UNIDADE 3 OS PRIMEIROS SÉCULOS DA AMÉRICA PORTUGUESA

A história e você: educação fiscal e cidadania

Nesta unidade, você estudará o início da colonização portuguesa na América.

Quando chegaram aqui, os portugueses não encontraram um lugar vazio: as terras estavam ocupadas por muitos grupos indígenas. Pouco depois, outros europeus, como franceses, ingleses e holandeses, também cobiçaram a região. Assim, para garantir a posse das terras, o rei de Portugal ordenou a construção de fortes e promoveu a efetiva exploração das terras por meio do incentivo ao comércio do pau-brasil e da instalação de engenhos de açúcar.

Essas atividades enriqueciam Portugal, que cobrava impostos sobre tudo o que era produzido na colônia. A Coroa também cobrava dos colonos taxas por tudo que eles importavam. Uma parte do que era arrecadado ia para Portugal; outra permanecia com os administradores coloniais. 

No período colonial, os súditos eram obrigados a pagar esses tributos ao rei e não recebiam quase nada em troca. No Brasil atual, cidadãos e empresas pagam impostos e taxas, mas, em contrapartida, esse dinheiro deve ser usado para garantir à população serviços de saúde, educação, segurança, habitação etcétera

Caminho que deve ser percorrido pelos impostos no Brasil

Infográfico. Caminho que deve ser percorrido pelos impostos no Brasil.
Há três ilustrações principais em destaque, conectadas por setas: 1. Cidadãos. 2. Governo. 3. Serviço público.  Em "2. Governo", a ilustração se subdivide em "Governo federal", "Governos estaduais" e "Governos municipais".

1. Cidadãos. Círculo branco contornado por linha pontilhada verde com a representação de um conjunto de pessoas segurando notas de dinheiro. Do círculo, saem duas setas verdes com a inscrição "Tributos". Uma delas, aponta para um círculo, à direita, com o texto acima dele:  "2. Governo federal". A outra aponta para dois círculos abaixo de "Governo Federal": um representa os "Governos estaduais", outro representa os "Governos municipais".

2. Governo federal.  Círculo verde com ilustração representando a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ao centro do círculo, está representado o Congresso Nacional, à direita o Supremo Tribunal Federal e à esquerda o Palácio do Planalto. Ao fundo, em verde escuro, há uma marca d'água de mapa do Brasil. De "Governo federal" partem três setas verdes com a inscrição "Repasse".  
Uma seta se dirige para um círculo menor, de cor de laranja, com a inscrição "Governos estaduais", logo abaixo. Dentro do círculo laranja, a ilustração de um grande palácio de dois andares com o mapa do Brasil em verde, ao fundo, com linhas dividindo os territórios dos estados e o estado do Pará em destaque, em verde escuro. Outra seta se dirige para um círculo azul, abaixo, à direita,  com a inscrição  "Governos municipais". Dentro do círculo azul, a ilustração de uma construção de dois andares com a fachada decorada por colunas, e o mapa da região Centro-Oeste do Brasil, ao fundo, com um marcador vermelho destacando uma cidade. 
A terceira seta vai diretamente para uma ilustração no canto inferior esquerdo, com a inscrição "3. Serviço público". 
Dos governos estaduais e municipais, também partem setas verdes, com a inscrição  "Investimentos", para a ilustração "3. Serviço público", à esquerda.

3. Serviço público.  Ilustração de uma rua com um hospital à esquerda e uma escola à direita. Há uma ambulância estacionada junto ao hospital e um ônibus próximo à escola. Em frente à escola, uma mulher e uma criança atravessam a rua na faixa de pedestres. Há placas de sinalização e árvores no entorno. De "3. Serviço público" parte uma seta verde com a inscrição "Retorno" para o círculo:  "1. Cidadãos" que representa os cidadãos, onde se inicia o infográfico.

FONTE: CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO. Orçamento da receita. Portal da Transparência. Disponível em: https://oeds.link/w1dk3Y. Acesso em: 9 fevereiro 2022.

O conjunto dos órgãos do governo que controlam a arrecadação dos tributos chama-se fisco. A população que tem educação fiscal conhece os impostos e as taxas que paga, sabe para que servem e cobra os governantes para investi-los bem. Assim, que tal fazer uma enquete e um gráfico sobre a educação fiscal dos cidadãos adultos que vivem na mesma comunidade que você? Para isso, observe as etapas a seguir.

Organizar

  • Com o auxílio do professor, elaborem um questionário para avaliar o que os adultos da comunidade de vocês sabem sobre os impostos que pagam. Formulem questões simples, que possam ter respostas objetivas e predeterminadas, como sim ou não.
  • Façam dez cópias do questionário, dividam essas cópias entre vocês e entrevistem pessoas da comunidade escolar, familiares e demais adultos conhecidos.
  • Em uma tabela, anotem o número de vezes que cada resposta foi dada e calculem sua porcentagem em relação ao total.
  • Com os dados da tabela, elaborem gráficos simples, em formato de pítsa ou de barras, para representar as respostas das questões.

Produzir

  • Reúna-se com quatro colegas e pesquisem, em materiais impressos ou na internet, os principais impostos e taxas mencionados nas entrevistas. Procurem saber: quais deles são cobrados pelo governo federal e quais são de competência dos estados e dos municípios; como é investido cada um deles; quais são cobrados diretamente pelos governos e quais estão embutidos no preço dos produtos e serviços; o que é sonegação fiscal e quais são suas consequências para o governo e a população; o que é nota fiscal e por que o consumidor deve sempre exigi-la.
  • Compartilhem o resultado da pesquisa com os demais colegas e prestem atenção à apresentação dos outros grupos.
  • Debatam esta questão: das informações encontradas, quais vocês já sabiam e quais desconheciam?
  • Façam cartazes com os gráficos produzidos com base nas entrevistas e criem pequenos textos sobre o que aprenderam ao pesquisar informações a respeito dos tributos e da importância de a população acompanhar o modo como eles são utilizados.

Compartilhar

  • No dia combinado com o professor, mostrem os cartazes para os colegas dos outros grupos.
  • Fixem os cartazes na sala de aula ou em outro local da escola autorizado pela direção. Caso seja possível, divulguem os trabalhos nas redes sociais.

CAPÍTULO 7 América portuguesa: chegada dos europeus e início da colonização

Você provavelmente conhece esta narrativa: em 22 de abril de 1500, a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral chegou ao território correspondente ao do atual Brasil. Nos dias seguintes, os portugueses entraram em contato com a terra e com as pessoas que nela viviam, rezaram a primeira missa e relataram isso em uma carta destinada ao rei dom Manuel primeiro.

Você já imaginou como essa história seria narrada com base na visão dos indígenas? E por um artista e ilustrador que vive no Brasil de hoje?

Analise a imagem. Depois, leia a legenda dela e o quadro.

Colagem digital. Cartaz composto por uma gravura antiga como base, à qual são sobrepostos elementos de ilustração digital. No centro, na gravura original, há dois homens indígenas. Sobre essa representação, foram sobrepostas câmeras de vídeo profissionais, que aparecem na mão dos dois homens. Um deles, seminu, segura uma haste com um microfone na ponta, com cabos enrolados na cintura e tem uma câmera pendurada no pescoço. O outro veste uma camiseta vermelha, estampada com a capa do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol e segura uma câmera de filmagem. Ao fundo, há uma paisagem de uma praia com coqueiros e palmeiras à esquerda e uma caravela no mar à direita. Acima e abaixo, em inglês, o título: Brasil e a descoberta da Amazônia.
Caçadores de ficções coloniais, colagem digital de Denilson bãníua, 2021.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Denilson bãníua é um artista indígena brasileiro que se apropria de registros do passado, como imagens produzidas por antigos viajantes europeus, para questionar a versão da história tradicionalmente contada. Na série Ficções coloniais (ou finjam que não estou aqui), ele utiliza elementos da cultura pop para propor a inversão dessa narrativa.

Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Em sua opinião, por que Denilson bãníua representou os indígenas com câmera de vídeo e equipamentos de captação de som?
  2. Em muitas versões da história do Brasil, os povos indígenas são mencionados apenas nas narrativas de eventos do passado. Podemos afirmar que a obra de bãníua questiona essas narrativas?

Descoberta ou invasão: quem controla a narrativa?

Quando começou a história do Brasil: após a chegada dos portugueses em 1500 ou bem antes, quando os primeiros povos indígenas ocuparam o território? Para responder a essa questão, é preciso fazer uma série de escolhas.

Ao responder que a história do Brasil começou em 1500, adota-se o ponto de vista dos europeus. Essa visão transmite a ideia de que a presença dos povos originários foi menos importante que a dos colonizadores para a formação do país.

Já ao dizer que a história do Brasil começou com a ocupação do território pelos povos indígenas, confere-se importância aos povos indígenas na formação do país. Ao mesmo tempo, realiza-se um exercício de projeção do presente sobre o passado, pois antes da chegada dos portugueses, e mesmo um bom tempo depois disso, não havia a ideia de Brasil como país. Na América anterior à presença dos portugueses, os antigos habitantes desse território não se imaginavam como membros de uma nação, pois esse conceito era europeu.

O estabelecimento de critérios ou marcos temporais para narrar as origens da história brasileira não foi uma preocupação das pessoas que viveram no tempo histórico estudado neste capítulo. Tais critérios foram escolhidos ao longo dos séculos dezenove e vinte por grupos que atribuíram aos indígenas um papel secundário na história do Brasil.

Grafia dos nomes dos povos indígenas brasileiros

Nesta coleção, os nomes dos povos indígenas que vivem no Brasil foram grafados de acordo com a Convenção para a Grafia dos Nomes Tribais, aprovada em 1953 na Primeira Reunião Brasileira de Antropologia:

  • sem flexão de número ou gênero;
  • com inicial maiúscula quando usados como substantivo, sendo opcional quando usados como adjetivo.
Tirinha. História em três quadros. 
Apresenta Armandinho, menino de cabelos azuis, usando camiseta de manga comprida branca e calça azul.
Quadro 1: Armandinho está sentado em uma carteira escolar de madeira marrom, com uma mochila vermelha no chão, ao lado dele. Ele escuta uma pessoa que fala: “...e assim foi o descobrimento do Brasil!”.
Quadro 2: Armandinho questiona: “Como assim?”.
Quadro 3: Ele prossegue: “E a versão dos povos indígenas?”.
Armandinho, tirinha de Alexandre béc, 2015.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nessa tirinha, o personagem Armandinho, do ilustrador e cartunista brasileiro Alexandre béc, contesta a origem da história do Brasil como um processo de descobrimento português e defende o direito dos indígenas à narrativa.

Rompendo com a visão eurocêntrica

A narrativa que vincula a formação do Brasil à ação civilizadora e desbravadora de navegantes portugueses é, hoje, contestada. A memória dos grupos indígenas, que por um longo período foi silenciada e apagada, tem sido resgatada por diferentes intelectuais.

Historiadores, educadores e escritores indígenas da atualidade questionam a visão eurocêntrica do passado, ou seja, a usada para interpretar o mundo considerando apenas os valores da cultura europeia. Em suas obras, eles analisam as narrativas que dão centralidade à figura do colonizador. Nessas narrativas, são utilizados estereótipos e preconceitos para associar os grupos indígenas, que são diversos e multiculturais, à pobreza material e à ausência de civilização.

O escritor e professor indígena Daniel mundurukú analisa o encontro entre europeus e povos originários com base na lógica do medo e do estranhamento. Segundo ele, os europeus procuraram destruir as diferenças entre europeus e indígenas por terem medo da floresta e não conseguirem compreender a diversidade cultural dos povos americanos. Ainda de acordo com o autor, as pessoas que têm medo fazem coisas sem refletir. Assim, é importante aproximar o universo indígena do mundo não indígena para que se possa substituir uma relação histórica baseada no medo pela lógica do respeito.

Fotografia. Em destaque, rosto de homem indígena de cabelos grisalhos curtos, com colares de miçangas brancas. Ele está sorrindo.
Kaká Uêrá Jecupé, autor de livros como A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio. Foto de 2022.
Fotografia. Homem indígena de cabelos pretos curtos, com colares de miçangas pretas e laranjas. Ele está sorrindo sentado diante de uma mesa e segura um livro aberto. Ao fundo, uma estante cheia de livros.
Daniel mundurukú na séde da Fundação bungue, em São Paulo (São Paulo). Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Assim como os escritores Daniel mundurukú e Kaká UêráJecupé, vários intelectuais indígenas dedicam-se ao estudo e à divulgação das tradições dos povos originários que vivem no território brasileiro.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1] História do Brasil a partir da perspectiva indígena

[TRILHA SONORA]

[LOCUTORA]: Você já reparou que o mesmo fato pode ser contado de diferentes pontos de vista? Historicamente, as visões de mundo que ganham voz são aquelas de cidadãos privilegiados, enquanto pessoas menos favorecidas lutam por ser ouvidas. Você já conversou com alguém de um povo indígena?

O que você acha que um indígena guarani tem a dizer a respeito da história do Brasil?

[THIAGO DJEKUPE]: Meu nome é Thiago Henrique Karai Djekupe. Eu tenho 24 anos. Sou liderança da Terra Indígena Jaraguá e Conselheiro Distrital de Saúde Indígena pela região de São Paulo. Hoje, somos representantes dessa retomada que é a Tekoa Yvy Porã, que é a Terra Sagrada.

Nós, povos tradicionais, a gente não tem esse... Esse acúmulo... Essa ganância de ficar acumulando riquezas... Nós vivemos de uma forma simples, com a nossa casinha mais próxima do tradicional, com um espaço para você poder nadar, para você poder pescar...

E quando se conta a história do país, conta a história de colonizadores que vêm como se fossem deuses, né? Que pegam todo o território... Se apropriam dele e... E começam a tomar as pessoas como suas escravas... Como seus bens materiais.

E o nosso povo foi um povo que não aceitou isso, que sempre entendeu, na nossa crença, no nosso conhecimento, que o mundo... Ele foi criado pra todo mundo viver como igual.

Então, a gente vivia nesse processo de migração, fugindo dos massacres do diruá, do não indígena, e conforme isso foi se passando ao longo do tempo... A história continua a mesma, né?

Você tem novos bandeirantes que são herdeiros de fazenda, herdeiros de riquezas do país, que continuam tentando escravizar o nosso povo, que continuam tentando roubar o nosso território, que continuam se dizendo donos daquilo que Ñanderu criou.

[LOCUTORA]: A Terra Indígena do Jaraguá teve sua primeira demarcação em 1987. Porém, na época, a FUNAI apenas considerou a área de confinamento da população Guarani, deixando de fora o espaço que os indígenas tradicionalmente ocupavam para plantar, coletar remédios e materiais para artesanato, entre outras atividades fundamentais para seu modo de vida.

Desde então, os Guarani reivindicam o direito garantido a eles na Constituição Brasileira de 1988, lutando por manter seguro seu povo, sua cultura e espiritualidade.

[THIAGO DJEKUPE]: Os Guarani, os povos indígenas, ainda vivem, ainda têm sua cultura, ainda têm sua crença e ainda dependem do seu território para poder sobreviver.

[LOCUTORA]: A história do Brasil tem mais de uma faceta. É um país que esbanja diversidade cultural, religiosa e social, portanto, dois aspectos fundamentais para assegurar a convivência e a sobrevivência de todos devem ser seriamente considerados: o diálogo livre de preconceitos e o respeito à diversidade cultural.

[FIM DA TRILHA SONORA]

A chegada dos portugueses à América

O encontro entre portugueses e indígenas pode ser narrado de diferentes perspectivas, mas há um fato histórico inquestionável: no dia 22 de abril de .1500, a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral chegou ao litoral do território atualmente denominado Brasil, no local em que hoje é o estado da Bahia.

Como você estudou anteriormente, o interesse dos portugueses pelo Oceano Atlântico estava relacionado à descoberta e ao contrôle da rota comercial marítima que ligava a Europa ao Oriente. Em 1498, Vasco da Gama conseguiu chegar a Calicute, na costa ocidental da Índia. Dois anos depois, foi a vez de Pedro Álvares Cabral partir de Lisboa, liderando uma grande esquadra, com o mesmo objetivo.

A frota comandada por Cabral era composta de treze navios e cêrca de 1.500 tripulantes. Durante o trajeto, a rota traçada foi muito alterada e, depois de mais de trinta dias de viagem pelo Oceano Atlântico, os portugueses avistaram sinais de terra em uma região elevada, à qual deram o nome de Monte Pascoal. Poucos dias depois, desembarcaram no local correspondente ao do atual município de Porto Seguro e lá permaneceram por uns dez dias.

Alguns historiadores acreditam que o desvio da rota não foi acidental, pois Cabral estaria à procura de terras descritas por outros navegadores. No entanto, ainda não há documentos que comprovem que os portugueses chegaram ao Brasil intencionalmente.

Viagens marítimas portuguesas – séculos quinze-dezesseis

Mapa. Viagens marítimas portuguesas, séculos quinze e dezesseis. Apresenta planisfério com o nome dos continentes.
Legenda:
Linha vermelha: Viagem de Pedro Álvares Cabral.
Linha cinza: Ventos dominantes. 
Linha azul: Correntes marítimas.
No mapa:
A Viagem de Pedro Álvares Cabral parte de Lisboa, atravessa o Oceano Atlântico a sudoeste até Porto Seguro, no Brasil, contorna o Cabo da Boa Esperança, no sul da África, passa por Melinde, no atual Quênia e, por último, cruza o o Oceano Índico em direção a Calicute, na Índia.
Ventos dominantes no Oceano Atlântico, no Hemisfério Norte, partem de uma região próxima a Portugal em direção à costa nordeste da América do Sul. Ventos dominantes no Oceano Atlântico, no Hemisfério Sul, formam um círculo anti-horário da costa leste do território brasileiro em direção à costa oeste e norte do continente africano. Outros ventos partem da costa brasileira para o Oceano Índico, passando pelo Cabo da Boa Esperança, ao sul da África.
As correntes marítimas no Oceano Atlântico, no Hemisfério Norte, apresentam forma circular, sentido horário, entre Porto Santo, Madeira, Açores, Lisboa e Hispaniola (atual Ilha de São Domingo). As correntes marítimas no Oceano Atlântico, no Hemisfério Sul, partem do Golfo da Guiné, na direção da costa brasileira, e depois seguindo a oeste na direção do Oceano Índico.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 2.780 quilômetros.

FONTE: ATLAS histórico. São Paulo: enciclopédia Britannica do Brasil, 1997. página 88.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Identifique os fatores geográficos que favoreceram o desembarque da expedição de Cabral em Porto Seguro. Como eles contribuíram para o estabelecimento da rota representada no mapa?

A escrita de um passado oficial para o Brasil

Em Porto Seguro, Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Cabral, redigiu uma carta ao rei de Portugal, dom Manuel primeiro, contando suas impressões sobre a terra em que estava.

Na carta, o escrivão explicou que Cabral parecia ter achado mais uma das ilhas do Atlântico. Além disso, ele mencionou a disponibilidade de água, descreveu os indígenas com os quais os portugueses tiveram contato e trocaram produtos e relatou a celebração da primeira missa. Apesar de os portugueses não terem plantado nada, o escrivão também contou sobre a fertilidade da terra e seu potencial para exploração.

Alguns dias após a chegada às terras americanas, a esquadra lançou-se ao mar novamente. Pero Vaz de Caminha morreu pouco tempo depois, a caminho das Índias. A expedição de Cabral, porém, chegou ao destino pretendido e voltou a Portugal cheia de especiarias e produtos de luxo do Oriente. O capitão ficou tão rico que nem planejou outra viagem.

Pintura. À direita e ao fundo da imagem, caravelas no mar e, em primeiro plano, um barco a remo com diversos homens brancos, uns com armaduras, outros com calças, mantos e túnicas e outros com batinas pretas, chegando à costa. Eles portam lanças com pontas de metal e estandartes com bandeiras. À esquerda, na praia, pessoas indígenas seminuas portando lanças de madeira observam a embarcação. No canto esquerdo, vegetação.
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, pintura de Oscar Pereira da Silva, 1922.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Após a inauguração do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (í agá gê bê), em 1838, o governo patrocinou a criação de uma história oficial do Brasil. Perguntas parecidas com a discutida no início deste capítulo foram feitas por intelectuais daquele período: quando começou a história do Brasil? Como narrar essa história? Naquele momento, temas considerados importantes foram resgatados, como o desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro. A principal fonte de informação analisada foi a carta escrita por Caminha. Note, na pintura, que o artista procurou representar um contato amigável entre indígenas e europeus.

Os indígenas dos primeiros contatos

Quando os portugueses chegaram às terras que se tornaram o Brasil, encontraram uma população ameríndia numerosa e diversa. Estima-se que viviam no território mais de mil povos indígenas, os quais falavam cêrca de .1300 línguas.

Eram denominados Tupi povos de várias etnias que falavam línguas semelhantes. Dois povos Tupi, os Tupinambá e os Tupiniquim, viviam no território que atualmente corresponde ao do litoral da Bahia e ao do estado de São Paulo.

Acredita-se que os indíge­nas que estabeleceram os primeiros contatos com os portugueses eram do povo Tupiniquim.

Povos indígenas no território do atual Brasil – 1500

Mapa. Povos indígenas no território do atual Brasil, 1500. Destaque para o mapa do Brasil.
Legenda:
Amarelo: Tupi.
Laranja: Macro-Jê.
Verde-escuro: Aruaque.
Verde-claro: Caraíba.
Roxo: Cariri.
Bege: Pano.
Rosa: Tucano.
Vermelho: Charrua.
Marrom: Outros grupos.
Linha cinza: Fronteiras atuais do Brasil.
No mapa:
Os povos Tupi ocupam o litoral nordeste e as regiões entre os atuais estados do Pará e Mato Grosso, entres os atuais estados da Bahia e de Minas Gerais e parte da região centro-sul do país.
Os Macro-Jê estão concentrados na região central do atual estado do Maranhão até a região do atual estado do Goiás e em regiões dos atuais estados de São Paulo e Paraná.
Os Aruaque viviam na região oeste do atual estado do Amazonas, em partes dos atuais estados de Roraima e Amapá, Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul.
Os Caraíba viviam no norte do atual estado do Amazonas, Roraima, norte do atual Pará e pequena porção no norte do atual estado da Bahia.
Os Cariri estavam concentrados no nordeste, em regiões dos atuais estados do Ceará, Pernambuco e Bahia.
Os Pano viviam na região que atualmente corresponde ao Acre e na região do Amazonas próxima ao Acre.
Os Tucano viviam em uma região à noroeste do atual estado do Amazonas.
Os Charrua estavam concentrados no sul do atual Rio Grande do Sul.
Outros grupos encontravam-se espalhados pela região leste do atual estado de Minas Gerais, pelo atual estado do Rio de Janeiro, pela faixa que vai dos atuais estados de Rondônia a Mato Grosso do Sul, e em uma pequena faixa central que pega o leste dos atuais estados do Pará e de Mato Grosso.
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 460 quilômetros.

FONTE: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 12.

Fotografia. Mulheres indígenas usando saias feitas de palha, coroa de flores amarelas na cabeça e colares seguram chocalhos durante uma apresentação. Ao fundo, uma tenda com pessoas não-indígenas.
Evento em comemoração ao Dia Internacional dos Povos Indígenas em Aracruz (Espírito Santo). Foto de 2019.

Dica

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Dia Internacional dos Povos Indígenas

Ademario Ribeiro e Gláucio Santos. Sistema ufópi de Rádio. Brasil, 2018. Duração: 5 minutosDisponível em: https://oeds.link/dKUTQ2. Acesso em: 9 fevereiro 2022.

Nesse podcast produzido pela Universidade Federal de Ouro Preto, o escritor e educador Ademario Ribeiro, da etnia Payayá, aborda a diversidade de povos indígenas que habitam o Brasil.

As alianças

A colonização portuguesa só foi possível graças ao conhecimento dos indígenas sobre as espécies animais e vegetais do território. Para sobreviver na América, os portugueses precisaram, por exemplo, do conhecimento dos indígenas sobre raízes, como a mandioca e a batata-doce, outras espécies vegetais, como as abóboras, o milho e as palmeiras, e produtos de origem animal, como as larvas de taquara e as formigas tanajuras.

Foi também com os indígenas que os portugueses aprenderam a prática da coivaraglossário e o uso de vegetais nativos para a fabricação de medicamentos e de óleos utilizados na preparação de alimentos.

Gravura. Pessoas indígenas em terra com arco e flecha atiram em soldados europeus que estão em barcos a remo navegando em um rio. Alguns indígenas derrubam árvores dentro do rio. Os soldados que estão no barco atiram com armas de fogo na direção dos homens indígenas. Ao fundo, cenas de lutas entre soldados e indígenas.
Gravura colorizada de Theodor de Bry, produzida em 1592.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A gravura representa a guerra entre portugueses e seus aliados indígenas contra as fôrças indígenas e francesas durante a tentativa de invasão francesa à América portuguesa, que você estudará adiante. As diversas alianças estabelecidas entre portugueses e povos indígenas foram fundamentais para o triunfo do projeto colonizador.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique o que é uma visão eurocêntrica do passado. De que modo os intelectuais indígenas questionam essa visão?
  2. Caracterize as populações encontradas pelos portugueses no território que se tornaria o Brasil.
  3. Explique a importância dos conhecimentos dos diversos povos indígenas da América para o sucesso do projeto de colonização do território pelos portugueses.

Os primeiros anos da América portuguesa

Depois da passagem de Pedro Álvares Cabral pelo litoral, a Coroa portuguesa demorou trinta anos para iniciar a colonização do território. Isso porque o rico comércio de especiarias com o Oriente concentrava boa parte das atenções do Estado português no início do século dezesseis.

Esse período de 1500 a 1530, em que Portugal demonstrou pouco interesse pelo território americano, costuma ser chamado pré-colonial. Nele, a principal atividade econômica realizada foi a extração de pau-brasil (paubrasília equinata), ou ibirapitanga, como a madeira era chamada pelos povos Tupi que habitavam o litoral. A árvore era uma das cêrca de 8 mil espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, que, por volta de 1500, ocupava mais de 100 milhões de hectares (o equivalente a mais de 100 milhões de campos de futebol).

A floresta se estendia pela faixa litorânea entre o que hoje são os estados da Paraíba e do Rio Grande do Sul, avançando centenas de quilômetros para o interior em algumas regiões.

Estima-se que, entre 1500 e 1532, tenham sido extraídas da Mata Atlântica cêrca de 300 toneladas de pau-brasil por ano, o que provocou o desmatamento de grandes áreas.

Fotografia. Árvore vista de baixo, com tronco alto e muitas raízes expostas. Seu tronco possui alguns espinhos. No alto, aparecem as copas das outras árvores.
Pau-brasil de mais de 600 anos, encontrado no sul da Bahia. Foto de 2020.
Carta náutica. À esquerda da imagem, representação da costa leste do território que atualmente pertence ao Brasil. Nela, se observa desenhos de muitas árvores, pessoas indígenas, algumas delas cortando e transportando toras de madeira, e diversos animais, como araras e macacos. À direita da imagem, o Oceano Atlântico, onde se nota bandeiras vermelhas com escudos azuis espalhadas demarcando algumas ilhas e desenhos de várias caravelas e outras embarcações.
Terra brasílis, carta náutica atribuída a Lopo Homem e Pedro Reinel, 1515-1519. Essa carta faz parte de uma coleção intitulada Atlas Miller, com dezenas de outras cartas náuticas.
Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

A carta contém uma representação detalhada do litoral brasileiro. O que ela revela sobre a exploração do pau-brasil?

A prática do escambo

O córte e o armazenamento do pau-brasil eram realizados por indígenas aliados dos europeus em regime de escambo, isto é, por meio da troca de produtos ou de serviços sem a utilização de moeda.

Os indígenas trocavam os produtos da terra, principalmente o pau-brasil, por facas, machados, contas de vidro, panos e outros objetos que aprenderam a apreciar e valorizar. Sabe-se, por exemplo, que eles tinham preferência por objetos que facilitavam as tarefas cotidianas, como machados, enxadas, foices e outras ferramentas de metal.

Os europeus e os indígenas entendiam o escambo de maneira distinta. Para os europeus, era uma atividade mercantil com a finalidade de obter lucro. Já os indígenas compreendiam que a troca de produtos estreitava os laços com os portugueses e os franceses, tornando-os seus aliados.

Ilustração. Praia do lado esquerdo e mar do lado direito, com vegetação e alguns coqueiros ao fundo. No canto direito, em primeiro plano, um homem indígena está em pé na água recebendo um objeto de um homem branco com roupas bufantes que está em cima de um barco. Atrás deles um homem e uma mulher indígenas estão agachados; a mulher indígena observa uma faca e uma foice que tem em mãos. Um homem branco também está agachado e no chão há alguns potes e rolos de tecido, e um pouco atrás um baú aberto com objetos coloridos dentro. Na frente deles, um homem branco em pé com um manto de mangas bufantes segura um colar de contas e uma faca. Atrás dele, um homem com armadura segura um escudo em uma mão e um estandarte com uma bandeira branca e uma cruz vermelha na outra. Ao fundo, dois homens brancos com armaduras atracam outro barco na praia. Do lado esquerdo, pessoas indígenas carregam toras de madeira e outras pessoas indígenas estão com machadinhas nas mãos cortando as toras.
Ilustração atual representando a prática do escambo.

FONTE: FARIA, A. A. da C.; SANT'ANNA, M. de. Caravelas do Novo Mundo. 16. edição São Paulo: Ática, 2003. página 26-27. (Cotidiano da história).

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Por ser muito resistente, a madeira do pau-brasil era usada pelos indígenas para fazer utensílios, armas e habitações. Na Europa, os pigmentos naturais avermelhados extraídos da madeira eram usados no tingimento de tecidos e simbolizavam riqueza e poder. Por conta da exploração dessa espécie, desde 1992 o pau-brasil está na lista oficial da flora brasileira ameaçada de extinção.

O início da colonização

A partir de 1530, Portugal passou a dedicar mais atenção à América. Essa mudança de postura estava relacionada a três fatores:

  • a redução dos lucros no comércio de especiarias orientais por causa da concorrência com outros povos europeus, principalmente holandeses e franceses;
  • o medo da invasão dos domínios portugueses por outras nações europeias, que tinham intenção de explorar o pau-brasil;
  • a possibilidade de descobrir jazidas de ouro e prata na América portuguesa, como as encontradas nas colônias espanholas.

Assim, o governo passou a incentivar a vinda de portugueses para o território americano a fim de colonizá-lo.

Oficialmente, a primeira expedição colonizadora foi comandada por um nobre português chamado Martim Afonso de Souza, que veio com a missão de expulsar os franceses do litoral e criar núcleos de povoamento. Ele fundou no litoral do atual estado de São Paulo a primeira vila da colônia, a de São Vicente, em 1532.

Fotografia. Em primeiro plano, homens caracterizados de indígenas, usando penas na cabeça e saiotes estão de costas, voltados para uma rampa onde estão homens vestidos com mantos, calças bufantes e meias compridas. De cada lado da rampa, homens com armaduras seguram lanças. Ao fundo, no palco, pessoas com roupas típicas de portugueses (bermuda ou saia verde, camisa branca com colete vermelho e touca verde) carregam bandeiras brancas com cruzes vermelhas.
Apresentação teatral durante a 38ª edição da Encenação da Fundação da Vila de São Vicente. São Vicente (São Paulo). Foto de 2020.
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A celebração de datas, personagens ou locais históricos faz parte da criação de narrativas sobre o passado. Eventos do presente, como o da fotografia, lembram aspectos importantes da história colonial, mas contribuem para o esquecimento de outros. Feita no local em que ocorreu o desembarque dos navios comandados por Martim Afonso de Souza, em 1532, a encenação retoma a perspectiva europeia dos eventos, celebrando a lógica de um contato amigável entre indígenas e portugueses.

A administração da colônia

A partir de 1534, com o objetivo de aprofundar o processo de colonização, o Estado português concedeu a nobres o direito de administrar lotes de terra denominados capitanias hereditárias. Entre as obrigações desses nobres, chamados donatários, estavam a fundação de vilas, o patrulhamento contra a invasão de estrangeiros e piratas, a concessão de sesmarias (lotes de terra) a colonos e a cobrança dos tributos na região.

O sistema de capitanias, no entanto, não deu certo por diversos motivos. O principal foi a distância entre uma capitania e outra, o que dificultava a comunicação entre elas. Como a população europeia era pequena, o isolamento podia ser fatal em caso de ataque indígena ou de piratas, crises de abastecimento etcétera Por isso, só as capitanias de Pernambuco e São Vicente obtiveram sucesso no plantio e na comercialização do açúcar. Todas as outras fracassaram no objetivo inicial de promover o povoamento europeu e a exploração do território.

A partir de 1548 foi instituído o governo-geral. Com ele, a administração da colônia foi centralizada. O objetivo da Coroa portuguesa era tornar a colonização mais efetiva e controlada, ajudando as capitanias a se desenvolver.

Entre 1548 e 1808, 53 governadores-gerais foram nomeados pelo rei de Portugal, destacando-se os três primeiros: Tomé de Souza, Duarte da Costa e Mem de Sá.

Com Tomé de Souza, chegaram à América portuguesa, em 1549, cêrca de mil homens, entre eles funcionários da Coroa portuguesa, soldados, degredadosglossário , um arquiteto e cinco jesuítas liderados pelo padre Manuel da Nóbrega. Durante o governo de Tomé de Souza, foi fundada a cidade de Salvador, futuro centro político-administrativo da colônia.

Capitanias hereditárias – século dezesseis

Mapa. Capitanias hereditárias, século dezesseis. Destaque para o território leste delimitado pela Linha do Tratado de Tordesilhas, que corta o atual Brasil de norte a sul. 
Sem legenda. 
O mapa apresenta as capitanias hereditárias, de norte a sul: Maranhão (primeiro lote), Maranhão (segundo lote), Ceará, Rio Grande, Itamaracá, Pernambuco (incluindo a cidade de Olinda), Baía de Todos-os-Santos, Ilhéus, Porto Seguro (incluindo a cidade de Porto Seguro), Espírito Santo, São Tomé, São Vicente (primeiro lote), Santo Amaro, São Vicente (segundo lote) incluindo a cidade de São Vicente) e Santana. 
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 300 quilômetros.

FONTE: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 16.

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A Coroa portuguesa dividiu seus domínios na América em quinze lotes de terra, separados por uma série de linhas paralelas ao Equador entre o litoral e a linha do Tratado de Tordesilhas. Essas terras, oferecidas a membros da pequena nobreza e a alguns militares responsáveis pela conquista de territórios na América, eram maiores do que muitos países europeus na época.

As câmaras municipais

A administração local ficava a cargo das câmaras municipais. Os únicos que podiam concorrer e ser eleitos para ocupar os cargos nessas câmaras eram os proprietários de terras e de escravizados – os chamados homens bons.

Eles eram responsáveis pela organização de festas, pela limpeza urbana e pela construção de obras públicas, entre outras medidas necessárias ao funcionamento das vilas e cidades. Além disso, deviam cuidar da segurança da população em caso de ataques de inimigos, recebiam queixas e as enviavam ao rei, além de fiscalizar a cobrança de impostos. As câmaras também tinham autonomia para criar e arrecadar taxas dos moradores.

Resistência indígena

Com a colonização, o fluxo de pessoas vindas da Europa para a América portuguesa aumentou, assim como a violência dos europeus contra os indígenas. Muitos povos foram expulsos de suas terras e obrigados a migrar para áreas do interior. Outros foram dizimados por causa das guerras e das doenças trazidas pelos europeus. Outros, ainda, foram escravizados ou submetidos ao trabalho compulsório.

Para resistir à exploração e à escravização, os indígenas utilizaram diversas estratégias, como a rebelião, a destruição de vilas e plantações e a recusa em adotar a religião e os costumes dos europeus.

Gravura. Em uma região de floresta, pessoas indígenas armados de arco e flecha e lanças de madeira lutam com homens brancos e negros armados com mosquete, espingardas e baionetas. Algumas pessoas indígenas estão caídas no chão.
Guerrilhas, gravura de iôrrán Mórits rugêndas, 1835.

Segundo e terceiro governos-gerais

O segundo governador-geral, Duarte da Costa, chegou às terras americanas em julho de 1553, liderando uma comitiva de cêrca de 260 pessoas, que incluía membros da nobreza, religiosos e moças órfãs enviadas para se casar com colonos. Com o apoio da Igreja Católica, os casamentos eram promovidos para povoar o território e evitar a miscigenação entre os colonizadores portugueses e as mulheres indígenas.

Entre as muitas dificuldades enfrentadas por Duarte da Costa durante sua administração se destacaram: a resistência constante de povos indígenas hostis à presença portuguesa e uma tentativa de invasão de franceses ao litoral da colônia.

Mem de Sá, que assumiu o governo-geral em 1558, conviveu com a falta de recursos e ainda enfrentou uma grave epidemia de varíola que atingiu a Bahia. Durante seu governo, que se estendeu até 1572, foi fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e os franceses foram expulsos dessa região.

Assim como na América espanhola, a estrutura administrativa montada pelos portugueses era formada por instituições civis, militares e religiosas e variou de acordo com o tempo e com as necessidades. Diferente dos espanhóis, porém, no primeiro século os portugueses centraram a colonização nas regiões litorâneas e não fundaram universidades, imprensa ou outros centros de produção cultural e intelectual.

Fotografia. Em um pátio, pessoas indígenas estão reunidas, dispostas em círculo. Algumas portam pedaços de pau na mão, outras, cartazes. Um homem indígena segura um arco e um feixe de flechas. Pessoas ao redor observam o ato.
Protesto de indígenas Guarani pela demarcação de terras em frente ao Pátio do Colégio, em São Paulo (São Paulo). Foto de 2014.
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O padre jesuíta José de Anchieta foi um dos religiosos que acompanharam a comitiva de Duarte da Costa. Em 25 de janeiro de 1554, ele e o padre Manuel da Nóbrega fundaram o Colégio de São Paulo, instituição considerada a origem da cidade de São Paulo.

O colégio, com o apoio de líderes indígenas locais, tornou-se uma referência importante no projeto de converter os habitantes da América portuguesa ao catolicismo.

Os franceses na América portuguesa

No início do século dezesseis, a posse do litoral da América portuguesa não estava assegurada aos ibéricos. Alguns países europeus, como a França, contestaram a validade do Tratado de Tordesilhas, de 1494, que estabeleceu a divisão das terras sul-americanas entre Portugal e Espanha.

Interessados na exploração comercial do pau-brasil, os franceses visitavam com frequência o território desde 1501. Quase três décadas depois, embarcações da França ainda mantinham com os indígenas da América um intenso e lucrativo comércio.

Em 1532, por exemplo, o navio francês peregrina foi capturado no porto de Málaga, na Espanha. Ele continha aproximadamente 15 mil toras de pau-brasil, além de 3 mil peles de onça, seiscentos papagaios, uma grande diversidade de óleos medicinais, pimenta, sementes de algodão e amostras minerais.

Essa apreensão foi decisiva para o rompimento de relações entre Portugal e França. Com isso, em 1555, os franceses organizaram uma ação ambiciosa: estabeleceram na Baía de Guanabara (em parte do território correspondente ao do atual Rio de Janeiro) um assentamento permanente chamado França Antártica.

Como você estudou no capítulo 3, após a Reforma Protestante, a monarquia francesa enfrentou um período prolongado de guerras e agitações populares, envolvendo fôrças católicas e protestantes. Com a fundação desse núcleo de colonização, o governo francês, oficialmente católico, tinha dois objetivos: expandir seu comércio ultramarino e livrar-se dos protestantes, enviando-os como colonos para a América.

Fotografia. Grande construção retangular de quatro andares com muitas janelas à beira do mar. No alto da construção está escrito: Escola Naval. Ao fundo, prédios e montanhas.
Escola Naval construída no século vinte na Ilha de Villegagnon, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Foto de 2020. Nesse local, no século dezesseis, os franceses instalaram o Forte de Coligny.
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Assim que chegaram à América portuguesa, no século dezesseis, os franceses iniciaram a construção de um forte militar na Ilha de Villegagnon, na Baía de Guanabara, local onde estabeleceram a França Antártica. O objetivo deles era se defender dos ataques dos lusitanos. O forte recebeu o nome de cólini, em homenagem ao líder protestante gaspár coliní, um dos idealizadores do projeto.

Conflitos e alianças

Na França Antártica, os franceses firmaram alianças com alguns grupos indígenas locais que se dispuseram a lutar contra os portugueses, principalmente para combater a escravidão. Esses indígenas eram denominados Tamoio. Os portugueses, por sua vez, aliaram-se aos Guaianá, Temiminó e Carijó, inimigos dos Tamoio.

No conflito, destacou-se o líder indígena araribóia, posteriormente batizado com o nome cristão de Martim Afonso de Souza, em homenagem ao donatário português. Atuando como intermediário entre os indígenas e os europeus, araribóia ficou ao lado de Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral e fundador do povoado de São Sebastião do Rio de Janeiro. A expulsão definitiva dos franceses ocorreu em 1567.

Fotografia. Estátua de um homem indígena em pé, de braços cruzados e vestindo uma tanga.
Estátua em homenagem ao indígena araribóia, em Niterói (Rio de Janeiro). Foto de 2021.

França Equinocial

Após a expulsão da França Antártica, os franceses fundaram outra colônia em 1612, no atual estado do Maranhão: a França Equinocial. Com a construção do Forte de São Luís, eles exploraram a costa norte da América portuguesa e chegaram até a foz do Rio Amazonas.

Em 1614, com o apoio dos indígenas Tremembé, os portugueses conseguiram tomar o Forte de São Luís, colocando fim à presença francesa na América portuguesa.

Fotografia. No primeiro plano, vista da lateral de um grande palácio colonial com seu jardim. Trata-se de uma construção horizontal, de dois pavimentos, protegida por uma muralha de paredes largas. Ao redor, outros casarões coloniais.
Centro histórico de São Luís (Maranhão). Foto de 2019. Essa é a única cidade brasileira fundada por franceses.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Qual foi a principal atividade econômica realizada no comêço da colonização da América portuguesa?
  2. Por que, a partir de 1530, a Coroa passou a incentivar a colonização do território?
  3. Os indígenas aceitaram passivamente a colonização do território em que viviam pelos portugueses? Justifique sua resposta.
  4. Explique como ocorreu a tentativa de colonização do litoral da América portuguesa pelos franceses.

Cruzando fronteiras

O trecho a seguir foi retirado da obra A queda do céu: palavras de um xamã Ianomâmi, de 2015. O livro foi escrito pelo líder indígena Davi Copênauae pelo antropólogo francês Bruce álbert, que durante mais de trinta anos acompanhou os povos Ianomâmina luta pelo reconhecimento oficial de suas terras na Amazônia.

“No comêço, seduzidos pela beleza da floresta, mostraram-se amigos de seus habitantes. Em seguida, começaram a construir casas. Foram abrindo roças cada vez maiores, para cultivar seu alimento, e plantaram capim por toda parte, para o seu gado. Suas palavras começaram a mudar. Puseram-se a amarrar e açoitar as gentes da floresta que não seguiam suas palavras. Fizeram-nas morrer de fome e de cansaço, forçando-as a trabalhar para eles. Expulsaram-nas de suas casas para se apoderar de suas terras. Envenenaram sua comida, contaminaram-nas com suas epidemias. Mataram-nas com suas espingardas e esfolaram seus cadáveres com facões, como caça, para levar as peles para seus grandes homens. Os xamãs conheciam todas essas antigas palavras. Tinham-nas ouvido ao fazerem dançar a imagem desses primeiros habitantes da floresta. Contam os brancos que um português disse ter descoberto o Brasil há muito tempo. Pensam mesmo, até hoje, que foi ele o primeiro a ver nossa terra. Mas esse é um pensamento cheio de esquecimento! omãma nos criou, com o céu e a floresta, lá onde nossos ancestrais têm vivido desde sempre. Nossas palavras estão presentes nesta terra desde o primeiro tempo, do mesmo modo que as montanhas onde moram os xapiri. Nasci na floresta e sempre vivi nela. No entanto, não digo que a descobri e que, por isso, quero possuí-la. Assim como não digo que descobri o céu, ou os animais de caça! Sempre estiveram aí, desde antes de eu nascer. Contento-me em olhar para o céu e caçar os animais da floresta. E só. E é esse o único pensamento direito.”

Copênaua, D.; álbert, B. A queda do céu: palavras de um xamã Ianomâmi. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. página 252-253.

Nesse relato, Davi Copênaua trata da presença dos europeus no Brasil pela perspectiva dos povos indígenas. Com base na reflexão que ele propõe, faça as atividades a seguir.

Responda no caderno.

  1. De acordo com o líder Ianomâmi, como o contato com os europeus modificou as fórmas de existência dos povos indígenas?
  2. Pode-se afirmar que Davi Copênaua concorda com a afirmação de que um português descobriu o Brasil há muito tempo? Justifique sua resposta.
  3. Identifique no texto traços da oralidade indígena.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. No caderno, identifique as afirmativas verdadeiras e as falsas. Em seguida, corrija as incorretas.
    1. Os primeiros trinta anos de presença portuguesa na América foram marcados por poucas expedições, em geral de reconhecimento de território.
    2. A partir de 1530, as capitanias hereditárias promoveram o desenvolvimento de todas as regiões da colônia com baixo custo para a Coroa portuguesa.
    3. A exploração do pau-brasil por meio do escambo foi a principal atividade desenvolvida nos primeiros anos da América portuguesa.
    4. A vida dos portugueses na colônia era tranquila em razão da relação amigável que eles mantinham com os diversos povos indígenas do litoral.

Aprofundando

2. Analise a pintura Primeira missa no Brasil, de Victor Meirelles. Em seguida, faça o que se pede.

Pintura. Vista de um campo aberto com árvores esparsadas ao redor. No centro da imagem há uma clareira, é o ponto mais iluminado da pintura, onde foi representada uma cruz de madeira erguida sobre um pedestal. Aos pés da cruz, encontram-se dois clérigos de batina branca orando em posição de devotamento. Ao redor deles, clérigos de ordens religiosas e portugueses observam a cena. Alguns estão ajoelhados. Do lado esquerdo da imagem, em uma parte mais baixa do terreno, um grupo de indígenas contempla o ato. No primeiro plano da imagem, na parte menos iluminada da pintura, indígenas desnudos, em pé ou sentados no chão e em um galho de uma grande árvore disposta na lateral direita da imagem, observam com curiosidade.
Primeira missa no Brasil, pintura de Victor Meirelles, 1860.
  1. Como a história do encontro entre portugueses e indígenas é representada no quadro?
  2. Como os indígenas foram representados pelo pintor?

3. Durante a colonização, os europeus estabeleceram várias fórmas de dominar o território, como a exploração de lotes de terra e a fundação de vilas e cidades. Entretanto, essas formas de ocupar o espaço não eram as únicas. As populações indígenas tinham suas próprias maneiras de organizar seus territórios. Ao longo dos séculos, essas populações encontraram meios de resistir e de manter seus modos de organização. Com base nessas reflexões, analise as imagens a seguir e responda às questões.

Ilustração. Planta de uma cidade à beira-mar. Nota-se a presença de representações de edificações quadradas e retangulares. Na planta, foram colocados, da esquerda para a direita, os números de 1 a 5 para destacar as principais estruturas da cidade representada. Da esquerda para a direita, o número 1 designa uma fortificação; o número 2 representa uma área aberta próximo ao forte; o número 3 situa um local de culto; o número 4, uma moradia com sede política e administrativa; e o número 5, um forte construído no mar.
Detalhe de Planta da cidade de Salvador, de João Teixeira Albernaz primeiro, produzida no século dezessete. Em destaque: 1. cidadela, 2. praça, 3. igreja, 4. casa do governador e câmara municipal e 5. forte.
Ilustração. Planta de uma aldeia em meio à floresta, cortada por cursos de água. A aldeia foi representada rodeada por rios e árvores. Há marcações de 1 a 6 para destacar os principais elementos da imagem. O número 1 está no rio, azul, disposto na parte inferior da imagem em posição horizontal e cortando o lado esquerdo da imagem verticalmente, no rio, há uma pequena canoa; o número 2 está em um pátio circular amarelo em torno do qual há construções de moradias retangulares com teto de palha formando um círculo; o número 3 designa um campo de futebol, local para a prática de esporte alocado no centro do pátio amarelo entre as moradias; o número 4 refere-se a uma faixa retangular verde disposta diagonalmente abaixo dessa área circular amarela; o número 5 é uma área destacada em amarelo, próxima às margens do rio, com várias construções com telhado de palha; o número 6 está situado em uma de área mata na parte superior direita da imagem e representa vegetação. No canto superior direito da imagem, uma representação do sol em vermelho, laranja e amarelo.
Uma aldeia do Xingu, de napiku íkpeng, 1996. Em destaque: 1. Rio Xingu, 2. aldeia, 3. campo de futebol, 4. pista de pouso, 5. posto indígena e 6. roças.
  1. Quais são as principais diferenças entre as duas representações?
  2. O que essas diferenças podem sugerir sobre as sociedades que produziram cada uma delas?

4. O texto a seguir é parte de uma obra literária escrita no século dezesseis por Jãn dê lêrri, missionário francês que viveu na França Antártica. Junte-se a um colega e leiam-no atentamente. Em seguida, façam o que se pede.

“Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, mairs e perôs [franceses e portugueses], buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta reticências.

Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? – Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. – Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre? – Sim, disse eu, morre como os outros.

Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? – Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. – Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros mairs sois grandes loucos, pois atravessais o mar reticências para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá reticências.”

lerrí, J. de. Viagem à terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980. página 169-170.

  1. Qual era a diferença no uso do pau-brasil pelos indígenas e pelos europeus?
  2. Por que o velho tupinambá não compreende a prática dos europeus?
  3. Jãn dê lêrri apresenta uma imagem positiva ou negativa do indígena? Por quê?
  4. Esse diálogo teria ocorrido de fato? Justifique seu ponto de vista.
  5. Na opinião de vocês, qual deve ter sido a reação dos europeus ao ler o livro de Jãn dê lêrri?
  1. Neste capítulo você estudou o papel das câmaras municipais no início da colonização portuguesa. Agora, você vai realizar uma pesquisa de campo para descobrir as características das câmaras municipais na atualidade. Para isso, siga estas etapas:
    1. No dia combinado com o professor, você e seus colegas farão uma visita à câmara de vereadores do município em que moram.
    2. No local, anote todas as informações passadas pelo professor ou pelos monitores responsáveis pela visita.
    3. Junte-se a outros dois colegas e dividam as seguintes tarefas: um fará uma entrevista com um funcionário do local sobre seu trabalho; o segundo vai investigar projetos em andamento; e o terceiro, projetos aprovados que impactaram a comunidade em que vocês vivem.
    4. Como tarefa de casa, usem todas as informações obtidas para produzir um relatório sobre a pesquisa de campo. Apontem as diferenças e semelhanças entre as câmaras coloniais e as atuais e qual é a importância dessa instituição para o seu município.

Glossário

Coivara
: técnica utilizada para desmatar e queimar uma área de floresta a fim de abrir espaço para a plantação de vegetais durante períodos curtos. A prática está associada à rotação de culturas, em que a plantação de diferentes cultivos é intercalada.
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Degredado
: criminoso condenado à pena de degredo (exílio).
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