UNIDADE 1 ORIGENS DA MODERNIDADE

A história e você: diversidade e tolerância religiosa na escola

Nesta unidade, você começará a estudar a chamada Idade Moderna. Esse período histórico, iniciado na Europa entre os séculos quinze e dezesseis, foi marcado pela valorização do pensamento racional, que pouco a pouco se sobrepôs ao pensamento religioso predominante na Idade Média.

Um dos fatos que marcaram a Idade Moderna foi a chamada Reforma Protestante. Você já ouviu falar das igrejas protestantes? Elas foram fundadas por pessoas que questionavam práticas e dogmas da Igreja Católica. Com a Reforma Protestante, a autoridade do papa passou a ser contestada e os reis conquistaram mais poder.

Outro fato importante ocorrido na Idade Moderna foi o desenvolvimento das ciências, impulsionado pelo desejo de dominar a natureza. Além disso, movidos pela vontade de explorar o mundo, aventureiros cruzaram oceanos em busca de novas terras, dando início à colonização da América, por exemplo. Com as descobertas científicas e a chegada a diferentes continentes, os europeus deixaram de acreditar que Deus era a medida de todas as coisas. Dessa maneira, em muitos casos, a régua do mundo passou a ser o ser humano!

Mesmo com tantas mudanças, a religião continuou ocupando lugar central na vida dos europeus, bem como nas sociedades por eles colonizadas. Em países como a França e a Suíça, católicos e protestantes se enfrentavam em guerras religiosas. Na Espanha e em Portugal, a Santa Inquisição perseguia judeus e muçulmanos.

Na África e na América, os colonizadores condenavam a religião dos nativos, forçando-os a se converter ao catolicismo. Muita gente morreu ou foi perseguida em nome de um deus que não reconhecia como seu!

Depois de cinco séculos, a intolerância religiosa continua a existir. Isso porque, ainda hoje, muitas pessoas e grupos acreditam que sua religião é a única verdadeira.

Você conhece alguém que sofreu discriminação por causa da religião? Muitas vezes, a intolerância religiosa está presente na escola e é motivada pela desinformação e pelo preconceito.

Para combater a desinformação e o preconceito, você e os colegas produzirão um boletim inter-religioso, com informações sobre diferentes religiões praticadas no município em que fica a escola.

Boletim é uma publicação periódica sobre determinado assunto. Impresso ou digital, tem poucas páginas e é distribuído para um público específico. Para fazê-lo, sigam estas etapas:

Organizar

  • Reúnam-se em grupos de no máximo cinco integrantes.
  • Na internet ou em jornais e revistas impressos, façam um levantamento das igrejas, terreiros, mesquitas, sinagogas, santuários, templos e outros espaços religiosos do bairro ou do município.
  • Compartilhem o que encontraram com os demais colegas. Em seguida, cada grupo escolherá um dos espaços religiosos identificados para produzir um texto sobre ele.

Produzir

  • Produzam o texto. Ele deve conter a localização do espaço, as características da religião praticada nesse local e sua importância para a comunidade. Acrescentem ao texto imagens do local e dos rituais.
  • Em sala, junto dos outros grupos, criem um título para o boletim e redijam um texto de apresentação do periódico, oferecendo dicas de convivência entre as religiões.
  • Com o auxílio do professor, revisem todos os textos.
  • Elaborem a capa do boletim, que deve conter o título, a data da publicação e o texto de apresentação.
  • Distribuam o texto principal e as imagens nas páginas seguintes. Na última delas, na parte inferior, informem o nome de todos os estudantes que participaram da produção do boletim.

Compartilhar

  • Combinem um dia para produzir cópias do boletim, com o auxílio do professor, e distribuí-las na escola.
  • Se possível, tirem fotos ou digitalizem o boletim e divulguem o material nas redes sociais!
Fotografia. Vista lateral de um grande compartimento retangular com muitas velas acesas. À esquerda, mulheres colocando as velas; à direita, acima do compartimento, velas ainda não acesas.
Fotografia. Jovem dentro de uma construção feita de ripas finas e longas e chão de terra batida. Ele está no centro, agachado, olhando para a parte superior da estrutura, que possui formato circular. Ao fundo, uma criança próximo a saída da construção.
Fotografia. Diversas pessoas aparecem de costas e vestidas de branco em uma faixa de areia. Algumas, em primeiro plano, estão à beira do mar, enquanto outras, mais ao fundo, com água à altura das canelas.
A diversidade religiosa é parte fundamental da cultura do Brasil. Nas imagens, fiéis acendem velas durante festa de Nossa Senhora Aparecida, em Londrina (Paraná). Foto de 2019. Jovem Guarani no interior da casa de reza Taguato Arandu, na aldeia Amaral mimba roká, Biguaçu (Santa Catarina). Foto de 2016. Festa de Iemanjá na Praia do Cassino, Rio Grande (Rio Grande do Sul). Foto de 2020.

CAPÍTULO 1 As monarquias nacionais e a expansão marítima europeia

A foto reproduzida nesta página é parte de uma pintura feita em um biombo japonês no comêço do século dezessete. Na pintura, o artista representou o momento da chegada de uma caravela portuguesa ao Japão e o desembarque de um grupo de padres jesuítas e de uma série de mercadorias, incluindo africanos escravizados.

Durante as viagens marítimas que fizeram desde o século quinze, os portugueses estabeleceram contato com diferentes povos, incluindo os asiáticos.

Pintura. À esquerda, uma grande caravela com pessoas dentro e algumas descendo para um pequeno barco ao lado. O corpo d'água em que a caravela está é rodeado de terra em tom amarelo, à exceção de um canal à esquerda. Em primeiro plano e à direita, em terra firme, há vários homens vestidos com camisas compridas e calças bufantes e um com uma batina preta. Eles interagem em grupos compostos por quantidades variadas. Há também alguns animais, como pavão e cavalo, e homens carregando baús e gaiolas. No alto, à direita, alguns homens com túnicas longas, um deles com uma longa barba branca, observam a embarcação. Ao lado, outros estão sentados em cadeiras dobráveis e, no grupo que está em pé, mais abaixo, um homem negro segura um guarda-sol para proteger um homem branco.
Detalhe de pintura produzida por kanô náizen em biombo Namban, século dezessete.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Descreva elementos da imagem que são característicos dos continentes asiático, europeu e africano.
  2. Identifique no texto dois interesses dos portugueses na Ásia.
  3. Em sua opinião, que rota os portugueses percorreram para chegar ao Japão?

As transformações na Europa medieval

No 6º ano, você estudou as mudanças que ocorreram na Europa durante a Idade Média. De modo geral, do século onze ao catorze, as trocas comerciais se intensificaram, entre outros motivos, por causa do aumento dos contatos entre Ocidente e Oriente.

Esse processo de retomada comercial foi acompanhado pela formação e pela revitalização de cidades. Tudo isso favoreceu o crescimento da burguesia, grupo social voltado ao comércio e às demais atividades urbanas. Muitos burgueses enriqueceram e ampliaram seus negócios integrando-se a rotas e mercados de longa distância.

Ao mesmo tempo que ocorria esse processo, em algumas regiões europeias, os reis foram ficando cada vez menos poderosos. Havia duques e outros nobres com mais poder que o monarca.

A existência desses nobres poderosos atrapalhava as atividades comerciais, pois cada um cobrava seu imposto e podia cunharglossário a própria moeda no local que dominava. Por isso, a burguesia e outros grupos ligados ao comércio passaram a defender a padronização de pesos, de medidas, de impostos e do dinheiro.

Assim, esses grupos incentivaram os reis a disputar o poder com os nobres. A burguesia apoiou os monarcas porque desejava a ampliação de suas atividades. Já parte da nobreza e do clero, ao se submeter à autoridade real, manteve seus privilégios sociais e se beneficiou com a coleta de impostos.

Fotografia. Em primeiro plano, um grande pátio com calçamento de pedra com pessoas andando e, no centro, um grande obelisco com uma cruz na ponta. Ao fundo, à esquerda, pessoas em frente a uma catedral com uma abóbada no meio. À direita, uma estrutura composta de colunas e, ao fundo, prédios baixos com várias janelas.
Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano. Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Praça de São Pedro é a maior da Cidade do Vaticano. Nela se localiza a séde da Igreja Católica. Na Idade Média, a Igreja dominava extensos territórios na Europa Ocidental. Esse domínio contribuiu para a fragmentação política que marcou o período.

O processo de centralização política na Europa

O processo de centralização política não ocorreu da mesma maneira e ao mesmo tempo em todas as partes da Europa. Os primeiros sinais desse processo ocorreram entre os séculos doze e quinze em reinos como Portugal, Espanha e, em menor medida, Inglaterra e França.

Nesses locais, formaram-se as chamadas monarquias nacionais. Nelas, o rei concentrava cada vez mais poderes.

Para dominar todas as partes do reino, esses monarcas contrataram funcionários encarregados de funções administrativas, além de exércitos compostos de nobres aliados e/ou de mercenários.

Nas monarquias daquela época, o rei era o Estado. Ser português era ser vassalo do rei de Portugal, por exemplo. Se ele morresse ou fosse derrotado, seu reino podia ser incorporado por outro.

O processo de expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica

Desde o início do século oito a Península Ibérica havia sido ocupada por muçulmanos. Adotando uma política de relativa tolerância religiosa, os governos de Ál andaluz, nome árabe para a península, permitiram a presença de cristãos e judeus no território, com algumas restrições e mediante o pagamento de impostos.

Naquele período, os governos islâmicos promoveram o desenvolvimento cultural da região. Em Córdoba, por exemplo, havia uma biblioteca que chegou a abrigar milhares de obras traduzidas do persa e do grego para o árabe.

Península Ibérica: conquista cristã – séculos dez-quinze

Mapa. Península Ibérica: conquista cristã. Séculos dez a quinze.
Sequência de três mapas da Península Ibérica com configurações diferentes.
Legenda:
Seta vermelha: Avanços de tropas cristãs.
Ponte preta: Territórios unificados pelo matrimônio.
O primeiro mapa refere-se ao século dez. O terço superior da península está dividido em cinco regiões. Da esquerda para a direita são elas: Leão e Castela, em rosa; Navarra, em verde-escuro; Aragão, em laranja; e Condado de Barcelona, em roxo. Entre Leão e Castela há um símbolo semelhante a uma ponte para indicar que esses territórios foram unificados pelo matrimônio. Os dois terços inferiores estão em verde e demarcam o Califado de Córdoba. Setas vermelhas partindo de Leão, Castela e Aragão para o califado indicam os avanços de tropas cristãs.
O segundo mapa refere-se ao século doze. Nele, as cinco regiões anteriores estão maiores no sentido norte-sul, chegando até a metade da península. São elas, da esquerda para a direita: Leão e Castela, ambas em rosa; Navarra, em verde-escuro; Aragão, em laranja; e Condado de Barcelona, em roxo. Entre Aragão e o Condado de Barcelona há um símbolo semelhante a uma ponte para indicar que esses territórios foram unificados pelo matrimônio. O Reino de Leão está um pouco menor e aparece um novo reino do lado oeste da península, na parte central: Portugal, representado em lilás. A metade inferior em verde da península corresponde ao Império Almorávida. Setas vermelhas partindo de Leão, Castela e Aragão para o Império Almorávida indicam os avanços de tropas cristãs.
O terceiro mapa refere-se ao século quinze. Nele, Portugal, em lilás, avançou para  sul, ocupando toda a faixa centro-sul próxima ao litoral; o território de Leão foi incorporado ao de Castela, em rosa, que também avançou. Uma faixa ao sul, mais próxima do continente africano, representa o território de Granada, também em rosa; Navarra, ao norte e em verde-escuro, está com território menor em relação aos outros dois mapas; Aragão, em laranja, incorporou o Condado de Barcelona e toda a região leste da península. Entre Castela e Aragão há um símbolo semelhante a uma ponte para indicar que esses territórios foram unificados pelo matrimônio. Setas vermelhas partindo de Castela em direção à Granada, de Granada em direção ao norte da África, e de Aragão em direção a uma ilha à leste da península indicam os avanços de tropas cristãs.
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 430 quilômetros.

FONTE: ríguelmân, W.; quínder, H. Atlas historique. Paris: Perrin, 1992. página 182.

Fotografia. Vista de uma cidade com construções de pedra em tons alaranjados e marrons. Em primeiro plano, uma torre e outras construções menores com telhados marrom escuros e muitas janelas. Em segundo plano, uma construção retangular, com telhado marrom claro e várias janelas, e uma torre alta à esquerda. Há árvores em algumas áreas da imagem, entre as construções. Ao fundo, uma região montanhosa parcialmente encoberta por nuvens brancas.
Palácio de Alhambra, em Granada, Espanha. Foto de 2021.
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Imagens em contexto!

O predomínio islâmico na Península Ibérica durou até o século quinze. O Palácio de Alhambra, em Granada, mostrado na imagem, foi construído no século treze.

Apesar da riqueza cultural e material, a partir do século doze disputas internas fragmentaram a unidade política islâmica. Formaram-se, então, pequenos principados chamados taifas, que constantemente entravam em conflito. Isso contribuiu para enfraquecer o domínio islâmico sobre a península.

Os cristãos intercalaram momentos de conflito com períodos de convivência relativamente pacífica com os muçulmanos que dominavam a Península Ibérica. Eles formaram reinos ao norte da península, como o de Navarra, o de Castela, o de Leão e o de Aragão.

Por volta do século onze, esses reinos iniciaram a Reconquista – termo usado tradicionalmente para nomear o lento processo de expansão cristã em direção ao sul da península, que era dominado pelos muçulmanos.

A formação da monarquia portuguesa

Em 1096, Afonso sexto, monarca dos reinos de Leão e Castela, entregou o Condado Portucalense (ou Portucale) a Henrique de Borgonha, que o auxiliou nas guerras contra os muçulmanos. Em 1139, Afonso Henriques, filho de Henrique, declarou o condado independente de Castela, fundando o Reino de Portugal e iniciando a primeira dinastia real portuguesa: a de Borgonha.

As campanhas contra os islâmicos foram empreendidas até o século treze, ampliando o território de Portugal com a anexação dos territórios ao sul, como o do Algarve.

Em 1383, houve uma crise para a sucessão do rei. Iniciou­‑se, então, um conflito entre os que queriam que Portugal voltasse a se unir com Castela e os que desejavam a manutenção da independência portuguesa. Esse confronto foi denominado Revolução de Avis.

O conflito terminou em 1385, com a vitória dos partidários da independência de Portugal. Então, dom João se tornou rei e iniciou a dinastia de Avis. Ele manteve a independência do reino ao vencer Castela em alguns conflitos. Essa dinastia se manteve no poder até 1580, consolidando a centralização política portuguesa.

Iluminura. À frente, homens com armaduras azuis com detalhes vermelhos ou dourado seguram lanças, espadas e escudos e lutam entre si. No grupo que está à esquerda, há um homem de barba com chapéu dourado e manto azul montado em um cavalo sobre o qual há um tecido com retângulos vermelhos e brancos alternados, sendo que nestes há o desenho de um leão vermelho com as patas dianteiras levantadas. No grupo da direita, um homem com armadura azul está montado em um cavalo que veste um tecido com quadrados brancos de moldura vermelha e uma cruz azul dentro deles. No centro, alguns homens com armaduras estão caídos. Ao fundo, região montanhosa com um castelo, à direita, e algumas árvores e uma construção com torres, à esquerda.
Iluminura do século quinze representando cena da Batalha de Aljubarrota.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na iluminuraglossário , o exército de Castela liderado por João primeiro foi representado à esquerda; à direita, estava o exército português sob o comando de dom João, mestre de Avis. A Batalha de Aljubarrota, ocorrida em 1385, foi decisiva para a história portuguesa ao solucionar a disputa com o Reino de Leão e Castela.

A expansão ultramarina portuguesa

Reduzido durante os primeiros séculos da Idade Média, o contato dos europeus com o Oriente voltou a se intensificar a partir do século onze, graças ao comércio de especiariasglossário , açúcar, seda, pedras preciosas, tintura para tecidos etcétera

De modo geral, o comércio desses produtos de luxo era realizado por muçulmanos que os transportavam do Oriente por rotas marítimas e terrestres até os portos do Mar Mediterrâneo.

Mercadores de cidades da Península Itálica, como Veneza e Gênova, praticamente monopolizavam a revenda das especiarias e de outros produtos orientais e africanos para o restante da Europa, obtendo lucros elevados.

Com as crises de fome, peste e guerras que ocorreram na Europa Ocidental no século catorze, os caminhos tradicionais que ligavam as áreas comerciais do sul às do norte do continente passaram a ser substituídos por rotas marítimas pela costa atlântica, o que favoreceu Portugal. Assim, cidades como Lisboa e Porto se desenvolveram com a atividade mercantil, e a Coroa portuguesa lucrou com a cobrança de impostos sobre o comércio.

Com a centralização portuguesa, a dinastia de Avis, ligada à burguesia mercantil, buscou a expansão das atividades comerciais inserindo Portugal nessas redes de comércio.

A expansão atendia a vários interesses da sociedade e da monarquia portuguesa. Para a monarquia, significava a ampliação das riquezas e do poder do reino. A burguesia enxergava nela o aumento dos lucros e a possibilidade de novos negócios. Para a nobreza, era a chance de conquistar terras, títulos e prestígio. Por fim, a Igreja Católica, ao lado da Coroa portuguesa, via o processo como oportunidade para expandir a fé cristã.

Fotografia. Em primeiro plano, uma construção baixa, branca e com telhado alaranjado, na qual destaca-se uma torre, está no topo de uma grande formação rochosa plana e com declive muito acentuado, à beira do mar. Ao fundo, a continuação das extensas rochas com topo plano encobertas por grama verde.
Cabo de São Vicente, em Sagres, Portugal. Foto de 2019.
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O Cabo de São Vicente (na imagem) é o ponto mais a sudoeste do continente europeu. Lá é possível ver os navios que transitam entre o Mar Mediterrâneo e o norte da África. Os portugueses conseguiram navegar mesmo em mares revoltos e tempestuosos. Para conseguir isso, eles criaram a Escola de Sagres. O nome, no entanto, pode causar confusão: não se tratava propriamente de uma escola, mas de uma política que uniu esforços da Coroa portuguesa e de comerciantes para desenvolver conhecimentos náuticos com base nas experiências e nos saberes de navegadores, cartógrafos, geógrafos e astrônomos.

Rumo ao Atlântico

Em 1415, os portugueses conquistaram Ceuta, uma cidade muçulmana no norte da África. Por essa cidade, as mercadorias do interior africano e do Oriente chegavam ao Mediterrâneo.

De Ceuta, os portugueses avançaram pelo Oceano Atlântico em direção ao sul, ocupando ilhas e pontos do litoral africano. Em ilhas como Madeira, Açores e Cabo Verde, eles iniciaram as primeiras experiências de cultivo de cana e produção de açúcar. A prática adquirida nessas ilhas foi depois implementada na América.

Na costa da África, os portugueses instalaram feitorias, que eram grandes armazéns para guardar mercadorias, quase sempre fortificados. Essas feitorias garantiam aos portugueses acesso ao lucrativo mercado de escravizados e de metais preciosos. Nas feitorias, eles se protegiam e reabasteciam suas embarcações, além de manter con­tato com as populações africanas com as quais negociavam.

Em 1434, os portugueses conseguiram ultrapassar o Cabo Boja­dor, localizado no território correspondente à parte ocidental do Deserto do Saara. Esse feito representou o início da superação do medo dos oceanos. Esse medo era baseado na ideia de que os oceanos eram cheios de monstros marinhos e de que, no Oceano Atlântico, havia águas ferventes perto do Equador e pedras-ímã que atraíam navios para o fundo do mar.

Esses perigos eram imaginários, mas outros eram reais nas navegações: por causa da falta de água potável e alimentos frescos nas embarcações, de doenças e de naufrágios, cêrca de metade dos marinheiros não retornava das viagens.

Fotografia. Destaque para uma construção branca com muitas janelas e telhado alaranjado protegida por uma muralha branca. Em primeiro plano, vegetação rasteira, terra batida e uma pessoa de camiseta vermelha e de costas. Ao fundo, atrás da construção, três coqueiros.
Fortaleza de São Jorge da Mina, em Elmina, Gana. Foto de 2019.
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As feitorias serviam para garantir a presença dos portugueses nas regiões e proteger seus interesses comerciais, sem propriamente ocupar ou colonizar o território. A Fortaleza de São Jorge da Mina foi construída como uma feitoria no final do século quinze para assegurar a soberania e o comércio de Portugal no Golfo da Guiné. Com o tempo, tornou-se o principal estabelecimento português na costa africana, onde se comercializavam ouro e, principalmente, escravizados.

O périplo africano: das Índias à América

Apesar das dificuldades encontradas nas navegações, na segunda metade do século quinze o projeto português de chegar aos locais produtores de especiarias por meio de rotas alternativas foi ampliado. Dessa fórma, Portugal deu início ao projeto do périploglossário africano: contornar o continente africano pelo sul a fim de chegar aos ricos mercados orientais.

O extremo sul do continente africano, então chamado Cabo das Tormentas, foi contornado pela primeira vez em 1488, pela esquadra comandada por Bartolomeu Dias.

Com o sucesso da expedição de Dias, o local teve o nome alterado para Cabo da Boa Esperança, significando a possibilidade real de atingir o Oriente circundando a África.

Os conhecimentos obtidos na viagem de Bartolomeu Dias foram aproveitados depois por Vasco da Gama, comandante da expedição que finalmente alcançou o Oriente.

Fotografia. Ângulo lateral de um monumento feito de pedra em tons de bege em uma praça à beira-mar. A construção representa uma grande caravela com diversas pessoas enfileiradas, algumas com chapéus e mantos, outras com roupas religiosas, como se estivessem subindo em diagonal na direção da proa da embarcação. No alto da caravela, há dois escudos com uma cruz no centro. À frente do monumento, há uma escultura em formato de um globo e em tom cinza escuro. Na praça, próximo ao monumento, algumas pessoas circulam.
Monumento aos descobrimentos, em Lisboa, Portugal. Foto de 2020.
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Em Lisboa, às margens do Rio Tejo, de onde saíam as embarcações de Portugal em direção ao Atlântico, foi erguido um monumento no ano de 1960 em homenagem aos navegantes.

A obra, que você vê na imagem, tem o formato de uma caravela, embarcação mais utilizada pelos portugueses durante o período da expansão marítima. Na proaglossário da caravela está a estátua do rei dom Henrique comandando seus navegadores, pilotos, cosmógrafos, matemáticos, escritores, cronistas e pintores.

Diversos personagens importantes da época estão ali representados. Um deles, portando um manuscrito, é o poeta Luís de Camões, que, no poema épicoglossário Os lusíadas, narrou as glórias do povo português durante o período de expansão marítima.

Dica

LIVRO

Os lusíadas, de Fido Nesti. São Paulo: Peirópolis, 2006.

Esse livro, em formato de quadrinhos, contém trechos adaptados da mais importante obra épica da língua portuguesa, publicada por Luís de Camões em 1572: Os lusíadas.

Na Índia, o contato com os muçulmanos e os hindus foi violento em certas ocasiões, mas os portugueses conseguiram se fixar em Goa, onde construíram feitorias, planejaram rotas e estabeleceram acordos comerciais.

Além de inaugurar uma rota comercial entre o Ocidente e o Oriente sem passar pelo Mar Mediterrâneo, Vasco da Gama retornou a Portugal com seus navios carregados de especiarias.

Os elevados lucros adquiridos nesse comércio com o Oriente ajudaram a transformar Portugal na principal fôrça marítimo-comercial da Europa. Por causa disso, dom Manuel, rei português, decidiu enviar outra expedição ao Oriente.

Uma grande esquadra partiu de Portugal em 1500, sob o comando de Pedro Álvares Cabral. Por se afastar muito do litoral africano, a expedição acabou chegando à América, precisamente ao sul do território correspondente ao do atual estado da Bahia. Após curta permanência no local, os navegadores retomaram a rota para o Oriente, objetivo de sua expedição.

Viagens marítimas – séculos quinze-dezesseis

Mapa. Viagens marítimas. Séculos quinze e dezesseis. Apresenta o planisfério com a indicação dos continentes.
Legenda:
Seta rosa: Rota de Bartolomeu Dias (1487 e 1488).
Seta marrom: Rota de Cristóvão Colombo (1492).
Seta vermelha: Rota de Vasco da Gama (1497 e 1498).
Seta verde: Rota de Pedro Álvares Cabral (1500).
Seta azul: Rota de Fernão de Magalhães (1519).
No mapa, a demarcação da Linha do Tratado de Tordesilhas (1494) vai, no sentido norte-sul, do oeste da atual Groenlândia, passa pelo Oceano Atlântico e cruza o território que atualmente corresponde ao Brasil. 
A rota de Bartolomeu Dias (1487 e 1488): parte de Lisboa, contorna toda costa ocidental africana, cruza o Cabo das Tormentas (ou Cabo da Boa Esperança) até a região da atual cidade de Maputo e de lá retorna.
A rota de Cristóvão Colombo (1492): sai do norte de Portugal, vai até as ilhas da América Central, cruzando o Oceano Atlântico a oeste, e volta para Lisboa. 
A rota de Vasco da Gama (1497 e 1498): sai de Lisboa, contorna toda costa ocidental africana até a ilha de Fernando Pó, segue na direção sul, cruza o Cabo das Tormentas (ou Cabo da Boa Esperança), passa por Moçambique, Melinde, atravessa o Oceano Índico até a região da ilha de Socotra e retorna.
A rota de Pedro Álvares Cabral (1500): sai de Lisboa, atravessa o Oceano Atlântico na direção sudoeste até Porto Seguro, na costa oriental da América do Sul, e de lá segue pelo Atlântico ao Oceano Índico, passando a leste de Madagascar até Calicute. Na volta, a rota vai até a cidade de Melinde, na costa oriental da África, e segue contornando esse continente até chegar à Lisboa.
A rota de Fernão de Magalhães (1519): sai do sul da Espanha, atravessa o Oceano Atlântico em direção sudoeste, contorna a costa da América do Sul, cruza o Estreito de Magalhães e segue pelo Oceano Pacífico, passando pelas Filipinas e ilhas Molucas, na Ásia, cruza o Oceano Índico e vai até a região da atual cidade de Maputo, de onde segue para o sul, atravessa o Cabo das Tormentas (ou da Boa Esperança) e segue na direção norte até a Europa. No canto inferior esquerdo do planisfério, há um mapa em detalhe que mostra o Extremo Sul do continente americano e o Estreito de Magalhães com a rota que Fernão de Magalhães fez naquele trecho.
Na parte inferior central, a rosa dos ventos e escala de 0 a 2.340 quilômetros.

FONTES: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 112-113; párquer, G. Atlas Verbo de história universal. Lisboa: Times; São Paulo: Verbo, 1997. página 74-75.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Por que a fragmentação política, que caracterizou os reinos da Europa Ocidental durante a Idade Média, dificultava as atividades comerciais?
  2. Descreva a formação das monarquias nacionais europeias na Idade Moderna.
  3. Qual foi a importância do périplo africano para a expansão marítima portuguesa?
  4. De que forma os portugueses realizaram o projeto do périplo africano?

A formação da monarquia espanhola e sua expansão ultramarina

A formação da monarquia espanhola está relacionada ao mesmo processo de conquista dos territórios muçulmanos do Al-Andalus que deu origem a Portugal. Os reinos cristãos, como você estudou, investiram contra os muçulmanos na chamada Reconquista.

Em 1469, os reinos católicos de Castela e Aragão foram unificados por meio do casamento entre Fernando segundo, de Aragão, e Isabel primeiro, de Castela. Eles fundaram, então, o Reino da Espanha.

No século treze apenas Granada, localizada ao sul da península, continuava sob domínio muçulmano e, em 1492, foi conquistada pelos reis católicos.

O ano de 1492 marcou o início de profundas transformações na Espanha. Com a derrota dos muçulmanos, a política de tolerância entre as três religiões terminou: os judeus e os muçulmanos foram expulsos do reino. Os que quiseram permanecer foram obrigados a se converter ao cristianismo. Além da unidade territorial, os monarcas espanhóis desejavam a unidade da fé.

Além disso, eles adotaram o castelhano, língua falada em Castela, como idioma oficial da Espanha. Em 1492, foi publicada na Espanha a gramática do castelhano, a primeira de uma língua europeia moderna.

Ao lado de Portugal, a Espanha também foi pioneira na expansão marítima. Em busca de especiarias, riquezas e difusão do cristianismo, os espanhóis começaram sua expansão seguindo o exemplo português. Ainda no ano de 1492, Isabel e Fernando autorizaram a viagem do navegador genovês Cristóvão Colombo ao Oriente.

Gravura. Em primeiro plano, do lado direito, uma mulher com vestido longo vermelho e um homem com uma túnica curta azul de mangas bufantes amarelas e uma calça amarela justa, que tem  uma espada na cintura e um cetro na mão. Ao lado do casal, afastando-se, um homem com camisa amarela e calça vermelha bufante na coxa e justa na perna, com espada na cintura, chapéu na mão e botas de cano alto. Atrás deles, dois homens seguram lanças e estão na entrada de um palácio, no qual três homens conversam diante de uma mesa. Em segundo plano, do lado esquerdo, quatro homens também com roupas amarelas e vermelhas estão indo na direção de um porto, ao fundo, dois montados em cavalos e dois a pé. No porto, à esquerda, há uma cidade com casas pequenas e uma torre, cercada por uma muralha, depois da qual, à beira-mar, homens com roupas azuis e vermelhas e usando espadas embarcam em pequenos barcos. No mar, há três caravelas.
Partida de Cristóvão Colombo de Palos, na Espanha, em 3 de agosto de 1492, gravura de TEODOR DE BRÁI, 1594.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na gravura, os reis católicos da Espanha, Fernando segundo de Aragão e Isabel primeiro de Castela, aparecem no canto direito da imagem, mas eles não estiveram presentes no porto na partida de Colombo. Essa representação foi uma fórma de o artista simbolizar o apoio dado por eles à expedição.

A chegada à América

Cristóvão Colombo, assim como tantos outros navegadores do período, tinha o objetivo de chegar ao Oriente. A rota que ele queria seguir, porém, era diferente da usada pelos portugueses. Em vez de contornar a África, Colombo pretendia chegar ao Oriente pelo Oceano Atlântico.

Naquela época, já se sabia que o formato da Terra era esférico. Colombo conhecia cálculos da Antiguidade que projetavam o tamanho do planeta e, baseando-se neles, acreditou que chegaria ao Oriente em poucas semanas navegando em direção ao Ocidente.

Em busca de financiamento para sua expedição, Colombo procurou os portugueses, que lhe negaram apoio porque estavam comprometidos com o projeto do périplo africano para chegar às Índias. Diante da recusa, ele procurou os espanhóis Isabel e Fernando, que, em 1492, decidiram apoiar seu projeto. Assim, com o dinheiro de investidores e banqueiros, Colombo armou uma pequena esquadra de três navios.

O apoio dos espanhóis foi bem calculado: se o genovês fosse bem-sucedido, a Espanha conseguiria rivalizar com os portugueses sem se indispor com eles, uma vez que a rota pretendida não passava pela África; se a expedição fracassasse, as perdas seriam mínimas, pois o investimento tinha sido baixo.

Em outubro de 1492, os participantes da expedição avistaram terra firme depois de uma viagem muito mais longa que o previsto. Colombo, então, acreditou ter alcançado seu objetivo de chegar ao Oriente.

Com o passar do tempo e depois da realização de outras expedições, alguns europeus começaram a pensar que as terras encontradas por Colombo eram um continente separado da Ásia. Um dos primeiros a afirmar isso foi o navegador Américo Vespúcio, que em seus escritos chamou essas terras de Novo Mundoglossário . Em homenagem a ele, o continente foi batizado de América.

Pintura. Retrato de um homem branco com cabelos curtos e castanhos cobrindo as orelhas. Ele usa um chapéu preto de abas dobradas, uma camisa branca e um casaco marrom escuro bufante. A sua mão esquerda está sobre o peito.
Cristóvão Colombo, pintura atribuída a sebastiáno del piômbo, 1519.

Versões em diálogo

Uma das consequências da chegada de europeus à América foi o encontro com povos indígenas, um dos fatos mais relatados pelos exploradores europeus.

As primeiras descrições demonstram as dificuldades dos europeus em compreender aquelas populações. Eles se perguntavam, por exemplo, se os indígenas eram humanos, se tinham alma e se podiam ser convertidos ao cristianismo. Também se questionaram se era justo escravizar os indígenas, que tinham práticas e costumes muito diferentes dos conhecidos pelos cristãos.

Os dois relatos a seguir foram produzidos no início dos contatos entre os europeus e os povos indígenas americanos. O primeiro é parte do diário escrito por Cristóvão Colombo em sua primeira viagem, em 1492. O segundo é a carta múndus nóvus (“Novo Mundo”), escrita por volta de 1501 e atribuída a Américo Vespúcio.

Leia trechos desses relatos e depois faça o que se pede.

TEXTO 1

reticências porque nos demonstraram grande amizade, pois percebi que eram pessoas que melhor se entregariam e converteriam à nossa fé pelo amor e não pela fórça, dei a algumas delas uns gorros coloridos e umas miçangas que puseram no pescoço, além de outras coisas de pouco valor, o que lhes causou grande prazer e ficaram tão nossos amigos que era uma maravilha. Depois vieram nadando até os barcos dos navios onde estávamos, trazendo papagaios e fio de algodão em novelos e lanças e muitas outras coisas, que trocamos por coisas que tínhamos conosco, como miçangas e guizos. Enfim, tudo aceitavam e davam do que tinham com a maior boa vontade. Mas me pareceu que era gente que não possuía praticamente nada. Andavam nus como a mãe lhes deu à luz; reticências. Devem ser bons serviçais e habilidosos, pois noto que repetem logo o que a gente diz e creio que depressa se fariam cristãos; me pareceu que não tinham nenhuma religião.”

COLOMBO, C. Diários da descoberta da América: as quatro viagens e o testamento. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 1998. página 44-45.

Ilustração. Quatro homens em primeiro plano estão em uma praia. À esquerda, dois homens brancos com barba, vestidos com peças laranja e bege e com botas estão de frente para dois homens indígenas, à direita, que estão nus e segurando lanças. Ao fundo, o mar com duas caravelas, à esquerda, e rocha e vegetação, à direita.
Ilustração atual representando o encontro entre europeus e indígenas americanos elaborada com base nas gravuras de TEODOR DE BRÁI, produzidas no século dezesseis.

TEXTO 2

reticências Encontramos naquelas regiões tanta multidão de gente quanto ninguém poderá enumerar, reticências gente, digo, mansa e tratável. Todos, de ambos os sexos, andam nus, sem cobrir nenhuma parte do corpo; como saem do ventre materno, assim vão até a morte. reticências Não têm panos nem de lã, nem de linho, nem de seda porque não precisam deles. Nem têm bens próprios, mas todas as coisas são comuns. Vivem ao mesmo tempo sem rei e sem comando reticências. Além do mais, não têm nenhum templo, não têm nenhuma lei, nem são idólatras. reticências Dentre as carnes, a humana é para eles alimento comum. Também estive 27 dias em certa cidade onde vi carne humana salgada suspensa nas vigas das casas, como é de costume entre nós pendurar toucinho e carne suína. Digo mais: eles se admiram de não comermos nossos inimigos e de não usarmos a carne deles nos alimentos, a qual, dizem, é saborosíssima. reticências Ali não há nenhum gênero de metais, exceto ouro.”

VESPÚCIO, A. Novo mundo: as cartas que batizaram a América. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2013. página 6-9.

Ilustração. Seis pessoas estão em uma praia. À esquerda, dois homens brancos, um está com camisa verde e calça curta e calçados marrons e segura um tambor. O outro veste camisa branca e calça e botas marrons, está com espada na cintura e segura um saco nas mãos, como se estivesse oferecendo-o aos demais. À direita, quatro pessoas indígenas nuas, sendo dois homens adultos. Um deles segura um arco e o outro, uma flecha, que estendem na direção dos homens brancos. Atrás deles, duas crianças indígenas observam. Ao fundo, o mar à esquerda e a base de uma grande rocha à direita.
Ilustração atual representando a troca de objetos entre europeus e indígenas americanos elaborada com base nas gravuras de TEODOR DE BRÁI, produzidas no século dezesseis.

Responda no caderno.

  1. Cite elementos comuns na descrição dos indígenas nos dois textos.
  2. Os autores dos textos discordam em algum ponto ao se referir aos indígenas? Justifique.
  3. De modo geral, qual é a avaliação desses autores sobre os indígenas? Ela é positiva ou negativa? Explique.
  4. Em sua opinião, que aspecto da cultura indígena mais chamou a atenção de cada autor? Justifique.

Os tratados de divisão do mundo

A notícia do sucesso de Cristóvão Colombo causou inquietação em Portugal. Apesar de pioneiros, no momento da viagem do genovês, os portugueses ainda não tinham atingido o objetivo de chegar às Índias. Vasco da Gama só chegou a Calicute anos depois e, vale lembrar, Colombo acreditava ter chegado às Índias.

Para evitar conflitos entre Portugal e Espanha, em 1493 o papa Alexandre sexto elaborou um documento, que ficou conhecido como Bula ínter coetéra, dividindo entre os dois reinos ibéricos as rotas e as terras recém-descobertas.

De acordo com o texto, deveria ser estabelecida uma linha imaginária 100 léguasglossário  a oeste das ilhas de Cabo Verde: os territórios a leste da linha caberiam a Portugal e os que ficassem a oeste seriam da Espanha.

Sentindo-se prejudicado pela divisão, o rei de Portugal recusou o acordo. Em 1494, os representantes dos dois reinos ibéricos assinaram o Tratado de Tordesilhas, que, basicamente, repetiu a ideia da bula, apenas ampliando para 370 léguas a distância entre a linha imaginária e Cabo Verde. Assim, portugueses e espanhóis dividiram o mundo entre si, com o apoio da Igreja.

A assinatura do tratado desagradou aos demais reinos europeus, que não viram legitimidade nessa ação. Cada monarquia passou a reivindicar a posse sobre territórios com base em uma lógica, não havendo critérios universais compartilhados e aceitos por todas.

Domínios portugueses e espanhóis – séculos quinze-dezesseis

Mapa. Domínios portugueses e espanhóis. Séculos quinze e dezesseis. 
Apresenta grande parte do continente americano, à exceção dos extremos norte e sul, o continente africano, o centro-sul da Europa e o oeste da Ásia, com a demarcação da Linha do Tratado de Tordesilhas (1494). 
Legenda:
Rosa: Possessões espanholas.
Roxo: Possessões portuguesas.
No mapa, do lado oeste da Linha do Tratado de Tordesilhas, uma seta rosa voltada para a esquerda indica as possessões espanholas; do lado leste, uma seta roxa voltada para a direita indica as possessões portuguesas. 
As possessões espanholas abrangem: a Espanha (incluindo a cidade de Sevilha), na Europa; as Ilhas Canárias, na África; a atual região do México e o sul da atual Flórida, na América do Norte; a região da América Central; e a região norte e oeste da América do Sul que vai do atual território da Guiana Francesa até o Chile e metade da Argentina, excluindo as terras que hoje pertencem ao Brasil e o sul do continente.
As possessões portuguesas abrangem: Portugal (incluindo a cidade de Lisboa), as Ilhas Açores e a Ilha da Madeira, na Europa; as Ilhas de Cabo Verde, Ilha Fernando Pó, Ilha Príncipe, Ilha de São Tomé, Ilha Ano Bom, Ilha Ascensão, Ilha Santa Helena, Ilha Tristão da Cunha, na África, além do litoral leste da região do Congo (atual Angola) e o litoral oeste do continente africano (da atual região de Moçambique até a região da atual Somália, no Chifre da África); e todo o atual litoral brasileiro, na América do Sul.
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 1.670 quilômetros.

FONTE: párquer, G. Atlas Verbo de história universal. Lisboa: Verbo, 1996. página 90.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise o mapa e, com base nele, explique por que não é possível afirmar que o Tratado de Tordesilhas foi assinado apenas com o objetivo de dividir o território correspondente ao do Brasil atual entre Portugal e Espanha.

Circulação de pessoas e saberes na Europa

A expansão marítima ocasionou uma lenta, mas inegável, transformação na Europa. Muitas notícias de lugares e povos distantes chegavam ao continente. Cartas, relatórios, testemunhos e mapas apresentavam lugares desconhecidos pelos europeus.

A década de 1490 foi decisiva para a expansão marítima europeia. Cristóvão Colombo voltou de sua primeira viagem com indígenas e exemplares de animais e vegetais nunca vistos na Europa. O pouco ouro que comercializou com os nativos da América manteve viva a esperança de ricas minas de metais preciosos, e os monarcas espanhóis rapidamente organizaram outras expedições.

Lideradas por outros navegadores a serviço da Coroa espanhola, outras expedições percorreram o litoral Atlântico da América, do Caribe até regiões bem ao sul do Equador.

Em 1496, os ingleses financiaram a viagem do navegador italiano João Caboto, que conseguiu estabelecer uma rota pelo Atlântico Norte até a região de Terra Nova, correspondente ao atual Canadá. Vasco da Gama chegou ao território correspondente ao da Índia atual em 1498.

Dessa maneira, eles criaram rotas marítimas comerciais diretas e de longa distância entre Europa, África, América e Ásia. O contato com os povos desses locais, aos poucos, alargou os horizontes culturais dos europeus.

As experiências proporcionadas pela chegada a terras fóra da Europa, associadas aos avanços científicos e tecnológicos que já ocorriam no continente, contribuíram para as transformações que marcaram o início da Idade Moderna.

Ilustração. Destaque para um caravela representada em tons de marrom, preto, laranja e amarelo, com grandes velas abertas e uma pequena cabine em primeiro plano. Ao fundo, do lado esquerdo, um homem está dentro de uma embarcação pequena, segurando um remo. Na parte de cima da imagem, sobre a caravela, lê-se, em latim: “Oceanica Claffis”.
Representação da Caravela Santa Maria, usada por Cristóvão Colombo em sua viagem de 1492, em ilustração da obra de ínsulis in máre índico super inventos, século quinze.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O desenvolvimento de tecnologias para a produção de embarcações tornou possível a travessia de oceanos e o estabelecimento do contato entre culturas de lugares muito distantes uns dos outros.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Descreva como as guerras empreendidas pelos cristãos contra os muçulmanos na Península Ibérica contribuíram para a formação das monarquias de Portugal e Espanha.
  2. De que modo Portugal e Espanha dividiram os territórios e as rotas criadas durante a expansão marítima?
  3. Como a divisão do mundo entre os ibéricos foi recebida pelos outros reinos europeus?
  4. De que modo a expansão marítima iniciada por Portugal e Espanha transformou o continente europeu?

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. As afirmativas a seguir tratam da expansão marítima dos reinos europeus. No caderno, identifique as verdadeiras e as falsas.
    1. Os objetivos dos portugueses e espanhóis para iniciar a expansão marítima eram apenas econômicos.
    2. A centralização do poder político e a formação das monarquias nacionais atrasaram o processo de expansão marítima europeia.
    3. O acesso às mercadorias orientais, co­mo as especiarias, impulsionou a procura por rotas alternativas ao Mar Mediterrâneo.
    4. A burguesia entendeu a expansão marítima como uma oportunidade de ampliar seus negócios, mas outros grupos não se interessaram por esse empreendimento.
    5. O aprimoramento de instrumentos e a incorporação de conhecimentos de culturas que não eram europeias foram essenciais para o sucesso da expansão marítima.
  2. No caderno, elabore um quadro sobre os processos de expansão marítima de Portugal e da Espanha. Crie duas colunas – uma para cada país – e quatro linhas. Preencha as linhas com as seguintes informações sobre esses países:
    • o início das viagens;
    • as principais realizações;
    • os objetivos;
    • as rotas escolhidas.

Aprofundando

3. Os versos reproduzidos a seguir fazem parte do poema Os lusíadas, de Luís de Camões, sobre a viagem de Vasco da Gama ao Oriente. A obra, que mistura elementos mitológicos e reais, revela que Camões percebia a navegação como uma síntese da alma lusitana (portuguesa).

“E também as memórias gloriosas

Daqueles Reis que foram dilatandoglossário

A Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando,

E aqueles, que por obras valerosasglossário

Se vão da lei da Morte libertando,

Cantando espalharei por toda parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cessemglossário do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

Cale-se de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Neptuno e Marte obedeceram.

Cesse tudo o que a Musaglossário antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevantaglossário .”

CAMÕES, L. V. de. Os lusíadas. Canto um, 2-3. Disponível em: https://oeds.link/psaEzo. Acesso em: 18 janeiro 2022.

a. Segundo a primeira estrofe, o que o poeta iria “espalhar por toda a parte” com seu canto?

  1. A que se refere a afirmação do poeta, “Cesse tudo o que a Musa antiga canta” na segunda estrofe?
  2. A segunda estrofe termina com o verso: Que outro valor mais alto se alevanta. Qual comparação é estabelecida nessa estrofe? Que “obras valerosas [valorosas]” superariam as realizadas até então? Justifique sua resposta.

4. Na gravura reproduzida a seguir é representado o encontro de Cristóvão Colombo com um grupo de indígenas. Com base nos elementos presentes na imagem, explique quais eram os objetivos do navegador ao chegar à América.

Gravura. Em primeiro plano, três homens brancos com roupas bufantes, dois deles com capacetes e espadas na cintura, e o terceiro, à frente, também com espada na cintura, usa um chapéu e segura uma lança. Ao lado deles, grupo de indígenas vestindo tangas carregam objetos, como colares e um pequeno baú. Em segundo plano, à esquerda, três homens brancos fincam uma grande cruz na terra e, ao fundo, caravelas no mar e mais homens brancos desembarcando.
O desembarque de Colombo na ilha ispanióla, gravura de TEODOR DE BRÁI, 1594.

5. Analise a imagem e leia o texto a seguir. Depois, faça o que se pede.

Gravura. Em primeiro plano, à direita, uma mulher indígena de cabelos longos, nua, sentada em uma rede presa a duas árvores observa um homem branco que está em pé. Ele está à esquerda, usando um acessório na cabeça, um manto comprido e uma calça justa, todos verdes, e segurando uma haste amarela com uma cruz no topo e uma bandeira pendurada no alto em uma das mãos. Com a outra ele segura um astrolábio. No canto inferior esquerdo, aparece a ponta de um pequeno barco e, ao fundo, também à esquerda, uma caravela no mar e, à direita, indígenas estão em volta de uma fogueira, enquanto um animal caminha em meio às árvores. No interior da fogueira, é possível perceber pernas humanas, em referência ao ritual de antropofagia.
Vespúcio descobre a América, gravura de iân van der strát, cêrca de 1590.

“O europeu reticências está ves­tido e armado. Sua postura ereta e a gestualidade conferem-lhe glossário composturaglossário . A América está nua reticências deitada em uma rede reticências. Ao ócio da índia contrapõe-se Vespúcio reticências. Vestimenta e compostura: elementos que caracterizam aquilo que se acreditava ser indícios de civilização e da ausência da civilização. Por esta perspectiva, a imagem do português, leia-se Velho Mundo, é ‘aquela que traz a potencialidade de completar aquilo que falta’ reticências ao Novo Mundo. reticências

tátschi, F. G. Vespúcio descobre a América, de iân van der strát, dito djiováni stradáno: representação da modernidade ou do corpo do mundo? ín: vigésimo quarto SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 2007, São Leopoldo. Anais reticências. São Leopoldo, Rio Grande do Sul: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2007. página 6-7.

  1. Qual dos personagens da imagem representa a civilização? Que elementos possibilitam essa identificação?
  2. Qual dos personagens da imagem representa a barbárie? Que elementos possibilitam essa identificação?
  3. Por que o artista representou o continente americano como uma mulher? Que mensagem ele quis transmitir ao fazer essa associação?
  4. Junte-se a um colega e façam uma pesquisa de imagens que representam indígenas na atualidade. Depois, respondam: os estereótipos presentes nessa imagem de 1590 sobre os europeus e os indígenas ainda persistem de alguma fórma? Justifiquem a resposta com as informações obtidas na pesquisa.

Glossário

Cunhar
: marcar peça metálica para que ela obtenha valor de dinheiro e possa circular no comércio como moeda.
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Iluminura
: tipo de pintura decorativa aplicada aos pergaminhos medievais. Os manuscritos eram pintados com diversos pigmentos de cores e por vezes completados com ouro ou prata.
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Especiarias
: temperos orientais, como pimenta­‑do-reino, cravo-da-índia, canela e noz-moscada, muito valorizados na Europa. Além de necessárias para a conservação de alimentos básicos, as especiarias indicavam o státus social elevado de quem as comprava, pois eram muito caras.
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Périplo
: viagem marítima em torno de um país ou continente.
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Poema épico
: narrativa de feitos heroicos, grandiosos, em fórma de poema.
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Proa
: parte dianteira de uma embarcação.
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Novo Mundo
: termo que se popularizou no contexto da expansão marítima entre os europeus para se referir à América. Naquela época, eles passaram a chamar a Europa, a África e a Ásia de Velho Mundo. Essa concepção de Novo e Velho, portanto, revela a visão dos europeus do período a respeito dos continentes. Atualmente, essas expressões são questionadas pelos historiadores, pois o território que hoje é a América era povoado por diversos povos e civilizações indígenas muito antes da chegada dos europeus, como você estudou no 6º ano.
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Légua
: medida de distância usada antes da adoção do sistema métrico, vigente no Brasil atualmente. Uma légua corresponde a aproximadamente 5 quilômetros.
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Dilatar
: aumentar; expandir.
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Valerosas
: valorosas.
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Cessar
: parar; terminar.
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Musa
: ser mitológico divino que inspiraria os artistas.
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Alevantar
: levantar.
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Compostura
: modo de arranjar-se, de compor-se, de portar-se conforme os deveres ou costumes.
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