UNIDADE 2 MODERNIDADE E MUNDIALIZAÇÃO

A história e você: contrôle financeiro e orçamento familiar

Nesta unidade, você estudará o processo de mundialização ocorrido na Idade Moderna. Ao descobrir novas rotas para as Índias, colonizar a América e ocupar o litoral da África para traficar pessoas para escravização, os europeus conectaram diferentes regiões do planeta.

Essa conexão tinha como base um sistema econômico denominado mercantilismo (o termo mercantil refere-se ao comércio), que foi dominante na Europa entre os séculos quinze e dezoito. As atividades dos países que adotavam esse sistema eram o comércio internacional, a escravização de pessoas e a acumulação de riquezas.

Boa parte dos países mercantilistas era governada por reis conhecidos como absolutistas, pois detinham todo o poder. Eles interferiam na economia para incentivar as exportações e diminuir as importações do reino, acumulando a diferença entre os ganhos e os gastos.

A noção de poupança foi uma novidade da modernidade. Sociedades anteriores, como a feudal, na Idade Média, produziam apenas o necessário para sobreviver. Quando havia excedentes, eram usados em trocas ou como provisão para o futuro, e não para enriquecer. Já nas sociedades modernas, acumular passou a ser quase um dever.

Assim como os reinos mercantilistas, os indivíduos modernos também começaram a juntar riquezas. O hábito de poupar, incomum na Idade Média, tornou-se fundamental na modernidade.

Na sociedade capitalista de hoje, a poupança é bastante valorizada. Mas será que as pessoas costumam poupar? Como uma família organiza seus ganhos, os gastos pessoais e os da casa?

Ilustração. No primeiro plano, fotografia de uma menina e de uma mulher sentadas lado a lado. A menina utiliza um notebook que está sobre uma mesa em que há uma calculadora, um calendário e um cofre em formato de porquinho. Atrás delas, um painel com diversos papéis de contas a pagar e ilustrações representando cada uma delas: uma torneira, cartões de crédito, um cesto com frutas, uma lâmpada e uma casa.
Ilustração atual representando a organização do orçamento doméstico.

O orçamento familiar é uma estimativa feita para ajudar no planejamento financeiro de uma família. Consiste no registro de todos os ganhos e despesas, a fim de controlar as contas e fazer melhor proveito do dinheiro. Você e seus colegas produzirão um vídeo sobre o assunto considerando as orientações a seguir.

Organizar

  • Em casa, pesquise as receitas e as despesas de sua família. As receitas são os ganhos, ou seja, tudo que os membros da família recebem no mês (salários, pensões etcétera). As despesas são os gastos mensais da família com moradia (aluguel, condomínio, luz, água, impostos etcétera), alimentação, transporte, saúde, lazer e outros.
  • Calcule a porcentagem de gasto de cada categoria (moradia, alimentação etcétera) em relação à receita familiar.
  • Na sala de aula, forme um grupo com quatro colegas.
  • Conversem sobre qual categoria de despesa consome o maior percentual das receitas das famílias e as estratégias que podem ajudar a diminuir os gastos.

Produzir

  • Mostre a um familiar as porcentagens que você calculou, pergunte se ele as conhecia e se a informação contribui para pensar o orçamento. Grave essa conversa com um celular ou uma câmera ou anote as respostas.
  • Junto dos colegas de grupo, escrevam um texto de abertura para o vídeo, explicando a importância de se pensar o orçamento familiar.
  • Depois, redijam um texto apontando as informações reunidas pelo grupo nas conversas com os familiares e sugestões para favorecer o planejamento do orçamento. Esse texto também entrará no vídeo.
  • Gravem o vídeo, usando o texto de abertura e o principal. Um ou mais membros do grupo podem aparecer no vídeo. Depois, editem esse material juntando a ele, caso tenha sido gravado e autorizado o uso, a entrevista com os familiares de vocês.

Compartilhar

  • No dia combinado com o professor, apresentem o vídeo aos demais colegas.
  • Após a apresentação, conversem coletivamente em sala sobre os vídeos produzidos.
Ilustração. Ao fundo, ilustração de árvores e prédios e, à frente, quatro pessoas: uma menina em pé escrevendo em um caderno, uma menina tirando uma selfie com o celular, um menino com um balão de fala com o desenho de um microfone, e um homem com um balão de fala e, dentro dele, o desenho de uma balança de dois pratos, sendo o lado mais baixo com notas de dinheiro e o outro, mais no alto, com papéis de contas a pagar.
Ilustração atual representando estudantes realizando anotações, filmagens e entrevistas.

CAPÍTULO 4 O Antigo Regime

Nos contos de fadas, séries e filmes, é comum a representação idealizada de príncipes e princesas vivendo em castelos europeus. Essas histórias remetem a um período em que, na maioria dos países da Europa, a fórma de governo adotada era a monarquia.

Neste capítulo, você estudará as monarquias europeias e compreenderá que algumas delas, como a da Inglaterra, permanecem vigentes até hoje. Além disso, perceberá que nem todas são iguais: as monarquias podem ser absolutistas, constitucionais e parlamentaristas, como a do Canadá.

Cena de filme. No interior de uma construção com colunas revestidas de luzinhas amarelas, uma mulher usando um longo vestido da cor bege adornado anda sobre um tapete vermelho. Atrás dela, segurando a cauda do vestido, quatro mulheres, duas de cada lado, com vestidos da cor bege e com faixas azuis cruzando o corpo. Mais ao fundo, mulheres e homens com casacos vermelhos e saias ou calças azul-marinho erguem estandartes com bandeiras azuis e uma cruz branca no centro. Nas laterais do tapete, homens com roupas de guardas e capacetes com plumas vermelhas seguram lanças.
Cena do filme estadunidense A princesa e a plebeia: uma nova aventura, dirigido por máicon roul, de 2020.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Quais são as principais figuras sociais que caracterizam uma monarquia?
  2. Em sua opinião, por que a monarquia europeia é idealizada em filmes e séries até hoje?
  3. O que você pensa sobre a influência desses filmes na cultura e no pensamento do povo brasileiro?

O absolutismo

O absolutismo é uma fórma de organizar o poder na qual o monarca tem domínio absoluto e inquestionável sobre o território que governa. Nas monarquias absolutistas, como as da Europa entre os séculos quinze e dezoito, acreditava-se que o rei governava por vontade divina e seus súditos ou vassalos deviam ser submissos a ele.

Essa fórma de organizar o governo estava intimamente ligada à consolidação das monarquias nacionais, que você estudou no capítulo 1. Para concentrar o poder, um monarca absolutista precisava negociar com muita gente, aliar-se a pessoas poderosas, controlar inimigos, premiar aliados e súditos fiéis e manter boa relação com a Igreja. Também era fundamental distribuir porções desse poder na fórma de favores, isenção de impostos e monopóliosglossário , entre outros benefícios.

Maquiavel e o príncipe

Vários estudiosos buscaram definir o modo de governar um Estado e garantir o poder. Um dos primeiros e mais influentes textos sobre isso foi escrito pelo humanista florentino Nicolau Maquiavel, sob o mecenato da poderosa família Médici.

Em sua obra O príncipe, de 1513, Maquiavel demonstrou o que um governante deveria fazer para manter o poder sobre seu reino. Para ele, a virtude de um governante estava em sua capacidade de conservar sua estabilidade no poder e, com isso, garantir a estabilidade do Estado, mesmo que tivesse de recorrer a alianças e ações consideradas imorais.

Fotografia. Vista aérea de um jardim com pequenas árvores coníferas e arbustos distribuídos simetricamente, com um pequeno lago redondo no centro. Os caminhos na grama também formam desenhos geométricos simétricos. Ao fundo, do lado esquerdo da imagem, parte de uma grande construção amarela; do lado direito, um bosque de árvores.
Jardins do Palácio de Versalhes, em Versalhes, França. Foto de 2021.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O Palácio de Versalhes é considerado um símbolo do absolutismo. A construção, que servia como pavilhão de caça de Luís treze, passou por uma série de reformas durante o reinado de seu filho, Luís catorze, que ampliou o palácio, incluindo luxuosos jardins. Em 1682, Luís catorze se mudou para lá com a côrte real.

Pensamento de Maquiavel

Por afirmar que um príncipe poderoso devia fazer qualquer coisa para evitar a instabilidade de seu governo, Maquiavel teve seu nome associado a um adjetivo para qualificar um indivíduo astuto, que age sempre para tirar vantagem: maquiavélico. Além disso, o livro O príncipe, muitas vezes, foi resumido pela frase “os fins justificam os meios”. Essa frase não faz parte da obra de Maquiavel, mas ajuda a entender a ideia de que, para manter-se no poder, um governante poderia usar a fôrça e fazer acordos veladosglossário .

A ideia básica de Maquiavel, nessa obra, era a de que haveria um jogo entre ser e parecer. Um governante que fosse sempre bom poderia ser derrubado por outro que agisse de fórma suja, mas eficaz. Logo, era melhor parecer bom e ser eficaz, mesmo que, para isso, se comportasse de maneira imoral.

Além disso, ele propôs um jogo de oposição entre amor e medo: se um rei fosse sempre amado, teria estabilidade e, portanto, conservaria seu poder e seu projeto de governo. Entretanto, se para manter o poder fosse necessário usar a fôrça, o governante deveria fazer isso. Entre ser amado e parecer frágil e ser temido e apresentar-se como forte, o governante deveria escolher a segunda opção, mas precisaria saber que, se mantivesse o medo por muito tempo, poderia sofrer um golpe de Estado.

Antes de Maquiavel escrever O príncipe, os textos com instruções de governo eram marcados por conselhos fundamentados em virtudes cristãs, como paciência, equilíbrio, bondade e humildade. Por isso, a obra, que pregava uma moralidade menos virtuosa, foi considerada escandalosa. Mas era inegável que ela descrevia um tipo de governante poderoso, eficaz e amoralglossário que se estabelecia na Europa.

Estátua. Mulher de cabelos cacheados usando vestido longo e panos amarrados à cintura e um chapéu com plumas. Ela segura um bebê no colo e, ao lado dele, uma cornucópia (vaso em forma de chifre com frutas dentro).
táiche, deusa da Fortuna, estátua grega de mármore, século dois.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A estátua representa a deusa Fortuna, que aparece na obra de Maquiavel como símbolo da sorte e do acaso. Se um governante contasse apenas com a Fortuna, precisaria ter sorte para manter-se no poder. Diante desse perigo, deveria ter também a virtù, um conjunto de habilidades para lidar com as dificuldades.

O mercantilismo

Mercantilismo é o termo utilizado para denominar as ações econômicas das monarquias europeias entre os séculos quinze e dezoito, antes do início da chamada Revolução Industrial.

Essas ações caracterizaram a primeira fase do sistema capitalista. O capitalismo é uma fórma de organização econômica em que se busca o lucro, a acumulação de bens e de dinheiro (capital), e no qual predomina a propriedade privada. Esse sistema não nasceu pronto e, como toda invenção humana, está em constante transformação. Além disso, não se restringe à economia, mas envolve valores sociais e políticos.

O termo mercantilismo foi empregado pela primeira vez no século dezenove, por economistas que estudavam o passado do capitalismo. Para alguns historiadores, não havia regras econômicas que todas as nações deviam seguir, mas um conjunto de práticas marcadas pela interferência do Estado na economia para garantir os interesses de alguns grupos.

As práticas mercantilistas baseavam-se no metalismo, no protecionismo e na balança comercial favorável. Esses três elementos estavam interligados e favoreciam os burgueses responsáveis pelas manufaturas, os mercadores e os reis. A aliança com os setores relacionados ao comércio e à produção garantia receitasglossário ao monarca, na fórma do pagamento de impostos.

Fotografia. Moeda dourada com desenho de um brasão no meio e inscrições em latim ao redor.
Dobrão de ouro (moeda espanhola) produzido em 1714. Essa moeda foi roubada por piratas no século dezoito.
Pintura. Em primeiro plano, navio em alto-mar com homens com espadas tentando subir a bordo e lutando com os tripulantes. Um homem de bigode e lenço na cabeça, agarrado ao mastro, atira com uma pistola de cano longo. Alguns homens usam chapéus e casacos, outros camisas e lenços na cabeça e um homem está sem camisa. Há homens caídos dentro do navio. Ao fundo, mais navios e barcos menores navegando em um mar revolto.
Os piratas, pintura de fréderic jâd uá, cêrca de 1910.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Durante o mercantilismo, foram criadas companhias oficiais de comércio, como a Companhia das Índias Ocidentais dos Países Baixos. Como havia muitas embarcações que transportavam mercadorias de alto valor, os casos de pirataria eram frequentes e, muitas vezes, acobertados por alguns governos, como o inglês.

Metalismo

Muitos pensadores da época, como Jan Batiste Colbér (ministro do Estado e da Economia do rei Luís catorze, da França), afirmavam que a riqueza de uma nação se media por suas reservas de ouro e de prata (metais preciosos). Assim, quanto mais ouro e prata uma nação tivesse, mais rica ela seria. A prática do acúmulo de metais preciosos pelas monarquias absolutistas é denominada metalismo.

Protecionismo

Para proteger a economia de seu reino, os monarcas favoreciam a manufatura e o comércio em seus territórios em oposição aos interesses de outros reinos. A rainha Elizabeth I, da Inglaterra, por exemplo, distribuiu uma série de monopólios para as manufaturas em seu território. A produção de salitreglossário , sabão, espelhos e faiançaglossário , a fabricação de canhões e a refinação do açúcar de cana, entre outras atividades, tinham exclusividade no mercado interno, sendo, portanto, protegidas contra produtos vindos de fóra. A ideia era evitar a concorrência e favorecer a economia local. Essas medidas são denominadas protecionistas.

Balança comercial favorável

A balança comercial é o resultado da diferença entre o total de bens comprados e o de bens vendidos por uma nação no comércio internacional. Ela é favorável quando a quantidade de bens vendidos é maior que a de bens comprados.

Com base nesse princípio, os monarcas e seus ministros controlavam a economia para valorizar as exportações e desestimular as importações. O Estado impunha o pagamento de taxas sobre os produtos importados. Assim, lucrava com a importação e dificultava a venda dos produtos estrangeiros no país, protegendo a produção nacional. Na França, por exemplo, para manter a balança comercial favorável, o governo incentivava a produção de minérios no reino e diminuía a compra de produtos de luxo (como tecidos e joias) de outros países.

Ilustração. Balança analógica de dois pratos. O prato da esquerda está mais baixo e repleto de moedas de ouro. Junto dele, a palavra Exportação. O prato da direita está mais alto e tem poucas moedas. Junto dele, a palavra Importação.
Ilustração atual representando uma balança comercial favorável.

A sociedade do Antigo Regime

Antigo Regime é uma expressão criada no século dezoito, quando a sociedade absolutista passou por uma grave crise e foi duramente questionada. Seus críticos defendiam seu fim e a criação de um novo regime, sem reis absolutistas. E como era essa sociedade?

A sociedade do Antigo Regime era estamental, ou seja, dividia-se em estamentos, grupos sociais separados com base em privilégios.

Nesse tipo de sociedade, a posição social das pessoas era definida pela origem, não pela riqueza material; por isso, mesmo que enriquecessem, as pessoas não iam para uma camada social superior. Havia, por exemplo, comerciantes mais ricos do que nobres, mas eles não mudavam de camada social. A única exceção eram os religiosos: as posições que eles ocupavam na Igreja não necessariamente dependiam da origem social, embora o alto clero fosse majoritariamente composto pelas elites.

Naquele período, o poder que os nobres mantinham sobre as terras antes da consolidação dos Estados nacionais foi lentamente substituído pelo poder centralizado do rei e do Estado. Para manter a centralização, o rei precisava controlar os nobres, que detinham poderes locais, impostos e exércitos. Quanto melhores fossem as alianças de um rei com os nobres locais, mais poderoso ele seria.

Charge. Duas mulheres montando nas costas de uma terceira mulher. A mulher que está por baixo, usa saia bege, blusa vermelha, está curvada e segura um escovão. Elá é indicada pelo número 3. Em cima dela, indicada com o número 1, está uma mulher com roupa religiosa (hábito preto e lenço branco). Atrás dela, está a mulher indicada pelo número 2, que usa saia vermelha, blusa comprida azul, chapéu com plumas azuis, brancas e vermelhas, sapato azul com salto e um laço azul na cintura amarrado atrás.
O trabalho da camponesa, charge de 1789, publicada na França.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nessa charge foram representados os estamentos: o clero, a nobreza e um terceiro grupo que incluía comerciantes, artesãos e agricultores. O terceiro grupo era o mais numeroso, e seus integrantes pagavam os impostos que sustentavam o Estado e as outras camadas sociais. Por isso, na charge, a nobreza e o clero estão representados nas costas da camponesa.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Quem centralizava o poder no absolutismo? Cite exemplos de ações que essa figura podia tomar para conservar o poder.
  2. Descreva duas ideias defendidas por Maquiavel para um governante manter-se no poder.
  3. Que estamentos formavam a sociedade do Antigo Regime?
  4. O que definia o pertencimento de uma pessoa a um estamento?

Versões em diálogo

Os membros da nobreza seguiam um conjunto de regras de convivência chamado etiqueta. No Antigo Regime, seguir a etiqueta ficou mais difícil: novos objetos, como o garfo e o lenço, e regras para usá-los foram introduzidos à vida dos nobres para se distinguirem dos demais. Cuspir, bocejar, coçar-se e soltar gases, ações antes vistas como naturais, passaram a ser desaprovadas.

Leia os textos a seguir e, depois, responda às atividades.

TEXTO 1

“Estão grandemente enganados aqueles que imaginam tratar-se aí [a etiqueta] apenas de questões de cerimônia reticências. Os povos sobre os quais reinamos reticências pautam em geral seu julgamento pelo que veem exteriormente, e reticências é pelas primaziasglossário e posições que medem seu respeito e sua obediência. Como é importante para o público ser governado apenas por um único, também é importante reticências que este que exerce essa função seja elevado de tal maneira acima dos outros que não haja ninguém que possa confundir ou comparar-se com ele reticências

LUÍS catorze. Memórias. ín: ELIAS, N. A sociedade de côrte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de côrte. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2001. página 132-133.

TEXTO 2

reticências ‘Etiqueta é civilidade, é olhar para si mesmo, mas também olhar para o outro’. Daí sua definição de etiqueta como diminutivo de ‘ética’ – a atenção ao entorno, para que a coletividade funcione bem. reticências

reticências Hoje, reticências as pessoas convivem intensamente entre si e também com outras culturas reticências a um clique de distância. Você precisa tomar conhecimento do seu ambiente e respeitar as diferenças para viver bem em sociedade.”

GASPARINI, C. Gloria kalíl diz o que parece chique (mas não é) no trabalho. Exame, 8 junho 2017. Disponível em: https://oeds.link/HrOxDP. Acesso em: 7 fevereiro 2022.

Fotografia. Três talheres antigos (garfo, colher e faca) com os cabos adornados com arabescos.
Talheres feitos de prata em cêrca de 1684, usados em Paris, França. No Antigo Regime, o garfo era um objeto de luxo. Seu uso diferenciava os nobres dos plebeus, que comiam com as mãos ou com colheres.

Responda no caderno.

  1. Segundo os textos, qual é a função das regras de etiqueta? Cite exemplos relacionando-os ao momento histórico em que cada texto foi produzido.
  2. Com base no conteúdo do capítulo e nos textos apresentados, compare a etiqueta do Antigo Regime à da atualidade.

O absolutismo francês

Desde o século dez, a dinastia capetíngiaglossário empenhou-se em unificar o território francês. Com o fim dessa dinastia no século catorze, teve início a Guerra dos Cem Anos, uma violenta disputa entre nobres franceses e ingleses pelo direito ao trono francês. Ocorrido entre 1337 e 1453, esse conflito acelerou o processo de unificação francesa. Ao fim dele, a família valoá, da França, garantiu seu direito ao trono.

Apesar da unificação, na Idade Moderna, a estabilidade da monarquia francesa foi colocada à prova pelas guerras de religião. Como você estudou no capítulo 3, no século dezesseis, os huguenotes foram duramente perseguidos pela monarquia francesa.

As disputas religiosas eram também políticas. A família burbôm liderava os huguenotes e tinha muito poder no sul da França e na fronteira com a Espanha. No norte do país, predominava a família guís, que comandava os católicos. Ambas as famílias tinham sangue real e rivalizavam com os valoá pelo trono.

Em 1560, o jovem rei Francisco segundo morreu sem deixar herdeiros. Seguindo a linha hereditária para a sucessão, Carlos nove, seu irmão mais novo, deveria se tornar o rei da França. Como ele não tinha a idade mínima para assumir o poder, sua mãe, Catarina de Médici, foi nomeada regenteglossário e enfrentou os conflitos religiosos e as ameaças das famílias rivais. Em seu reinado, apesar de algumas tentativas de negociação, houve uma violenta perseguição aos huguenotes, que incluiu o Massacre da Noite de São Bartolomeu.

Ilustração. No primeiro plano, do lado esquerdo da imagem, um homem vestido de armadura e empunhando uma lança se dirige a três pessoas. Do lado direito, homens com armaduras e lanças, dois deles montados em cavalos, e um homem com trajes comuns, estão voltados à uma imensa fogueira onde se encontra um homem amarrado em poste de madeira. Ao fundo, dezenas de pessoas assistem a cena.
Ilustração atual representando a perseguição religiosa aos protestantes na França durante a Idade Moderna.

FONTE: KNECHT, R. J. The French wars of religion: 1559-1598. 2. ed. New York: Longman, 1996.

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A França estava profundamente dividida pelos choques entre católicos e protestantes. Com o aumento da adesão de famílias nobres à Reforma Protestante, o enfrentamento das dissidências religiosas tornou-se mais problemático para a monarquia.

Ascensão dos Bourbon ao trono

Um rei criança (portanto, frágil), uma mulher como regente (em um país que impedia mulheres de governar), disputas políticas e religiosas: a estabilidade recomendada por Maquiavel em O príncipe parecia muito distante da monarquia francesa no século dezesseis.

Com a morte de Carlos nove, em 1574, as três famílias – guís, burbôm e valoá – disputaram o trono francês. Os chefes delas tinham o mesmo nome: Henrique. Logo, a guerra entre elas ficou conhecida como a Guerra dos Três Henriques. Ocorrida entre 1587 e 1589, teve como desfecho a chegada da família burbôm ao poder, que governou a França até o fim do século dezoito.

Para assumir o trono, Henrique quarto, da família burbôm, foi obrigado a renunciar à fé protestante e a tornar-se católico. Em 1598, porém, decretou a liberdade de culto aos protestantes na França por meio do Edito de Nantes. Com isso, diminuíram as guerras de religião, que já tinham tirado a vida de 2 a 4 milhões de pessoas no país.

Os conflitos religiosos se mantiveram na França até o fim do período moderno, mas foram amenizados por Henrique quarto, que negociava com diferentes lideranças nobres, burguesas e religiosas.

Fotografia. Folha amarelada preenchida com manuscritos.
Primeira página do Edito de Nantes, promulgado por Henrique quarto em 1598, na França.

Pensamento absolutista na França

A queda dos valoá e a ascensão dos burbôm ao poder marcaram um período de fortalecimento do absolutismo monárquico na França. Mas quais eram as características do absolutismo francês? O jurista e historiador Jan budâ, que trabalhou para a família valoá, escreveu um tratado sobre o tema.

Pintura. Homens e mulheres em um grande salão. Alguns estão em pares, como se estivessem dançando. As mulheres vestem vestidos de mangas compridas e golas altas e saias com armação. Os homens vestem calças curtas, meias compridas, casacos, chapéus. Muitos homens e mulheres estão usando rufos (grandes golas brancas plissadas) no pescoço.
Um baile durante o reinado de Henrique quarto, de luí de cólerrí, pintura do século dezessete. Durante o reinado de Henrique quarto, os bailes reais reforçavam a elegância, a etiqueta e o luxo da côrte francesa.
Pensamento de budâ

Para Jean budâ, a palavra Estado designava as fórmas de organização da república (no sentido de “coisa pública”), ou seja, da vida em sociedade. Para ele, poderiam existir três fórmas de governar um Estado: monarquia, aristocracia e democracia. Isso seria definido de acordo com quem detinha a soberaniaglossário , o poder absoluto e perpétuoglossário : um indivíduo, um grupo de indivíduos ou a maioria dos cidadãos. Analise o esquema a seguir:

Esquema. Esquema horizontal estruturado em três fases, da esquerda para a direita. Na primeira parte, uma palavra em destaque da qual se desdobram as duas fases explicativas subsequentes, como segue: 
1. Soberania, Monarquia, pertence a um príncipe.
2. Soberania, Aristocracia, pertence a uma pequena parcela do povo.
3. Soberania, Democracia, pertence ao povo.

budâ considerava a monarquia superior às outras fórmas de Estado. O tema foi objeto de análise de outros pensadores da época, como o cardeal richeliê.

Cardeal richeliê

No início do século dezessete, no reinado de Luís treze, da família burbôm, o cardeal richeliê foi o primeiro-ministro da França. O religioso se tornou referência para a definição de absolutismo e implementou reformas, garantindo a centralização do poder pelo rei, reformulando o exército e valorizando a política econômica mercantilista. Além disso, promoveu rivalidades religiosas com os protestantes em guerras por toda a Europa.

richeliê escreveu um testamento político no qual narrou sua trajetória como primeiro-ministro, destacando de fórma convincente a transformação da França em um Estado absolutista.

Além de organizar a administração da monarquia francesa, o primeiro-ministro construiu a base do absolutismo francês: o poder centralizado, o mercantilismo e muitas negociações para manter a estabilidade no poder, que já havia sido mencionada por Maquiavel.

Ilustração. Homem de cavanhaque grisalho usando camisa branca de gola grande, manto vermelho comprido, um tipo de boina vermelha na cabeça e uma corrente grande com um pingente de cruz no centro do peito. Ele segura um chapéu religioso vermelho em uma das mãos.
Ilustração atual, feita com base na pintura de filíp de champénie no século dezessete, representando o cardeal richeliê. Ao promover disputas religiosas, ele destruiu o poder político e a capacidade militar dos huguenotes.
Cardeal Mazarino

O filho mais velho de Luís treze herdou o trono da França em 1643, com apenas 4 anos de idade. O pequeno Luís catorze se tornaria o monarca com o mais longo reinado na história da França (de 1643 a 1715) e o símbolo máximo do absolutismo. Por causa da idade do rei, o cardeal Mazarino assumiu a regência do país até 1661.

O Breviário dos políticos, publicado pelo cardeal em 1684, era uma fórmula maquiavélica do início ao fim e reunia conselhos práticos e imorais para governar com poder inquestionável. Um dos conselhos era o de que o príncipe deveria controlar a côrte, saber dissimularglossário e ter teatralidade política, sem concessão à bondade ou à ética.

O cardeal orientou o príncipe, por exemplo, a ouvir empregados e pajensglossário , mas evitar fazer uso imediato dos segredos que eles revelassem. Em outra passagem, aconselhou-o a contar uma história diferente a cada pessoa, com variações, pedindo segredo. Assim, a versão que se espalhasse revelaria quem violou o segredo. O cardeal também tratou das falsas notícias como poderosos instrumentos de dominação política.

Os ensinamentos do cardeal ecoaram no reinado de Luís catorze, quando ele assumiu o poder pleno em sua maioridade. O monarca controlava diretamente a côrte e, por meio de bailes, festas e jogos de etiqueta, mantinha os nobres em constante vigilância.

Charge em preto e branco. À esquerda, um homem em pé, visto lateralmente, usando peruca de cabelos longos cacheados, calça curta, meias compridas, sapatos de salto e um longo manto de pele adornado, segurando um cetro. À direita, o mesmo homem, com as mesmas roupas, na mesma posição. Ao centro, o mesmo homem, na mesma posição, porém sem a peruca e vestindo apenas paletó e calça, segurando uma bengala.
Como fazer um rei parecer um rei? Vesti-lo com as roupas de um rei!, charge anônima de cêrca de 1840.
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Imagens em contexto!

No reinado de Luís catorze, a vestimenta tinha muita importância no simbolismo real. Ela fazia parte da etiqueta. A charge demonstra essa importância, pois apresenta Luís catorze sem suas vestimentas (como uma pessoa comum) e com suas roupas reais, ressaltando todo o poder e esplendor que um rei precisava exibir.

Dica

FILME

Os três mosqueteiros

Direção: Pôl W. S. Anderson. Reino Unido, França e Alemanha, 2011. Duração: 110 minutos

O filme trata da história fictícia de Dartanhã, jovem do interior da França treinado pelo pai para se tornar um mosqueteiro, ou seja, um guarda responsável pela proteção do rei. Ele vai a Paris e conhece átos, aramís e pórtos. O quarteto se une para lutar contra os guardas do cardeal richeliê, que pretende expor à população a fragilidade de Luís treze, para que o povo exija um monarca mais poderoso.

Reinado de Luís catorze

De acordo com a lógica absolutista, o rei tinha dois corpos: um mortal, capaz de adoecer, envelhecer e morrer, como o de qualquer súdito, e outro místico, sacralizado, que o separava dos demais, pois estava imortalizado na arte, na história e na memória. Quando um rei morria, seu corpo sagrado migrava para o sucessor, que, por sua vez, passava a ter dois corpos. Isso tornava a monarquia sagrada.

Para compor essa lógica de poder, Luís catorze se cercou de escritores, artistas, artesãos, alfaiates, escultores, cientistas, poetas e historiadores que pudessem transformá-lo em símbolo público de glória. Tudo o que ele fazia como rei era cênico: um teatro do Estado, no qual seus trajes e gestos manifestavam seu poder.

Jác bossuê foi um dos principais teóricos da corte de Luís catorze. Segundo bossuê, os monarcas estavam apenas abaixo de Deus, e somente a ele deviam satisfações. Essa fórma de pensar ficou conhecida como teoria do direito divino dos reis. Assim, apoiado nessa justificativa, o rei poderia perseguir, desqualificar e deslegitimar qualquer opositor. Com base nesse enorme poder, Luís catorze decretou que as ordens do papa só seriam obedecidas na França se aprovadas pelo rei.

O principal palco para o teatro político de Luís catorze era o Palácio de Versalhes, um majestoso conjunto de palacetes, jardins e um imenso, luxuoso e planejado palácio, onde o rei passava boa parte do tempo com sua côrte.

Fotografia. Detalhe dourado de um portão com a cabeça de um homem de cabelos encaracolados, da qual saem raios de sol.
Símbolo de Luís catorze, o Rei Sol, no portão do Palácio de Versalhes, em Versalhes, França. Foto de 2020.
Pintura. No centro da imagem, um homem usa peruca de cabelos longos cacheados pretos, camisa branca com mangas largas e gola comprida, um manto comprido com o mesmo veludo azul com flores de lis douradas e forro branco com bolinhas pretas por cima, meias compridas brancas e sapatos de salto. Há uma espada dourada pendurada em sua cintura e ele segura um cetro. Ao seu lado, em cima da mesinha, uma coroa dourada forrada com veludo azul. Ele foi representado em sua sala com paredes cobertas de veludo vermelho, poltrona e mesinha cobertas de veludo azul com detalhes de flores de lis douradas.
Luís catorze, rei da França, pintura de riassãnti rigô, 1701.
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Luís catorze ficou conhecido como o Rei Sol por usar imagens do deus grego Apolo e se considerar o centro do poder. É atribuída a ele uma das frases que melhor representam o Estado absolutista: “O Estado sou eu”. Uma nova cultura visual foi inaugurada com o absolutismo. Pintores que trabalhavam para a realeza destacavam sua centralidade, grandiosidade e importância política.

O absolutismo inglês

A experiência do absolutismo inglês estava intimamente ligada à dinastia túdor e à Reforma Protestante. Henrique oitavo governou a Inglaterra entre 1509 e 1547, sendo o segundo rei da família túdor e o criador da Igreja Anglicana, como você estudou no capítulo 3. Ao romper com a Igreja Católica e fundar a Igreja Anglicana, tornou-se chefe supremo do Estado e da Igreja.

Além de concentrar poderes civis e religiosos, os monarcas ingleses apresentavam outra particularidade: eram (e ainda são) submetidos ao Parlamento. Essa instituição foi criada na Baixa Idade Média para, entre outras funções, controlar as finanças do Estado e as decisões militares e analisar questões judiciais. Até hoje, ele funciona como um importante órgão legislativo do sistema monárquico.

Em seu reinado, porém, Henrique oitavo exerceu amplo contrôle sobre a política inglesa e o Parlamento, que, em geral, apenas confirmava as decisões e leis que favoreciam ao rei.

A morte de Henrique oitavo, em 1547, foi seguida de uma série de instabilidades políticas. Uma delas envolveu o herdeiro do trono, o filho mais novo de Henrique oitavo, Eduardo sexto: ele assumiu o reinado com apenas 10 anos de idade, adoeceu e morreu aos 16 anos. As outras duas herdeiras eram as irmãs de Eduardo sexto, Maria e Elizabeth. Embora a lei permitisse, até então nenhuma mulher na história inglesa havia assumido o trono.

Fotografia. Construção retangular com seis torres quadradas menores (duas à esquerda, duas à direita, e duas mais centrais, sendo que as duas do canto direito estão em reforma) e uma grande torre quadrada no fundo à esquerda da imagem. A construção fica à beira de um rio.
Palácio de Westminster, em Londres, Reino Unido. Foto de 2020.
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O Palácio de Westminster é o local onde ocorrem as reuniões do Parlamento britânico. É composto de duas alas ou casas: a Câmara dos Comuns, formada por integrantes da baixa nobreza e burgueses enriquecidos, e a Câmara dos Lordes, formada por integrantes da alta nobreza e do alto clero. O líder do Parlamento é responsável pelo diálogo entre as casas parlamentares e o rei.

Reinado de Maria primeira

Maria, filha de Henrique oitavo e de Catarina de Aragão, católica desde a infância, assumiu o trono em 1553. Antes, porém, várias conspiraçõesglossário foram armadas para impedi-la de ser a monarca da Inglaterra. Essas tramas foram motivadas principalmente pela religião de Maria – que era católica (o país era oficialmente protestante) – e pelo fato de ela ser mulher.

Após se estabelecer como rainha, Maria primeiro reconheceu a existência das duas religiões e permitiu a prática do anglicanismo, mas nunca escondeu seu desejo de reconverter a Inglaterra ao catolicismo. Para isso, substituiu decretos religiosos por uma lei de heresia, usada para condenar à morte cêrca de trezentos protestantes. As perseguições religiosas de Maria lhe valeram os apelidos a sanguinária entre os protestantes e a católica entre seus partidários.

Maria casou-se com seu primo Filipe segundo, da Espanha, que assinou um contrato abrindo mão de qualquer direito ao trono inglês. O casamento foi bastante impopular, pois os ingleses tinham receio de que o reino fosse anexado à poderosa Espanha.

A aliança com a Espanha arrastou a Inglaterra para um conflito militar com a França, que custou perdas territoriais aos ingleses. Maria e Filipe não tiveram filhos, e a rainha morreu em 1558, sendo sucedida por sua irmã, Elizabeth primeiro.

Pintura. No centro da imagem, mulher usando um vestido preto longo com gola alta e com mangas compridas e saia com arabescos em dourado, um colar de pérolas com um grande pingente dourado, uma corrente dourada na cintura da qual pende um cordão até abaixo dos joelhos tendo na ponta um pingente dourado com uma cruz, anéis nos dedos e um adorno preto cobrindo a cabeça. Ela está sentada em uma poltrona de veludo vermelho, segurando uma flor vermelha em uma das mãos e luvas na outra.
Rainha Maria primeiro, pintura de Anthonis Mor, 1554.
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As representações da rainha Maria primeiro são marcadas por cores e poses discretas. Nesse retrato, feito para seu casamento, ela segura uma rosa vermelha (símbolo da família túdor) na mão direita e as luvas na mão esquerda. Além disso, destacam-se ornamentos como o colar de pérolas, dado por Filipe segundo, e a cruz no detalhe do cinto.

Essas escolhas artísticas fortaleceram a imagem de uma rainha moralmente rigorosa. Após a perseguição aos protestantes e a fama de sanguinária, a essa imagem somou-se, no imaginário popular, a característica de cruel.

Reinado de Elizabeth primeiro

Elizabeth primeiro declarou o anglicanismo religião oficial da Ingla­terra. Com o Parlamento, fez uma reforma administrativa e valorizou a burguesia inglesa promovendo a taxação de produtos estrangeiros. Além disso, ela promoveu o desenvolvimento da arte. A rainha amava música, dança e teatro e favoreceu poetas e dramaturgos como Uilian Xêiquispíer e crístofer márlou.

Apesar de seu reinado ter sido retratado como uma era de paz e prosperidade e de ter adotado uma abordagem moderada no conflito religioso, ela ordenou a perseguição e a execução de católicos. Em razão disso, em 1570, o papa Pio quinto a excomungou.

Do ponto de vista diplomático, Eliza­beth primeiro encerrou a guerra com a França, iniciada por sua irmã. Em 1585, executou Méri Istíuart, sua prima católica e ex-rainha da Escócia, que tinha sido acusada de tentar tomar o trono inglês. Também apoiou uma rebelião protestante contra a Espanha, nos Países Baixos. Em resposta, a Espanha tentou invadir a Inglaterra com sua frota naval, a Invencível Armada. O confronto foi longo, mas, em 1588, a Inglaterra venceu a Espanha.

No campo, suas ações também foram controversas. Com a valorização da produção de tecidos promovida pelo Estado, a criação de carneiros tornou-se muito lucrativa. Por isso, os proprietários de terra ingleses passaram a expulsar os camponeses e cercar os campos para manter os rebanhos. Com o cercamento dos campos, a população camponesa perdeu meios de produzir e de se alimentar.

Elizabeth nunca se casou; por isso, era chamada de rainha virgem. Morreu em 1603, sem deixar herdeiros. Assim, uma nova dinastia, a Istíuart, dos reis da Escócia, primos dos túdor, ocupou o trono inglês.

Pintura. No primeiro plano, homens com armaduras montados em cavalos seguram lanças ou estandartes, um destes com uma bandeira branca e uma cruz vermelha, e outro com um brasão no meio, um leão dourado do lado esquerdo e um cavalo vermelho do lado direito. Ao centro, uma mulher com vestido dourado e gola alta montada em um cavalo, acompanhada de mais duas mulheres com vestidos pretos e vermelhos e dois homens a pé com calças e camisas pretas e vermelhas com meias compridas brancas. Ao fundo, o mar cheio de caravelas, algumas delas em chamas.
Detalhe de um díptico, painel composto de duas tábuas articuladas, pintadas com motivos religiosos, da Igreja de Saint Faith, em King’s Lynn, Reino Unido. Produzido no século dezessete, o painel representa a rainha Elizabeth primeiro viajando a Tilbury para impedir a invasão da armada espanhola.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Qual foi a importância da ascensão da família burbôm na França para o fortalecimento do regime monárquico?
  2. Descreva as fórmas de Estado definidas pelo pensador Jan budâ.
  3. Explique o papel do Parlamento na monarquia inglesa.

Vamos pensar juntos?

Apesar de ter aumentado no século vinte e um, a participação das mulheres em posições de poder ainda é baixa em comparação com a dos homens. No Brasil, em 2020, apenas 14,8% dos parlamentares eram mulheres.

Na Inglaterra do século dezesseis, os homens dominavam a política. A liderança de Elizabeth primeiro, que assumiu o governo da monarquia britânica em 1558, despertou críticas por motivos legaisglossário – na sucessão real, o filho mais velho (do sexo masculino) teve prioridade sobre a Coroa britânica até 2013 –, preconceitos e estereótiposglossário . Hoje, contudo, o reinado dela é conhecido pelos britânicos como uma “era de ouro”.

Em 19 de agosto de 1588, antes de as tropas inglesas partirem para a batalha contra a armada da Espanha, Elizabeth primeiro fez um discurso em que afirmou seu poder e a fôrça das tropas inglesas. Leia e analise um trecho desse documento.

“Meu querido povo,

reticências venho até vocês reticências por estar decidida, no meio e no calor da batalha, a viver e morrer entre vocês. Estou disposta a entregar reticências meu sangue para Deus reticências.

Sei que tenho o corpo frágil e fraco de mulher, mas eu tenho o coração e o estômago de um rei, e de um rei da Inglaterra. E menosprezo que reticências qualquer príncipe da Europa ouse invadir as fronteiras de meu reino; ao que, se isso acontecer, antes que qualquer desonra recaia sobre mim, eu mesma levantarei armas reticências.”

QUEEN Elizabeth I’s speech to the troops at Tilbury. Royal Museums Greenwich. Disponível em: https://oeds.link/kORXUG. Acesso em: 7 fevereiro 2022. Tradução nossa.

Pintura. No centro, mulher com cabelos curtos ruivos cheios de adornos de pérolas, usando vestido longo preto com mangas bufantes douradas adornadas com laços, e rufo (gola redonda plissada) rendado. Ela está sentada em uma cadeira com a mão direita apoiada em um globo terrestre, que está em cima de uma mesa. Ao fundo, uma coroa real em cima de uma mesa e dois quadros, um deles com o desenho de muitas caravelas.
Retrato de Elizabeth primeiro da Inglaterra, pintura anônima, cêrca de 1588. A mão sobre o globo terrestre, a coroa, a riqueza dos ornamentos e a representação da frota naval ao fundo reforçam o poder da rainha.

Responda no caderno.

  1. Como a rainha Elizabeth primeira se descreve no discurso?
  2. Qual teria sido a intenção da rainha ao apresentar-se aos seus súditos dessa fórma? Justifique sua resposta.
  3. Quais seriam as dificuldades enfrentadas pelas mulheres em posições de poder no período elisabetano? E hoje?

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. No caderno, produza um quadro com as principais características do mercantilismo e suas definições. Selecione termos como metalismo, protecionismo e balança comercial favorável. Depois, complete o quadro com a definição de cada termo.
  2. As afirmações a seguir tratam da sociedade do Antigo Regime. No caderno, identifique as verdadeiras e as falsas.
    1. A posição social das pessoas era definida pelo nascimento.
    2. A burguesia era o grupo social mais privilegiado por conta de sua origem campesina.
    3. Para manter a centralização do Estado, o rei precisava controlar os poderes locais dos nobres.
    4. A divisão social em estamentos possibilitava a mobilidade social.
    5. A nobreza e o clero se beneficiavam de acordos e de relações pessoais com os reis.

Aprofundando

3. No quadro reproduzido a seguir, é representada uma performance de djón di para a rainha Elizabeth primeiro e seus súditos. di, que ficou conhecido como o mágico da rainha, era uma mistura de cientista alquímico e astrólogo. Por estudar muitas ciências, ele fascinou as pessoas durante séculos. Acredita-se que ele foi a inspiração para o personagem Próspero, o duque de Milão, do livro A tempestade, escrito por volta de 1611 por Uilian Xêiquispíer. Analise a imagem e depois faça o que se pede.

Pintura. Em uma grande sala, uma mulher com vestido longo dourado sentada em um trono vermelho, com diversas pessoas da realeza ao seu redor, assiste a um homem com túnica preta e rufo branco que derruba uma substância sobre um pote de metal com suporte. Do pote saem chamas altas. A luz incide na sala por meio de uma porta lateral iluminando a mulher de vestido dourado. O homem de túnica preta está posicionado em uma área de sombra.
djón di realizando um experimento diante da rainha Elizabeth primeiro, pintura de ãnri gilárd glíndoni, 1913.
  1. Como a rainha Elizabeth primeiro é representada na pintura?
  2. Como djón di é representado na obra de ãnri gilárd glíndoni?
  3. Por que se pode afirmar que a ação da rainha ao receber em sua côrte um personagem como djón di era compatível com a chamada modernidade?

4. Leia a tirinha a seguir e depois responda às atividades.

Quadrinho composto por um quadro. Apresenta dois estudantes, um menino e uma menina, usando coroas, sentados em carteiras individuais. À frente deles, um professor em pé, vestindo roupas bufantes, e segurando um giz ao lado de uma lousa retangular, posicionada sobre uma base de madeira. No canto superior esquerdo da imagem, o tema do quadrinho: Na sala de aula do castelo. Na lousa está escrito: "Gramática. A bola rolou colina abaixo." E o professor diz: “Sei que é difícil de entender, mas o sujeito da oração nem sempre é sujeito do rei”.
frênqui e Êrnest, tirinha de Bob Teives, 2020.
  1. Em que sentidos a palavra sujeito é empregada na tirinha?
  2. Por que os estudantes representados na tirinha têm dificuldade em entender a lição?
  3. Explique como o uso do termo sujeito na tirinha se relaciona ao funcionamento das monarquias absolutistas europeias.
  1. Neste capítulo, você estudou a formação e o funcionamento das monarquias absolutistas europeias, compreendendo o processo de centralização do poder. Algumas das monarquias estudadas existem até hoje, mas há diferenças na fórma como o poder é exercido em cada uma. Atualmente, dezenas de países são monarquias, que podem ser constitucionais (em que o poder é limitado por uma Constituição), parlamentaristas (em que o governo é exercido por representantes eleitos pelos cidadãos) ou apresentar sistemas mistos (em que diferentes fórmas políticas são combinadas). Há também aquelas em que os reis ainda detêm plenos poderes. Selecione uma monarquia contemporânea e faça uma pesquisa sobre a organização do governo desse país. Depois, compare a estrutura desse governo com a das monarquias absolutistas que estudou. Para isso, siga estas etapas.
    1. Retome o que você estudou sobre o absolutismo e anote as principais características dessa fórma de organizar a política.
    2. Seguindo as orientações do professor, identifique e selecione um país em que a monarquia vigora. O funcionamento político desse país será seu objeto de pesquisa.
    3. Faça uma pesquisa, em livros, jornais e revistas impressos e/ou em sáites, sobre a composição política do país selecionado. Procure respostas para as seguintes questões, registrando as informações que obteve e as fontes de pesquisa que utilizou.
      • Ele é regido por uma Constituição?
      • A população pode eleger representantes?
      • Quem exerce a Justiça?
      • O rei é considerado chefe de Estado, de governo ou de ambos?
    1. Organize as informações registradas nas etapas a e em um quadro comparativo.
    2. Escreva um comentário sobre as diferenças e semelhanças entre as monarquias absolutistas europeias da Idade Moderna e a monarquia contemporânea que você pesquisou. O resultado de sua pesquisa pode ser compartilhado com a turma.

Glossário

Monopólio
: exploração de um negócio ou produto feita exclusivamente por um grupo ou indivíduo.
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Velado
: escondido, encoberto.
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Amoral
: que não considera preceitos morais.
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Receita
: nesse contexto, o conjunto das riquezas arrecadadas por um Estado.
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Salitre
: nitrato de potássio. Naquele período, era utilizado para fabricação de pólvora.
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Faiança
: louça de barro coberta por esmalte.
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Primazia
: superioridade.
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Dinastia capetíngia
: dinastia real que governou a França entre os séculos dez e catorze. Em 1328, com a morte de Carlos quarto, não havia sucessores diretos da dinastia e o trono francês passou para Felipe sexto, primo de Carlos quarto, da família valoá.
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Regente
: chefe do governo estabelecido em uma monarquia em caso de indisponibilidade ou menoridade do rei.
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Soberania
: poder político máximo de um Estado.
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Perpétuo
: contínuo, inalterado, eterno.
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Dissimular
: esconder os próprios sentimentos e intenções.
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Pajem
: jovem serviçal que acompanhava um príncipe, um senhor ou uma dama.
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Conspiração
: elaboração de um plano para prejudicar alguém.
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Legal
: relativo à lei.
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Estereótipo
: ideia ou convicção preconcebida sobre algo ou alguém, resultado de falsas generalizações ou de julgamentos.
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