CAPÍTULO 3 As reformas religiosas no século dezesseis

Você sabia que a maioria dos católicos do mundo vive no Brasil? Segundo o Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (í bê gê É), cêrca de 65% da população do país seguia a religião católica naquele ano. Desde a década de 1940, porém, as igrejas evangélicas têm atraído cada vez mais adeptos, que em 2010 eram aproximadamente 22% da população. Neste capítulo, você conhecerá a origem dessas igrejas cristãs.

Brasil: adeptos de diferentes religiões (%) – 1872-2010

Gráfico de barras.  Brasil: adeptos de diferentes religiões (porcentagem). 1872 a 2010. No eixo vertical, as informações de porcentagem de 0 a 100 e, no eixo horizontal, os anos dos censos: 1872, 1890, 1940, 1950, 1960, 1970 1980, 1991, 2000 e 2010. As religiões são representadas por cores. Na legenda: em azul: "Católica Apostólica Romana"; em verde, "Evangélica"; em laranja, "Espírita"; em azul claro, "Outras"; em rosa, "Sem religião e sem declaração". Ano. 1872. Religião Católica Apostólica Romana: 100 por cento. Ano. 1890. Religião Católica Apostólica Romana: cerca de 98 por cento. Evangélica: cerca de 2 por cento. Ano. 1940. Religião Católica Apostólica Romana: cerca de 95 por cento. Evangélica: cerca de 3 por cento. Espírita: cerca de 1 por cento. Outras: cerca 1 por cento. Sem religião e sem declaração: cerca de meio por cento. Ano. 1950. Religião Católica Apostólica Romana: cerca de 94 por cento. Evangélica: cerca de 3 por cento. Espírita: cerca de 2 por cento. Outras: cerca de meio por cento. Sem religião e sem declaração: cerca de meio por cento. Ano. 1960. Religião Católica Apostólica Romana: cerca de 93 por cento. Evangélica: cerca de 5 por cento. Espírita: cerca de 1 por cento. Outras: menos de 1 por cento. Sem religião e sem declaração: menos de 1 por cento. Ano. 1970. Religião Católica Apostólica Romana: cerca de 92 por cento. Evangélica: cerca de 6 por cento. Espírita: cerca de 1 por cento; Outras: menos de 1 por cento. Sem religião e sem declaração: menos de um por cento. Ano. 1980. Religião: Católica Apostólica Romana: cerca de 89 por cento. Evangélica: cerca de 7 por cento. Espírita: cerca de 1 por cento. Outras: cerca de 1 por cento. Sem religião e sem declaração: cerca de 1 por cento. Ano. 1991. Religião Católica Apostólica Romana: cerca de 82 por cento. Evangélica: cerca de 9 por cento. Espírita: cerca de 1 por cento. Outras: cerca de 1 por cento. Sem religião e sem declaração: cerca de 6 por cento. Ano. 2000. Religião Católica Apostólica Romana: cerca de 72 por cento. Evangélica:  cerca de 18 por cento. Espírita: cerca de 1 por cento. Outras: pouco mais de 1 por cento. Sem religião e sem declaração: cerca de 8 por cento. Ano. 2010. Religião Católica Apostólica Romana: cerca de 62 por cento. Evangélica: cerca de 24 por cento. Espírita: cerca de 2 por cento. Outras: cerca de 2 por cento. Sem religião e sem declaração: cerca de  9 por cento.

FONTE: í bê gê É. Censo 2010: número de católicos cai e aumenta o de evangélicos, espíritas e sem religião. Censo 2010. Disponível em: https://oeds.link/DxPjP6. Acesso em: 3 fevereiro 2022.

Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Com base no gráfico, explique: qual é a importância das religiões cristãs para a sociedade brasileira?
  2. No Brasil, há pessoas de diferentes religiões e outras que não têm religião. Em sua opinião, isso favorece a tolerância religiosa e a convivência pacífica com as diferenças? Por quê?

Hereges, reformadores e as controvérsias do mundo cristão

Desde a Antiguidade, parte dos cristãos discordava da Igreja sobre questões relativas à fé. As interpretações desses cristãos foram chamadas de heresias.

Ao mesmo tempo que combatia as heresias, a Igreja Católica enfrentava muitas críticas por causa das práticas dos religiosos que ocupavam os altos cargos eclesiásticos. O luxo e a riqueza do alto clero contrastavam com a situação do baixo clero e da maioria da população europeia, que vivia de maneira muito simples ou na pobreza.

Durante a Idade Média, essas críticas incentivaram algumas tentativas de reforma da Igreja. Uma delas foi a instituição das ordens mendicantesglossário , como a dos franciscanos e a dos dominicanos, que faziam votos de pobreza, pregando o retorno à simplicidade dos primeiros séculos do cristianismo e o desapego aos bens materiais.

No século catorze, foram formados outros movimentos em defesa da moralização da Igreja. Na Inglaterra, o teólogo e professor da Universidade de óxfórd Djon Uiclifi criticava a distância entre os ensinamentos de Jesus e seus apóstolos e a situação da Igreja.

Ilustração. Sentado diante de uma escrivaninha de madeira, um homem de cabelos lisos grisalhos e barbas longas e grisalhas, usando um gorro  de tecido preto, vestido com uma blusa branca e uma túnica de mangas compridas em tons de cinza.
Ele está segurando uma caneta de pena e olhando para baixo, escrevendo sobre um livro. À frente dele, sobre a mesa, há um livro aberto com folhas amareladas, um tinteiro com outra caneta de pena e dois livros fechados apoiados.
Ao fundo, diante de uma janela aberta, por onde entra a luz solar, há  um livro aberto sobre um suporte de madeira e, atrás do homem, à esquerda, há outros livros dispostos em uma pequena prateleira de madeira presa à parede.
Ilustração atual representando Djon Uiclifi, inspirada em gravura de álbert rênri pein produzida no século dezenove.
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Djon Uiclifi era um pensador dedicado aos estudos de teologia, filosofia e direito canônico (área que abrange as leis e os regulamentos adotados pelos líderes da Igreja para o governo e a administração da instituição). Tornou-se sacerdote católico, depois bacharel e finalmente doutor em teologia, em 1372.

As propostas de Djon Uiclifi e Ian rãs

Djon Uiclifi acreditava que a Igreja precisava retornar à simplicidade e à pobreza entregando suas propriedades ao Estado. Além disso, ele defendeu o acesso de todas as pessoas à leitura dos Evangelhos e fez a primeira tradução do texto bíblico do latim para o inglês. Ao afirmar que a Bíblia era a única fonte de autoridade, uáiclifi se opôs ao poder do papa.

Outro defensor de mudanças na Igreja foi Ian rãs. Nascido na Boêmia, atual República Tcheca, ele foi influenciado pelas ideias de uáiclifi e fez críticas severas às práticas da Igreja, que considerava corruptas, defendendo a tradução da Bíblia do latim para o idioma dos fiéis.

Entre 1414 e 1418, os cardeais da Igreja se reuniram em um concílio na cidade de Constança, no Sacro Império Romano-Germânico. Nesse concílio, eles trataram de vários assuntos, entre eles o Cisma do Ocidenteglossário . Ian rãs foi convocado para a reunião, porém suas ideias foram rejeitadas e ele acabou preso e condenado à fogueira em 1415. Contudo, seus seguidores, os hussitas, continuaram a pregar suas ideias na Boêmia.

Gravura em dois quadros sobre uma folha retangular de papel de fundo amarelado. No quadro superior, sobre o chão coberto de grama verde, no centro, um homem com batina marrom e chapéu de religioso está dentro de uma pilha de toras de madeira pegando fogo. Do lado direito, há homens montados à cavalo erguendo bandeiras com losangos brancos e azuis. À frente desse grupo, um homem de cabelos longos e barbas longas, vestido com um traje metade marrom e metade azul cutuca o homem no centro da fogueira usando uma vara.
Do lado esquerdo, um homem com armadura amarela segura uma alabarda e um homem com uma batina branca observa as chamas. À frente deles, um homem com traje metade marrom e metade azul espeta o homem que está sendo queimado usando um bastão de madeira. 
Na gravura inferior, sobre o chão coberto de grama verde, há dois homens com pás recolhendo cinzas sobre o solo e as depositando em uma pequena carroça de madeira. Os homens tem cabelos e barbas longas e usam um traje cuja metade direita é azul e a esquerda é marrom.
No canto direito superior da folha em que se encontram as gravuras, em tinta preta, o número vinte e seis em algarismos romanos e textos em idioma de origem germânica no alto e abaixo das gravuras.
Detalhe de gravura do século quinze representando a execução de Ian rãs durante o Concílio de Constança.
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As ideias de Djon Uiclifi e Ian rãs foram consideradas heréticas pela Igreja; por isso, as obras deles foram banidas. O corpo de uáiclifi foi exumado e destruído na Inglaterra, enquanto rãs foi executado no Sacro Império Romano-Germânico. Com isso, a Igreja buscava enfraquecer outros movimentos que questionassem suas ideias e sua autoridade.

As críticas à Igreja no início da Idade Moderna

No início da Idade Moderna, a conduta de muitas pessoas do alto clero da Igreja era questionável. Inocêncio oitavo, por exemplo, que foi papa entre 1484 e 1492, quebrou o voto do celibatoglossário sacerdotal, ato denominado nicolaísmo, e teve filhos quando já pertencia ao clero.

Além disso, Inocêncio negociou o casamento de seu filho Francesco com Madalena, filha de Lourenço de Médici, um dos mais importantes e ricos banqueiros de Florença. Na negociação, o filho de Lourenço de Médici, João, de apenas 13 anos, foi nomeado cardeal, um dos mais altos postos da Igreja. Mais tarde, em 1513, ele se tornaria papa, com o nome Leão décimo. A prática de negociar cargos da Igreja em troca de favores ou dinheiro era considerada pecado e tinha o nome de simonia. Essas práticas eram consideradas impróprias e condenáveis por muitos cristãos, embora fossem realizadas por outros papas e integrantes do alto clero.

Na época, a Igreja defendia a ideia de que um fiel podia ter sua alma salva do inferno tanto pela fé quanto pela realização de obras de caridade. Entre essas obras estavam a realização de ações piedosas, a compra de objetos sagrados (as relíquias) e das indulgências (documentos da Igreja que concediam o perdão total ou parcial dos pecados aos fiéis que pudessem comprá-los). Nesse contexto, pensadores continuaram a fazer críticas ao comportamento dos integrantes do clero e à comercialização de artigos de fé. Humanistas, como Erasmo de Roterdã, propuseram o contato direto dos fiéis com a mensagem de Cristo, sem a intermediação da Igreja, considerada corrompida por vícios.

Fotografia. Vista geral de uma cidade, com construções à beira de um rio, no canto inferior esquerdo da imagem. Entre as construções, destaca-se uma basílica com uma cúpula arredondada no canto direito  da fotografia, e duas torres quadradas, uma no centro e outra  à direita. No canto esquerdo, há uma ponte sobre o rio. Ao fundo, morros enevoados cobertos de vegetação baixa e verde.
Vista panorâmica da cidade de Florença, na Itália. Foto de 2021.
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No século quinze, a cidade de Florença era um importante centro econômico e cultural, sobre o qual os Médici exerciam grande influência. Isso explica o interesse do papa Inocêncio oito em obter o apoio dessa família.

A Reforma Luterana

O monge agostiniano Martinho Lutero é considerado o iniciador da Reforma Protestante. Ele nasceu na cidade de áislíbân, no território do Sacro Império Romano-Germânico, e foi teólogo e professor da Univer­sidade de vitenberg.

Lutero acreditava que a salvação era alcançada apenas pela fé. Essa posição, baseada na leitura das obras de Santo Agostinho, era oposta à ideia dominante na Igreja Católica de que as contribuições, as orações, a veneração de relíquias e as indulgências contribuíam para a salvação da alma, como você estudou no item anterior.

A fim de arrecadar fundos para a conclusão da Basílica de São Pedro, em Roma, o papa Leão décimo determinou a venda de indulgências nos territórios cristãos, principalmente no Sacro Império Romano-Germânico.

Lutero se opôs abertamente a essa determinação e, em 1517, publicou um texto contendo 95 teses (argumentos) contrárias à venda de indulgências e a outras práticas da Igreja que ele considerava incorretas.

Suas ideias foram divulgadas muito rapidamente, chegando a Roma. O papa, então, exigiu que Lutero se retratasseglossário perante a Igreja. Lutero, por sua vez, continuou irredutívelglossário em suas posições e manteve uma longa disputa com o papado.

Nos anos que se seguiram à publicação das 95 teses, Lutero escreveu outros textos, que formaram a base de sua doutrina. Além de criticar as indulgências, ele afirmou que a Bíblia era a única fonte de autoridade e, por isso, devia ser lida e interpretada diretamente pelos cristãos, não havendo necessidade da mediação da Igreja.

Diante das recusas de Lutero em se retratar, em 1520, o papa publicou uma bula declarando-o herege. Lutero queimou publicamente o decreto e foi excomungado no ano seguinte.

Gravura. Cena em um local fechado com uma cruz alta de madeira no centro, um púlpito à esquerda, uma mesa de madeira à direita e, ao fundo, arcos decorados por estandartes brancos com brasões dourados. 
À direita e à esquerda, vista parcial de janelas em forma de arco com vitrais coloridos nas cores azul, vermelho, verde e branco. 
À esquerda, no púlpito de madeira, elevado, há um homem de túnica longa marrom, como a de um monge, usando um chapéu sem abas de cor marrom sobre a cabeça e segurando nas mãos uma folha branca com texto e selos de cera vermelha. Logo abaixo, perto dele, há pessoas vistas de costas, ajoelhadas, vestidas com mantos nas cores azul e vermelho, com os cabelos cobertos por tecidos, alguns por tecidos de cor verde, outros de cor amarela.
No canto direito, há uma mesa de madeira marrom. Sobre ela, há papeis brancos e um prato com pequenas moedas amarelas. Há três montinhos de moedas sobre a mesa ao lado do prato. Atrás da mesa, há um homem sentado, de cabelos brancos, com uma boina azul e vestes longas vermelhas. Diante dele, há uma fila de pessoas em pé: um homem com uma blusa azul e calças marrons;  à direita dele, um homem e uma mulher, o homem com um manto de pelos amarelos, a mulher com os cabelos e os ombros cobertos por um tecido bege; à direita deles, um homem com um casaco marrom. 
O homem de azul, o primeiro em pé da fila, recebe um papel branco, dobrado, fechado por um selo vermelho, que é entregue à ele pelo homem sentado de traje vermelho e boina azul.
Atrás deles, há três pessoas em pé, conversando. No centro desse grupo, há um homem com uma túnica marrom como a de um monge. Ao lado dele, há dois homens vestidos com trajes verdes e chapéus vermelhos.
A venda de indulgências, gravura de Lucas cránar produzida no século dezesseis. Simpatizante das ideias de Lutero, cránar ajudava a propagá-las por meio de sua arte.

O Sacro Império Romano­‑Germânico e o luteranismo

Após a excomunhãoglossário de Lutero, o então imperador Carlos quinto, que também era rei da Espanha, convocou, em 1521, a Dieta de uórmis – uma assembleia da qual participavam integrantes da Igreja e nobres. A intenção era discutir a situação de Lutero, convocado para a reunião. Como ele não mudou de ideia, o imperador decretou sua expulsão do império e a proibição da divulgação de seus escritos.

Lutero, porém, teve ajuda de alguns príncipes alemães, que viram nessa ação uma fórma de aumentar seus poderes. Contando com a proteção de Frederico da Saxônia, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e continuou a formular a doutrina de uma Igreja reformada cristã, mas não católica.

O celibato dos padres e o culto aos santos e à Virgem Maria deixaram de fazer parte da doutrina; a fé em Cristo foi considerada o único caminho para a salvação; nos cultos, o latim foi substituído pela língua dos fiéis; os sacramentos foram simplificados, restando o batismo e a comunhão.

Em 1524, incentivados pelas críticas de Lutero à Igreja e sua hierarquia, camponeses liderados por Tômas Münzer iniciaram uma violenta revolta no Sacro Império. Insatisfeitos com os abusos sofridos, eles acreditavam que a reforma na Igreja se estenderia à sociedade, acabando com as obrigações servis e promovendo a igualdade.

Lutero, contudo, era ligado à nobreza alemã e se opôs à revolta, apoiando a repressão ao movimento. Em 1525, a revolta terminou com a maioria dos camponeses morta, incluindo Tômas Münzer. Apesar da dura repressão, o movimento deu origem a uma religião mais radical que o luteranismo nos ideais de reforma: o anabatismo.

Fotografia. Em uma estrada asfaltada, há quatro pessoas em uma carroça de madeira puxada por um cavalo.  Sentado, conduzindo a carroça, segurando as rédeas do animal, à esquerda, um homem de barba longa, óculos escuros, chapéu de palha com uma fita preta, camisa azul de mangas compridas, colete preto e calças de cor cinza. 
Ao lado dele, no centro do assento, uma menina de cabelos loiros cobertos por um véu, segurando um pacote azul. Ao lado dela, sentada à direita, há uma mulher olhando para a menina no centro. Ela usa uma touca branca cobrindo os cabelos e um vestido lilás, longo, de mangas bufantes, além de um longo avental marrom sobre as pernas. 
No assento da parte de trás da carroça, virado para trás, um menino de cabelos lisos e castanhos, de braços cruzados, olhando para a estrada, vestido com uma camisa de mangas longas e colete.
O cavalo que puxa a carroça tem pelagem marrom com manchas brancas no pescoço, cauda e patas.
Na lateral da estrada, vegetação alta de cor verde clara.
Família âmish, que segue as tradições do anabatismo, andando de carroça em rodovia na Pensilvânia, nos Estados Unidos. Foto de 2020.
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Até hoje há seguidores do movimento anabatista. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem milhares de pessoas que seguem as tradições âmish. Elas vivem em comunidades isoladas e têm costumes ultraconservadores, como a re­cusa ao uso de aparelhos eletrônicos e de automóveis.

A consolidação do luteranismo

A ligação da nobreza alemã com o luteranismo foi confirmada em 1529, na cidade de Espira, quando diversas cidades e reinos protestaram contra o decreto de expulsão de Lutero e a proibição de novas reformas. Esse fato deu origem ao termo protestantes para designar as religiões reformadas constituídas nos séculos dezesseis e dezessete.

A disputa entre as fôrças protestantes e católicas durou até 1555, quando foi assinado o tratado denominado Paz de Augsburgo. Com base nesse tratado, cada príncipe pôde escolher a religião de seu território. Dessa fôrma, o luteranismo passou a ser a religião de grande parte do Sacro Império Romano-Germânico. Depois, expandiu-se para outras regiões, concentrando-se principalmente no norte da Europa.

As mulheres e o luteranismo

Martinho Lutero casou-se com a ex-freira Catarina von borrá. O matrimônio chocou os católicos, que acusaram Catarina, sem nenhum fundamento, de cometer vários pecados e de ser defensora de valores que não eram cristãos. Os Lutero tiveram seis filhos e a casa deles serviu de abrigo a perseguidos religiosos, local de reuniões político-teológicas e pensionato para estudantes.

Martinho Lutero defendia a ideia de que a mulher foi criada para o casamento e a maternidade. Apesar disso, Catarina von borrá foi a administradora da propriedade do casal, comandando as finanças, produzindo cerveja, criando animais e cultivando um pomar que gerava renda ao movimento luterano. Ela também participou de discussões intelectuais sobre a Reforma e negociou publicações do marido com editores.

Outras mulheres do período também ajudaram a espalhar o luteranismo na Europa, como a francesa káterrine zêl e a bávara Árgula von grrumbárr.

De acordo com a doutrina luterana, todas as pessoas tinham o direito de ler a Bíblia; por isso, as mulheres podiam falar sobre o Evangelho. Isso talvez tenha contribuído para a adesão feminina a essa religião, na qual algumas mulheres possivelmente se sentiram mais acolhidas que no catolicismo.

Pintura. Sobre um fundo azul, retrato de forma oval representando uma mulher vista da cintura para cima, de olhos claros, amendoados e voltados para cima e cabelos castanho avermelhados, presos, cobertos por uma touca preta com uma faixa vermelha bordada na barra. 
Trajada com um vestido branco de gola alta com uma faixa vermelha  na altura do peito, ela usa um casaco preto, aberto, também de gola alta. Há fios pretos entrelaçados na altura da cintura dela. Ela está olhando para frente, com os olhos semicerrados.
Retrato de Catarina von borrá, pintura de Lucas cránar, o Velho, 1526.
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Catarina von borrá abandonou o convento em 1523 para se unir aos protestantes. Sem poder retornar para a família, ela foi morar de favor na casa de Lucas cránar, famoso pintor de vitenberg. Em vitenberg, Catarina conheceu Lutero e casou-se com ele, em 1525.

Dica

LIVRO

Dias de tempestades: Martim Lutero e Catarina de borrá, de Ueli Sonderegger. Belo Horizonte: Novimba, 2017.

Nesse livro em formato de quadrinhos, a Reforma Protestante é analisada com base na história do casal Martinho Lutero e Catarina von borrá.

O calvinismo

As ideias dos reformistas foram divulgadas rapidamente com a utilização da prensa móvel desenvolvida por Iorranes Gutembergue, em 1439. A rapidez e o barateamento das publicações impressas possibilitaram a ampliação do alcance das ideias de Lutero e de outros reformadores.

João Calvino foi um dos que aderiram às ideias protestantes. Assim como Lutero, Calvino reduziu os sacramentos, determinou o fim do culto aos santos e às imagens e pregou a livre interpretação da Bíblia. Uma das ideias centrais da doutrina calvinista é a da predestinação. Conforme essa ideia, a salvação é concedida por Deus apenas a alguns escolhidos, os chamados eleitos.

De acordo com o calvinismo, somente Deus sabe quem são os eleitos, mas alguns sinais podem identificá-los, como a prosperidade econômica, a perseverança na fé e a opção por uma vida disciplinada, rígida. Por não condenar o lucro e o enriquecimento, as ideias de Calvino foram bem recebidas pela burguesia.

Enquanto o luteranismo ficou restrito a certas regiões do norte da Europa, os seguidores de Calvino se espalharam para outros lugares, como a Escócia, onde eram chamados de presbiterianos, a Inglaterra, onde eram conhecidos como puritanos, os Países Baixos e a França, onde eram denominados huguenotes.

Pintura. Representação de orientação vertical. No centro de uma sala pouco iluminada, em pé, com o corpo voltado para a esquerda, um homem com uma barba muito longa e fina, até a altura do peito, grisalha, usando um chapéu preto, com laterais que cobrem suas orelhas.
Ele está vestido com um casaco preto, grosso, com bordas e punhos de pelos marrons. Sob o casaco, usa uma blusa preta e um colarinho alto na cor branca. 
Com uma das mãos, ele está segurando um livro de capa vermelha, aberto. Com a outra mão, ele folheia o livro, segurando algumas das páginas entre seus dedos. Ele olha para a esquerda, com a cabeça levemente inclinada.
Do lado direito, há uma prateleira com livros e uma poltrona vermelha Sobre o chão, há dois grandes livros, fechados, em pé, um deles, maior, com detalhes dourados na capa. 
Do lado esquerdo, há uma janela  vermelha com uma cortina azul e uma mesa coberta com uma toalha vermelha. Sobre a mesa, há um livro aberto, livros fechados empilhados, uma vela apagada em um castiçal dourado, um tinteiro e uma ampulheta.
João Calvino, pintura de Rans Rúlbaim, o Jovem, século dezesseis.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Identifique três práticas do alto clero católico que motivaram os movimentos reformistas.
  2. De que modo o luteranismo transformou o Sacro Império Romano-Germânico?
  3. Enumere três ideias da doutrina calvinista e explique por que ela agradava a burguesia.

Analisando o passado

Reformadores como Lutero e Calvino romperam com a Igreja Católica. Apesar das divergências teológicas, há vários elementos comuns entre as igrejas cristãs. A fé em Jesus e nos textos bíblicos é um exemplo. Outro elemento comum é a opinião sobre as mulheres.

Leia o que São Tomás de Aquino, importante filósofo da Igreja Católica do século treze, escreveu sobre a habilidade feminina de falar em público.

TEXTO 1

reticências Pela condição do seu sexo, que a torna sujeita ao homem, como se lê na Escritura. Ora, ensinar e persuadir publicamente, na Igreja, não pertence aos súditos, mas aos superiores. Contudo, mais que a mulher, os homens dependentes de um superior o podem por delegação; porque a sujeição deles ao superior não se funda naturalmente no sexo, como se dá com as mulheres reticências. Geralmente as mulheres não têm sabedoria perfeita a ponto de convenientemente se lhes poder cometer o ensino em público.”

AQUINO, T. Suma teológica. secunda secunde. Questão 177, Artigo 2. Aleteia, 17 abril 2017. Disponível em: https://oeds.link/lH3jhZ. Acesso em: 4 fevereiro 2022.

Leia agora a opinião de Martinho Lutero sobre a criação do homem e da mulher.

TEXTO 2

“A mulher certamente difere do homem, pois ela é mais fraca no corpo e no intelecto. No entanto Eva foi uma criatura excelente e igual a Adão reticências. Ainda assim, ela era apenas uma mulher. Como o Sol é muito mais glorioso do que a Lua (embora a Lua também seja gloriosa), a mulher é inferior ao homem em honra e dignidade, embora ela também seja uma excelente obra de Deus.”

citado por: tãquer, R. A.; láiféld, W. Daughters of the Church: women and ministry from New Testament times to the present. Grand Rapids: zondervân, 1987. página 174. Tradução nossa.

Responda no caderno.

  1. Qual é a base comum utilizada por Tomás de Aquino e Lutero para fundamentar suas opiniões sobre as mulheres?
  2. Analisando os textos, explique por que é possível afirmar que os reformadores mantiveram interpretações muito parecidas com as dos católicos em relação ao papel social feminino.
  3. Você já leu ou ouviu discursos em que as mulheres foram consideradas inferiores aos homens? Os argumentos usados foram parecidos com os dos textos citados? Justifique.

A Reforma Anglicana

Na Inglaterra, também foi fundada uma Igreja, mas por motivos políticos, não doutrinários.

O rei Henrique oitavo iniciou o processo de centralização política na Inglaterra no fim do século quinze, quando assumiu o trono. Ele era casado com Catarina de Aragão. O casal teve vários filhos, mas apenas Maria túdor sobreviveu à infância.

Como Catarina de Aragão tinha idade avançada e não podia mais gerar filhos, Henrique oitavo teve receio de que sua dinastia chegasse ao fim. Então, ele decidiu se casar com outra mulher e solicitou ao papa a anulação de seu compromisso com Catarina.

O pedido, porém, foi negado pelo papa Clemente sétimo. Contrariando o papa, o monarca se divorciou de Catarina e se casou com uma nobre chamada Ana Bolena. Em resposta, o papa o excomungou.

Inconformado com a decisão do papa, Henrique oitavo rompeu com a Igreja Católica. Em 1534, ele fundou a Igreja Anglicana por meio de um decreto chamado Ato de Supremacia, com apoio do Parlamento. O monarca se tornou, então, chefe da Igreja Anglicana. Logo depois, confiscou as propriedades da Igreja Católica e impôs o anglicanismo como religião oficial da Inglaterra.

Inicialmente, a Igreja Anglicana era muito parecida com a Católica. Os sacramentos, dogmas, ritos etcétera eram praticamente os mesmos. Os sucessores de Henrique oitavo, porém, promoveram mudanças mais significativas.

Durante o reinado de Elizabeth primeiro, o anglicanismo se consolidou na Inglaterra com a aprovação, em 1563, dos Trinta e nove artigos de religião. Por meio desses artigos, foi permitido o casamento para os membros do clero, foram reduzidos os sacramentos, foi determinada a utilização das línguas nacionais nos cultos e na Bíblia, defendeu-se a ideia da predestinação etcétera

Ilustração. Em formato retangular, com uma borda azul, seguindo o estilo de uma carta de um baralho, na parte superior, o retrato de um homem de barba rala, rosto comprido, olhos pequenos, usando um chapéu preto com pelos brancos nas bordas, e uma blusa de gola alta branca com bordados amarelos, além de um manto de pelos de cor marrom. Ao lado dele, à direita, há a lâmina de uma espada ilustrada com contornos azuis e, no canto superior esquerdo, a letra K, simbolizando um "rei". 
Na parte de baixo, de cabeça para baixo, o retrato de uma mulher de olhos castanhos, queixo e sobrancelhas finos, com cabelos castanhos presos e cobertos por uma touca marrom com renda, usando um colar duplo de pérolas e outro colar dourado. À esquerda da ilustração (direita da mulher), uma mão com uma manga marrom,  segurando uma flor com o miolo amarelo e as pétalas vermelhas com bordas azuis.  Do outro lado, a empunhadura da espada, em tons de amarelo, seguradas por uma mão.
No canto inferior direito, a letra Q, representando uma "rainha".
Henrique oitavo e Ana Bolena, obra contemporânea de djôe ticarone, produzida a partir de pinturas do século dezesseis.
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Henrique oitavo se casou com Ana Bolena, mas não teve o filho que desejava, e sim uma filha, que se tornou rainha da Inglaterra: Elizabeth primeiro. A falta de um filho provocou o afastamento do casal, e Ana Bolena, acusada de traição, foi presa e executada a mando do rei, em 1536. A imagem faz referência ao conflito que resultou na execução da rainha.

A Reforma Católica

Os movimentos promovidos por Martinho Lutero, João Calvino e outros reformadores afetaram o poder da Igreja Católica. Apesar dos esforços em reprimir tais iniciativas, a Igreja não pôde evitar a formação de outras vertentes religiosas cristãs.

Com a perda de adeptos e de autoridade entre os cristãos, a Igreja Católica iniciou a chamada Reforma Católica (ou Contrarreforma). Para isso, o papa Paulo terceiro convocou o Concílio de Trento, em 1545.

Em diversas reuniões que se estenderam até 1563, os participantes do concílio reafirmaram princípios e dogmas católicos, especialmente os que haviam sido alvo das críticas da Reforma Protestante: a validade das obras para a salvação, a infalibilidade do papa, o celibato clerical, o culto aos santos e à Virgem Maria, a utilização de imagens, o emprego exclusivo do latim na missa e na Bíblia etcétera Reafirmaram também o papel fundamental da Igreja na interpretação da Bíblia, negando essa tarefa a pessoas leigas.

Além disso, a Igreja fundou seminários para aprimorar a formação intelectual e moral do clero e formulou catecismos (versões resumidas da doutrina católica) para auxiliar na catequese dos fiéis.

É importante ressaltar o fato de que a Reforma Católica não foi apenas uma reação aos protestantes. Significou também uma mudança na doutrina, nos dogmas e na organização da Igreja. Por exemplo, a venda de indulgências e a simonia, tão criticadas por reformadores como Lutero, foram condenadas no Concílio de Trento.

Pintura. Vista interna de uma grande catedral com pé direito muito alto e diversas colunas nas laterais em tons de cinza claro. No centro, uma estrutura como um altar, com um retábulo de madeira esculpido com um crucifixo; abaixo dele, no centro, uma pintura, um altar coberto por uma toalha branca e, à frente dele, oito homens em duas fileiras. 
Na parte mais alta, na fileira mais ao fundo, há quatro homens com túnicas brancas, estolas verdes, mantos vermelhos e chapéus dourados, altos, com pontas triangulares. Abaixo deles, também sentados, quatro homens com túnicas brancas, esses sem chapéus.
Nas laterais do altar, há baldaquinos coloridos com pinturas representando santos, portas em arco e detalhes triangulares na parte superior. 
Na parte inferior da imagem, há dois grupos de fileiras de bancos de madeira, um grupo à esquerda e outro à direita, formando um estreito corredor central. 
Sentados nos bancos, vistos de costas, muitos homens usando trajes iguais: mantos vermelhos, estolas douradas e chapéus brancos, altos, com as pontas triangulares.
Em primeiro plano, atrás dos bancos, há homens vestidos com capacetes e armaduras metálicas, em pé. Alguns outros homens estão com roupas pretas, em pé ou sentados no último banco. Um dos homens de armadura, em pé, à direita, segura um estandarte vermelho.
Pintura do século dezesseis representando uma reunião do Concílio de Trento.
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No Concílio de Trento, as autoridades católicas determinaram a reativação do Tribunal da Inquisição para investigar, julgar e punir os crimes de heresia. A Inquisição atingiu protestantes, cristãos-novosglossário , hereges e mulheres acusadas de bruxaria. Sua atuação atingiu o auge em meados do século dezesseis, especialmente nas penínsulas Ibérica e Itálica.

A Companhia de Jesus

Apesar de não ter sido criada durante o Concílio de Trento, a Companhia de Jesus foi um instrumento importante na aplicação dos princípios da Reforma Católica.

Essa ordem religiosa foi fundada em 1534 pelo padre espanhol Inácio de loióla. Os jesuítas, como eram denominados os membros da companhia, além de combater os protestantes, tinham o objetivo de divulgar o catolicismo no mundo todo (propáganda fîde, em latim).

Durante a expansão marítima europeia, os jesuítas foram fundamentais para promover a fé católica em outros continentes, como a África, a Ásia e a América.

O Barroco

Além de textos, as obras de arte foram poderosos instrumentos de disseminação de ideias religiosas. Como parte da estratégia de recuperar fiéis e fortalecer suas posições, a Igreja Católica passou a encomendar obras com características de um movimento artístico, político e sociocultural, iniciado na Península Itálica no fim do século dezesseis: o Barroco.

O Barroco se expandiu ao longo dos séculos dezessete e dezoito para as monarquias católicas e depois para regiões protestantes da Europa, atingindo também a América e a Ásia.

Diferentemente das obras renascentistas, as barrocas continham forte apelo emocional para incentivar a devoção religiosa. Os artistas barrocos empregavam em suas obras elementos exagerados e cheios de detalhes, cores vivas e jogos de luz e sombra para aumentar o contraste.

Pintura. Vista do teto de uma igreja, observado de baixo para cima, formando uma imagem plana e retangular.  À esquerda e à direita, há pinturas representando colunas e arcos com detalhes dourados e, entre eles, no centro da imagem, uma pintura representando o céu, com um fundo azul, muitas nuvens e, no centro delas, sob uma luz amarelada, uma figura masculina de peito nu, com um tecido branco ao redor do quadril, segurando uma grande cruz de madeira. 
À esquerda, em uma nuvem, há um homem de túnica cinza, com os dois braços abertos.
Ao redor dessa figura, nas nuvens, há inúmeros, anjos com asas longas, brancas e douradas, além de figuras masculinas, de torso nu, com panos coloridos ao redor do quadril.
Apoteose de Santo Inácio, pintura de andréa pôdzo na igreja de Santo Inácio de loióla, em Roma, Itália, cêrca de 1685.
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Os jesuítas ajudaram a divulgar a arte barroca nos locais onde atuaram. No afresco de andréa pôdzo, Inácio de loióla é representado ao centro, perto do Cristo, de quem recebe raios de luz. A obra é uma pintura no teto da igreja e produz a ilusão de profundidade, como se os céus estivessem em comunicação direta com nosso mundo e o observador estivesse vivenciando um milagre. O dinamismo e a tea­tralidade são características marcantes do Barroco.

As guerras de religião

Com a formação de diferentes igrejas derivadas dos vários movimentos de reforma, católicos e protestantes envolveram-se em violentas guerras de religião ao longo dos séculos dezesseis e dezessete.

Na França, por exemplo, ocorreram intensos conflitos religiosos. Em um dos mais graves, católicos promoveram o massacre de huguenotes. Na ocasião, muitos huguenotes estavam em Paris para a comemoração do casamento de Henrique de Navarra, um nobre protestante, com a irmã do rei francês, Margarida de valoá. A união entre eles era uma tentativa de encerrar, ou ao menos diminuir, as tensões religiosas na França.

O que se passou, contudo, foi bem diferente. Seguindo ordens da realeza, em 23 de agosto de 1572, católicos iniciaram a execução dos huguenotes presentes em Paris. Esse episódio ficou conhecido como Massacre da Noite de São Bartolomeu.

A violência logo se espalhou para outras regiões da França. Ao final de meses de perseguição, milhares de protestantes foram mortos. Eventos de menor extensão continuaram ocorrendo até a assinatura do Edito de Nantes, em 1598, que estabeleceu a liberdade religiosa na França.

Pintura. Vista de uma praça com pessoas lutando, usando espadas, lanças, armas de fogo e pedaços de pau. Algumas pessoas estão caídas no chão, ensanguentadas, outras erguem suas armas. 
Alguns homens, no canto inferior direito da pintura, estão montados à cavalo. Um deles, ergue uma espada para o alto.
Ao fundo, no centro, há um castelo de paredes de cor bege e telhado cinza, com duas pessoas saindo por sua porta principal, em forma de arco. São dois homens com trajes marrons que saem do castelo. Eles são imediatamente cercados por um grupo de homens com capacetes e armaduras metálicas, que apontam suas lanças e espadas para eles. 
À direita desse grupo, à frente do castelo, há uma mulher em pé, usando um longo vestido preto, os cabelos cobertos por um véu fino e preto. Aos pés dela, há uma pilha de corpos de homens e mulheres, nus, com a pele azulada. Ela olha para baixo, observando a pilha de mortos.
O castelo, ao fundo, tem duas torres de formato circular com uma pequena janela. De uma delas, à esquerda, um homem de traje cinza usa uma arma de cano longo e atira para a esquerda. Da outra, à direita, duas pessoas observam o combate. No alto do castelo, empunhando uma espada, um homem de traje amarelo e chapéu preto luta contra um homem de camisa branca.
Do lado esquerdo, há um fosso no entorno do castelo com pessoas sobre as águas. Na praça, um homem usa uma arma de cano longo para atirar nas pessoas caídas no fosso. 
Há outras pessoas lutando em uma ponte mais à frente. Sobre a ponte, há uma mulher de vestido preto, ajoelhada, sob a mira de uma espada.
No centro da praça, um homem segura uma cabeça decapitada. Há um bebê sozinho no centro da praça, sobre o chão, nu.
Alguns cachorros correm atrás dos grupos de pessoas, latindo.
Ao fundo, à direita,  há uma construção de três andares, com dois homens atirando um outro homem para fora da janela.  Mais à direita, há um poste de madeira com duas pessoas enforcadas. Ao fundo, alguns morros cobertos de verde, um deles, à esquerda, com um moinho.
Massacre de São Bartolomeu, pintura de frrãnçoá dibuá, 1576.
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A obra de François Dubois representa o massacre de milhares de huguenotes na cidade de Paris, na noite de 23 de agosto de 1572. Às portas do Louvre (castelo real, ao fundo) estão a rainha Catarina de Médicis (de preto, na rua, ao lado dos soldados) e o rei Carlos nono (atirando da janela do castelo em seu próprio povo), como se fossem os instigadores de tamanha violência. Entre os massacrados retratados, mulheres e crianças.

Ações comuns nas guerras de religião na Europa foram reproduzidas do outro lado do oceano: em várias ocasiões, corsários e piratas ingleses e franceses, ao invadirem cidades coloniais espanholas, destruíram altares, queimaram imagens de santos e atacaram religiosos católicos.

Esse tipo de violência demonstrava a estreita relação entre questões de fé e disputas políticas e econômicas. Quando presos, esses piratas eram associados ao protestantismo e entregues à Inquisição para serem julgados como hereges.

Outro exemplo de conflito religioso foi a Guerra dos Trinta Anos, ocorrida entre 1618 e 1648. Iniciada em razão de uma disputa religiosa nas regiões da Alemanha e da Boêmia, ela envolveu praticamente todas as potências europeias. Nesse conflito, Filipe segundo, o rei da Espanha, comportava-se como o defensor do catolicismo que tinha a tarefa de reconquistar os fiéis – e os territórios – perdidos para os protestantes.

A guerra terminou apenas com os Tratados de Vestfália, assinados em 1648. Por meio desses tratados, foi garantida a tolerância religiosa entre cristãos: as minorias poderiam exercer sua fé sem sofrer represálias ou se converter contra a vontade.

Apesar de nem sempre ser respeitada, essa proposição de liberdade religiosa, ou seja, a ideia de que as diferentes vertentes cristãs poderiam coexistir, ajudou a encerrar as guerras de religião entre os países europeus.

Europa: distribuição de adeptos de diferentes religiões – século dezesseis

Mapa. Europa: distribuição de adeptos de diferentes religiões. Século dezesseis. 
Mapa representando parte do continente europeu.  Os territórios estão demarcados com cores distintas e há alguns ícones dispostos em diferentes territórios.
Legenda:
Laranja: Luteranos.
Amarelo: Calvinistas.
Verde-escuro: Anglicanos.
Rosa: Católicos.
Verde-claro: Ortodoxos.
Marrom: População islâmica.
Triângulo laranja: Minorias calvinistas.
Círculo roxo: Minorias católicas.
No mapa:
Luteranos: Presentes no Reino da Noruega, no Reino da Suécia, na região que hoje corresponde à Finlândia (representada apenas parcialmente no mapa), no Reino da Dinamarca, na Prússia, nas regiões nordeste e sudeste do Sacro Império Romano-Germânico, no centro-oeste do Reino da Polônia, no noroeste do Império Otomano (os três últimos territórios hachurados de cor de laranja, rosa e amarelo, indicando presença de adeptos de três religiões).
 Calvinistas: Localizados na maior parte do Reino da Escócia, em pequenas regiões no centro do Sacro Império Romano-Germânico, em uma pequena região no sudeste do Reino da França, no centro-oeste do Reino da Polônia, no noroeste do Império Otomano e no sudeste do Sacro Império Romano-Germânico (os três últimos territórios hachurados de cor de laranja, rosa e amarelo, indicando presença de adeptos de três religiões).
Anglicanos: Localizados no Reino da Inglaterra e em uma pequena região no nordeste da ilha da Irlanda.
Católicos: Localizados em Portugal, no Reino da Espanha, no Reino da França,  na maior parte da Irlanda, em grande parte do Sacro Império Romano-Germânico, nos Estados da Igreja, no Reino de Nápoles, nas ilhas da Sardenha, Córsega e Baleares, no noroeste do Reino da Escócia, na região que hoje corresponde ao litoral da Croácia, no centro-oeste do Reino da Polônia, no noroeste do Império Otomano e no sudeste do Sacro Império Romano-Germânico (os três últimos territórios hachurados de cor de laranja, rosa e amarelo, indicando presença de adeptos de três religiões).
Ortodoxos: Localizados no nordeste e no centro-sul do Império Otomano (território hachurado de marrom e verde claro, indicando presença de adeptos de duas religiões), no centro-leste do Reino da Polônia e a norte do Reino da Polônia.
População Islâmica: Localizada no nordeste e no centro-sul do Império Otomano (território hachurado de marrom e verde claro, indicando presença de adeptos de duas religiões).
Minorias calvinistas:  Espalhadas por todo o Reino da França, no nordeste do Reino da Escócia, no norte do Sacro Império Romano-Germânico e no norte dos Estados da Igreja.
Minorias católicas: Espalhadas no norte do Reino da Inglaterra.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 290 quilômetros.
 

FONTE: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 78.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Como os adeptos das diferentes religiões se distribuíam no continente europeu no século dezesseis?

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Quais foram as motivações de Henrique oitavo ao elaborar o Ato de Supremacia?
  2. O que foi a Reforma Católica? Como o Barroco contribuiu para a divulgação das ideias desse movimento?
  3. Qual foi a importância dos Tratados de Vestfália para a diminuição dos conflitos entre os países europeus?

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. No caderno, relacione corretamente as colunas.
    1. Reforma Protestante.
    2. Anglicanismo.
    3. Calvinismo.
    4. Luteranismo.
    5. Reforma Católica.
  1. Instituído pelo Ato de Supremacia, em 1534, e causado por disputas entre o monarca inglês e o papa.
  2. Entre seus dogmas estão a predestinação e a salvação pela graça divina.
  3. Movimento, iniciado no século dezesseis, que provocou a ruptura entre os cristãos, com a formação de novas igrejas.
  4. O Concílio de Trento estruturou suas determinações centrais, reafirmando dogmas católicos, como o culto aos santos e a autoridade papal.
  5. Estabeleceu-se no Sacro Império Romano-Germânico com apoio de príncipes alemães.
  1. Analise as informações a seguir e, no caderno, identifique as afirmativas falsas e as verdadeiras. Corrija as que estiverem incorretas.
    1. Antes do protestantismo, a Igreja Católica se manteve fechada a qualquer tentativa de mudança.
    2. Integrantes de diversos grupos sociais, como nobres, burgueses e camponeses, aderiram ao movimento reformista.
    3. Os jesuítas atuaram na contenção do protestantismo e na expansão da fé católica fóra da Europa.
    4. No Concílio de Trento, reafirmou-se a necessidade da venda de indulgências.

Aprofundando

3. Analise a imagem para fazer as atividades dos itens a seguir.

Gravura em preto e branco. No interior de uma igreja, com teto abobadado, arcos e colunas, munidos de escadas e marretas, um grupo de homens quebra as estátuas e imagens de santos ali expostas. 
No centro da igreja, há um grande crucifixo no altar, com uma representação de Cristo crucificado. Alguns homens, puxam cordas amarradas ao crucifixo para derrubá-lo. Ao pé do crucifixo, de pé, sobre o  altar, um homem empurra-o com as costas com a mesma finalidade. 
Nas laterais da igreja, outros homens tentam derrubar as imagens de santos nos retábulos laterais. Alguns desses homens, utilizam escadas para derrubar as imagens. No canto direito, um homem eleva uma imagem de um santo para o alto, tomando impulso para jogá-la no chão. À frente dele, um homem usa uma marreta para destruir uma imagem de um santo, no chão. Ao lado dele, há uma mulher, que aponta para a imagem no chão com o dedo indicador em riste.
Sobre o chão, há estilhaços,  pedaços de imagens quebradas, bastões de madeira, marretas e machados.
A iconoclastia, gravura de iân lâiken, 1566.
  1. Descreva as ações representadas na imagem. Que princípio da Reforma Protestante pode ser observado nelas?
  2. Além das cenas representadas na imagem, quais foram os outros desdobramentos do movimento reformista para católicos e protestantes?

4. Segundo o texto a seguir, a posição de Lutero sobre as mulheres estava de acordo com as ideias de seu tempo. Qual das opiniões a respeito das mulheres pode ser identificada com “as sombras” e qual representa “as luzes” da época? Justifique sua resposta.

“Percebe-se que Lutero foi um homem do seu tempo. Ele atuou entre as luzes e as sombras da [época] reticências. Por um lado, em seus escritos ele defendeu o casamento, a maternidade e o governo da casa como lugar das mulheres, mas por outro ele elogiou as mulheres que atuaram corajosamente nos meios públicos e políticos.”

ulric, C. B. A atuação e a participação das mulheres na Reforma Protestante do século dezesseis. Estudos de Religião, São Paulo, volume 30, número 2, página 75, maio-agosto 2016.

5. Leia dois trechos das 95 teses, de Martinho Lutero, e faça as atividades dos itens a seguir.

“6. O papa não pode remitir [perdoar] culpa alguma se não declarando e confirmando que ela foi perdoada por Deus reticências.

reticências

21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.”

LUTERO, M. 95 teses. Portal Luteranos. Disponível em: https://oeds.link/n69xDM. Acesso em: 4 fevereiro 2022.

  1. Identifique as práticas da Igreja que são contestadas nesses trechos.
  2. Segundo a doutrina luterana, como a salvação pode ser alcançada?
  3. De que modo as ideias presentes nas 95 teses afetaram a autoridade do papa?

6. Leia o texto a seguir, escrito por João Calvino, e responda às questões.

“Deus chama cada um para uma vocação particular cujo objetivo é a glorificação dele mesmo. O comerciante que busca o lucro, pelas qualidades que o sucesso econômico exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem, responde também ao chamado de Deus, santificando de seu lado o mundo pelo esforço, e sua ação é santa.”

CALVINO, J. ápud: muniê, R. Os séculos dezesseis e dezessete: os processos da civilização europeia. São Paulo: Difel, 1973. volume 1. página 90. (Coleção História geral das civilizações).

  1. Qual é a opinião de Calvino a respeito do trabalho do comerciante e do lucro?
  2. A posição de Calvino era a mesma defendida pela Igreja Católica? Justifique sua resposta.
  3. De acordo com as ideias do texto, é possível afirmar que a Reforma Protestante favoreceu o desenvolvimento da burguesia? Por quê?

Glossário

Ordens mendicantes
: associações religiosas constituídas no período medieval, compostas de membros que renunciavam à posse de bens, comprometendo-se a levar uma vida simples e humilde. Seus membros eram pregadores itinerantes, que viajavam de cidade em cidade evangelizando a população e se sustentando por meio de esmolas e doações.
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Cisma do Ocidente
: ruptura ocorrida na Igreja, entre os anos de 1378 e 1417, por conta de disputas políticas e divisões internas. Nesse período, chegaram a existir três papas (entre 1409 e 1417): um em Roma, outro em avinhon e outro em piza. A questão foi resolvida quando Martinho quinto foi reconhecido como o único papa e se instalou em Roma. O cisma causou um impacto negativo na autoridade e no prestígio da Igreja.
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Celibato
: estado de celibatário, ou seja, de pessoa solteira, de onde se entende que não poderia ter práticas sexuais.
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Retratar-se
: no contexto, desculpar-se; reconhecer que está errado.
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Irredutível
: que mantém sua opinião, sem aceitar nenhuma determinação para mudá-la.
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Excomunhão
: penalidade da Igreja Católica que exclui alguém dos ritos ou sacramentos comuns aos fiéis.
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Cristão-novo
: termo pejorativo, mas presente no direito da época, para o judeu ou descendente convertido ao cristianismo.
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