CAPÍTULO 5 AS ANTIGAS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS

Nesta página, estão reproduzidas duas fotografias do mural feito pelo artista Eduardo Kobra e sua equipe para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Na obra, que mede mais de 3 mil metros quadrados, o artista representou integrantes de cinco povos, um de cada continente: o rúli (da Oceania), o mursi (da África), o caín (da Ásia), o súpi (da Europa) e o Tapajó (da América). Na primeira foto, está a pintura de uma representante do povo mursi, que vive no sudoeste da Etiópia. A seguir, você pode conferir a obra de Eduardo Kobra em tamanho maior.

Fotografia. Detalhe de mural com a pintura do rosto de uma mulher negra com adornos de argolas na altura das orelhas. O rosto é coberto por diversas listras e formas geométricas coloridas. A testa é quadriculada em várias cores, a região dos olhos tem duas faixas, uma verde e outra amarela, e a parte inferior do rosto tem listras diagonais coloridas .
Fotografia. Parte de um mural visto em plano aberto, ao fundo, com um trem de última geração à frente, cobrindo a parte inferior do mural, e uma praça com algumas árvores à direita. No mural, há vários rostos pintados com listras e formas geométricas coloridas. Da esquerda para a direita, o rosto de uma mulher negra com adornos de argolas na altura das orelhas, o rosto de uma mulher idosa de feições asiáticas com argolas no pescoço e um pano na cabeça, e o rosto de um jovem indígena com cocar. Há outros rostos na parte direita do mural, mas eles estão desfocados na fotografia.
Todos somos um (etnias), parte e detalhe do mural de Eduardo Kobra no Rio de Janeiro Rio de Janeiro. Fotos de 2016.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. O que o artista brasileiro Eduardo Kobra representou nesse mural?
  2. Que mensagem ele pretendeu transmitir com essa representação?
  3. Que relações é possível estabelecer entre o tema desse mural e as antigas civilizações africanas? Explique seu ponto de vista.
Respostas e comentários

Abertura

Na abertura, é apresentado um mural do artista Eduardo Kobra a fim de destacar a diversidade cultural como componente essencial da condição humana, pois todas as culturas se reformulam por meio da interação entre diferentes grupos. No caso específico do Brasil, cabe enfatizar as relações culturais diretas que o país mantém com o continente africano.

Atividades

1. Espera-se que os estudantes percebam que Eduardo Kobra representou no mural a diversidade étnica que compõe a humanidade. As cores empregadas no grafite, marca do artista, podem ser entendidas como uma representação da vibração da diversidade.

2. Para elaborar essa obra, o artista se inspirou na mensagem de união transmitida pelos cinco anéis olímpicos e juntou imagens de integrantes de povos de cada continente (o rúli, da Oceania, o mursi, da África, o caín, da Ásia, o súpi, da Europa, e o Tapajó, da América) em uma representação única da diversidade étnica, da convivência e da cooperação entre diferentes culturas.

3. Os estudantes podem considerar, por exemplo, que o tema do grafite se relaciona ao estudo das sociedades antigas africanas em razão da diversidade étnica, da convivência e da interação entre diferentes culturas.

Em agosto de 2016, o grafite mural produzido por Kobra entrou no Guinnes Book (livro dos recordes) como o maior grafite produzido no planeta. Para sua produção foram utilizados cêrca de .1800 litros de tinta branca, 3 mil latas de spray e 700 litros de tinta colorida. Tudo isso confere um caráter monumental à obra.

África: um continente presente

A África é um grande continente e parte de sua história se associa à do Brasil. Você sabe por quê? Entre os séculos dezesseis e dezenove, milhões de africanos de origem bãnto, do Golfo do Benin, do centro-oeste do continente, da Senegâmbia, de Serra Leoa e da Costa do Ouro (no Golfo da Guiné), foram obrigados a vir para o Brasil na condição de escravizados, como você estudará no ano que vem.

Durante o período colonial, os encontros entre os africanos escravizados, os colonizadores europeus e os povos indígenas que viviam na América foram, muitas vezes, violentos e resultaram no Brasil atual, país com muitas riquezas e profundas contradições e desigualdades.

A sociedade brasileira está marcada pela herança cultural dos povos da África. A influência das culturas africanas está presente, por exemplo, na maneira de sentir o mundo e de lidar com as pessoas, nas crenças e no gosto artístico dos brasileiros.

Além disso, na língua portuguesa há muitas palavras originadas dos idiomas africanos: angu, banguela, batuque, berimbau, cafuné, camundongo, calundu, caxumba, dengo, fubá e uma infinidade de outras.

Fotografia. Grafite representando uma menina negra com véu na cabeça desenhada duas vezes, uma de costas para outra. Ao fundo, desenhos assimétricos em preto e amarelo. Em cima, letras estilizadas em amarelo sobre um fundo verde.
Detalhe de grafite pintado na região conhecida como Pequena África, no Valongo, Rio de Janeiro Rio de Janeiro. Foto de 2017.
Fotografia. Construção de esquina de três andares, com paredes brancas e doze portas altas no térreo (três na lateral e nove na frente) e a mesma disposição de balcões no primeiro andar e de janelas no segundo andar. No terceiro andar, de teto triangular, há apenas sete janelas de diferentes tamanhos na parte da frente.
Casa do Benin, no bairro do Pelourinho, em Salvador (Bahia). Foto de 2022.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O grafite representa a memória da luta dos negros no Brasil. A região do Valongo, na cidade do Rio de Janeiro, foi o local de desembarque de milhões de africanos escravizados. Já a Casa do Benin, na cidade de Salvador, é um museu fundado para incentivar reflexões sobre as relações entre a cultura baiana e a cultura do Golfo do Benin.

Respostas e comentários

É importante destacar a contribuição da presença africana ou afro-atlântica (expressão usada para designar descendentes de africanos nascidos em territórios atlânticos) à cultura, à ciência, à economia e a vários outros aspectos da sociedade brasileira.

A migração e o relacionamento entre culturas são componentes essenciais da condição humana. As trocas de conhecimentos, de experiências e de visões de mundo foram essenciais para o desenvolvimento das estruturas sociais, culturais, econômicas e políticas dos grupos humanos. É importante também desnaturalizar a ideia de “culturas puras”, que não teriam se beneficiado de trocas, para que os estudantes compreendam a importância da diversidade cultural e da mobilidade como elementos intrínsecos à condição humana.

Objetivos do capítulo

Apresentar o processo de formação do Egito antigo e dos reinos de Cuxe e de Axum.

Localizar no tempo diferentes períodos da história do Egito antigo.

Apresentar a longa duração da civilização egípcia.

Caracterizar os aspectos políticos, econômicos e culturais do antigo Egito, destacando as relações dos egípcios com outros povos.

Localizar no tempo e no espaço as civilizações cuxita e axumita, identificando suas relações com o Egito e outras regiões.

Reconhecer a importância do estudo da história da África.

Justificativa

Os objetivos apresentam relevância e pertinência na medida em que abordam a diversidade de civilizações e de sociedades que se desenvolveram no continente africano, ampliando o repertório cultural dos estudantes e contribuindo para desmistificar visões estereotipadas sobre a história africana. A percepção da diversidade das sociedades africanas antigas se completa com a ênfase nas relações entre elas, articulando-se à visão plural da história que caracteriza essa coleção. Justificam-se ainda por trabalhar com as grandezas temporais e com o reconhecimento das periodizações da história de uma sociedade. A compreensão das relações entre aspectos políticos, culturais e econômicos que compõem as sociedades africanas também é desenvolvida, colaborando para explicações e análises históricas com causalidades múltiplas.

África plural

Você já escutou alguém dizer: “Lá na África, as pessoas vivem assim ou assado”? Essa afirmação está incorreta, pois passa a ideia de que na África há apenas uma cultura. Seria o equivalente a dizer: “No Equador, as pessoas vivem da mesma fórma que no Brasil, na Argentina e na Bolívia”. Os brasileiros têm coisas em comum com outros americanos, mas há muitas culturas na América. Isso vale para qualquer continente, inclusive a África.

Para compreender a pluralidade africana, pode-se pensar sobre a diversidade linguística dos povos que vivem lá. No continente, que tem cêrca de 30 milhões de quilômetros quadrados, são faladas cêrca de 2 mil línguas e milhares de dialetosglossário . Isso corresponde a 30% dos idiomas falados em todo o planeta!

Os povos africanos somam mais de 1 bilhão de pessoas, que vivem em 58 países com diferentes biomasglossário , como as florestas, a savana e os desertos, e desenvolveram técnicas e culturas distintas para sobreviver em cada um deles.

Fotografia. Em primeiro plano, área desértica, de solo argiloso, coberta de areia, com poucas árvores sem folhas e poucos arbustos. Ao fundo, dunas de areia e o céu azul.
Sossusvlei, no Deserto da Namíbia. Foto de 2019. Esse vale está em um local cheio de dunas, e seu solo é composto de sal e argila branca.
Fotografia. Em primeiro plano, área de vegetação com bosques e grama verdejante. Ao fundo, montanhas com neve e céu azul.
Monte túbcal, na Cordilheira do Atlas, no Marrocos. Foto de 2020. Na cordilheira, localizada no noroeste africano, a neve é frequente.
Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

As imagens retratam dois lugares da África bastante distintos. Quais são as principais diferenças da paisagem nestas duas fotos?

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre as línguas na África retirados de: PEREIRA, F. A diversidade linguística africana e suas heranças na formação do português no Brasil. afreáca. Disponível em: https://oeds.link/xQeqdR; bernd H.; dérec, N. (edição). African languages: an introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. página 1. Disponível em: https://oeds.link/0FCFGR. Acessos em: 5 janeiro 2022.

Resposta do Se liga no espaço!: Espera-se que os estudantes mencionem o relevo (montanhas em túbcal e dunas em Sossusvlei), o solo (rochoso em túbcal e composto de argila e sal em Sossusvlei) e a vegetação (mediterrânica em túbcal e desértica em Sossusvlei).

Bê êne cê cê

Ao tratar da pluralidade cultural, apontando a existência de diversas culturas que fazem parte do continente africano, o conteúdo do texto contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1 e nº 4.

Tema Contemporâneo Transversal

Ao evidenciar a pluralidade africana, presente no continente desde tempos antigos até a atualidade, é possível adotar o termo “Áfricas” para caracterizar o continente, da mesma maneira que se fala em “Américas”. Ao longo do capítulo, no estudo do continente africano em diversos tempos e espaços, destaca-se a pluralidade a fim de dotá-la de profundidade histórica, o que contribui para o desenvolvimento do Tema Contemporâneo Transversal Diversidade cultural.

Ampliando

Leia a seguir mais informações a respeito do meio ambiente do continente africano.

“O continente africano está separado da Europa pelo Mar Mediterrâneo e da Ásia pelo Mar Vermelho, mas liga-se a ela por meio da sua extremidade nordeste, o Istmo de Suez. A principal subdivisão da África refere-se às duas regiões que ficam ao norte e ao sul do Deserto do Saara – África Subsaariana, ou África Negra, e norte da África, ou Magreb reticências. Com exceção dos Montes Atlas, no norte, do maciço etíope e do dráquensbêrguê sul-africano, o território africano é um planalto vasto e ondulado, marcado por quatro grandes bacias hidrográficas: a do Nilo, a do Níger, a do Congo e a do Zambeze.

A África pode ser dividida, geograficamente, em três regiões distintas: o planalto setentrional, os planaltos central e meridional e as montanhas do leste. A característica peculiar do planalto setentrional é o Deserto do Saara, que se estende por mais de um quarto do território africano. As faixas litorâneas baixas, com exceção da costa meridional e da costa do Guiné, são estreitas e elevam-se bruscamente em direção ao planalto. reticências

A África é riquíssima em recursos minerais, possuindo em seu subsolo a maioria dos minerais conhecidos, sobretudo os mais raros e valiosos, muitos deles em quantidades notáveis. Sua principal atividade econômica refere-se à mineração, principalmente nas grandes jazidas de carvão, reservas de petróleo e de gás natural, bem como as maiores reservas do mundo de ouro, diamantes, cobre, bauxita, manganês, níquel, rádio, germânio, lítio, titânio e fosfato.”

VISENTINI, P. F.; RIBEIRO, L. D. T.; PEREIRA, A. D. História da África e dos africanos. Petrópolis: Vozes, 2014. página 18-19.

Cruzando fronteiras

O continente africano apresenta vários tipos de relevo, como cadeias montanhosas, planícies e planaltos. Analise o mapa e leia o texto a seguir. Depois, responda às questões.

África: relevo

Mapa. África: relevo. Mapa da África representando as características físicas do território, como altitudes, principais rios e picos.
Altitudes (metros) 
Acima de 3.000 metros: área no Planalto da Etiópia, localizado a nordeste do continente, onde há o pico Ras Dascian de 4.620 metros. Também a leste do continente, próximo ao Lago Vitória, no Planalto dos Grandes Lagos (Oriental), onde estão os picos Quênia (5.199 metros), Quilimanjaro (5.895 metros) e Ruwenzori (5.109 metros); sudeste, no centro da ilha de Madagascar há uma faixa de 3.000 metros; a oeste, pequena área próxima ao litoral do Golfo da Guiné, onde está o pico Camerun, (4.100 metros).
De 1.500 a 3.000 metros: áreas na porção noroeste do continente onde há a Cadeia do Atlas; a nordeste, no Planalto da Etiópia e na península da Somália; a leste, no Planalto dos Grandes Lagos; a sudeste, na Ilha de Madagascar; e ao sul, em Drakensberg.
De 500 a 1.500 metros: extensa área no centro-sul e no centro-oeste do continente; a nordeste, nas bordas do Planalto da Etiópia e na Península da Somália; a leste, no Planalto dos Grandes Lagos (Oriental); no norte, na Cadeia do Atlas; na porção central do Saara. 
De 200 a 500 metros: maior parte da porção noroeste e nordeste do continente; em áreas próximas às costas leste e sudeste e ao centro, na Bacia do Congo.
0 a 200 metros: altitude predominante em todo o litoral do continente e nas margens dos principais rios (Senegal, Gâmbia, Níger, Volta, Nilo, Congo e Orange).
Depressão: Depressão de Qattara, no noroeste do Egito, com 133 metros abaixo do nível do mar.
Picos: Quilimanjaro 5.895 metros, Quênia 5.199 metros, Ruwenzori 5.109 metros, Ras Dascian 4.620 metros, Camerun 4.100 metros e Tubkal 4.167 metros. 
À esquerda, a rosa dos ventos e escala de 0 a 870 quilômetros.

FONTE: FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 82.

reticências Habitado por nômades, é cruzado por rotas de caravanas há séculos. Embora não tenha impedido a comunicação entre a África tropical e o Mediterrâneo, desde a Antiguidade até a Época Moderna, o Saara agiu como um filtro, limitando a penetração de influências mediterrâneas reticências. Desse modo, o maior deserto do mundo desempenhou um papel capital no isolamento geográfico de uma grande parte da África [...].

Devido à sua natureza maciça e seu relevo, a África ficou geograficamente isolada do mundo mediterrâneo [...].”

DIARRA, S. Geografia histórica: aspectos físicos. In: qui zêrbo, J. Metodologia e pré-história da África. segunda edição Brasília: unêsco, 2010. volume um, página 348-350. (Coleção História geral da África).

Responda no caderno.

  1. Identifique pelo menos dois tipos de relevo representados no mapa.
  2. Que elemento físico dificultou o contato de parte da África com o mundo mediterrâneo?
  3. Com base no texto, é possível afirmar que, durante a Antiguidade e a Idade Moderna, o continente africano estava completamente isolado? Justifique sua resposta.
Respostas e comentários

Cruzando fronteiras

Pretende-se com essa seção dialogar de fórma direta com a proposta do tópico “África plural”. As análises geo-históricas do continente africano são recorrentes na historiografia e na arqueologia sobre a África antiga. Por isso, é fundamental indicar a inexistência de determinismo de uma característica sobre a outra e valorizar as relações entre natureza e cultura e entre geomorfologia e história. Os documentos propostos para análise – mapa e texto – são acompanhados de questões sobre a leitura e a interpretação do mapa e do texto. Pretende-se com essas questões introduzir noções que permitam a reflexão sobre o conceito de eurocentrismo, que será desenvolvido ao longo dessa etapa do ensino.

Interdisciplinaridade

A seção dialoga com o componente curricular geografia, contribuindo para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis gê ê um um – “Analisar distintas interações das sociedades com a natureza, com base na distribuição dos componentes físico-naturais, incluindo as transformações da biodiversidade local e do mundo”.

Atividades

1. Os estudantes podem identificar cadeias montanhosas (como a Cadeia do Atlas), planaltos (como o Planalto da Etiópia), planícies e depressões.

2. Espera-se que os estudantes indiquem o Deserto do Saara, citado nominalmente no texto, mas também podem destacar a existência de outros desertos e cadeias montanhosas.

3. Não. De acordo com o texto, nem mesmo o Saara impediu as influências mediterrâneas na África subsaariana.

O Egito antigo

Entre 8000 antes de Cristo e 5000 antes de Cristo, o clima no planeta Terra tornou-se mais úmido. A umidade provocou a cheia de alguns rios e lagos africanos. São desse período os primeiros registros arqueológicos do plantio de cereais, como o sorgo e o arroz, e de objetos feitos de metal.

No continente africano, os sítios arqueológicos em que foram encontrados vestígios de objetos de metal e de práticas agrícolas são datados entre 3800 antes de Cristo e 3000 antes de Cristo Eles se concentram principalmente nas proximidades do Rio Nilo e na Núbia.

O Nilo é o segundo maior rio do mundo. Ao sul, na região do Alto Nilo, o rio se mantém perene em todas as estações do ano por causa das chuvas frequentes e da proximidade com os lagos Vitória e Tana.

Na região do Baixo Nilo, o clima é seco, mas o rio sempre transborda. Isso ocorre por causa do volume de chuvas que incidem nos lagos e na região do Alto Nilo. As águas que transbordam nas margens do Nilo carregam restos de plantas e de animais. Quando as cheias acabam, esses materiais orgânicos ficam depositados nas margens do rio, tornando-as muito férteis. Por isso, a terra das margens do Nilo é chamada quemét, que significa “terra preta” ou “terra fértil”.

Por sua importância para os antigos egípcios, o historiador grego Heródoto, que provavelmente esteve no Egito no século cinco antes de Cristo, afirmou: “O Egito é uma terra nova e uma dádiva do Nilo”.

Ilustração. Representação das regiões banhadas pelo Rio Nilo. De baixo para cima: O Lago Vitória, nascente do Rio Nilo, cercado por dunas. Do Lago Vitória o rio segue para o norte, passando pela região denominada Alto Nilo. Mais adiante, ilustração de prédios brancos dos dois lados do rio com o nome da cidade de Cartum. À direita, uma ramificação do rio forma o Lago Tana. Depois da cidade de Cartum, o rio avança para o norte tendo suas margens ocupadas por plantações. Mais adiante, pirâmides à esquerda do rio e de prédios brancos à direita do rio, com a indicação da cidade de Assuã. Seguindo para o norte, do lado esquerdo, sai uma ramificação para um lago sem nome. Essa região é chamada de Baixo Nilo. Dessa área parte um traço indicativo na direção de uma fotografia que mostra uma vista aérea da margem do Rio Nilo, tendo do lado direito uma área de areia, descampada, e do lado esquerdo plantações. Na ilustração, acima do lago sem nome, do lado esquerdo do rio, há prédios brancos e três pirâmides com a indicação da cidade de Gizé. Do lado direito do rio, há a ilustração de uma torre em forma piramidal e a indicação da cidade de Luxor. Nessa região termina a área de plantação ao redor do rio. Um pouco ao norte, o rio apresenta várias pequenas ramificações que seguem na mesma direção e vão desembocar no Mar Mediterrâneo, onde há o desenho de três embarcações. A região com as ramificações recebe o nome de Delta do Nilo. Ao lado do início dessas ramificações há o nome da cidade do Cairo. Do Delta do Nilo, um traço indicativo leva até outra fotografia, que apresenta uma imagem de satélite da região, onde é possível ver o curso do rio e o Delta do Nilo, em verde, suas margens em bege, e um pequeno trecho do Mar Mediterrâneo, em azul.
O Rio Nilo nasce na região central da África, no Lago Vitória, e é alimentado pelo Lago Tana. Ele segue em direção ao norte, até desaguar no Mar Mediterrâneo.

FONTE: BELER, A. G. de. O Egito antigo passo a passo. São Paulo: Claro Enigma, 2016. página 8. (Coleção Passo a passo).

Respostas e comentários

Foto 1: Imagem de satélite do Delta do Rio Nilo, 2022.

Foto 2: Margem do Rio Nilo próximo à Luxor, Egito. Foto de 2021.

Citação sobre o Nilo retirada de: HERÓDOTO. História. Livro dois. terceira edição Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. página 136.

Interdisciplinaridade

Ao tratar do Rio Nilo como um fato geográfico importante para a organização da vida no Egito, o conteúdo se relaciona ao componente curricular geografia, contribuindo para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis gê ê um zero – “Explicar as diferentes fórmas de uso do solo (rotação de terras, terraceamento, aterros etcétera) e de apropriação dos recursos hídricos (sistema de irrigação, tratamento e redes de distribuição), bem como suas vantagens e desvantagens em diferentes épocas e lugares” – e ê éfe zero seis gê ê um um – “Analisar distintas interações das sociedades com a natureza, com base na distribuição dos componentes físico-naturais, incluindo as transformações da biodiversidade local e do mundo”.

O Nilo é formado pela junção de dois rios: o Nilo Branco, que nasce na região central da África, onde hoje se localizam Tanzânia, Quênia e Uganda, e o Nilo Azul, que se origina no Lago Tana, onde hoje fica a Etiópia.

A afirmação de Heródoto sobre o Nilo, “O Egito é uma terra nova e uma dádiva do Nilo”, não pode ser interpretada como determinismo geográfico. É importante destacar a ação antrópica no uso do rio para a sobrevivência das comunidades, e não a submissão destas a ele.

Por muito tempo vigorou o que ficou conhecido como “hipótese causal hidráulica”, segundo a qual as civilizações se formaram ao longo de grandes rios em decorrência da abundância desse recurso e das dificuldades que enfrentavam. Embora os recursos hídricos fossem abundantes e seu uso dependesse de algum contrôle humano, não determinaram o desenvolvimento de fórmas estatais centralizadas características de uma “civilização”. É provável que as populações concentradas nas margens dos rios praticassem alguma fórma de contróle sobre o fluxo sazonal das águas, mas isso não condicionava a prática de atividades coordenadas e centralizadas.

O regime de cheias e a agricultura

Em razão do regime de cheias, o Rio Nilo tornou-se elemento central na vida dos antigos egípcios. Eles usavam o rio para plantar alimentos, como cereais (cevada, trigo e arroz), frutas (uvas e tâmaras, entre outras) e hortaliças. Eles também criavam animais, como gado bovino (usado para auxiliar no trabalho da lavoura), cabras, ovelhas e pequenas aves, como cisnes, marrecos e patos.

Pintura. Imagem circular dividida em três faixas. Na faixa inferior, vegetação com árvores frutíferas. Na faixa central, um homem sem camisa e com um pano branco amarrado na cintura segura um arado puxado por dois bois com uma mão e manuseia um chicote com a outra. Atrás dele, uma mulher com túnica branca segura uma cesta em uma mão e joga sementes da outra. Na faixa superior, traços verticais na cor laranja.
Detalhe de pintura produzida entre 1292 antes de Cristo e 1190 antes de Cristo, encontrada na tumba de senedjêm, localizada em dirr él mêdína, Tebas, Egito. Na parte superior da imagem, é representado um homem com um arado puxado por animais e uma mulher semeando a terra. Na parte inferior, é representada uma plantação de tâmaras.

Além disso, o Nilo era quase todo navegável, o que facilitava a comunicação e o transporte de pessoas e de cargas de diferentes locais. Ao longo do tempo, os egípcios realizaram obras, como a construção de barragens, diques e canais, para conter e aproveitar melhor as águas do rio.

A vida no Egito antigo era tão marcada pelo movimento do Nilo que até mesmo o calendário era dividido de acordo com o ritmo desse rio. Para os egípcios antigos, o ano era composto de 365 dias e dividido em 12 meses e três estações, que correspondiam ao ciclo do rio: a de inundação (aquét), a de semeadura (perê) e a de colheita (xemú).

Os ciclos do Rio Nilo e o calendário no Egito antigo

Ilustração. 'Os ciclos do Rio Nilo e o calendário no Egito antigo'. Ilustração em três quadros, acompanhados de boxes com textos.
Quadro1. Um homem montado em um camelo e outro em pé ao seu lado; em segundo plano, um grande rio e, ao fundo, três pirâmides. Abaixo, o boxe com o texto: Inundação (akhet): Essa estação correspondia aos meses de junho a outubro do calendário gregoriano (o que nós utilizamos hoje). Nessa época do ano, ocorriam a cheia do Rio Nilo e o acúmulo dos sedimentos em suas margens, garantindo a fertilidade do solo. 
Quadro 2. Dois homens trabalhando num campo, um deles carregando um cesto e jogando sementes, e outro conduzindo um arado puxado por dois bois. Ao fundo, um rio. Abaixo, um boxe com o texto: Semeadura (peret): A estação de semeadura correspondia aos meses de novembro a fevereiro. Nessa época, as águas do Nilo retrocediam e, com o solo irrigado e adubado, os agricultores começavam a preparar a terra e a semear. 
Quadro 3. Homens trabalhando no campo, um deles ao fundo colhendo o trigo, e outros dois carregando nos ombros um cesto grande cheio de feixes de trigo já cortados. Abaixo, um boxe com o texto: Colheita (shemu): A colheita era realizada entre os meses de março e junho, quando o nível do Nilo já estava baixo e iniciava-se um período de seca.

FONTE: beler, A. G. de. O Egito antigo passo a passo. São Paulo: Claro Enigma, 2016. página 9. (Coleção Passo a passo).

Dica

LIVRO

O Egito antigo passo a passo, de Aude Gros de Beler. São Paulo: Claro Enigma, 2016. (Coleção Passo a passo).

Para quem quer conhecer melhor essa antiga civilização africana, a narrativa desse livro é muito convidativa e as ilustrações ajudam a pensar em como seria viver no Egito na Antiguidade.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar das obras realizadas pelos egípcios para aproveitar as águas do Rio Nilo, da domesticação de plantas e animais, da comunicação, do transporte pelo Rio Nilo e da diferenciação do ambiente ao longo do tempo, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco e da Competência Específica de Ciências Humanas nº 3.

Temas Contemporâneos Transversais

Ao tratar dos usos e técnicas para a exploração econômica do Rio Nilo, é possível mencionar como a tecnologia de aproveitamento hídrico é usada na atualidade, destacando, por exemplo, o uso da água para geração de energia elétrica – algo impensável no período histórico abordado neste capítulo. Seria interessante mobilizá-los por meio de perguntas como: o uso dos rios na atualidade parece mais ou menos impactante que na Antiguidade? E a questão da poluição dos rios? Vocês imaginam que só na atualidade isso é uma questão? Perguntas como essas, relacionando passado e presente, servem como mobilizadoras para abordar os Temas Contemporâneos Transversais Educação ambiental e Ciência e tecnologia.

Curadoria

Síntese da coleção História geral da África: pré-história ao século catorze (Livro)

Valter Roberto Silvério (edição). Brasília: unêsco: Méqui: úfiscar, 2013.

Essa síntese da coleção História geral da África, originalmente composta de oito volumes, abrange o período compreendido entre a pré-história africana e o século dezesseis. A obra apresenta informações importantes sobre a história da África e sua relação com outros componentes curriculares. Se desejar, consulte o capítulo sobre a África antiga, para aprofundar seus conhecimentos a respeito dos assuntos tratados neste capítulo.

A religiosidade egípcia

A religiosidade marcava o cotidiano dos egípcios, que eram politeístas. Eles acreditavam que a terra do Egito tinha sido criada por num, o deus que representava o líquido que deu origem ao universo. Esse líquido era associado às águas do Rio Nilo.

Para eles, o deus Quinum e suas esposas sátis e anuquet eram responsáveis pela fertilidade do solo das margens do Rio Nilo. Os antigos egípcios adoravam ainda várias outras divindades, como Anúbis, Ísis e tót.

O nome e as características de cada deus podiam variar de uma região para outra. Muitos tinham características de animais e em cada cidade era adorado um ou mais deuses.

Os egípcios pensavam que, se alguém contrariasse as divindades, uma severa punição poderia se abater sobre esse indivíduo, sua família e até sobre todo o Egito. Eles também acreditavam na vida após a morte. Essa crença era expressa em práticas como a da mumificaçãoglossário .

Alguns dos deuses egípcios

Ilustração. 'Alguns dos deuses egípcios'. Representação estilizada dos principais deuses egípcios acompanhada de textos informativos. Da esquerda para a direita:
Tot: Deus da escrita e do conhecimento – figura humana com cabeça da ave, adorno na cabeça e colar no pescoço.
Hator: Deusa do amor e da dança – mulher de cabelo curto usando um chapéu com chifres compridos e pontudos e um círculo entre eles e com um colar no pescoço.
Maat: Deusa da verdade e da justiça – mulher com asas nos braços usando uma pena na cabeça.
Anúbis: Deus da mumificação – figura humana com cabeça de um cachorro (ou chacal) preto com adorno na cabeça.
Hórus: protetor da realeza egípcia – figura humana com cabeça de ave, adorno na cabeça e colar no pescoço. Segura um cajado em uma das mãos.
Bastet: filha do sol – figura humana com cabeça de gato e rabo, usando adorno na cabeça e vestido. 
Ísis: protetora dos vivos e dos mortos. Era a esposa de Osíris – Mulher com asas nos braços, usando uma faixa com penas na cabeça.
Osíris: Deus dos mortos – figura humana com corpo azul, usando roupas brancas, de braços cruzados, segurando um cetro curvado em uma mão e um bastão com tiras na outra.

FONTE: beler, A. G. de. O Egito antigo passo a passo. São Paulo: Claro Enigma, 2016. página 12-13. (Coleção Passo a passo).

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique de que modo a história da África e a do Brasil se associam. Cite exemplos de duas heranças culturais que os brasileiros receberam dos povos africanos.
  2. Qual foi a importância do Rio Nilo para o desenvolvimento da sociedade egípcia?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar do calendário egípcio, do sistema de escrita, da religião politeísta, das crenças na vida após a morte e da cultura, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero setee da Competência Específica de História nº 1.

Na ilustração “Alguns dos deuses egípcios” desta página, optou-se por uma representação artística para, didaticamente, despertar o interesse dos estudantes sobre essa temática. As fórmas de representação visual dos deuses egípcios serão retomadas com os estudantes na Atividade 5 da seção “Atividades”.

Agora é com você!

1. Entre os séculos dezesseis e dezenove, milhões de africanos de origem banto do Golfo do Benin, do centro-oeste do continente, da Senegâmbia, de Serra Leoa e da Costa do Ouro (no Golfo da Guiné) foram escravizados e obrigados a vir para o território correspondente ao do Brasil atual. Os processos de integração, resistência e colaboração gerados pelo encontro entre esses povos e os que já viviam no território foram muitas vezes violentos e resultaram no Brasil atual. Entre as diversas heranças desses povos, podem-se citar a maneira de os brasileiros verem o mundo e lidar com as pessoas, as crenças e o gosto artístico. Pode-se citar também uma série de palavras de idiomas africanos incorporadas à língua portuguesa, como angu, banguela, batuque, berimbau, cafuné, camundongo, calundu, caxumba, dengo e fubá.

2. A sociedade egípcia se desenvolveu às margens do Rio Nilo, que conferia fertilidade à terra. Os egípcios usavam o rio para plantar alimentos e criar animais, e construíram barragens, diques e canais para aproveitar suas águas. Além disso, o rio era quase todo navegável, o que auxiliava a comunicação e o transporte de pessoas. O Nilo era tão importante para o Egito antigo que o calendário da sociedade que lá vivia era dividido de acordo com o regime de cheias e vazantes do rio.

Orientação para as atividades

As atividades do boxe “Agora é com você!” sistematizam o aprendizado de elementos fundamentais do capítulo estudados até esta página. Ao propô-las, pretende-se sensibilizar os estudantes para o estudo da história africana por meio do reforço da conexão entre a sociedade brasileira e a história do continente africano. Explore esse aspecto ao comentar a resposta à primeira questão. Como em outras atividades, atente para os dois níveis possíveis das respostas. As respostas demandam a identificação das informações e a sistematização dos dados em uma explicação própria. Pode ser que alguns estudantes tenham dificuldades para elaborar integralmente as explicações em textos próprios, limitando-se a enumerar as informações colhidas no texto. Considerando diferentes níveis de resposta, procure valorizá-las proporcionalmente na correção da atividade, sugerindo a reescrita das que apresentarem erro.

Sistemas de escrita no Egito antigo

No Egito havia três sistemas de escrita. O mais antigo, formado por volta de 4000 antes de Cristo, combinava símbolos que representavam ideias (ideogramas) e outros que representavam sons (fonemas). Esse sistema era usado em inscrições em monumentos, templos, túmulos e documentos oficiais. Era chamado de hieroglífico, que vem da palavra grega hieróglufus e significa “escrita sagrada”.

Fotografia. Desenhos coloridos compostos em faixas verticais, representando animais, como falcão, pato e besouro, plantas, olho, círculos, entre outras formas.
Detalhe de escrita hieroglífica produzida entre 1323 antes de Cristo e 1295 antes de Cristo, encontrada na tumba de roremberg, nas ruínas da antiga cidade de Tebas, Egito.
Exemplos do uso de hieróglifos

Hieróglifo

Leitura logográfica

Determinativo

Ilustração em preto e branco. Desenho de um homem sentado, visto de perfil.

Homem

Homem

Ilustração em preto e branco. Desenho de um homem sentado com uma mão na boca, visto de perfil.

Homem com a mão na boca

Atividade feita com a boca

Ilustração em preto e branco. Desenho de uma pessoa em pé, com o tronco curvado, apoiando-se num bastão, visto de perfil.

Ancião

Ancião, nobre

Ilustração em preto e branco. Desenho de uma mulher sentada, vista de perfil.

Mulher

Mulher

Ilustração em preto e branco. Desenho de uma criança com os joelhos levemente dobrados, vista de perfil.

Criança

Criança, filho

Ilustração em preto e branco. Desenho de um homem de cabelos compridos e barba, sentado, visto de perfil.

Deus

Divindade

Ilustração em preto e branco. Desenho de objeto retangular, horizontal, com um objeto menor em cima, no centro, com dois pequenos traços diagonais.

Rolo de papiro

Conceito abstrato

Ilustração em preto e branco. Desenho de uma árvore com copa comprida e estreita.

Árvore

Vegetação

Ilustração em preto e branco. Desenho de uma forma poligonal com um rabo na parte inferior.

Pele de mamífero

Animal

Ilustração em preto e branco. Desenho de curvas formando três montes.

Montanhas

Deserto, região, montanhas

Ilustração em preto e branco. Desenho de um círculo com duas retas entrecruzadas ao centro.

Encruzilhada

Cidade, civilização

Ilustração. Traço vertical preto.

Traço vertical

O número 1

No sistema hieroglífico, havia símbolos específicos para representar nomes e conceitos. A combinação desses símbolos gerava, ainda, outros sentidos. A leitura de um hieróglifo usado sozinho para representar objeto a que se refere é denominada logográfica. O determinativo é uma leitura com interpretação do hieróglifo.

FONTE: GRAMÁTICA egípcia clássica. aegptológus, 2021. Disponível em: https://oeds.link/8b1GfF. Acesso em: 5 janeiro 2022.

Além do hieroglífico, os egípcios criaram dois sistemas de escrita mais simples: o hierático (usado em documentos religiosos ou sacerdotais) e o demótico (empregado nos contratos de venda e em textos jurídicos e administrativos cotidianos).

Fotografia. Pedaço de cerâmica com formato irregular, contendo escritas em faixas horizontais.
Fragmento de cerâmica com inscrições em escrita hierática, produzido entre 1126 antes de Cristo e 1108 antes de Cristo, encontrado no Egito.
Respostas e comentários

É importante ressaltar o fato de que a escrita em suas variadas fórmas é mediadora de diferentes relações sociais. Nas línguas modernas, incluindo a portuguesa, há variações na fórma que correspondem à diversidade no uso. Um bom exemplo, conhecido pelos jovens, é a linguagem utilizada nos dispositivos digitais: o uso dos emôjis pode ser comparado ao de escritas ideográficas, como os hieróglifos.

Atividade complementar

Converse com os estudantes sobre o conhecimento científico dos egípcios antigos. Eles criaram relógios, calendários, pirâmides e papiro, implementaram o sistema de arado para o gado e a rede de canais para o desenvolvimento da agricultura etcétera Comente com eles que os antigos egípcios desenvolveram tecnologias ligadas à matemática, à química, à medicina, à engenharia etcétera Com base nessa ideia de riqueza tecnológica dos egípcios antigos, solicite aos estudantes que pesquisem as hipóteses formuladas para explicar como foram construídas as pirâmides e as tecnologias que os egípcios antigos provavelmente utilizaram na empreitada. É importante lembrar que essas grandes construções foram feitas por seres humanos, escravizados ou felás. Após a realização da pesquisa, peça aos estudantes que apresentem oralmente para os colegas as informações que encontraram.

A unificação do Egito

Na história do Egito anterior à escrita, ao longo do Rio Nilo formaram-se aldeias. Tais aldeias, que realizavam trocas comerciais e alianças entre si, juntaram-se, formando agrupamentos maiores denominados nomos. É provável que isso tenha ocorrido por causa da necessidade de construir obras para controlar as águas do Rio Nilo.

Com o tempo, alguns nomos da região do Baixo Nilo se uniram, formando o chamado Reino do Baixo Egito, enquanto outros nomos constituíram o Reino do Alto Egito, ao sul.

Por volta de 3200 antes de Cristo, Menés (ou Narmer) tornou-se o primeiro faraó, ou seja, o líder do Alto e do Baixo Egito, dando início à história do Egito antigo propriamente dita. De acordo com a tradição egípcia, ele era descendente dos chefes das últimas aldeias neolíticas ao norte do Nilo.

O Antigo Império

Entre os anos 2700 antes de Cristo e 2220 antes de Cristo, iniciou-se o período da história do Egito chamado Antigo Império. O faraó, governante desse império, detinha o poder político e, ao mesmo tempo, era reconhecido como um deus encarnado entre os seres humanos.

Na visão dos antigos egípcios, a prosperidade e a estabilidade do reino dependiam do faraó, que tinha como missão garantir as cheias do Nilo. Sob sua responsabilidade também estavam o comando do exército, os tribunais de justiça e as atividades econômicas essenciais, como a exploração das minas e o contrôle dos armazéns.

Para auxiliar o faraó, havia uma grande rede de funcionários reais que sabiam ler, escrever e fazer contas. Esses funcionários eram chamados escribas.

Fotografia. Esculturas de dois homens carecas, sem camisa e com pano brancos amarrados na cintura manuseando folhas retangulares e ferramentas de madeira.
Esculturas representando escribas, produzidas entre cêrca de1981antes de Cristo e 1975 antes de Cristo, encontradas na tumba do alto funcionário Meketre, em Tebas, Egito.
Fotografia. Caixa de madeira com tampa encurvada, puxador na lateral e quatro pés com listras decorativas e um estojo retangular de madeira ao lado.
Instrumentos de trabalho dos escribas: paleta e estojo de madeira produzidos no Egito entre 1570 antes de Cristo e 1069 antes de Cristo
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os escribas exerciam funções diversas, como o registro de contratos e testamentos e a arrecadação de taxas, além da fiscalização e do contrôle de construções, de colheitas e do armazenamento de grãos. A condição de escriba geralmente significava melhora na condição social de uma pessoa, que podia com esse título ser nomeada para cargos elevados no império.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar das atividades econômicas, da organização do trabalho, dos funcionários reais, destacando os escribas, e dos registros escritos, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero sete e ê éfe zero seis agá ih um seis.

Ao caracterizar o governo dos faraós como monarquia absoluta e teocrática, consideram-se a origem divina do poder do governante e suas atribuições, que abarcavam toda a vida social. A referência à monarquia absoluta, contudo, pode ser confundida pelos estudantes com o absolutismo monárquico europeu. É importante comentar com eles que o faraó era considerado de fato um deus e, como tal, seria o responsável pelo ciclo natural das cheias do Nilo. Qualquer monarca europeu da Idade Moderna que declarasse algo semelhante incorreria em heresia.

O termo faraó era usado no Egito antigo para designar os líderes que habitavam a “casa grande” – referência aos palácios. É interessante destacar, todavia, o fato de que os egípcios não usavam essa palavra com frequência. Em geral, referiam-se a seu líder como pai. O termo faraó foi popularizado pela Bíblia, quando foi utilizado para identificar os governantes egípcios.

Vale destacar aos estudantes o fato de que a associação entre conhecimento e poder é um elemento estrutural do Estado, isto é, está presente em todas as sociedades que desenvolveram fórmas complexas de organização política centralizada.

Analisando o passado

As fotos nesta página mostram um importante artefato arqueológico: a Paleta de Narmer. As paletas geralmente eram usadas pelos egípcios para aplicar cremes e loções na pele, mas a Paleta de Narmer era utilizada em cerimônias.

Ela mede 64 centímetros de altura por 42 centímetros de largura e tem inscrições e relevos na frente e no verso. Essas inscrições provavelmente são o registro mais antigo que se conhece da unificação do Alto e do Baixo Egito.

Analise os detalhes da paleta.

Fotografia. Frente e verso de um artefato de pedra, com a parte de baixo arredondada e a de cima com dois apoios, com desenhos em relevo. Na parte da frente, um homem grande, em pé, usando uma coroa comprida e afunilada de ponta arredondada, com uma das mãos levantadas segurando um bastão e a outra segurando a cabeça de um homem menor ajoelhado no chão. À esquerda, um homem pequeno com uma jarra na mão e um machado junto ao corpo. À direita, na parte superior, um pássaro segurando com um dos pés a língua comprida de uma cabeça humana. Na parte debaixo da imagem, dois homens pequenos correndo, olhando para trás. No verso do artefato, há três linhas de desenho; na linha superior, um homem grande usando uma coroa de base quadrada, com uma longa ponta atrás, e um fio enrolado saindo do meio. Ele segura um cetro. Atrás dele, à esquerda, um homem pequeno segurando um objeto. À frente deles um homem de estatura média e vários homens pequenos segurando estandartes. À direita, dez corpos decapitados, organizados em duas fileiras verticais. Na linha central, dois animais, um de frente para o outro, de pescoços compridos que estão entrelaçados. Ao redor deles, dois homens pequenos seguram cordas amarradas nos pescoços dos animais. Na linha inferior, um touro pisando em um homem.
Paleta de Narmer, cêrca de 3200 antes de Cristo
Fotografia. Parte frontal da Paleta de Narmer, com linha vermelha destacando uma cena. A cena em destaque representa um homem grande em pé, usando uma coroa comprida e afunilada de ponta arredondada, com uma das mãos levantadas segurando um bastão e a outra segurando a cabeça de um homem menor ajoelhado no chão.
Na parte frontal da paleta, a cena representa dois homens, um deles maior que o outro. Esses homens podem simbolizar o Alto Egito e o Baixo Egito.
Fotografia. Detalhe do verso da Paleta de Narmer, com linha vermelha destacando uma cena. A cena em destaque mostra um homem grande usando uma coroa de base quadrada, com uma longa ponta atrás, e um fio enrolado saindo do meio. Ele segura um cetro. Atrás dele, à esquerda, um homem pequeno segurando um objeto.
Na parte superior do verso da paleta, é representado um homem com outro tipo de coroa.
Ilustração. Representação de três cabeças vistas de perfil, cada uma delas com um tipo de coroa e a identificação da região a que se refere:
Alto Egito – coroa branca, comprida e afunilada, com a ponta arredondada.
Baixo Egito – coroa vermelha com a parte de cima quadrada e uma longa ponta atrás, e um fio enrolado saindo do meio.
Alto e Baixo Egito – uma mistura das duas coroas anteriores, com a coroa afunilada branca dentro da base quadrada vermelha, com um fio enrolado saindo do meio.
Ilustração atual representando os tipos de coroa do Egito antigo.

FONTE: CASSON, L. O antigo Egito. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. página 60-61.

Responda no caderno.

  1. Qual é a história contada nas inscrições e relevos da Paleta de Narmer? Cite os elementos das imagens que representam cenas dessa história.
  2. Há elementos representados na paleta que indicam violência nesse processo? Explique.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver vestígios materiais do passado, a análise de documentos proposta na seção “Analisando o passado” favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero sete e das Competências Gerais da Educação Básica nº 1 e nº 2.

Analisando o passado

Nessa seção, os estudantes são convidados a analisar a Paleta de Narmer. Trata-se de um objeto cerimonial em cujas faces estão representados os reinos do Alto e do Baixo Egito e sua unificação, simbolizando a formação do império.

Atividades

1. A história da unificação do Alto e do Baixo Egito. Os estudantes podem destacar elementos como a representação das coroas separadamente e a imagem dos símbolos conjugados, sugerindo a aliança entre os reinos ou o domínio de um sobre o outro. Os animais mitológicos representados no verso da paleta, entrelaçados pelo pescoço, também são indicativos da unificação.

2. Com base no fato de um homem ser representado em pé subjugando outro, ajoelhado, pode-se pressupor que houve um processo de conquista e de violência.

Organização administrativa no Antigo Império

Durante o Antigo Império, os egípcios construíram grandes cidades e centros administrativos e religiosos. Muitos egípcios habitavam esses locais, mas a maior parte da população vivia nas aldeias.

As aldeias e as cidades constituíam os nomos, que eram administrados pelos nomarcas. Eles tinham autonomiaglossário para governar em nome do faraó. Junto aos nomarcas, o vizír (que, de origem árabe, significa “ministro”) era o responsável pelos tribunais de justiça e pela supervisão dos departamentos do governo.

Funcionários do governo, sacerdotes e nomarcas constituíam a elite da sociedade egípcia. Os cargos que eles exerciam eram hereditáriosglossário .

Os camponeses, que eram chamados de felás, formavam a maioria da população. Em geral, os felás pagavam impostos pelo uso da terra a eles destinada pelo faraó com parte da produção de cereais que cultivavam. Os felás eram obrigados a trabalhar em obras públicas, como canais de irrigação, palácios, templos e túmulos, caso fossem convocados pelas autoridades.

Fotografia. Vista de pirâmides egípcias em um campo aberto. Em primeiro plano, terreno arenoso e três pirâmides menores, à esquerda. Em segundo plano, três pirâmides maiores, ao centro. Ao fundo, céu azul.
Vista do complexo das pirâmides de Gizé, no Cairo, no Egito. Foto de 2019. Da direita para a esquerda, estão as pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, além das pirâmides das rainhas (as três menores à frente da de Miquerinos).
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

As pirâmides de Gizé foram construídas no Antigo Império como túmulos reais. O complexo inclui as pirâmides das rainhas, templos, mastabasglossário e alguns cemitérios.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da organização administrativa do Antigo Império e dos camponeses, que eram obrigados a trabalhar na construção de obras públicas se fossem convocados, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih um seis e ê éfe zero seis agá ih um sete e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 2.

Estima-se que 90% da população egípcia vivia em aldeias. Com base nessa informação, pode-se relativizar o entendimento histórico atual sobre a vida nas cidades no mundo antigo. Dado numérico retirado de: gama rolãnd, C. A. Alimentação e tabus alimentares no Egito antigo. máre nóstrum, São Paulo, volume 10, número 1, página 78, 2019.

Os nomarcas eram responsáveis pela coleta de impostos e pela segurança dos nomos, exercendo funções jurídicas e de fiscalização. O cargo de nomarca era, muitas vezes, passado de fórma hereditária, de modo que algumas famílias chegaram a governar nomos pelo período de trezentos anos.

Como na observação feita sobre a palavra faraó, o emprego da palavra árabe vizír abre a possibilidade de pensar na criação de conceitos e na variedade de fontes históricas culturalmente diversas.

A organização social

Apesar de realizarem trabalho forçado, os camponeses do Egito antigo não eram escravizados. Nessa sociedade, os escravizados normalmente eram prisioneiros de guerra e compunham a minoria da população. Entre os felás e a elite, havia artesãos bastante valorizados, comerciantes, soldados e escribas.

Divisão social no Egito antigo

Ilustração. Divisão social no Egito antigo. Apresenta imagens organizadas verticalmente, identificadas por informações numeradas. De cima para baixo:
1. Faraó – ilustração de um homem sentado em um trono, usando um adorno de ouro na cabeça, com dois vasos de ouro, um de cada lado do trono.
2. Nobres e sacerdotes – ilustração de dois homens, um deles, à esquerda, veste uma túnica branca, um colar e braceletes dourados; o outro, à direita, está sem camisa, com um saiote branco na cintura, um adoro de tecido na cabeça, colar e braceletes dourados, segurando um papiro enrolado em uma das mãos.
3. Militares – ilustração de dois homens com túnicas brancas, um segurando um arco e flecha e uma espada curva; o outro, com um adorno de tecido listrado na cabeça, segurando uma lança e um escudo.
4. Escribas – ilustração de dois homens com tecidos cobrindo a parte de baixo do corpo, sentados escrevendo em papiros com objetos cilíndricos. Alguns papiros estão enrolados no chão, outros estão enrolados dentro de um jarro.
5. Comerciantes – ilustração de um homem e de uma mulher na frente de uma tenda com peças de cerâmicas e frutas em cestos. Ele veste um saiote branco. Ela usa uma túnica branca. Ambos tem os cabelos pretos na altura dos ombros.
6. Artesãos – ilustração de três homens com cabelos pretos na altura dos ombros, vestindo saiotes brancos, usando ferramentas para esculpir objetos.
7. Camponeses – ilustração de pessoas carregando cestos com trigo e outras, ao fundo, colhendo e conduzindo um arado puxado por bois. Todas vestem túnicas ou saiotes brancos. Alguns usam lenços brancos na cabeça.
8. Escravizados – ilustração de homens vestindo tangas coloridas, puxando grandes pedaços de pedra por cordas enquanto são chicoteados por dois homens de saiote branco. Um dos homens com chicote utiliza um adorno listrado na cabeça.

Fonte: BELER, A. G. de. O Egito antigo passo a passo. São Paulo: Claro Enigma, 2016. página 14-15, 18-27, 65.

O papel das mulheres

Na sociedade egípcia, as mulheres possuíam alguns direitos, como o de ter bens, escolher uma profissão e casar-se com quem quisessem. O divórcio era previsto nas leis egípcias e, caso ocorresse, os bens tendiam a ficar com as mulheres. Essas práticas diferem das de outras sociedades que você estudará no decorrer deste ano.

Mulheres no Egito antigo

Ilustração. Mulheres no Egito antigo. Ilustração vertical em três quadros acompanhados de boxes de texto. De cima para baixo:
Quadro 1. Ilustração de uma mulher com um adorno de ouro na cabeça segurando uma criança no colo e um bebê em um braço. À esquerda, boxe com o texto: Nas pinturas encontradas nas tumbas e em cenas religiosas há numerosas representações de figuras femininas em celebrações, dançando ou trabalhando. Em muitas dessas representações, o tamanho da figura indicava hierarquia: homens em tamanho maior que mulheres, faraós em tamanho maior que súditos. 
Quadro 2.  Ilustração de mulheres usando túnicas longas e outros tecidos e adornos na cabeça. Uma delas está com um grande cesto nas mãos. À direita, boxe com o texto: As mulheres tinham acesso a direitos básicos no Egito antigo, pois desfrutavam de autonomia jurídica. Elas podiam fazer comércio e administrar os próprios bens. Ainda assim, as heranças recaíam sobre o filho primogênito. 
Quadro 3. Ilustração de uma mulher sentada, com brincos de argola de ouro segurando um espelho enquanto outras duas mulheres com túnicas brancas simples e sem adornos na cabeça penteiam seu cabelo. Do lado, uma cômoda com uma caixinha, outro espelho, frascos e potes. À esquerda, boxe com o texto: As famílias egípcias mais ricas contavam com servas para lavar suas roupas e organizar seus pertences e ornamentos. O uso de maquiagem, de colares, de brincos e de pulseiras era comum. Os adornos das pessoas mais ricas geralmente eram feitos de ouro.

Fonte: BELER, A. G. de. O Egito antigo passo a passo. São Paulo: Claro Enigma, 2016. página 47-49; SOUZA, A. F. de. A mulher-faraó: representações da rainha ratchepsut como instrumento de legitimação. 2010. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010. página 30.

Respostas e comentários

É importante reforçar aos estudantes as diferenças entre os grupos sociais no Egito antigo, destacando as posições hierárquicas de funcionários, sacerdotes, nomarcas, artesãos e camponeses (que não eram completamente livres) e escravizados. Os camponeses e os escravizados constituíam a base da sociedade egípcia e eram os principais responsáveis pela produção de riquezas.

Havia muitos escravizados no Egito, principalmente no Novo Império, mas não na condição de escravo-mercadoria como a verificada na Antiguidade greco-romana. Esses indivíduos pertenciam a outra pessoa, mas tinham direitos, propriedades e reconhecimento jurídico.

Bê êne cê cê

Ao tratar da organização social, do mundo do trabalho, da presença dos escravizados, do papel das mulheres e seus direitos (em relação à posse de bens e à escolha da profissão e do marido), o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih um seis, ê éfe zero seis agá ih um sete e ê éfe zero seis agá ih um nove e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 2.

Ampliando

No texto a seguir, elizabét arcô dê la taiiê e Adriano Rodrigues dos Santos defendem a substituição do termo escravos por escravizados.

“Enquanto o termo escravo reduz o ser humano à mera condição de mercadoria, como um ser que não decide e não tem consciência sobre os rumos de sua própria vida, ou seja, age passivamente e em estado de submissão, o vocábulo escravizado modifica a carga semântica e denuncia o processo de violência subjacente à perda da identidade, trazendo à tona um conteúdo de caráter histórico e social atinente à luta pelo poder de pessoas sobre pessoas, além de marcar a arbitrariedade e o abuso da fôrça dos opressores.”

arcô dê la taiiê, E.; SANTOS, A. R. dos. Sobre escravos e escravizados: percursos discursivos da conquista da liberdade. ín: SIMPÓSIO NACIONAL DISCURSO, IDENTIDADE E SOCIEDADE: DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE, 3., 2012, Campinas. Anais eletrônicos reticências. Campinas: unicâmpi, volume 3, número 3, página 1-13, 2012. página 7-8. Disponível em: https://oeds.link/03itoa. Acesso em: 6 janeiro 2022.

O Médio Império

A partir de 2300 antes de Cristo, os nomarcas do Alto e do Baixo Egito passaram a questionar a autoridade do faraó, reduzindo progressivamente seu poder. Quando as disputas entre eles diminuíram, por volta de 2050 antes de Cristo, teve início o Médio Império. Esse período foi marcado pela elevada produção de alimentos e pela intensificação do comércio.

O Médio Império se encerrou em 1710 antes de Cristo com a invasão dos ícsos. Proveniente da Ásia, esse povo fundou no Egito uma dinastia de governantes, que se manteve por cêrca de mil anos. Durante esse período, ocorreram no Egito inovações, como a invenção de carros de guerra e a melhora nas técnicas de forjar o bronze.

Os ícsos foram expulsos do território pelos egípcios por volta de 1570 antes de Cristo Teve início, então, uma nova dinastia, que inaugurou, em 1560 antes de Cristo, o que os historiadores chamam de Novo Império.

Fotografia. Colar feito de miçangas azuis, com uma peça maior, de forma cilíndrica, na cor vermelha, com desenhos geométricos entalhados.
Colar de miçangas produzido entre 2025 antes de Cristo e 1985 antes de Cristo encontrados em tumba de Abidos, no Egito.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Havia muitas interações culturais e comerciais durante a Antiguidade. No colar encontrado em uma escavação no Egito, há uma miçanga entalhada (vermelha). Com base no material e no tipo de entalhe, presume-se que ela tenha sido produzida no Vale do Indo, no sul da Ásia, e levada ao Egito através da Mesopotâmia, revelando o contato entre locais muito distantes.

O Novo Império

Durante o Novo Império, que se prolongou até 1069 antes de Cristo, os egípcios estenderam seus domínios até a Palestina, a Síria e a Fenícia e, ao sul, reconquistaram a Núbia. Nesse período, desenvolveu-se uma experiência religiosa singular na história do Egito antigo.

Entre os anos de 1348 antes de Cristo e 1346 antes de Cristo, o faraó Amenófis quarto determinou que, em seus domínios, apenas atôn (o deus solar) poderia ser cultuado. Essa decisão pode ter sido uma das fórmas encontradas pelo faraó para enfraquecer os sacerdotes de Tebas, que estavam cada vez mais poderosos. Amenófis passou, então, a se autodenominar Aquenáton (“aquele que louva atôn”).

Afresco. Desenho de homens de perfil, virados para a direita, alguns segurando lanças ou arco e flecha, com um burro ao lado, outros segurando duas gazelas pelo chifres, e outros segurando papiros, com inscrições hieroglíficas ao fundo.
Reprodução de afresco de cêrca de 1895 antes de Cristo encontrado na tumba de cnumrotép segundo, na necrópole de bení assãm, próximo à antiga cidade de Mênfis, Egito.
Respostas e comentários

Esse trecho do capítulo oferece a possibilidade de aprofundar o estudo da cronologia da história do antigo Egito e de sua unificação política, a fim de conceituar o termo império. Se julgar necessário, auxilie os estudantes a criar uma linha do tempo contendo os marcos da história política do Egito antigo e os fatos que marcaram a passagem do Antigo para o Médio Império e deste para o Novo Império.

Ampliando

No texto a seguir, José das Candeias Sales questiona o emprego do termo império para designar a extensão territorial egípcia.

“Da quarta catarata a sul ao Eufrates havia um imenso espaço para organizar e governar reticências. No entanto, reticências a Núbia nunca se tornou uma parte integrante do reino egípcio, nem o faraó egípcio alguma vez assumiu a liderança direta sobre essas populações linguisticamente diferentes e a zona do Próximo Oriente, culturalmente muito forte, socialmente muito sofisticada e militarmente dotada de bem treinados exércitos reticências.

reticências a autonomia, a especificidade e a salvaguarda dos poderes locais tornaram impossível uma relação de vassalagem perfeita e completa. A intervenção egípcia nos assuntos asiáticos foi sempre limitada. Daí que a ‘império’ seja realmente preferível a noção de ‘contrôle hegemônico’ ou ‘hegemonia’. Há quem use a designação ‘império informal’.”

SALES, J. das C. Os impérios da história do Egito antigo: em torno do conceito de império. In: LEÃO, D.; RAMOS, J. A.; RODRIGUES, N. S. (coord.). Arqueologias de império. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013. página 46-48.

Curadoria

História da egiptomania no Brasil: bibliografia comentada (Artigo)

margarét marquióri bácos e outros plêtos, Rio de Janeiro, volume 1, número 2, páginaponto 218-246, 2012.

Esse artigo apresenta um levantamento de bibliografia comentada a respeito da egiptomania. Nele há um breve balanço dos artigos sobre o assunto, publicados no Brasil na primeira década do século vinte e um.

Apesar da decisão do faraó de cultuar apenas Aton, muitos egípcios continuaram cultuando outros deuses em segredo. Além disso, o faraó nunca chegou a negar a existência de outros deuses. Dessa maneira, os egípcios não se tornaram monoteístas naquele período.

Após a morte de Aquenáton, seu filho Tutancâmon foi levado ao poder quando tinha 9 anos. Ele restabeleceu o culto aos demais deuses e os privilégios dos sacerdotes.

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    Fotografia. Busto de um homem usando um grande chapéu na cabeça. Pelo desgaste do tempo, a figura perdeu o nariz.
    Busto desfigurado de Aquenáton, produzido entre 1353 antes de Cristo e 1337 antes de Cristo, encontrado em Amarna, Egito.
    Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

    Imagens em contexto!

    Após a morte de Aquenáton, muitas das estátuas e pinturas que o representavam foram apagadas ou quebradas para tentar apagar a memória de sua existência. Parte dos danos a esse busto, porém, foi causada no final da Segunda Guerra Mundial, no século vinte.

    Egito: expansão no Novo Império – 1560 antes de Cristo-1069 antes de Cristo

    Mapa. Egito: expansão no Novo Império – 1560 antes de Cristo a 1069 antes de Cristo. Apresenta a região do Egito e parte do Oriente Médio. 
Legenda:
Amarelo: Egito.
Rosa: Conquistas egípcias no Oriente Médio durante o Novo Império.
Verde: Terras cultiváveis.
Linha tracejada: Limite entre Baixo e Alto Egito.
Seta roxa: Rotas comerciais.
Linha laranja: Expansão máxima do Novo Império.
Triângulo Lilás: Pirâmides.
No mapa, o Egito engloba as regiões da Núbia, com a cidade de Napata, ao sul; do Alto Egito, abrangendo o Grande Oásis, o Vale dos Reis, o Deserto Arábico e as cidades de Siena (Assuã), Luxor, Karnak, Tebas, Tínis, Licópolis e Akhenaton (Amarna); e do Baixo Egito, incluindo as cidades de Mênfis, Heliópolis, Sais, Náucratis e Ávaris, no Delta do Nilo. O Egito faz fronteira a oeste com o deserto da Líbia e a leste com o Mar Vermelho. As conquistas egípcias no Oriente Médio durante o Novo Império abrangem a região que vai do Monte Sinai, no sul da Península do Sinai, passando por Canaã (na Palestina), incluindo as cidades de Jerusalém e Gaza, até a Fenícia, englobando as cidades de  Tiro, Sidon, Biblos e Ugarit, além da cidade de Damasco, na Síria.  A região conquistada faz fronteira a leste com o Mar Mediterrâneo e a oeste com a Síria, Edom e o Deserto da Arábia. As terras cultiváveis do Egito abrangem o Delta do Nilo e a maior parte da região às margens desse rio. Ao longo do Rio Nilo, há a indicação da localização de suas cinco cataratas: a primeira, no Alto Egito, nas proximidades de Siena (Assuã); as demais seguem em sentido sul. Entre a primeira e a segunda catarata está localizado o limite sul do Antigo Império. Entre a segunda e a terceira catarata está localizado o limite sul do Médio Império. A quarta catarata localiza-se nas proximidades da cidade de Napata. A quinta catarata, à sudeste dessa cidade, localiza-se em uma área onde já não há mais terras cultiváveis.
O limite entre o Baixo Egito e o Alto Egito localiza-se ao sul do Delta do Nilo, entre as cidades de Heliópolis, no Baixo Egito, e Akhetaton (Amarna), no Alto Egito.
Das proximidades do Mar Morto, na região do Oriente Médio conquistada pelos egípcios durante o Novo Império, parte uma seta rosa em direção ao Delta do Nilo, indicando a invasão dos Hicsos a áreas próximas às cidades de Ávaris e Heliópolis.
As seguintes rotas comerciais são identificadas no mapa: uma parte da área entre a quarta e a quinta catarata, na Núbia, cruza o Nilo entre a segunda e a primeira catarata e passa pelo Grande Oásis até chegar a Licópolis. Outra parte das proximidades de Tebas para o Ponto (Somália), avançando pelo Mar Vermelho. Outra parte do Deserto Arábico em sentido sudoeste rumo ao Pequeno Oásis de Heracleópolis. Outra rota parte da cidade de Heliópolis, cruza o Nilo no sentido oeste, com destino ao Oásis de Amon.  Também partindo de Heliópolis, outra rota segue na direção sudoeste, rumo ao Monte Sinai. Outra rota parte da região de Ávaris, no Delta do Nilo, cruzando o litoral do Mar Mediterrâneo em direção a Biblos.
A extensão máxima do Novo Império abrange o Egito e a região conquistada no Oriente Médio.
Duas pirâmides estão localizadas na Núbia, perto de Napata. Outras duas localizam-se no Baixo Egito, ao sul de Mênfis. Próximo a elas, no limite entre o Baixo e o alto Egito, há mais uma pirâmide.
À direita, a rosa dos ventos e escala de 0 a 153 quilômetros.

    FONTE: ARRUDA, J. J. de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 1995. página 6.

    O fim do Egito antigo

    Após um longo período, entre o século onze antes de Cristo e por volta de 660 antes de Cristo, o poder centralizado pelos faraós foi enfraquecido. Na prática, os egípcios voltaram a ser governados por líderes locais, até ser dominados por seus vizinhos cuxitas, que você estudará a seguir.

    A partir de 660 antes de Cristo, os egípcios foram dominados por diversos povos, como os assírios, os persas, os gregos e os romanos. O Egito antigo chegou, então, ao fim, após trinta dinastias de faraós, o que equivaleu a uma história de 150 gerações seguidas.

    Respostas e comentários

    A influência dos sacerdotes vinha desafiando o poder político do faraó antes mesmo de Amenófis quarto assumir o trono. Ao longo do reinado de seu pai, Amenófis terceiro, as riquezas distribuídas aos sacerdotes impediram conflitos mais diretos. Conhecedor das dissensões entre política e religião, quando assumiu o governo, Amenófis quarto buscou reduzir o poder dos sacerdotes impedindo que eles celebrassem os ritos isoladamente, dentro dos templos. Foi uma maneira de preservar seu poder sem causar guerras ou reviravoltas.

    Bê êne cê cê

    Ao tratar do processo de passagem do Médio Império para o Novo Império, da mudança religiosa e das diferenças políticas no governo de dois faraós, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de História nº 1 e nº 2.

    Reino de Cuxe

    Na África antiga, havia reinos e sociedades com diferentes fórmas de organização, como a dos egípcios, a dos berberesglossário , que viviam em pequenos grupos nômades na região nordeste da África, e as dos povos falantes das línguas banto, que habitavam a África Central.

    Por volta de 2000 antes de Cristo, formaram-se os reinos de Kerma, ao sul do império egípcio, onde hoje se localiza o Sudão, em uma área chamada Núbia. Durante o Novo Império, esses reinos foram conquistados pelos egípcios. É provável que, quando eles se libertaram da dominação egípcia, suas tradições tenham formado a base do que seria o Reino de Cuxe.

    Cultura, economia e política

    Os cuxitas eram politeístas e cultuavam deuses como Amon e Osíris. Eles utilizavam as águas do Rio Nilo para praticar a agricultura e criar animais. Eram comerciantes de produtos valiosos, como ouro, marfim e incenso, e de madeiras nobres, como o ébano, além de peles de animais mamíferos, como leopardos, e penas de aves, como avestruzes.

    Por volta do século oito antes de Cristo, o rei cuxita pie dominou o Egito e toda a região do Nilo. Com o avanço assírio sobre o Egito, no século sete antes de Cristo, os cuxitas foram obrigados a retornar para o sul, e o seu domínio sobre o Egito terminou.

    De volta à Núbia, no século seis antes de Cristo, os cuxitas adotaram como capital a cidade de Meroé. Supõe-se que, no século quatro antes de Cristo, o Reino de Cuxe chegou ao fim após seu território ser invadido por outros povos núbios, como os axumitas.

    Reino de Cuxe – século sete antes de Cristo

    Mapa. Reino de Cuxe – século sétimo antes de Cristo. Apresenta o sul da Europa, a Ásia Menor, o Oriente Médio e o norte da África. 
Legenda:
Círculo preto: cidades antigas.
Círculo preto contornado por uma linha preta: cidades modernas.
No mapa, um destaque em roxo indica o Reino do Cuxe, localizado às margens da porção sul do Rio Nilo, entre o sul da cidade antiga de Elefantina e o norte da cidade moderna de Cartum, abrangendo as cidades antigas de Jebel Barkal, Velha Dongola, El-Kurru, Musawarat es-Sufra, Meroé, além da cidade moderna de Cartum.
As cidades antigas indicadas no mapa são: Pompeia, na atual Itália; Babilônia, no atual Iraque; Karnak e Elefantina, no Egito; e Musawarat es-Sufra, Meroé, Velha Dongola, Jebel Barkal, El-Kurru, no atual Sudão.
As cidades modernas são: Roma, na atual Itália; Atenas, na Grécia; Istambul, na atual Turquia; Jerusalém, em Israel; Cairo e Assuã, no Egito; e Cartum, no Sudão.
No canto direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 450 quilômetros.

    FONTE: dêivis, S.; êmberlin, G. (edição). Graffite as devotion: along the Nile and beyond. Ann Arbor: Kelsey Museum of Archaeology, 2019. página nove.

    Fotografia. Destaque para pirâmides altas de base mais estreita e pontiagudas e duas construções menores à frente, com colunas de base quadrada, que servem como portal de entrada das pirâmides. O solo é arenoso. Ao fundo, céu azul.
    Pirâmides no sítio arqueológico de Meroé, próximo a Cartum, Sudão. Foto de 2019. A cidade antiga de Meroé foi a terceira capital do Reino de Cuxe e importante centro cultural e de comércio entre os séculos oito antes de Cristo e quatro antes de Cristo
    Respostas e comentários

    Bê êne cê cê

    Ao tratar do fim do poder egípcio na região, do Reino de Cuxe como parte da diversidade africana, dos registros arqueológicos, da organização social e da cultura cuxitas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero sete, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 5 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 2.

    Ao apresentar os reinos de Cuxe e de Axum e citar os berberes e os falantes de línguas banto, pretende-se valorizar a diversidade de fórmas de organização social na África. Há pouca documentação histórica e arqueológica sobre o Reino de Cuxe no período, mas há evidências de uma relação intensa dos cuxitas com os egípcios e de similaridades culturais entre esses povos.

    É importante tratar desses reinos e de suas conexões para ressaltar a diversidade da África antiga. É possível que o Egito seja um assunto mais ou menos conhecido pelos estudantes, mas os reinos de Cuxe e de Axum costumam ser pouco lembrados. Em geral, os egípcios se relacionavam com as demais civilizações que se formaram às margens do Mediterrâneo, como as mesopotâmicas e a greco-romana. Em parte por causa do etnocentrismo europeu, a região do Mar Mediterrâneo tornou-se o espaço privilegiado de atenção da historiografia, mas o relacionamento dos egípcios com os reinos ao sul envolveu outros espaços culturais, como o do Oceano Índico e o da África subsaariana.

    Reino de axúm

    A explicação mítica para a origem do Reino de Axum é narrada na Bíblia. De acordo com esse texto sagrado para os cristãos e os judeus, a rainha de Sabá e o rei Salomão tiveram um filho, melelíc, que se tornou o primeiro governante axumita.

    Os historiadores demonstraram que o Reino de axúm se desenvolveu entre os séculos um Depois de Cristo e dez Depois de Cristo e foi um dos centros comerciais mais importantes do mundo antigo. Localizado na região correspondente à da atual Etiópia, o reino teve origem nas relações entre a África, a Mesopotâmia e o Reino de Israel. Pelo território de axúm passavam comerciantes que iam para o Mar Mediterrâneo, atravessavam o Mar Vermelho e chegavam até o Oceano Índico. Esse reino era, portanto, uma região de contato entre o Oriente e o Ocidente.

    Durante séculos, o Reino de axúm manteve seus domínios territoriais e sua importância comercial. Com a expansão do islamismo a partir do século sete (que você estudará no capítulo 10), o porto de Adulis, muito importante para os axumítas, foi destruído. Aos poucos, axúm perdeu sua relevância como centro comercial.

    Expansão axumita – séculos dois Depois de Cristo-quatro Depois de Cristo

    Mapa. Expansão axumita – século dois depois de Cristo a século quatro depois de Cristo. Apresenta terras no oeste da África e na Ásia.
Legenda:
Linha vermelha com setas nas duas extremidades: Comércio entre a Ásia e o Mediterrâneo via Mar Vermelho (incluindo a Etiópia e o Chifre da África).
No mapa, o território do Reino de Axum está destacado em roxo e abrange a área entre os atuais Sudão, Sudão do Sul e Etiópia, próximo ao Mar Vermelho. A oeste do Reino de Axum, a região da Núbia; ao sul, a Etiópia; e a leste o Mar Vermelho.
As rotas comerciais indicadas partem do Reino de Axum, nas proximidades de Axum e Adulis, em direção ao Mar Vermelho e ao Oceano Índico. Uma das rotas segue pelo Mar Vermelho, atingindo Berenice, no litoral leste do atual Egito, de onde segue por terra até Alexandria, no litoral norte do atual Egito, e pelo Mar Mediterrâneo, em direção à Europa. Outra rota parte de Adulis e atravessa o Mar Vermelho em direção à Península Arábica. Outra rota segue pelo litoral africano banhado pelo Oceano Índico, chegando às cidades de Pone, na atual Somália, e Rhapta, na atual Tanzânia. Outras duas rotas seguem pelo Oceano Índico em direção à Ásia, atingindo a costa oeste da Índia, uma delas vai até a cidade de Barynza, a outra segue para o sul. Outra rota liga as duas anteriores, contornando uma parte do litoral indiano. De lá, outra rota segue rumo ao oeste do atual Sri Lanka. A noroeste de Barynza localiza-se o Império Sassânida (Pérsia). 
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 600 quilômetros.

    FONTE: cobíxanóv, Y. M. axúm do século um ao século quatro: economia, sistema político e cultura. In: MOKTAR, G. organização. África antiga. Brasília: unêsco, 2010. volume dois, página 387. (Coleção História geral da África).

    Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

    Se liga no espaço!

    Responda no caderno.

    Com base no mapa, explique por que a localização geográfica de axúm favoreceu sua condição de centro comercial.

    Agora é com você!

    Responda no caderno.

    1. Como ocorreu a unificação do Egito?
    2. Explique as mudanças religiosas realizadas pelo faraó Amenófis quarto e por que elas desagradaram aos sacerdotes de Tebas.
    3. Caracterize as relações entre os reinos do Egito e de Cuxe.
    4. Com base nos reinos que você estudou neste capítulo, explique por que se afirma que a África é um continente plural. Cite exemplos para justificar a explicação.
    Respostas e comentários

    Resposta do Se liga no espaço!: A posição estratégica de axúm e o contrôle que o reino exercia sobre a saída do Mar Vermelho para o Oceano Índico tornavam-no um centro comercial e cultural importante. Essa localização geográfica garantiu a axúm um lugar de destaque na economia do mundo antigo, antes ocupado por Cuxe. Por meio do Reino de axúm, o comércio do nordeste da África se ligava ao da Pérsia e ao da Índia, bem como ao das regiões africanas mais ao sul.

    Agora é com você!

    1. Quando se formaram ao longo do Rio Nilo, os nomos realizavam trocas comerciais e alianças entre si. Nesse processo, foram estabelecidas as alianças que deram origem ao Baixo Egito e ao Alto Egito. Por volta de 3200 antes de Cristo, Menés (ou Narmer) tornou-se líder dos reinos do Alto e do Baixo Egito, unificando o território.

    2. Amenófis quarto promoveu a passagem do politeísmo para a monolatria com o culto a Aton. Essa mudança, provavelmente, foi motivada pelas disputas de poder entre os sacerdotes do Alto e os do Baixo Egito. O resultado foi o assassinato do faraó e a tentativa de apagamento de sua memória.

    3. Com base em fontes históricas, como vestígios arqueológicos e textuais, sabe-se que o Egito e Cuxe mantinham uma relação marcada pela intensa atividade comercial, por episódios de dominação política e pela influência cultural. Um exemplo dessa influência é a devoção ao deus Amon em Cuxe (divindade venerada também no Egito). Outro é a construção de túmulos reais em fórma de pirâmide no período meroíta em Cuxe. O comércio de produtos de luxo entre os reinos também pode ser mencionado pelos estudantes.

    4. Espera-se que os estudantes mencionem a existência de diferenças, singularidades e diversidade. No caso específico da África, espera-se que eles destaquem as diferenças culturais e de organização social entre o Egito antigo e os reinos de Cuxe e de Axum.

    Orientação para as atividades

    As atividades demandam as habilidades de explicar os acontecimentos e os processos e caracterizar relações entre sociedades, bem como estimulam o reconhecimento da diversidade das civilizações tratadas. Estimule os estudantes a sistematizar as informações do texto-base tendo em vista a elaboração de respostas autônomas e mais complexas. Depois, peça que elaborem relações entre elas, exercitando os nexos causais próprios das explicações e/ou do encadeamento de elementos que definem as caracterizações de uma situação histórica.

    Atividades

    Responda no caderno.

    Organize suas ideias

    1. No caderno, identifique como verdadeiras ou falsas as informações a seguir.
      1. O Rio Nilo era importante para a fertilização do solo e para a produção agrícola.
      2. Os ritmos do Rio Nilo serviam como marcos temporais do calendário egípcio.
      3. O Rio Nilo era um obstáculo para a comunicação entre o Alto Egito e o Baixo Egito.
      4. Por causa de seu baixo volume, o Rio Nilo não era navegável.
    2. Analise as ilustrações e, em seguida, no caderno, relacione o número de cada objeto representado no quadro ao grupo social do Egito antigo correspondente, conforme indicado nas alternativas.
    Ilustração. Quadro contendo ilustrações de objetos. As ilustrações estão numeradas e acompanhadas do nome do objeto representado:
1. Lança e escudo – desenho de uma lança pontuda e um escudo circular. 2. Paleta e papiro – desenho de uma folha amarelada com escritos, à direita, um pequeno recipiente circular e um bastão de madeira. 3. Balança – desenho de uma balança formada por duas hastes, com pratos circulares presos nas extremidades e algumas esferas sobre eles. 4. Tear – desenho de uma estrutura retangular onde estão presos diversos fios. Na parte inferior da estrutura há dois novelos. 5. Arado – desenho de um instrumento de madeira sendo puxado por um boi em um campo de plantação. 6. Joias - desenho de brincos de argolas e anéis. 7. Mangual e cetro – desenho de dois bastões coloridos entrecruzados, um com a ponta encurvada para dentro e outro com tiras na ponta .
    1. Faraó
    2. Nobres
    3. Militares
    4. Escribas
    5. Comerciantes
    6. Artesãos
    7. Camponeses

    3. Em seu caderno, elabore uma legenda para o mapa a seguir, explicando a importância do Reino de axúm.

    Mapa. Apresenta terras no oeste da África e na Ásia.
Sem título e sem legenda.
No mapa, o território do Reino de Axum está destacado em cinza escuro e abrange a área entre os atuais Sudão, Sudão do Sul e Etiópia, próximo ao Mar Vermelho. A oeste do Reino de Axum, a região da Núbia; ao sul, a Etiópia; e a leste o Mar Vermelho.
Há diversas setas partindo do Reino de Axum, nas proximidades de Axum e Adulis, em direção ao Mar Vermelho e ao Oceano Índico. Uma segue pelo Mar Vermelho, atingindo Berenice, no litoral leste do atual Egito, dali, outra seta segue por terra até Alexandria, no litoral norte do atual Egito; de Alexandria, outra seta segue pelo Mar Mediterrâneo, em direção à Europa. 
Outra seta parte de Adulis e atravessa o Mar Vermelho em direção à Península Arábica. Outras três seguem pelo litoral africano banhado pelo Oceano Índico, uma delas chega à cidade de Pone, na atual Somália, e outra a Rhapta, na atual Tanzânia. Outras duas setas seguem pelo Oceano Índico em direção à Ásia, atingindo a costa oeste da Índia, uma delas vai até a cidade de Barynza, a outra segue para o sul. Outra seta liga as duas anteriores, contornando uma parte do litoral indiano. Do litoral indiano segue outra seta rumo ao oeste do atual Sri Lanka. A noroeste de Barynza localiza-se o Império Sassânida (Pérsia). 
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 840 km.

    FONTE: cobíxanóv, Y. M. axúm do século um ao século quatro: economia, sistema político e cultura. ín: móctar, G. organização. África antiga. Brasília: Unesco, 2010. volume dois, página 387. (Coleção História geral da África).

    Respostas e comentários

    Atividades

    Organize suas ideias

    1. a) V; b) V; c) F; d) F.

    2. um – c; dois – d; três ê; quatro – f; cinco – g; seis – b; sete – a.

    3. A posição estratégica de Axum demonstra que o comércio marítimo estava concentrado no Mar Vermelho, ponto de ligação entre o Egito e o Mediterrâneo. Além disso, o reino controlava rotas para o Oceano Índico.

    Aprofundando

    4. Leia o texto a seguir.

    “Inicialmente, só o faraó podia ser mumificado. Após o Antigo Império, o privilégio foi estendido aos nobres e, pouco a pouco, a todos que pudessem pagar. Por ser um processo caro e demorado, praticavam-se mumificações mais simples, conforme os rendimentos da família do morto. Não era exclusiva aos seres humanos. Como na religião egípcia os deuses poderiam se manifestar pelos animais, alguns deles também eram mumificados e até criados para tal fim. A mumificação foi praticada no Egito até os primeiros séculos Depois de Cristo, mas as técnicas e seus resultados variaram a cada período.”

    EGITO antigo: mumificação. Museu Nacional. Disponível em: https://oeds.link/Feh9jf. Acesso em: 6 janeiro 2022.

    Agora faça o que se pede.
    1. Elabore uma hipótese que explique por que, inicialmente, somente o faraó podia ser mumificado.
    2. Por que os egípcios mumificavam o corpo dos mortos?
    3. Com base na leitura do texto, como você imagina que os animais eram tratados no Egito antigo?
    1. Como você estudou, os egípcios adoravam vários deuses. Alguns deles eram representados com cabeça de animal e corpo de ser humano. Nesta atividade, você vai escrever um manual de dicas para desenhar esse tipo de representação. Para isso, junte-se a alguns colegas e sigam as etapas.
      1. Pesquisem as características dos seguintes deuses: amít, Anúbis, bástet, hótus e tót. Dividam o trabalho de pesquisa desta maneira:
        • Pesquisem em fontes confiáveis – como sites especializados em Egito antigo, livros e revistas impressos sobre o assunto – informações sobre a aparência desses deuses para complementar os dados que vocês já possuem (livro).
        • Façam uma ficha com a descrição das características físicas de cada deus. Caso seja possível, colem imagens dos deuses para orientar melhor a produção do manual de desenho.
      1. Com base nas imagens encontradas na pesquisa e nas fichas elaboradas na etapa anterior, busquem padrões nas representações desses deuses chamados antropozoomórficos (representados com fórma humana e animal). Anotem suas descobertas.
      2. Identifiquem o que é parecido na maioria das representações e ignorem as eventuais diferenças entre elas, pois, para o manual de desenho, o que vale é estabelecer um padrão que seja facilmente seguido.
      3. Desenhem os deuses seguindo os padrões identificados por vocês.
      4. Elaborem o manual de desenho de modo que ele possa ser utilizado por qualquer pessoa. As instruções podem ser organizadas em itens como os indicados a seguir.
        • Como desenhar a cabeça.
        • Como desenhar o corpo.
        • Como representar os adereços.
        • As cores mais usadas para representar o deus.
      1. Comparem o trabalho de vocês com o dos outros grupos e debatam fórmas de melhorar as instruções dos manuais da turma.
    Respostas e comentários

    Aprofundando

    4. Um dos objetivos da atividade é contribuir para aprofundar a competência leitora dos estudantes. Para isso, sugere-se o estímulo aos processos inferenciais de leitura por meio de um trabalho que requer a articulação entre as informações do texto e outros conhecimentos, pessoais e desenvolvidos ao longo do estudo do capítulo. Leia a atividade coletivamente, solucionando eventuais dúvidas, e questione se todos sabem o que é a mumificação, apresentando exemplos, se necessário.

    a) Se necessário, relembre os estudantes do caráter divino atribuído aos faraós e retome o trecho do texto em que se afirma que a mumificação era um processo caro, que demandava tratamentos químicos específicos e lugares apropriados para o armazenamento dos órgãos (como os vasos e capelas canópicas) e dos corpos (como os sarcófagos e as tumbas, que eram construções complexas).

    b) Para auxiliar os processos inferenciais de leitura e a descrição dessas motivações pelos estudantes, se preciso, relembre-os de que os egípcios acreditavam na vida após a morte e na ressurreição. Assim, poderão ter em conta que a manutenção dos corpos e dos órgãos por meio do processo de mumificação era feita com o objetivo de amparar o espírito em seu retorno à vida terrestre.

    c) Retome a informação de que, para a religião egípcia, os deuses podiam manifestar-se na fórma de animais e, por isso, alguns animais eram mumificados. Depois, questione-os se o componente religioso poderia influenciar a relação dos egípcios com os animais. É possível comentar com eles que arqueólogos têm encontrado diversas múmias de gatos, íbis e até mesmo de leões e crocodilos em escavações no Egito.

    5. O quadro a seguir apresenta um modelo com dicas para desenhar alguns dos deuses egípcios que pode servir de referência para a elaboração do manual de desenho.

    Ammit

    Anúbis

    Bastet

    Hórus

    Tot

    Como representar o deus inteiro na página

    De lado, com as quatro patas no chão.

    Em pé de lado / Junto a uma múmia.

    Em pé de lado/ sentada como uma gata.

    Em pé, de lado.

    Em pé, de lado.

    Como desenhar a cabeça

    Formato de crocodilo.

    Formato de chacal.

    Formato de gata.

    Formato de falcão

    Formato de ave (íbis).

    Como desenhar o corpo

    Parte superior: formato de leão. Inferior: hipopótamo.

    Formato humano.

    Formato de gata/ humano.

    Formato humano.

    Formato humano.

    Como representar os adereços

    Não possui.

    Amuleto em uma das mãos (formato de hieróglifo) e cetro na outra.

    Corpo humano: amuletos em formato de hieróglifo em ambas as mãos/ Corpo de gata: grosso colar no pescoço.

    Cetro em uma das mãos, amuleto em formato de hieróglifo na outra e coroa em formato alongado/ disco solar.

    Cetro em uma das mãos, amuleto em formato de hieróglifo na outra.

    As cores mais usadas

    Verde, amarelo e marrom.

    Preto e amarelo.

    Preto e amarelo.

    Azul e amarelo.

    Azul e amarelo.

    A atividade 5 se baseia em algumas premissas da lógica do pensamento computacional. Pretende-se chamar a atenção dos estudantes para as particularidades da representação pictórica dos deuses egípcios. A primeira etapa demanda a decomposição da tarefa, um processo que permite desmembrar um problema complexo em pedaços menores e de mais fácil resolução. Incentive os estudantes a começar a pesquisa a respeito dos deuses egípcios pelo livro didático, localizando no capítulo as informações e imagens necessárias. Além disso, certifique-se de que eles utilizem fontes confiáveis para complementar essas informações. Logo depois, os estudantes devem identificar os padrões nas fórmas de representar esses deuses. Instrua-os a verificar, por exemplo, se eles são desenhados de frente ou de lado; se a cabeça segue a proporção do corpo; o modo como estão representados os adereços. A seguir, eles devem exercitar a habilidade de abstração, ou seja, de ignorar as informações que sejam irrelevantes para a solução da tarefa para, em seguida, colocarem em prática a habilidade de ilustrar as informações reunidas. Depois, demanda-se a criação de um manual por meio do qual os estudantes possam desenvolver a habilidade de criar passos ou regras que permitam a resolução mais rápida de uma tarefa complexa. Por último, incentive-os a aperfeiçoar os manuais criados por meio de um debate com os outros grupos, por meio do qual eles possam comparar os resultados alcançados. Para orientar a correção, disponibilizamos um quadro com um modelo de resposta. Leve em conta o fato de que as representações dos deuses egípcios podiam variar. Assim, é necessário debater e analisar essas variações com os estudantes.

    Glossário

    Dialeto
    : variedade de uma língua falada em determinado local ou região.
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    Bioma
    : conjunto dos animais e vegetais que vivem em uma região com determinadas características de solo, vegetação e relevo.
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    Mumificação
    : técnica desenvolvida pelos egípcios para preservar o corpo dos mortos.
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    Autonomia
    : capacidade de tomar decisões de maneira independente.
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    Hereditário
    : transmitido de geração a geração.
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    Mastaba
    : túmulo destinado aos sacerdotes e altos funcionários do Egito antigo.
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    Berbere
    : povo de tradição nômade, que se concentra, principalmente, na região do Magreb, no nordeste africano. Acredita-se que os berberes são descendentes de povos que viveram em 5000 antes de Cristo
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