CAPÍTULO 11 EUROPA MEDIEVAL E ÁFRICA: CIRCULAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO

Você reconhece os alimentos retratados nesta página? O prato de uma das fotos está presente na mesa dos moradores de algumas regiões brasileiras: é o cuscuz marroquino. Os frutos da outra foto são obis (nozes-de-cola). Eles são usados para fazer refrigerantes. Tanto o cuscuz marroquino quanto o obi são de origem africana e se espalharam pela Europa e pela Ásia a partir do século três.

Fotografia. Mão de uma pessoa mexendo em uma farinha amarela que está em uma grande peneira de metal.
Pessoa peneirando cuscuz em Trípoli, Líbia. Foto de 2018.
Fotografia. Mãos de uma pessoa segurando vários frutos de casca arroxeada. No fundo, observa-se mais desses frutos no chão.
Trabalhador segurando nozes-de-cola em Anyama, Costa do Marfim. Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. De que fórma o cuscuz marroquino e o obi chegaram aos continentes europeu e asiático?
  2. Como a história dos alimentos pode contribuir para a compreensão da relação entre pessoas de diferentes sociedades?
Respostas e comentários

Abertura

O cuscuz marroquino, cujos saberes e práticas de produção e consumo são reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unêsco) como patrimônios imateriais da humanidade desde 2020, era uma das bases alimentares dos berberes. Foi levado à Europa pelos muçulmanos que viveram no sul da Espanha e trazido à América pelos portugueses. As árvores de noz-de-cola são nativas do Senegal e de Angola. Com sabor amargo e grande quantidade de cafeína, o fruto era levado para o Oriente pelos comerciantes que atravessavam o Saara. Com o domínio português sobre a África, a noz-de-cola passou a ser comercializada em outros continentes. Atualmente, por exemplo, ela está incorporada aos hábitos alimentares dos brasileiros por ser a base dos refrigerantes de cola.

Atividades

1. Espera-se que os estudantes deduzam que os alimentos saíram da África e se espalharam por outros continentes pelas rotas comerciais.

2. Por meio do estudo da alimentação, é possível compreender os trânsitos e as trocas culturais realizadas pelos seres humanos ao longo da história. Os pratos, portanto, podem revelar a diversidade cultural e a historicidade do mundo ao nosso redor.

O cristianismo na Europa medieval

Ao longo da Idade Média, a religião cristã e a Igreja Católica tinham muita influência sobre a vida cotidiana, social, econômica e cultural das pessoas. Por causa dessa importância da religião, pode-se dizer que a sociedade medieval europeia apresentava um caráter teocêntricoglossário .

Os sacerdotes católicos eram uma das principais fontes de conhecimento durante boa parte do período medieval. Nos sermões realizados nas paróquias, os fiéis recebiam conforto espiritual, notícias sobre os acontecimentos, além de explicações sobre o mundo em que viviam.

Entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, a Igreja Católica tornou-se uma das mais importantes instituições europeias, e o cristianismo já havia atingido praticamente todo o planeta.

Fotografia. Parte interna de uma basílica. Em primeiro plano, várias fileiras de homens religiosos. Eles estão de costas, olhando para frente. Vestem batinas verdes com detalhes dourados nas costas e usam solidéu rosa, um pequeno chapéu circular, sobre o topo da cabeça. No centro da basílica, ao fundo, há uma estrutura de quatro pilares (baldaquino) e, abaixo dela, um trono e um púlpito.
Missa de encerramento do Sínodo dos Bispos na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Foto de 2018. O sínodo é a reunião de bispos de todo o mundo, presidida pelo papa, para tratar de questões e problemas da Igreja.
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Imagens em contexto!

Há aproximadamente 1,3 bilhão de católicos em todo o mundo. Para preservar sua doutrina e seus rituais, como missas e outras cerimônias, a Igreja Católica Romana mantém uma estrutura organizada nos cinco continentes onde atua.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre o catolicismo no mundo foram retirados de: Presentation of the Pontifical Yearbook 2019 and the Annuarium Statisticum Ecclesiae 2017. Daily Bulletin, 6 março 2019. Disponível em: https://oeds.link/1by8x0. Acesso em: 26 janeiro 2022.

Bê êne cê cê

Ao apresentar o domínio da religião católica no mundo medieval, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um oito.

Objetivos do capítulo

Evidenciar o papel estruturante assumido pela Igreja Católica no período medieval europeu.

Apresentar as tensões envolvendo discussões teológicas e de autoridade que contribuíram para a separação entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa.

Descrever os diferentes contextos da transição para a Idade Média, incluindo a descentralização política e a intensificação da ruralização.

Analisar as relações entre suseranos e vassalos, entre senhores, vilões e servos, identificando seus diferentes modos de vida.

Elucidar o papel ocupado pela mulher durante a Idade Média.

Apresentar algumas das especificidades do continente africano no período medieval.

Demonstrar o dinamismo econômico e cultural estabelecido pelas caravanas transaarianas em diferentes territórios africanos e europeus.

Apresentar a pluralidade religiosa nos territórios africanos, associando-a à existência das rotas comerciais e à diversidade cultural.

Justificativa

Os objetivos listados são relevantes por problematizar a transição para o período medieval, discutindo os aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais, assim como o papel desempenhado pela Igreja Católica na estruturação da sociedade feudal. Justificam-se também por abordar o papel ocupado pela mulher e trabalhar com conceitos como feudo, suserania e vassalagem, auxiliando na compreensão do assunto tratado. Por fim, são pertinentes por abordar a diversidade religiosa e as especificidades dos territórios africanos, rompendo com a visão eurocêntrica que limita o estudo do período ao continente europeu e ao mundo medieval.

O Cisma do Oriente

No Oriente, após o fim do reinado de Justiniano, em 565, o Império Bizantino abandonou a ideia de recuperar territórios ocidentais, e Constantinopla foi aos poucos se distanciando de Roma.

A separação entre as duas cidades foi ampliada pelas pressões persas, muçulmanas e eslavas nas fronteiras do Império Bizantino. Com isso, as comunidades cristãs da Europa Ocidental e do Oriente adquiriram características próprias.

As tensões entre os dois grandes centros do cristianismo atingiram o ponto máximo no século onze. Em Constantinopla, os bizantinos não gostavam da ideia de o papa se considerar dirigente de toda a cristandade e, ainda, coroar imperadores. Por sua vez, Roma criticava a intervenção dos imperadores e patriarcas bizantinos em assuntos religiosos. Juntaram-se a isso os desentendimentos em relação às diferentes maneiras de praticar e compreender o cristianismo, com acusações mútuas de heresia.

Em 1054, Roma e Constantinopla se separaram definitivamente. Esse fato ficou conhecido como Cismaglossário do Oriente. Como resultado, formaram-se duas igrejas: a Igreja Católica Apostólica Romana, com séde em Roma e liderada pelo papa, e a Igreja Ortodoxa, sediada em Constantinopla, comandada pelo patriarca da cidade (chefe espiritual da Igreja Ortodoxa). Com essa divisão, a área de influência da Igreja Católica passou a ser a Europa Ocidental. A Igreja Ortodoxa, por sua vez, passou a ser a religião dominante em regiões do território correspondente ao do atual Leste Europeu, fragmentando-se em vários patriarcadosglossário independentes.

Fotografia. Vista aérea da parte interna de uma basílica em formato circular. No centro, uma estrutura em formato quadrangular, por onde parte do topo uma pequena torre de teto triangular. Ao redor dessa estrutura, várias pessoas segurando velas. Essa estrutura é circundada por uma construção de dois andares composta de arcos.
Cristãos ortodoxos durante cerimônia na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, Israel. Foto de 2021.
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A construção no centro da imagem chama-se Edícula. Os cristãos acreditam que o corpo de Jesus Cristo foi sepultado nesse local.

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Bê êne cê cê

Ao tratar da relação entre o Império Bizantino e o cristianismo ortodoxo, contribui-se para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um três.

Ampliando

O texto a seguir amplia as reflexões sobre o Cisma do Oriente.

“As divisões na Igreja têm a ver também com o modo como cada região entendeu e viveu o Evangelho. Após afastar-se da matriz cultural do judaísmo, o cristianismo penetra na cultura grega, latina, germânica, anglo-saxônica, céltica, formando novos estilos de vida e paradigmas culturais para regiões inteiras. Esses estilos e paradigmas entram em conflito em determinados momentos da história.

Na ruptura dos nestorianos e monofisitas nos séculos quatro e cinco, manifestaram-se as diferenças das culturas grega e oriental na compreensão do dogma cristológico. No distanciamento progressivo entre Ocidente e Oriente no século onze, influenciaram questões teológicas como o Filioque, o uso de pães ázimos na celebração eucarística, o purgatório, a epíclese na consagração eucarística, e também questões culturais e disciplinares como o celibato dos padres e o uso da barba, expressando as diferenças de mentalidade entre gregos e latinos.”

Uôlf, E. Divisões na Igreja: desafios para o ecumenismo hoje. Teológica Xavêriana, Bogotá, volume65, número 180, p. 381-407, julho-dezembro 2015. página 386.

Outras diferenças entre as igrejas estão no calendário adotado (a Católica adotou o gregoriano e a Ortodoxa, o juliano) e na restrição no uso de imagem por parte da Igreja Ortodoxa, com exceção das pinturas. Além disso, o papa é a autoridade máxima para os católicos, enquanto os ortodoxos consideram o próprio Jesus Cristo a autoridade suprema.

A sociedade medieval: a regionalização da Europa

Como você estudou no capítulo 10, com a assinatura do Tratado de Vêrdun em 843, o Império Carolíngio foi dividido em três domínios. Nesse período, houve uma onda de invasões de povos de outras regiões. Assim, aumentou a divisão dos territórios na Europa Ocidental.

O rei (ou imperador) continuava a existir, mas ele tinha cada vez menos autoridade sobre seus domínios. Os títulos de nobreza, como os de duque, conde e marquês, passaram a ser hereditários. Os donos desses títulos governavam territórios – chamados ducados, condados, marcas etcétera – de diversos tamanhos e tornaram-se cada vez mais independentes dos monarcas. Esses nobres e os membros do alto clero, em geral proprietários de muitas terras, exerciam autoridade sobre tudo e todos que estivessem em seus domínios.

Somaram-se a esse processo as invasões de vikings, muçulmanos e magiares (ou húngaros), nos séculos nove e dez. A população da Europa Ocidental, com medo dos invasores, procurou abrigo nos territórios desses grandes senhores. Como resultado, os centros urbanos foram se esvaziando, o que intensificou o processo de ruralização que vinha ocorrendo desde o século três.

Além disso, aumentou a dependência pessoal entre os que procuravam proteção e os que podiam oferecê-la. Essas relações de servidão, como eram chamadas, desenvolveram-se ao longo do período medieval. Eram realizados também pactos entre os integrantes da nobreza. Esses vínculos estruturaram boa parte das relações sociais e políticas da sociedade medieval.

Ilustração. Representação de guerreiros vikings com barba e vestindo roupas de peles de animais segurando escudos de madeira e armas como machados e espadas.
Ilustração atual representando guerreiros vikings.

FONTE: médonald, F. O VikingCôdequis. Brighton: Salária, 2008.

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Os vikings partiam da Escandinávia em expedições marítimas com várias embarcações. Ao chegar à Europa Ocidental, eles atacavam e saqueavam cidades costeiras ou avançavam pelo interior dos territórios pelos rios. Cidades como Londres e Paris foram saqueadas por eles diversas vezes. Além disso, eles ocuparam a Groenlândia e, de lá, alcançaram o território correspondente ao do atual Canadá, sendo os primeiros europeus a formar colônias na América.

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Bê êne cê cê

A consideração sobre a reorganização do território e os movimentos populacionais contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um quatro e da Competência Específica de História nº 5.

A primeira colônia fixada pelos europeus na América foi a Vinlândia, instaurada pelos vikings na ilha de Terra Nova, no Canadá. Durante escavações arqueológicas, foram descobertos vestígios de construções de madeira e turfa análogas às que havia na Groenlândia e na Islândia. Artefatos revelaram que os antigos habitantes trabalhavam com marcenaria e ferro. Tais vestígios são compatíveis com as histórias contadas nas Sagas da Vinlândia, textos islandeses sobre as viagens de exploradores nórdicos.

Com o Tratado de Verdun, o território carolíngio foi dividido entre os netos de Carlos Magno. A parte mais a leste, chamada Frância Oriental, foi entregue a Luís, o Germânico. Após sua morte, diante de uma instabilidade na sucessão, os nobres da região escolheram, em 912, Henrique primeiro, duque da Saxônia, como monarca. A partir de então, o reino passou a ser chamado Reino Germânico. Após a morte de Henrique primeiro, em 936, Oto, o Grande, foi coroado imperador pelo papa João décimo terceiro, em razão de seus esforços na defesa do cristianismo e no combate aos eslavos e húngaros. Teve início, assim, o Sacro Império Romano-Germânico, que durou aproximadamente nove séculos e manteve a lógica da aproximação entre o poder imperial e a Igreja.

A busca pela proteção motivou a construção de muralhas e castelos fortificados na Europa. As cidades não desapareceram, mas perderam importância. Ocorreu também a retração das atividades comerciais. A compreensão de que as cidades e o meio rural conviviam e de que a escolha entre esses meios atendia às necessidades da época é fundamental para ir contra a ideia de que houve uma evolução da ocupação humana, que se iniciou no campo e, conforme evoluiu, dirigiu-se à cidade. Ao demonstrar que naquela época o meio rural atendia aos interesses e necessidades da maior parcela da população da Europa Ocidental, possibilita-se a crítica a essa tipologia evolutiva, assim como à dicotomia entre cidade e campo.

As relações feudais

Feudo é provavelmente uma das palavras mais comuns associadas à Idade Média. Dela derivam conceitos como o de feudalismo, o de senhores feudais e o de relações feudais de vassalagem.

No latim utilizado na Idade Média, Fêudum designava um benefício que um proprietário (nobre ou clérigo) entregava a alguém de posição inferior. Esse benefício podia ser de vários tipos, mas geralmente era uma propriedade de terras ou uma renda extraída delas. O doador do benefício (ou feudo) era chamado suserano (ou, simplesmente, senhor) e o recebedor era denominado vassalo.

Essas relações só ocorriam entre pessoas que pertenciam à nobreza e ao clero. As camadas populares, portanto, estavam excluídas dos acordos de suserania e vassalagem.

A doação do feudo era vantajosa para os dois lados. O suserano fornecia o feudo e se comprometia a proteger o vassalo. Prometia também cuidar da família do vassalo quando este morresse. Em troca, o vassalo devia fazer um juramento conhecido como homenagem, no qual oferecia lealdade e obediência ao suserano. Entre suas obrigações estavam a de fornecer auxílio militar ao suserano, a de contribuir com o dote das filhas e com a armaçãoglossário dos filhos do senhor e a de hospedá-lo quando necessário.

O monarca era geralmente considerado o senhor mais importante, porque possuía mais domínios. Abaixo dele se situavam os duques, condes e marqueses, que também podiam conceder feudos e se tornar suseranos de nobres menos poderosos, como os barões. Os cavaleiros ficavam na base desse sistema.

A propriedade da terra era fundamental para o estabelecimento das relações de poder. Logo, quanto mais terras um nobre possuísse, mais vassalos ele teria e maior seria sua influência.

Iluminura. Dois homens vestindo túnicas alaranjadas. Um deles está sentado, à direita, e o outro está ajoelhado diante do primeiro, à esquerda. Eles estão de mãos dadas.
Representação de vassalo prestando homenagem a seu suserano em iluminura do manuscrito Liber feudorum maior, século doze.
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A imagem da página representa uma cerimônia de vassalagem, que seguia um ritual composto basicamente de três etapas. Na primeira (a homenagem), o aspirante a vassalo se ajoelhava diante do senhor e ambos entrelaçavam as mãos. Isso significava que daquele momento em diante o vassalo respeitaria a liderança do suserano e lhe seria fiel. Na etapa seguinte, geralmente diante de um padre, o vassalo fazia o juramento de fidelidade, colocando suas mãos sobre uma Bíblia ou outro objeto sagrado. Era comum vassalo e senhor selarem o acordo com um beijo. Por fim, ocorria a investidura, parte do ritual em que o senhor concedia o benefício (ou feudo) ao vassalo.

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Bê êne cê cê

A abordagem de conceitos históricos, como feudo e dote, contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 6.

O uso acertado dos conceitos históricos é uma tarefa importante para o desenvolvimento da chamada atitude historiadora. Nesse caso, trata-se de promover a apropriação dos conceitos como fórma básica da cognição histórica. É importante ressaltar a distinção básica entre conceitos de época e conceitos heurísticos ou interpretativos. Os termos feudalismo e feudalidade são conceitos interpretativos criados posteriormente para designar aquela realidade histórica. Feudo, suserania e vassalagem, homenagem, servo e senhorio, entre outros, são conceitos de época, ou seja, forjados no mundo medieval para designar relações sociais que ordenavam a vida naquele momento histórico.

Nesse momento, sugere-se um debate acerca da noção restritiva do feudalismo como um sistema político dividido entre clero, nobreza e camponeses, a fim de jogar luz sobre a pluralidade do período, abordando, por exemplo, o modo de vida dos vilões, pessoas sem origem nobre, mas com mais liberdade e menos obrigações que os servos.

Muitas vezes, generalizações produzem a ideia de que havia apenas uma sociedade feudal na Europa. Pesquisas recentes no Brasil, ligadas ao Laboratório de Estudos Medievais (Lême), instituição presente em vários cãmpi de universidades públicas, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de Pernambuco (ú éfe pê é), revelaram algumas simplificações teóricas aplicadas à Idade Média, salientando a necessidade de se compreender essa época por meio de uma abordagem menos homogênea e generalizante.

Os cavaleiros

A obediência e a fidelidade que ligavam os vassalos a seus suseranos não os vinculavam, necessariamente, ao rei. Por isso, o poder político do monarca foi se diluindo com o fortalecimento dos laços de suserania e vassalagem.

Nesse universo, os nobres compartilhavam certos comportamentos e convenções ligados à atividade militar, principal característica da camada social a que pertenciam. Ao combater nas guerras, eles conquistavam fama, terras e riquezas, além de bens valiosos, como cavalos e armamentos.

Assim, os cavaleiros tornaram-se um grupo privilegiado, e a Igreja estava interessada em controlá-los. Para isso, passou a valorizar princípios como o da honra do cavaleiro e o da defesa da Igreja e do cristianismo. Nos séculos doze e treze, começou a ser divulgada a ideia do cavaleiro como um indivíduo nobre e honrado, que seria representado na literatura por personagens como Lãncelót, um dos Cavaleiros da Távola Redonda na lenda do rei Artur, e Tristão, da história Tristão e Isolda.

Fotografia. Armadura feita de metal, que cobre o corpo inteiro.
Armadura de cavaleiro medieval produzida entre 1530 e 1535, encontrada em Insbrãc, na Áustria.
Pintura. Um homem e uma mulher em uma escadaria. A mulher está mais acima na escada. Ela usa um vestido longo azul e tem o cabelo castanho-claro preso em uma trança. Ela está virada de costas, com a cabeça baixa. Ela apoia a mão esquerda na parede e tem o braço direito estendido sobre o peito do homem. Ele, à direita, segura o braço da mulher com as duas mãos e apoia seu rosto no mesmo, com cabeça a voltada para baixo. O homem está mais abaixo na escada, usa malha metálica na cabeça e nos braços, túnica curta vermelha, calça azul colada ao corpo e tem uma espada presa à cintura.
Encontro na torre, pintura de Fréderic Uíliãn Bãrton, 1864.
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Imagens em contexto!

Na literatura da Idade Média, a mulher inacessível e o comportamento do cavaleiro representam o ideal amoroso medieval, conhecido como amor cortês.

Esse relacionamento amoroso encontra correspondência, segundo estudiosos, no vínculo entre o vassalo e seu senhor, no qual imperam a fidelidade, a distância e a submissão.

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Bê êne cê cê

Ao apresentar fórmas de organização da vida social e do trabalho, a dependência econômica e a produção na Europa medieval, o conteúdo favorece o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih um cinco e ê éfe zero seis agá ih um seis.

Atividade complementar

O conteúdo sobre o mundo medieval costuma despertar a curiosidade dos estudantes do 6º ano. É possível que eles já tenham alguma informação sobre o assunto, advinda de games, filmes, séries e livros ficcionais, especialmente as fantasias históricas que se apropriam da estética e de enredos medievais. Assim, organize os estudantes em quatro grupos. Apresente um destes filmes para cada grupo: Valente (direção: Márc Éndrius, Estados Unidos, 2012, 90 minutos, classificação indicativa: livre); O feitiço de Áquila (direção: Ríchard Donner, Estados Unidos, 1985, classificação indicativa: livre); Coração de Cavaleiro (direção: Braiãn Rélglãnd, Estados Unidos, 2001, 132 minutos, classificação indicativa: 12 anos); Loucuras na Idade Média (direção: Gil Junger, Estados Unidos, 96 minutos, classificação indicativa: 12 anos). Peça para que, após assistirem ao filme, produzam um relatório no qual listem os fatos (guerras, eventos políticos ou religiosos etcétera) e personagens (homens, mulheres, nobres, camponeses, clérigos etcétera) apresentados nesses produtos com mais frequência. Depois, solicite que caracterizem os personagens e verifiquem se os fatos apresentados são verídicos ou fictícios. Se possível, peça que finalizem a atividade comparando seu relatório com o que aprenderam no livro didático.

Curadoria

Guia Medieval (Site)

Disponível em: https://oeds.link/uBmSZa. Acesso em: 31 dezembro 2021.

Esse site foi desenvolvido no Laboratório de Estudos Medievais, sediado na Universidade de São Paulo (USP), que congrega medievalistas de várias universidades e instituições de ensino. Nele estão disponíveis uma excelente cronologia temática, mapas, verbetes que remetem a trabalhos completos, a maioria deles escritos por medievalistas brasileiros, e um podcast interessante para usar nas aulas.

O senhorio medieval

Nas propriedades de terra, em geral, havia um castelo fortificado, onde moravam o senhor e sua família. Próximo ao castelo, ficavam as aldeias e vilas onde habitavam os vilões e servos. Nesses locais, as casas eram modestas, geralmente feitas de madeira, palha e barro.

Servos e vilões não eram nobres. Eles formavam a maior parte da população europeia. Os servos constituíam a principal fórma de mão de obra, sendo responsáveis por praticamente tudo o que era produzido nos domínios de um senhor. Entre eles havia artesãos, pedreiros, carpinteiros e padeiros, mas a maior parte trabalhava na agricultura, principal atividade econômica. Os vilões eram camponeses que tinham mais liberdade que os servos. Geralmente, possuíam pequenos lotes de terra.

De modo geral, as terras de um senhor eram divididas em três partes. Uma delas era o manso senhorial, em que a produção era destinada ao senhor e a seus dependentes. Outra era o manso servil, que compreendia as terras arrendadas aos servos, os quais podiam trabalhar e produzir nelas em troca do pagamento de impostos e outras obrigações. Havia, também, áreas coletivas, como os bosques, as florestas e os campos, nos quais os servos podiam coletar matérias-primas e alimentar seus animais, por exemplo. Essas áreas eram chamadas mansos comunais.

Ilustração. Vista de um senhorio medieval. 
À esquerda, um castelo cercado por uma muralha alta e com um fosso em seu entorno. 
No centro à esquerda, casa simples com plantação ao lado. Partindo dessa plantação, um fio com a indicação do texto: Manso senhorial: terras exclusivas do senhor, consideradas as melhores da área.
No centro e no alto, duas casas, uma simples e uma maior, com um bosque ao redor. Partindo dessas terras, um fio com a indicação do texto: Mansos comunais: pastos e bosques de uso coletivo. Eram explorados por senhores e servos.
No canto direito, uma região com casas pequenas, uma plantação e um bosque ao fundo. Partindo dessa plantação, um fio com a indicação do texto: Manso servil: terras arrendadas aos camponeses pelo senhor.Mansos comunais: pastos e bosques de uso coletivo. Eram explorados por senhores e servos.
Manso senhorial: terras exclusivas do senhor, consideradas as melhores da área.
Manso servil: terras arrendadas aos camponeses pelo senhor.
Ilustração atual representando o senhorio medieval.

FONTE: Luí à Pômiê M Les châteaux forts. Paris: Hachette, 2000. página 18-19.

Respostas e comentários

As terras podiam ser doadas, conquistadas ou herdadas pelo primogênito, mas não eram vendidas. Embora não fossem comercializáveis, eram muito valorizadas, pois a agricultura representava a principal fonte de sustento da população.

A imaginação sobre os castelos medievais é muito influenciada por histórias fantásticas, quadrinhos e desenhos animados, nos quais a descrição dos castelos é cercada por uma aura de luxo, esplendor e riqueza, características que, se não explicadas, acabam sendo incorporadas na construção do conhecimento a respeito do medievo. É possível utilizar exemplos de desenhos animados que retratam esse ideal de riqueza para desmistificá-lo, demonstrando aos estudantes que ele corresponde mais aos interesses contemporâneos em representar o passado do que à realidade medieval.

Curadoria

Os templários, o feudalismo e o senhorio: perspectivas da pesquisa e do ensino de história medieval (Artigo)

Bruno Tadeu Salles. Revista Chilena de Estudios Medievales, número 11, página 16-43, janeiro-junho 2017.

Tendo como eixo uma crítica ao conceito de feudalismo, Bruno Tadeu Salles analisa nesse artigo a participação dos templários da comendadoria de Ruou para o equilíbrio senhorial de sua região.

Os servos

As obrigações dos servos variavam de acordo com as tradições e os costumes locais. As mais comuns, porém, eram a corveia, a talha e as banalidades. A corveia era a obrigatoriedade de trabalhar no manso senhorial em determinados dias da semana. Os servos não ficavam com o que produziam nesses dias. A talha era a parte da produção do manso servil que os servos eram obrigados a entregar ao senhor. As banalidades eram todos os outros impostos que os servos deviam ao senhor, entre os quais o pagamento pela utilização de equipamentos do feudo (como fornos e moinhos) e a prestação de serviços de manutenção (no castelo, nas muralhas e nas lavouras senhoriais).

Pintura. Homem usando camisa comprida azul, calça preta e botas trabalha com uma enxada em um campo. Do lado esquerdo, uma encosta sem terra e, do lado direito, há um rio.
Detalhe de calendário medieval representando o trabalho de um camponês, século quinze.

As divisões sociais na Europa medieval foram muitas vezes explicadas por pessoas ligadas à Igreja. De acordo com a visão dessas pessoas, os nobres eram guerreiros que protegiam com suas armas aqueles que não podiam se defender. O clero, com suas orações, era responsável pela salvação das almas. Já os servos, com seu trabalho, sustentavam todos os demais.

Os integrantes do clero defendiam a ideia de que essa visão tradicional da sociedade medieval, dividida em três ordens ou estamentos sociais, tinha origem divina. De acordo com esses religiosos, cada um tinha uma função social no mundo. Caso as pessoas não realizassem suas funções, toda a sociedade desmoronaria. Para o perfeito funcionamento desse sistema, cada grupo deveria aceitar sua posição e suas tarefas, pois essa era a vontade de Deus.

Iluminura. À esquerda, um homem com túnica comprida azul e um manto marrom enrolado ao corpo. Ele está tonsurado, com parte do meio da cabeça raspada, sem cabelo. Ao centro, um homem usando um capacete cobrindo seu rosto, malha metálica em todo o corpo e túnica curta azul segura um escudo triangular. À direita, um homem com touca na cabeça amarrada no queixo, usando uma túnica curta marrom e segurando uma pá.
Iluminura do século treze representando um religioso, um cavaleiro e um trabalhador.
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Bê êne cê cê

Ao caracterizar o trabalho servil, bem como a relação entre servos e senhores, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um seis e da Competência Específica de História nº 2.

Os vilões constituem um dos grupos sociais menos abordados nos materiais didáticos. Apesar de poucas, as possibilidades de mobilidade social existiam, sendo uma das principais a ascensão ao státus de cavaleiro. Servos que demonstravam muita habilidade no manejo de armas podiam tornar-se cavaleiros, o que lhes conferia o státus de baixa nobreza.

Diferentemente dos escravizados da Antiguidade, os servos eram semilivres, isto é, não eram propriedade dos senhores, mas estavam submetidos a uma série de obrigações e impostos que os prendiam à propriedade. Apesar disso, muitos saíam à procura de condições de vida e de trabalho mais favoráveis ou realizavam peregrinações religiosas a locais considerados sagrados em busca de curas e de bênçãos.

A crise demográfica do século catorze provocou, no território correspondente ao da França e do Reino Unido atuais, uma série de revoltas camponesas. Entre as razões das rebeliões, estavam o aumento do tempo que as famílias de servos deviam trabalhar na terra dos senhores e a elevação de taxas, como a talha e as banalidades.

A mortandade causada pela peste negra e pela fome diminuiu a mão de obra servil. A solução encontrada pelos senhores foi aumentar a exploração do trabalho. Isso representou a quebra de um pacto fundamentado na tradição – uma ofensa tão significativa quanto o aumento do trabalho em si mesmo.

As mulheres

Assim como na Antiguidade, no período medieval as mulheres não participavam dos assuntos públicos e, em geral, não saíam de casa. Esse posicionamento era embasado em argumentos religiosos.

Eva, considerada pelos cristãos a primeira mulher, foi responsabilizada pelo pecado original e por ter sido, com Adão, expulsa do paraíso. Essa visão negativa recaiu sobre todas as mulheres.

A imagem da Virgem Maria, por sua vez, foi utilizada como exemplo de santidade, maternidade e devoção a Deus. Se o comportamento de Eva era considerado “natural” para as mulheres, o de Maria era o ideal, apesar de ser inatingível, pois ela era a mãe de Jesus.

Esses dois modelos, entre o pecado e a santidade, faziam parte da mentalidade medieval sobre as mulheres. Eles se baseavam em uma noção simplificadora, assim como as ideias sobre as divisões sociais na Idade Média.

Muitas mulheres que viveram naquele período exerceram funções que não correspondiam necessariamente a esses modelos. Várias delas tornaram-se abadessasglossário , regentesglossário ou gerentes de entidades de caridade. Centenas foram consideradas santas por suas ações comunitárias e por colaborar para a expansão da fé cristã.

Iluminura. Quatro mulheres de vestidos longos de cores diferentes usam tear, laçadeira e outros instrumentos para fazer os fios e tecer.
Representação de mulheres nobres tecendo em detalhe de iluminura do século quinze.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Por que a Igreja se tornou a principal instituição da Europa Ocidental durante a Idade Média?
  2. Explique o processo de ruralização que ocorreu na sociedade medieval.
  3. Quais eram as obrigações dos servos em relação a seus senhores?
  4. Descreva a mentalidade medieval sobre as mulheres.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da condição das mulheres na sociedade medieval, o conteúdo desta página favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um nove.

Agora é com você!

1. Porque a Igreja fornecia modelos de comportamento, conduzindo muitos aspectos da vida das pessoas, auxiliava os menos favorecidos com obras de caridade e era a principal detentora de terras, o que lhe trazia muita riqueza e influência. Além disso, o clero era uma das únicas fontes do conhecimento letrado.

2. Com a fragilização da figura do rei, os nobres e membros do alto clero, em geral possuidores de muitas terras, passaram a exercer um contrôle maior sobre tudo o que estivesse sob seu domínio. Diante das invasões de vikings, muçulmanos e magiares ocorridas nos séculos nove e dez, a população passou a procurar a proteção desses grandes senhores, o que resultou no esvaziamento dos centros urbanos e na intensificação do processo de ruralização que ocorria desde o século três.

3. Os servos estavam obrigados ao pagamento da talha (entrega de parte da produção no manso servil), da corveia (trabalho de alguns dias no manso senhorial) e das banalidades (entrega de parte da produção pelo uso dos equipamentos do senhor).

4. Durante o período medieval, as mulheres eram excluídas dos assuntos públicos e restritas ao espaço doméstico, com base em argumentos religiosos. Elas eram associadas à figura de Eva, a primeira mulher, que, de acordo com a Bíblia, foi a responsável pelo pecado original. Em contrapartida, esperava-se que o comportamento delas se espelhasse no da Virgem Maria, um exemplo inatingível de santidade, maternidade e devoção.

Orientação para as atividades

As questões 1, 2 e 4 do boxe “Agora é com você!” demandam a produção de um resumo sobre os processos que resultaram no poder religioso e nas transformações sociais e econômicas dos séculos nove e dez. Já a resposta da terceira questão pode ser elaborada com base na localização de informações no texto. Os estudantes podem apresentar alguma dificuldade para fazer uma síntese explicativa nas questões 1, 2 e 4. Nesse caso, ajude-os a criar o texto e a reescrevê-lo, caso julgue necessário.

A África entre os séculos cinco e catorze

Entre os séculos cinco e catorze, havia na África diversas etnias, culturas e organizações políticas. Diferentemente da Europa Ocidental, o continente não passou por um período denominado Idade Média. O termo África medieval, portanto, não é adequado para explicar as especificidades das sociedades que lá se formaram. Nesse período, contudo, ocorreram aproximações entre reinos da África e o Ocidente por meio de rotas comerciais e de disputas religiosas.

Os reinos do Sael

Sael é o nome de uma região semiárida de transição entre o Deserto do Saara e as savanas úmidas, no continente africano. Nessa região, viviam diversos povos.

Com base em escavações arqueológicas, acredita-se que existiram rotas comerciais no Sael desde o século três. As principais atividades econômicas da área eram a extração de ouro e cobre, a produção de cereais e o comércio de artigos muito valorizados no Oriente, como a noz-de-cola e o marfim.

As rotas comerciais eram controladas por grupos nômades africanos, denominados berberes. Eles percorriam todo o norte da África em caravanas realizando o comércio. No século sete, os berberes adotaram o islamismo e passaram a divulgar sua fé para pessoas de outras etnias.

Com o tempo, os povos do Sael que se converteram ao islamismo se uniram. Passaram, então, a ser liderados pelo Reino de Gana, localizado no noroeste da África e chefiado por clãs glossário de origem berbere. Esse processo, porém, foi lento. Apenas no século dez, Gana se tornou um império africano.

Reinos do Sael e rotas transaarianas – séculos dez-dezesseis

Mapa. Reinos do Sahel e rotas transaarianas – séculos dez a dezesseis. Destaque para o continente africano. 
Legenda:
Linha cinza: Divisão política atual.
Linha vermelha: Rotas comerciais.
Linha verde: Região do Sahel.
Linha pontilhada roxa: Deserto do Saara.
Amarelo: Áreas de influência islâmica.
Hachurado verde: Reinos e impérios do Sahel.
No mapa, há rotas comerciais: partindo da cidade de Marrakech, no noroeste do continente, passando por Fez, Sidjilmasa e Taghazza até Kumbi, na porção oeste; e partindo da cidade de Gao, no noroeste do continente, passando por Takedda e Tadmekka até o Cairo, no nordeste da África, próximo ao Mar Vermelho.
A Região do Sahel corresponde a uma faixa estreita no norte do continente e que abrange o Rio Senegal, no oeste, até o Mar Vermelho, na costa leste. Nessa região estão localizadas as cidades de Walata, Kumbi, Djenne, Takedda, Tedmekka, Gao e Timbuctu.  
O Deserto do Saara ocupa um largo trecho horizontal no norte do continente, ao norte da Região do Sahel, abrangendo Taghazza, Sidjilmasa, porções dos reinos do Mali, Songhai e Bornu, parte do Egito e o Rio Nilo, na costa leste.
Áreas de influência islâmica correspondem: a regiões na costa noroeste, norte, nordeste e leste da África, abrangendo  Marrakech, Fez, Cairo e porção à leste da Etiópia; algumas regiões da faixa do Sahel, englobando as cidades de Djenne, Timbuctu, Gao e Takedda; pequenas regiões no sudeste do continente, no atual Moçambique; e o norte da atual ilha de Madagascar.
Os reinos e impérios do Sahel compreendem Gana (incluindo a cidade de Kumbi e Walata); Mali (incluindo as cidades de Djenne, Timbuctu, Gao, Takkeda e Tadmekka); Songhai (ao norte do Mali); Bornu (na fronteira dos atuais Líbia, Chade e Níger); e Etiópia, no leste do continente.
No canto inferior direito, rosa de ventos e escala de 0 a 740 quilômetros.

FONTES: Galimár. L’Atlas Gallimard Jeunesse. Paris: Gallimard Jeunesse, 2002. página 122; Niãne, D. T. (edição). África do século doze ao dezesseis. 3. edição São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2010. volume 4, página173. (Coleção História geral da África).

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao destacar aspectos da história da África entre os séculos dez e catorze e tratar das rotas comerciais do Sael, o conteúdo favorece o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih um quatro e ê éfe zero seis agá ih um cinco, bem como se relaciona à Competência Específica de História nº 6.

Entre as rotas comerciais estabelecidas desde o século três, podem-se destacar a que saía de Marráquéxi, passava pelas minas de sal em Tagáza e chegava a Gana e a que ligava Gao ao Egito. Nos cruzamentos dessas rotas, onde as caravanas eram reabastecidas, formaram-se cidades e aldeias.

Caso queira, apresente a seguinte linha do tempo para os estudantes, facilitando sua compreensão temporal dos eventos:

Alguns marcos temporais relacionados ao medievo na África

Linha do tempo. Alguns marcos temporais relacionados ao medievo na África. Uma linha vertical azul com setas informa as datas e, abaixo, são apresentados os eventos correspondentes. De cima para baixo: Século quatro: Formação do Reino de Gana 476: Queda do Império Romano do Ocidente Século nove: Início da islamização do Reino de Gana Século onze: O Reino do Mali domina Gana e transforma-se em império Século catorze: Peregrinação de Mansa Musa 1453: Tomada de Constantinopla pelos turcos
Representação artística sem proporção para fins didáticos.

O Império de Gana

A maior parte do conhecimento que se tem a respeito do Império de Gana foi obtida por meio de escavações arqueológicas, das tradições orais locais e de manuscritos produzidos depois que o território foi islamizado, a partir do século dez.

Supõe-se que, no período anterior à islamização de Gana, tenha existido um imperador que era ao mesmo tempo líder político e chefe religioso. Entre suas funções políticas estavam a de manter a unificação do império e a de administrar as finanças do Estado.

Grande parte da riqueza desse império era obtida por meio do contrôle da produção e da comercialização do ouro e dos impostos cobrados dos mercadores.

Passavam pelo território desse império as principais rotas de travessia do Deserto do Saara. A região era, portanto, visitada por muitos mercadores e suas caravanas de camelos. Eles compravam pedras preciosas, metais e escravizados. Também eram vendidos em Gana porcelanas e tapetes, entre outras mercadorias.

Como o império era composto de vários povos, com diferentes costumes, havia liberdade religiosa e cultural. De acordo com as fontes históricas, havia em Gana cidades como Cumbí Salé, capital política do império, com cêrca de 20 mil habitantes.

Fotografia. Fila de pessoas com camisetas, bermudas e mochilas, usando lenços na cabeça, montadas em camelos, que andam pelo deserto.
Caravana de camelos pelo Deserto do Saara, próximo a Merzouga, Marrocos. Foto de 2019.
Gravura. Estrutura com teto e quatro pilastras de suporte e, debaixo dela, três homens brancos com barba, túnicas compridas e turbantes estão sentados de joelhos em um balcão. Dois desses homens manuseiam uma balança de pesos. Em primeiro plano, em um piso com calçamento de pedras, três homens brancos em pé, dois à esquerda e um à direita, com túnicas compridas e usando turbantes observam três homens negros com camisas e calças curtas simples sentados ao centro. Também há um homem branco de turbante sentado atrás de um dos homens negros.
Mercado de escravos, gravura do livro Ál macamát, de Ál ráriri, publicado no século treze.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A imagem do século treze, mostra um mercado de pessoas escravizadas. A escravidão, é importante apontar, não tinha motivos raciais. A maior parte dos escravizados em Gana era formada por prisioneiros de guerra. A outra imagem mostra uma caravana destinada ao turismo atualmente. Entre os séculos onze e quinze, o comércio realizado por meio de caravanas era intenso. Eram transportadas pessoas para serem escravizadas, sal, ouro e outros metais, cavalos, frutas secas, noz-de-cola e tecidos.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre Cumbí Salé foram retirados de: SILVA, A. C. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. página 274.

Bê êne cê cê

A menção à qualidade das fontes orais e escritas sobre Gana favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero sete. Esta se relaciona, por sua vez, à Competência Específica de História nº 6.

A escravidão era praticada no mundo islâmico. Os escravizados eram vendidos pelos mercadores árabes nos territórios muçulmanos do entorno do Mediterrâneo, no subcontinente indiano, no arquipélago malaio e no Leste Asiático. Os que se convertiam à fé muçulmana podiam ser alforriados, tornando-se, então, Mauáli (“clientes”) de Maomé ou de outros muçulmanos notáveis, mas a decisão dependia sempre do proprietário. Para saber mais sobre o assunto, leia: Talíb, Y. A diáspora africana na Ásia. ín: Él Fasi, M. (edição). África do século sete ao onze. 2. edição Brasília: Unesco, 2010. volume três, página 825-860. (Coleção História geral da África).

O comércio de escravizados era destinado ao mundo islâmico e a mercados específicos nas cidades do Mediterrâneo. No islã, os escravizados de origem africana eram destinados a diversas finalidades. Mulheres eram direcionadas aos haréns, enquanto os homens eram empregados em guardas ou exércitos compostos de eunucos ou em atividades domésticas e administrativas. Eram também empregados nas atividades agrícolas, mas não com o peso que elas teriam na definição e no uso do trabalho escravo na América, onde a escravização sustentou principalmente a empresa colonial agroexportadora.

A história da escravidão no Brasil, como em outros lugares da América, também se liga às disputas seculares entre cristãos e muçulmanos, uma vez que a condição de “infiel” e pagão era uma justificativa para a escravização de seres humanos.

O fluxo de escravizados nas rotas controladas pelos muçulmanos atingiu mais de 7 milhões entre os séculos oito e dezesseis. Comparativamente, o tráfico atlântico decisivo para os circuitos mercantis europeus foi responsável por 10 milhões a 12 milhões de homens, mulheres e crianças, transportados para a América em um intervalo de mais ou menos trezentos anos. Desse total, 40% chegaram aos portos brasileiros, principalmente do Rio de Janeiro e de Salvador. Na Bahia, desembarcaram muitos hauçás islamizados. Para saber mais sobre o tema indicamos: lóve djói, P. E. A escravidão na África: uma história de suas transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

Por causa das disputas pelo contrôle comercial da região, Gana tinha rivais. Um deles era o Império de Tacrúsr. Em 1030, quando seu governante se converteu ao islamismo, esse império se fortaleceu por contar com o apoio dos berberes. O fortalecimento do Império de Tacrúsr foi um dos fatores responsáveis pelo declínio do império ganês.

Outro fator está relacionado à expansão almorávida sobre a região. Em 1042, o líder marroquino Abdalá âban iássim organizou um exército de 30 mil homens, que invadiram e conquistaram o Império de Gana.

âban iássim fundou um movimento denominado almorávida, com o objetivo de dominar territórios e expandir o islamismo. Ele conquistou muitos grupos berberes e de outras etnias, fundando, em 1040, o Império Almorávida, que durou até 1147.

O Império Almorávida ultrapassou os limites do continente africano e conquistou parte do sul da Europa, incluindo regiões da Espanha. As trocas comerciais e culturais tornaram-se intensas em todo o império. Conhecimentos matemáticos, militares, médicos e literários circulavam nesse território.

Fotografia. Uma mesquita com paredes brancas e colunas triangulares.
Mesquita de Larabanga, em Gana. Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A imagem mostra um local de culto islâmico em Gana. Antigamente, a cidade de Cumbí Salé, localizada no território correspondente ao da atual Mauritânia, era dividida em duas áreas distantes 10 quilômetros uma da outra. Uma delas foi habitada por muçulmanos desde o século dez e abrigava 12 mesquitas. A outra permaneceu por mais tempo dominada pelo rei de Gana, com cultura e religiosidade ligadas à tradição pré-islâmica.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a expansão almorávida foram retirados de: LAROUI, A. L’histoire du Maghreb. Paris: Centre Culturel du Livre, 2021. página 151.

Curadoria

A propagação do islã pela África antiga (Artigo)

Mark Cartwright. World history encyclopedia, 10 maio 2019. Disponível em: https://oeds.link/IM05Rg. Acesso em: 31 janeiro 2022.

O artigo apresenta informações relevantes sobre o contexto global da expansão islâmica na África.

Ampliando

O texto a seguir trata do poder político do Império de Gana.

“Nos séculos nove e onze, a hegemonia do Gana era reconhecida pelos governantes Tekrur, Bagana, Ualata, Gumbou, Sosso, Sokolo, Sala, Berissa e as duas chefaturas de Do (Dodugu e Melel, que evoluiria depois para o estado do Mali). Também controlava as áreas de Galam, Falemé e Bambuk, onde se encontravam as principais jazidas de ouro da África Ocidental. Sua influência se estendia para o norte até o Ród e Tagant, para o leste até o Níger, e para o sul até a região Baoulé. reticências

Tudo indica que os soberanos de Gana tinham a seu mando um grupo de servidores diversificado. Dele faziam parte pessoas indicadas para atuar nos territórios conquistados, indivíduos encarregados de manter a justiça, controlar o tesouro acumulado, intérpretes e serviçais palacianos reticências. É muito provável que os sacerdotes, encarregados dos rituais tradicionais, desempenhassem algum papel no palácio reticências. Os escritores muçulmanos fazem alusão ao culto de uma divindade serpente de Uágadú (Uágadú ída), antepassado totem dos Cissê [a dinastia reinante fundada no século oito]. Segundo um antigo mito, no dia da entronização de cada governante, a mais bela jovem devia ser entregue à divindade serpente em sacrifício.”

MACEDO, J. R. História da África. São Paulo: Contexto, 2021. página 53-54.

A diversidade de práticas religiosas

Quando o islamismo se expandiu pelas rotas de comércio que ligavam todo o continente, os vários povos locais adotavam diversas religiões, denominadas ancestrais.

Na maioria delas, as pessoas não acreditavam em um ser supremo, criador do mundo e dos seres humanos, como os muçulmanos e cristãos. Os seguidores dessas religiões acreditavam em entidades criadoras do universo, que teriam precedido qualquer ser supremo. Para eles, todas as coisas no mundo continham a essência do divino.

Nessas religiões, as explicações sobre a origem do universo e da humanidade eram bastante variadas e, geralmente, passadas de geração em geração por meio de histórias contadas oralmente. O contato dessas práticas ancestrais com as religiões monoteístas resultou em crenças ainda mais heterogêneas.

Há relatos da presença do judaísmo na África desde o século cinco antes de Cristo Essa religião estava concentrada nos territórios hoje conhecidos como Líbia, Egito e Etiópia e nos territórios cuxitas, na região da Núbia. Havia também comunidades cristãs na Núbia, no Reino de Axum e na Etiópia. Posteriormente, muitas dessas comunidades se tornaram muçulmanas.

Fotografia. Ao fundo, uma mesquita tradicional, rodeada por uma muralha e construções pontudas. À frente, carros em uma rodovia.
Mesquita de Abúja, na Nigéria. Foto de 2020.

Dica

LIVRO

Griot: histórias que ouvimos da África, de Júlio Emílio Braz. São Paulo: Melhoramentos, 2017.

O romance narra a história de uma guerra religiosa fictícia entre muçulmanos e cristãos em Kaduna, na Nigéria. A história se desenrola com base no personagem Ubuntu, um griot muçulmano que trabalha como motorista de táxi. Griots são os contadores de história que transmitem oralmente, de geração em geração, as tradições de seus povos.

Respostas e comentários

Ampliando

O texto a seguir aborda a diversidade das práticas religiosas na África.

“Na Etiópia, a presença do judaísmo entre a comunidade dos Beta Israel é bastante conhecida; sendo que no século dez, uma rainha judia, de nome Judith, reinou no país. Na Somália, o pequeno clã dos Iibir ou Iarrar é mencionado como de magos e adivinhos, tendo previsto a chegada do islã ao seu território. No Zimbábue, os lembas (lembaa, subgrupo do povo venda), autoproclamados como de origem judaica, destacam-se até a atualidade como comerciantes e ferreiros de sua área cultural, com usos e costumes que os ligariam a antigos judeus, árabes, fenícios etcétera

LOPES, N. B.; MACEDO, J. R. Dicionário de história da África: séculos sete a dezesseis. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. E-book.

Curadoria

A África no contexto da história mundial (Artigo)

Ivan Rrbéc. In: Él fássi, M. (edição). África do século sete ao onze. 2. edição Brasília: unêsco, 2010. volume três. (Coleção História geral da África).

No artigo, Ivan Rrbéc constrói um cenário das conexões africanas com a Europa, a Ásia e o Oriente Próximo.

Havia várias fórmas de islamismo na África. Além disso, o islamismo se fundiu com as práticas religiosas ancestrais, como as dos mandingas.

Nesse cenário, a parte islamizada da África, com suas múltiplas rotas comerciais, abria-se para outros continentes, fazendo contatos com a Europa e a Ásia. A costa oriental, por exemplo, recebia árabes e persas, que levavam os produtos africanos à Indonésia! O mundo daquelas pessoas separadas por terras e mares conectava-se.

Fotografia. Homem usando uma fantasia composta por saia e adornos nos braços, uma máscara no rosto.
Pessoa com traje tradicional de dança Dôgondurante a abertura do Festival Ségou'Art, em Segu, Mali. Foto de 2020. Essa região não foi islamizada até meados do século quinze.

África: religiões – 750-1450

Mapa. África: religiões – 750 a 1450. Destaque para a região centro-norte do continente africano, para o sul da Europa e para o leste da Ásia. 
Legenda:
Vermelho: Predominantemente cristãs - 750.
Laranja: Maioria convertida ao cristianismo - 750 a 1450.
Verde: Predominantemente islâmica - 750.
Verde-claro: Maioria convertida ao islamismo - 750 a 1450.
Roxo: Religiões ancestrais.
Seta verde contínua: Área com membros de outras religiões convertidas ao islamismo.
Seta verde tracejada: Área com populações conquistadas pelos muçulmanos e não convertidas ao islamismo.
No mapa, áreas predominantemente cristãs em 750 correspondem: às regiões da Núbia e da Etiópia, na costa nordeste da África; à Península Itálica, às ilhas do Mar Mediterrâneo, à Grécia e ao leste da Ásia. Hachurada de vermelho e verde, indicando a predominância cristã e islâmica em 750, a Península Ibérica. 
As áreas de maioria convertida ao cristianismo entre 750 a 1450 correspondem: à região ao sul da Etiópia e a oeste da Somália; regiões à leste da Península Itálica e ao redor do Mar Negro.
As áreas predominantemente islâmicas em 750 compreendem: o norte da África, com destaque para a região do Magreb, incluindo a cidade de Fez, e o Egito, incluindo Cairo; Península Arábica e região à leste da Península Arábica. Além da já mencionada área hachurada na Península Ibérica.
As áreas de maioria convertida ao islamismo entre 750 a 1450 compreendem: a região da Líbia, Mali, Gana (incluindo Timbuctu), Senegal, Somália e Mogadíscio, no leste da África, e a região do atual Turcomenistão.
Áreas de religiões ancestrais compreendem: a região centro-sul da África, incluindo uma faixa banhada pelos rios Senegal e Níger. A área ao sul de Senegal e Gana, que está hachurada de verde-claro e roxo, indicando a presença de religiões ancestrais e de maiorias convertidas ao islamismo entre 750 e 1450.
Áreas com membros de outras religiões convertidas ao islamismo são indicadas por setas que partem do sul do Egito e se ramifica em duas, uma que vai a oeste e outra a leste até região ao centro entre Núbia e Etiópia. Outra seta parte do norte da Ásia e se dispersa para regiões ao sul do Mar Negro.
Áreas com populações conquistadas pelos muçulmanos e não convertidas ao islamismo são indicadas por setas que partem da região do atual Iraque em direção ao norte. Outra seta parte de porção oeste da Ásia e se ramifica em duas, que vão a norte e a sul até região à leste da Península Itálica.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 720 quilômetros.

FONTE: ôu bráien pí quêi (edição). Atlas of world history: concise edition. London: Octopus Publishing Group, 2005. página 42.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Qual é a importância de refletir sobre o termo Idade Média para compreender a África entre os séculos três e catorze?
  2. Quais eram os principais recursos econômicos do Império de Gana?
  3. Qual foi a importância das rotas comerciais para a difusão de diferentes práticas culturais?
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. O uso do termo Idade Média para delimitar o estudo da história da África entre os séculos três e catorze é inadequado, pois pressupõe uma lente eurocêntrica para analisar um continente que não é a Europa.

2. A produção e a comercialização do ouro, além dos impostos cobrados dos mercadores que passavam pelo território, pois o império era cortado pelas principais rotas de travessia do Deserto do Saara.

3. As pessoas e os produtos que circularam pelas rotas comerciais contribuíram para a divulgação e a troca de diferentes hábitos culturais (de alimentação, vestuário, língua e religião, entre outros).

Orientação para as atividades

As atividades de sistematização propostas no boxe “Agora é com você!” incentivam os estudantes a identificar, registrar e elaborar informações em respostas autônomas. Esses procedimentos devem ser considerados métodos de estudo. Para responder à primeira questão, os estudantes devem refletir a respeito de um conceito histórico consagrado. Na correção, destaque a importância de elaborar questionamentos sobre conceitos como esse, a fim de garantir o cuidado necessário para transpô-los de uma realidade histórica a outra. Para responder às questões 2 e 3, é necessário que os estudantes localizem informações no livro e as sistematizem.

Versões em diálogo

Segundo fontes orais e escritas, Sundiata Keita foi o responsável pela construção de um governo exemplar no Império do Mali. Na condição de mansa, ou seja, de soberano, ele fez uma administração sensataglossário , estabelecendo o cumprimento de leis em todo o território e criando o primeiro exército profissional do continente africano.

Ainda segundo essas fontes, em sua investidura, realizada na cidade de Cãngabá, em 1236, ele e outros chefes de clãs do Mali escreveram a Carta de Mandê ou de Curucãn Fúga. Nesse documento, foram estabelecidas 44 leis e normas, que forneceram a base legal para todo o império.

Para o historiador Djíbril Tãmsír Niãne, o documento determinava o respeito à vida e à dignidade humanas, aos direitos humanos e às mulheres e a busca de soluções para a resolução de conflitos.

De acordo com os historiadores Neri Braz Lopes e José Rivair Macedo, o documento, por seu alcance e significado:

reticências tem suscitado grande discussão acadêmica e alimenta uma controvérsia entre especialistas africanos e não africanos, alguns deles julgando tratar-se de uma ‘invenção historiográfica’. Sua autenticidade foi amplamente debatida num congresso em Bamacôno ano de 2004. reticências”.

LOPES, N. B.; MACEDO, J. R. Dicionário de história da África: séculos sete a dezesseis. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. E-book.

Apesar da polêmica, em 2009, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unêsco) reconheceu a Carta de Mandê como parte do patrimônio imaterial da humanidade por ser a base dos valores e das tradições das populações envolvidas e por defender:

reticências a paz social na diversidade, a inviolabilidade do ser humano, a educação das pessoas, a integridade da pátria, a segurança alimentar, a abolição da escravatura pela razão e a liberdade de expressão e comércio”.

UNESCO. La Carta del Mandén, proclamada en Kurukan Fuga. Patrimonio Cultural Inmaterial. Disponível em: https://oeds.link/OXapuQ. Acesso em: 26 janeiro 2022. Tradução e adaptação nossas.

Escultura. Peça de terracota representando um homem com barba usando uma saia, com o torso nu e adornos no pescoço, montado em um cavalo também adornado na cabeça e no pescoço.
Peça de terracota, do século treze ou catorze, escavada de um túmulo na região que hoje compreende as cidades de Dijenê e Múpti, no Mali.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

O trabalho de exploração da Carta de Mandê e das questões sobre sua autenticidade, especialmente a indicação de uma desconfiança em relação às fontes orais, favorece a abordagem da Competência Específica de História nº 6.

Versões em diálogo

A seção apresenta discussões sobre a Carta de Mandê e seu reconhecimento como patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco. Além de conhecer diferentes pontos de vista a respeito dessa carta, pode-se incentivar os estudantes à reflexão sobre fontes históricas. Nas discussões envolvendo a autenticidade ou a confiabilidade da carta, destacam-se duas questões importantes. A primeira está relacionada ao fato de que ela foi transmitida oralmente. Em razão disso, alguns historiadores duvidam da existência de um original. De certa fórma, essa questão revela uma suposta preferência por documentos escritos e pela cultura material, ao passo que há um desprezo por tradições orais, consideradas menos confiáveis.

Curadoria

Cartas do Daomé: uma introdução (Artigo)

Luis Nicolau Parês. Afro-Ásia, número 47, 2013.

O artigo apresenta aspectos interessantes sobre o contexto de produção e reapropriação da Carta de Mandê.

As versões sobre a existência ou não do documento e seu posterior reconhecimento pela unêsco indicam a centralidade dos temas e debates propostos na Carta de Mandê. No mundo contemporâneo, o respeito à diversidade e o direito à educação, à vida e à liberdade devem ser defendidos universalmente.

Fotografia. Pedaço de papel amarelado com o desenho de um círculo com divisórias na parte superior. Na parte inferior, escritos em árabe.
Parte de versão da Carta de Mandê de 1236.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Carta de Mandê foi transmitida pela tradição oral das populações da região do Mali. Muitas versões escritas dessa carta foram publicadas. Ela é composta de um preâmbulo e sete capítulos.

Responda no caderno.

  1. Como o líder Sundiáta Quêita foi descrito nas fontes históricas sobre o Império do Mali?
  2. Explique o que é a Carta de Mandê.
  3. Enumere os temas abordados na Carta de Mandê.
  4. Por que há controvérsia entre os historiadores sobre essa carta?
Respostas e comentários

Atividades

1. Ele foi descrito como um soberano que formou o primeiro exército profissional, administrou sensatamente o império e estabeleceu o cumprimento de leis.

2. Proclamado por Sundiáta Quêita, é um texto, mantido vivo pela tradição oral, que estabelece a base legal do Império do Mali e prevê preceitos universalistas de direitos que antecedem a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

3. Entre os temas abordados na carta, estão “a paz social na diversidade, a inviolabilidade do ser humano, a educação das pessoas, a integridade da pátria, a segurança alimentar, a abolição da escravatura pela razão e a liberdade de expressão e comércio”.

4. A carta é controversa por ter sido transmitida oralmente entre gerações. Por isso, alguns historiadores questionam a existência de um original.

Ampliando

O historiador e antropólogo belga Jan Vansina dedicou às fontes orais um capítulo no volume metodológico da coleção História geral da África. Na introdução, ele adverte sobre a qualidade da oralidade como fórma de comunicação e pensamento.

“Um estudioso que trabalha com tradições orais deve compenetrar-se da atitude de uma civilização oral em relação ao discurso atitude essa totalmente diferente da de uma civilização onde a escrita registrou todas as mensagens importantes. Uma sociedade oral reconhece a fala não apenas como um meio de comunicação diária, mas também como um meio de preservação da sabedoria dos ancestrais, venerada no que poderíamos chamar elocuções-chave, isto é, a tradição oral. reticências

A oralidade é uma atitude diante da realidade e não a ausência de uma habilidade. reticências As tradições requerem um retorno contínuo à fonte. Fú kiáu, do Zaire, diz, com razão, que é ingenuidade ler um texto oral uma ou duas vezes e supor que já o compreendemos. Ele deve ser escutado, decorado, digerido internamente, como um poema, e cuidadosamente examinado para que se possam apreender seus muitos significados – ao menos no caso de se tratar de uma elocução importante. O historiador deve, portanto, aprender a trabalhar mais lentamente, refletir, para embrenhar-se numa representação coletiva, já que o Córpus da tradição é a memória coletiva de uma sociedade que se explica a si mesma.”

VANSINA, J. In: qui zêrbo, J. Metodologia e pré-história da África. 2. edição Brasília: unêsco, 2010. página 139-140. volume um. (Coleção História geral da África).

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Descreva a relação de suserania e vassalagem.
  2. Sobre as práticas religiosas na África, analise as informações a seguir e verifique se elas são verdadeiras ou falsas. Anote a resposta no caderno.
    1. Na África havia diversas fórmas de islamismo.
    2. Após o contato com o islamismo e o cristianismo, as crenças religiosas em diferentes partes do continente africano se transformaram.
    3. As práticas religiosas se mantiveram intactas, sem se misturar com outras tradições religiosas.
    4. Há relatos da prática do judaísmo na África desde o século dez.

Aprofundando

3. Com base no que você estudou neste capítulo, analise o mapa para fazer as atividades a seguir.

África: comércio transaariano – século catorze

Mapa. África: comércio transaariano - século catorze. Destaque para o continente africano. 
Legenda:
Em amarelo: Zona climática: desértico.
Linha pontilhada marrom: rotas comerciais transaarianas.
Linha vermelha: Limites aproximados do deserto.
Linha roxa: Limites aproximados da floresta.
Quadrado amarelo: Maiores fontes de ouro.
Quadrado branco: Maiores fontes de sal.
Quadrado laranja: Maiores fontes de noz-de-cola.
No mapa, a zona climática desértica ocupa a maior parte do norte do continente, incluindo o Egito; e regiões na costa leste e sudoeste da África. Os limites aproximados do deserto atravessam o norte do continente de oeste, nas proximidades de Awil, na costa do Oceano Atlântico, à leste, até o Mar Vermelho. Os limites aproximados da floresta partem do oeste do continente, nas proximidades de Futa Jalon, passando pelos reinos de Oyo e Ifé, até a porção central do continente.
As rotas comerciais transaarianas interligam cidades e povos ao norte e ao sul do Deserto do Saara. Essas rotas passam, do norte para o sul, em: Argel, Túnis, Fez, Marrakech, Trípoli, Cairo, Sidjilmasa, Idjill, Teghazza, Taodeni, Awil.  Audagoste, Walata, Tadmekka, Bilma, Timbuctu, Galam, Takedda, Gao, Kumbi, Agadés, Djenné, Cabo Verde, Futa Jalon, Serra Leoa, Oyo, Akam, Ifé, Benin e Fernando Pó. As maiores fontes de ouro estão localizadas nas proximidades de Akam, Saleh, Kumbi e Djenné. As maiores fontes de sal estão localizadas nas proximidades de Benin, Fernando Pó, Akam, Djenné, Serra Leoa, Futa Jalon, Cabo Verde, Awil, Idjill, Teghazza, Taodeni e Bilma. As maiores fontes de noz-de-cola estão localizadas nas proximidades de Akam.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 740 quilômetros.

FONTE: NIANE, D. T. (edição). História geral da África: África do século doze ao dezesseis. 3. edição São Paulo: Cortez; Brasília: unêsco, 2010. volume 4, página 173. (Coleção História geral da África).

  1. Relacione as áreas ocupadas por atividades comerciais às características da região do Sael.
  2. Explique a importância das redes comerciais para a expansão do islamismo.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao relacionar as rotas das caravanas com os recursos ambientais da região do Sael, a atividade 2 favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco. Já a 5, por envolver o respeito e a valorização das diferenças, contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 1.

Interdisciplinaridade

Na atividade 2, o desenvolvimento do pensamento espacial é vinculado ao uso da linguagem cartográfica, estabelecendo conexões entre os conhecimentos geográficos e os usos da natureza ao longo da história. Relacionam-se, dessa maneira, às Competências Específicas de Geografia nº 2 e nº 4. Além disso, por envolver a reflexão sobre os usos sociais e adaptações ao espaço físico-natural, a atividade favorece o desenvolvimento da habilidade do componente curricular geografia ê éfe zero seis gê ê um um – “Analisar distintas interações das sociedades com a natureza, com base na distribuição dos componentes físico-naturais, incluindo as transformações da biodiversidade local e do mundo”.

Atividades

Organize suas ideias

1. Trata-se de uma relação que estabelecia laços de lealdade entre nobres, na qual o suserano prometia proteção e doava um benefício (terras ou renda proveniente delas) ao vassalo em troca de auxílio militar.

2. a) V; b) V; c) F; d) F.

Aprofundando

3. a) A região do Sael concentrou diversos povos. Em consequência disso, no entorno dela, desenvolveram-se rotas comerciais. Nesse sentido, as maiores fontes de extração de ouro, sal e noz-de-cola não foram definidas apenas pela disponibilidade desses produtos, mas também pela proximidade com as rotas comerciais transaarianas.

b) As rotas comerciais transaarianas eram controladas pelos berberes, grupos nômades. No século sete, esses grupos adotaram o islamismo e, com isso, passaram a divulgá-lo durante suas caravanas, expandindo a fé muçulmana.

4. Na imagem a seguir, é reproduzida uma parte do Atlas catalão, possivelmente produzido pelo cartógrafo Abrarrã crésques, na segunda metade do século catorze. Ele foi oferecido como presente a um monarca europeu. Analise a imagem, leia a legenda e responda às questões.

Ilustração. Manuscrito com inscrições em árabe e desenhos. No canto à esquerda, um homem branco usando um manto longo verde e turbante branco, montado em um camelo virado para a direita. No centro, um homem negro com manto longo branco e coroa na cabeça está sentando em um trono, virado para a esquerda. Ele segura uma esfera dourada em uma das mãos e, na outra, um cetro. Ao redor, desenhos menores de diversas fortalezas, umas com bandeiras pretas hasteadas e outras sem nenhuma bandeira. No alto, cruzando o manuscrito, o desenho de uma muralha.
Representação do Mãnsa Musa, imperador do Mali no século catorze, em detalhe do Atlas catalão, atribuído a Abrarrã crésques.
  1. Como o Mãnsa Musa foi representado no mapa?
  2. Em sua opinião, por que um monarca europeu foi presenteado com o Atlas catalão?

5. De acordo com um estudo publicado em 2017 pelo Centro de Pesquisas Pew, sediado nos Estados Unidos, o islamismo será a religião que mais crescerá nos mundo até 2060. Analise o gráfico a seguir.

Estimativa de crescimento das religiões no mundo – 2015-2060

Gráfico em barras horizontais. Estimativa de crescimento das religiões no mundo – 2015 a 2060.
Apresenta, no eixo horizontal, referente à porcentagem, os números de menos 10 a 80, de dez em dez. No eixo vertical as religiões, seguidas das barras correspondentes. 
As informações são, de cima para baixo:
Islamismo: +70%
Cristianismo: +34%
Hinduísmo: +27%
Judaísmo: +15%
Religiões tradicionais: +5%
Ateísmo: +3%
Outras religiões: 0%
Budismo: -7%. 
Uma linha tracejada na vertical, na altura do número 32 indica: "+32%: crescimento da população mundial".

FONTE: Lípca ême ráquêt, C. Why Muslims are the world’s fastest-growing religious group. Pew Research Center, 6 abril 2017. Disponível em: https://oeds.link/m0hmem. Acesso em: 26 janeiro 2022.

  1. Que informações podem ser extraídas do gráfico?
  2. Reúna-se com dois colegas e façam uma pesquisa sobre as razões para a projeção de amplo crescimento do islamismo. Para isso, utilizem jornais, revistas, artigos de divulgação científica e outros materiais impressos ou digitais encontrados em fontes confiáveis, conforme a orientação do professor. Registrem no caderno suas descobertas.
    • Com base nessas descobertas, respondam: os motivos para o provável crescimento do islamismo no século vinte e um são os mesmos de seu crescimento entre os séculos cinco e catorze? Por quê?
Respostas e comentários

4. a) Mãnsa Musa foi representado no trono com a coroa e o cetro, símbolos da realeza europeia.

b) Era comum a troca de presentes entre nobres em atos que podem ser considerados diplomáticos. O Atlas catalão foi um presente de alto valor não só pelo próprio conteúdo (mapeamento das relações entre os territórios), mas também pelo aspecto artístico da obra.

5. a) Espera-se que os estudantes percebam que é previsto um crescimento mais acelerado do islamismo que o das demais religiões. É possível que eles mencionem a retração do budismo. É importante auxiliá-los a perceber que a estimativa de crescimento da população mundial é menor que a do islamismo.

b) Não. Entre os séculos cinco e catorze, a expansão do islamismo decorreu em grande medida das conversões, enquanto as projeções de crescimento atuais estão ligadas ao crescimento demográfico da população muçulmana.

Temas Contemporâneos Transversais

Por envolver a reflexão sobre a diversidade cultural, a atividade 5 contribui para o desenvolvimento do tema contemporâneo transversal Diversidade cultural.

Glossário

Teocêntrico
: que considera um deus o centro da vida das pessoas.
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Cisma
: divisão.
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Patriarcado
: nesse caso, divisões internas da Igreja Ortodoxa que podem apresentar diferenças administrativas e ritualísticas. Atualmente, há oito patriarcados: Constantinopla, Alexandria, Antioquia, Jerusalém, Rússia, Sérvia, Romênia e Bulgária.
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Armação
: nesse caso, valor necessário para a confecção da armadura usada pelos cavaleiros medievais.
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Abadessa
: chefe religiosa de um mosteiro ou abadia.
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Regente
: nesse caso, pessoa que dirige uma entidade de caridade.
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Clã
: conjunto de famílias que descendem de um ancestral comum.
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Sensato
: aquele que age ou pensa com cautela e equilíbrio.
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