UNIDADE 2 SOCIEDADES ANTIGAS E A INTERVENÇÃO HUMANA NA NATUREZA

A história e você: a fôrça da tradição das sociedades indígenas no Brasil

Nesta unidade, você estudará, entre outros temas, o desenvolvimento de sociedades da África, da região do Mar Mediterrâneo e da China antiga, que mantinham contato umas com as outras em razão das rotas comerciais. Antes disso, porém, conhecerá a origem e a diversidade cultural dos povos do continente americano.

Você já ouviu falar de astecas, maias e incas ou leu informações sobre esses povos? Alguns deles formaram importantes impérios e construíram grandes centros urbanos. Além disso, desenvolveram conhecimentos relacionados com a matemática e a astronomia.

Os feitos dessas sociedades geralmente são lembrados. No entanto, muitas vezes astecas, maias e incas são comparados aos povos indígenas que viviam no território correspondente ao do Brasil quando os europeus chegaram à América. Como esses povos não construíram grandes observatórios astronômicos nem formaram impérios, são chamados, de modo preconceituoso, de atrasados.

Esses indígenas não habitavam cidades e sua estrutura social era diferente da dos astecas, dos maias e dos incas. Entretanto, desenvolveram muitos conhecimentos para atender às necessidades deles. Como viviam em contato direto com a natureza, esses povos, por exemplo, utilizavam diversos tipos de planta para produzir remédios naturais.

Eles também classificaram as estrelas e compreenderam os ciclos da natureza. Observavam as constelações para se deslocar de um lugar a outro e, com base na observação dos ciclos da natureza, sabiam as épocas certas para plantar, caçar, pescar e organizar suas cerimônias. Eles ainda construíam habitações que se mantinham frescas nos dias quentes e retinham o calor nos dias frios e produziam canoas leves e ágeis.

Muitos desses grupos indígenas sobreviveram a séculos de dominação e massacres e continuam influenciando a cultura brasileira, com sua tradição e sabedoria. No Brasil, muitos indígenas importantes escrevem romances, histórias infantis, livros sobre mitologia e filosofia. Por meio de livros, artigos, sites e filmes, os povos indígenas continuam compartilhando suas tradições e seus modos de pensar, ser e estar no mundo.

Pensando nisso, você e seus colegas prepararão um podcast sobre a divulgação de escritores indígenas e algumas de suas produções. Para isso, verifiquem as etapas a seguir.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A abertura, ao propor uma pesquisa em grupo e a produção de um podcast sobre escritores indígenas brasileiros e sua produção literária, pretende promover a valorização da produção cultural desses povos, além de incentivar o protagonismo e o compartilhamento dos resultados entre os estudantes, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 3, nº 5, nº 9 e nº 10, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1 e nº 4 e da Competência Específica de História nº 7.

Abertura de unidade

Essa unidade abarca os capítulos 4 (“Os primeiros habitantes da América”), 5 (“As antigas civilizações africanas”) e 6 (“Rotas comerciais: Mediterrâneo e China antiga”) do volume. O tema escolhido para esse momento inicial foi o da valorização da produção literária, das histórias e da circulação dos bens culturais dos indígenas que vivem no Brasil. Trata-se de destacar a influência na sociedade brasileira de tal legado, permanentemente atualizado, por meio de obras de escritores indígenas. O objetivo é desmistificar uma ideia ainda persistente de que a produção cultural dos indígenas que vivem no Brasil é atrasada, diante da monumentalidade do patrimônio cultural dos maias, incas e astecas. Se julgar conveniente, problematize a dicotomia desenvolvido/atrasado, questionando a validade, o objetivo, a quem interessa e quem realiza tal tipo de classificação. A ideia é afirmar as diferenças entre as culturas e assegurar a todos o direito de existência sem discriminações. Vale ressaltar o fato de que, ao longo da coleção, haverá outros momentos de problematização de dicotomias desse tipo, como a estabelecida entre civilização e barbárie. Essa lógica preconceituosa que opõe a civilização à barbárie incidiu sobre diversos povos na história e foi constantemente aplicada aos indígenas brasileiros. Problematizar e discutir os motivos dessas classificações arbitrárias é um instrumento de construção de cidadania.

Organizar

  • Formem grupos de até cinco integrantes.
  • Pesquisem o nome de escritores indígenas e escolham um deles.
  • Levantem as seguintes informações sobre a pessoa escolhida: data de nascimento, etnia e obras escritas.
  • Escolham de um a três livros escritos pela pessoa escolhida e levantem as seguintes informações sobre a obra: data de publicação, público-alvo e tema abordado.

Produzir

  • Escrevam um texto resumido para apresentar esse autor e suas obras. Depois, produzam um pequeno texto sobre os livros que vocês selecionaram. Não se esqueçam de justificar a escolha de vocês.
  • Revisem o texto que escreveram para que ele fique compreensível, curto e adequado ao formato de podcast.
  • Ensaiem a apresentação do podcast, gravem várias vezes o texto e escolham a melhor versão do trabalho de vocês.

Compartilhar

  • Após a conclusão do trabalho, compartilhem o podcast com o professor e com os colegas dos outros grupos.
  • Divulguem os podcasts de todos os grupos em suas redes sociais e na página da escola na internet, se possível.
Fotografia. Um homem, ao centro, segurando um microfone. Veste camiseta preta, calça azul e um chapéu. À frente dele, pessoas vistas de costas, sentadas em cadeiras, assistindo-o falar. Atrás dele, uma parede de vidro com cartazes colados e estantes com muitos livros.
Líder indígena Ailton crenác no lançamento do livro Ideias para adiar o fim do mundo, em Manaus (Amazonas). Foto de 2019.
Respostas e comentários

Tema Contemporâneo Transversal

A atividade proposta na abertura, ao incentivar os estudantes a pesquisar informações sobre escritores indígenas e suas produções literárias, valorizando o legado dos povos originários, que se atualiza constantemente por meio de suas obras, contribui para o desenvolvimento do Tema Contemporâneo Transversal Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Atividade

Oriente os estudantes na realização da atividade. Sugere-se que você reserve uma aula para organizar e dividir a turma em grupos. Em seguida, debata com os estudantes a proposta da atividade. Esse é o momento de definir se os grupos trabalharão com um ou mais autores indígenas e se a pesquisa será realizada no ambiente escolar (caso haja condições para isso) ou como tarefa de casa. Essa é uma excelente oportunidade para verificar se no acervo da biblioteca da escola há obras assinadas por indígenas. Solicite aos grupos que façam um levantamento de escritores indígenas em livros, jornais, revistas e, depois, ajude-os a escolher o autor que será trabalhado. Caso haja a possibilidade de realizar essa pesquisa na internet, o levantamento é relativamente simples: utilizando os descritores “autores indígenas”, “autoras indígenas”, “escritores indígenas”, “escritoras indígenas”, os estudantes terão acesso a listas com vários nomes oriundos de diferentes etnias. Se houver dificuldade na pesquisa, sugira aos estudantes nomes como Ailton crenác, Graça Graúna, Denilson bãníua, durrigó, Katú Mirim, dijuêna ticúna, Cristino uápixãna e Aline patchamãma.

Feita a seleção dos autores indígenas pelos grupos, a produção dos podcasts pode ocorrer em uma ou duas aulas. Caso os estudantes tenham autonomia, solicite essa etapa como tarefa de casa. Do contrário, a produção dos textos que serão narrados deve ser realizada em sala de aula. Reserve um momento para revisar os textos e verificar se todos os grupos têm acesso a aparelhos em condições de realizar as gravações de voz.

Por fim, reserve uma aula para os estudantes compartilharem os áudios produzidos. Se não houver possibilidade de produzir um podcast, pode-se adaptar a proposta para a realização de seminários para que cada grupo compartilhe o resultado da pesquisa com o restante da turma.

CAPÍTULO 4 OS PRIMEIROS HABITANTES DA AMÉRICA

Você já reparou que as pessoas com as quais você convive na escola e no município onde mora têm sobrenomes diferentes? Eles podem ser de origem portuguesa, espanhola, alemã, italiana, árabe, japonesa ou de muitas outras localidades. Isso acontece porque os ancestrais da maioria da população brasileira vieram de outros continentes.

As migrações sempre estiveram presentes na história. Como você sabe, a espécie humana originou-se na África e se espalhou pelos demais continentes. Hoje, muitas pessoas se deslocam pelo planeta, por diversos motivos.

Ilustração. Sala de aula com seis crianças sentadas em carteiras dispostas em duas fileiras. Na primeira fileira, da esquerda para a direita, há um menino branco com cabelos castanhos curtos usando óculos escuros e em sua carteira há uma bengala apoiada; uma menina branca de cabelos loiros, longos e presos e olhos azuis; um menino negro de cabelos pretos curtos e olhos pretos com óculos de grau. Na segunda fileira, da esquerda para a direita, há uma menina branca de cabelos pretos arrumados em uma trança e olhos castanhos; uma menina negra de cabelos pretos, longos e presos e olhos castanhos; e um menino de feições asiáticas com cabelos curtos e olhos castanhos.
Ilustração atual mostrando a diversidade étnica e cultural brasileira representada em uma sala de aula idealizada.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Uma das características da população brasileira é a heterogeneidade, ou seja, ela é composta de pessoas de diferentes etnias, provavelmente com ancestrais que vieram de lugares diferentes do planeta.

Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Em sua opinião, por que pessoas sozinhas ou em grupos migram atualmente?
  2. Por que o ser humano se deslocava no período da história antes da escrita?
  3. Em sua opinião, quais são as semelhanças e as diferenças entre as migrações dos primeiros seres humanos e as de hoje em dia?
Respostas e comentários

Abertura

No texto, procura-se chamar a atenção dos estudantes para um aspecto do cotidiano e do espaço/tempo presentes (a diversidade de origens familiares) como fórma de instigar a reflexão sobre processos de migração ao longo da história. Além disso, o texto pode ser utilizado para desenvolver a consciência histórica dos estudantes, demonstrando como as atuações humanas variam no tempo e no espaço. Com as perguntas, pretende-se despertar a curiosidade deles para assuntos que serão abordados no capítulo. Além disso, ao estabelecer diálogo com temáticas apresentadas anteriormente, enfatiza-se a relação desse capítulo com os anteriores. Por fim, as questões apresentadas também permitem discutir rupturas e permanências, pois até hoje o ser humano se desloca, mas as motivações e as maneiras tendem a se alterar, dependendo da época ou do lugar.

Atividades

1. As migrações atuais podem ocorrer por numerosos fatores. De fórma geral, as pessoas se deslocam em busca de melhores condições de vida, oportunidades de trabalho etcétera Também é possível relacionar o processo atual de migração às guerras ou aos problemas sociais graves (fome, pobreza e desemprego), às catástrofes ambientais, às perseguições políticas e religiosas etcétera Se possível, pergunte aos estudantes que apresentam ascendência estrangeira se eles sabem os motivos pelos quais seus bisavós, avós ou outras pessoas da família vieram para o Brasil.

2. A resposta deve estar relacionada ao conteúdo trabalhado, que caracteriza os primeiros grupos humanos como nômades, ou seja, eles se deslocavam em busca de alimento e/ou abrigo, em razão de fatores climáticos ou ambientais etcétera Esse fato mudou com o processo de sedentarização.

3. Espera-se que, partindo de hipóteses, os estudantes consigam estabelecer comparações entre as migrações dos primeiros seres humanos e as atuais. Ainda que não se possa definir os “motivos” pelos quais os primeiros seres humanos migravam, pode-se supor que eles se deslocavam à procura de boas condições de subsistência – o que pode ser apontado pelos estudantes como uma das semelhanças entre os deslocamentos da história antes da escrita e os dos dias de hoje. Como diferença principal, eles podem indicar questões relacionadas aos conflitos armados, perseguições religiosas, pobreza e desemprego, mais próximas da realidade dos grupos humanos que migram atualmente.

A origem dos primeiros americanos

Você aprendeu que a espécie humana se originou na África e, aos poucos, espalhou-se pelo planeta Terra.

Até povoar a América, continente que você habita, os seres humanos tiveram de percorrer um longo caminho. Que caminho foi esse? Quando eles chegaram à América? Como conseguiram se deslocar por distâncias tão grandes?

De acordo com as hipóteses científicas mais aceitas para responder a essas questões, os seres humanos chegaram à América em sucessivas ondas migratórias e passaram principalmente pelo extremo norte do continente.

Se você já fez uma trilha, deve ter percebido como é difícil se deslocar por ambientes naturais, principalmente sem os atuais meios de transporte e sistemas de localização. Assim, pode imaginar que esses grupos humanos não concluíram o percurso rapidamente nem fizeram isso ao mesmo tempo. Em um processo que durou milhares de anos, pequenos grupos humanos foram se dispersando pelo planeta, devagar, até atingir a América.

As dificuldades para realizar um deslocamento tão grande eram muitas. Por que, então, esses grupos fizeram isso?

Como você já estudou, os integrantes de muitas comunidades primitivas viviam da caça e da coleta e sempre estavam se deslocando, pois dependiam de recursos naturais disponíveis em determinado local para sobreviver. É provável que, à medida que a população dessas comunidades aumentava, os recursos se tornavam cada vez mais insuficientes para alimentar a todos. Assim, os indivíduos tinham de explorar outros locais.

Esse pode ter sido um motivo para parte dos grupos humanos vir para a América. Independentemente dos motivos, porém, sabe-se que, por volta de 12 mil anos atrás, havia humanos em boa parte da América.

Fotografia. Em primeiro plano, um homem com blusão de capuz azul, luvas cinza e calça de pele branca guia vários cachorros presos por coleiras. O chão está coberto de neve. Ao fundo, pequena vila com casas de telhados triangulares cobertos de neve.
Caçador inuíte com seus cães, usados para transporte, em cúlor suác, na Groenlândia, território dinamarquês na América do Norte. Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os inuítes são indígenas que habitam a porção do extremo norte do continente americano, em territórios localizados na Groenlândia, no Canadá e nos Estados Unidos (no estado do Alasca). Até hoje, eles usam cachorros para puxar trenós e se deslocar sobre o gelo.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre o povoamento da América foram retirados de: Os PRIMEIROS americanos? Pesquisa fapésp, número 152, outubro 2008. Disponível em: https://oeds.link/iQWp7c. Acesso em: 28 déz 2021.

Objetivos do capítulo

Apresentar as explicações científicas para o povoamento do continente americano, reconhecendo as evidências com base nas quais é possível descrever esse processo.

Analisar de fórma crítica alguns preconceitos, discursos e estereótipos construídos sobre as populações nativas do continente americano.

Apresentar a diversidade cultural existente no continente americano antes da chegada dos europeus, bem como a distribuição geográfica de algumas sociedades indígenas e os intercâmbios realizados entre elas.

Propor uma reflexão sobre a ação humana como transformadora do espaço.

Analisar processos históricos relacionados ao desenvolvimento das civilizações maia, asteca e inca e dos indígenas do atual território brasileiro.

Justificativa

Os objetivos listados nesse capítulo visam sensibilizar os estudantes para a diversidade cultural dos povos nativos do continente americano, demonstrando como esses desenvolveram estruturas socioambientais complexas antes da chegada dos europeus. Eles se justificam porque o trabalho de apresentação e análise desses processos e estruturas é fundamental para valorizar a história e a memória dos povos indígenas, desconstruindo estereótipos a respeito desses povos. Além disso, são relevantes na medida em que historicizam os processos de migração e propõem problematizar o potencial dos seres humanos de intervir e transformar a natureza, o meio em que habitam.

O impacto sobre a natureza

A presença humana na América causou um impacto muito forte sobre a natureza. Quando os primeiros Omo sápiens aqui chegaram, encontraram uma megafaunaglossário composta de mamutes e mastodontes, roedores do tamanho de ursos, camelídeosglossário , leões gigantescos, tigres-dentes-de-sabre e preguiças-gigantes. Alguns milênios depois, a maioria dessas e de outras espécies havia sido extinta.

Apesar de as causas ainda serem incertas, de acordo com os pesquisadores, alguns fatores podem ter contribuído para o desaparecimento da megafauna. Entre esses fatores, estavam as mudanças climáticas e a ação do ser humano.

Ilustração. Cinco espécies de animais extintos em um campo aberto. Da esquerda para a direita: um mastodonte (Mammut), animal semelhante ao elefante, com grandes presas voltadas para cima; um mamute (Mammuthus), animal também semelhante ao elefante, porém mais alto do que o mastodonte e com presas maiores e mais curvadas;  um tigre-dentes-de-sabre (Smilodon populator), animal semelhante a um tigre, com grandes dentes caninos; uma preguiça-gigante (Megatherium e Etemotherium), animal semelhante ao bicho-preguiça, porém de dimensões muito maiores; e um camelo gigante (Titanotylopus), animal com uma corcova nas costas, semelhante ao camelo, porém mais alto.
Ilustração atual representando a antiga megafauna americana.

Fonte: NASCIMENTO, C. R.; GALLO, V. Megafauna brasileira. Rio de Janeiro: ComCiência, 2020. E-book.

Como os primeiros grupos humanos se espalharam pelo continente?

Analisando registros arqueológicos encontrados no continente americano, os cientistas elaboraram algumas teorias a respeito dos primeiros habitantes da América e do povoamento do continente.

De acordo com a hipótese mais aceita, os primeiros seres humanos chegaram à América no final da última glaciação, pelo norte do continente, através do Estreito de Béring. Conforme essa hipótese, os primeiros povoadores vieram da Ásia.

Dica

FILME

A era do gelo

Direção: crís uédge, Carlos Saldanha. Estados Unidos, 2002. Duração: 81 minutos

A animação é imprecisa do ponto de vista científico, mas pode ajudá-lo a refletir sobre o modo como as pessoas imaginam algumas das espécies mencionadas no capítulo. Se você já assistiu ao filme, deve se lembrar do personagem síd. Ele é uma representação de uma preguiça-gigante. Esse animal, que viveu durante o Pleistoceno (aproximadamente de 12 a 13 mil anos atrás), chegava a medir 6 metros de altura e pesar 5 toneladas.

Respostas e comentários

Classificação indicativa de A era do gelo: livre.

Bê êne cê cê

Ao tratar do impacto ecológico da presença humana na América, das teorias e das rotas do povoamento americano, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero quatro, ê éfe zero seis agá ih zero cinco e ê éfe zero seis agá ih zero seis e da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7.

A animação A era do gelo tem por referência a era geológica conhecida como Pleistoceno. O resfriamento da calota polar do Ártico ocasionou deslocamentos de grupos humanos e de outros animais e extinção de espécies. Note que ela apresenta, como qualquer documento histórico, as marcas do tempo de seu lançamento. Em 2002, as discussões sobre o efeito estufa estavam em pauta. Lembre aos estudantes que a dinâmica de aquecimento e resfriamento da atmosfera é um fenômeno da natureza, mas a ação humana provocou alterações profundas nesse processo.

No século vinte, três hipóteses foram formuladas para explicar a presença do ser humano na América: a do autoctonismo, a da origem polinésia e a da origem asiática (via Estreito de Béring). A primeira e a segunda já foram descartadas pela ciência, enquanto a terceira é consensual. É importante comentar com os estudantes que as hipóteses apresentadas são baseadas em fontes e argumentação científica. Enfatize o caráter dinâmico da produção do conhecimento e o fato de que hipóteses podem ser reforçadas por meio de novas pesquisas ou substituídas por outras.

Os modelos mais aceitos baseiam-se na chegada dos grupos humanos pelo Mar de Béring. De acordo com um deles, o povoamento iniciou-se por terra, com a chegada dos seres humanos pelo Estreito de Béring. Conforme o outro, os seres humanos podem ter chegado à América pelas Ilhas Aleutas, localizadas ao sul do Mar de Béring. A principal discussão é sobre o modo como o continente foi povoado.

De acordo com a chamada hipótese de Clóvis – nome da cidade no Novo México, nos Estados Unidos, onde foram encontrados artefatos de pedra e ossos fabricados por grupos que ocuparam a América do Norte e a Central por volta de 13 mil anos atrás –, levas de populações provenientes da Sibéria se estabeleceram na América do Norte e, de lá, deslocaram-se para os territórios ao sul. Por muito tempo aceito, o modelo de Clóvis tem-se provado insuficiente, pois centenas de sítios arqueológicos com mais de 13 mil anos foram encontrados em diversos locais do continente, incluindo o Brasil.

As glaciações (ou eras do gelo) são fenômenos recorrentes no planeta – a última ocorreu entre 50 mil e 12 mil anos atrás, aproximadamente. Durante os períodos de glaciação, ocorrem frio intenso e aumento das geleiras nos polos.

Hoje as geleiras ocupam 10% da área total da Terra. Na mais recente era do gelo, elas ocupavam cêrca de 30% da parte terrestre do planeta e dos oceanos. Esse fenômeno pode ter provocado o recuo dos mares em alguns locais, formando conexões de terra e gelo entre territórios que antes estavam separados pelas águas.

Uma dessas conexões pode ter ocorrido no Estreito de Béring, região entre a Sibéria (na Ásia) e o Alasca (na América). De acordo com a hipótese mais aceita sobre o povoamento da América, essa situação facilitou a vinda de pessoas para o continente americano, que navegavam em pequenas embarcações a partir de ilhas localizadas ao sul do Mar de Béring.

Outras hipóteses, hoje menos aceitas, foram propostas. De acordo com uma delas, povos originários da Oceania chegaram à América cruzando o Oceano Pacífico. Conforme outra teoria, proposta pela arqueóloga franco-brasileira niêd guidôn, os primeiros seres humanos que chegaram à América partiram da África, em pequenas embarcações, e atravessaram o Oceano Atlântico.

Os possíveis caminhos do ser humano para a América

Mapa. Os possíveis caminhos do ser humano para a América. Apresenta o planisfério com a representação dos continentes.  As possíveis rotas humanas são representadas por setas vermelhas. As rotas terrestres são acompanhadas pela silhueta de uma pessoa caminhando. As rotas marítimas são acompanhadas pela silhueta de duas pessoas em uma embarcação. Sem legenda. 
No mapa, uma rota terrestre parte do centro da África em direção ao norte do continente, passando pelo deserto do Saara. A partir daí há duas ramificações: uma rota vai para a Europa, na região da atual França e depois segue para a região da atual Escandinávia; a outra segue para a Ásia onde se ramifica em outras duas rotas. A primeira segue até a Sibéria, avança pelo Estreito de Bering, passa pelo Alasca até chegar à América do Norte e, na sequência, à América do Sul. A segunda rota segue por terra até o leste da Ásia, depois avança pelo mar, contornando a costa leste asiática pelo Oceano Pacífico, chegando ao Golfo do Alasca, à costa oeste da América do Norte e da América do Sul. Outras rotas marítimas partem da região da atual Tailândia e da Indonésia para a Oceania.
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 2.340 quilômetros.
 

FONTE: dubí, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 14-15.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. De acordo com as hipóteses científicas mais aceitas, como os primeiros seres humanos chegaram ao continente americano?
  2. Indique um impacto ecológico resultante da presença dos primeiros seres humanos no continente americano.
  3. Descreva o fenômeno das glaciações. Como ele está relacionado com uma das hipóteses sobre a ocupação do continente americano por seres humanos?
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre o percentual de cobertura das geleiras ao redor do globo retirados de: COMO ocorrem as eras glaciais? Existe mais alguma prevista? Superinteressante, 18 abril 2011. Disponível em: https://oeds.link/Twc8Eg. Acesso em: 28 dezembro 2021.

Agora é com você!

1. De acordo com as hipóteses científicas mais aceitas, os seres humanos chegaram ao continente americano em diversas ondas migratórias, as quais passaram pelo extremo norte da América.

2. Estima-se que o desaparecimento da megafauna (composta de tigres-dente-de-sabre, mamutes e mastodontes, entre outros) esteve relacionado à ação do ser humano no continente americano.

3. As glaciações são períodos de frio intenso que causam o aumento das geleiras nos polos e a consequente retração de águas nos oceanos. Com isso, em alguns lugares emergem conexões de terra e de gelo ligando territórios que antes eram separados pela água. De acordo com a hipótese mais aceita a respeito da ocupação do continente americano pelos humanos, essas conexões ocorreram no Estreito de Béring, região entre a Sibéria, na Ásia, e o Alasca, na América, possibilitando a passagem entre esses lugares.

Orientação para as atividades

Nas atividades são propostos dois procedimentos: diferentemente da atividade 1, mais restrita à localização de informações no texto, as questões 2 e 3 mobilizam processos cognitivos ligados à tradução das informações identificadas. Atente, portanto, a essas diferenças:

oriente a identificação das informações necessárias para cada resposta (anotações no caderno de frases e palavras-chave);

incentive a tradução, ou seja, o uso das palavras dos estudantes resultante dos processos de sistematização das informações.

É possível que alguns dos estudantes apresentem dificuldades em sistematizar as informações identificadas para produzir respostas com o uso das próprias palavras. Se alguns foram capazes apenas de copiar os trechos adequados, valorize esse movimento de caráter indutivo, pois é uma etapa importante para elaborações mais complexas.

Os primeiros povos ameríndios

Os primeiros grupos que se estabeleceram na América, chamados de paleoíndios, são os ancestrais dos povos indígenas americanos. Eles deram origem a diversas etnias, com língua, costumes e organização social diferentes. Os instrumentos utilizados pelos habitantes do Alasca, como o arpão ou as agulhas de marfim, eram muito diferentes dos usados pelos grupos que viviam na região da Patagônia.

Havia, porém, semelhanças nos modos de vida desses primeiros habitantes da América, principalmente entre comunidades que mantinham contato umas com as outras. De modo geral, elas eram formadas por pequenos grupos nômades que praticavam a caça, a pesca e a coleta de vegetais e frutos.

Ao se deslocar, esses grupos transmitiram conhecimentos de certas práticas para outros que viviam na América. Um desses conhecimentos envolvia a técnica para fazer artefatos de pedra, como pontas de lanças e flechas. Além da pedra, esses povos empregavam outros materiais, como ossos e pele de animais, madeira e fibras vegetais, para construir abrigos e instrumentos de trabalho.

Alguns povos deixaram de ser nômades e, com o tempo, deram origem a sociedades complexas. O processo de sedentarização desses povos apresentou variações locais, mas esteve relacionado à domesticação de animais e ao início da agricultura, que ocorreram por volta de 7 mil anos atrás.

Os primeiros vegetais cultivados na América foram o feijão, a abóbora, o tomate, o algodão e especialmente o milho, que se tornou a base alimentar de muitos povos. Em diversas partes do continente, também teve destaque o cultivo da batata e da mandioca.

Fotografia. Vista aérea de um campo aberto gramado, com desenhos geométricos formados por sulcos na terra. Ao fundo, árvores e o céu azul entre nuvens.
Foto aérea do geoglifo do Tequinho, em Rio Branco Acre . Foto de 2013.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os geoglifos são vestígios da ocupação humana em determinada região. Na fronteira entre Brasil e Bolívia, há mais de duzentos deles, espalhados por 248 quilômetros, formando uma rede de avenidas e valas que datam de 200 antes de Cristo até o século treze. Estima-se que a área tenha abrigado até 60 mil pessoas.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre os geoglifos foram retirados de: LOPES, R. J. As cidades perdidas da Amazônia. Superinteressante, 13 abril 2018. Disponível em: https://oeds.link/FGR63a. Acesso em: 28 dezembro 2021.

Bê êne cê cê

Ao abordar os vestígios arqueológicos e a diversidade cultural dos povos ameríndios, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero cinco e EF06HI07, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 3 e das Competências Específicas de História nº 2, nº 5 e nº 6.

Interdisciplinaridade

Ao tratar da ocupação e da transformação do espaço e da domesticação dos recursos vegetais, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade do componente curricular geografia ê éfe zero seis gê ê zero dois – “Analisar modificações de paisagens por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos originários”.

Esse é um bom momento para discutir com os estudantes dois conceitos fundamentais: o de raça e o de etnia. O primeiro ponto a ser destacado é o de que o termo raça tem uma variedade de definições usualmente utilizadas para descrever um grupo de pessoas que compartilham certas características morfológicas. No entanto, a maior parte dos biólogos, geneticistas, antropólogos e historiadores rejeita o uso científico do conceito, que só pode ter aplicabilidade biológica quando as espécies de determinado grupo se apresentam homogêneas. Essa condição, presente em alguns animais domésticos, não é encontrada nos seres humanos: “o genoma humano é composto de 25 mil genes, e as diferenças mais aparentes entre indivíduos (cor da pele, textura dos cabelos, formato do nariz) são determinadas por um grupo insignificante desses genes. A diferença entre um negro africano e um branco nórdico, por exemplo, compreende apenas 0,005% do genoma humano. Do ponto de vista biológico, ‘raças’ humanas não existem.” Citação foi retirada de: QUINTÃO, C. C. A. êti áli. Raça versus etnia: diferenciar para melhor aplicar. Dental Press J. Orthod. ano 3, número 15, página 122, 2010.

Curadoria

Geoglifos: paisagens da Amazônia Ocidental (Livro)

Denise Pahl Schaan, Alceu Ranzi e Antonia Damasceno Barbosa (organizador). Rio Branco: gê cá norônha, 2010.

Essa obra trata dos geoglifos produzidos, durante mais de mil anos, por povos que ocuparam a região compreendida entre o leste do Acre e o oeste de Rondônia, assim como entre o norte da Bolívia e o sul do Amazonas.

Os maias

Os maias eram descendentes de povos caçadores-coletores nômades. Eles habitavam regiões da chamada Mesoaméricaglossário (veja o mapa a seguir) e cultivavam diversas espécies de milho, além de cacau, algodão, tomate e batatas. Eles também domesticavam animais, como a abelha (para obtenção de mel) e o peru (utilizado como parte de sua alimentação).

Mesoamérica: civilizações

Mapa. Mesoamérica: civilizações. O mapa apresenta a região que hoje corresponde à parte sul do México, Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica. Na área mais ao norte do Lago Chapala ficava a civilização chichimeca e, mais próximo do Golfo do México, a huasteca. Na altura do Lago Chapala e do Lago Texcoco, e das cidades de Tenochtitlán, Tula e Teotihuacán, ficava a civilização tolteca. Mais ao sul, perto das cidades de Tehuacán e Tres Zapotes, ficava a civilização asteca. Mais ao centro, estavam as civilizações olmeca e mixteca e, mais próximo do Oceano Pacífico, a zapoteca. Em seguida, na região das cidades de La Venta, Palenque, Piedras Negras, Bonampak, Tikal e Copán, estava a civilização maia. Na Península de Yucatã, abrangendo as cidades de Chichén Itzá e Uxmal, ficava a civilização maia-tolteca.
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 240 quilômetros.

Mapa. A Mesoamérica atual (2021). Apresenta o sul da América do Norte e parte da América Central com a divisão política dos países.
O México é representado parcialmente, considerando apenas a porção sul do território. Os demais países representados são: Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica. No território mexicano estão indicadas as regiões de Yucatã, Veracruz, Hidalgo, Tabasco, Chiapas, Guerrero e Oaxaca. No lado direito, fora do mapa, a rosa dos ventos e escala de 0 a 660 quilômetros.

FONTES: FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. quarta edição São Paulo: Moderna, 2013. página 67; dubí, G. átlas istorrique mondiál. Paris: Larrússi, 2003. página 236.

Os maias eram politeístas e, em rituais religiosos, realizavam sacrifícios humanos. Essa prática se relacionava à concepção de mundo deles, segundo a qual o sangue humano era necessário para que o Sol aparecesse todos os dias e a escuridão não tomasse conta da Terra.

Entre os séculos três e nove, eles aperfeiçoaram sistemas de calendários, relacionados ao culto religioso e à agricultura, e aprimoraram suas cidades, que funcionavam de maneira independente umas das outras. Em razão disso, podem ser chamadas de cidades-Estado.

Cada governante exercia o poder sobre uma cidade ou, no máximo, sobre uma região. As cidades se envolviam em guerras e também firmavam alianças umas com as outras. Além disso, estabeleciam redes comerciais de longa distância com outros povos da região.

As cidades maias acabaram desaparecendo. De acordo com algumas teorias, isso ocorreu em razão de fenômenos ecológicos e climáticos, como mudanças nos regimes de chuva e esgotamento dos recursos naturais. Já outras hipóteses apontam que as consecutivas guerras levaram a população maia a abandonar as cidades entre os séculos dez e catorze.

O fato de os maias terem abandonado suas cidades, voltando a viver em vilas e aldeias, não os extinguiu. Atualmente, seus descendentes compõem o segundo maior grupo de indígenas em países como o México.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar os maias com base em vestígios arqueológicos, suas fórmas de organização social, seus centros urbanos, sua distribuição espacial, seus modos de intervir na natureza e suas práticas religiosas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero cinco e ê éfe zero seis agá ih zero oito, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7 e das Competências Específicas de História nº 2 e nº 6.

Se julgar pertinente, informe aos estudantes que, com base em pesquisas arqueológicas, sabe-se que os ancestrais dos maias eram caçadores-coletores que, por volta do século quatro antes de Cristo, começaram a formar pequenas vilas e, com o tempo, aldeias complexas. Os maias realizavam trocas com outros povos da região da Mesoamérica.

As cidades maias localizavam-se em uma região do continente habitada por diferentes povos. Alguns deles, como os olmecas e os zapotecas, formavam complexas culturas indígenas. Os contatos estabelecidos entre os diversos povos da região ajudaram a compor a complexa rede de significados do universo cultural maia.

Se julgar pertinente, comente com os estudantes que a aplicação dos conhecimentos matemáticos e astronômicos na arquitetura maia conectava-se com seu sistema religioso. Nos equinócios de primavera e de outono, ao longo do dia, é possível observar que a movimentação do Sol projeta sombras na escadaria da pirâmide de cuculcãn, em iucatãn, no México, simulando o corpo de uma serpente.

Curadoria

Além do eterno retorno: uma introdução às concepções de tempo dos indígenas da Mesoamérica (Artigo)

Eduardo Natalino dos Santos. Revista úspi, São Paulo, número 81. página 82-93, março-maio 2009.

O artigo apresenta as concepções de tempo dos indígenas da Mesoamérica, discutindo ideias disseminadas no senso comum acerca das profecias que supostamente apontavam o fim do mundo, como a centrada no ano de 2012. Nos mitos mesoamericanos havia a concepção de várias eras ou sóis, que designavam cada um dos tempos previstos para começar e terminar com grandes eventos cataclísmicos. Essa concepção estava presente também no chamado Ocidente medieval, em que a escatologia em torno do ano 1000 prenunciava o fim do mundo marcado por eclipses, passagem de cometas etcétera

Os astecas

Os astecas, nome mais convencional dado aos mexicas (como eles próprios se chamavam), desenvolveram sua civilização séculos depois que as cidades maias entraram em decadência.

Enquanto os maias habitavam locais entre o centro e o sul da Mesoamérica, os astecas viviam entre o centro e o norte dessa região (analise o mapa da página 73).

De acordo com seus relatos, eles habitavam inicialmente um local chamado aztlan, de onde migraram por muito tempo até chegar à região central do México. Lá, estabeleceram-se em uma pequena ilha, no centro do Lago tescôco. Esse foi o núcleo do que seria a cidade de Tenochtitlán.

O pequeno povoado, inicialmente muito pobre e militarmente fraco, recebeu forte influência de grupos que já habitavam a região, como o dos toltecas, passando a adotar costumes e deuses comuns na Mesoamérica.

Fotografia. Folha de papel quadrada com ilustrações. As bordas são cinzas. Duas linhas diagonais cruzam a folha, formando quatro triângulos. No centro, sobre as linhas, a representação de uma águia pousada em um cacto. Em cada um dos triângulos há desenhos de pessoas, espigas de milho, outras plantas, uma casa e outros objetos.
Detalhe de ilustração presente no Códice Mendônça, produzido no século dezesseis pelos espanhóis, representando a história de fundação de Tenochtitlán.

Como os demais indígenas da região, os astecas eram agricultores. Além de vegetais, eles comiam peixes, crustáceos e insetos aquáticos.

Como você deve imaginar, morar em uma ilha traz algumas dificuldades, como a falta de terras para cultivar, mas os astecas desenvolveram uma inteligente solução para desenvolver a agricultura, criando as tchinãmpas.

Fotografia. Detalhe de ilustração composta em um manuscrito. Em primeiro plano, homens vestindo tangas e mulheres com túnicas trabalhando; em segundo plano, dois homens estão construindo um canteiro em cima de um rio. Ao fundo, diversos canteiros com plantações e o canteiro central com duas construções.
Detalhe de um manuscrito espanhol do século dezesseis em que é representada a construção de tchinãmpas.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

tchinãmpas eram canteiros elevados construídos sobre o lago. Os astecas demarcavam os locais com estacas e junco e formavam os canteiros com terra, lodo e vegetação aquática, possibilitando a ampliação de áreas agricultáveis. Para realizar esse trabalho, eram necessárias muitas pessoas.

A técnica de cultivo tradicional desenvolvida pelos astecas ainda é utilizada. É produtiva e sustentável, pois contribui para que os seres que vivem no lago continuem a se desenvolver junto da produção agrícola.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar as características, as fórmas de organização, a dieta alimentar e a crença religiosa da sociedade asteca, bem como os locais ocupados, a domesticação de plantas, a ciência e a tecnologia (como as empregadas na construção das tchinãmpas) desenvolvidas por essa sociedade, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero cinco e ê éfe zero seis agá ih zero oito, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 3 e nº 7 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 2.

Interdisciplinaridade

Ao abordar, por meio de textos e imagem, as técnicas agrícolas e o uso dos recursos hídricos, incluindo a transformação da paisagem lacustre em áreas de plantio, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades do componente curricular geografia ê éfe zero seis gê ê zero dois – “Analisar modificações de paisagens por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos originários” – e ê éfe zero seis gê ê um zero – “Explicar as diferentes fórmas de uso do solo (rotação de terras, terraceamento, aterros etcétera) e de apropriação dos recursos hídricos (sistema de irrigação, tratamento e redes de distribuição), bem como suas vantagens e desvantagens em diferentes épocas e lugares”.

Curadoria

Códices mexicanos: imagens, escritura e debate (Vídeo)

usp fêfêléch. Brasil, 2017. Duração: 116 minutos Disponível em: https://oeds.link/mkbvWT. Acesso em: 4 janeiro 2022.

No vídeo, é reproduzida uma palestra realizada pelo historiador Eduardo Natalino dos Santos no evento Códices mexicanos: imagens, escritura e debate, promovido pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (éfe éfe éle cê agá) e pelo Centro de Estudos Mesoamericanos e Andinos cêma, ambos da Universidade de São Paulo (USP).

Conforme Tenochtitlán crescia em população e fôrça, os astecas passaram a exercer influência sobre muitos povos vizinhos. Ao se aliar a cidades próximas, Tenochtitlán se tornou capital de uma poderosa confederação, que foi chamada pelos historiadores de Confederação Mexica ou Império Asteca.

Politicamente, os astecas eram governados por um tlatoãni (“aquele que fala”, em náuatle, língua dos astecas), que possuía muitos poderes.

Os povos submetidos ao império eram obrigados a pagar tributos na fórma de penas raras, pedras e metais preciosos, produtos agrícolas e, por vezes, até prisioneiros para os sacrifícios.

Assim como os maias, os astecas realizavam sacrifícios em rituais religiosos. De acordo com um de seus mitos de criação, alguns deuses se sacrificaram para que o Sol se movimentasse e a vida pudesse seguir seu curso. Assim, os seres humanos deveriam repetir essa ação, fornecendo sacrifícios para que a vida e o mundo não terminassem. Ser oferecido em sacrifício normalmente era considerado uma honra, e os prisioneiros eram bem tratados antes de ser executados nos rituais.

Fotografia. Artefato em círculo com desenhos e inscrições astecas em vermelho e amarelo. No centro, imagem similar a um rosto humano com olhos saltados e boca aberta.
Calendário asteca conhecido como Pedra do Sol. No centro do disco está representado tônatiú, o deus Sol.
Ilustração. Mapa antigo representando uma cidade dentro de um lago com pontes ligando-a à terra. Às margens do lago, há muitas construções. Do lado esquerdo, há um lago menor com muitas inscrições ao redor.
Mapa da cidade de Tenochtitlán produzido em 1524, com base nos relatos do conquistador espanhol Hernán Cortés.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No começo do século dezesseis, Tenochtitlán era uma das maiores cidades do planeta, com cêrca de 400 mil habitantes. No mesmo período, na maior cidade da Espanha, Sevilha, havia 60 mil habitantes e, em Paris, uma das maiores da Europa, viviam cêrca de 200 mil pessoas.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre as populações de Sevilha e de Paris foram retirados de: Demografía de Sevilla en el siglo XVI. Alma Mater Hispalense. Disponível em: https://oeds.link/6vJpwf. Acesso em: 29 dezembro 2021; BIRABEN, J. N.; BLANCHET, D. Essay on the population of Paris and its vicinity since the sixteenth century. Population: an english selection, volume 11, página 155-188, 1999.

Comente com os estudantes que a reação de hernãn cortês ao ambiente urbano de Tenochtitlán foi de espanto e admiração. O conquistador espanhol não poupou elogios à cidade, sempre a comparando com as europeias (como Córdoba e Sevilha).

Além disso, cortés demonstrou particular interesse pelos edifícios e chegou a dizer que aquela era a melhor cidade para os espanhóis viverem. No entanto, é interessante notar que os aspectos dos povoados e vilarejos indígenas elogiados por cortés se aproximavam da concepção europeia de cidade. Isso significa que Tenochtitlán só foi considerada uma bela cidade nos aspectos que se assemelhavam ao que cortés via e reconhecia na Europa. Por isso, o conquistador espanhol descreveu os mercados e, em particular, os edifícios religiosos.

Para se referir aos templos indígenas, cortés utilizou o termo mesquita, pelo qual eram conhecidos os templos islâmicos. Essas comparações inevitavelmente obedecem a uma perspectiva que se pode nomear eurocêntrica.

Os incas

O povo inca era formado principalmente por guerreiros que falavam uma língua chamada quêchua. É provável que eles tenham partido da região amazônica em direção à Cordilheira dos Andes, onde se estabeleceram por volta do século treze.

O povo inca dominou inicialmente a região de cúsco, que se tornou a capital do império, de onde se expandiu sobre territórios vizinhos.

A área incorporada pelo Império Inca chegou a quase 1 milhão de quilômetros quadrados em seu auge e abrangeu o território correspondente à atual região entre a Colômbia e a Argentina (analise o mapa).

Império Inca – séculos quinze-dezesseis

Mapa. Império Inca – séculos quinze a dezesseis. Destaque para a costa oeste da América do Sul. 
Legenda:
Hachurado laranja: Extensão do Império Inca.
Verde: Cordilheira dos Andes.
No mapa, a Cordilheira dos Andes abrange toda a costa oeste da América do Sul. A área de extensão do Império Inca abrange a maior parte da Cordilheira dos Andes, desde as proximidades da Linha do Equador (ao norte) até o Rio Maule (ao sul). Na área do Império Inca, do norte para o sul, estão localizadas as cidades de Quito, Túmbez e Cajamarca, na região de Mochica; Chan-Chan, na região de Chimu; Caral e Chavín de Huantar, na região de Chavín; Paramonga e Supe, na região de Huari; Machu Picchu e Cuzco, na região de Paraca; Pachacamac, na região de Nazca; e Tiahuanaco, na região de Tihuanaco.
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 530 quilômetros.
 

FONTES: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 238; quínder, H.; ríguelmân, W. Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página 218.

As características da região de cordilheira que os incas habitavam influenciaram seu modo de vida. Assim, eles desenvolveram técnicas agrícolas de cultivo em encostas de montanha ou em ambientes desérticos.

Fotografia. Mulheres usando casacos coloridos com saias pretas e calças felpudas por baixo, e grandes chapéus coloridos amarrados na cabeça. Elas manuseiam pedaços de palha em um monte no chão de terra. Há fumaça saindo do monte de palha.
Indígenas quéchuas preparando batatas em tínc, Peru. Foto de 2018. Foram os incas que iniciaram o cultivo da batata.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar do Império Inca, de sua organização social, de suas tecnologias agrícolas e arquitetônicas, de suas intervenções no ambiente e da elaboração do sistema de escrita tridimensional, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero cinco, ê éfe zero seis agá ih zero sete e ê éfe zero seis agá ih zero oito, das Competências Gerais da Educação Básica nº 1 e nº 6, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 3 e da Competência Específica de História nº 1.

Estima-se que, em países como o Peru, a Bolívia, o Equador, a Argentina e o Chile, mais de dez milhões de pessoas falem a língua quêchua, a qual pode ser considerada um dos principais símbolos de identidade das nações andinas. Apenas no Peru, nos últimos dez anos, o número de quêchua hablãntes (“falantes de quêchua”) aumentou em quase meio milhão de pessoas. Esse fato está intrinsecamente relacionado à revalorização da identidade andina nos últimos 20 anos. Como os idiomas estão vinculados à história, à memória e às visões de mundo de um povo, o quêchua contribui para que saberes e tradições milenares sejam transmitidos às novas gerações andinas. Na Bolívia, onde aproximadamente 70% da população é composta de indígenas e mestiços, o quêchua foi reconhecido como língua oficial em 2006, impulsionando essa revalorização identitária. Além disso, em 2009, foi formulada nesse país uma nova Carta Magna, na qual o Estado foi definido como plurinacional, reconhecendo a legitimidade das nações indígenas e sua autonomia. Dados numéricos retirados de: CABRAL, E. S. O resgate de uma língua: a construção da escrita quêchua. Muiraquitã, volume 7, número 1, 2019. Disponível em: https://oeds.link/cpGP1k. Acesso em: 4 janeiro 2022.

Curadoria

O alimento supernutritivo que se adaptou a todas as culturas e “mudou o mundo” (Reportagem)

Diego Arguedas Ortiz. bê bê cê níus Brasil, 22 agosto 2020. Disponível em: https://oeds.link/ZzE8cX. Acesso em: 4 janeiro 2022.

Nessa reportagem, Ortiz trata de parte da história da batata, abordando sua domesticação, a origem americana e a expansão bem-sucedida do tubérculo para outros continentes, as vitaminas e os nutrientes do alimento.

Agricultura e tecnologias incas

Para plantar nas regiões montanhosas, os incas desenvolveram a técnica de cultivo em terraços. Com essa técnica, eles construíam degraus nas encostas para conter a erosão do solo.

O trabalho agrícola era coordenado pelo Estado, e não havia propriedade privada da terra. A produção era realizada coletivamente por comunidades familiares chamadas de aiu. Cada aiu repartia suas terras em três partes: a do deus Sol, a do inca (ou imperador) e a da comunidade. Nessa última, as terras eram repartidas entre as famílias para que todas produzissem os alimentos necessários para seu sustento.

Os incas, assim como os demais povos ameríndios, não empregavam a roda como instrumento de trabalho, mas usavam alguns animais, como a lhama e a alpaca, para transportar carga. Eles desenvolveram um complexo sistema de estradas interligando as diferentes partes do império, que chamavam de tauantinsuiú (“quatro regiões” ou “quatro partes”). Como os territórios eram muito extensos, essas estradas eram vitais para o comércio, para a movimentação de exércitos e para a comunicação.

Fotografia. Em primeiro plano, escadaria de pedra coberta por vegetação em região montanhosa. Em segundo plano, diversas construções em pedra sobre as escadarias. Ao fundo, diversas montanhas e o céu azul entre nuvens.
Visão aérea de mátchu pítchu, no Peru. Foto de 2021.
Ilustração. Folha amarelada com desenho em preto representando um homem com xale, gorro e sandálias, segurando uma corda comprida com muitas linhas menores amarradas em sua extensão. Na parte superior, palavras escritas em espanhol antigo. No canto inferior esquerdo, quadro formado por vinte quadrados menores, cada um deles preenchido com diferentes quantidades de círculos.
Representação de um inca segurando um quipú, em ilustração da obra de Felipe guamãn pôma de aiála, século dezesseis.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A arquitetura é um dos aspectos que mais chamam a atenção na cultura inca: a capacidade de entalhar pedras e encaixá-las perfeitamente, mesmo em ângulos irregulares, possibilitou que os edifícios e as muralhas de mátchu pítchu e cúsco, por exemplo, resistissem ao tempo e aos terremotos, muito comuns nos Andes. Os incas também se destacaram por criar o único sistema de escrita tridimensional, o quipú, formado por cordas e nós de diferentes cores e espessuras que podiam atingir vários metros de comprimento.

Respostas e comentários

Da abertura deste capítulo até esta página, foram estudadas as hipóteses mais aceitas sobre o povoamento do continente americano e a diversidade étnico-cultural da América. Abordaram-se, também, as teorias sobre as principais rotas utilizadas pelos primeiros humanos para chegar à América, procurando demonstrar a construção do saber científico pautado em evidências e elaboração de hipóteses. Além disso, enfatizaram-se algumas das civilizações e de grupos indígenas que se desenvolveram na América, dos paleoíndios às civilizações mesoamericanas e andinas. Esse esforço é fundamental, pois contribui para a ampliação dos currículos, geralmente centrados em uma história eurocêntrica, que relegam civilizações fóra da Europa a um papel secundário.

Nesse sentido, o objetivo da primeira parte do capítulo foi traçar um panorama histórico-cultural mais plural desses povos, valorizando suas fórmas de organização política e social e suas práticas culturais. Pretendeu-se, assim, desconstruir certos estereótipos associados ao mundo indígena, principalmente a homogeneização embutida na categoria “índio” como um dado natural ou racial.

Ainda sobre a percepção que o senso comum tem dos indígenas, procurou-se desconstruir o discurso que os associa quase mecanicamente à natureza, mostrando que o ser humano é agente em seu desenvolvimento histórico. Nesse sentido, é possível estabelecer um diálogo com outros componentes curriculares, como ciências, ao tratar das constantes intervenções no ciclo de vida de plantas, e geografia, ao mostrar as alterações no espaço.

Os primeiros habitantes do território correspondente ao do Brasil atual

Achados arqueológicos no Brasil sugerem que os primeiros habitantes do território correspondente ao do Brasil atual eram caçadores-coletores e fabricavam instrumentos com lascas de pedra e outros materiais.

Eles viviam em habitações ao ar livre, mas também se abrigavam embaixo de rochas e em cavernas, onde registravam, nos paredões de pedra, figuras de animais e pessoas, como as pinturas rupestres encontradas na Serra da Capivara, no estado do Piauí.

Os esqueletos humanos mais antigos descobertos no território brasileiro foram escavados em Lagoa Santa, no estado de Minas Gerais. Lá foi achado o crânio de uma mulher, apelidada pelos estudiosos de Luzia, que tem cêrca de 11 mil anos. No local, os pesquisadores também encontraram sepulturas datadas de 11 mil a 7 mil anos atrás.

Brasil: principais sítios arqueológicos e sambaquis

Mapa. Brasil: principais sítios arqueológicos e sambaquis. Apresenta o Brasil e a divisão política atual dos estados.
Legenda:
Uma concha bege-claro: Sambaquis.
Um rosto de cor cinza: Sítio arqueológico de Lagoa Santa (Minas Gerais). 
Uma mão estilizada em preto: Sítio arqueológico da Pedra Pintada (Pará).
Um pote cerâmico marrom: Sítio arqueológico da Ilha de Marajó.
Uma machadinha: Outros sítios arqueológicos.
A segunda parte da legenda se refere a Sítios arqueológicos com mais de 11.400 anos, identificados da seguinte maneira:
Pintura rupestre de um quadrúpede em preto: Parque Nacional Serra da Capivara (Piauí).
Pintura rupestre de uma pessoa em preto: Lapa do Boquete (Minas Gerais).
Pintura rupestre de animal com pescoço longo em preto: Lapa Vermelha 4 (Minas Gerais).
Pintura rupestre de ser bípede em preto: Santana do Riacho (Minas Gerais).
No mapa, os sambaquis abrangem a área que vai do litoral do Rio Grande do Sul até o litoral do Espírito Santo. O Sítio arqueológico de Lagoa Santa localiza-se na cidade de Lagoa Santa, em Minas Gerais. O
Sítio arqueológico da Pedra Pintada localiza-se na cidade de Monte Alegre, no Pará. O Sítio arqueológico da Ilha de Marajó localiza-se na Ilha de Marajó, no Pará. Outros sítios arqueológicos estão localizados nas cidades de Prainha, Santarém e Anapu, no Pará; Sete Cidades, no Piauí; Carnaúba dos Dantas e Parelhas, no Rio Grande do Norte; Pedra Lavada, Seridó e Campina Grande, na Paraíba; Venturosa, Iati e Petrolândia, em Pernambuco; Xique-Xique, Central e Irecê, na Bahia; Montalvânia, Januária, Peruaçu e Diamantina, em Minas Gerais; Serranópolis e Água Limpa, em Goiás; Serra Azul, Caieiras e Itapeva, em São Paulo; e São Miguel, no Rio Grande do Sul.
Dos quatro sítios arqueológicos com mais de 11.400 anos identificados no país, um está localizado no Piauí, o Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato; e os demais em Minas Gerais: o sitio da Lapa do Boquete, próximo à cidade de Januária, no norte do estado; o sítio Lapa Vermelha 4, próximo às cidades de Diamantina e Pedro Leopoldo; e o sítio de Santana do Riacho, próximo a Lagoa Santa. 
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 350 quilômetros.
 

Fonte: rétzél, B.; NEGREIROS, S. organização. Pré-história do Brasil. Rio de Janeiro: Manati, 2007. página 22.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar dos primeiros habitantes do território correspondente ao do atual Brasil, dos sítios arqueológicos, das ocupações territoriais, da cultura material, dos sambaquis e da intervenção humana na natureza, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero cinco, ê éfe zero seis agá ih zero sete e ê éfe zero seis agá ih zero oito, das Competências Gerais da Educação Básica nº 1 e nº 2 e das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 3, nº 4 e nº 7.

Nesse momento, talvez seja interessante resgatar o contexto e a repercussão do incêndio que destruiu o prédio que abrigava o Museu Nacional, no Rio de Janeiro Rio de Janeiro, em 2018. Uma das peças do acervo, recuperada parcialmente das cinzas do incêndio, foi o crânio de Luzia.

Até hoje os estudiosos não sabem por que os sambaquis eram construídos nem quais eram suas finalidades. As principais hipóteses sugerem que poderiam servir como habitação e como locais de práticas religiosas (para sepultamentos, por exemplo). Foram encontrados mais de mil sambaquis até hoje, mas grande parte deles se encontra deteriorada, dificultando seu estudo. Além disso, muitos são destruídos por indústrias que utilizam o material que os fórma para fabricação de cal, empregada na construção civil.

Esse tema dos primeiros habitantes do território que hoje corresponde ao Brasil é fundamental para discutir a interação do ser humano com o meio. Além disso, demonstra que o espaço é resultado também de atividades humanas, pois à primeira vista o sambaqui remete a uma montanha “natural”, e não a algo produzido por pessoas. Outro ponto interessante a ser enfatizado é a quebra da lógica sequencial e etapista do desenvolvimento humano, pois os povos dos sambaquis são um caso de sedentarização sem predominância da economia agrícola. Matiza-se, assim, a ideia de que a passagem do modo de vida nômade ao sedentário sempre decorreu do domínio da agricultura.

O povo dos sambaquis

Os povos que você estudou neste capítulo precisavam se deslocar constantemente em busca de caça ou praticar agricultura para sobreviver. Já os habitantes da área litorânea, especialmente entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul, dispunham de uma fonte abundante e praticamente fixa de alimento: o mar. Eles pescavam e coletavam animais marinhos para se alimentar.

Estudos recentes sugerem que esses povos desenvolveram técnicas de criação de moluscos e até de algumas espécies de peixes. Caça e coleta apenas complementavam sua alimentação. Por causa da facilidade de encontrar alimentos, esses grupos podiam viver durante muito tempo em um mesmo local. Geralmente, eles escolhiam um local também próximo a algum rio para obter água doce.

Imagine um grande grupo de pessoas consumindo alimentos no mesmo local por muito tempo. O que resultaria desse processo? Se você pensou em algo como lixo, acertou!

Os restos de animais marinhos, conchas de moluscos, ferramentas, armas, cerâmicas quebradas etcétera foram se acumulando com o tempo até formar montanhas chamadas de sambaquis (do tupi tãmpa, “marisco”, e qui, “amontoado”). Alguns sambaquis têm mais de 30 metros de altura. Eles foram formados no litoral brasileiro entre 10 mil e mil anos atrás.

Fotografia. Destaque para montanha alta, coberta por areia, conchas e vegetação rasteira. No canto esquerdo, uma mulher vista de costas anda sobre um caminho de terra.
Sambaqui Cabo de Santa Marta um, na Estrada Geral do Farol, em Laguna (Santa Catarina). Foto de 2017.
Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Com base na imagem, elabore um texto comentando as influências recíprocas entre o ser humano e o espaço que ele habita.

Dica

JOGO

Sambaquis – uma história antes do Brasil

Disponível em: https://oeds.link/zQLkht. Acesso em: 29 março 2022.

Desenvolvido pelo grupo de pesquisa Arqueologia Interativa e Simulações Eletrônicas aráise, este jogo de simulação possibilita vivenciar as práticas de caça e coleta e aprofundar-se nos saberes de um grupo de sambaqueiros que ocupavam o nosso território 3 mil anos atrás.

Respostas e comentários

Resposta do Se liga no espaço!: Seria impossível para os grupos dos sambaquis desenvolver certas características de sua sociedade não fosse a proximidade do oceano e das fontes de água. Da mesma forma, o espaço habitado não seria o mesmo sem a ação dos seres humanos, que modificaram a paisagem por meio do consumo de peixes e frutos do mar, fornecendo o material para a formação dos enormes sambaquis.

Ampliando

No texto a seguir, a historiadora Marília Oliveira Calazans fala a respeito da exploração industrial dos sambaquis.

“No Brasil, desde o século dezesseis, as conchas e ossos extraídos dos sambaquis consistem em uma das principais matérias-primas da arquitetura colonial, para a elaboração de cal e argamassa, conforme apontam os diversos documentos reticências. O consumo dos sambaquis como fonte para a construção civil durante séculos demonstra a relevância que tais ostreiras possuíam para a administração colonial. Por isso, é comum que alguns sambaquis atuais estejam associados na paisagem a fornos construídos para a queima das conchas e ossos. A dimensão desta exploração, isto é, quantos sítios foram esgotados, contudo, não podemos saber.

A indolência da qual os indígenas foram acusados foi respondida pela insensibilidade da engenharia e arquitetura do período: moer ossos para construir igrejas! Embora a cal não fosse obtida exclusivamente a partir das conchas dos sambaquis reticências a exploração destes sítios perpassou leis de proteção e continua no século vinte e um, a despeito de monumentais esforços de preservação.”

CALAZANS, Marília Oliveira. Os sambaquis e a arqueologia no Brasil do século vinte e um. Dissertação (Mestrado em História Social), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (úspi), 2016, página 127.

Curadoria

Sambaquis: arqueologia no litoral sul do Brasil (Vídeo)

máe uspi. Brasil. 2020. Duração 115 minutos Disponível em: https://oeds.link/tkoqMI. Acesso em: 20 abril 2022.

No vídeo, é reproduzida uma live realizada com o professor doutor Paulo dê blásis, atual diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia de São Paulo (máe uspi), a respeito dos sambaquis presentes no litoral sul brasileiro.

Povos agrícolas

Os povos que habitavam o território brasileiro não dependiam exclusivamente da caça e da coleta para sobreviver. Alguns deles desenvolveram o cultivo de plantas e passaram a depender cada vez mais da agricultura.

Pesquisadores acreditam que, cêrca de 4 mil anos atrás, esses grupos aprenderam técnicas agrícolas ao manter contato com povos que viviam na região da Cordilheira dos Andes e na América Central.

Apesar de o cultivo de plantas ter sido praticado em quase todas as regiões do território correspondente ao do Brasil atual, foi na Amazônia que se concentrou a maior parte dos povos agricultores.

Esses grupos da Amazônia desenvolveram também técnicas para fazer potes, vasos, pratos e urnas de cerâmica. Eles misturavam argila a outros materiais, obtendo uma massa, e a moldavam no formato do objeto que queriam produzir. Depois, cozinhavam o objeto em um forno para que a argila endurecesse e ficasse resistente. Que tal conhecer um desses povos amazônicos?

A cultura marajoara

Na foz do Rio Amazonas, no Pará, existe uma ilha chamada Marajó. Há aproximadamente .1600 anos, habitou esse local um dos principais povos agricultores: os Marajoara. Pesquisas realizadas nos sítios arqueológicos indicam que em seu auge, entre os anos 1000 e 1300, a população pode haver alcançado até 100 mil pessoas.

A sociedade marajoara provavelmente era dividida por funções sociais: algumas famílias se responsabilizavam pela caça, outras pelo artesanato e outras assumiam funções religiosas e de governo. Os principais vestígios deixados pela cultura marajoara foram suas cerâmicas.

Fotografia. Destaque para praia com dois pequenos barcos, à direita, próximo à faixa de areia. Ao fundo, árvores e o céu azul.
Praia do Pesqueiro, na Unidade de Conservação Reserva Extrativista Marinha de Soure, na Ilha de Marajó Pará. Foto de 2019. Até hoje habitantes da ilha vivem da pesca, do extrativismo etcétera
Fotografia. Objeto cerâmico de base pequena e cilíndrica, corpo mais largo e boca larga. Apresenta desenhos em alto relevo.
Urna de cerâmica marajoara produzida entre 400 e 1350, encontrada na Ilha de Marajó (Pará).
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A produção de objetos de cerâmica diversos, como urnas e adornos, era característica das sociedades agrícolas da região amazônica. É possível que as cerâmicas marajoaras fossem produzidas pelas mulheres, que passavam adiante, de mãe para filha, as técnicas de fabricação e decoração das peças.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a população Marajoara foram retirados de: beiguélman, G. No norte do Brasil, uma arte milenar é resgatada. Jornal da úspi, 23 julho 2018. Disponível em: https://oeds.link/sCKqlc. Acesso em: 23 fevereiro 2022.

Bê êne cê cê

Ao tratar da ocupação histórica dos povos amazônicos, agrícolas e ceramistas, assim como dos vestígios arqueológicos, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero oito, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 5 e da Competência Específica de História nº 2.

Temas Contemporâneos Transversais

Ao considerar a diversidade cultural dos povos na ocupação histórica do território correspondente ao do Brasil atual, possibilitando pensar a continuidade de algumas dessas práticas na sociedade brasileira até os dias atuais, o conteúdo contribui para o desenvolvimento dos Temas Contemporâneos Transversais Diversidade cultural e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Ampliando

No texto a seguir, Cristiana Bertazoni rompe com a ideia de povos amazônicos isolados e rudimentares.

“Extensas e antigas redes de comércio de longa distância ligavam Andes e Amazônia, permitindo um fluxo constante de produtos procedentes das duas áreas. Enquanto penas, algodão, tecidos e plantas subiam a cordilheira, metais (machados de cobre) e tecidos de lã desciam para a floresta”.

BERTAZONI, C. A cordilheira e a floresta. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 8, número 91, página 24, abril 2013.

Ampliando

Ao debater a cultura marajoara e sua apropriação estética na atualidade em objetos cerâmicos, a arqueóloga Denise pál xãn afirma:

“A cultura marajoara enquanto ‘tradição inventada’ possui muito pouco da referência original ao passado e há uma tendência crescente de diferenciação das duas coisas (passado e presente) sem que essa diferenciação seja explícita. reticências

Por isso, a necessidade de que a re-significação de objetos e práticas antigas dentro de contextos novos venha acompanhada pela consciência dos processos históricos nos quais se insere e aos quais contribui, maneira pela qual esta práxis pode vir a somar verdadeiramente para a construção de cidadania e identidade”.

xãn, D. P. Arqueologia, público e comodificação da herança cultural: o caso da cultura marajoara. Revista Arqueologia Pública, número 1, página 27-28, 2006.

Cerâmica, agricultura e sedentarização

Você notou que nos exemplos anteriores os povos que desenvolveram cerâmica também praticaram a agricultura? Essa associação não é coincidência. Apesar de povos caçadores-coletores terem usado artefatos cerâmicos, como alguns da região sul, os estudos arqueológicos apontam uma relação entre a difusão da agricultura e a produção da cerâmica.

É possível compreender essa relação com o exemplo da produção de farinha de mandioca, planta que era originalmente venenosa (algumas ainda são).

Os grupos indígenas agricultores desenvolveram técnicas capazes de extrair a substância tóxica da raiz: eles a espremiam, retirando o suco, o cozinhavam e o deixavam fermentando durante alguns dias. Por fim, torravam a massa que restava, transformando-a em farinha – um alimento altamente nutritivo.

Para realizar esse complexo e trabalhoso processo, desenvolveram cerâmicas especiais, impermeáveis, que podiam ser levadas ao fogo como panelas.

Fotografia. Duas mulheres indígenas com cabelos pretos e usando vestidos estampados estão sentadas em um chão de terra, ao ar livre. Elas estão descascando raízes de mandioca e colocam as raízes descascadas dentro de uma bacia de alumínio. Ao lado da bacia, há uma grande panela de alumínio.
Mulheres indígenas da etnia calapálo descascando mandioca em Querência Mato Grosso. Foto de 2018.
Fotografia. Um homem e uma menina indígenas mexem farinha de mandioca em uma grande panela de boca larga colocada em cima de um forno circular de barro. Ao fundo, uma mulher indígena carrega um bebê no colo. Todos estão debaixo de uma estrutura da qual aparecem apenas estacas de madeira utilizadas como vigas.
Família indígena da etnia aparai uáianá preparando farinha de mandioca em Laranjal do Jari Amapá . Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A casa de farinha é um espaço de trabalho, socialização e cultura importante para os povos indígenas e ribeirinhos na região amazônica.

O processo de produção da farinha começa com plantio de manivas, pedaços de tronco de mandioca que dão origem a novos pés. Com a planta adulta, a raiz (que conhecemos como mandioca) é colhida e levada para a casa de farinha, onde é descascada, amolecida e fermentada em água. Em seguida, ela é ralada e espremida no tipiti – um cesto cilíndrico trançado, usado para secar a massa e retirar a manipueira, um ácido venenoso que não pode ser ingerido cru.

Ela então é peneirada e levada ao forno para a torra. Uma vez séca, a farinha está pronta para o consumo. As mulheres geralmente são as responsáveis pela produção da farinha: descascam a mandioca, transformam o vegetal em massa, peneiram a massa e a torram.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar dos povos indígenas, da produção da mandioca e da técnica da coivara, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero cinco e ê éfe zero seis agá ih zero oito, da Competência Geral da Educação Básica nº 6 e da Competência Específica de Ciências Humanas nº 3.

Tema Contemporâneo Transversal

Ao abordar os saberes tradicionais e as tecnologias indígenas em sua interação com a natureza, presentes em nossa sociedade ainda hoje, o conteúdo contribui para o desenvolvimento do Tema Contemporâneo Transversal Ciência e tecnologia.

A segunda parte do capítulo é dedicada à compreensão dos primeiros grupos indígenas que habitaram o território que hoje compõe o Brasil. Se possível, esclareça aos estudantes o fato de que tais grupos não podem ser classificados como os primeiros brasileiros, pois a ideia de nacionalidade ou de país foi uma construção posterior e, mesmo hoje, é difícil aplicá-la a alguns povos indígenas. O capítulo centra-se em culturas de paleoíndios, como a de Lagoa Santa, a de Umbu e a dos sambaquis do litoral, avançando depois para grupos indígenas ligados à agricultura, como os da Amazônia e os Tupi­‑Guarani. Reforça-se a necessidade de evidenciar o fato de que os grupos indígenas não desapareceram após o contato com os europeus, mas se transformaram e continuam existindo com identidade e visões de mundo próprias.

Curadoria

Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental e Evolutiva (LAAAE) (Site)

Disponível em: https://oeds.link/Rw03fW. Acesso em: 4 janeiro 2022.

O LAAAE (USP) é um laboratório de pesquisas interdisciplinares voltado ao estudo dos seres humanos por meio da análise de seus aspectos históricos e ambientais. No site do laboratório, são disponibilizados diversos materiais – como vídeos, documentários, publicações e links – relacionados às últimas pesquisas arqueológicas, etnográficas e etnobiológicas (e de várias outras áreas) realizadas no Brasil.

A expansão da agricultura e os Tupi-Guarani

No século quinze, a agricultura já era praticada em quase todas as partes do território correspondente ao do Brasil atual. A expansão das técnicas agrícolas provavelmente esteve relacionada aos povos da família linguística tupi-guarani.

Esses grupos saíram da parte sul da região amazônica em direção às áreas central e meridional do território. Nos locais em que se estabeleciam, cultivavam milho e mandioca usando a técnica da coivara. Essa técnica consiste na derrubada e na queimada de partes da floresta a fim de abrir espaço para a plantação.

O uso contínuo dessa técnica esgotava rapidamente o solo. Por isso, os grupos indígenas precisavam se mudar com frequência em busca de outras áreas de plantio. Essa constante necessidade de deslocamento favoreceu a difusão da prática agrícola pelo território.

Fotografia. Mulher indígena vestindo saia azul, colares brancos e chinelos, colhendo raízes de mandioca da terra. Ao fundo, um grande tronco de árvore caído e plantação de mandioca.
Indígena calapálo colhendo mandioca na Aldeia aiá, em Querência Mato Grosso. Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O domínio da tecnologia do plantio e da transformação da mandioca para consumo garantiu a segurança alimentar de muitos povos indígenas. Essa tecnologia foi transmitida posteriormente aos europeus.

Grafia dos nomes dos povos indígenas brasileiros

Nesta coleção, os nomes dos povos indígenas que vivem no Brasil foram grafados de acordo com a Convenção para a Grafia dos Nomes Tribais, aprovada em 1953 na Primeira Reunião Brasileira de Antropologia:

  • sem flexão de número ou gênero;
  • com inicial maiúscula quando usados como substantivo, sendo opcional quando usados como adjetivo.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Qual era a função dos sacrifícios humanos nas sociedades indígenas da Mesoamérica?
  2. Descreva exemplos de trocas culturais entre indivíduos destes grupos indígenas: paleoíndios, indígenas mesoamericanos e habitantes do território correspondente ao do Brasil atual.
  3. Cite uma das técnicas utilizadas pelos povos Tupi-Guarani. De que maneira ela se relaciona com a expansão desses grupos indígenas pelo território que correspondia ao do Brasil atual?
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. De acordo com alguns mitos de criação mesoamericanos, os seres humanos deveriam realizar tais práticas para que a vida e o mundo não terminassem. Ser oferecido em sacrifício normalmente era considerado uma honra.

2. A difusão de técnicas de fabricação de artefatos de pedra, como pontas de flecha e lanças, pelos paleoíndios. Na região da Mesoamérica, a incorporação pelos maias de elementos culturais olmecas, como arquitetura, urbanismo, religião e fórmas de subsistência, e a assimilação pelos astecas de costumes dos povos da região, como escrita, divindades, calendário, agricultura do milho etcétera Com relação ao território correspondente ao do Brasil atual, espera-se que mencionem a difusão de saberes agrícolas, por exemplo, no contato dos povos amazônicos com os andinos, e a disseminação da técnica da coivara.

3. Eles difundiram o cultivo do milho e da mandioca com a utilização da técnica da coivara. Como essa prática esgotava rapidamente o solo, esses grupos se transferiam constantemente em busca de novas áreas de plantio. Essa constante necessidade de deslocamento favoreceu a difusão da prática agrícola pelo território.

Orientação para as atividades

As atividades do boxe “Agora é com você!” demandam procedimentos lógicos complexos: explicar, descrever e relacionar. Oriente os estudantes a criar um caminho para as respostas que contemple:

a compreensão do que é solicitado no comando e a identificação no livro didático das informações necessárias para responder a cada questão;

a construção mental e oral das respostas, compartilhando-a com um colega, se for o caso.

Atividade complementar

Proponha aos estudantes uma atividade de pesquisa a respeito dos mitos dos povos indígenas que vivem no território brasileiro. Comente que há mais de duzentos povos remanescentes do século dezesseis, quando se iniciou a colonização do território pelos portugueses. Depois disso, organize os estudantes em pequenos grupos. Defina os povos indígenas que serão analisados, reforçando o fato de que os grupos devem se concentrar nos mitos desses povos. Solicite aos grupos que compartilhem com o restante da turma. É importante que eles percebam que cada grupo indígena merece ser considerado como único e específico na composição da diversidade cultural do Brasil. Para a realização da atividade, além de livros, jornais e revistas, pode ser consultada a página Povos Indígenas no Brasil, do site do Instituto Socioambiental.

Vamos pensar juntos?

Os indígenas influenciaram o modo como os brasileiros se alimentam. Além do feijão, da abóbora, do milho e da mandioca, têm origem indígena o maracujá, o açaí, o caju etcétera Também é por influência deles que os brasileiros descansam em redes e têm o hábito de tomar banho diariamente.

Além disso, muito do conhecimento indígena sobre plantas medicinais é empregado pela indústria farmacêutica na produção de medicamentos. Um exemplo é o uso das folhas do arbusto jaborandi para a produção de um colírio para tratar glaucoma, uma doença ocular.

Os não indígenas que vivem no Brasil assimilaram muitos elementos dos povos nativos e nem por isso se tornaram indígenas, não é mesmo? E o que acontece quando os indígenas utilizam tecnologias que não foram desenvolvidas por eles?

Grande parte dos indígenas que vivem no Brasil, tanto nas cidades como nas aldeias, tem roupas como as dos não indígenas, smartphones, notebooks, acesso à internet etcétera Eles não deixam de ser indígenas por usarem essas coisas. Leia o que o artista Denilson bãníua declarou sobre esse assunto:

reticências pegamos esses conhecimentos e ferramentas e usamos para fortalecer nossas culturas. [....] Minhas obras falam desse tempo onde um celular ou um laptop não tornam você menos indígena, ao contrário, essas ferramentas podem ser essenciais para defendermos quem somos diante do mundo”.

GONZATTO, C. Conversa com Denilson bãníua. C& América Latina, 25 agosto 2020. Disponível em: https://oeds.link/uCXsFA. Acesso em: 30 dezembro 2021.

Fotografia. Em primeiro plano, homem indígena visto de costas, segurando uma câmera filmadora e, ao fundo, mulheres indígenas vistas de costas, de mãos dadas, no pátio de uma aldeia.
Indígena filma mulheres da aldeia Kamayurá em Gaúcha do Norte (MT). Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Conhecimentos ancestrais de diferentes povos indígenas podem ser transmitidos de geração a geração, não apenas por narrativas orais, como também com o uso de tecnologias. Dessa fórma, as tecnologias podem contribuir para o fortalecimento da identidade étnica, a preservação de costumes e valores, a defesa de terras, o contato com outros povos e a difusão da cultura.

Responda no caderno.

  1. Por que se pode dizer que os conhecimentos e os costumes indígenas estão presentes no cotidiano dos brasileiros? Justifique.
  2. O que o artista Denilson bãníua pensa sobre o uso de tecnologias pelos indígenas?
  3. De que maneira as tecnologias podem contribuir para a preservação da cultura indígena?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a discussão sobre assimilação e trocas culturais entre indígenas e não indígenas com o intuito de desnaturalizar e problematizar preconceitos relacionados aos povos originários, o conteúdo dessa seção contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero oito. Contribui também para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 1 e nº 9, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1, nº 4 e nº 6 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 3.

Vamos pensar juntos?

Nessa seção, propõe-se uma discussão a respeito das constantes assimilações e interpenetrações entre os elementos culturais presentes nas sociedades dos povos originários e na dos não indígenas. O objetivo é estabelecer uma problematização a respeito da ideia de que os nativos, ao utilizar recursos tecnológicos não desenvolvidos por eles, perdem sua tradição e identidade cultural.

Atividades

1. Porque muitos dos hábitos alimentares, de descanso e de higiene dos brasileiros foram diretamente influenciados pelos indígenas. Além disso, os saberes dos povos nativos são empregados na produção de parte dos remédios disponibilizados para o consumo.

2. O artista Denilson bãníua argumenta que o uso de aparelhos como celulares e laptops não torna o nativo menos indígena. Em vez disso, pode contribuir para o fortalecimento de sua cultura.

3. As tecnologias podem contribuir para a preservação da cultura indígena ao ser usadas como meio de registro das tradições dos diversos povos e como canal de estudo, denúncia, defesa de terras e conexão com outros grupos espalhados pelo território brasileiro.

Curadoria

Os povos indígenas e a tecnologia (Vídeo)

Conceito & Ação. Brasil, 2014. Duração: 26 minutos Disponível em: https://oeds.link/8goPUD. Acesso em: 4 janeiro 2022.

Nesse vídeo, xãng uán, então gestora científica do Museu do Índio, e Lucas Benites, cineasta indígena e líder da aldeia sapucái, debatem o uso de recursos tecnológicos como meio de recuperar e divulgar as tradições indígenas.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Observe nas imagens a seguir a representação de dois sistemas agrícolas.

Ilustração A. Em primeiro plano, duas pessoas, uma vestindo tanga, outra vestindo túnica, com pás nas mãos revolvendo a terra. Em segundo plano, dois homens trabalhando em um canteiro em cima de um rio. Ao fundo, outros canteiros com plantações sobre o rio. Um deles, à direita, apresenta também uma construção com telhado de folhas. Nos canais do rio que se formam entre os canteiros, há duas canoas.
Ilustração atual representando o sistema agrícola asteca.
Ilustração B. Região montanhosa com degraus demarcados com pedras e plantações sobre eles.
Ilustração atual representando o sistema agrícola inca.
  1. Quais são os sistemas agrícolas representados nas imagens A e B?
  2. Quais são as principais funções de cada um deles?

Aprofundando

2. Analise a imagem a seguir e responda às questões.

Fotografia. Em primeiro plano, monte formado por conchas e areia branca, parcialmente coberto por vegetação rala. Em segundo plano, área gramada, árvores esparsas e algumas construções. Ao fundo, o mar.
Elefante Branco, também conhecido como sambaqui Carniça, localizado em Jaguaruna Santa Catarina. Foto de 2021.
  1. Que formação arqueológica é retratada na imagem?
  2. Em que regiões formações como essa são mais comuns? Em que período elas se constituíram?
  3. Quais são as hipóteses para a existência de formações como essa?
  4. Qual é a principal diferença entre o modo de vida do grupo ligado a essa formação e o de outros que viveram no mesmo período?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A atividade 3, por envolver a análise da cultura material, contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero sete e da Competência Específica de História nº 3. Já a pesquisa proposta na atividade 4 contribui para o desenvolvimento das Competências da Educação Básica nº 1, nº 2 e nº 7, pois ao realizá-la os estudantes podem valorizar o conhecimento científico historicamente produzido, exercitar a curiosidade intelectual e avaliar argumentos e afirmações com base na verificação dos dados e na confiabilidade dos espaços de produção das informações.

Atividades

Organize suas ideias

1. a) O sistema agrícola na imagem A é o do cultivo em tchinãmpas, e o representado na imagem B é o do cultivo em terraços.

b) As tchinãmpas eram ilhas artificiais erguidas sobre o Lago tescôco como forma de aumentar as áreas de cultivo. Já os terraços eram degraus escavados pelos incas nas encostas montanhosas para ampliar a área de cultivo e evitar a erosão.

Aprofundando

2. a) É o sambaqui.

b) Há sambaquis em vários locais da América, mas principalmente no litoral brasileiro, entre Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Eles foram formados entre 10 mil e mil anos atrás.

c) Formações como essa resultaram do acúmulo de resíduos dos povos que habitavam o litoral, como restos de moluscos, peixes, ferramentas e cerâmicas. Provavelmente eram usados como locais de habitação e sepultamento.

d) A proximidade com o mar fornecia a esses grupos abundância e regularidade de alimentos, possibilitando a permanência no mesmo local por bastante tempo. Já os grupos caçadores-coletores de áreas interioranas precisavam se deslocar constantemente em busca de alimento.

3. Analise as duas imagens a seguir para responder às questões.

Fotografia. Pintura rupestre nas cores vermelha, branca e amarela, com formas de animais e de seres humanos, em parede de uma caverna.
Registro rupestre no sítio Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Parque Nacional Serra da Capivara Piauí.
Fotografia. Objeto cerâmico com base pequena, bojo arredondado e boca alta e larga com diversos desenhos e inscrições e alguns adorno em alto-relevo.
Urna de cerâmica encontrada na Ilha de Marajó Pará.
  1. Que grupos ou povos produziram o registro rupestre e a urna de cerâmica?
  2. Que informações é possível obter a respeito do estilo de vida dos povos que deixaram esses vestígios?
  3. Qual é a importância desses tipos de vestígio para o conhecimento sobre os antigos habitantes do território correspondente ao do Brasil atual?
  4. Escolha dois ou três objetos que fazem parte de seu dia a dia e conte para os colegas o que eles podem revelar sobre suas preferências, suas características e seu modo de vida.

4. Junte-se a um colega e analisem o texto a seguir. Depois, façam o que se pede.

“Uma equipe multidisciplinar internacional com cientistas de 14 instituições comprovou, pela primeira vez, que as plantas de milho trazidas do México para a América do Sul há mais de 6,5 mil anos eram de um tipo genético mais primitivo do que até então se acreditava. As conclusões se basearam em evidências genéticas, arqueológicas e linguísticas. reticências a equipe coordenada por logã clistlêr reconstruiu a evolução da planta. Para isso, fez uma comparação genética de mais de 100 variedades de milho moderno que crescem em todas as Américas reticências.”

erbelê, M. D. Cientistas se baseiam em evidências genéticas e arqueológicas para uma nova versão da história do milho. Embrapa, 13 dezembro 2018. Disponível em: https://oeds.link/aRUmpm. Acesso em: 30 dezembro 2021.

  1. Identifiquem o tema abordado no texto.
  2. O que foi comprovado pela equipe de pesquisadores citada no texto?
  3. Que termos ou ideias caracterizam esse texto como científico?
  4. Que palavras foram utilizadas para convencer o leitor da veracidade das informações?
  5. Como é possível identificar nas referências, o texto foi publicado no site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Para saber se essa é uma fonte confiável, façam uma pesquisa sobre a história da Embrapa, suas relações institucionais e os trabalhos que ela desenvolve.
Respostas e comentários

Registro rupestre datado entre 13 mil antes de Cristo e 4 mil antes de Cristo

Cerâmica Marajoara de 400 Depois de Cristo a 1400 Depois de Cristo

3. a) O registro rupestre foi produzido por paleoíndios na Região Nordeste, especificamente no estado do Piauí. A urna foi produzida pelo povo marajoara, que habitou a região da Ilha do Marajó, no atual estado do Pará.

b) Sendo um registro rupestre que representa provavelmente uma cena de caça, é possível inferir que seus produtores eram caçadores. Já a segunda imagem indica que o povo que a produziu era ceramista, um forte indicativo de sedentarização.

c) Espera-se que os estudantes percebam, primeiramente, que sem fontes a produção de conhecimento científico é impossível. Em um segundo momento, eles devem considerar que a cultura material funciona como mediadora de relações sociais, de modo que as modificações nas paisagens e os artefatos produzidos por um povo revelam diversos indícios de seu modo de vida.

d) A resposta é livre, mas deve ser lógica e fundamentada. Por exemplo, se os estudantes possuem caderno e caneta, fazem parte de uma sociedade ou grupo que costuma escrever (não existem tais objetos em sociedades ágrafas); as estampas e desenhos presentes nesse caderno podem ser indícios de seus gostos e preferências. Explore com os estudantes os indícios relativos aos objetos que eles selecionaram.

4. a) A difusão da cultura do milho.

b) Que as plantas de milho trazidas para a América do Sul há mais de 6,5 mil anos eram de um tipo genético mais primitivo do que se pensava.

c) Auxilie os estudantes a reparar que no texto são empregadas palavras e comunicadas ideias relativas à produção do conhecimento científico. Pode-se dizer que esse conhecimento foi produzido com base em uma pesquisa na qual a equipe selecionou e observou as amostras ou vestígios genéticos, arqueológicos e linguísticos referentes a essas plantas, formulou hipóteses, analisou tais vestígios e apresentou uma conclusão. Esses elementos podem ser depreendidos da análise do texto e referem-se à metodologia de produção do conhecimento científico. Assim, é possível verificar se uma hipótese é verdadeira ou não.

d) Palavras como “comprovou” e “evidência” fortalecem o sentido de que as informações comunicadas pelo texto são verídicas.

e) A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Desde 1973 realiza pesquisas voltadas para o desenvolvimento da agropecuária no Brasil. Trabalha com diversos temas, como melhoramento genético, estudos para o aprimoramento de máquinas e pesquisas sobre bacias hidrográficas. Trata-se de uma fonte de informações confiável. Incentive os estudantes a pesquisar mais sobre a empresa em livros, jornais e revistas e, se possível, a acessar o site da empresa: https://oeds.link/TSY4Zn. Acesso em: 4 janeiro 2022. Sugira aos estudantes que naveguem pela aba “A Embrapa”, com destaque para as tags “Quem somos”, “Memória Embrapa” e “Missão, visão e valores”. Esse trabalho reforça a ideia de que o site é sério e confiável. Contudo, cabe ressaltar que, assim como a Embrapa, qualquer site confiável emite visões de mundo e posições políticas embutidas nas notícias e pesquisas que veicula, sendo necessárias análises em cada caso. Com essa atividade, pretendeu-se promover o desenvolvimento de uma consciência crítica em relação aos recursos e estratégias de convencimento utilizados nesses meios de comunicação. Com o exercício de verificação de confiabilidade da fonte, os estudantes têm contato com o método científico e, ao mesmo tempo, podem exercitar a habilidade de verificação de fontes necessária para combater o fenômeno das fake news.

Glossário

Megafauna
: conjunto de animais de grandes proporções.
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Camelídeo
: mamífero da mesma família que o camelo, o dromedário, a lhama, a alpaca e outras espécies.
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Mesoamérica
: região do continente americano entre o sul do México e partes da América Central.
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