CAPÍTULO 5 A conquista da América e a mundialização da economia

Nesta imagem, é representada a conquista, pelos espanhóis, da cidade de tcholula, um centro religioso do Império Asteca, em 1519. Analise a cena, pintada por Félix Parra, artista mexicano, no fim do século dezenove, e imagine o que ele pensava sobre esse fato.

Pintura. Homens com armaduras, empunhando espadas e lanças, estão no pátio de uma construção retangular de pedra. No primeiro plano, à esquerda da imagem, no chão, há um homem seminu, estirado, com manchas de sangue. Ao seu lado, uma mulher com véu na cabeça e túnica longa marrom está deitada com o braço sobre um bebê desnudo. No canto direito, duas mulheres de túnicas longas e véu na cabeça. Uma ajoelhada com um bebê no colo e olhando para o alto. A outra está ajoelhada, cabisbaixa e se apoiando em um bastão.
Episódios da conquista: o massacre de tcholula, pintura de Félix Parra, 1877.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Descreva a postura dos grupos representados e os sentimentos que parecem transmitir.
  2. Quem são os vencedores e quem são os vencidos na visão do artista? Justifique sua resposta por meio dos elementos contidos na imagem.
  3. Se esse quadro fosse sua única referência sobre o tema, como você explicaria a conquista da cidade de tcholula pelos espanhóis?

A América às vésperas do contato com a Europa

A chegada de Cristóvão Colombo ao Caribe em 1492 costuma ser chamada de a “descoberta da América”. No entanto, quem emprega esse termo desconsidera a existência de milhões de pessoas que viviam no continente americano quando os europeus chegaram.

Além disso, o próprio Colombo nunca reconheceu a identidade das terras em que aportou, pois acreditou que tinha atingido seu objetivo de encontrar a Ásia, como você estudou anteriormente. De todo modo, com as viagens de Colombo, os europeus começaram a ter contato com populações e territórios até então desconhecidos por eles.

Na América que os europeus encontraram no fim do século quinze, havia locais com características geográficas muito diversas. Além dessa geografia a ser descoberta, havia diferentes sociedades, com características muito distintas entre si.

Você já estudou algumas dessas sociedades que habitavam a América quando os europeus aportaram no continente. Algumas delas se organizavam em civilizações hierarquizadas, como a maia, a asteca e a inca. Outras formavam grupos autônomos e povos nômades, com modos de vida, crenças e idiomas bem distintos, como aquelas fundadas no território correspondente ao atual Brasil. Diante dessa diversidade, houve diferentes ações e reações no contato entre europeus e indígenas.

Fotografia. No primeiro plano da imagem, pessoas puxam dois cabos amarrados a uma estátua colocada sobre um grande pedestal. A estátua está inclinada para frente, prestes a ser derrubada. Diversas pessoas observam o ato.
Estátua de Cristóvão Colombo sendo derrubada durante manifestação na cidade de Barranquilha, na Colômbia. Foto de 2021.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Estátuas e monumentos produzidos para homenagear personagens históricos associados à dominação de povos, à escravidão e ao racismo vêm sendo alvos de protestos em diferentes locais em anos recentes. Diante dessas ações populares, como a mostrada na imagem, promove-se um debate importante sobre o modo de lidar com a memória vinculada a esse tipo de construção no mundo contemporâneo. Na imagem, a bandeira em destaque é a Whipala, típica dos povos andinos e um dos símbolos da resistência indígena.

A diversidade dos povos indígenas americanos

Os tchíbtchás (ou muíscas), os taironas e os cenúes habitaram a costa caribenha e outras regiões do território correspondente à Colômbia. A agricultura era a base de suas sociedades, e se destacaram também na produção de artesanato, especialmente com ouro. Possuíam mercados para comércio e templos e santuários para culto de seus deuses. Eles influenciaram culturalmente regiões vizinhas da América Central e do norte do território onde hoje é a Venezuela.

Nas Pequenas Antilhasglossário , havia os grupos chamados caraíbas ou caribes. Esses povos, provavelmente originários do território correspondente ao da atual Venezuela, não possuíam uma organização social hierarquizada. Nas aldeias caribes, viviam pequenos agrupamentos de nativos, governados por um ou mais caciques.

Os caribes praticavam a pesca, a caça e a agricultura. Quando os europeus chegaram à região, eles estavam em processo de expansão, realizando ataques a povos das áreas vizinhas, como os tainos, que viviam nas Grandes Antilhasglossário .

Como você estudou no ano passado, na região da Meso-américa houve importantes civilizações. No fim do século quinze, os astecas e seus aliados foram a principal fórça na região: em expansão, impuseram seu domínio sobre a região central do território correspondente ao atual México.

Na América do Sul encontrava-se o Império Inca, o maior do continente. Seus domínios se estenderam do território correspondente ao do atual Equador até o norte do Chile, com mais de 10 milhões de habitantes, de diferentes povos e culturas.

Fotografia. Escultura de madeira de um homem nu com os dentes cerrados sentado com as mãos nos joelhos e um pote na cabeça.
Zemí, escultura produzida pelos taínos entre os séculos dez e onze encontrada na atual República Dominicana.
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Imagens em contexto!

Os taínos eram o grupo indígena mais populoso da região do Caribe. Eles praticavam a agricultura, com destaque para o cultivo da mandioca e do inhame. Caçavam pequenos animais e pescavam. Organizavam-se tanto em assentamentos pequenos, compostos de famílias próximas, quanto formavam grupos de milhares de indivíduos. Produziam artefatos de ouro e cerâmicas. Eles acreditavam em espíritos, que cultuavam por meio de representações esculpidas chamadas zemí. Em peças como esta, normalmente eram esculpidas figuras com fórmas humanas ou de animais.

A conquista da América

O termo conquista tem diversos significados. Ao tratar da história do continente americano, ele é utilizado para designar um período de guerras, no qual os europeus tentaram subjugarglossário os povos indígenas, transformando-os em vassalos tributáriosglossário .

Durante esse processo, os espanhóis buscaram se aliar a alguns grupos indígenas para combater outros. Nessas relações, os grupos indígenas eram movidos por interesses e necessidades próprios e utilizavam as alianças com os espanhóis para fins políticos.

Os contatos inicialmente amistosos e baseados em trocas de produtos e alianças militares contra inimigos em comum entre os espanhóis e alguns grupos indígenas, porém, deram lugar à submissão dos indígenas a trabalhos forçados.

A exploração do trabalho e, principalmente, as doenças trazidas da Europa, como gripe, sarampo e varíola, às quais os indígenas não eram imunes, produziram altas taxas de mortalidade na América.

Muitos europeus também morreram nesse processo em razão de doenças nativas americanas, guerras ou fome. No entanto, diferentemente do que ocorria com os indígenas, a população europeia era reposta com o desembarque de mais colonos.

Entre as décadas de 1510 e 1520, depois de muitas tentativas frustradas, os espanhóis fundaram pequenas cidades na América Central, geralmente próximas à costa. Essas localidades serviram de ponto de apoio para as futuras expedições que partiram para o interior do continente.

Rotas de expansão da conquista – século dezesseis

Mapa. Rotas de expansão da conquista, século dezesseis. Destaque para o continente americano.
Legenda:
Círculos branco de borda preta: Foco de irradiação da conquista.
Seta vermelha: Rotas de expansão da conquista.
Verde: Limites do Império Asteca.
Amarelo: Limites do Império Inca.
No mapa: 
Focos de irradiação da conquista: Santiago, Cuzco, Quito, Panamá, Tenochtitlán e São Domingos.
Rotas de expansão da conquista: um primeiro núcleo se inicia em 1496 com a fundação de Santo Domingo.  De lá ocorre uma expedição em 1509 para as ilhas a leste e para Santa Fé de Bogotá, na atual Colômbia; e em 1519 para o Panamá, para as ilhas a oeste de São Domingos e para Tenochtitlán, no atual México, quando Hernán Cortés entra na cidade. De Tenochtitlán, em 1524, ocorrem expedições ao redor da região do atual México e depois para as Filipinas, via Oceano Pacífico; e em 1530, uma expedição avança pela América Central até a região da atual Nicarágua. Em 1533, Francisco Pizarro entra na cidade de Cuzco, no atual Peru. De lá, ocorre uma expedição em 1534 para Quito, no atual Equador, e, de Quito, em 1538, para Santa Fé de Bogotá. De Cuzco, em 1540, ocorre uma expedição para o sul até a cidade de Santiago, no atual Chile. 
Limites do Império Asteca: região de Tenochtitlán, no centro-sul do atual México e nordeste da atual Guatemala.
Limites do Império Inca: vai de uma pequena região na parte sudeste da atual Colômbia até a região ao sul de Santiago, abarcando porções dos territórios dos atuais Chile e Argentina.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.140 quilômetros.

FONTES: bétel, L. (organizador). História da América Latina colonial. São Paulo: Edusp, 2004. página 56. volume 1; dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. página 238; ráramílio, A. Atlas Histórico de América Latina y el Caribe. Remedios de Escalada: De la únla universidád nacional de lanús, 2016. página 153.

A conquista do México

Na conquista da região que futuramente veio a ser o México, destacou-se a atuação das tropas lideradas pelo capitão hernãn cortês, que já tinha participado de campanhas no Caribe.

Em 1519, ele recebeu a incumbência de procurar náufragos de expedições anteriores no local que os indígenas diziam ser terra firme a oeste de Cuba. Com poucos homens – incluindo espanhóis veteranos das guerras de conquista no Caribe, negros escravizados ou libertos e indígenas caribenhos –, alguns cavalos e poucos canhões, cortés partiu para o interior do continente em busca de um grande império que os nativos diziam haver lá.

Na região de Iucatã, localizada no sul do atual México, cortés encontrou dois náufragos espanhóis. Um deles tornou-se seu intérprete, por falar maia e castelhano. O outro não aceitou voltar ao convívio dos espanhóis, pois estava casado com uma indígena, com a qual tinha filhos.

Algum tempo depois, ao vencer uma batalha, cortés recebeu presentes que incluíam jovens mulheres indígenas dos povos derrotados, prática comum no período. Essa política de presentear e ser presenteado servia para selar alianças entre grupos indígenas e os europeus recém-chegados.

Uma das mulheres dadas ao grupo, malintche, já havia sido repassada várias vezes de uma aldeia a outra na condição de escravizada. Por falar a língua maia e também náuatle, idioma dos astecas, tornou-se uma figura fundamental na comunicação entre os espanhóis e os grupos indígenas.

Pintura mural. No primeiro plano, no centro da imagem, dois homens europeus, com casacos, calças bufantes e chapéus trocam moedas enquanto um terceiro homem, de chapéu e roupas pretas lê um grande livro. Do lado esquerdo, dois europeus trajando armaduras prendem um homem indígena que está ajoelhado no chão enquanto várias pessoas indígenas acorrentadas assistem à cena. Ainda no primeiro plano da imagem, do lado direito, um homem europeu montado em um cavalo, cercado de burros de carga, parece pastorear bois, porcos, cabras e carneiros. Em segundo plano, no alto à esquerda, uma cruz de madeira fincada no chão. Ao redor dela, há indígenas e europeus, entre eles, um clérigo segurando um livro aberto e com uma mão levantada. À frente da cruz, um homem branco segura um chapéu de plumas na mão e ergue uma espada na direção de uma pessoa indígena de manto azul que está prostrada diante dele. Ao lado da cruz,, da esquerda para a direita da imagem, indígenas escravizados supervisionados por feitores europeus, trabalham arando e fertilizando o solo e carregando longas toras de madeira. No terceiro plano, da esquerda para a direita da imagem, há indígenas pendurados em árvores, carregando sacos, pesquisando paredes rochosas com picaretas e derrubando árvores.
Epopeia do povo mexicano, denominada A conquista ou chegada de hernãn cortês a Veracruz, detalhe do mural de Diego Rivera, 1929-1945.
A intérprete e conselheira malintche

Ao aprender o castelhano, malintche assumiu a função de intérprete do grupo. Batizada pelos europeus como dona Marina, ela tornou-se conselheira de cortés.

Para seus contemporâneos, além de intérprete e conselheira – papel que era normalmente desempenhado por homens –, malintche foi uma líder: em imagens feitas por indígenas, por exemplo, ela foi representada à frente de exércitos multiétnicos.

Com base nas informações fornecidas por ela, o capitão hernãn cortêsviu-se favorecido em negociações com os indígenas, uma vez que teve acesso a seus hábitos e suas estratégias, bem como a dados sobre a região.

É possível supor que alguns significados se perdiam na tradução entre idiomas e visões de mundo tão diferentes, mas, graças à atuação de malintche, cortés pôde tirar proveito das rivalidades entre os diferentes grupos indígenas. Dessa maneira, os espanhóis estabeleceram importantes alianças com grupos como os totonacas e os tlaxcaltecas, por exemplo.

Litografia. No centro da imagem, um homem europeu com casaco, botas e chapéu verdes, está sentado em uma cadeira, ao seu lado, em pé, uma mulher indígena vestindo ponche xadrez. Ao redor do casal, à esquerda, europeus vestindo armaduras e casacos, segurando escudos e lanças e dois cavalos pastando.  À direita, três indígenas vestindo mantos nos ombros, tanga e sandálias. O que está mais próximo do homem sentado gesticula com as mãos. O homem do meio segura uma haste com o rosto de um homem no alto e o homem da ponta direita carrega um cesto com alimentos. No chão, outros cestos com alimentos e algumas aves.
Representação de malintche e hernãn cortês (ao centro) em litografia de Alfredo tchávêro, 1892, que reproduz ilustração liênço de tlascála, cêrca de1550.
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Imagens em contexto!

O liênzo de Tlaxcala é um documento colonial no qual a narrativa sobre a conquista de Tenochtitlán é apresentada pela perspectiva de indígenas aos quais os espanhóis se aliaram. Nessa imagem, podem-se perceber o destaque dado a malintche como figura central nas negociações entre cortés e os indígenas e a composição multiétnica do exército que conquistou o Império Asteca.

As alianças

Para alguns grupos indígenas, a aliança com os espanhóis significou uma oportunidade de enfraquecer seus antigos rivais ou de se livrar de tributos indesejados cobrados por povos que dominavam a região, como os astecas.

Assim, aos poucos, somaram-se aos espanhóis milhares de soldados indígenas, formando uma poderosa fôrça militar que atacava os que permaneciam leais aos astecas.

A conquista do México foi um empreendimento espanhol e católico – incluindo os reforços que vieram com o tempo, contou com cêrca de .1200 espanhóis. Mas, ao mesmo tempo, em termos numéricos, foi mais indígena do que espanhola, pois propiciou e fez uso de uma espécie de motim de muitas nações indígenas contra a poderosa confederação liderada pelos astecas.

A chegada a Tenochtitlán

As fôrças indígenas e espanholas chegaram a Tenochtitlán, capital asteca, em novembro de 1519. Como os astecas contavam com uma ampla rede de informantes, sabiam da aproximação do exército e autorizaram a entrada dos líderes da expedição. O assombro dos espanhóis foi total: muitos não acreditavam no que viam ao contemplar a imensa cidade.

Diferentemente do que se esperava, cortés foi bem recebido por Montezuma, soberano asteca, com quem forjouglossário uma tensa e frágil aliança. Os espanhóis permaneceram na cidade durante sete meses. Durante essa estadia, muitos nativos quiseram expulsar os forasteiros, que, frequentemente, eram pegos roubando ouro.

Nesse período, cortés deixou a cidade por pouco tempo e, ao retornar, encontrou uma situação muito diferente daquela de quando partira. Os espanhóis tinham promovido um massacre durante uma festividade dos astecas. Como consequência, seus homens e aliados indígenas ficaram encurralados em um castelo de Tenochtitlán, sofrendo pesados ataques. Para piorar a situação, Montezuma faleceu em circunstâncias misteriosas nesse meio-tempo.

A frágil aliança com os astecas tinha terminado e os espanhóis foram expulsos da capital em agosto de 1520. Na fuga, centenas de espanhóis e milhares de aliados indígenas morreram.

Todos os espanhóis sobreviventes estavam feridos. Nos meses seguintes, a confederação asteca reagrupou-se sob nova liderança e preparou defesas para um possível ataque.

No entanto, a aliança entre espanhóis e indígenas recompôs-se com novas estratégias de ataque e um inesperado aliado: Tenochtitlán foi acometida por um violento surto de varíola, doença levada pelos europeus pouco antes do início da guerra. A doença vitimou milhares de habitantes da cidade, incluindo o novo governante.

Ilustração. Representação de cinco astecas vítimas de doença viral. Em sentido anti-horário, do alto para baixo, mulher sentada vestindo pano branco com várias manchas vermelhas pelo corpo, e uma mulher ao seu lado, usando roupa azul. Na sequência, quatro quadros, cada um com a representação de uma mulher deitada, vestindo um pano branco e com o corpo repleto de manchas vermelhas.
Ilustração representando astecas acometidos pela varíola presente no livro História geral das coisas da Nova Espanha, escrito pelo frei espanhol Bernardino de sarragun, século dezesseis.
A derrota do Império Asteca

Ao mesmo tempo que Tenochtitlán sofria com o surto de varíola, ao redor do lago da cidade, integrantes da aliança convenceram antigos colaboradores dos astecas a trocar de lado e prepararam um cerco à capital. Após meses de cerco, as fôrças espanholas e indígenas conseguiram finalmente invadir Tenochtitlán, que era então comandada por um jovem guerreiro chamado qualtêmoc.

Mesmo estando enfraquecidos pela doença e pelo longo cerco, os astecas impuseram forte resistência aos invasores. A conquista da cidade foi feita aos poucos, até que, em agosto de 1521, qualtêmoc foi preso.

As guerras de conquista continuaram ainda por muito tempo. Ao norte da Mesoamérica, por exemplo, os conflitos aumentaram com a descoberta de prata na região de Zacatecas e só tiveram fim quando os espanhóis estabeleceram um acordo com os indígenas, assegurando-lhes terras e compensações na fórma de suprimentos. Ao sul, expandiram-se por mais vinte anos em direção à Guatemala e a Honduras, regiões em que a aliança entre espanhóis e tlaxcaltecas continuou operante.

No contexto desses episódios, espanhóis, negros e indígenas aliados escreveram ao rei espanhol reivindicando seus direitos como conquistadores. Para obter as terras, benesses e isenções, eles precisavam provar seus méritos em campo de batalha ou a serviço do monarca. Essas provas demonstravam que a monarquia espanhola concedia poderes a indivíduos que agiam em seu nome e, por isso, esperavam fidelidade e impostos.

Fotografia. Vista geral de uma cidade, em que há a presença de elementos arquitetônicos ameríndios e europeus. No primeiro plano da imagem, ruínas de uma construção indígenas. Ao seu redor, vista parcial da catedral mexicana do século XIX, ruas construções contemporâneas.
Vista das ruínas do Templo Maior na Cidade do México. Foto de 2021.
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Imagens em contexto!

O Templo Maior de Tenochtitlán era dedicado aos deuses Tlaloc e uitizilôpótchili. Após a conquista do território, hernãn cortês ordenou a destruição da cidade e a construção de outra no lugar. Dessa fórma, a Cidade do México foi construída sobre as ruínas da capital asteca.

Dica

LIVRO

Como seria sua vida no Império Asteca?, de Fiona Macdonald. São Paulo: Scipione, 1998.

O livro ilustrado apresenta diferentes aspectos da vida cotidiana asteca, como as habitações, as relações familiares, a agricultura, os hábitos alimentares, as fórmas de vestimenta, os festivais, a organização política, entre outros.

Analisando o passado

O documento reproduzido a seguir é uma prova de mérito escrita por Ruán Garrido, em 1538, e endereçada a Carlos quinto, rei da Espanha. Ruán Garrido nasceu no reino do Congo, na África, e ainda jovem foi para a Europa. Leia o texto a seguir para, depois, responder às questões.

“Eu, Ruán Garrido, de cor negra, vecino [membro desta comunidade] e residente nesta cidade [México], trago à Vossa Majestade uma afirmação para uma probanza em nome da perpetuação do rei [a perpetuad rey]; um relato sobre como eu auxiliei na conquista e pacificação desta Nova Espanhaglossário desde quando o marquês del válie [título de hernãn cortês] entrou nela. Em sua companhia, eu estive presente em todas as invasões, conquistas e pacificações que se realizaram, sempre ao lado do marquês [cortés]. Fiz tudo às minhas custas, sem receber nem salário nem glossário repartimientoglossário de indígenas ou qualquer outra coisa. Como sou casado e residente nesta cidade, onde sempre morei; e também como fui com o marquês del válie [cortés] descobrir as ilhas que ficam naquela parte do mar meridional [o Pacífico] onde havia muita fome e privação; e também como fui descobrir e pacificar as ilhas de San Ruán de buriquen de Porto Rico; e também como fui na pacificação e conquista da ilha de Cuba com o adelantado [termo utilizado para nomear os primeiros conquistadores europeus na América espanhola] Diego velásques; de todas estas fórmas, durante trinta anos, servi e continuo a servir à Vossa Majestade. Pelas razões expostas acima, faço uma petição à sua Misericórdia. E também porque fui o primeiro a ter a inspiração de semear trigo aqui na Nova Espanha e esperar para ver o quanto demorava; e eu fiz isso e experimentei às minhas próprias custas.”

prôbanza óf Ruán Garrido. In:ruístálBlack conquistadors: armed Africans in Early Spanish America. The Americas, volume 57, número 2, página 171, outubro 2000. Disponível em: https://oeds.link/NtfOTTmericanstudies.org/colonial/black-conquistadors.pdf. Acesso em: 31 janeiro 2022. Adaptado. Tradução nossa.

Responda no caderno.

  1. Como Ruán Garrido se descreve?
  2. Como ele justifica seus pedidos ao rei espanhol?
  3. De acordo com seus conhecimentos, que funções eram geralmente atribuídas aos negros no período de colonização da América? O documento reforça ou contesta esse fato? Justifique sua resposta.

Os espanhóis no Império Inca

A notícia sobre a derrota asteca foi divulgada na Europa e inspirou outros aventureiros a tentar a sorte no território denominado Novo Mundo. A maioria deles não teve êxito e morreu em decorrência de ataques indígenas, doenças, fome ou sêde. A expedição do conquistador espanhol Francisco pizarro, porém, foi bem-sucedida.

Em 1531, o grupo de pizarro, que incluía intérpretes indígenas, mas não grupos aliados como os que cortés teve, confirmou a existência de um grande império na região dos Andes, na América do Sul.

Esse império, pertencente aos incas, estava dividido em uma guerra civil pela sucessão do trono entre Atarrualpa, respeitado por líderes militares experientes e com poder no norte do império, e seu meio-irmão ruáscar, governador de Cuzco, capital simbólica do império, apoiado pela elite tradicional. Aproveitando essa situação, os espanhóis diziam ser aliados de ruáscar ou de Atarrualpa conforme a conveniência, enquanto avançavam para o interior da região.

Posteriormente, Atarrualpa derrotou tropas de ruáscar e se tornou sapa incaglossário do império. Em 1532, ele aceitou receber os espanhóis para um encontro em Cajamarca, cidade onde comemorava sua recente vitória.

pizarro então preparou uma armadilha: seu grupo, formado por uma centena de soldados espanhóis e alguns aliados indígenas, chegou ao destino para receber Atarrualpa, que foi recepcionado por um padre que, com um breviárioglossário em mãos, exigiu que o soberano aceitasse a fé cristã e se tornasse vassalo do rei espanhol.

De acordo com relatos da época, o inca arremessou para longe o breviário, ato interpretado como profanaçãoglossário pelos espanhóis. Com essa justificativa, os espanhóis lançaram um ataque-surpresa, no qual capturaram Atahualpa e massacraram as tropas incas e milhares de indígenas de Cajamarca.

Gravura. Ao centro da imagem, homem indígena em pé, próximo ao trono sustentado por quatro indígenas. Ele usa adorno da cabeça e segura um cetro dourado com um sol na ponta. Ao fundo, grupos de indígenas saem de uma fortaleza no alto da colina em direção ao centro. Ao redor, homens europeus trajando armaduras, alguns deles montados em cavalo, munidos de lanças e espadas avançam contra as pessoas indígenas. Algumas dessas pessoas estão caídas no chão. No primeiro plano, representação de europeus com canhões e armas de fogo.
Captura de Atarrualpa, gravura de TEODOR DE BRÁI, século dezesseis.
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Após ser capturado, Atarrualpa ficou sob o domínio dos espanhóis. pizarro jantava com ele todas as noites, conversavam por meio de intérpretes e o líder inca chegou a aprender a jogar dados e xadrez. Ao perceber o interesse dos espanhóis por metais preciosos, Atarrualpa prometeu um cômodo cheio de ouro e dois de prata caso o libertassem, mas foi traído pelos espanhóis. Em um tribunal improvisado e presidido pelo próprio pizarro, Atarrualpa foi julgado e condenado à morte em 1533.

A conquista do Império Inca

Após o episódio de Cajamarca, vários grupos indígenas que desejavam se livrar da dominação inca aliaram-se aos espanhóis. Depois da execução de Atarrualpa, pizarro nomeou Manco Inca iupánqui como sápa inca e lhe ordenou que reconhecesse o rei da Espanha como soberano, garantindo o domínio da região norte do império. A região sul, contudo, ainda não havia sido submetida.

Em agosto de 1533, um grupo bastante diverso de espanhóis e de soldados de Manco Inca iupánqui partiu em direção a Cuzco. A guerra durou meses e, em março de 1534, Cuzco foi refundada como cidade espanhola, na qual instituições ibéricas foram instaladas.

A paz, no entanto, estava longe de ser alcançada: revoltas indígenas e até de espanhóis duraram séculos. Francisco Pizarro, por exemplo, foi assassinado por espanhóis descontentes. O mesmo fim teve seu irmão, Gonzalo pizarro, morto em 1548 por um enviado da Espanha com ordens de pôr fim às conquistas.

Nos Andes, uma das mais fortes resistências ao domínio espanhol foi a revolta de Manco Inca iupánqui. Apesar de inicialmente ter colaborado com Francisco pizarro, desiludiu-se com os espanhóis e, após uma tentativa de tomar Cuzco, refugiou-se em Vilcabamba.

Nesse local, entrincheirado em uma região de difícil acesso, iupánqui criou um poder paralelo tentando manter as antigas tradições incas. Seus filhos o sucederam no contrôle da região e continuaram a desafiar a hegemonia espanhola até serem finalmente derrotados no fim do século dezesseis.

Fotografia. Pessoas fantasiadas desfilam em uma praça. Um grupo de homens com túnicas curtas vermelhas e chapéus com plumas vermelhas carrega uma liteira com um trono dourado e um homem em pé vestindo túnica curta vermelha com detalhes dourados, chapéu dourado com três plumas douradas, manto comprido vermelho preso aos ombros e segurando um cetro com enfeites dourados e as três plumas douradas na ponta. Ao lado deles, mulheres com túnicas longas na cor rosa com uma lua azul e um sol amarelo desenhados, lenços brancos cobrindo os ombros e coroas de flores amarelas na cabeça. No canto esquerdo, um homem segura um estandarte com enfeites coloridos. Ao fundo, algumas bandeiras coloridas.
Tradicional celebração inca do ínti ráimi, em homenagem ao deus Sol, em Cuzco, Peru. Foto de 2021.
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Imagens em contexto!

Apesar dos conflitos, a cerimônia ainda foi realizada em 1535, a última com a presença de um sápa inca, que era considerado filho do Sol.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Descreva por que, no contexto da presença espanhola na América, o significado de conquista não é o mesmo para os indígenas e para os europeus.
  2. Resuma a importância do papel dos seguintes personagens ou eventos no processo de conquista do México:
    1. malintche;
    2. aliados indígenas;
    3. doenças contagiosas.
  3. Como se deu a revolta de Manco Inca iupánqui?

O intercâmbio colombiano

O mundo que começou a se desenhar depois de 1492 era cada vez mais interconectado. A ligação de diferentes áreas do planeta por meio de trocas comerciais, de ideias e de pessoas, em um processo chamado de mundialização, intensificou-se muito no período histórico conhecido como Idade Moderna, entre os séculos quinze e dezoito.

O intercâmbio colombiano, ou seja, as trocas biológicas, de ideias, produtos e saberes depois da chegada de Colombo à América, afetou todos os seres vivos no planeta, da baleia-branca, que foi caçada quase à extinção na região canadense, ao trigo, uma planta que foi espalhada por praticamente todas as terras cultiváveis do mundo. A vida microbiana, a flora e a fauna da América e da Europa navegaram globo afora numa extensa e contínua mundialização de plantas, microrganismos, pessoas e outros animais.

Alguns alimentos típicos da América, como a mandioca, o tomate, o milho, o feijão e as pimentas, por exemplo, já eram consumidos pelos indígenas antes de os europeus chegarem ao continente. Nos barcos europeus eles trouxeram a galinha, a vaca, o café, o trigo, o arroz, frutas como a banana e a uva, entre outros.

Pense em um prato tradicional do cotidiano brasileiro: arroz, feijão, salada de alface e tomate, carne (de peixe, boi, porco ou frango), farinha de mandioca e talvez um ovo. Há muitas variações regionais, mas esse prato é uma pequena amostra da mundialização promovida pelas navegações, pois ele reúne produtos de diferentes origens.

Intercâmbio colombiano – séculos dezesseis-dezessete

Mapa. Intercâmbio colombiano, séculos dezesseis e dezessete.
Destaque para o intercâmbio de víveres, animais e agentes patógenos entre a Europa e a América. Sem legenda.
Seta rosa saindo da América em direção à Europa, com as ilustrações acompanhadas dos nomes dos itens: milho, batata, mandioca, feijão, amendoim, pimenta, tomate, abacaxi, cacau e tabaco.
Seta rosa saindo da Europa em direção à América, com a ilustração de um crânio com dois ossos cruzados representando doenças (gripe, sarampo, varíola etc.), além de outras acompanhadas dos nomes dos itens: sal, limão, uva, maçã e pera, banana, alface, arroz, trigo, café, cana-de-açúcar, cavalo, porco, galinha e vaca. 
No canto superior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 1.140 quilômetros.

FONTES: FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 5. edição São Paulo: Moderna, 2019. página 8-9; Rei CASTELAO, O. Pessoas e bens em circulação. In: cãnissáres esguérra, J.; FERNANDES, L. E. de O.; MARTINS, M. C. B. (organizador). As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750). Curitiba: Editora Prismas, 2018. volume 2.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Descreva os elementos que circularam entre a América e a Europa e em que direções isso ocorreu. Depois, explique por que esse movimento foi possível.

Cruzando fronteiras

Embora não seja um consenso estabelecido no mundo científico, é crescente o número de cientistas que afirmam que estamos vivendo o Antropoceno, uma era geológica de mudança ecológica induzida pelos seres humanos. E isso poderia ser definido, segundo eles, principalmente quando se analisa o conjunto de transformações ocorridas no planeta da Idade Moderna em diante.

Algumas dessas transformações teriam sido provocadas pelo chamado intercâmbio colombiano. Uma delas foi a contínua diminuição da biodiversidade global: em razão da inserção da criação de animais e da plantação de vegetais de outras partes do planeta em substituição a culturas originais ou em concorrência com elas.

Outra teria sido a provocada pela disseminação de microrganismo, como os vírus da gripe, do sarampo e da varíola, que causaram, por exemplo, a morte de milhões de nativos americanos em razão de não terem anticorpos contra esses vírus estrangeiros.

Leia a seguir um texto de um ecologista, pesquisador que estuda, entre outras coisas, as relações entre os organismos vivos e seu ambiente, sobre a defesa do chamado Antropoceno e sua relação com a Idade Moderna:

"'Situar o Antropoceno nessa época destaca a noção de que o colonialismo, o comércio global e o desejo de riqueza e lucros começaram a pressionar a Terra rumo a esse novo estado’, argumenta o ecologista sáimon louís da University of Leeds e da University College London (UCL). reticências.

'Impactos humanos simplesmente se agigantaram. reticências a redistribuição de plantas e animais ao redor do mundo por volta dessa época (conhecido como intercâmbio colombiano), reticências foi um evento que mudou o mundo'."

biélo, D. Mortalidade nas Américas gerou nova era de carbono. Scientific American Brasil, 11 março 2015. Disponível em: https://oeds.link/qlSJu7. Acesso em: 1º fevereiro 2022. Adaptado.

Responda no caderno.

  1. Explique por que alguns pesquisadores defendem que vivemos em um período denominado Antropoceno.
  2. De que fórma esses pesquisadores relacionam o estabelecimento dessa era ao intercâmbio colombiano ocorrido na Idade Moderna?

O espaço atlântico

Um dos principais elementos da chamada modernidade foi a mobilidade, pois sem ela seria impossível o estabelecimento das conexões mundiais. O contato e o trânsito possibilitaram a disseminação de ideias, projetos, costumes, hábitos, crenças e saberes.

Diversas culturas se conectaram de fórma muitas vezes forçada pelos europeus, que buscavam produtos, metais preciosos, expansão da fé e glórias pessoais. Nesse processo, o Oceano Atlântico foi o centro integrador de uma engrenagem mundial.

Um exemplo da mobilidade atlântica foi a chamada Carrera de Índias (Carreira das Índias, em português), ligação marítima entre a América e a Espanha, criada pela Coroa espanhola para interligar seus domínios coloniais à Europa. Por essa rota, transportavam-se pessoas, mercadorias e culturas. 

As embarcações enviavam à América criações artísticas (pinturas e esculturas) e um abundante material gráfico, que incluía manuscritos, livros impressos, folhas soltas, estampas, cartas e as mais diversas imagens.

Os europeus, porém, não foram os únicos agentes dessa integração: a contribuição de povos africanos e indígenas americanos foi preponderante para que ela ocorresse.

Graças a essas conexões, foi possível a um descendente de nobres indígenas, chamado Domingo Francisco de san anton munhõz tchimalparrín, escrever, no século dezessete, um texto sobre a morte do monarca francês Henrique quatro, além de registrar em seu diário episódios inabituais, como a visita de uma delegação de japoneses à Cidade do México e a presença de filipinos e africanos nas ruas da cidade.

Pintura. Vista geral de um porto em um rio que cruza a imagem em primeiro plano e segue ao fundo do lado esquerdo. Na margem inferior do rio, diversas embarcações atracadas e pessoas transitam em terra, algumas montadas em cavalos. No rio, caravelas grandes e barcos pequenos navegam. No canto esquerdo, na curva do rio, pessoas passam em uma ponte que liga as duas margens. Na margem superior do rio, embarcações atracadas e, ao fundo, diversas construções urbanas, com destaque para uma grande torre.
O porto de Sevilha, pintura de Alonso sántchez coelio, cêrca de 1590.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nesse contexto, o porto da cidade espanhola de Sevilha, representado na imagem, tornou-se o principal local de embarques e desembarques entre a Espanha e a América.

Circulação de mercadorias pelo espaço atlântico

Por meio de entrepostos e feitorias na África e na Ásia e de bases na América, portugueses e espanhóis, e depois outros europeus, como holandeses e britânicos, criaram uma rede de comércio mundial.

Os metais preciosos eram os bens mais procurados pelos europeus, sendo provavelmente a fôrça que impulsionava as redes comerciais mundializadas. Os metais que chegavam ao continente europeu fluíam para outras partes do mundo pelo Cabo da Boa Esperança, no sul da África, e depois seguiam para o Oriente.

Por meio do Mar Báltico, os europeus enviavam metais para a região da atual Rússia e para a Ásia Central. Através do Golfo Pérsico, chegavam à região do Oriente Médio e, pelo Mar Vermelho, havia uma rota para a Índia. Além disso, eram levados pelos portugueses e espanhóis às Filipinas e à China.

Além dos metais preciosos, a circulação comercial atlântica incluía o transporte em larga escala de produtos como a cana-de-açúcar e o tabaco. Mais tarde, somaram-se a eles o café e o algodão. A demanda por esses artigos favoreceu a distribuição de mercadorias como tecidos, ferro, peixe e especiarias para o consumo nas colônias.

O comércio atlântico despontou quando o mercado asiático estagnou. Com isso, as trocas envolvendo açúcar, tabaco, ouro e escravizados reordenaram o comércio global pela primeira vez em milênios.

Mapa. Mapa antigo desenhado dentro de um círculo, mostrando a América e a Antártica, chamada de Terra Australis. No Oceano Atlântico, há o desenho de duas caravelas, uma no Hemisfério Norte e outra no Hemisfério Sul; no Oceano Pacífico, há o desenho de um grande peixe.  Fora do círculo, foram representados quatro exploradores europeus.
Mapa da América produzido por têodór de Bry, 1596.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Ao redor do mapa, foram representados quatro personagens europeus: da esquerda para a direita, no alto, Cristóvão Colombo e Américo Vespúcio; abaixo, Fernão de Magalhães e Francisco pizarro.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Identifique os dois oceanos representados no mapa e explique a importância das rotas marítimas para a mobilidade na Idade Moderna.

O Oceano Pacífico na primeira globalização

Os principais produtos buscados pelos europeus no Oriente eram especiarias, seda, porcelana, ouro e, posteriormente, chá. De modo geral, as rotas do Pacífico vincularam a Europa, a África, a América e a Ásia em uma economia cada vez mais globalizada.

Do ponto de vista mercantil, localizava-se nas Filipinas um dos pontos fundamentais da articulação dessa rede. Lá, os espanhóis estabeleceram o chamado Galeão de Manila: anualmente, um comboio de embarcações partia de Manila, nas Filipinas, carregado de mercadorias, principalmente da China, do Japão e da Índia.

O comboio atracava, então, em Acapulco, porto na Nova Espanha, de onde os produtos atravessavam o continente americano por rotas terrestres até outros domínios espanhóis ou para o porto de Veracruz, no Golfo do México, onde eram reembarcados e seguiam para a Europa.

Grande parte da produção asiática provinha do Japão, e o contato com os europeus causou transformações importantes em seu comércio. Enriquecidos, os japoneses aumentaram a exportação de diversos artigos para a América, a África, a Europa e a China por meio de comerciantes portugueses.

Em Nagasaki, por exemplo, esses mercadores trocavam a seda chinesa adquirida em Macau pela prata japonesa. Em Manila, adquiriam a prata proveniente da América e vendiam seda, que seguia para a Nova Espanha. Note que nada disso foi estabelecido pelos europeus: eles foram incorporados por um sistema de comércio do Pacífico e do Índico já existente, que se alterou com sua presença.

É possível verificar, assim, diferenças nas atividades dos europeus: na América, eles promoveram guerras de conquista e controlaram muitos territórios e populações indígenas. Na África e na Ásia, ao menos até os séculos dezoito e meados do dezenove, eles se preocuparam em ocupar espaços econômicos, estabelecendo feitorias ou pequenos estabelecimentos para regular o comércio.

Rotas do Galeão de Manila – séculos dezesseis-dezenove

Mapa. Rotas do Galeão de Manila, séculos dezesseis a dezenove.
Destaque para parte do continente europeu, americano e costa oeste do continente asiático. 
Legenda:
Seta roxa: Rotas do Galeão de Manila.
Linha vermelha pontilhada: Fluxo de deslocamento na Ásia.
No mapa:
A rota de Galeão de Manila parte de Sevilha, na Espanha, atravessa o Oceano Atlântico, vai a Havana, se ramifica e passa por Veracruz, Portobelo, Panamá, Lima, Acapulco e, daí, segue para a cidade de Manila, nas Filipinas, atravessando o Oceano Pacífico. A rota de volta parte de Manila, passa por Acapulco, Havana e retorna a Sevilha. 
O fluxo de deslocamento na Ásia interliga Macau, na China, Manila, nas Filipinas, e Tidore, na Indonésia.
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 2.110 quilômetros.

FONTES: FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 8-9; BAENA ZAPATERO, A. Un ejemplo de mundialización: El movimiento de biombos desde el Pacífico hasta el Atlántico (s. XVII-XVIII). Anuario de Estudios Americanos, 69, 1, enero-junio, Sevilla (España), 2012. página 31-62.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. O que foi o intercâmbio colombiano? Quais foram seus efeitos?
  2. Defina o que foi a Carrera de Índias e sua importância para os intercâmbios no Atlântico.
  3. Diferencie as atividades dos europeus na América e na Ásia, no contexto da expansão marítima da Idade Moderna.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Analise as informações a seguir sobre a conquista do Império Inca. Em seu caderno, identifique as que são verdadeiras e as que são falsas.

  1. Francisco pizarro contou com milhares de aliados indígenas para prender Atarrualpa.
  2. A conquista do império foi facilitada pela guerra civil entre os irmãos Atarrualpa e ruáscar.
  3. A superioridade técnica e militar dos espanhóis foi a principal responsável pelo sucesso da conquista.
  4. Após a perda de Cuzco, várias regiões do império resistiram durante longo período ao contrôle espanhol.

Aprofundando

2. A imagem a seguir é uma representação da morte do último imperador inca, Atarrualpa, após a conquista espanhola comandada por Francisco pizarro. Analise-a e, em seu caderno, identifique se as informações a seguir são falsas ou verdadeiras.

Pintura. No primeiro plano da imagem, à direita, no interior de uma construção de pedras, com o pé direito alto, há europeus conquistadores e clérigos. Esses últimos estão representados em frente a uma mesa onde jaz um ameríndio. Do centro para a esquerda, outros clérigos e conquistadores em meio aos ameríndios representados em pé, agachados e deitados transparecendo tristeza.
O funeral de Atarrualpa em 1533, pintura de Luis montêro, século dezenove.
  1. A morte de Atarrualpa é uma vitória de pizarro, que nomeou Manco Inca iupánqui como sápa inca e lhe ordenou que reconhecesse o rei da Espanha como soberano.
  2. O interesse espanhol na tomada de poder do imperador inca era o contrôle da produção agrícola escravocrata que já existia na região andina.
  3. O artista procurou representar os religiosos com postura de domínio da situação e as mulheres incas como rebeldes e indignadas.
  4. Os religiosos europeus são representados como autoridades.

3. O texto a seguir foi produzido por bartolomê de las cásas, frei espanhol que foi um dos principais defensores dos direitos indígenas contra os abusos cometidos pelos espanhóis durante a conquista e a dominação dos povos da América. Leia-o com atenção e responda às questões.

“É temeráriaglossário , injusta e cruel a guerra que aos infiéis, ou seja, aqueles que nunca souberam nada acerca da fé ou Igreja, nem de nenhum modo ofenderam esta mesma Igreja, lhes é declarada com o único objetivo de que submetidos ao império dos cristãos se preparem para receber a fé ou a religião cristã, ou também para retirar os impedimentos para a catequese.

É contra o direito natural esta guerra que lhes causa inúmeros e irreparáveis danos, como mortes, selvagerias, estragos, roubos, servidão e outras calamidades semelhantes reticências sem ter, de sua parte, nenhuma culpa. reticências É também contra o direito divino, que proíbe matar nossos semelhantes, principalmente os inocentes reticências.”

Las Cássas, B. de. Del único modo de atraer a todos los pueblos a la verdadera religión (1561). ín: Coletânea de documentos de História da América para o segundo grau. São Paulo: Secretaria da Educação, 1983. página 35-36.

  1. O que bartolomê de las cásas denunciou nesse documento?
  2. Quais foram os argumentos que ele usou em defesa dos indígenas?

4. Membros da elite nas colônias espanholas utilizavam vários objetos de origem asiática para decorar seus lares ou se vestiam com finos tecidos orientais. Na pintura a seguir, por exemplo, uma jovem do México é representada com um elaborado vestido de seda e segurando um leque. Ambos os artigos estavam no auge da moda no Período Colonial.

Pintura. Mulher de cabelos claros presos, usando vestido vermelho longo armado estampado com flores azuis e mangas com babados brancos. Ela está na frente de um instrumento que se assemelha a um piano de madeira com uma partitura exposta. Em uma das mãos ela segura um leque, a outra mão aponta para a partitura. Ao fundo, cortina de veludo azul.
Jovem mulher com um cravo, pintura feita no México, cêrca de 1740.
  1. Como produtos originários da Ásia chegavam ao México?
  2. O uso desses produtos na América pode ser considerado uma consequência da mundialização? Explique.
  1. No contexto da mundialização da economia, produtos de diferentes origens foram transportados pelos europeus e distribuídos pelas diversas regiões do Atlântico, e são utilizados hoje em dia no mundo todo. Para compreender como esse processo influenciou o cotidiano atual, você e seus colegas vão produzir um catálogo de alimentos. Para realizar essa tarefa, cada grupo deve percorrer as etapas a seguir.
    • Junte-se a outros quatro colegas para formar um grupo de cinco estudantes.
    • Pesquisem quais alimentos foram esses. Vocês podem usar o conteúdo do capítulo, de livros da biblioteca ou da internet, caso seja possível. Se acharem necessário, pesquisem imagens de catálogos de alimentos que contenham informações sobre eles.
    • Decidam quais alimentos serão incluídos no catálogo, e se o seu formato será físico (produzido usando folhas brancas, de almaço ou cartolina) ou digital (produzido utilizando ferramentas disponíveis em computadores).
    • Tendo em mente os alimentos a serem trabalhados, decidam quais informações a respeito deles devem constar no catálogo. Devem ser informações capazes de serem extraídas de qualquer um dos alimentos escolhidos. Por exemplo: valor calórico, se é proteína, carboidrato ou gordura etcétera
    • Realizem a pesquisa das informações específicas sobre cada alimento que vão constar no catálogo. Não se esqueçam de abstrair, ou seja, ignorar as informações que vocês encontrem durante a pesquisa e que sejam desnecessárias para a produção do catálogo.
    • Produzam um relatório refletindo sobre a trajetória do trabalho e elaborem, com base nas etapas anteriores, um manual de instruções para a produção do catálogo.
    • Percorridas as etapas anteriores, é hora de produzir o catálogo e apresentá-lo para o restante da classe. Se o formato escolhido for o digital, transformem o documento em um arquivo de imagem e o disponibilizem, se possível, em suas redes sociais.

Glossário

Pequenas Antilhas
: nome atribuído à longa cadeia de pequenas ilhas dispostas ao longo da extremidade oriental do Mar do Caribe. Aruba e Barbados, por exemplo, fazem parte dessa região.
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Grandes Antilhas
: nome dado ao conjunto das quatro maiores ilhas ao norte do Caribe: Cuba, Santo Domingo, Jamaica e Porto Rico.
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Subjugar
: submeter outra pessoa por meio da fórça, fazendo com que ela obedeça.
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Vassalo tributário
: nesse contexto, aquele que era obrigado a se submeter às ordens ou aos tributos do soberano; quem paga tributos, impostos, taxas.
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Forjar
: construir, compor.
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Nova Espanha
: primeiro vice­‑reino da América espanhola. Seu território se estendia do sudoeste dos Estados Unidos até a América Central. A sua criação seguiu-se a do Vice-Reino do Peru, em 1543. A organização político­‑administrativa da América espanhola será abordada no próximo capítulo.
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Repartimiento
: sistema por meio do qual os indígenas eram obrigados a trabalhar em troca de um pagamento mínimo.
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Sapa inca
: autoridade mais alta do Império Inca, considerado representante sagrado do Sol.
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Breviário
: livro das orações que os clérigos devem ler todos os dias.
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Profanação
: desrespeito ou violação do que é sagrado.
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Temerário
: neste caso, sem fundamento.
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