas em ambientes externos. Na primeira, os estudantes estão em um pátio, enquanto, na segunda, estão, possivelmente, em uma quadra poliesportiva.
b) Na primeira foto, os estudantes estão dispostos em fileiras; na segunda, estão organizados em círculo.
2. Como permanência, os estudantes podem destacar o fato de que as fotografias apresentam cenas relacionadas à educação física. Além disso, podem apontar o fato de que as duas imagens registram práticas em ambientes externos na escola. Como exemplos de rupturas, os estudantes podem mencionar o fato de que a turma retratada na primeira foto é formada apenas por meninos, enquanto na cena da segunda foto a turma é mista. Na foto atual há também a presença de um estudante cadeirante, marcando uma diferença qualitativa em razão das atuais políticas de inclusão. Além disso, é possível que notem mudanças nas vestimentas: na primeira imagem, o uniforme é um traje social e, na segunda, um uniforme escolar esportivo. Também é possível que questionem a diferença na disciplina e na disposição dos corpos em cada imagem. Se julgar pertinente, comente com eles que antigamente a prática da educação física nas escolas pautava-se pela disciplina militar.
3. A resposta a essa questão implica algum grau de dedução. É possível afirmar que as fotos são fontes históricas, pois com base nelas é possível elaborar perguntas e respostas sobre o passado e sobre as relações entre o passado e o presente.
O trabalho do historiador
O que ocorreu no passado pode ser denominado fato histórico. Para entender os fatos históricos, são estudadas as fontes que os registraram. Assim, se não existem registros sobre o passado, não há como saber o que ocorreu.
Em contrapartida, os fatos conhecidos podem ser registrados de diferentes maneiras. Um acidente de trânsito, por exemplo, pode ser relatado por um dos motoristas envolvidos nele e também filmado por uma câmera instalada na rua. O fato é o acidente: ele ocorreu e não há como negar. O motorista contou que não viu o sinal fechado. A imagem da câmera mostra que ele estava ao celular enquanto dirigia. Como interpretar a situação?
Essas fontes dão margem para produzir diferentes interpretações sobre o acidente, mas são evidências de que o fato ocorreu. Ou seja, elas são vestígiosglossário deixados pelos sujeitos históricos envolvidos no evento. Ao examiná-las, é possível debater o fato, mas não negar sua ocorrência.
O trabalho do historiador consiste, pois, na análise criteriosa, com método, das fontes. Nesse sentido, busca-se evitar qualquer tipo de anacronismoglossário nas explicações sobre o passado. Além disso, sua produção não é apenas uma opinião construída com base n o que se acredita ou se “acha” que o passado foi.
Imagens em contexto!
Na semifinal da Copa do Mundo de Futebol de 2014, o time masculino do Brasil perdeu de 7 a 1 para o da Alemanha e foi eliminado do torneio. Esse fato está registrado em vários documentos (jornais, imagens de televisão, internet, fotos de família, relatos orais etcétera). Pode haver interpretações diferentes sobre o que contribuiu para a derrota do time brasileiro, mas não é possível negar que ele perdeu.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Defina com suas palavras o objeto de estudo do historiador.
- O que é um agente histórico?
- Explique o que é uma fonte histórica.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
O estudo da conceitualização de fontes históricas contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero dois. A ênfase no regime de evidências, isto é, na ideia de que a verdade histórica depende da análise de vestígios fiáveis, conecta o conteúdo às Competências Gerais da Educação Básica nº 2 e nº 7, à Competência Específica de Ciências Humanas nº 6 e à Competência Específica de História nº 3.
• Diante das ondas de revisionismos históricos e fake news, são introduzidos nesse tópico os sentidos de fato histórico e a ética do historiador. A ideia é ressaltar que uma interpretação histórica é produzida com base em diversos vestígios do passado analisados criteriosamente, com método.
• A abordagem do anacronismo pode trazer alguma confusão. Alguns conceitos e ideias são elaborados para ajudar a compreender o passado, mas há usos que deturpam sua compreensão. Por exemplo, os conceitos de nação e de nacionalismo surgiram no fim do século dezoito e não servem, por exemplo, para explicar as revoltas coloniais da América portuguesa, pois ali não havia ainda um sentimento de nacionalidade que, no caso brasileiro, começou a ser gestado somente no século dezenove.
Agora é com você!
1. Os historiadores estudam as ações dos seres humanos no tempo e no espaço. Além disso, buscam entender as continuidades e rupturas entre o passado e o presente e têm por premissa a compreensão de que as estruturas e os valores sociais e culturais do presente são construções históricas, ou seja, não são naturais.
2. Todo ser humano é um agente histórico que atua individual ou coletivamente. Todos fazem parte da história: homens, mulheres, adultos, idosos, jovens ou crianças.
3. Os estudantes podem definir as fontes históricas como todos os vestígios e documentos (escritos, materiais, visuais, orais etcétera) produzidos ou modificados pelos seres humanos em tempos e lugares distintos, com base nos quais os historiadores formulam questões (e obtêm respostas) sobre o modo como as pessoas de determinado período viviam e se organizavam.
Orientação para as atividades
As atividades do boxe “Agora é com você!” podem ser realizadas com base na identificação das informações presentes no capítulo. No momento da correção, valorize proporcionalmente os processos de assimilação de informações e o de elaboração, sempre considerando as capacidades individuais de leitura e escrita. O componente curricular história colabora para o letramento. Esse não é um processo uniforme e linear, pois depende das condições culturais de cada grupo de estudantes.
O tempo e a história
Você sabe o que é o tempo? Os seres humanos se fazem essa pergunta há milênios! Mesmo sendo difícil explicar o que é o tempo, é possível sentir sua passagem.
A passagem do tempo é fundamental para a história, pois essa ciência é usada para estudar as rupturas e as permanências na vida dos seres humanos do passado até os dias atuais. Mas como, afinal, marcar a passagem de algo que não se consegue definir?
Você poderia citar os relógios de pulso, de parede, dos celulares etcétera e os calendários. Foi observando e aprendendo com a natureza que os povos da Antiguidade inventaram os relógios.
Entre os mais antigos estão os relógios de sol, que foram construídos pelos egípcios há mais de 3 mil anos. Os calendários também foram inventados para medir o tempo. O egípcio, criado há aproximadamente 6 mil anos, é um dos mais antigos.
Pode-se dizer que, apesar dos métodos de contagem, a percepção da passagem do tempo é subjetiva. Dependendo do momento, parece que o tempo voa ou, ao contrário, que ele se arrasta. Se você está se divertindo, sente que ele passa muito rápido, mas, se está entediado, tem a impressão de que ele demora mais a passar. Não é assim?
Para uma criança de 6 anos, uma semana é muito tempo, pois o ponto de vista dela é o de quem ainda está no início da vida. E, para alguém de 65 anos, a semana passa num piscar de olhos.
Há povos indígenas no Brasil, por exemplo, que acreditam que os dias longos são carregados por um caramujo e os curtos são transportados por um beija-flor. Essa dimensão subjetiva da percepção do tempo também é matéria de interesse do historiador.
fórmas de medir o tempo
Fonte: BERGAMINI, C. Para conseguir contar o tempo, foi uma questão de tempo. ComCiência, 6 setembro 2018. Disponível em: https://oeds.link/x8ZmtC. Acesso em: 19 janeiro 2022.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao tratar das diferentes percepções de tempo como subjetivas, ou seja, relativas aos sujeitos, seus momentos e suas circunstâncias, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero um.
• Nesse tópico, abordam-se as definições de tempo e as fórmas de contá-lo. Para tornar essa discussão mais concreta, são destacados elementos materiais, como os calendários e a linha do tempo.
Ampliando
Leia um trecho da entrevista do escritor, filósofo, historiador e psicólogo Daniel Munduruku sobre a percepção do tempo e da memória do ponto de vista indígena.
“O pensamento indígena é um pensamento circular. O que significa isso? Significa que a gente pensa em fórma de espiral reticências. A espiral como pensamento é essa volta ao passado necessária – é importante que a gente faça esse caminho de buscar no passado os sentidos da nossa existência para podermos dar valor ao momento em que a gente vive. O povo indígena não nega a sua memória, não nega a sua história. O tempo inteiro ele busca no passado os sentidos para atualizar sua existência no presente. Então, quando pensamos nas populações indígenas vivendo nos dias de hoje, temos que considerar que elas estão fazendo uma atualização da própria história. reticências O indígena faz muito mais esforço para entender o Brasil do que o Brasil para entender os indígenas. E nisso quem perde é o próprio Brasil, porque cada vez mais os indígenas se articulam para dominar esses instrumentos a fim de manter sua tradição. reticências Tradição é metodologia. reticências Nós nos atualizamos, mas sem largar a tradição.”
MUNDURUKU, D. O ato indígena de educar(se), uma conversa com Daniel Munduruku. Bienal, 21 fevereiro 2017. Disponível em: https://oeds.link/M008bk. Acesso em: 8 dezembro 2021.
Curadoria
Quanto tempo o tempo tem (Filme)
Direção: Adriana L. Dutra e Walter Carvalho. Brasil, 2015. Duração: 76 minutos
Partindo de uma reflexão sobre a falta de tempo no mundo contemporâneo, o documentário explora, em entrevistas com diferentes especialistas, o conceito de tempo. Além da abordagem interdisciplinar, reunindo especialistas da área de física, filosofia, história etcétera, o documentário oferece uma reflexão muito interessante sobre a relação de diferentes sociedades com o tempo e apresenta a falta de tempo como um dos principais dilemas da humanidade no mundo contemporâneo. Em sala de aula, esse documentário pode servir para alicerçar um trabalho interdisciplinar e congregar professores de áreas distintas do conhecimento.
O calendário gregoriano
O tempo subjetivo é aquele que você sente e que depende de sua percepção como indivíduo. O tempo compartilhado é o que serve como referencial para um grupo maior de pessoas, pois é dividido entre os integrantes de uma comunidade.
Qual seria o referencial compartilhado pelos integrantes da comunidade em que você vive? A resposta está nos calendários.
Por meio do calendário, você sabe quais são os dias em que vai à escola, os dias em que seus familiares trabalham, o dia em que é celebrado seu aniversário (e quantos anos você tem) e em que comemora festividades como o Carnaval ou o Natal. É o calendário que possibilita às pessoas construir uma percepção da história.
Imagens em contexto!
Máquinas do tempo como a desejada por gárfild atraem muito a curiosidade das pessoas e, frequentemente, são temas de filmes de ficção científica. Existe, porém, uma máquina do tempo muito real: o cérebro! Com ele, por meio da memória, as pessoas podem relembrar momentos e, com a imaginação, especular sobre a vida no passado e também projetar cenários futuros. Não é incrível?
Há muitos calendários para fazer a contagem do tempo, mas para cada um deles foi considerado um acontecimento como o marco zero, ou seja, o início da contagem do tempo.
O calendário em uso oficial no Brasil é o gregoriano, que foi criado no século dezesseis a mando do papa Gregório treze. Para elaborar esse calendário, foi considerado como ano 1 (ou marco zero) o nascimento de Cristo. Por isso, para indicar algo que aconteceu antes do ano 1, utiliza-se a expressão antes de Cristo ( antes de Cristo). O termo depois de Cristo ( Depois de Cristo) é usado para marcar eventos ocorridos do ano 1 em diante.
O calendário gregoriano é constituído por doze meses. Onze deles são compostos de 30 ou 31 dias, e um tem 28 dias (fevereiro). Cada ano tem 365 dias, mas, de quatro em quatro anos, ocorre o ano bissexto, que tem 366 dias. Quando o ano é bissexto, o mês de fevereiro tem 29 dias.
Respostas e comentários
• O calendário gregoriano foi publicado em 1582 por decisão do papa Gregório treze. Contudo, mesmo no mundo cristão, sua adoção não foi imediata. Nos países católicos, a adoção ocorreu no mesmo ano, mas nos protestantes se deu de forma progressiva. Alguns países adotaram esse calendário já no século vinte, caso da Rússia (1918) e da Turquia (1927).
Curadoria
História, por quê? Para quê? Para quem? (Vídeo)
Estevão de Rezende Martins. PPGH tê vê – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2018. Duração: 87 minutos Disponível em: https://oeds.link/YNwrLS. Acesso em: 8 dezembro 2021.
Nome fundamental da teoria da história no Brasil, o professor Estevão de Rezende Martins aborda em pouco mais de uma hora conceitos básicos e fundamentais que são mobilizados no primeiro capítulo deste livro. A ideia não é utilizar o vídeo com os estudantes. A reflexão proposta serve para embasar a preparação da aula. Como o capítulo é bastante teórico, o vídeo é um instrumento interessante para aprofundar as noções de tempo, processo e agência histórica.
Tempos na história, tempos da história (Vídeo)
João Paulo Garrido Pimenta. Canal úspi. São Paulo, 2018. Duração: 13 minutos Disponível em: https://oeds.link/0tMHrH. Acesso em: 8 dezembro 2021.
Nesse vídeo, o historiador e professor da Universidade de São Paulo ( úspi) João Paulo Garrido Pimenta trata do tempo histórico e de alguns conceitos fundamentais da história como ciência.
Os calendários judaico e muçulmano
Para os judeus, tradicionalmente, era comum usar um calendário baseado nos movimentos do Sol e da Lua (lunissolar), no qual o marco zero seria a criação do mundo, que eles acreditam ter ocorrido em 3760 antes de Cristo (de acordo com o calendário gregoriano).
Note, no quadro a seguir, a correspondência entre os dias da semana no calendário judaico e os dias da semana no calendário gregoriano.
Semana judaica |
Semana no calendário gregoriano |
---|---|
1º dia. |
Início: noite de sábado |
2º dia. |
Início: noite de domingo |
3º dia. |
Início: noite de segunda-feira |
4º dia. |
Início: noite de terça-feira |
5º dia. |
Início: noite de quarta-feira |
6º dia. |
Início: noite de quinta-feira |
7º dia. |
Início: noite de sexta-feira |
Fonte: Calendário judaico: entenda como os judeus contam o tempo. Calendar Brasil. Disponível em: https://oeds.link/Lj9Clb. Acesso em: 10 dezembro 2021.
No calendário muçulmano, o início da contagem, isto é, o ano 1, corresponde ao momento da Hégira, ou seja, a saída do profeta Maomé da cidade de Meca à cidade de Medina, no ano 622 Depois de Cristo (de acordo com o calendário gregoriano).
Note, no quadro a seguir, a correspondência entre os dias da semana no calendário islâmico e os dias da semana no calendário gregoriano.
Semana islâmica |
Semana no calendário gregoriano |
---|---|
1º dia. Yaum as-Sabt |
Sábado |
2º dia. Yaum al-Ahad |
Domingo |
3º dia. Yaum al-Ithnayn |
Segunda-feira |
4º dia. Yaum ath-Thalatha |
Terça-feira |
5º dia. Yaum al-Arba’a |
Quarta-feira |
6º dia. Yaum al-Khamis |
Quinta-feira |
7º dia. Yaum al-Jum’a |
Sexta-feira |
Fonte: Calendário islâmico: conheça sua história e saiba como funciona. Calendar Brasil. Disponível em: https://oeds.link/LbGONY. Acesso em: 10 dezembro 2021.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao tratar dos diferentes calendários de fórma comparativa, do marco zero de cada um e das correspondências entre os calendários judaico, muçulmano e gregoriano, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero um e da Competência Específica de História nº 6.
Ampliando
Sobre a importância da datação para a história, a historiadora Circe bitêncur afirma:
“A datação reticências é importante para situar os acontecimentos no tempo, e os historiadores necessitam dessa localização temporal para analisar e interpretar os fatos recolhidos nos documentos. No caso escolar, ela também é importante, sobretudo porque vivemos em um mundo cujas referências são datadas (ano de nascimento, maioridade reticências).
Mas apenas conhecer datas e memorizá-las, como se sabe, não constitui um aprendizado significativo, a não ser que se entenda o sentido das datações. reticências O uso das datas precisa estar vinculado a uma busca de explicação sobre o que vem antes ou depois, sobre o que é simultâneo ou ainda sobre o tempo de separação de diversos fatos históricos”.
bitêncur, C. M. F. Ensino de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. página 211-212.
• A importância atribuída aos calendários remete a dois aspectos importantes. Um deles relaciona-se ao fato de os calendários serem convenções culturais socialmente estabelecidas que se baseiam em constantes da natureza, como os movimentos dos astros. Eles são uma fórma de domínio do tempo natural, tendo em vista a regulação das práticas humanas. O tempo social e histórico não é redutível ao calendário. O outro vincula-se ao fato de os calendários serem fundamentais para estabelecer as cronologias históricas, as quais não são o tempo histórico, igualmente, mas servem de parâmetro para estabelecer os ritmos da temporalidade histórica. As cronologias sustentadas nos calendários são, portanto, importantes ferramentas de historicização, isto é, de compreensão da mudança histórica.
A linha do tempo
Os meses e os anos do calendário gregoriano orientam as marcações históricas. Para organizar essas marcações, os historiadores usam um instrumento chamado linha do tempo.
Na linha do tempo os acontecimentos são dispostos em sequência. Observando-a, é possível visualizar o que aconteceu antes e depois de um fato histórico ou, ainda, os fatos que ocorreram simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo (no mesmo local ou em locais diferentes).
Observe a linha do tempo sobre a vida de Luísa.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.
As informações que estão na linha do tempo referem-se à vida de Luísa e de sua família.
Não foram, porém, citados todos os fatos ocorridos na vida dela. A seleção de fatos, portanto, é uma escolha motivada por aquilo que se quer destacar ao montar a linha do tempo.
No dia do nascimento de Luísa, muitas outras pessoas também nasceram. Poderia ser feita uma linha do tempo para cada uma dessas pessoas. Os acontecimentos, nesse caso, seriam simultâneos, isto é, teriam ocorrido ao mesmo tempo que os representados na linha do tempo de Luísa.
A lógica da linha do tempo é sempre a mesma: define-se um referencial e organizam-se os eventos em sequência com base nessa referência.
Nos países que adotam o calendário gregoriano, a linha do tempo é definida com base no nascimento de Cristo.
Dica
livro
Linha do tempo, de Cláudia de Castro Lima. São Paulo: Panda Books, 2008.
Nesse livro, Cláudia de Castro Lima organizou em linhas do tempo, datadas de milhares de anos antes de Cristo até os dias de hoje, centenas de informações a respeito de invenções das mais variadas categorias: habitação, saúde, vestuário, transporte etcétera
Respostas e comentários
• A linha do tempo é um instrumento didático que pode ser usado para abordar as noções de sincronia ou de diacronia entre os eventos históricos. Como na periodização dos séculos empregam-se números negativos, um conceito bastante abstrato para os estudantes, o estudo desse tema pode ser feito em parceria com os professores da área de matemática.
• Oriente os estudantes sobre as datações antes de Cristo e Depois de Cristo Isso é importante porque muitos dos eventos estudados no 6º ano ocorreram antes de Cristo ( antes de Cristo). Explique que o marco zero (ponto de referência) adotado no calendário gregoriano é o nascimento de Cristo e faça uma analogia entre esse fato e o nascimento de Luísa: um ano antes do nascimento de Cristo é 1 antes de Cristo; um ano antes do nascimento de Luísa (2015) é 1 antes de Luisa Os pais de Luísa se casaram em 2011, ou seja, quatro anos antes de Luísa nascer. Assim, se fosse tomado como marco zero o nascimento de Luísa, o casamento dos pais dela teria ocorrido em 4 antes de Luisa
A divisão por períodos ou linha do tempo da história
A divisão por períodos, por sua vez, foi estabelecida por estudiosos europeus no século dezenove, para facilitar o estudo da história. Note o exemplo a seguir.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.
Na linha do tempo da história, são marcados cinco períodos: Pré-história, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea (você está na Idade Contemporânea). Essa linha do tempo é eurocêntrica, isto é, tem como base valores e eventos ligados à história dos europeus.
É preciso dizer, ainda, que há mais um consenso entre os historiadores: o uso dos algarismos romanos para a representação dos séculos. Vale lembrar que um século representa um período de cem anos.
Anos |
Século |
---|---|
1 a 100 |
I |
101 a 200 |
II |
201 a 300 |
III |
301 a 400 |
IV |
401 a 500 |
V |
501 a 600 |
VI |
601 a 700 |
VII |
Anos |
Século |
---|---|
701 a 800 |
VIII |
801 a 900 |
IX |
901 a 1000 |
X |
1001 a 1100 |
XI |
1101 a 1200 |
XII |
1201 a 1300 |
XIII |
1301 a 1400 |
XIV |
Anos |
Século |
---|---|
1401 a 1500 |
XV |
1501 a 1600 |
XVI |
1601 a 1700 |
XVII |
1701 a 1800 |
XVIII |
1801 a 1900 |
XIX |
1901 a 2000 |
XX |
2001 a 2100 |
XXI |
Respostas e comentários
• Nesse tópico, é resgatado um conhecimento que os estudantes trazem dos anos iniciais do Ensino Fundamental: o dos números romanos.
• O cálculo dos séculos pode ser realizado com base em regras práticas bastante simples:
1. Despreze a dezena final do número analisado e acrescente o número 1 ao número que sobrou. Por exemplo: ano 704 – desprezando os números “0” e “4”, resta o número 7; 7 + 1 = 8, ou seja, você está no século oito (8).
2. No caso dos números terminados em 00, basta desprezar os dois últimos zeros. Por exemplo, ao considerar o ano de 2000, desprezando os últimos zeros, você deduz que ele pertence ao século vinte.
Nas datações antes de Cristo, quanto maior o ano, mais antigo é o evento. Quanto menor o ano, mais recente ele é. Já nas datações Depois de Cristo, quanto maior é o ano, mais recente é o evento. Quanto menor ele é, mais antigo é o evento.
• Na história ensinada em sala de aula, utiliza-se uma periodização definida com base na Europa. Como qualquer outra marcação do tempo, ela é arbitrária. Isso significa que não existiu desde sempre, mas foi formulada intelectualmente por alguém ou por um grupo de intelectuais ao longo dos anos. Optou-se nesta obra por uma periodização que acompanha a formação e o desenvolvimento da civilização ocidental, cujos moldes são europeus. Essa escolha foi feita não porque suas divisões sejam melhores ou exatas, mas porque a maioria dos temas abordados é considerada relevante para os desdobramentos da história do Ocidente.
Cruzando fronteiras
Os primeiros brinquedos foram inventados há milhares de anos e, até hoje, continuam produzindo alegria. Conheça a seguir um pouco da trajetória deles.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.
Fonte: elaborada com base em Recreio, ano 15, número 813, página 16, 8 outubro 2015.
Responda no caderno.
- Em que séculos foram inventados os patins, a bolinha de gude e o bicho de pelúcia?
- Compare dois grupos de brinquedos: o dos inventados até a década de 1970 e o dos inventados a partir dos anos 1980. Você nota alguma diferença entre eles? Qual?
Respostas e comentários
Cruzando fronteiras
Nessa seção, os estudantes são convidados a responder a perguntas que mobilizam os conhecimentos desenvolvidos com base na leitura de uma linha do tempo na qual é representada a história dos brinquedos.
As atividades mobilizam o estudo da datação em séculos apresentada nas páginas anteriores, o que pode ser difícil para alguns estudantes. Caso seja necessário, auxilie a turma no estabelecimento das datações. Ao comparar os grupos de brinquedos eles podem perceber diferenças entre as brincadeiras do mundo analógico e as do mundo digital contemporâneo.
Atividades
1. Segundo a linha do tempo, os patins foram inventados no século dezoito (1750), as bolinhas de gude, no século cinquenta antes de Cristo (5 mil antes de Cristo), e os bichinhos de pelúcia, no século vinte (1902).
2. Espera-se que os estudantes percebam que, após a invenção do primeiro console de videogame, a maior parte dos brinquedos destacados nessa linha do tempo são voltados para o mundo digital/virtual. Até então, havia brinquedos como blocos de montar, carrinhos e bonecas, que pressupõem uma ação da criança no mundo físico.
Interdisciplinaridade
Ao tratar de uma linha do tempo, esse conteúdo se relaciona com o componente curricular matemática, especificamente com a habilidade ê éfe zero seis ême ah zero um – “Comparar, ordenar, ler e escrever números naturais e números racionais cuja representação decimal é finita, fazendo uso da reta numérica” –, que contribui para o desenvolvimento das capacidades de comparar e de ordenar.
Memória e história
Você já notou que os historiadores estudam as ações humanas em suas relações com o tempo (passado e presente) e o espaço, compreendendo as fórmas de viver de diferentes grupos sociais com base na análise e na interpretação de documentos. Pode-se também dizer que eles trabalham com a construção da memória.
Você já pesquisou as memórias de sua família? Memórias são as lembranças do passado que as pessoas organizam e contam. Elas não são exatas ou imutáveisglossário .
Provavelmente, as memórias que você tem de sua primeira infância são diferentes das que você tinha aos 6 anos. Elas também são diferentes das que seus pais têm sobre o mesmo período.
O processo de construção de uma memória é complexo, pois as pessoas se lembram e se esquecem com frequência dos eventos sobre elas e sua família.
Esse processo é ainda mais complexo quando envolve a memória coletiva ou social.
As memórias dos grupos não surgem de fórma espontânea, natural ou imparcial. Elas são negociadas e, em geral, atendem a interesses específicos.
Respostas e comentários
Bê êne cê cê
Ao tratar da memória e do esquecimento, em escala individual e coletiva, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero um.
• Os processos de lembrança, esquecimento e produção da memória são complexos. Nos séculos dezenove e vinte, por exemplo, grupos de historiadores e outros estudiosos de ciências humanas, artistas e instituições oficiais difundiram a ideia de que o Brasil é um país mestiço, composto aparentemente somente de brancos, indígenas e negros. Essa é uma memória histórica e coletiva poderosa, que até hoje é reproduzida, mas o Brasil recebeu pessoas de muitas etnias e nacionalidades. Chineses, coreanos, pessoas vindas do Oriente Médio e de outros locais ficam geralmente de fóra dessa memória. Eles não foram importantes para a construção do que hoje se entende por Brasil?
• Outro problema associado a esse é o da representação do passado. Nessa imagem do Brasil, a memória dos brancos (em especial, dos imigrantes europeus) tornou-se preponderante, relegando a negros e indígenas um papel secundário na história do país. Em muitos casos, a memória desses grupos foi deliberadamente silenciada e apagada.
• Somente com ativismo, militância e luta por direitos iguais, negros e indígenas conseguiram a aprovação de uma lei tornando obrigatórios o ensino de suas culturas e a inclusão nos livros didáticos de suas histórias e memórias. Eles, portanto, conquistaram esse espaço em meio a uma lógica que os excluiu por muito tempo.
Curadoria
As cientistas: 50 mulheres que mudaram o mundo (Livro)
Raquel inostofsqui. São Paulo: Bluchia, 2017.
Esse livro ilustrado pode ser interessante para explorar com os estudantes o papel das mulheres nas ciências. Na obra, que inclui infográficos e um glossário científico, são apresentados perfis de mulheres, como Hipátia de Alexandria, áda lóvelêice, Marrí Kurrí, djêine gúdól e mariam mirzacãni, cujos trabalhos foram fundamentais para as ciências.
Memórias silenciadas
Se você perguntar a seus pais e avós sobre as personalidades femininas que eles estudaram nas aulas de história, provavelmente se lembrarão de duas ou três, mas, se você perguntar sobre as figuras masculinas, eles provavelmente citarão vários nomes.
Na época em que seus pais ou seus avós eram estudantes, a memória oficial era escrita majoritariamente por homens brancos, que não tinham interesse em construir a memória das mulheres e de homens não brancos, por exemplo.
O resgate da participação feminina na história é recente e está em construção, graças à luta de grupos de mulheres por representatividade. O mesmo mecanismo de silenciamento tem sido confrontado por indígenas, negros, imigrantes e refugiados, entre outros grupos.
A representatividade é muito importante para a história. Como os humanos são seres diversos (com identidades, personalidades e opções de vida variadas), quanto mais plurais as memórias sociais e coletivas forem, mais as pessoas terão consciência dessa diversidade no passado e no presente.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Qual é a importância do tempo para a história?
- Por que os calendários são importantes meios de referência? Cite dois exemplos de calendários usados na atualidade.
- Defina memória e explique a diferença entre memória individual e memória coletiva.
Respostas e comentários
Tema Contemporâneo Transversal
Ao abordar a valorização das memórias silenciadas, discutindo a necessidade de reconhecer o caráter parcial da história oficial, que exclui ou subalterniza as memórias das populações negra e indígena, o conteúdo contribui para o desenvolvimento dos Temas Contemporâneos Transversais Diversidade cultural e Educação para a valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas culturais brasileiras.
Agora é com você!
1. O tempo é primordial para a história, pois os historiadores se dedicam a entender as rupturas e continuidades ocorridas entre o passado e o presente, para entender melhor os seres humanos e o mundo construído por eles.
2. Porque eles servem como referência para a vida em sociedade, ajudando a organizar, por exemplo, os dias de trabalho, de estudo e de festividades. Eles auxiliam as pessoas a construir uma percepção histórica. Como exemplos de calendários, os estudantes podem citar o gregoriano, o judaico ou o muçulmano.
3. As memórias são as lembranças que as pessoas organizam e narram sobre o tempo passado. Elas não são exatas ou imutáveis. A memória individual é a que cada um organiza sobre si mesmo e seu entorno. A memória coletiva é a que é partilhada por integrantes de um grupo.
Orientação para as atividades
As atividades mobilizam o aprendizado relativo ao tempo e à memória. Nas duas primeiras, demanda-se algum nível de sistematização das informações apresentadas no capítulo. Indique aos estudantes a necessidade de reler o conteúdo estudado, organizando as informações relevantes em anotações no caderno. Isso vale para a última questão, mais complexa, a qual exige a capacidade de definir três conceitos que também podem ser identificados no texto.
Atividade complementar
Proponha aos estudantes a realização de entrevistas e de uma pesquisa. Peça-lhes que perguntem aos pais, avós ou responsáveis que recursos eles utilizavam para se comunicar quando eram crianças e o que eles usam para fazer isso hoje. Depois, solicite aos estudantes que pesquisem imagens dos recursos ou aparelhos mencionados. O material deverá servir de base para a elaboração de um texto curto sobre a história recente das fórmas de comunicação. Com essa atividade, espera-se incentivar a percepção das mudanças na comunicação e de suas continuidades. O reconhecimento das fontes históricas utilizadas (orais e escritas, visuais) e a compreensão de que essas fontes são evidências das mudanças nas fórmas de comunicação também podem ser trabalhados.
Atividades
Responda no caderno.
Organize suas ideias
- Identifique no caderno a alternativa correta. De acordo com o que você estudou, um fato histórico:
- é algo que aconteceu e pode ser comprovado por meio de documentos.
- pode ser inventado por qualquer pessoa, assim como os documentos.
- é feito por homens importantes, que normalmente ocupam cargos políticos.
- pode ser negado com base na opinião da maioria da população.
- Relacione os números das imagens da linha do tempo a seguir aos eventos que marcam o início dos períodos históricos representados.
- . Omo sápiens
- Escrita.
- Fim do Império Romano do Ocidente.
- Queda de Constantinopla.
- Revolução Francesa.
- Em seu caderno, indique o século correspondente a cada um dos anos a seguir.
- 1500.
- 2015.
- 700 antes de Cristo
- 2000 antes de Cristo
- Escreva em seu caderno o ano inicial e o final de cada século a seguir.
- quatro antes de Cristo
- . vinte e um
- . quinze
- nove antes de Cristo
Respostas e comentários
Atividades
Organize suas ideias
1. Alternativa: a ponto
2. Ordem correta: á 1; b) 4; c) 5; d) 2; e) 3.
3. á quinze. b) vinte e um. c) sete antes de Cristo d) vinte antes de Cristo
4. á 400 antes de Cristo ponto-301 antes de Cristo b) 2001‑2100. c) 1401-1500. d) 900 antes de Cristo-801 antes de Cristo
Aprofundando
5. A tirinha a seguir apresenta um diálogo entre o personagem Armandinho e sua mãe. Leia-o atentamente e, em seguida, responda às questões.
- Quais são as atividades que Armandinho deve realizar em seu dia?
- Considerando que na parte da manhã Armandinho frequenta a escola, ele tem muitas ou poucas obrigações?
- Existe uma diferença entre a percepção do tempo de Armandinho e a da mãe dele?
- Explique qual é a diferença entre a percepção de tempo entre eles.
- A memória coletiva pode ser representada por meio do patrimônio cultural. Você se lembra do que estudou sobre patrimônio cultural? Trata-se de um conjunto de bens transmitidos de geração em geração que as pessoas escolhem preservar para assegurar a memória de uma família, de um grupo de pessoas, de um povo ou de uma nação. Esses bens podem ser materiais, imateriais e naturais. Além disso, podem ser reconhecidos por meio de políticas públicas ou não.
Com base nessas informações, façam uma pesquisa sobre os patrimônios culturais de seu município ou região para, depois, com o auxílio do professor, realizar uma visita guiada a um deles. Para isso, sigam essas etapas:
- Retomem o que já estudaram sobre o assunto. Se necessário, pesquisem as definições das seguintes categorias do patrimônio: material, imaterial e natural.
- Pesquisem exemplos de patrimônios, na região onde vocês moram, de cada uma dessas categorias. Escolham um deles e realizem uma visita com o auxílio do professor. Lembrem-se de que o professor deve agendar previamente essa visita, e que vocês precisam da autorização dos seus responsáveis para o passeio!
- No dia determinado, façam a visita guiada ao patrimônio. É importante que vocês se organizem para que alguns estudantes tirem fotografias e outros tomem nota das informações coletadas durante a visita.
- De posse das anotações e fotos do dia da visita, elaborem coletivamente uma pequena descrição do patrimônio, apresentando as justificativas sobre a importância desse patrimônio para o município ou a região.
Respostas e comentários
Aprofundando
5. a) De acordo com a tirinha, Armadinho deve, em seu dia, frequentar aula de francês, futebol, música e reforço escolar.
b) Considerando que Armandinho ainda frequenta a escola, é possível afirmar que ele tem muitas obrigações em seu dia.
c) Sim, existe.
d) Espera-se que os estudantes, com base no que aprenderam sobre a percepção subjetiva da passagem do tempo, percebam que as personagens têm visões opostas em relação ao tempo. Para a mãe de Armandinho, quanto mais atividades o filho tiver, melhor terá aproveitado o dia. Já o garoto tem outra percepção, que não está relacionada ao fazer, mas ao ser: com tantas obrigações, ele não tem tempo para ser criança.
6. Nessa atividade é proposta a prática de pesquisa “Observação, tomada de nota e construção de relatórios”, que consiste em incentivar a participação ativa dos estudantes na atividade de campo proposta. Nesse sentido, compreende-se que a observação requer método para distinguir o essencial daquilo que é acessório, esse trabalho é facilitado a partir dos critérios que sustentam a tomada de nota. Para essa atividade, sugere-se, inicialmente, os seguintes elementos:
• descrição do patrimônio visitado;
• categoria (material, imaterial ou natural);
• estado de conservação;
• importância para a comunidade.
A construção do relatório, um texto relatando a atividade de campo, deriva das etapas anteriores, observação e tomada de nota. Propõe-se que os estudantes acrescentem imagens, bem como, suas impressões com relação à atividade realizada.
Pretende-se com a atividade 6, de visita guiada, sensibilizar os estudantes para a compreensão do que é patrimônio cultural, do modo como ele é produzido e de sua importância para a construção das memórias e da história de sua cidade ou região. Trata-se de uma atividade de campo destinada a discutir as interações entre a comunidade e o espaço com base no desenvolvimento de alguns dos procedimentos de investigação em ciências humanas. Por ser uma atividade externa, será necessária uma programação envolvendo a direção escolar e os pais ou responsáveis pelos estudantes que devem assinar os devidos termos de consentimento para a visitação. Além disso, a atividade requer planejamento orçamentário, administrativo e recursos humanos necessários para viabilizar os deslocamentos dos estudantes. Enquanto estiver resolvendo essas questões burocráticas, sugerimos que utilize esse tempo para propor que os estudantes retomem o que já estudaram sobre esse assunto nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Faça uma breve apresentação de cada uma das categorias de patrimônio: o material inclui móveis e imóveis, como monumentos, edifícios, estátuas, edificações, cidades históricas etcétera; o imaterial compreende saberes, ofícios e expressões, como artes cênicas, plásticas, música, dança, festividade etcétera; o natural é constituído de formações naturais, como florestas, parques, cachoeiras, montanhas e paisagens. Na sequência, se possível, oriente-os a realizar uma pesquisa no portal do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( ifãn). No site do ifãn, além das definições das categorias, estão disponíveis listas de bens tombados distribuídos por região. Em posse da lista da região, faça junto deles a seleção do patrimônio a ser visitado, se houver mais de um próximo à localidade. Organize os estudantes para o dia da visita ao patrimônio selecionado solicitando que levem água, materiais para anotação (caderno, lápis, caneta etcétera) e o que mais julgar necessário; além disso, instrua-os a respeitar as devidas regras de visitação do local. Com relação ao trabalho pedagógico, oriente-os a anotar informações e a registrar imagens do local visitado. Verifique a seleção realizada pelos estudantes, orientando-os na produção do relatório, que pode ser apresentado em meio digital. Por fim, organize uma roda de conversa com os estudantes. Solicite que eles relatem a experiência de realizar essa atividade externa, de coletar informações e produzir o relatório. Faça intervenções pontuais para que os estudantes percebam os pontos positivos e os que devem ser melhorados para as próximas atividades desse tipo. Caso a atividade de campo não possa ser realizada, sugere-se que ela seja contemplada virtualmente por meio da pesquisa e seleção de algum patrimônio no portal do ifãn que seja representativo para o município ou a região em que a escola está inserida.
Glossário
- Vestígio
- : rastro, pista ou sinal de algo ou de alguém.
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- Anacronismo
- : algo fóra de seu tempo. O anacronismo consiste em atribuir a uma época ou a um personagem ideias e sentimentos que são de outra época, distorcendo os fatos e a compreensão do passado.
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- Imutável
- : que não muda.
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