UNIDADE 4 A EUROPA MEDIEVAL, A FORMAÇÃO DO ISLAMISMO E A ÁFRICA

A história e você: intolerância religiosa no Brasil atual

A questão religiosa teve papel importante na Europa, na Ásia e na África entre os séculos quatro e quinze. Naquela época, boa parte das pessoas que viviam no continente europeu se converteu ao cristianismo. A partir do século sete, formou-se no Oriente Médio outra importante religião, que se espalhou por regiões da Ásia, da África e da Europa: o islamismo.

Nesta unidade, você estudará, entre outros temas, a formação e a expansão do islamismo e os conflitos entre muçulmanos e cristãos. Além disso, conhecerá alguns reinos, impérios, rotas comerciais e elementos culturais do continente africano entre os séculos quatro e quinze.

A relação do cristianismo com o islamismo, e entre eles e povos adeptos de outras religiões, nem sempre foi tranquila. Além das questões relativas à fé, muitos povos se converteram à fôrça por interesses políticos e/ou econômicos. Os conflitos religiosos colocaram em evidência a questão da intolerância, motivando preconceitos e ações violentas.

Atualmente, diversos grupos ainda são vítimas de intolerância religiosa. No Brasil, por exemplo, muitas pessoas são perseguidas por causa de suas crenças, apesar de documentos como a Constituição Brasileira, de 1988, assegurarem o direito das pessoas à liberdade religiosa no país.

Ilustração. Da esquerda para a direita, cinco pessoas: uma mulher vestindo uma roupa branca e um turbante de mesma cor sobre a cabeça, usando brincos, bracelete e colar nas cores amarelo e laranja; um homem calvo, de bigode grisalho, vestindo um manto amarelo e laranja e sandálias, com as palmas das mãos unidas à frente de seu corpo; uma mulher usando um vestido cor de rosa, de cabelos escuros presos em um coque, segurando com as duas mãos um livro de capa preta, onde há o desenho de uma cruz branca; uma mulher usando uma longa veste preta de gola branca, uma touca preta com detalhe branco que parte do topo da cabeça até o pescoço e um crucifixo ao redor do pescoço; e um homem de barba comprida branca com duas mechas de cachos compridos nas laterais usando um chapéu preto largo e um terno escuro com lenço laranja no pescoço.
Ilustração atual representando adeptos de algumas das diferentes religiões do mundo.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A proposta de elaboração de fôlderes para uma campanha de combate à intolerância religiosa no Brasil contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1 e nº 4.

Abertura de unidade

Esta unidade abarca os capítulos 10 (“O início da Idade Média”), 11 (“Europa medieval e África: circulação e regionalização”) e 12 (“Das Cruzadas ao fim da Idade Média”). O tema escolhido para esse momento inicial foi o da intolerância religiosa, que, de certa maneira, perpassa o conteúdo dos capítulos desta unidade. Almeja-se discutir a contemporaneidade desse assunto, problematizar e desnaturalizar preconceitos de origem religiosa, propondo ações para minimizar conflitos dessa natureza.

Temas Contemporâneos Transversais

A atividade da abertura, por envolver a pesquisa sobre a diversidade de manifestações religiosas e incentivar o respeito às diferenças e a tolerância religiosa no país, contribui para o desenvolvimento dos Temas Contemporâneos Transversais Diversidade cultural e Educação em direitos humanos.

De acordo com dados do Disque 100, serviço de proteção dos direitos humanos, foram registradas no Brasil 354 denúncias de intolerância religiosa no primeiro semestre de 2019.

Os conflitos envolvendo religião, independentemente de como e onde começam, podem ser movidos por fanatismo. De modo geral, os fanáticos consideram sua religião a única legítima e, com suas ações, procuram desestabilizar a sociedade, ferir pessoas e impedir o direito à liberdade religiosa.

Pensando nisso, você e os colegas da turma prepararão fôlderes de uma campanha de combate à intolerância religiosa no país. Para isso, verifiquem as etapas a seguir.

Organizar

  • Formem grupos de até cinco integrantes.
  • Pesquisem na internet, em livros, jornais e revistas impressos, as religiões que são seguidas no Brasil.
  • Levantem informações sobre as religiões que mais sofrem intolerância religiosa no país.
  • Com base na pesquisa, escolham duas religiões diferentes e levantem as seguintes informações sobre elas: país ou região em que se formaram, como estão organizadas (descrevendo a hierarquia de poder, se houver), principais crenças e número de adeptos.

Produzir

  • Escrevam um texto resumido com as informações referentes a cada religião pesquisada, justificando o direito de existência de cada uma delas.
  • Revisem o texto que escreveram para que ele fique compreensível, curto e adequado ao formato de fôlder: um material que combina textos e imagens destinado à divulgação de produtos e ideias.

Compartilhar

  • Após a conclusão do trabalho, compartilhem os fôlderes com o professor e com os colegas dos outros grupos, conversando sobre a experiência de realizar a atividade.
  • Divulguem os fôlderes de todos os grupos em suas redes sociais.
Ilustração. À esquerda, uma mulher usando um hijab cinza e roupas compridas bege, conversando com outra mulher, à direita, com cabelo preto preso em um coque, usando adornos no rosto, pulseiras, braceletes e colar. Ela veste uma camisa verde com detalhes amarelos e saia comprida listrada.
Ilustração atual representando diálogo entre pessoas de diferentes religiões.
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre denúncias de intolerância religiosa registradas pelo Disque 100 retirados de: LUIZ, S. Frente Parlamentar quer combater intolerância religiosa no Rio. Agência Brasil, 18 janeiro 2021. Disponível em: https://oeds.link/Yl7iW0. Acesso em: 16 maio 2022.

Atividade

Se considerar conveniente, antes do início da atividade, proponha aos estudantes uma conversa sobre o conceito de tolerância. Para embasar essa discussão inicial, indica-se a leitura da Declaração de Princípios sobre a Tolerância, aprovada pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unêsco), em 16 de novembro de 1995. No artigo 1º do documento, é abordado o significado de tolerância. Ao propor a produção da pesquisa e do fôlder, reserve uma aula para a primeira parte da atividade (“Organizar”). Oriente a turma durante a pesquisa a respeito da composição religiosa do país. Você pode usar como referência os dados publicados no último censo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (í bê gê É).

Até o momento da edição deste material, o último censo era o de 2010. Disponível em: https://oeds.link/9AMfJ9. Acesso em: 25 janeiro 2022. Informações sobre os casos de intolerância religiosa podem ser acessados no site do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Até o fim da edição deste material, o último balanço sobre o assunto havia sido publicado em 2019. Disponível em: https://oeds.link/lCwtmF. Acesso em: 25 jan. 2022. Selecione com os estudantes as crenças que mais sofrem perseguição religiosa. Organize-os em grupos e auxilie-os na escolha das duas denominações religiosas que pesquisarão. Feito isso, oriente-os no levantamento de informações a respeito de cada uma delas, que podem ser encontradas em sites institucionais das denominações religiosas ou de órgãos públicos. Supervisione esse trabalho com o intuito de orientar o acesso dos estudantes a sites confiáveis e livres de preconceitos. É importante comentar que, dependendo das fontes pesquisadas, as porcentagens podem variar. De modo geral, as religiões de matriz ou origem africana são as mais atingidas por intolerância no Brasil. Várias fontes confirmam essa informação. Por exemplo:

“Embora sejam praticadas por 0,3% da população, de acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (í bê gê É), as religiões de origem africana são as que mais sofrem discriminação. De acordo com os dados do Disque Direitos Humanos, o Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (ésse dê agá), de 2011 a 2014, do total de 504 denúncias, 213 informaram a religião atacada. Em 35% desses casos, trata-se de religiões de matriz africana”.

Tocárnia, M. Negros e religiões africanas são os mais discriminados, mostra Disque 100. Agência Brasil, 19 julho 2015. Disponível em: https://oeds.link/GELW1x. Acesso em: 25 janeiro 2022.

Feita a seleção das denominações religiosas pelos grupos, se possível, reserve um tempo em sala de aula para supervisionar e revisar a produção dos textos e das imagens que entrarão nos fôlderes. É importante que os textos apresentem o respeito ao direito de crença, ao exercício da tolerância etcétera A produção artística dos fôlderes pode ser realizada como tarefa de casa, se os estudantes apresentarem condições para isso. Se não, pode ser usada uma segunda aula para essa atividade. Adote a estratégia que melhor corresponda à sua realidade escolar. Se julgar pertinente e se houver possibilidade, os fôlderes podem ser produzidos em formato digital. Se houver alguma dúvida sobre o formato do material, consulte tutoriais disponíveis na internet. Por fim, agende uma data para a exposição dos fôlderes em sala de aula. Incentive os estudantes a fazer uma breve apresentação do trabalho dos grupos, explicando os procedimentos adotados, as dificuldades e as estratégias usadas na realização da tarefa etcétera

CAPÍTULO 10 O INÍCIO DA IDADE MÉDIA

Você já deve ter tido contato com animações, filmes, histórias em quadrinhos ou games ambientados na Idade Média. Deve conhecer, por exemplo, as histórias do rei Artur ou de Róbin Rúd, ambientadas em cenário medieval.

Castelos, catapultas, dragões, feiticeiros, guerreiros com armaduras, vikings etcétera são elementos presentes nessas histórias, como você pode notar na imagem do detalhe do cartaz da animação reproduzido nesta página. Na história, que se passa durante a Idade Média, os vikings têm dragões como animais de estimação.

Cartaz de animação. Em primeiro plano, quatro personagens vikings, três homens e uma mulher, alguns usando armaduras e outros vestimentas feitas de peles de animais. Ao redor deles, vários dragões de cores diferentes. No alto, no centro, outras duas pessoas com chapéu de viking, com dois chifres nas laterais.
Detalhe do cartaz da animação estadunidense Como treinar o seu dragão 2, dirigido por Dean DeBlois, de 2014.

Outra produção cultural em que a Idade Média é usada como pano de fundo é a série de tirinhas de Agás, o Horrível, criada em 1973 por Diqui Bráun, que faleceu em 1989. Desde então, as tirinhas são desenhadas por seu filho, Cris Bráune.

Hagar é o comandante de um exército viking que invade e saqueia cidades da Europa, sempre acompanhado de seu fiel escudeiro, Eddie Sortudo.

Quadrinho. História contada em dois quadros. Apresenta Hagar e Sortudo, dois personagens vikings, conversando no escuro.
Quadro 1. Hagar pergunta: 'Que horas são, Sortudo?'. Sortudo responde: 'Meio-dia, Hagar.'.
Quadro 2. Indicação de 'Suspiro'. Hagar continua: 'É chato viver na Idade das Trevas!!'.
Agás, o Horrível, tirinha de Dik e Cris Bráune, 2004.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Na tirinha, é mencionada uma expressão normalmente associada à Idade Média. Qual é essa expressão?
  2. Em sua opinião, por que se criou essa ideia sobre o período medieval?
  3. A Idade Média pode ser reduzida a essa ideia? Debata esse assunto com os colegas.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Respostas e comentários

Abertura

Pretende-se verificar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre a Idade Média, que é um período histórico muito representado na indústria cultural. Em geral, é transmitida uma visão estereotipada da Idade Média, como um mundo violento e supersticioso, compatível com a ideia de Idade das Trevas, tratada com ironia na tirinha reproduzida. A intenção é discutir a historicidade dessa visão negativa, concebida no Renascimento, para separar o mundo que recobrava a tradição clássica do mundo anterior, entendido como decadente por ter ignorado as tradições e os conhecimentos da cultura greco-romana.

Atividades

1. Idade das Trevas.

2. A resposta depende dos conhecimentos prévios dos estudantes sobre a Idade Média. É provável que eles associem a expressão a imagens consolidadas no senso comum sobre um período caracterizado por obscurantismo religioso, decréscimo do conhecimento, muita pobreza e violência. Muito provavelmente também trarão referências à fantasia, pois muitas das produções culturais, como mostra o cartaz da animação na página, associam o período com elementos fantásticos.

3. Aqui também se verificam os conhecimentos prévios dos estudantes. No decorrer do capítulo, procure demarcar os momentos e as informações que problematizem a ideia preconcebida da Idade Média como um período obscuro e sem realizações culturais.

A ideia da Idade Média como Idade das Trevas propagou-se no contexto do Renascimento (séculos catorze-dezesseis).Para algumas pessoas do século quinze, entre o tempo em que viviam e a Antiguidade, houve uma etapa intermediária (evidenciada no nome Idade Média), marcada por um hiato artístico, intelectual e técnico. Por acreditarem que os valores clássicos estavam ressurgindo no Renascimento, consideraram o milênio entre a queda de Roma no Ocidente e o século quinze um período sem cultura, de superstições, misticismo e violência.

Esse imaginário relacionado ao período medieval está presente em filmes e jogos contemporâneos.

Essa visão negativa da Idade Média persistiu e ampliou-se no iluminismo (século dezoito), quando os parâmetros da razão moderna foram transformados em medida para toda e qualquer experiência histórica. Além disso, naquele período, um clima profundamente anticlerical e até antirreligioso tomava alguns dos filósofos.

Como periodizar a Idade Média?

De modo geral, os historiadores utilizam o ano 476, em que terminou o Império Romano do Ocidente, para demarcar o fim da Antiguidade e o início da chamada Idade Média, que durou aproximadamente mil anos (do século cinco ao século quinze).

Pense um pouco sobre isso. Transformações profundas não acontecem da noite para o dia, certo? Ninguém dorme antigo e acorda medieval. Refletindo a respeito dessas questões, alguns estudiosos propuseram outra divisão para esses períodos.

Como você estudou no capítulo 9, eles chamaram de Antiguidade tardia o intervalo de tempo entre o século três, na fase final do Império Romano do Ocidente, e o século oito. Nesse período, ocorreram fatos como os seguintes:

  • a transformação da cultura clássica greco-romana com a adoção, pelos romanos, do cristianismo e de modelos culturais e sociais vinculados a essa religião;
  • o crescimento do cristianismo, que se tornou a religião mais praticada na Europa, no norte da África e em regiões da Ásia próximas ao Mar Mediterrâneo;
  • a formação e o fortalecimento do islamismo como religião monoteísta a partir do século sete.

Esses fatos demonstram que na Antiguidade essas regiões estavam se modificando com a adoção de diferentes valores. Assim, os estudiosos passaram a relativizar a ideia de que, com a queda do Império Romano do Ocidente, o mundo antigo acabou de maneira abruptaglossário , dando lugar ao período medieval, no qual supostamente a Europa passou por uma Idade das Trevas, marcada pela violência e pela estagnaçãoglossário .

Fotografia. Vista aérea de uma cidade, rodeada por uma muralha com torres pontiagudas em alguns trechos, com castelos e outras construções em seu interior. Ao fundo, vegetação. Ao redor, área gramada e estradas.
Vista área da cidade medieval de Carcassonne, na França. Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Seria impossível cidades medievais como a da imagem, com castelos e muralhas, surgirem de uma hora para outra por causa de uma mudança de período histórico. Aliás, as divisões da história, como você estudou no capítulo 1, foram determinadas pelos estudiosos muito tempo depois de ocorrerem os fatos usados como marcos para defini-las.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A discussão inicial sobre a periodização da Idade Média contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de História nº 2 e nº 6.

Objetivos do capítulo

Apresentar a origem do conceito de Idade Média.

Problematizar a figura do bárbaro, construída pelos romanos com base na lógica de contraposição entre civilização e barbárie.

Analisar os contextos de formação do Reino Franco e a constituição do Império Carolíngio, identificando a importância das relações deste com a Igreja.

Analisar o contexto de formação e de propagação do islã na Península Arábica.

Expor termos e conceitos ligados ao estudo dos povos islâmicos, como Alcorão, muçulmano, islã, islamismo, Caaba, Hégira, Ramadã, jirrád, sunitas e xiítas.

Apresentar o protagonismo de personagens femininas ligadas à história do islamismo.

Mostrar algumas das trocas culturais que marcaram a história dos chamados Ocidente e Oriente, por meio do contato entre a cristandade ocidental e o mundo islâmico.

Apresentar o processo de expansão do islamismo.

Justificativa

Os objetivos deste capítulo são relevantes na medida em que incentivam os estudantes a compreender a Idade Média como um período de renovações culturais, inovações técnicas e transformações sociais, sensibilizando-os para a existência de um senso comum problemático, que muitas vezes retrata a época como um período obscuro e de violência. Além disso, os objetivos também almejam incentivar o desenvolvimento do processo analítico pelos estudantes, o que se dá por meio do trabalho com o estudo e a análise cultural da cristandade ocidental e do mundo islâmico, demonstrando as dinâmicas das diferentes relações travadas entre eles.

Os reinos germânicos

No capítulo anterior, você estudou as interações que os romanos tiveram ao longo de sua história com os chamados bárbaros, que desempenharam um papel importante na desestruturação do império.

Durante a Antiguidade tardia, especialmente a partir do século cinco, esses povos, que haviam se estabelecido no território romano, começaram a fundar reinos. Um desses reinos foi o dos francos, de origem germânica, fundado na região correspondente à de uma parte da França atual. Diferentemente de reinos vizinhos, o dos francos teve longa duração, tornando-se muito poderoso.

Reinos germânicos – séculos cinco-seis

Mapa. Reinos germânicos - séculos cinco e seis. No centro, o Mar Mediterrâneo. Ao norte, parte da Europa. Ao sul, parte do norte da África. A leste, parte da Ásia. A oeste, o Oceano Atlântico. 
Legenda: 
Rosa: Reino dos francos em 486.
Rosa com linhas inclinadas em preto: Reino dos francos em 511.
No mapa, o Reino dos francos em 486, localiza-se no norte da Europa, com destaque para as cidades de Reims, Cambrai e Tournai. 
O Reino dos francos em 511 abrange desde a cidade de Toulouse até a região a leste do Rio Reno. Fazendo fronteira com os Saxões, os Lombardos e o Reino dos Turíngios, a leste; o Reino dos Burgúndios, em cor laranja, ao sul, e o Reino dos Ostrogodos, ao sul. A oeste, o Oceano Atlântico.
Destacados em roxo, Reino dos Visigodos e o Reino dos Ostrogodos, abrangendo as regiões da Península Ibérica, a costa mediterrânica do território que hoje corresponde à França, a Península Itálica e parte dos Bálcãs. A cidade de Toledo está destacada no Reino dos Visigodos. As cidades de Verona, Ravena, Roma e Siracusa estão destacadas no Reino dos Ostrogodos.
No noroeste da Península Ibérica, e dentro dos limites ocupados pelos visigodos, destaca-se em marrom, o Reino dos Suevos, incluindo as cidades de Lugo e Braga. 
A leste do Reino dos Francos, destacado em amarelo, o Reino dos Turíngios. 
A leste do Reino dos Ostrogodos, destacado na cor verde claro, o Reino dos Gépidas, às margens do Rio Danúbio.
No norte da África, na costa mediterrânica em torno do Cabo Bon, incluindo as Ilhas Baleares, a Córsega e a Sardenha, destacado em verde escuro, o Reino dos Vândalos, incluindo a cidade de Cartago. 
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos com escala de 0 a 260 quilômetros.

FONTE: HILGEMANN, W.; KINDER, H. Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página 112.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

No mapa estão representados reinos germânicos. Qual é a diferença entre a organização espacial desse mapa e o da página 173, que representa um período em que ainda existia o Império Romano do Ocidente?

Dica

LIVRO

Rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, de Rosalind Quérven. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2020.

O livro narra acontecimentos em diversas fases da vida do rei Artur, figura mítica inglesa que teria vivido no início da Idade Média. Artur é associado à imagem de um guerreiro que luta contra a invasão dos saxões à Grã-Bretanha.

Respostas e comentários

Resposta do Se liga no espaço!: A disposição espacial revela a fragmentação política em reinos independentes, diferentemente do outro mapa (página 173), em que havia a centralização do Império Romano, ao qual, em tese, todas as regiões deviam se submeter.

Bê êne cê cê

Ao abordar a estruturação do continente europeu no início da Idade Média, discutindo a formação de reinos e fronteiras, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um quatro. Já o destaque dado ao cristianismo na reconfiguração do espaço e da vida política na chamada Antiguidade tardia mobiliza a habilidade ê éfe zero seis agá ih um oito e a Competência Específica de História nº 2.

A fusão das tradições germânicas e romanas moldou diversos aspectos da estrutura social da Idade Média. A influência germânica pode ser observada no predomínio da atividade agrícola e por meio das relações de fidelidade. Já as tradições romanas deram lugar à defesa do poder absoluto, derivado do antigo Império Romano, assim como à legislação civil.

Ampliando

Sobre as relações e continuidades dos reinos germânicos com o Império Romano, leia o texto a seguir.

“O colapso do Estado ocidental, por seu turno, não teria resultado em qualquer ruptura mais nítida na estrutura social, porquanto os reinos germânicos teriam se organizado a partir do exemplo romano tardio antigo, a despeito de, culturalmente, ter ocorrido uma fusão entre elementos germânicos e romanos desde muito cedo. reticências a economia teria continuado a funcionar sobre bases monetárias. Evidência disso seria, por exemplo, o Végeld, a indenização paga por quem cometia crimes graves, que era feito em moeda. O Sólidus de Constantino teria permanecido como padrão monetário até o início do século sete, quando então teriam sido adotadas cunhagens com o nome do rei merovíngio Clotário dois. O comércio e a vida urbana do século seis, inclusive, teriam apresentado uma modesta, mas evidente, recuperação, em função de uma certa pacificação geral reticências.”

SARTIN, G. H. S. S. O surgimento do conceito de “Antiguidade Tardia” e a encruzilhada da historiografia atual. Brathair, volume 9, número 2, página 15-40, 2009. página 26.

O Reino Franco

Ao longo de sua história, o Reino Franco foi dominado por duas dinastias – a dos merovíngios e a dos carolíngios. Essas dinastias foram muito importantes para a expansão do cristianismo entre os povos germânicos.

Os francos se aproximaram bastante da Igreja a partir do reinado de Clóvis, da dinastia merovíngia, que governou entre 496 e 511. No primeiro ano de seu reinado, Clóvis unificou as várias tribos francas. Além disso, ele se converteu ao cristianismo. Esse gesto foi muito significativo, pois reforçou a união dos francos com base em uma religião e fortaleceu a autoridade do rei com o apoio da Igreja.

Iluminura. No centro, um homem nu, de cabelos castanhos, com as mãos cruzadas sobre o peitoral, dentro de uma pia batismal. À esquerda, quatro homens com túnicas religiosas, longas e com cores diferentes, e chapéu branco triangular sobre a cabeça. Um deles à frente, mais próximo do centro, segura um bastão de ponta encurvada com uma mão e ergue a palma da outra mão em direção ao homem ao centro. À direita, quatro homens com vestes nobres compridas. Um deles, mais próximo do centro, segura uma coroa em direção ao homem na pia batismal.
O batismo de Clóvis, iluminura do manuscrito A vida de São Denis, século treze.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Clóvis está representado ao centro da imagem, na pia batismal. À esquerda, estão os bispos da Igreja, que o abençoam, e, à direita, os nobres francos, que lhe entregam a coroa.

Na prática, os reis dessa dinastia tiveram pouco poder, pois quem governava de fato eram os chamados mordomos do paço, funcionários indicados pelo rei para administrar o reino e organizar a defesa.

Um dos mais importantes mordomos foi Carlos Martel, que liderou o exército franco contra os muçulmanos na Batalha de Poitiers, em 732. A vitória dos francos barrou o avanço muçulmano na Europa e deu enorme prestígio a Carlos Martel e sua família.

Depois disso, a influência dos mordomos cresceu tanto que Pepino, o Breve, filho de Carlos Martel, depôs o último rei merovíngio e assumiu o trono em 751, iniciando uma nova e poderosa dinastia: a carolíngia.

Vitral. Mosaico colorido do busto de um homem com barba, usando uma coroa e um manto. Atrás dele, um círculo com escritas na borda.
Detalhe de vitral do século treze, na Catedral de Estrasburgo, França, retratando Pepino, o Breve.
Respostas e comentários

É importante reforçar o papel da religião no fortalecimento da autoridade monárquica. Isso já acontecia com os imperadores romanos desde a adoção do cristianismo como religião oficial do Estado. No período medieval, essa apropriação se fortaleceu, embora tenham ocorrido muitos conflitos entre os reis e os papas.

São introduzidos nesse item alguns conceitos políticos que merecem atenção, como o de dinastia e o de mordomo. O primeiro não remete necessariamente à velha história política, como se pode supor. As menções às dinastias neste livro se relacionam a duas realidades políticas: uma delas foi importante na estruturação do poder e sua continuidade em torno de uma ou mais famílias aristocráticas com base em laços consanguíneos. A outra serve para demarcar os tempos da história dos reinos bárbaros formados com a dissolução do Império Romano do Ocidente. Já o conceito de mordomo pode suscitar confusão porque, no senso comum, designa um funcionário doméstico. O termo mordomo vem do latim Majór Dômus. O cargo de mordomo do paço ou do palácio era o mais elevado que um aristocrata podia ocupar. Esse funcionário administrava a casa real, que compreendia todos os bens da monarquia, e controlava o acesso dos súditos ao monarca. Essas informações podem servir para mostrar que as palavras têm história.

Na Batalha de Poitiers, ocorrida em 732, Carlos Martel barrou o avanço dos muçulmanos, que, da Península Ibérica, pretendiam expandir seus domínios pela Europa. Os temas relativos à formação e à expansão do islamismo serão trabalhados na segunda parte do capítulo.

Curadoria

História: Idade Média – Marcelo Cândido da Silva (Vídeo)

Univesp. Brasil, 2014. Duração: 25minutos Disponível em: https://oeds.link/kAnvdd. Acesso em: 22 junho 2022.

Nesse vídeo, a jornalista Mônica Teixeira entrevista o especialista em história medieval, Marcelo Cândido da Silva, que comenta a respeito das fontes necessárias para a produção do conhecimento histórico sobre o medievo, caracterizando as diferenças, por exemplo, na noção do crime de roubo naquela época e hoje.

O Império Carolíngio

As relações do Reino Franco com a Igreja se tornaram mais fortes quando o papa Estevão dois pediu auxílio militar a Pepino, o Breve, para enfrentar os lombardos na Itália.

Após derrotá-los, Pepino doou à Igreja um grande território na região central da Península Itálica, que deu origem aos Estados Pontifíciosglossário . Em contrapartida, o sumo pontíficeglossário reconheceu a legitimidade de Pepino como rei dos francos. Pepino morreu em 768, quando foi sucedido por seu filho Carlos Magno.

Durante o reinado de Carlos Magno, os francos conseguiram expandir consideravelmente suas fronteiras. Como seus antecessores, ele agiu protegendo as áreas da Igreja e levando a fé cristã aos territórios conquistados.

No ano 800, Carlos Magno foi coroado em Roma pelo papa Leão terceiro, consolidando a relação entre a monarquia franca e a Igreja.

Com a coroação, Carlos Magno recebeu o título de imperador romano do Ocidente. A cerimônia foi conduzida pelo papa Leão terceiro, em Roma, simbolizando a autoridade da Igreja até mesmo sobre os reis. Entendia-se, assim, que o poder do rei partia de Deus, cabendo à Igreja legitimar o governo dos monarcas.

A Igreja pretendia restaurar o antigo Império Romano do Ocidente para garantir a influência sobre grandes territórios que havia adquirido no século terceiro, quando o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma.

Como imperador do Ocidente, Carlos Magno tornou-se mais poderoso e incorporou o papel de defensor da cristandade latinaglossário .

O Império Carolíngio – séculos oito-nove

Mapa. O Império Carolíngio - séculos oito e nove. Destaque para parte do continente europeu e uma pequena parte do norte da África.  No centro, a região dos Alpes e dos Pirineus. A oeste, a Península Ibérica. A leste, a região dos Cárpatos e dos Bálcãs. Há territórios destacados em cores diferentes. 
Legenda:
Amarelo: Reino dos Francos no início do governo de Carlos Magno.
Verde: Conquistas de Carlos Magno.
Roxo. Estados tributários.
Rosa: Área de influência carolíngia.
Laranja: Domínio bizantino.
No mapa, o Reino dos Francos no início do governo de Carlos Magno abrange vasta área da Europa Ocidental e Central. Algumas regiões se destacam, como, ao sul, a Aquitânia e a Borgonha; no centro, a Nêustria e a Alemanha; a nordeste, a Austrásia. Ao norte, as cidades de Aquisgrã, Trévis, Attigny, Reims e Worms.
As Conquistas de Carlos Magno expandiram o território a noroeste, na região da Marca da Bretanha; a sudoeste, na região da Marca Hispânica; ao sul, compreendendo o Reino da Itália, os Estados da Igreja e o Ducado de Espoleto; a leste, incluindo Veneza, Aquileia, Ístria e Baviera; e a nordeste, compreendendo a Saxônia e a cidade de Verden.
Os Estados tributários compreendem o Ducado de Benevento, incluindo a cidade de Benevento, no sul da Península Itálica; e a Marca da Panônia e Ávaros, no leste do continente europeu. 
A área de influência carolíngia abrange a Ilha da Córsega, e parte do leste da Europa, na divisa com os reinos Eslavos. 
O Domínio bizantino compreende as ilhas da Sardenha e da Sicília, no extremo sul da Península Itálica; Nápoles; uma pequena região a leste de Veneza, bem como o litoral mediterrânico da Península Balcânica e na Península do Peloponeso.
 À esquerda, no centro, rosa dos ventos e escala de 0 a 240 quilômetros.

FONTE: DUBY, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 87.

Respostas e comentários

Ampliando

Leia o texto a seguir, que trata da relação entre o reino Franco e a Igreja Católica.

“A ascensão do reino Franco no cenário europeu veio se combinar a um contexto em que a Igreja Romana, ela mesma detentora de territórios temporais na parte central da Itália, via-se afrontada por duas grandes ameaças, que eram os povos lombardos, recém-chegados à península, e o Império Bizantino, que controlava a chamada Igreja Cristã Oriental. A sobrevivência da Igreja Romana era ameaçada, neste contexto, de muitas maneiras – tanto territorialmente como doutrinariamente – e, por isto, o projeto do papado de se projetar como fôrça cristã universal, no âmbito do Ocidente, poderia se combinar perfeitamente com o projeto de expansão do povo franco, já cristianizado. reticências Carlos Magno encetaria uma aliança similar com o Papa Adriano um, a partir de um intrincado contexto de alianças e oposições que estão registrados em diversos anais da época. reticências A partir daí andam juntos os dois projetos, o de expansão do Reino Franco e o de universalismo espiritual da Igreja Romana sobre as populações cristãs do Ocidente, estabelecendo-se uma aliança que irá culminar com a coroação imperial de Carlos Magno, no ano 800.”

BARROS, J. D’A. Cristianismo e política na Idade Média: as relações entre o papado e o império. Horizonte, volume 7, número 15, página 53-72, dezembro 2009. página 57, 58.

Ampliando

Sobre o Renascimento Carolíngio, leia o texto a seguir.

“Em 781, Carlos Magno encontra Alcuíno em Parma e convida-o para ser o mestre da escola palatina. Aceito o convite, o monge de iórque permanece na corte até 790, quando volta à Grã-Bretanha. Três anos depois, retorna ao convívio de Carlos Magno, sendo responsável pela instauração do grande projeto cultural que caracterizou a época carolíngia reticências Alcuíno, nessa ocasião, estava por volta dos 50 anos de idade. Já tinha tido a experiência, em iórque, de congregar intelectuais e formar bibliotecas. Este é o desafio que, uma vez mais, terá pela frente.

reticências

Ajudado por Alcuíno, o imperador reúne, junto à escola palatina, intelectuais provenientes de diferentes partes da Europa. Destacam-se, além do próprio Alcuíno, Paulo Diácono, Pedro de Pisa, Paulino de Aquileia, Agobardo e Teodulfo de orlêans. Auxiliado por eles, o imperador empenha-se pessoalmente na reforma litúrgica e, até mesmo, na formação do clero.

reticências

Alcuíno está em plena sintonia com o projeto do imperador, antevendo a formação de uma ‘nova Atenas’, mais nobre do que a antiga, pois a Atenas dos filósofos, ao contrário da Atenas carolíngia, não era enriquecida pelo ensinamento de Cristo e os dons do Espírito Santo. Para que tal projeto tivesse êxito, fez com que importantes textos de mosteiros ingleses chegassem à corte; além disso, ele mesmo redigiu manuais, incentivou os trabalhos dos copistas e se ocupou do desenvolvimento das escolas anexas às catedrais, tal como fôra planejado por Carlos Magno reticências.”

VASCONCELLOS, M. As escolas e o ressurgir da filosofia no renascimento carolíngio. Filosofia e Educação, volume 10, número 2, página 249-263, maio-agosto 2018. página 253, 254.

Renascimento Carolíngio

Durante o reinado de Carlos Magno, o território franco aumentou muito, a produção agrícola cresceu e o comércio ganhou impulso. Além disso, ele promoveu o desenvolvimento artístico e cultural do império. Para isso, procurou recuperar elementos da cultura greco-romana. O período em que houve essa renovação cultural ficou conhecido como Renascimento Carolíngio.

No dia a dia, o idioma falado no império era o franco, mas o estudo da língua latina, realizado apenas em comunidades religiosas e de estudiosos, foi encorajado e a escrita em latim, valorizada.

Também houve o desenvolvimento de um tipo de caligrafia: a cursiva minúscula. A escrita dessa caligrafia era mais prática e mais fácil de ler do que as usadas antes na Europa. Isso facilitou a leitura e favoreceu a preservação de muitas obras clássicas, que puderam ser copiadas de maneira mais eficiente.

Copiadas? Exatamente. Muitas obras da chamada Antiguidade clássica foram preservadas no período medieval graças à atuação dos monges copistas. A maioria dos textos era escrita em pergaminhos feitos com peles de animais, o que tornava os livros raros e caros.

Iluminura. Em primeiro plano, três homens. Dois deles estão sentados, virados para a direita, em frente a mesas inclinadas de madeira, escrevendo em folhas de livro. De frente para eles, virado para a esquerda, um homem com túnica comprida preta e touca comprida de mesma cor sentado de frente a uma mesa com um livro em mãos.
Representação de monges copistas produzindo livros manuscritos em iluminura do Livro dos jogos, de 1283, encomendado por Afonso décimo, rei de Leão e Castela. A partir do século doze, esse trabalho passou a ser feito também em universidades e espaços não ligados à Igreja.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os monges copistas trabalhavam no Iscriptórium, lugar do mosteiro destinado à produção de manuscritos. Os primeiros mosteiros formaram-se no século cinco, no processo de institucionalização da Igreja Católica. Os monges viviam em isolamento e era comum que fizessem voto de pobreza e obedecessem a regras voltadas ao trabalho e à devoção religiosos. Os monges que atuaram como copistas contribuíram para a preservação de obras clássicas importantes no processo do Renascimento Carolíngio.

No campo da justiça, Carlos Magno estabeleceu leis válidas em todo o império para resolver questões relacionadas a crimes, impostos, administração pública, direitos de herança etcétera Além disso, adotou medidas unificadoras, como a criação de moedas.

Após sua morte, em 814, seus descendentes entraram em disputa pelo trono e, em 843, acabaram assinando o Tratado de Vêrdun, por meio do qual dividiram o império em três domínios.

Nesse período, intensificaram-se as invasões de povos não cristãos aos territórios da cristandade latina, que ficaram fragilizados por causa das divisões.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Cite duas importantes transformações que ocorreram no período chamado Antiguidade tardia.
  2. O que significou a aproximação entre o Reino Franco e a Igreja?
  3. Quais foram as consequências do Tratado de Vêrdun?
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. Os estudantes podem mencionar a adoção pelos romanos do cristianismo, a ascensão do cristianismo como a religião mais praticada na Europa, e a formação e o fortalecimento do islamismo (a partir do século sete).

2. Essa aproximação conferiu legitimidade aos reis francos e suas dinastias, especialmente a carolíngia, aumentando sua autoridade. A Igreja foi favorecida pelo fato de um poderoso reino aliado defendê-la e propagar a fé cristã.

3. Por meio desse tratado, o Império Carolíngio foi dividido em três domínios pelos descendentes de Carlos Magno. Essa fragmentação do poder político fragilizou ainda mais os territórios, que acabaram sofrendo invasões externas.

Orientação para as atividades

Nas atividades do boxe “Agora é com você!” são sistematizados elementos importantes sobre a periodização histórica, a relação entre religião e política e a associação desta com a cultura. No momento da correção, oriente a reescrita das respostas caso os estudantes tenham se limitado a copiar as informações presentes no livro. Para tanto, solicite que releiam as questões e identifiquem no texto-base o conteúdo que contenha as respostas. Na sequência, peça-lhes que retomem a leitura do conteúdo, anotem as informações necessárias e reelaborem as respostas com as próprias palavras.

Vamos pensar juntos?

Leia a tirinha a seguir.

Quadrinho. História contada em três quadros. Apresenta dois personagens vikings, um adulto, chamado Hagar, e um menino, chamado Hamlet. Os dois estão sentados um de frente para o outro, cada um em uma pedra.
Quadro 1. Hagar fala: 'Hamlet, só existem dois tipos de pessoas nesse mundo...'
Quadro 2. Hagar continua: 'Bárbaros e os não bárbaros.'
Quadro 3. Hamlet pergunta: 'De acordo com quem, pai?'. Hagar responde: 'Com os bárbaros.'
Agás, o Horrível, tirinha de Dik e Cris Bráune, 1990.

Como você leu na abertura deste capítulo, Agás é um personagem viking. Originários da Escandinávia, os vikings formaram um dos povos que invadiram os territórios da cristandade latina. Na tirinha, Hagar explica a seu filho Rãmlet a diferença entre bárbaros e não bárbaros. Essa oposição esteve presente nas mais diferentes culturas e, embora com outros sentidos, permanece até hoje, como a fala de Agás ajuda a compreender.

Como você estudou na unidade anterior, o termo bárbaro foi criado para nomear o diferente. Para os romanos, bárbaros eram todos os que não partilhavam a cultura greco-romana e viviam fóra das fronteiras do império. Ninguém, entretanto, se autodenomina bárbaro ou nomeia seu grupo dessa maneira. A ideia de barbárie depende, portanto, do ponto de vista daquele que se considera civilizado (não bárbaro).

A respeito desse assunto, leia o texto a seguir, escrito pelo historiador romano Amiano Marcelino, que viveu no século quatro.

“O prazer que os espíritos amáveis e pacíficos encontram num passatempo instrutivo eles encontram nos perigos e na guerra. Aos seus olhos, a suprema felicidade é perder a vida no campo de batalha [...].

ápud: Lê Gófi Jóta Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. página 27-28.

Responda no caderno.

  1. Explique a afirmação de Agás de que só existem dois tipos de pessoas no mundo: os não bárbaros e os bárbaros, de acordo com os bárbaros.
  2. De acordo com o texto de Amiano Marcelino, quais eram as características dos povos bárbaros?
  3. Você leu uma tirinha atual que simula um diálogo entre personagens vikings e um trecho de um texto escrito por um historiador romano do século quatro. Esses documentos baseiam-se em ideias semelhantes ou diferentes a respeito da existência de povos bárbaros? Justifique.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver e problematizar o conceito de bárbaro, o conteúdo proposto na seção contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 1. Como a compreensão do conceito pode ser usada para refletir sobre as diferenças culturais no presente, o conteúdo também mobiliza a Competência Geral da Educação Básica nº 1.

Tema Contemporâneo Transversal

Ao problematizar o conceito de bárbaro, por meio do uso de uma tirinha atual, o conteúdo contribui para o desenvolvimento do Tema Contemporâneo Transversal Diversidade cultural.

Vamos pensar juntos?

Nessa seção, discute-se a noção de bárbaro como parte das dinâmicas da alteridade, isto é, do contato entre povos e culturas diferentes. Nesse caso, trata-se da relação entre diferentes sustentada em visões negativas que uma cultura constrói de outra e o nível de arbitrariedade que perpassa esse processo.

Atividades

1. O significado do termo depende do referencial de quem observa e classifica. Assim, Agás explica a seu filho que a divisão entre bárbaros e não bárbaros depende do ponto de vista de quem se considera civilizado.

2. De acordo com o texto, eles seriam violentos e amantes da guerra.

3. Espera-se que os estudantes percebam que os dois documentos – a tirinha que representa um diálogo fictício entre vikings e o excerto do historiador romano do século cinco – apesentam concepções semelhantes a respeito da existência de povos bárbaros. Em ambos os documentos, a existência de povos bárbaros depende do referencial, ou seja, do ponto de vista de quem se considera não bárbaro.

Curadoria

Civilização e barbárie (Livro)

Adauto Novaes (organizador). São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Apresentando uma reunião de textos de intelectuais renomados, como Frãncis uôlf e Niutom Bignotto, essa obra, organizada pelo filósofo Adauto Novaes, concentra-se no debate das divergências e das aproximações entre os conceitos de civilização e barbárie. Dos artigos do livro, o escrito por Uôlf apresenta uma interpretação esclarecedora e atual do conceito de bárbaro, sustentando a ideia de que este, na contemporaneidade, é dirigido ao indivíduo que propõe, por meio da violência, a exclusão do outro, ou seja, daquele cujos costumes e visões de mundo são diferentes dos do “eu”.

A formação do islamismo: a terceira religião monoteísta

O cristianismo não foi a única religião monoteísta a se desenvolver e a se expandir na bacia do Mediterrâneo durante a Antiguidade tardia. Na Península Arábica, no comêço do século sete, formou-se o islamismo (ou islã). Os seguidores dessa religião são chamados muçulmanos (termo que significa “submissos a Deus”).

Atualmente, o islamismo é a religião que mais cresce no mundo. Ela está presente em praticamente todo o planeta, inclusive no Brasil. No entanto, são divulgados muitos preconceitos e informações distorcidas sobre os muçulmanos.

Que ideias ou imagens você associa ao islamismo? Nos meios de comunicação – internet, televisão ou jornais impressos –, que notícias ou informações são transmitidas sobre o mundo islâmico?

As respostas a essas perguntas são variadas, mas geralmente envolvem as ideias de violência, fundamentalismoglossário religioso, ataques terroristas, falta de liberdade, principalmente das mulheres, e a intolerância a outras religiões.

Essas ideias, porém, não correspondem à doutrina islâmica, que condena a violência, embora grupos radicais que se denominam muçulmanos pratiquem ações extremistas. Além disso, o radicalismo religioso não é exclusividade de muçulmanos.

Estudar a história do islamismo ajuda a desconstruir esses estereótipos e a superar essa visão negativa. Ao fazer isso, você perceberá que as relações entre a Europa Ocidental e o mundo islâmico não foram sempre marcadas pela violência e pelo confronto, e que muitas invenções fundamentais para a Europa – como a prensa móvel, o papel e a pólvora – não seriam conhecidas sem os muçulmanos.

Fotografia. Quatro mulheres reunidas. Duas delas usam hijabes e seguram celulares. Elas estão sorrindo.
Jovens muçulmanas na Malásia. Foto de 2020.
Respostas e comentários

No texto, a expansão do islamismo é relacionada aos preconceitos que ela desperta. Para incentivar o combate aos preconceitos, é fundamental discutir as representações mais comuns e equivocadas.

Nas imagens veiculadas pela imprensa, existe a tendência de homogeneizar a população islâmica, principalmente as mulheres, em razão de preceitos restritivos, inclusive em países aliados do Ocidente, como a Arábia Saudita. Assim, explore a fotografia reproduzida nesta página para desmistificar a imagem homogeneizada das muçulmanas.

Bê êne cê cê

Ao discutir e questionar os preconceitos e as visões deturpadas sobre o islamismo, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Geral da Educação Básica nº 9, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1 e nº 4, bem como da Competência Específica de História nº 1.

Atividade complementar

A análise do filme Aladdin – direção: Gai Rít. Estados Unidos, 2019, duração: 136 minutos, classificação indicativa: 10 anos – contribui para que os estudantes compreendam como imagens do Oriente Médio foram construídas ao longo do tempo pela indústria cinematográfica. A inspiração para o filme advém de “Aladdin e a lâmpada maravilhosa”, uma adaptação de um conto do folclore árabe. O filme apresenta diversos estereótipos. Solicite que os estudantes assistam a ele e respondam a questões como:

1. Onde e quando o filme foi produzido?

2. Qual é o enredo da história e quem são seus protagonistas?

3. Como o outro, no caso, o árabe, é representado no filme?

4. No filme, a cidade ficcional de Álgrabá é apresentada como um local ordenado ou caótico? O que isso quer dizer?

5. As músicas falam de um lugar bárbaro (no sentido de barbárie) ou não?

Auxilie os estudantes a perceberem que a cidade de Agrabah é apresentada como um lugar caótico, carregado de elementos exóticos, onde se fundem elementos culturais persas, árabes, chineses e indianos, como se o Oriente Médio fosse um ambiente homogêneo e mágico. Se julgar pertinente, pode-se explorar a condição da princesa Jasmine como uma projeção ocidental dos anseios e reivindicações das mulheres árabes.

Meca pré-islâmica

A origem do islamismo está relacionada a Maomé, que nasceu em 570, na cidade de Meca, localizada na região correspondente à da atual Arábia Saudita, então dominada pela tribo dos coraixitas.

Naquela época, os povos da Península Arábica estavam organizados em tribos independentes. O que os aproximava era a língua (falavam vários dialetos do árabe) e a religião politeísta.

No século seis, a cidade de Meca era um dos centros comerciais mais importantes da península por ser uma alternativa à Rota da Seda, extensa rede de vias que conectavam, por terra e por mar, a China ao Mediterrâneo.

A cidade foi utilizada como um importante entreposto de abastecimento de água das caravanas de mercadores que vendiam produtos de diferentes locais da Ásia, da África e da Europa. Por estar em um caminho alternativo às rotas tradicionais que conectavam o Oriente ao Mediterrâneo, Meca atraiu mercadores e viajantes de diferentes regiões e culturas.

Parte de sua riqueza provinha também do fato de a cidade ter sido convertida nessa época em importante centro religioso para o qual diversos grupos árabes peregrinavam a fim de cultuar seus símbolos sagrados. Todos esses fatores foram determinantes para a formação do islamismo.

A Península Arábica – século sete

Mapa. “A Península Arábica – século VII”. Apresenta o mapa do oeste da Ásia, seus climas e rotas de comércio, com as informações:
Deserto: regiões da África e regiões próximas às cidades de Aqaba, Jerusalém, Damasco, Madali, Kulã, Al-Jawf, Yathrib e Najran.
Região montanhosa: regiões na África e próximas às cidades de Sana, Maarib, Meca, Talf, Tabuk, Constantinopla, Niceia, Irônio, Cesarela, Tarso, Antioquia, Melbena, Divin, Ecbatana, Nishapur, Ispaan, Persépolis, Siraf e Ormuz.
Principais rotas de comércio.
Terrestres: passando por Dostate, Tabuk, Meca, Talf, Najran, Maarib, Sana, Al-Jawf, Kulã, Madali, Mossul, Edessa, Melbena, Antioquia, Tarso, Ironio, Cesarela, Nicela, Constantinopla, Dvin, Ecbatania, Nishapur, Ispaan, Persépolis, Ormuz e Basra, para a Ásia Central.
Marítimas: saindo de Maarib e Sana, Basra, Siraf e Ormuz, para a Índia.
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 390 km.

FONTE: MANTRAN, R. Expansão muçulmana: séculos sete-onze. São Paulo: Pioneira, 1977. página 57. (Série Nova Clio).

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise no mapa a posição geográfica da Península Arábica e as rotas comerciais que a atravessavam. Essa posição facilitou o processo de expansão do comércio no local? Explique.

Fotografia. Ao fundo, uma torre oriental no estilo pagode. Ela é protegida por uma muralha, que aparece em segundo plano. Em primeiro plano, uma pessoa montada em um camelo.
Fortaleza de Jiayuguan, na China. Foto de 2018. Esse local era um dos principais pontos da Rota da Seda.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Rota da Seda era composta de vários itinerários e foi utilizada do século dois antes de Cristo a meados do século dezesseis. Através dela, caravanas transportavam uma série de produtos de luxo. Ao transitar por locais perigosos e por enormes distâncias, os mercadores que percorriam a Rota da Seda acabavam cobrando um alto valor como frete, o que tornava os produtos caríssimos.

Respostas e comentários

Resposta do Se liga no espaço!: Sim, pois a Península Arábica se localiza em um ponto privilegiado de contato entre os continentes europeu, africano e asiático. Assim, entende-se o intenso fluxo de rotas em seu território, que conectava essas localidades.

Bê êne cê cê

Ao tratar da posição de Meca nas rotas comerciais terrestres, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um seis. Ao apontar a importância das caravanas que interligavam, pelas rotas comerciais, o sul da Península Arábica e territórios localizados no Crescente Fértil e ao longo do Mediterrâneo, mobiliza-se a habilidade ê éfe zero seis agá ih um cinco. O entendimento da ocupação/produção do espaço e do papel dos agentes responsáveis por sua transformação contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7.

Os grupos árabes apresentavam diferentes configurações sociais. Havia nômades, dedicados à criação de camelos, carneiros e cabras, e grupos sedentários, que habitavam oásis ou pequenos vilarejos, nos quais viviam principalmente das atividades comerciais e agropastoris, entre outros. A cidade de Meca pode ser considerada uma das poucas da região com comércio regular. Parte de sua riqueza provinha do fato de abrigar um templo chamado Caaba, principal centro religioso do politeísmo dos árabes.

Além de favorecer as trocas comerciais, essas rotas possibilitaram a comunicação entre diversos povos e culturas. A formação do islamismo relaciona-se diretamente à dinâmica desses fluxos populacionais, financeiros, de mercadorias, informações e valores éticos e culturais.

Se houver tempo disponível e recursos para isso, mostre aos estudantes imagens da peregrinação que milhões de muçulmanos fazem todos os anos até a cidade de Meca (rájj). A lógica da cidade como ponto de encontro religioso é fundamental para o estudo dessa parte do capítulo.

Curadoria

O islamismo explicado às crianças (Livro)

Tarrár bem jelún. São Paulo: Editora Unésp, 2011.

Utilizando a estratégia narrativa de um diálogo imaginário com uma criança, Tahar Ben Jelloun responde a perguntas sobre a origem do islamismo e a fórma pela qual Maomé se tornou profeta e fundador de uma das religiões monoteístas mais importantes do mundo contemporâneo. Em linguagem acessível, o autor procura desconstruir preconceitos associados ao islã, principalmente a noção da religião obrigatoriamente avessa à modernidade. Embora o objetivo da obra não seja estabelecer um estudo aprofundado da questão, trechos podem ser trabalhados em sala de aula.

Maomé e a fundação do islamismo

Maomé trabalhava como condutor de caravanas e viajou por vários locais do Oriente Médio, em que viviam pessoas de diferentes culturas. Em contato com comerciantes judeus e cristãos, ele conheceu as religiões monoteístas.

Aos 25 anos, sua vida mudou radicalmente quando se casou com radíja, viúva que fazia parte da elite de Meca e era dona das caravanas nas quais ele trabalhava.

De acordo com a tradição religiosa do islamismo, em 610, aos 40 anos de idade, aproximadamente, Maomé estava meditando em uma caverna quando teve uma visão. Nessa visão, o anjo Gabriel lhe anunciou uma missão: pregar a devoção a apenas um Deus. Ainda conforme a tradição, ao longo de 23 anos, Maomé teve outras visões em que o anjo lhe revelou mensagens de Deus, as quais foram posteriormente reunidas no Alcorão (do árabe Al Quran, que significa “As recitações”), livro sagrado dos muçulmanos.

Gravura. Sob um fundo de papel bege, nas partes inferior e superior do papel, textos em língua árabe. Na parte central, o desenho de uma figura humana com asas nas cores azul, vermelha e preta. A figura está suspensa no ar, como se estivesse voando, e entrega um objeto a outra pessoa que está ajoelhada sobre um tapete azul. Esta pessoa ajoelhada está vestindo uma túnica verde e possui um lenço branco cobrindo a face e a cabeça. Ao fundo dessa cena, uma porta alta com figuras em arabesco. Nas laterais direita e esquerda da imagem, vários homens com vestimentas semelhantes às do homem ajoelhado, mas com os rostos à mostra. À direita, dois homens negros em pé observam a cena. No centro da imagem, em primeiro plano, uma jarra com duas alças sobre um suporte.
Gravura representando o anjo Gabriel revelando um capítulo do Alcorão a Maomé, século dezesseis.

radíja desempenhou papel central na divulgação da nova fé e foi a primeira a se converter ao islamismo. Ela e Maomé tiveram quatro filhos, mas só uma de suas filhas, Fátima, sobreviveu à infância. radíja e Fátima são duas das personagens femininas mais reverenciadas na história islâmica.

Para os muçulmanos, sua religião é a continuação e o aperfeiçoamento do judaísmo e do cristianismo, estabelecendo com elas semelhanças, como o culto ao mesmo Deus, e diferenças, como a inclusão da ideia de que Maomé é o último e principal profeta.

Fotografia. Ao fundo e à direita, uma grande construção retangular. Na lateral da construção, colunas que se unem no topo formando arcos. Do telhado, em formato plano, partem torres de ponta triangular e uma cúpula. À direita, um pátio com postes que sustentam guarda-sóis gigantes. Em primeiro plano, pessoas caminhando pelo local. A maioria usa vestes claras.
Mesquita do Profeta, em Medina, Arábia Saudita. Foto de 2018.
Respostas e comentários

Comentário sobre a gravura: Representações de Maomé são raras na arte islâmica. Quando ocorrem, o profeta geralmente é representado com o rosto coberto, para evitar a idolatria.

Bê êne cê cê

Ao destacar a participação feminina na história do islamismo, o conteúdo mobiliza a habilidade ê éfe zero seis agá ih um nove.

No primeiro capítulo deste livro, foi mencionada a utilização de fórmas democráticas e inclusivas de representação do passado, ressaltando a importância da reflexão sobre a multiplicidade de agentes históricos, coletivos ou individuais. Em razão disso, na escrita deste capítulo, optou-se por atribuir protagonismo a mulheres usualmente marginalizadas nas narrativas históricas. Além de estar vinculada a Maomé e aos primeiros califas, a história do islã está intimamente ligada à atuação e à trajetória de mulheres como radíja. Conferir agência histórica a tais personagens significa investir de fórma crítica sobre os muitos silêncios da história.

Após a morte de radíja, em 619, Maomé se casou com diversas mulheres, entre viúvas e filhas de amigos. Aisha, sua preferida, era filha de Abpu Bácr e de Um rumãn, que estavam entre os companheiros mais antigos do profeta. Ela se tornou uma das principais figuras do islamismo, sendo a única mulher em cuja presença Maomé teria recebido revelações divinas.

Curadoria

Feminismo islâmico: mediações discursivas e limites práticos (Tese)

Cila Lima. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Disponível em: https://oeds.link/x1Dfmf. Acesso em: 5 janeiro 2022.

Essa é uma pesquisa dedicada ao estudo do feminismo islâmico, movimento político-religioso de luta contra a opressão a mulheres em países muçulmanos e em diásporas muçulmanas. Como neste capítulo foi tratada a condição feminina no islã, a tese pode ser um bom ponto de partida para estruturar a aula e aprofundar a temática.

Os princípios da fé islâmica

Os muçulmanos devem cumprir cinco tarefas, que são consideradas a base da religião islâmica:

  • dar testemunho de fé, declarando que existe apenas um Deus (Alá) e que Maomé é seu profeta;
  • orar cinco vezes ao dia, voltando-se em direção a Meca;
  • ajudar os necessitados, se tiver condições para isso;
  • jejuar durante o Ramadã (nono mês do calendário muçulmano), não consumindo alimentos nem líquidos do nascer ao pôr do sol;
  • peregrinar ao menos uma vez a Meca, se tiver condições para isso.

Embora não faça parte dos cinco princípios considerados fundamentais, é importante considerar também a jirrád, prevista no Alcorão. Popularmente traduzido como “guerra santa”, o termo pode ser entendido como empenho individual, para se manter longe dos vícios, e coletivo, para defender a fé de possíveis inimigos.

A Hégira

Por volta de 613, Maomé começou a anunciar a nova religião em frente ao santuário da Caabaglossário , em Meca. Isso revoltou os coraixitas, que eram os guardiões do local, principal centro da religião politeísta.

Perseguido, Maomé se refugiou com seus seguidores na cidade de Iátrib. Esse evento, ocorrido em 622, ficou conhecido como Hégira (“migração”) e marcou o ano 1 do calendário muçulmano. Com o tempo, a população de Iátrib se converteu ao islamismo, e a cidade passou a ser chamada Medina (“cidade do profeta”).

Em 630, Maomé retornou a Meca com um numeroso exército para retirá-la do domínio dos coraixitas, estabelecendo na cidade o centro da religião islâmica. Foram, então, removidos do interior da Caaba as imagens e os ídolos.

Ilustração. Representação de homens com barba, turbantes e túnicas compridas. Dois à direita e dois à esquerda seguram um tapete esticado. No centro, um homem coloca uma pedra preta em cima do tapete. No fundo, dois homens levantam uma cortina preta, atrás da qual aparecem uma porta e uma parede de pedra. No canto direito, há cinco homens e, no canto esquerdo, há quatro homens que observam a cena.
Maomé e a purificação da Caaba e da Pedra Negra, ilustração do livro Jami’al- Tawarikh, escrito por Ráxid ál din e publicado na Pérsia (atual Irã) em 1315.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Pedra Negra é um conjunto de fragmentos rochosos unidos por uma moldura de prata. Escura e polida, ela tem cêrca de 30 centímetros de diâmetro. Sua origem mineral é desconhecida, mas se supõe tratar-se de um meteorito. Foi o único objeto do politeísmo mantido pelos muçulmanos na Caaba.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao apresentar o cruzamento entre história e religião, o conteúdo contribui para a reflexão sobre os fundamentos do conhecimento histórico, auxiliando no desenvolvimento da Competência Específica de História nº 6.

A Hégira, além de marcar o início do calendário muçulmano, nos séculos posteriores adquiriu outros sentidos: foi utilizada para significar o abandono de uma comunidade pagã por outra que vive segundo a doutrina moral do islã. Reforce as diferenças nos sistemas de calendários, conforme viram no capítulo 1. Relembre aos estudantes o fato de que, enquanto os cristãos escolheram o nascimento de Jesus como início de seu calendário, os muçulmanos optaram por outro marco: a Hégira.

É preciso ter atenção ao calendário islâmico, que é lunar. Assim como os cristãos adotaram o nascimento de Cristo como ano 1 de seu calendário, a fuga de Meca foi tomada como acontecimento fundador da religião muçulmana.

Judaísmo, cristianismo e islamismo são as religiões abraâmicas porque têm em Abraão um ancestral comum. São também chamadas de religiões reveladas porque a Abraão se revelou pela primeira vez, segundo a tradição, a palavra de Deus. Portanto, a doutrina delas se formou pela revelação da lei divina a um personagem fundador, preservada pela tradição, traduzida em escrituras e eventualmente reiterada a outros personagens (profetas, por exemplo). Elas também têm um caráter histórico, visto que eventos humanos fundamentais, e não exatamente uma filosofia geral ou eventos míticos, são considerados parte da ação divina.

Curadoria

Uma história dos povos árabes (Livro)

Albért Rurãni. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Escrito pelo historiador anglo-libanês Albért Rurãni, o livro articula-se na fórma de um compêndio dedicado a historicizar o mundo árabe islâmico. Abordando essa civilização, dos primórdios até as últimas décadas do século vinte, o autor oferece um panorama político, econômico e cultural dos principais eventos que marcaram o desenvolvimento da cultura árabe islâmica. Apesar do esforço generalista, o texto é bastante aprofundado. Além disso, ajuda a compreender as diversas facetas de uma das mais importantes religiões do século vinte e um.

Disputas e conflitos no mundo islâmico

Quando Maomé morreu, em 632, praticamente todos os habitantes da Península Arábica tinham aderido à fé islâmica. Seus seguidores iniciaram, então, o registro do Alcorão, que era usado para resolver questões religiosas e também sociais.

Fotografia. Capa de livro feita com arabescos desenhados em ouro e cravejado de pedras azuis.
Capa do Alcorão publicado na Pérsia (atual Irã), no século dezesseis, e adornado com turquesas.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O Alcorão é organizado em 114 capítulos, chamados suratas, e contém mais de 6 mil versos, nos quais são tratadas questões religiosas, políticas, comportamentais, jurídicas e morais.

Com o tempo, porém, a população foi mudando: aumentou a quantidade de moradores das cidades e o comércio se intensificou. Assim, as regras contidas no livro sagrado do islamismo se tornaram insuficientes para resolver os problemas da sociedade. Para melhor organizar essas questões, juristas e teólogos juntaram diretrizes, histórias e ditos atribuídos a Maomé que não estavam nas revelações, formando a Suna (“caminho trilhado”). A maioria dos muçulmanos aceitou os conteúdos da Suna, sendo, por isso, chamados sunitas.

O escolhido para suceder Maomé foi abú bácr, que se tornou o primeiro califa (“sucessor”). Os partidários de Alí âban Tálib (primo de Maomé e marido de sua filha, Fátima), porém, não aceitaram essa escolha.

Alí âban Tálib posteriormente chegou ao poder e se tornou o quarto califa com o apoio desses partidários, para os quais somente os que tinham parentesco direto com Maomé poderiam liderar corretamente a população muçulmana. Esse grupo não aceitava a Suna como guia e, por isso, passou a ser conhecido como xiíta (“partido de Ali”).

A divisão entre sunitas e xiítas permaneceu desde então. Estima-se que aproximadamente 90% dos muçulmanos sejam sunitas e 10% sejam xiítas.

Ilustração. Representação em dois quadros, um em cima do outro. Na ilustração superior, dois homens de túnica verde e turbante branco, sentados de joelhos em um tapete, um de frente para o outro. No centro, há uma pequena mesa com um livro em cima. O homem da esquerda segura um livro na mão. Na ilustração inferior, dois homens, um de túnica roxa e turbante verde e outro de túnica verde e turbante branco, sentados de joelhos em um tapete, um de frente para o outro. No centro, há uma pequena mesa com papéis e um pequeno pote. O homem da direita entrega um livro para o homem da esquerda, que tem uma espada curva com duas pontas no chão, à sua frente.
Os quatro primeiros califas, ilustração presente no livro italiano A história das nações, do século XIX.
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Dados numéricos sobre xiitas e sunitas retirados de: Entenda as diferenças e divergências entre sunitas e xiítas. BBC News Brasil, 4 janeiro 2016. Disponível em: https://oeds.link/drO0FC. Acesso em: 24 janeiro 2022.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da divisão do islamismo entre sunitas e xiitas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um quatro.

A divisão interna do islã entre sunitas e xiítas é importante e deve ser enfatizada em sala de aula. O primeiro ponto a ser destacado é o da associação quase automática que no senso comum se faz entre xiítas e o fundamentalismo/terrorismo islâmico. Em português, por exemplo, o termo xiíta é também utilizado para designar uma pessoa extremista, radical e violenta. Desconstrua essa ideia com os estudantes e aponte as dissensões internas que contribuíram para a divisão. Um bom exemplo para problematizar essa questão é o da origem do grupo Estado Islâmico, ligada a vertentes sunitas do islamismo.

Muitas ideias equivocadas são associadas ao conceito de jirrád. Usualmente, o termo é traduzido no Ocidente como “guerra santa”. Essa noção é estranha à origem da palavra, cujo significado pode ser traduzido como “esforço para dar o melhor de suas capacidades”. Nesse caso, existem dois sentidos de jirrád: um menor, com intenções bélicas, e outro maior, com o objetivo de promover o bem-estar pessoal e da comunidade. Ambos se relacionam à ideia de esforço para agradar a Deus. Mesmo nos casos em que esse esforço resulte em ação bélica, algumas condições devem ser cumpridas: é preciso, notadamente, que os “infiéis” provoquem as hostilidades e que haja chances razoáveis de sucesso. Mulheres e crianças não podem ser atingidas pelos conflitos.

A expansão do islamismo

Quando os califas assumiram a direção do mundo islâmico, iniciaram um rápido processo de expansão: em menos de um século, controlaram territórios que abrangiam a Índia, todo o Oriente Médio, o norte da África e a Península Ibérica. Esse imenso espaço constituiu o Dár ál islãm (“Casa da Paz”), território em que a maioria da população era muçulmana e podia praticar sua fé sem restrições.

A expansão do islamismo era motivada pela necessidade de conquistar terras apropriadas para a agricultura e pela possibilidade de realizar trocas comerciais e culturais com habitantes de diversas regiões. Nesse processo, cidades como Bagdá, Damasco, Barca, Bugia, Córdoba e Toledo tornaram-se grandes centros de comércio e cultura.

Os povos conquistados pelos muçulmanos podiam manter sua língua, suas tradições, seus costumes e sua religião, desde que pagassem um tributo especial e realizassem seus cultos de fórma privada. Além disso, foram tolerados casamentos entre muçulmanos e integrantes de povos não islamizados. Isso demonstra que os muçulmanos eram tolerantes com culturas e religiões distintas das deles.

No século dez, o mundo muçulmano começou a se dividir por causa de disputas internas pelo poder e da dificuldade de administrar um território muito grande com apenas um centro. Formaram-se, então, califados independentes na África do Norte e na Península Ibérica.

A expansão do mundo islâmico – séculos sete-oito

Mapa. A expansão do mundo islâmico – séculos sete e oito. Destaque para parte da Europa, da Ásia e do norte da África.
Legenda:
Verde-escuro: Conquistas até a morte de Maomé.
Verde-claro: Conquistas até 661.
Amarelo: Conquistas até 750.
Seta roxa: Principais rotas comerciais.
Seta laranja: Produtos importados.
No mapa, as conquistas até a morte de Maomé compreendem a porção centro-sul da Península Arábica, incluindo as cidades de Medina, Meca, Najran e Áden; e região leste da Península Arábica.
As conquistas até 661 compreendem toda a Península Arábica, regiões próximas as cidades de Petra, Jerusalém, Tiro, Damasco e Bagdá; a região oeste e central da Pérsia, incluindo a cidade de Xiraz; a Península do Sinai; o Egito incluindo as cidades de Fostate e Alexandria; e o norte da África, passando pela cidade de Barca até Trípoli, à oeste.
As conquistas até 750 compreendem o restante do norte da África, a oeste de Trípoli até a região do atual Saara Ocidental, incluindo as cidades de Fez, Ceuta, Bugia, Túnis e Ghdamés; a Península Ibérica, incluindo as cidades de Gibraltar, Córdoba, Almeria, Toledo, Barcelona e Narbona; a ilha da Sicília, incluindo a cidade de Palermo; o extremo sul da Península Itálica; a região da cidade de Antioquia, na Ásia; e as regiões à norte e à leste da Pérsia, incluindo as cidades de Ispaan e Samarcanda.
As principais rotas comerciais partem: de Verdum, no norte da Europa, para Córdoba (couro); de Ceuta para Bugia e ilhas Baleares (algodão); de Barcelona, Narbona e Marselha para ilhas da Córsega e de Sardenha; de Fez, no norte da África, para Bugia, depois de Túnis até Palermo, na Sicília; de Palermo para Trípoli e para Chipre; de Trípoli para Barca (e vice-versa); de Barca para Alexandria (e vice-versa); de Veneza para Alexandria; de Fostate para Petra; de Damasco para Tiro, Jerusalém, Petra, Bagdá, Áden e Axoum (especiarias, mirra).
As rotas de produtos importados partem: da África subsaariana para o norte da África (ouro, sal e escravizados); da Abissínia, no leste da África, para o Egito (escravizados); da África subsaariana, via Oceano Índico, para Alexandria (marfim, perfumes) e para região ao sul de Antioquia (pedras preciosas, especiarias); da região às margens do Rio Eufrates, próximo à Bagdá, para região ao sul da Antioquia (trigo, azeite, linho); de Verdum para a região da atual França (ferro, escravizados); da margem leste do Mar Negro para a Pérsia (escravizados); da margem leste do Mar Cáspio para o nordeste da Pérsia (âmbar); do Oriente para Bagdá (porcelana); da Índia para a Pérsia (perfumes, caxemira). A Rota da Seda parte do Oriente, à leste, passa por Samarcanda e vai até Bagdá. 
Na região do Egito, sem seta direcional, há a indicação de produtos como milho, açúcar, linho e papiro. No sul da Pérsia, sem seta direcional, há a indicação de cavalos e prata. Na região central da Península Arábica, sem seta direcional, há a indicação de cavalos e dromedários.
No canto inferior direito, rosa de ventos e escala 0 a 390 quilômetros.

FONTE: FRANCO JÚNIOR, H.; ANDRADE FILHO, R. O. Atlas: história geral. São Paulo: Scipione, 2006. página 19.

Respostas e comentários

BNCC

No texto do capítulo destacam-se a dinâmica da expansão islâmica e a integração cultural nos domínios muçulmanos na Europa, relacionando, assim, o conteúdo com a habilidade ê éfe zero seis agá ih um quatro. Ao tratar das trocas e dos fluxos controlados pelos muçulmanos por terra e no Mediterrâneo, ocasionados pela expansão do império, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um cinco.

O avanço islâmico em direção ao Ocidente deveu-se à rivalidade entre os omíadas e os abássidas, integrantes de uma dinastia de origem persa que assumiram posteriormente o contrôle do império e transferiram sua capital para Bagdá. A existência de Ál andaluz, como chamavam o território da Península Ibérica, foi um ganho enorme para a política de expansão islâmica.

A integração comercial no mundo islâmico alterou o domínio sobre o Mediterrâneo. Os reinos cristãos da bacia do mar interno, bem como o Império Romano do Oriente, passaram a dividir esse espaço com os muçulmanos. De todo modo, o Mediterrâneo seguia sendo um meio para o comércio, para as trocas culturais e também para os conflitos. O Mediterrâneo constituiu por muito tempo, portanto, um espaço de interações muito significativo.

O legado muçulmano

Os muçulmanos constituíram um império que ligava a Europa, a África e a Ásia por movimentadas rotas comerciais. Foi graças ao intenso trânsito de conhecimentos nos domínios muçulmanos que chegou à Europa uma série de inovações, como as técnicas para plantar algodão, amora, cana-de-açúcar, arroz, limão e laranja, entre outros vegetais, e os sistemas de irrigação empregados na região de Valência, que hoje fica no território da Espanha. Os muçulmanos também levaram para a Europa o conhecimento sobre técnicas de construção, como a do mosaico, a da cerâmica e a do vidro.

Na arte, divulgaram o uso do arabesco, uma técnica de decoração baseada na pintura de figuras geométricas. Nas ciências, inovaram na matemática – com o emprego dos algarismos indo-arábicos (os que você utiliza), criados pelos hindus e modificados pelos árabes –, na astronomia, na física e na química (na época, chamada alquimia).

Iluminura. Vários homens com turbantes brancos e túnicas compridas coloridas diante de uma mesa com instrumentos astronômicos. Os homens estão usando vários desses instrumentos, como astrolábio, quadrante, balestilhas, entre outros, além de compasso, ampulheta e réguas. No fundo, uma parede com quadros pendurados com escritos em árabe.
Astrônomos no observatório de Galata, em Istambul, representados em iluminura de cêrca de 1581.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na iluminura, é possível identificar vários instrumentos, como réguas, quadrantes e astrolábio, utilizados para medir distâncias e posições dos corpos celestes.

O islamismo também trouxe mudanças positivas às mulheres, que passaram a ter o direito de possuir propriedade, herdar bens da família e escolher a pessoa com quem iriam se casar. Caso decidissem, poderiam se divorciar e casar-se novamente com outra pessoa. Essas conquistas, entretanto, não significaram igualdade de direitos entre mulheres e homens.

Os homens continuaram a deter certos privilégios, como os de ter várias esposas, castigar uma mulher considerada desobediente e receber o dobro da herança.

Fotografia. Duas mulheres sentadas em um sofá, uma de frente para outra. Uma delas usa um hijab e tem um estetoscópio ao redor do pescoço. Ela também segura uma prancheta.
Mulher sendo atendida por médica muçulmana, na Malásia. Foto de 2019.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Como era a situação dos povos árabes antes do islamismo?
  2. Como ocorreu a divisão entre sunitas e xiitas no islamismo? Cite uma diferença entre eles.
  3. Que mudanças o islamismo trouxe para as mulheres? Elas conquistaram os mesmos direitos que os homens? Explique.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar das trocas comerciais e culturais entre o Ocidente medieval e o islã, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 5.

Orientação para as atividades

Oriente os estudantes a adotar os procedimentos de resposta utilizados no boxe “Agora é com você!” dos capítulos anteriores. Oriente a reescrita das respostas, caso elas tenham sido produtos de cópias simples do texto-base. Não deixe, contudo, de valorizar e sopesar cada procedimento, incluindo os limitados à identificação e à transcrição das informações.

Agora é com você!

1. Os árabes eram organizados em tribos independentes, não havendo unidade política entre eles. O que os aproximava era a língua (falavam vários dialetos do árabe) e a prática de uma religião politeísta.

2. Em 632, a principal discussão provocada pela morte de Maomé envolvia sua sucessão na liderança da comunidade islâmica. Embora abú bácr (sogro de Maomé) tenha sido escolhido como o primeiro califa, muitos advogavam a ideia de que a liderança deveria ser exercida por Ali, primo e genro do profeta, mantendo assim a linhagem direta. Além da questão sucessória, outro fator importante nessa cisão dizia respeito à aceitação da Suna (conjunto de textos biográficos de Maomé, compilados pelas gerações posteriores, para orientar a conduta moral dos muçulmanos). Em linhas gerais, os sunitas (que formam a maior parte do mundo islâmico) caracterizam-se pela crença no Alcorão e na Suna, enquanto os xiítas não reconhecem os conselhos e exemplos provenientes de nenhum outro livro além do Alcorão.

3. Para alguns especialistas, o islã melhorou a vida das mulheres, atribuindo a elas o direito de ter propriedade, receber herança e escolher o marido. Em contrapartida, a religião garantia certos privilégios aos homens, como o de punir uma mulher desobediente e o de ter várias esposas (até quatro, desde que pudesse sustentá-las). Além disso, difundiu a ideia de que a mulher deve obediência ao marido e a de que a herança da filha é a metade da devida ao filho.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Releia a tirinha reproduzida na abertura deste capítulo e responda: é correto chamar a Idade Média de Idade das Trevas? Justifique.
  2. Sobre o Império Carolíngio, considere as afirmações a seguir. Depois, identifique no caderno a alternativa correta.
    1. Carlos Magno foi responsável pela unificação política e pela expansão dos territórios francos na Europa.
    2. O apoio do papa Leão terceiro a Carlos Magno aproximou­-o do imperador bizantino.
    3. O Renascimento Carolíngio é caracterizado pelo fortalecimento da cultura árabe muçulmana.
    4. A Europa cristã, fragilizada pelo declínio do Império Carolíngio no século nove, sofreu muitas invasões, principalmente por parte dos povos não cristãos.

Estão corretas apenas as afirmações:

    1. e dois.
    1. e três.
    1. e três.
    1. e quatro.
    1. , três e quatro.
  1. Leia as afirmações a seguir e verifique se elas são verdadeiras ou falsas. Anote a resposta no caderno.
    1. Clóvis combateu o cristianismo como uma fórma de centralizar o poder da dinastia merovíngia.
    2. A Igreja de Roma se tornou mais forte na cristandade latina ao se aproximar do Reino Franco.
    3. Durante o Renascimento Carolíngio, foi desenvolvido um tipo de caligrafia que facilitou a escrita e a leitura na Europa medieval.
    4. Após a morte de Carlos Magno, o Reino Franco se consolidou como o mais poderoso do continente europeu.

Aprofundando

4. Durante a Idade Média, nos mosteiros, os monges copiavam diversos tipos de livro com tratados de gramática e textos bíblicos. Esse trabalho foi muito valorizado durante a dinastia carolíngia. O texto a seguir trata desse assunto. Leia-o e depois faça o que se pede.

reticências foram conservadas algumas obras literárias clássicas (por exemplo, de César, Tito Lívio e Virgílio) que, do contrário, hoje estariam perdidas. Cada mosteiro, preocupado em ter um exemplar de determinadas obras consideradas básicas, mantinha copistas para que, apesar de lenta e custosamente, fosse formada sua biblioteca. Quase toda igreja de importância média tinha uns 200 ou 300 livros

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A atividade 5, ao permitir uma reflexão sobre o discurso presente em parte da mídia ocidental relacionando islamismo com extremismo, contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 1.

Tema Contemporâneo Transversal

As atividades 5 e 6, por proporem reflexões relacionadas a diferentes religiões presentes no mundo contemporâneo, permitem a abordagem do Tema Contemporâneo Transversal Diversidade cultural.

Atividades

Organize suas ideias

1. Não. Essa denominação expressa a visão negativa sobre a Idade Média difundida no período do Renascimento. É possível considerar a Idade Média como uma época de amplas realizações intelectuais e materiais no campo da arquitetura, da literatura e da filosofia, por exemplo.

2. Alternativa: d.

3. a) F;b) V;c) V;d) F.

b) Em média, havia duzentos a trezentos livros nessas bibliotecas.

reticências. Formaram-se dessa maneira diversos reservatórios de cultura intelectual, nos quais os séculos seguintes iriam frequentemente beber.”

FRANCO JÚNIOR, H. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001. página 145-146.

  1. Como eram formadas as bibliotecas dos mosteiros?
  2. Qual era o tamanho médio delas?
  3. Explique, com base na leitura do texto, a importância dos monges copistas para a cultura intelectual.

5. Leia o texto a seguir e depois faça o que se pede.

“O modo como o mundo islâmico é estereotipado pela mídia leva ao julgamento e à condenação dos muçulmanos sem que seja necessária a apresentação de argumentos consistentesglossário . Um exemplo disso é o uso do conceito de fundamentalismo como sinônimo do islã. Ainda que existam movimentos fundamentalistas nas outras religiões monoteístas, a mídia associa essa palavra quase que exclusivamente aos muçulmanos reticências.

O mundo islâmico, como retratado pela mídia, tem ódio e ressentimento em relação ao Ocidente, e a violência é uma de suas principais características. reticências

RIBEIRO, E. M. O Oriente Médio e o islã sob o viés da mídia. Monografia (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. página 46-48.

  • Segundo a autora do texto, qual é a imagem do islamismo apresentada na mídia ocidental? Justifique com trechos do texto.
  1. Como você estudou neste livro, o cristianismo e o islamismo tornaram-se conhecidos em regiões muito distantes dos locais onde foram formados. Nesta atividade, você ampliará seu conhecimento sobre essas religiões. Para isso, reúna-se com um colega e, com base no que vocês aprenderam, façam uma pesquisa a respeito dessas duas religiões e produzam um quadro comparativo entre o processo de expansão do cristianismo e o do islamismo. Para isso, atentem às instruções a seguir.
    1. Dividam o trabalho de pesquisa em tarefas menores:
      • localizem, no capítulo anterior e neste, os trechos que abordam o cristianismo e o islamismo;
      • montem um quadro com duas colunas – uma destinada ao cristianismo e outra ao islamismo – e duas linhas.
    1. Procurem nos trechos selecionados o nome do principal líder e o período e o modo como cada religião se expandiu.
    2. Preencham as duas linhas do quadro correspondentes a cada religião com as informações que encontraram.
    3. Com base no quadro, elaborem um manual de instruções que possa ser utilizado por qualquer pessoa que queira comparar religiões diferentes.
    4. Comparem o trabalho de vocês com os dos outros grupos e, se necessário, procurem melhorar as instruções que elaboraram.
Respostas e comentários

Aprofundando

4. a) As bibliotecas dos mosteiros eram formadas com base no trabalho dos monges copistas.

c) A atividade dos monges copistas foi fundamental para a preservação de diversos livros, entre eles os da cultura clássica. As cópias realizadas impediram que determinadas obras desaparecessem e constituíram reservatórios de cultura intelectual para a posteridade.

5. Segundo o texto, o mundo islâmico, como apresentado na mídia ocidental, tem ódio e ressentimento do Ocidente, e a violência é uma de suas principais características. Esse tipo de representação propaga conclusões simplistas sobre as sociedades islâmicas, como se estas fossem agressivas, resistentes à modernidade, ancoradas por valores ultrapassados e guiadas por uma ideologia fanática e radical.

6. Pretende-se, com essa atividade, incentivar o desenvolvimento da lógica do pensamento computacional, mobilizando as habilidades necessárias para decompor um problema, reconhecer padrões, abstrair informações e elaborar comandos de instruções. Trata-se de uma estratégia importante para a resolução de problemas. Oriente os estudantes na compreensão dos processos necessários. A atividade requer o estabelecimento de parâmetros para uma comparação. Por isso, é importante que os estudantes retomem a leitura do conteúdo referente à expansão do cristianismo e do islamismo, nos capítulos 9 e 10.

Após a releitura do conteúdo, auxilie-os na montagem de um quadro comparativo. Incentive-os a apontar os elementos que servirão de base para a comparação. Além dos pontos mencionados no item b (nome do principal líder religioso e mecanismo de expansão de cada religião), os estudantes podem acrescentar outros, como comunidades de origem e período em que a religião se formou.

Para o preenchimento do quadro proposto no item c, seguem algumas respostas.

Nome do principal líder religioso:

– Jesus Cristo (cristianismo).

– Maomé (islamismo).

Quando e onde se formaram as primeiras comunidades:

– O cristianismo se formou durante o período de dominação romana, na região da Judeia, no século um.

– O islamismo se formou na Península Arábica, no século sete.

Início:

– No início do cristianismo não havia clero estruturado, e as reuniões eram realizadas nas casas dos fiéis ou em locais isolados.

– No início do islamismo, Maomé falava apenas com familiares e pessoas próximas sobre as mensagens recebidas do anjo Gabriel.

Expansão:

– No início, o cristianismo foi difundido principalmente entre integrantes das camadas mais pobres da população e os escravizados. Aos poucos, a religião se espalhou pelo Império Romano. Em 313, os cristãos deixaram de ser perseguidos e, em 384, a religião tornou-se a oficial do império. A partir de então, expandiu-se para diferentes regiões do mundo.

– A expansão do islamismo ocorreu primeiramente em razão dos esforços de Maomé e de seus seguidores, que, após a Hégira, retornaram a Meca e dominaram a cidade. Os califas sucessores propagaram rapidamente a religião por territórios localizados nos continentes asiático, africano e europeu.

Após receber os relatórios finais, organize um debate sobre os relatórios e os procedimentos de cada grupo para realizar o trabalho, dando sugestões de aprimoramento para a confecção de outros quadros comparativos.

Glossário

Abrupto
: algo que ocorre de fórma rápida e inesperada.
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Estagnação
: paralisação; falta de movimento, de atividade.
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Estados Pontifícios
: territórios que estiveram sob autoridade direta da Igreja de 756 a 1870.
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Sumo pontífice
: chefe supremo da Igreja Católica; o papa.
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Cristandade latina
: conjunto das comunidades cristãs liderado pelo papa, em Roma, e pelos carolíngios, no Reino Franco.
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Fundamentalismo
: associação a ideias inflexíveis sobre determinados temas, sobretudo relacionados à religião.
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Caaba
: santuário de estrutura cúbica feito de granito em cujo interior é guardada a Pedra Negra, na cidade de Meca.
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Consistente
: que possui uma boa explicação lógica, uma crítica válida.
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