CAPÍTULO 3 AS PRIMEIRAS CIDADES: MESOPOTÂMIA E PALESTINA

Você tem ideia de quando as pessoas começaram a viver em cidades? Ur, na região da Mesopotâmia, é uma das mais antigas cidades de que foram encontrados vestígios. Ela era habitada em cêrca de 5000 antes de Cristo

Ur tinha características parecidas com as das cidades de hoje: as pessoas que viviam nela moravam em casas, iam a templos religiosos, vendiam produtos, prestavam serviços umas às outras e se submetiam a um mesmo conjunto de leis.

A formação das cidades na Antiguidade é um dos temas deste capítulo.

Ilustração. Vista aérea de uma cidade antiga cujas construções maiores estão protegidas por um muro. A construção à direita é composta em quatro níveis com escadarias, no formato piramidal, que parece ser um templo. A construção à esquerda tem formato quadrangular com um pátio interno também quadrangular. Fora dos muros há diversas casas menores. Ao fundo, um rio e um planície com vegetação baixa.
Ilustração atual representando a antiga cidade de Ur, na Mesopotâmia.

FONTE: lêic, G. Mesopotâmia: a invenção da cidade. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Com base nos estudos arqueológicos, é possível compreender o funcionamento dos primeiros núcleos urbanos. Hoje se pode recriar o desenho de uma cidade da Antiguidade por meio dos vestígios encontrados nos sítios arqueológicos.

Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Com base no que você já estudou, nos textos e na ilustração, cite pelo menos uma região da Terra onde havia cidades na Antiguidade.
  2. Analise a ilustração e responda: que diferenças ou semelhanças você nota entre a cidade de Ur e as de hoje?
Respostas e comentários

Abertura

Pretende-se estimular os estudantes por meio da indicação de algumas informações sobre a cidade de Ur, na Mesopotâmia. Destaca-se a importância das fontes arqueológicas para os estudos do passado. Ao final da abertura, os estudantes são convidados a refletir sobre o processo de formação das cidades, além de exercitar o levantamento de hipóteses, o uso de conhecimentos prévios e a comparação entre passado e presente.

Atividades

1. Os estudantes provavelmente responderão Mesopotâmia por já terem estudado o conteúdo, mas também podem citar outras regiões do Oriente Médio ou mesmo da África. Não há consenso entre os arqueólogos sobre a primeira cidade da história. Com base nos vestígios encontrados, acredita-se que Eridu seja a mais antiga, mas Ur e Uruk provavelmente foram os primeiros núcleos civilizacionais mais parecidos com as cidades que conhecemos.

2. Embora as cidades contemporâneas sejam muito diferentes da representada na imagem da abertura, guardam semelhanças com ela por causa da existência de edifícios e templos religiosos. Além disso, muitas cidades do Brasil estão localizadas próximo a rios, elemento muito importante na escolha dos locais de ocupação humana permanente. Uma das finalidades do capítulo é explicar aos estudantes como essas primeiras cidades e sociedades se organizaram e como questões centrais para os seres humanos de hoje (como a formação do comércio ou do Estado) se apresentaram pela primeira vez na história humana.

É comum estabelecer uma relação direta entre o aparecimento das grandes cidades, a agricultura e as obras hidráulicas como sendo a causa essencial da divisão social do trabalho nos primeiros centros urbanos. De acordo com essa interpretação, competia ao Estado regulamentar a produção e a vida cotidiana dos habitantes das cidades. Essa leitura – produzida principalmente por antropólogos e arqueólogos neoevolucionistas dos anos 1950 e 1960 –, porém, é criticada por nórman iófi, professor da Universidade de Michigan e especialista em arqueologia mesopotâmica. Em suas propostas, iófi destaca a importância do papel de outros atores sociais – como escravizados, soldados, sacerdotes, camponeses, mercadores e artesãos – nos Estados mais antigos. De acordo com a leitura de iófi, a dinâmica da vida no território mesopotâmico não se resumia à obediência a um Estado estável e controlador.

A formação das primeiras cidades

Você tem ideia de como se formaram as primeiras cidades? No capítulo anterior você estudou que, cêrca de 10 mil anos atrás, além de domesticarglossário animais e plantar alimentos, os seres humanos inventaram uma série de itens dos quais dependeriam por milhares de anos: armas, como lanças e machadinhas, utensílios, como agulhas (essenciais para costurar roupas e, com elas, proteger-se do frio), e diversos tipos de lâmina. Os primeiros indícios de joalheria também datam desse período, em que os ancestrais humanos viviam em pequenos grupos nômades ou seminômades.

As divisões de tarefas nesses grupos não eram rígidas e, muitas vezes, o mesmo indivíduo caçava, cozinhava e cuidava da defesa de um acampamento. No entanto, o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais provocaram mudanças profundas no modo de vida dos seres humanos.

À medida que as aldeias cresciam, seus moradores começaram a se especializar em determinadas atividades: alguns eram responsáveis pela construção de canais para a agricultura, outros pela produção de alimentos e outros ainda pela defesa das comunidades.

O trabalho passou, dessa maneira, a ser dividido. Essa capacidade humana de trabalhar em conjunto e se organizar com divisão de tarefas está na origem das primeiras cidades.

Fotografia. Dois artefatos de pedra: um comprido com a superfície achatada e lisa, e outro pequeno e arredondado. O objeto arredondado está posicionado à direita, sobre o objeto comprido.
Moinho de pedra para triturar grãos, produzido por volta de 5500 antes de Cristo a 4000 antes de Cristo, encontrado na região da Catalunha, atual Espanha.
Fotografia. Dois artefatos de pedra: um com a base arredondada, o topo pontiagudo e um buraco no meio; o outro num formato cilíndrico. A textura da superfície de ambos é irregular.
Fragmento de enxada e de outro instrumento de pedra para uso na agricultura, produzidos aproximadamente em 8000 antes de Cristo, encontrados no Deserto de Neguev, Israel.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

É por meio de vestígios como os mostrados nas imagens desta página que os pesquisadores conseguem verificar os períodos e os lugares em que as pessoas desenvolveram a agricultura e a criação de animais na Antiguidade.

Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

Relacionar a formação das cidades ao processo de sedentarização, com a divisão do trabalho, às estratificações sociais e ao desenvolvimento do comércio e de sistemas de organização política e cultural.

Descrever brevemente o processo de formação das primeiras cidades no chamado Crescente Fértil, na região da antiga Mesopotâmia.

Conceituar Estado, relacionando a formação deste com a expansão das primeiras cidades na Mesopotâmia.

Definir a cidade-Estado como uma fórma de organização social na qual os poderes político, religioso e econômico se concentram e como séde do domínio sobre um território.

Apresentar a invenção da escrita cuneiforme e a formação dos sistemas de crença religiosa, dando destaque ao politeísmo mesopotâmico e ao monoteísmo hebraico.

Identificar a importância do uso de fontes históricas (materiais, textuais e iconográficas) para a construção do conhecimento histórico.

Justificativa

Os objetivos apresentados são relevantes na medida em que visam desenvolver no estudante a compreensão de que o conhecimento histórico se constrói com base em uma metodologia que tem por premissa a interrogação das fontes históricas, os vestígios do passado que chegam até o presente. Justificam-se também em razão de introduzir conceitos históricos relevantes, como o de Estado e de cidade-Estado. Além disso, contribuem para dimensionar a importância da invenção da escrita como tecnologia social e da criação das cidades relacionadas a certas fórmas de organização social complexas. O aprendizado acerca da formação das cidades, dos Estados e da escrita neste capítulo é fundamental para estruturar aprendizagens ulteriores desenvolvidas ao longo dos volumes desta coleção.

Atividade complementar

Leve para a sala de aula algumas imagens ou objetos com os quais os estudantes não tenham tanto contato, como telefone com fio, máquina de escrever, filme fotográfico, álbum de fotos, console de videogame antigo, vitrola, disquete, fita cassete, videocassete etcétera Separe a turma em grupos e peça a cada um que escolha um objeto. Eles devem analisar o objeto escolhido, levantando hipóteses sobre seus usos e funcionamentos. Proponha um debate para que os grupos expliquem suas conclusões, mencionando como esses objetos eram utilizados. Essa reflexão é um ponto de partida para abordar o trabalho de arqueólogos e outros cientistas que produzem conhecimentos a partir da investigação e da análise dos vestígios materiais do passado.

O Crescente Fértil

Os primeiros núcleos urbanos provavelmente se formaram em uma região chamada Crescente Fértil. Ela recebeu esse nome em razão de seu formato, semelhante ao da Lua na fase crescente (note na representação no mapa). Pelo Crescente Fértil, passavam três grandes rios: o Tigre, o Eufrates e o Nilo. O solo perto desses rios era bem fértil. Por isso, a região foi escolhida por alguns grupos humanos para morar e plantar alimentos.

Crescente Fértil

Mapa. Crescente Fértil. Apresenta terras na Ásia e na África.
Legenda:
Rosa: Crescente Fértil.
Linha tracejada cinza: Fronteiras políticas atuais.
1. Turquia.
2. Síria.
3. Líbano.
4. Israel.
5. Territórios Palestinos.
6. Jordânia.
7. Iraque.
No mapa, o Crescente Fértil abrange a Mesopotâmia, a Fenícia, a Palestina e o norte do Egito. Na Mesopotâmia, localizada nos atuais territórios de Iraque, Turquia e Síria, estão os rios Tigre e Eufrates. A Fenícia localiza-se no atual Líbano. Na Palestina, localizada nos atuais Territórios Palestinos e em Israel, está o Rio Jordão.  No norte do Egito está o Rio Nilo.
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 230 quilômetros.

FONTE: VIDAL-NAQUET, P.; BERTIN, J. Atlas histórico: da Pré-história aos nossos dias. Lisboa: Círculo de Leitores, 1990. página 39.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise o mapa e identifique de que recursos a área destacada em rosa dispunha. Esses recursos poderiam favorecer a formação de cidades nessa região? Por quê?

A parte do Crescente Fértil localizada entre os rios Tigre e Eufrates é chamada Mesopotâmia. Esse nome grego significa “região entre rios”. As cheias desses rios ocorriam na época adequada à colheita de alimentos, principalmente dos cereais, e o volume das águas deles diminuía no período da plantação. Assim, na Mesopotâmia, era preciso construir barragens e canais de irrigação para armazenar a água e poder usá-la depois na agricultura.

O conhecimento desenvolvido pelos humanos foi fundamental para resolver problemas relacionados à plantação e planejar a produção de alimentos. Foi importante também para solucionar questões ligadas às fórmas de moradia, pois com a sedentarização os indivíduos passaram a viver cada vez mais próximos uns dos outros. Essa proximidade favoreceu o aproveitamento dos recursos disponíveis e as habilidades de cada pessoa para facilitar a sobrevivência da comunidade.

Com isso, algumas funções acabaram se tornando mais valorizadas que outras. Formou-se, então, um complexo processo de valorização e desvalorização de certas funções, dando origem ao que se denomina estratificação socialglossário .

Respostas e comentários

Resposta do Se liga no espaço!: Os estudantes provavelmente vão citar os rios como o principal recurso disponível na área em rosa. Assim, devem partir da premissa de que as cidades antigas se formaram às margens desses rios. No caso específico dos rios Tigre e Eufrates, abordados mais diretamente no texto até o momento, as épocas de suas cheias e do alagamento de suas margens correspondiam aos períodos favoráveis à agricultura. Por isso, era necessária a construção de barragens e sistemas de contrôle da irrigação para realizar o plantio durante os períodos mais secos.

Bê êne cê cê

Ao tratar da especialização e da organização do trabalho, da valorização e da desvalorização de funções e da estratificação social, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um seis.

Interdisciplinaridade

Ao tratar da transformação das áreas agricultáveis e do uso dos recursos hídricos nos vales do Crescente Fértil, o conteúdo se relaciona com a habilidade do componente curricular geografia ê éfe zero seis gê ê um zero – “Explicar as diferentes fórmas de uso do solo (rotação de terras, terraceamento, aterros etcétera) e de apropriação dos recursos hídricos (sistema de irrigação, tratamento e redes de distribuição), bem como suas vantagens e desvantagens em diferentes épocas e lugares”.

O termo Crescente Fértil foi usado pela primeira vez em 1906, no livro Ancient records of Egypt, do arqueólogo estadunidense djêimes rênri brésted. Crescente Fértil designa a imagem de meia-lua que delimita um terreno com fertilidade diferente da de outros territórios. Por essa leitura, a presença dos rios Tigre, Eufrates e Nilo seria determinante para a construção de grandes cidades. Porém, a moradia em cidades não era a única fórma de existência humana na região. Havia grande quantidade de povos nômades que viviam, por exemplo, de atividades comerciais.

O desenvolvimento do comércio

A especialização do trabalho e a estratificação social foram decisivas no processo de estabelecimento do Estado, na ampliação do comércio e na formação das primeiras civilizações.

Com a formação e o crescimento das primeiras cidades, o comércio se intensificou entre os grupos humanos, tornando-se mais complexo.

As transações comerciais eram feitas com base no escambo, que era a troca de um produto por outro. As partes envolvidas nas negociações passaram a reconhecer algumas mercadorias como moedas comuns. Foi assim que os cereais, o gado (bovino, caprino e ovino) e o sal passaram a ser utilizados como fórma de pagamento por outros produtos.

Em algumas regiões, materiais mais duráveis e raros, como ouro, prata e cobre, também começaram a ser usados como moedas.

Ilustração. Local aberto, com chão de terra batida, onde há homens e mulheres realizando diversas atividades. Os homens estão sem camisa e vestem uma espécie de saiote e as mulheres vestem túnicas. No canto inferior direito, há um local murado onde os animais são mantidos; um homem abre o portão enquanto outros dois homens conduzem duas cabras e um bode para fora. À esquerda, há uma construção retangular e, na frente dela, um homem sentado diante de jarros de barros expostos, provavelmente para a venda. No caminho entre a construção e o recinto dos animais, um homem com uma lança caminha ao lado de uma mulher com um jarro em cada mão. No sentido oposto, um homem caminha com um cabrito nos braços e conduz uma cabra. No centro da imagem, um homem com duas cabras conversa com outro homem que segura um saco com grãos e tem ao seu lado, no chão, outro saco com grãos e uma mulher carregando um feixe de folhas compridas no ombro. Na parte superior da imagem, um homem mais velho com três cabras conversa com dois homens; um destes homens carrega uma vara com dois animais mortos pendurados e o outro segura uma lança. À esquerda, aproxima-se um homem com um cajado de madeira na mão e, com a outra mão, conduz um boi. Na parte superior direita da imagem, há uma escada.
Ilustração atual representando um local onde era realizado o comércio.

FONTE: TONON, R. A corrente da moeda. Aventuras na História. 23 outubro 2017. Disponível em: https://oeds.link/nV71xI. Acesso em: 25 fevereiro 2022.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar de atividades comerciais e relações entre diferentes culturas e lugares, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih um quatro e ê éfe zero seis agá ih um seis e da Competência Específica de História nº 5.

Comente com os estudantes que, antes da formação das primeiras cidades, um grupo humano podia passar meses sem contato com outros. Toda a população humana, espalhada por vastos territórios, era bem menor que a da cidade de São Paulo atual. Calcula-se que havia cêrca de 8 milhões de pessoas. Dados numéricos retirados de: TAIZ, L. Agriculture, plant physiology, and human population growth: past, present, and future. Theoretical and Experimental Plant Physiology, volume 25, número 3, página 167-181, 2013.

As muitas adversidades relacionadas à sobrevivência (como fome e condições climáticas) tornavam lenta a reprodução da espécie.

Sabe-se que, antes da vida urbana, a principal fórma pela qual os indivíduos obtinham os produtos de que precisavam era o escambo (troca de um produto por outro). Essa é uma noção que os estudantes já dominam, mas é importante eles entenderem que o comércio modificou a escala das trocas e foi fundamental para a consolidação da vida urbana. Em função do comércio, foram utilizadas as primeiras moedas.

Informe aos estudantes que o dinheiro sempre teve várias fórmas, não se resumindo a moedas de metal. O dinheiro é utilizado como meio de expressão do valor de outros itens, ou seja, ao dinheiro é atribuído valor de equivalência, utilizando-o com o propósito de trocar bens e serviços. Gado, couro e tecido foram tanto mercadorias como fórmas de dinheiro nos primeiros assentamentos urbanos, mas são difíceis de transportar, acumular e guardar. Além disso, são perecíveis. Conchas, sal, grãos, contas e peças de metal em barras ou argolas de metal fundidas foram amplamente usados por serem mais práticos. As conchas de cauri (búzios), por exemplo, foram usadas como dinheiro por cêrca de 4 mil anos em toda a África, no sul e no leste da Ásia e na Oceania.

O estabelecimento do Estado

Com as trocas comerciais, intensificaram-se a circulação de pessoas e as trocas culturais no mundo antigo. Isso explica, em parte, por que havia tradições religiosas e costumes comuns em diversas partes da Mesopotâmia.

Foi provavelmente nos núcleos urbanos dessa região que se organizaram as primeiras fórmas de Estado que se conhece. Mas o que é Estado?

De maneira geral, pode-se afirmar que o Estado é a instituição que define as regras de convivência em determinado território. Isso significa que os habitantes de um local devem obedecer a essas regras. Para as civilizações que você estudará na sequência, o Estado cumpria também um papel fundamental na organização e no planejamento da agricultura, do comércio e da religião.

Na Mesopotâmia, a função política dos chefes de Estado era comumente mesclada à vida religiosa: os reis eram considerados representantes de alguma divindade na Terra. Por causa disso, eles tinham muito poder sobre a vida da comunidade.

Fotografia. Artefato de metal em formato de um polígono irregular com desenhos lineares entalhados.
Moeda encontrada na China, produzida entre 475 antes de Cristo e 222 antes de Cristo
Fotografia. Artefato oval de ouro com desenhos da cabeça de um felino de frente para a cabeça de um animal com dois chifres.
Moeda de ouro usada na região da Lídia, produzida entre 561 antes de Cristo e 546 antes de Cristo, encontrada na Turquia.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

As moedas mais antigas já encontradas foram produzidas na China. Elas apresentavam formatos variados e eram usadas apenas nas cidades. No Ocidente, as moedas mais antigas que foram encontradas estavam em sítios arqueológicos da Turquia. Como você pode observar nas imagens, não havia representações de pessoas nas moedas. Com o passar do tempo e o fortalecimento do Estado, as imagens de governantes dos reinos e dos impérios antigos começaram a ser representadas nas moedas.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Descreva as transformações que o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais provocaram na vida dos seres humanos.
  2. De que modo os rios Nilo, Tigre e Eufrates favoreceram a formação das primeiras cidades?
  3. Resuma o conceito de Estado.
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. O cultivo do solo e a criação de animais forneceram as condições necessárias para o processo de sedentarização, pois garantiram a produção de alimentos em diferentes períodos no mesmo lugar. Com isso, formaram-se as primeiras vilas e assentamentos urbanos.

2. Esses rios eram responsáveis pela grande fertilidade da região do Crescente Fértil. As cheias fertilizavam o solo e tornavam possível armazenar água em barragens para os momentos de estiagem. Era possível também aumentar a área agricultável com sistemas de irrigação. Com isso, grupos humanos grandes puderam se estabelecer nesses locais, contribuindo para a formação das cidades.

3. Estado pode ser definido, no contexto do capítulo, como unidade política que define regras de convivência para os habitantes de determinado território.

Orientação para as atividades

A atividade 3 do boxe “Agora é com você!” demanda a definição de um conceito histórico facilmente identificável no texto. Antes de propor a atividade, relacione a definição ao processo de sedentarização e ao desenvolvimento da economia agropastoril no Crescente Fértil. As atividades 1 e 2 contribuem para esse objetivo. Valorize e pondere adequadamente a identificação das informações encontradas no texto e a elaboração de respostas autônomas. Uma boa estratégia é orientar os estudantes a:

identificar e anotar as informações do texto-base;

elaborar oralmente as respostas;

registrar as respostas elaboradas no caderno;

revisar os registros;

registrar as respostas definitivas.

Curadoria

História das relações internacionais um, com píter demãn – Aula 2 – A Antiguidade Medioriental e Clássica – Parte 1 (Videoaula)

Universidade de São Paulo. E-Aulas: Portal de Videoaulas. Brasil, 2013. Duração: 28 minutos Disponível em: https://oeds.link/zqZcDo. Acesso em: 11 dezembro 2021.

O professor píter demãn, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (úspi), trata nesse vídeo das quatro grandes civilizações originais da humanidade: a egípcia, a mesopotâmica, a indiana e a chinesa. Trata também dos grandes impérios: Assírio, Babilônico, Persa e de Alexandre Magno. Por compreender todos os temas essenciais abordados no capítulo, pode ser uma boa fonte de informação.

A Mesopotâmia: sociedades, cultura e política

A história da Mesopotâmia tem quase 6 mil anos! Entre o período no qual viveram os sumérios, primeiro povo destacado na linha do tempo, e o período em que viveram os caldeus, o último deles, passaram-se mais de 3 mil anos.

Esses povos eram muito diferentes dos que existem hoje, mas algumas crenças, costumes e hábitos deles, de alguma fórma, chegaram à época atual. A divisão das horas do dia em 60 minutos e dos minutos em 60 segundos, por exemplo, foi criada pelos antigos sumérios.

Entre os povos que se estabeleceram na Mesopotâmia, você estudará os sumérios e os amoritas.

Povos da Mesopotâmia

Linha do tempo vertical. Título: Povos da Mesopotâmia. De cima para baixo, as seguintes informações: 4000 antes de Cristo: sumérios; 2500 antes de Cristo: acadianos; 2000 antes de Cristo: amoritas; 1300 antes de Cristo: assírios; 612 antes de Cristo: caldeus.
Representação artística sem proporção para fins didáticos.

Fonte: REDE, M. Família e propriedade na Antiga Mesopotâmia. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. página 35.

Mesopotâmia: reinos e impérios

Mapa. Mesopotâmia: reinos e impérios. Apresenta a região do Oriente Médio, tendo como fronteiras ao norte parte da Ásia Menor; a leste o planalto do Irã; a oeste o mar Mediterrâneo, a ilha de Chipre, a Palestina, a Fenícia e o nordeste do Egito; e, ao sul, parte do Deserto da Arábia.
Legenda:
Laranja: Civilização suméria.
Amarelo: Extensão máxima do Império Acádio.
Verde: Extensão máxima do Primeiro Império Babilônico (Amorita).
Linhas laranjas: Extensão máxima do Império Assírio (sob Assurbanipal).
Linhas verdes: Extensão máxima do Segundo Império Babilônico (Caldeu).
No mapa, a Civilização suméria localiza-se na Baixa Mesopotâmia, próximo ao Golfo Pérsico, com as cidades de Kish, Babilônia, Nipur, Lagash, Uruk, Ur, Larsa e Eridu.
A Extensão máxima do Primeiro Império Babilônico (Amorita) abrange o território descrito anteriormente e a Alta Mesopotâmia, nas regiões de Acádia e Assíria, com as cidades de Nínive, Mari e Assur. A Extensão máxima do Império Acádio abrange os territórios descritos anteriormente e partes da Caldeia, Fenícia e Pérsia, com as cidades Susa e Alepo, parte da Ásia Menor, ao norte, chegando até o Mar Mediterrâneo a oeste. A Extensão máxima do Império Assírio (sob Assurbanipal) abrange a mesma área do Império Acádio, à exceção de algumas áreas da Ásia Menor, ao norte, e da região da Caldeia, ao sul, e inclui parte do planalto do Irã, a Fenícia e a Palestina, além do Egito, onde está localizada a cidade de Mênfis. A Extensão máxima do Segundo Império Babilônico (caldeu) abrange grande parte da suméria, a região entre os rios Tigre e Eufrates até a região da Fenícia e da Palestina, incluindo as cidades de Damasco e Jerusalém. 
Na parte inferior, ao centro, a rosa dos ventos e escala de 0 a 140 quilômetros.

FONTE: VIDAL-NAQUET, P.; BERTIN, J. Atlas histórico: da Pré-história aos nossos dias. Lisboa: Círculo de Leitores, 1990. página 25, 29.

A Baixa Mesopotâmia era uma região muito fértil por causa dos regimes de cheias dos rios que deságuam no Golfo Pérsico. Já a Alta Mesopotâmia era uma região desértica e montanhosa.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar a linha do tempo, com diferentes povos e diversos momentos históricos, e o mapa da Mesopotâmia, o conteúdo dessa página contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7.

A compreensão da formação dos primeiros povos, das primeiras cidades e das primeiras civilizações é uma operação abstrata. Tendo como base a idade dos estudantes e as competências a serem desenvolvidas ao longo do ano, como um recurso didático, optou-se por iniciar o conteúdo do capítulo com um modelo antropológico desse processo. Assim, pode-se obter uma equação geral bastante usada pelos estudiosos da Antiguidade: nomadismo, domesticação de plantas e de animais, sedentarização, aperfeiçoamento de técnicas e de dispositivos culturais, divisão do trabalho, hierarquização social, aperfeiçoamento da burocracia de administração, e assim por diante.

O modelo apresentado, quando confrontado com a história dos povos estudados, em diferentes tempos e espaços, apresenta muitas singularidades. Para valorizar o conhecimento histórico e o desenvolvimento da capacidade de compreender as sociedades em seu tempo e espaço, são apresentados a seguir os povos da Mesopotâmia e os hebreus.

Destaca-se a dificuldade de sistematizar um longo período histórico em poucas páginas. Como brinca milãn cundêra no livro A lentidão, de 1995, se alguém transpuser o mesmo tempo histórico para uma música, obterá a Nona Sinfonia de betôven transformada em ruídos. De certa fórma, é o que se tem de milhares de anos de história: ruídos desse passado plural e diverso.

Ao analisar as diferentes regiões geográficas da Mesopotâmia, destaque o fato de que não há determinismo ambiental sobre os agrupamentos humanos que vivem em um local, mas, sim, relações dinâmicas que configuram singularidades nas diversas sociedades existentes. Para obter mais informações sobre o assunto, leia este livro introdutório sobre as correntes de pensamento geográfico: MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. vigésima edição São Paulo: Annablume, 2005.

Os sumérios

O grupo dos sumérios foi o primeiro a fundar cidades na região que, hoje, é chamada Baixa Mesopotâmia. Isso ocorreu por volta de 5000 antes de Cristo

As cidades sumérias eram conhecidas por terem autonomia para decidir sua vida política, econômica e cultural. Por isso, foram denominadas cidades-Estado pelos estudiosos.

Por funcionarem como Estados, não eram necessariamente vinculadas a outras cidades, reinos ou impérios. Nipur, lagach, Uruk e Ur foram cidades que funcionaram assim.

Duas características comuns a elas foram a prática de religiões politeístasglossário e uma organização política na qual os líderes (chefes de Estado) tinham, além de funções políticas, atribuições religiosas.

No centro das cidades sumérias, havia construções chamadas zigurates. Os zigurates eram dedicados aos deuses e funcionavam como locais de culto e de celebração de festividades, como o aquítu, realizado para comemorar o ano-novo.

A localização dos zigurates no centro das cidades demonstra que os deuses e os sacerdotes tinham papel central na cultura desses povos. A religião, portanto, era fundamental na vida cotidiana dessas cidades.

Fotografia. Construção quadrada de pedra vista de frente com uma grande escadaria na parte frontal, em um campo aberto coberto de areia. Ao fundo, céu azul.
O zigurate da antiga cidade de Ur, dedicado a nãna, divindade da Lua. A região hoje corresponde à província de di car, no Iraque. Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Em geral, os zigurates eram construções quadrangulares, feitas de tijolos, terra e areia, e circundadas por escadarias, com uma área de culto no topo.

Dica

LIVRO

A Mesopotâmia, de Marcelo Rede. São Paulo: Saraiva, 2014.

Nesse livro, o professor de história antiga Marcelo Rede reconstrói parte da trajetória dos povos que habitaram a região. Além disso, ele analisa documentos e objetos arqueológicos produzidos por diferentes civilizações do mundo mesopotâmico.

Respostas e comentários

Interdisciplinaridade

Ao tratar da fundação das cidades e de seus domínios sobre territórios ricos em recursos naturais, o conteúdo dialoga com a habilidade do componente curricular geografia ê éfe zero seis gê ê zero sete – “Explicar as mudanças na interação humana com a natureza a partir do surgimento das cidades”.

Ao consolidar seu poder no sul da Mesopotâmia, os sumérios dedicaram a maior parte de suas energias à construção da cidade de Uruk, ao norte de Ur. Uruk tornou-se a capital cultural da Suméria, onde se desenvolveram fórmas de arte e de escrita. Uruk se tornou também o primeiro e mais importante centro político e cultural do Oriente Próximo em relativamente pouco tempo. Por volta de 3200 antes de Cristo, a cultura de Uruk começou a expandir-se, o que coincidiu com a emergência da escrita. Informações retiradas de: CHARLES RIVER EDITORS. Ur e Uruk: a história e o legado das duas mais importantes cidades dos sumérios antigos. Createspace Independent Publishing Platform, 2017. página 7, 19-20. E-book.

Curadoria

Mesopotâmia: a invenção da cidade (Livro)

guên dôlin lêic. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

Nesse livro, Gwendolyn Leick aborda a história de dez cidades da Mesopotâmia e defende a formação de cidades como um dos principais legados dos povos que habitaram a região na Antiguidade.

Religiosidade e sociedade suméria

Os deuses mais importantes para os sumérios eram na(deus do céu), ênlil (deus do ar), ênqui (deus da água) e ninrursag (mãe-terra). Os sumérios acreditavam que esses deuses eram os criadores do universo e da vida, e os filhos e os netos deles formavam uma extensa e complexa cosmogoniaglossário .

Na sociedade suméria, a divisão do trabalho e das ocupações era evidente. Você estudou como os zigurates eram importantes. Assim, os sacerdotes, responsáveis pelos zigurates, eram muito valorizados na sociedade suméria, por exemplo.

Os sumérios viviam em uma sociedade hierarquizada, ou seja, dividida em grupos sociais. Alguns desses grupos, como o dos sacerdotes e o dos militares, eram ricos e concentravam poderes políticos. Os mais pobres, como os camponeses e os escravizados, tinham pouca ou nenhuma participação na vida política.

Entre as figuras mais poderosas na sociedade suméria, estavam o Ên , que desempenhava a função de sumo sacerdote, e o Ensi, o governante, que desenvolvia também a função militar.

Pirâmide social suméria

Ilustração. Pirâmide social suméria. À esquerda, o texto: No topo da pirâmide, estava o líder político das cidades-Estado. Quanto mais baixa era a posição na pirâmide, menores eram o poder e as condições de vida de cada grupo. Perceba que existia escravidão na Suméria. Os escravizados eram prisioneiros de guerra ou pessoas que não conseguiam pagar suas dívidas.
Ao centro, ilustração de uma pirâmide em quadro níveis numerados e breves textos explicativos, à direita. De cima para baixo:
1. Ensi (o governante) – ilustração de um homem de barbas escuras longas com manto vermelho longo adornado com detalhes em dourado e um chapéu vermelho na cabeça.
2. Sacerdotes, militares, proprietários de terra e funcionários da burocracia palaciana – ilustração de três homens com mantos longos nas cores marrom, azul e branco. O homem com manto marrom segura uma lança.
3. Comerciantes e artesãos – ilustração de quatro homens, um à esquerda com uma túnica curta em frente a um suporte com dois jarros, outro no centro com manto longo bege, e os outros dois com mantos longos, um azul e outro vermelho, conversando diante de um suporte com um jarro em cima.
4. Camponeses, escravizados e trabalhadores que viviam sob a dependência do palácio – ilustração de sete homens trabalhando: um empurrando uma pedra enorme; outro puxando outra pedra enorme por uma corda enquanto outro homem a empurra; outro quebrando pedras menores; outro ajoelhando mexendo na terra; outro com um arado trabalhando em um campo com plantas menores; e outro mexendo em algumas plantas maiores.

FONTE: crãmer, S. N. Mesopotâmia: o berço da civilização. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. página 43. (Coleção Life).

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar sobre a civilização suméria e sua religiosidade e a presença de escravizados na sociedade, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um seis e da Competência Específica de História nº 1.

Ampliando

A seguir, o historiador Carlos Rosa estabelece um diálogo com môrrice dômas para discutir o papel da religião no desenvolvimento da técnica entre os sumérios.

“Como explicou môrrice dômas, ‘Os sumérios acreditavam que todos os elementos da civilização eram objeto de uma revelação dos deuses, e que não se poderia fazer nada melhor. Esta concepção só permitiria o progresso do detalhe. O saber, objeto de uma revelação total, portanto sagrado, não poderia ser comunicado, e seria, assim, privilégio dos iniciados, dos sacerdotes que o transmitiam, mas oralmente, e não o consignavam em seus escritos, nos quais se encontra apenas um conjunto de receitas com o resultado a obter, sem sua explicação’. Nessas circunstâncias, ao progresso ocorrido na área técnica não corresponderia avanço no campo teórico, investigativo. A observação e a especulação eram restritas à casta sacerdotal, o que viria inibir o surgimento de um espírito crítico.”

ROSA, Carlos Augusto de Proença. História da ciência: da Antiguidade ao Renascimento científico. Brasília, Distrito Federal: funág , 2021. página 60-61.

Curadoria

A espiritualidade suméria como agente do pluralismo religioso (Artigo)

Luana de Almeida Telles e Túlio F. Brum de Toledo. neárco: Revista Eletrônica de Antiguidade, volume doze, número I, 2020. Disponível em: https://oeds.link/WO45CJ. Acesso em: 30 novembro 2021.

Nesse artigo são tratadas questões relacionadas à religiosidade suméria. Os autores destacam que, à medida que se sucediam os povos que dominavam a Mesopotâmia e suas cidades-Estado, não havia uma substituição de um panteão por outro, mas sim a assimilação de deuses e práticas religiosas. Pode ser um bom artigo para pensar o pluralismo religioso como fundamento das trocas culturais.

Analisando o passado

As fotos a seguir são de dois fragmentos de uma peça arqueológica mesopotâmica conhecida pelo nome de Estandarte de Ur.

Trata-se de uma caixa de madeira decorada de aproximadamente 5 mil anos. Essa caixa, que pode ter sido um instrumento musical, foi encontrada no cemitério real de Ur, no sul do Iraque. O primeiro fragmento representa a paz, o segundo, a guerra.

O estandarte é constituído por alguns materiais que não são encontrados na região dos rios Tigre e Eufrates, como conchas, calcárioglossário vermelho e lápis-lazúliglossário , provenientes do território do atual Afeganistão e do Vale do Rio Indo, na Índia.

Fotografia. Mosaico retangular, azul-escuro, com desenhos em bege-claro divididos em três fileiras. Na primeira fileira de baixo para cima, homens em pé, virados para a direita, carregando sacos, feixes e conduzindo cavalos. Na segunda fileira, todos os homens em pé, virados para a direita conduzindo carneiro, bois, bodes e cabras. Na terceira fileira, à esquerda, há um homem maior sentado virado para a direita, com dois homens em pé e diversos homens sentados virados em direção a ele; à direita, dois homens em pé, um deles segurando uma lira.
Detalhe do Estandarte de Ur, mosaico sumério produzido por volta do ano 2500 antes de Cristo Esse é o fragmento que representa a paz.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No painel referente à paz, é possível identificar certa hierarquia e estratificação social entre os personagens. Nas duas fileiras de baixo, foram representados trabalhadores carregando sacos de grãos e conduzindo rebanhos de diversos animais. No topo, foram desenhados personagens sentados em um banquete. A posição dos personagens sugere que eles não precisavam realizar trabalhos braçais e agrícolas. Eles vestem uma espécie de saia com franjas, seguram taças e, possivelmente, ingerem um tipo de bebida. No canto direito, dois personagens em pé, um deles segurando uma espécie de lira, parecem cantar e tocar instrumentos musicais para entreter os que estão sentados. Dentre os personagens representados na primeira fileira à esquerda, um se destaca por ser maior que os demais. Atente ao fato de que quase todos os outros têm o olhar voltado para ele.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a cultura material, ou seja, fragmentos da peça arqueológica Estandarte de Ur, a relação dos sumérios com outras culturas e a captura de sobreviventes transformados em escravizados, a seção “Analisando o passado” contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero dois, ê éfe zero seis agá ih zero sete e ê éfe zero seis agá ih um quatro. Além disso, por envolver a utilização de diferentes linguagens para a construção de hipóteses, mobiliza a Competência Específica de História nº 3.

Analisando o passado

Nessa seção, é proposta a leitura de duas imagens e a associação delas com informações contidas no texto e nas legendas. A análise do documento favorece o desenvolvimento da atitude historiadora ao estimular os processos de identificação e interpretação. Essa atividade exige a combinação da observação da imagem e da leitura atenta das informações auxiliares, bem como o estabelecimento de relação entre o conteúdo sobre o Estandarte de Ur e as seções anteriores do texto-base. Não deixe de comentar isso com os estudantes. Espera-se que eles percebam concepções sumérias de representação de poder, sociedade, comércio e tributos.

O Estandarte de Ur foi encontrado pelo arqueólogo britânico chárles léonard uúlei, entre 1927 e 1928, e está no Museu Britânico. Para Neil MacGregor, antigo diretor da instituição, esse objeto – que representa lado a lado os estados de paz e de guerra – revela que o poder de enriquecimento e autopreservação das cidades da Antiguidade estava “indissoluvelmente ligado ao poder de combater e ganhar guerras”. Embora não seja um objeto de grandes proporções (21,7 centímetros de altura por 50,4 centímetros de comprimento e 11,6 centímetros de profundidade na base), os materiais utilizados em sua confecção demonstram o grau de complexidade atingido pelas civilizações da Mesopotâmia. Dados apresentados retirados de: mécgrégor, N. A história do mundo em 100 objetos. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013. página 99.

Fotografia. Mosaico retangular, azul-escuro, com desenhos em bege-claro divididos em três fileiras. De baixo para cima, na primeira fileira, há quatros bigas com dois cavalos em cada e dois homens em cima de cada veículo. Alguns homens estão caídos no chão. Na segunda fileira, na metade esquerda, os homens usam armaduras. Na metade à direita os homens parecem estar nus, alguns estão caídos. Na terceira fileira, todos os homens estão em pé e há um homem maior no centro virado para a direita, vestindo um manto e segurando um cetro na mão. Todos os demais homens desta fileira estão virados para ele. O primeiro homem desta fileira, à esquerda, conduz uma carruagem puxada por dois cavalos. Há um homem menor na frente dos cavalos e mais três homens com lanças nas mãos.
Detalhe do mosaico sumério conhecido como Estandarte de Ur, de cêrca de 2500 antes de Cristo Nesse fragmento está representada a guerra.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na base do mosaico da guerra, na primeira fileira, são representados carros de combate puxados por animais. Os carros são conduzidos por soldados em batalha, que levam vantagem sobre os inimigos, alguns deles caídos no chão. Na segunda fileira, os soldados conduzem os inimigos que perderam o combate e foram capturados pelos sumérios. Os prisioneiros são privados de suas vestimentas. Na terceira fileira, esses prisioneiros são conduzidos ao líder, representado no topo da imagem em tamanho maior que o dos demais personagens. O líder é acompanhado por uma comitiva composta de guardas e, atrás dessa escolta, uma carruagem o aguarda.

Responda no caderno.

  1. Identifique nas imagens algumas características destacadas nos boxes “Imagens em contexto!”.
  2. Que atividades sociais foram representadas nas imagens? Cite e explique pelo menos duas delas.
  3. Descreva a relação entre as atividades dos personagens representados em fileiras diferentes desses painéis e a organização social na Suméria.
  4. Reflita sobre os materiais utilizados na fabricação do Estandarte de Ur, como o calcário e o lápis-lazúli. Por que o uso desses materiais ajuda a entender o comércio praticado pelos sumérios?
  5. Com base nas figuras representadas nas imagens, explique o papel da guerra e dos guerreiros na sociedade suméria. Como você chegou a essa conclusão?
Respostas e comentários

Atividades

1. A primeira questão é proposta para que os estudantes leiam de fórma atenta as legendas e os quadros, procurando identificar nas imagens reproduzidas nas páginas os elementos descritos no texto.

2. Na base do painel que representa a paz, estão desenhados um músico e trabalhadores carregando bens ou conduzindo animais. No mesmo nível em que está representado o rei ou soberano, há um grupo de homens aparentemente em um banquete. Há, portanto, no painel, elementos que representam os trabalhadores e elementos que representam os que não trabalham, incluindo o grupo mais favorecido socialmente, do qual faz parte o soberano. No estandarte da guerra, estão representados personagens que têm outras funções, como os guerreiros e os prisioneiros.

3. As imagens revelam a estratificação social dessa cidade-Estado. Podem-se traçar duas hipóteses interpretativas. Uma delas é a de que todos têm papéis definidos e há diferença evidente entre as camadas sociais representadas. Nas duas peças, verifica-se a desigualdade entre os que governam, os que trabalham e os que guerreiam. É possível identificar ainda diferenças entre os trabalhadores braçais, porque há os escravizados e os livres. Outra hipótese é de que os que banqueteiam na faixa superior podem ser os mesmos que guerreiam na face oposta, pois a elite (aristocracia) geralmente era formada por guerreiros, entre os quais também havia distinções e hierarquias.

4. Os materiais usados na produção do Estandarte de Ur eram encontrados em lugares muito distantes da Mesopotâmia, como o Vale do Rio Indo e o Afeganistão, revelando as relações comerciais entre sumérios e povos de outras regiões.

5. A segunda imagem é uma evidência de que a guerra era um aspecto essencial do poder político e econômico, porque, além da conquista de terras, havia a escravização de prisioneiros de guerra, que trabalhavam na cidade-Estado. As disputas entre cidades-Estado e impérios da Mesopotâmia eram constantes, ocorrendo diversas divisões territoriais e vários fluxos de povos invasores, entre os quais estavam os acádios, babilônios e assírios. Outra possibilidade de leitura é a de que a imagem representa a repressão interna, não uma guerra. Nesse sentido, os guerreiros mostram poder para manter a população sob contrôle. Do mesmo modo, a procissão de carregadores de produtos pode ser formada pela população da cidade, ligando o chefe dos guerreiros ao líder da outra imagem.

A escrita suméria

Como hoje se sabe tudo isso sobre os sumérios? Essas informações foram encontradas em tabuletas (tabletes) e objetos com o registro do sistema de escrita dos sumérios, chamado cuneiforme.

O sistema recebeu esse nome por causa do formato de cunha das ferramentas dessa escrita, que era gravada em tabletes de argila com pequenos objetos cortantes.

Com essa escrita, os sumérios não tinham a finalidade de registrar a língua falada, mas de armazenar informações para controlar a produção agrícola e o pagamento de impostos.

Os sumérios combinavam vários símbolos para representar números, pessoas, animais, mercadorias, territórios etcétera Entre 3000 antes de Cristo e 2500 antes de Cristo, mais símbolos foram acrescentados ao sistema sumério.

Fotografia. Objeto de argila de formato retangular com os cantos arredondados e registros em escrita cuneiforme sobre sua superfície.
Tablete de argila mesopotâmico com registro de suprimento de alimentos em escrita cuneiforme, produzido por volta de 3000 antes de Cristo O objeto foi encontrado no Iraque.
Ilustração. Mãos segurando um tablete de argila e um instrumento de madeira com a ponta curvada para fazer as inscrições.
Ilustração atual representando a cunha, um tipo de estilete utilizado para gravar os símbolos da escrita cuneiforme no tablete feito de argila.

FONTE: POTTS, D. T. Mesopotamian civilization: the material foundations. New York: Cornell University Press, 1997.

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na Antiguidade, outros povos também realizavam o registro escrito de informações. Assim, é possível afirmar que a escrita cuneiforme era um dos elementos compartilhados pelas diferentes cidades-Estado na Mesopotâmia.

Por volta de 2500 antes de Cristo, os acádios, que provavelmente já viviam na região, passaram a controlar militarmente os sumérios e transformaram suas cidades em parte de um impérioglossário , pondo fim ao domínio sumério na região.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar o desenvolvimento da escrita cuneiforme, identificando sua finalidade inicial e sua difusão entre os diferentes povos da Mesopotâmia, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero dois e ê éfe zero seis agá ih zero sete.

Praticamente no mesmo período em que os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme, os egípcios inventaram a hieroglífica. Outros sistemas de escrita completos foram criados na China, por volta de 1500 antes de Cristo, e na América Central, por volta de 650 antes de Cristo (pelos olmecas). Nas cidades próximas ao Rio Indo foram encontradas evidências de escrita que datam de milhares de anos antes de Cristo, mas não foram decifradas. Logo, não se sabe se constituíam um sistema completo ou parcial.

Pode-se propor aos estudantes uma reflexão sobre a relação estabelecida entre escrita e memória. A escrita é um meio de memória capaz de atravessar os tempos, mais estável que a tradição oral, transmitida de geração em geração. É importante notar que a invenção dos sistemas de escrita foi realizada de fórma independente em diferentes partes do mundo.

A fórma de escrita desenvolvida pelos sumérios tornou-se conhecida por seu nome grego (cuneiforme) em razão dos caracteres em estilo de cunha que a compunham. A escrita, assim como diversas outras invenções humanas, parece ter sido criada por necessidade: à medida que a cultura de Uruk crescia, os sumérios precisavam desenvolver uma fórma sofisticada de manter os registros, o que apenas poderia ser feito por meio da escrita. Apesar de ter sido usado exclusivamente para a linguagem suméria, o sistema de escrita cuneiforme foi posteriormente adaptado e empregado por povos de diferentes línguas do Antigo Oriente, como os acádios, os hititas e os persas.

Os amoritas

Por volta de 2000 antes de Cristo, os amoritas construíram um dos impérios mais conhecidos do período mesopotâmico, quando reunificaram a região e expandiram o território original do Império Acádio, Estado anterior que funcionou por cêrca de um século.

O império governado pelos amoritas era chamado de Babilônico, porque a principal cidade da região era a Babilônia. O governante amorita mais conhecido chamava-se Hamurábi. Ao chegar ao trono, ele fortaleceu a centralização do poder sobre todo o território imperial, impondo determinados aspectos culturais aos povos conquistados por meio da construção de templos e zigurates.

Para diminuir a resistência ao poder central, Hamurábi buscou manter algumas estruturas religiosas e políticas locais e adotou elementos da cultura dos povos conquistados em todo o império, como o idioma acádio e a escrita cuneiforme desenvolvida primeiro na Suméria.

Fotografia. Pedaço de pedra de formato irregular, com desenho em alto-relevo, à esquerda, representando um homem de perfil, com barbas longas ,erguendo um dos braços e, ao lado, inscrições cuneiformes.
Fragmento de calcário, produzido entre 1792 antes de Cristo e 1750 antes de Cristo, em que o imperador Hamurábi é representado erguendo o braço em adoração à deusa asratúm.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Assim como outros povos da região mesopotâmica, os amoritas eram politeístas. Com base na inscrição em escrita cuneiforme, ao lado direito da representação de Hamurábi, acredita-se que o fragmento fazia parte de uma oferenda do imperador à deusa asratúm em troca de proteção.

Por causa das tensões entre os poderes locais e o poder central e das invasões de outros povos, o Império Babilônico perdeu grande parte de seu território.

Entre 1750 antes de Cristo e 1300 antes de Cristo houve um longo período marcado por fragmentação política e por disputas territoriais nessa região. Nesse período, formaram-se diferentes impérios, como o dos assírios, o dos caldeus e o dos persas. Você estudará de fórma mais aprofundada o Império Persa no capítulo 6.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar o trabalho da arqueologia, a imagem do rei Hamurábi e a relação entre os diferentes povos no império dos amoritas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero sete e ê éfe zero seis agá ih um quatro.

Esse é um momento adequado para retomar a definição de Estado, cuja compreensão depende da comparação entres situações históricas. Se a cidade-Estado e seus dirigentes políticos mesopotâmicos exerciam soberania – isto é, o poder de mando legitimado jurídica e ideologicamente – sobre o território imediato da cidade, as transformações do Império Acádio indicam a ampliação da soberania e das fórmas de codificação e organização do poder político. Sobre as noções de Estado, soberania, poder e todo o vocabulário político utilizado comumente, recomenda-se a leitura de bóbio, N.; mateúti, N., PASQUINO, G. Dicionário de Política. Brasília, Distrito Federal: ú êne bê, 2008.

De acordo com análises globais da história, valorizando diferentes aspectos das relações socioambientais, o período de transição entre os impérios Acádio e Amorita foi marcado por uma crise ambiental expressiva que culminou em fome generalizada e maciço deslocamento populacional do norte para o Oriente Próximo e regiões mediterrâneas. A conjunção desses fatores teria desestabilizado as estruturas institucionais mesopotâmicas. Esse processo, denominado Crise do Bronze Tardio, foi analisado na obra: claine, E. H. 1177 b.C.: the year civilization collapsed. Princeton: Princeton University Press, 2021. O livro conta com tradução em espanhol, mas, até o momento, não há versão em português.

O processo de apagamento da deusa asratúm na construção histórica de religiões monoteístas gerenciadas pelo universo masculino é analisado no seguinte artigo: CORDEIRO, A. L. A. Asherah: a deusa proibida. Revista Aulas, n. 4, abr.-jul. 2007. Dossiê Religião. Disponível em: https://oeds.link/oNGlFD. Acesso em: 11 dezembro 2021.

Comente com os estudantes as tensões geradas pelo governo imperial e centralizador de Hamurábi ao submeter os poderes locais e as culturas plurais que existiam em todo o território dominado pelos amoritas.

Lei de Talião

O imperador amorita Hamurábi foi responsável por uma das mais antigas coleções de leis de que se tem conhecimento.

O Código de Hamurábi foi organizado com base em compilados anteriores, como o sumério de Ur-Nammu, escrito entre 2100 antes de Cristo e 2050 antes de Cristo, e o babilônico de êchuna, redigido por volta de 1930 antes de Cristo Esses códigos foram inspirados na Lei de Talião.

A expressão talião quer dizer que a punição para um crime deve ser tal como o crime em si, ou seja, “olho por olho, dente por dente”. No entanto, essa regra não era seguida à risca, pois o Código de Hamurábi também levava em conta o státus social dos indivíduos ao decidir sua pena.

A Lei de Talião pode parecer muito dura para os padrões atuais de penas a criminosos e condenados, mas, na época, era inovadora, pois estabelecia pena proporcional ao crime cometido.

O código babilônico era baseado na punição, e não na ideia de correção da conduta, como as leis de hoje, e foi um dos primeiros a considerar a presunçãoglossário de inocência e a necessidade de haver evidências, como testemunhas e provas materiais, para punir um criminoso.

A Lei de Talião influenciou muitas sociedades que tiveram contato com os babilônicos, como a dos hebreus, que você estudará a seguir. Com base em documentos como o Código de Hamurábi, é possível saber que, na antiga Mesopotâmia, as mulheres não eram consideradas iguais aos homens nem tinham os mesmos direitos que eles.

Elas podiam, por exemplo, sair livremente de casa e ir ao mercado, possuir propriedade, começar um negócio, envolver-se em processos judiciais e ter emprego remunerado, mas não podiam propor leis nem julgar pessoas.

Fotografia. Pedra escura, de formato vertical, com a ponta superior arredondada, com um desenho em alto-relevo na parte superior, representando um homem em pé vestindo uma túnica diante de um homem sentado em um trono vestindo uma túnica com um chapéu na cabeça e um objeto cilíndrico em uma das mãos. Ambos têm barba longa. Na parte inferior, inscrições.
Código de Hamurábi, estelaglossário produzida no século dezoito antes de Cristo
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Imagens em contexto!

O Código de Hamurábi foi registrado em basalto, provavelmente em Sippar, cidade de chamách, deus da justiça. Monumentos desse tipo foram construídos em outras cidades do império. O Código é reconhecido pelos estudiosos como o compêndio jurídico mais importante do antigo Oriente Próximo. A cena principal representada na estela é a do rei recebendo poderes de chamách.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar do registro escrito de um código de leis (o de Hamurábi) e da presença das mulheres na antiga Mesopotâmia, apontando as desigualdades sociais entre os gêneros, o conteúdo auxilia no desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero sete e ê éfe zero seis agá ih um nove.

O Código de Hamurábi está escrito em cuneiforme e na língua acadiana. É dividido em três partes: um prólogo histórico relatando a investidura do rei Hamurábi em seu papel de “protetor dos fracos e oprimidos” e a formação de seu império e realizações; um epílogo lírico resumindo sua obra jurídica e preparando sua perpetuação; um conjunto de quase trezentas leis e decisões legais que governavam a vida diária na Babilônia. Na parte jurídica, é empregada a linguagem cotidiana e simplificada, para que o código seja entendido por todos.

Os artigos são todos construídos da mesma maneira: uma frase na condicional apresenta um problema de lei ou ordem social; segue-se uma resposta no tempo futuro, na fórma de sanção para o culpado ou solução de uma situação: “Se um indivíduo fizer tal coisa, tal coisa lhe acontecerá”. Agrupados em capítulos, os problemas tratados abrangem as leis criminais e civis. As disciplinas principais são direito da família, escravidão e direito profissional, comercial, agrícola e administrativo. As medidas econômicas definem preços e salários. O capítulo mais longo diz respeito à família, que formava a base da sociedade babilônica. Trata de noivado, casamento e divórcio, adultério, incesto, filhos, adoção e herança.

Não há consenso historiográfico sobre as funções ou a configuração do Código de Hamurábi. Por um lado, defende-se a hipótese de que o código se assemelha à noção moderna de código/lei; por outro, prefere-se interpretar esse texto como um discurso de poder a fim de transmitir a ideia de que, com a emergência dos palácios, o rei, de certo modo, substituiu os templos como distribuidor da justiça derivada dos deuses.

São abundantes as fontes históricas sobre os papéis atribuídos às mulheres na Mesopotâmia. Esse assunto é discutido, por exemplo, no artigo: liôm, B.; michél, C. As mulheres em sua família: Mesopotâmia, nota de rodapé 2º milênio antes de Cristo Tempo, Rio de Janeiro, número 19, página 149-173, 2005.

Os antigos hebreus

A história do povo hebreu relaciona-se diretamente à dos povos cristãos pelo fato de eles terem criado e seguido uma religião monoteístaglossário .

Os hebreus narraram sua história em textos religiosos tidos como sagrados. Os personagens principais desses textos são denominados pais ou grandes patriarcas.

Os fundamentos religiosos estabelecidos por esses patriarcas regiam diferentes aspectos da vida pública e privada dos hebreus. As regras sobre o modo de se comportar em locais religiosos, de estudo e em outros espaços, sobre o que comer e vestir, entre outras, estão prescritas no livro sagrado dos hebreus: a Torá (que equivale aos cinco primeiros livros da Bíblia cristã).

De fórma geral, os livros sagrados de um povo servem de fontes históricas para compreender suas relações sociais no passado e no presente.

Os fatos narrados na Torá se iniciaram com a suposta criação do universo e da humanidade e terminaram cêrca de 3 mil anos atrás. O livro, porém, foi escrito entre o século cinco antes de Cristo e o século um antes de Cristo, muito tempo depois desses fatos. Antes do registro escrito, a história hebraica era transmitida oralmente de uma geração a outra.

Palestina – século dez antes de Cristo

Mapa. Palestina – século dez antes de Cristo. Apresenta o Oriente Médio, na Ásia, e o norte da África. Sem legenda. No mapa, a região da Palestina está destacada em laranja. A Palestina abrange a Península do Sinai e as áreas às margens do Rio Jordão e ao redor do Mar Morto, incluindo as cidades de Samaria, Damasco, Jericó e Jerusalém, no Oriente Médio. Fora da Palestina, estão localizadas as cidades de Gaza, próximo a Jerusalém; de Tiro e Sídon, na Fenícia; de Mênfis, Hermópolis e Tebas, no Egito; de Karkemish, na Mesopotâmia; e de Ebla, Tarso e Çatal Hüyük, no oeste da Ásia. Também foram identificadas as ilhas de Rodes e Chipre no Mar Mediterrâneo, e a região de Caldeia, ao sul da Mesopotâmia. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 140 quilômetros.

FONTE: HILGEMANN, W.; quínder, H. Atlas historique: de l’apparition de l’homme sur la terre à l’ère atomique. Paris: perrã, 1992. página 32.

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O termo Palestina é utilizado neste livro para designar a área geográfica da Antiguidade localizada próxima ao Mar Mediterrâneo e ao Rio Jordão. O nome Palestina é uma fórma grega do termo aramaico pelichtain (em hebraico pelichtin) e dava nome ao território habitado por povos filisteus no litoral.

Respostas e comentários

Comente com os estudantes que o termo Palestina já era usado na Antiguidade, não sendo uma criação geopolítica do século vinte. Informações sobre o termo palestina retiradas de: DONNER, H. História de Israel e dos povos vizinhos. São Leopoldo: Sinodal, 1997. volume 1. página 50.

Os hebreus eram povos seminômades que transitavam entre a Mesopotâmia, a Palestina e o Egito. A diáspora foi o elemento caracterizador de sua identidade. Por causa de suas relações com o território, optou-se por trabalhar com a temática dos antigos hebreus de fórma separada (mas paralela e relacional) da história dos povos mesopotâmicos. Destaca-se, no estudo, o debate a respeito das fontes históricas envolvidas nas narrativas sobre os hebreus e suas disputas por veracidade.

Bê êne cê cê

O conteúdo das páginas 61, 62 e 63, ao tratar do uso de textos religiosos, como a Torá, e de estudos arqueológicos e linguísticos na compreensão de textos judaicos, contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero dois e ê éfe zero seis agá ih zero sete. Além disso, por envolver a análise do mapa da Palestina, mobiliza a Competência Específica de Ciências Humanas nº 7.

Ampliando

O texto a seguir trata do islamismo e da relação das religiões monoteístas com Abraão.

“Três das grandes religiões mundiais tiveram início no Oriente Médio: o judaísmo, o cristianismo e o islã. As três são monoteístas. São também chamadas ‘abraâmicas’, por sua fé no Deus Único, que teria se revelado ao primeiro dos patriarcas bíblicos: Abraão reticências. As três exerceram influência na região do Mediterrâneo, mas o cristianismo e o islã se difundiram muito mais que o judaísmo. Atualmente, elas são as duas maiores religiões do mundo. Enquanto o cristianismo é sobretudo a religião do Ocidente (três quartos de todos os cristãos vivem na Europa e nas Américas), o islã se tornou uma religião importante na Ásia (três quartos de todos os muçulmanos vivem nesse continente). Na África, essas duas religiões têm mais ou menos a mesma fôrça. O islã continua firmemente enraizado na cultura árabe e é dominante nos países do Oriente Médio. Apesar disso, hoje em dia os árabes abrangem somente uma pequena parcela dos muçulmanos. O judaísmo está deixando sua marca no Estado de Israel, que foi fundado em 1948, porém apenas 5 milhões dos 14 milhões de judeus do mundo vivem ali. Quase a metade deles vive nos Estados Unidos.”

GAARDER, J. êti áli. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. página 93-94. E-book.

Ampliando

Neste livro, são abordados de fórma recorrente quatro grandes grupos de crenças: o das religiões monoteístas, o das monolátricas, o das politeístas e o das animistas. Na sequência, são citadas as definições formuladas pelo filósofo norueguês iósten gáarder para os três últimos. Vale destacar o fato de que Gaarder organiza os grupos de crenças com base em uma linha evolutiva crescente, da qual os autores deste livro discordam, mas ela é citada com um fim organizador, didático e de aquisição de vocabulário.

“MONOLÁTRICA: a monolatria é uma crença situada a meio caminho entre o politeísmo e o monoteísmo. Implica a adoração de um único deus, sem negar a existência de outros. Um deus é escolhido entre vários – por exemplo, na religião germânica se podia escolher entre Tor ou Odin, aquele em que se tivesse total confiança. Aqui a teoria fica em segundo lugar. O importante não é saber se determinado deus existe ou não, mas se ele é cultuado. Existem hoje exemplos de monolatria no hinduísmo.

POLITEÍSTA: em religiões que possuem diversos deuses, é comum estes terem funções distintas, bem como esferas definidas de responsabilidade. A criação de animais e a pesca, o comércio e os diferentes ofícios, o amor e a guerra podem ter seus próprios deuses. O mundo dos deuses com frequência é organizado da mesma maneira que o dos homens, numa família ou num estado.

ANIMISTA E CRENÇA NOS ESPÍRITOS: em muitas culturas prevalece a crença de que a natureza é povoada de espíritos. Isso se chama animismo, da palavra latina ãnimús, que significa ‘alma’, ‘espírito’.”

GAARDER, J. êti áli. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. página 15-17. E-book.

Os hebreus na região da antiga Palestina

Os estudiosos enfrentam dois grandes desafios ao usar livros como a Torá para desvendar o passado de um povo: o primeiro relaciona-se ao fato de que esses livros misturam narrativas históricas com versões míticas.

O segundo está na linguagem empregada nesses textos, como metáforasglossário e outros instrumentos narrativos, usados para transmitir valores éticos e morais: o bem e o mal, o certo e o errado, a origem e o fim, entre outros.

Por isso, os estudos linguísticos têm contribuído para que se compreenda o contexto de composição da Torá e de outros textos judaicos. Com o deciframento das línguas orientais antigas, foram reveladas outras versões para eventos narrados na Torá. Aliado ao material encontrado pelos arqueólogos, esses estudos linguísticos contribuem para desvendar o passado desse povo.

Em razão das investigações científicas, hoje é possível, por exemplo, escrever uma história dos hebreus sem usar como fonte a Torá, embora ela ainda seja considerada para o estudo do passado.

Segundo a abordagem tradicional, de base religiosa, a história dos hebreus está ligada à do patriarca Abraão. De acordo com seus textos sagrados, eles eram pastores nômades que se deslocavam no território entre a Mesopotâmia e o Egito. Em cêrca de 2000 antes de Cristo, Abraão teria recebido uma mensagem divina ordenando-lhe que migrasse, com seu povo, para a Palestina.

Fotografia. Construção de pedras com a parte superior em ruínas e restos do calçamento de pedras na frente. Em cima dessa construção é possível ver um grande arco com barras metálicas, indicando que atualmente a área foi coberta, como proteção para as intempéries.
Construção de cerca de 2000 a.C. encontrada em escavações arqueológicas feitas em Tel Dan, Israel. Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A construção mostrada na imagem foi chamada de Portão de Abraão em razão da narrativa religiosa de que o profeta Abraão havia visitado a cidade cananeia de Dã.

Respostas e comentários

Uma discussão acerca dos estudos bíblicos com base em diferentes fontes históricas pode ser encontrada em: finqueltáin, I.; SILBERMAN, N. A Bíblia desenterrada: a nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. São Paulo: Vozes, 2018.

A fuga para o Egito pode ser considerada um dos mitos fundadores da história hebraica. Essa tese pode ser encontrada nas seguintes obras de armstrông, K.: Breve história do mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2005; Uma história de Deus. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008.

De acordo com o que se sabe, as condições climáticas da região e a experiência no pastoreio dificultaram a fixação dos hebreus no entorno do Rio Jordão. Por isso, eles migraram para outras regiões da Palestina. Eles viveram, durante centenas de anos, em pequenos grupos e caravanas.

Segundo a Torá, depois de fixados na Palestina, os hebreus receberam o comando divino de migrar para o Egito. Apesar de não haver comprovação material nem registro em outro documento, essa narrativa se tornou uma das mais conhecidas da cultura hebraica.

Sabe-se que muitos hebreus conviveram com os egípcios, assim como vários outros povos da Antiguidade. No entanto, sabe-se também que alguns deles continuaram a viver na Palestina no mesmo período. Logo, não parece ter havido uma migração em massa, como sugerido nos textos religiosos.

De acordo com a Torá, os hebreus foram escravizados no Egito. Não há, entretanto, menção a esse acontecimento nos documentos egípcios. Ainda segundo a Torá, os hebreus fugiram do Egito liderados por Moisés. Contudo, até o momento não há evidências arqueológicas de que Moisés existiu.

O retorno dos hebreus para a Palestina é chamado na Torá de Êxodo. Ainda conforme a Torá, na Palestina, os hebreus organizaram-se elegendo juízes da comunidade e fundaram uma monarquia por volta do ano 1000 antes de Cristo Foram encontradas evidências de cidades hebraicas daquela época e, por isso, sabe-se do contato comercial e de disputas entre os hebreus e povos vizinhos.

Em algum momento por volta do século dez antes de Cristo, a monarquia hebraica foi derrubada após uma série de invasões estrangeiras ao território palestino, que passou a ser dominado por diferentes povos ao longo do tempo.

Fotografia. Desenho circular em pergaminho. Ao centro, há um texto em hebraico dentro de uma estrela com seis pontas feita com inscrições em hebraico. Essa estrela está dentro de um octógono com detalhes em azul e dourado. Ao redor desse desenho, há um quadrado e um losango feitos com inscrições em hebraico, que estão dentro de um círculo com inscrições em hebraico na borda. Há diversos detalhes em azul e dourado espalhados.
Estrela de Davi representada em pergaminho do Códice de Leningrado, produzido por volta do ano 1000 d.C.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Essa estrela é um dos principais símbolos do judaísmo. De acordo com a tradição, ela estava nos escudos dos guerreiros hebreus durante o reinado de Davi. Contudo, ainda não foram encontrados vestígios concretos dos grandes templos e dos reis mencionados na Bíblia.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Qual foi a estratégia utilizada por Hamurábi para diminuir a resistência dos povos conquistados?
  2. Descreva a importância da Torá para a compreensão da história dos hebreus.
  3. Explique a importância do estudo dos vestígios materiais para a construção da história.
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. Hamurábi buscou manter as estruturas religiosas e políticas locais e adotou aspectos culturais dos povos conquistados, como o idioma acádio e a escrita cuneiforme, em todo o império.

2. A Torá é o livro sagrado dos hebreus. Ela equivale aos cinco primeiros livros da Bíblia cristã e é utilizada como referência pelos hebreus para elaborar as regras sobre o modo de se portar em locais religiosos e de estudo e em outros espaços, sobre o que comer e vestir etcétera A Torá, assim como outros livros sagrados, auxilia na compreensão das relações sociais de um povo no passado e no presente.

3. Espera-se que os estudantes respondam que, por meio da análise da cultura material, ou seja, dos estudos arqueológicos, é possível conhecer a história de povos do passado e do presente. A questão foi trabalhada ao longo do capítulo, principalmente na seção “Analisando o passado”.

Orientação para as atividades

As atividades propostas requerem a identificação das informações nas duas primeiras questões e uma elaboração mais complexa na terceira. Cuide para que os estudantes tentem reelaborar com suas palavras as informações facilmente identificáveis no texto, seguindo estes passos:

identificar e anotar as informações do texto-base;

elaborar oralmente as respostas;

registrar as respostas elaboradas no caderno;

revisar os registros;

registrar as respostas definitivas.

A última atividade requer atenção do docente ao longo das leituras e na releitura do capítulo: aponte sempre a qualidade dos vestígios arqueológicos referidos ou cujas imagens são reproduzidas no capítulo. Se julgar pertinente, retome o estudo das fontes históricas, no capítulo 1.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Produza um quadro com duas colunas, conforme o modelo a seguir, completando as informações sobre os outros dois povos estudados no capítulo.

Ícone. Modelo.

Povo

Características culturais

SUMÉRIO (4000 a.C.-2500 a.C.)

Organização em cidades-Estado, associação entre poder político-religioso e militar, existência de hierarquia social, prática de politeísmo, utilização de escrita cuneiforme.

2. Relacione cada imagem a seguir às informações dos itens abaixo, sobre as fases da produção agrícola que os povos da Mesopotâmia realizavam próximo aos rios Eufrates e Tigre.

Ilustração em quadros. Quadro1. Campo aberto com pessoas usando ferramentas para fazer sulcos profundos no solo em direção a um rio. Quadro 2. O mesmo campo da imagem anterior, com um homem usando um arado puxado por bois para revirar a terra, enquanto outro homem deposita sementes no solo. Quadro 3. O mesmo campo da imagem anterior coberto por vegetação e dois homens trabalhando, um deles carrega jarros próximo a um canal cheio de água; o outro colhe vegetais.
  1. Semeadura dos campos: a semeadura ocorria no outono, principalmente entre outubro e novembro.
  2. Irrigação dos campos: no fim do verão, entre os meses de agosto e setembro, os campos eram irrigados por meio da construção de barragens e canais para liberar o solo ressecado após o período de elevadas temperaturas.
  3. Colheita das plantações: na primavera, entre os meses de abril e maio, a colheita começava um pouco antes de o nível do rio subir ou ao mesmo tempo que ele subia, pois o pico da cheia ocorria nesses meses.

Aprofundando

  1. Elabore um pequeno texto descrevendo o processo de formação das primeiras cidades da Antiguidade.
  2. Explique por que o crescimento das cidades favoreceu o desenvolvimento comercial, identificando alguns itens usados como moedas de troca nesse momento.
  3. Leia o texto a seguir, escrito em um tablete de argila por volta do ano 2000 antes de Cristo, na região da Mesopotâmia, conhecido hoje como Os tempos da escola.

“— Estudante, onde tu tens ido desde tua primeira infância?

— Tenho ido à escola.

— O que tens feito na escola?

Decorei o meu tablete, almocei, preparei meu novo tablete, escrevi-o, terminei-o; depois, apresentaram meus tabletes de recitação [ler em voz alta]; e, à tarde, trouxeram-me os tabletes de exercício. No fim da aula, eu fui para casa, entrei em casa e encontrei meu pai. Expliquei os meus tabletes de exercício ao meu pai, recitei-lhe o meu tablete e ele ficou deliciado [contente], pois enchi-o de alegria reticências

Respostas e comentários

Atividades

Organize suas ideias

1. Espera-se que os estudantes construam um quadro contendo as seguintes informações: (Povo) AMORITA (2000 antes de Cristo-1300 antes de Cristo) (Características culturais) Organização em cidades-Estado, associação entre poder político-religioso e militar, existência de hierarquia social, prática de politeísmo, utilização de escrita cuneiforme, elaboração de um sistema de leis.

(Povo) HEBREU (2000 antes de Cristo-1000 antes de Cristo) (Características culturais) Povo seminômade, fontes de informação predominantemente religiosas, prática de monoteísmo, costumes regidos pela Torá.

2. a) dois; b) um; c) três.

Aprofundando

3. Espera-se que os estudantes acionem a equação de que grupos de seres humanos passaram a manejar o solo para garantir a produção de alimentos em diferentes períodos. Com a agricultura e a consequente domesticação de animais, os grupos passaram a se fixar em territórios (processo chamado sedentarização). Tornaram-se, então, sedentários e passaram a organizar suas práticas sociais e culturais: dividiram as funções familiares, as relativas ao universo do trabalho, as do universo religioso e as da administração do assentamento. Enfim, pode-se dizer que, como regra, o desenvolvimento da agricultura possibilitou o sedentarismo, uma das características do processo de formação das cidades.

4. O crescimento das cidades contribuiu para o aumento populacional e para a especialização no desenvolvimento de tarefas/trabalhos. Assim, grosso modo, um ferreiro não criava bois ou ovelhas, ao mesmo tempo que um criador de animais não produzia as próprias ferramentas. Isso ajudou no desenvolvimento do comércio, que, no início, utilizavam como moeda de troca animais diversos (ovelhas, cabras, bois etcétera), sal, cereais e, em algumas regiões do mundo, de acordo com a disponibilidade, moedas de metal.

[No dia seguinte] o meu professor leu o meu tablete e disse:

— Falta aqui qualquer coisa — e bateu-me com a vara.

O vigilante encarregado do bom comportamento disse:

— Por que te levantas sem autorização? — e bateu-me com a vara.

O meu professor disse:

— A tua ortografia não é satisfatóriaglossário — e bateu-me com a vara.”

bácos, M. M. e outros. Origens do ensino. Porto Alegre: êdí púc érre ésse, 2000. página 165-166.

Com base no texto, faça as atividades.
  1. O que o estudante mencionado no texto aprendia?
  2. Por que o pai do estudante teria ficado “deliciado”? Qual teria sido o motivo da alegria dele?
  3. A reação do professor foi parecida com a do pai do estudante? Justifique sua resposta com base no texto.
  4. Como era o cotidiano desse estudante? Compare seu cotidiano escolar ao dele e explique possíveis semelhanças e diferenças.

6. Analise a imagem a seguir, prestando atenção à legenda, e depois faça o que se pede.

Fotografia em preto e branco. Fragmentos de um vaso com desenhos representando uma vaca com um bezerro mamando, à esquerda; duas figuras masculinas em pé com adereços na cabeça, roupas na parte de cima do tronco e sem roupa na parte de baixo, ao centro; uma terceira figura humana, semelhante às outras duas, sentada segurando um objeto nas mãos, à direita.
Inscrição em vaso encontrado em Israel com a representação de javé (um dos nomes do deus hebreu) convivendo com outros deuses. Datado do século oito antes de Cristo, tem a inscrição: “Eu o abençoo por javé de Samaria e sua Asherah (deusa-mãe de origem mesopotâmica)”.
  1. O vaso encontrado em Israel pode ser classificado como fonte histórica? Por quê?
  2. A representação de deuses mesopotâmicos no vaso hebreu é uma prova do contato entre os diferentes povos que habitavam a região na Antiguidade? Justifique.
  3. O que o desenho de javé convivendo com deuses da Mesopotâmia pode indicar sobre o período inicial da religiosidade hebraica? Por quê?
Respostas e comentários

5. Para contribuir com a formação leitora, propõe-se nessa questão um trabalho gradativo com níveis inferenciais de leitura. Para iniciar a atividade, leia coletivamente o enunciado, o excerto e o glossário, solucionando as dúvidas. Depois, questione os estudantes: que tipo de tablete é mencionado no texto? Peça aos estudantes que leiam a atividade individualmente e, depois, leia os itens com a turma.

a) Em um nível literal de leitura, com a retomada de informações explícitas no texto, os estudantes podem mencionar que ele aprendia ortografia, fazia exercícios e recitava. Para aprofundar a leitura em um nível inferencial, estimule as possibilidades de dedução, considerando as relações entre as informações apresentadas, questionando, por exemplo, se não se pode dizer que o estudante estava aprendendo a ler e escrever (“decorei”, “preparei”, “escrevi”, “recitei”).

b) Estimule os estudantes a elaborar explicações sobre a reação do pai diante da leitura do tablete. Para isso, eles devem mobilizar seus conhecimentos de mundo articulados ao texto. Questione, por exemplo, se eles costumam mostrar suas próprias atividades escolares aos familiares. Entre outras possibilidades, eles podem considerar que o pai ficou “deliciado” por ter ouvido o filho lendo e que o motivo de sua alegria foram o orgulho e a satisfação pelo empenho do filho.

c) A reação do professor ao ler o tablete foi oposta à do pai, identificando falhas no tablete (“falta aqui alguma coisa”) e punindo o estudante.

d) Para estimular níveis de inferência mais profundos, estimule os estudantes a defender seu próprio ponto de vista sobre as diferenças e semelhanças entre o cotidiano do estudante sumério e o deles. Entre outras possibilidades, os estudantes podem mencionar que o cotidiano na escola suméria era marcado por punições e por contínuos exercícios de leitura e escrita. Podem indicar também que seu próprio cotidiano escolar, embora envolva disciplina e realização de exercícios, não é marcado por punições e permite liberdade criativa.

6. a) Sim, pois o vaso é um vestígio material do século oito antes de Cristo, ou seja, é uma fonte histórica de origem arqueológica.

b) Sim, pois é uma prova de que havia intercâmbio comercial e cultural entre esses diferentes povos na Antiguidade.

c) Os estudos arqueológicos recentes revelam que a crença hebraica era inicialmente politeísta, passando por um período em que o culto a javé conviveu com o de outros deuses, até que a religião se tornasse monoteísta. Com base na imagem representada no vaso, os estudantes podem levantar hipóteses sobre essa informação.

Glossário

Domesticar
: dominar e controlar um animal selvagem, habituando-o ao contato com humanos.
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Estratificação social
: diferenciação entre as camadas sociais que constituem uma sociedade.
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Politeísta
: baseada na crença na existência de vários deuses/divindades.
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Cosmogonia
: conjunto de princípios religiosos usados para explicar a origem do universo.
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Calcário
: tipo de rocha sedimentar formada pelo acúmulo de microrganismos, como bactérias, ou pela presença de carbono.
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Lápis-lazúli
: um tipo de rocha azul. A tonalidade da cor varia de opaca até quase translúcida.
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Império
: termo usado para designar uma grande extensão de territórios – que nem sempre estão ligados uns aos outros – na qual povos de culturas diferentes são governados por um soberano, denominado imperador.
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Presunção
: nesse caso, ideia de que a pessoa é inocente e está dizendo a verdade até que se prove o contrário.
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Estela
: coluna ou placa de pedra usada como base para escrever.
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Monoteísta
: relacionado a monoteísmo, crença em só um deus. O monoteísmo prevalece em duas das maiores religiões em número de fiéis do mundo: o cristianismo e o islamismo.
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Metáfora
: palavra ou expressão usada com sentido diferente do original por meio de uma comparação.
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Satisfatório
: suficiente, bom o bastante.
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