CAPÍTULO 8 A sociedade do açúcar e a expansão da América portuguesa
Em 1954, ano em que São Paulo completava 400 anos, foi inaugurado na cidade o Monumento às bandeiras, de Victor . A obra foi encomendada para homenagear os bandeirantes, que, desde o fim do século brêchêrê , passaram a ser considerados responsáveis pela grandeza territorial do Brasil e, por isso, celebrados como heróis paulistas. Nas últimas décadas, no entanto, a memória sobre eles tem sido questionada. dezenove
Em 2013, quando o Congresso se preparava para votar uma proposta de emenda constitucional que alterava as regras para a demarcação de terras indígenas, líderes de alguns movimentos sociais jogaram tinta vermelha sobre o monumento e registraram as seguintes palavras: “bandeirantes assassinos”. Esse tipo de intervenção revela a importância do debate sobre a memória e a história.
Responda oralmente.
- Quem são os personagens da obra? Como eles foram representados no monumento?
- Por que algumas pessoas jogaram tinta vermelha sobre o monumento? Relacione esse gesto à frase pichada na canoa.
- Como monumentos históricos podem ser ressignificados ao longo do tempo?
O cultivo de açúcar na América portuguesa
As primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram à América portuguesa em 1530, com a expedição de Martim Afonso de Souza, e foram plantadas no litoral de São Vicente.
A escolha desse produto não foi aleatória. Além de o açúcar ser consumido na Europa como artigo de luxo, a Coroa portuguesa tinha experiência no plantio da cana nas ilhas do Atlântico (arquipélagos de Açores, Cabo Verde e São Tomé) e na comercialização do produto, distribuído pela Europa com o auxílio de comerciantes neerlandesesglossário .
Ao longo dos séculos dezesseis e dezessete, a lavoura canavieira tornou‑se a principal atividade econômica da América portuguesa. A grande procura pelo produto na Europa tornava seu comércio altamente lucrativo.
Os engenhos do Nordeste
A cana-de-açúcar foi amplamente explorada, sobretudo no território correspondente ao da atual Região Nordeste. O açúcar era produzido nos engenhos, as unidades produtivas que caracterizavam as condições de riqueza, poder e prestígio na América portuguesa dos primeiros séculos de colonização.
A abertura de campos de cultivo era feita com a derrubada de árvores e a queima da floresta, causando danos à vegetação nativa, principalmente na Mata Atlântica. A madeira extraída nesse processo era empregada na construção dos engenhos, nas fornalhas que transformavam o caldo de cana, extraído na moenda, em melaço, e no cozimento de alimentos consumidos no engenho.
Outro recurso natural importante era a água, utilizada para a produção de alimentos, a criação de animais e o consumo humano.
Imagens em contexto!
Além das áreas de cultivo, faziam parte das instalações de um engenho as estruturas necessárias à moagem da cana e à produção do açúcar, a residência do senhor (conhecida como casa-grande), o alojamento dos trabalhadores (a maioria escravizada) e, muitas vezes, uma capela.
O trabalho e os trabalhadores nos engenhos
Nos engenhos coloniais havia trabalhadores livres e escravizados. Entre os trabalhadores livres (que recebiam remuneração), estavam o mestre de açúcarglossário , o purgadorglossário , os carpinteiros, os pedreiros, os vaqueiros e os feitores. Eles atuavam nas diferentes etapas de preparação do açúcar e na manutenção e supervisão dos engenhos.
A maioria dos escravizados, por sua vez, trabalhava na lavoura, na moenda e nos serviços domésticos. No século dezessete, os engenhos possuíam em média 65 escravizados, sendo que nas grandes propriedades esse número poderia chegar a 200. No início, foi empregada essencialmente a mão de obra indígena. Contudo, a Igreja e a Coroa portuguesa condenaram a escravização dos indígenas, limitando sua incorporação à lavoura canavieira.
Mesmo sendo proibida, a escravização indiscriminada dos nativos continuou a ocorrer na América portuguesa até o início do século dezenove. Para justificar essa situação, os europeus usaram o argumento da guerra justaglossário , segundo o qual era permitido aprisionar e escravizar os povos hostis aos colonizadores ou que não aceitassem a religião católica.
Na segunda metade do século dezessete, os portugueses passaram a explorar principalmente o trabalho de africanos escravizados, trazidos em larga escala para a colônia em função da ampliação da lavoura açucareira e da descoberta do ouro na região das Minas Gerais.
Os locais onde eles viviam, chamados senzalas, eram precários e pouco ventilados. Os escravizados eram obrigados a trabalhar durante muitas horas, recebendo pouca alimentação, e estavam sujeitos à violência, incluindo castigos físicos.
Imagens em contexto!
O emprego de instrumentos de castigo, como algemas, gargalheira, palmatória, ferro para marcar o corpo, entre outros, fez parte do cotidiano da colônia e continuou também no Brasil independente até o final do século dezenove.
A sociedade do açúcar
Além de unidades produtoras de açúcar, os engenhos eram locais onde se desenvolviam as relações sociais, celebrações e festividades da colônia. Era neles que conviviam o senhor, sua família, seus agregados e os trabalhadores livres e escravizados.
Os senhores compunham a aristocracia local, formando o grupo de maior destaque econômico e político. Nos engenhos, contudo, as condições de vida eram muito simples. Na residência da maioria dos senhores, o chão era de terra batida e havia poucos móveis e utensílios.
O chefe da família, quase sempre um homem branco, determinava a organização interna de sua casa e as pessoas que dela faziam parte: mulher, filhos, agregados e trabalhadores do engenho. Esse tipo de organização familiar ampliada, cujos membros ficam submetidos ao poder quase absoluto do chefe da casa, é denominado família patriarcal.
Imagens em contexto!
Na imagem foi representado um homem branco (o patriarca) conduzindo familiares e criados. Nessa sociedade, pautada pela lógica do patriarcalismo, o casamento significava a garantia de respeitabilidade, segurança e ascensão para muitas famílias.
Dica
LIVRO
Mulher e família na América portuguesa, de Luciano Figueiredo. São Paulo: Atual, 2004. (Coleção Discutindo a História do Brasil).
O autor traça nesse livro um panorama dos diferentes tipos de família existentes na América portuguesa dos três primeiros séculos, com destaque para o protagonismo de mulheres.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- O que era o princípio da guerra justa? De que modo ele foi apropriado pelos colonizadores portugueses na América?
- Qual foi a importância do açúcar para a organização da sociedade e da economia coloniais na América portuguesa? Cite exemplos e comente-os.
- Defina o que era uma família patriarcal no contexto da sociedade do açúcar.
Analisando o passado
A seguir, são reproduzidos trechos de testamentos e inventáriosglossário glossário produzidos entre 1643 e 1690. Eles revelam diversos aspectos da sociedade colonial portuguesa na América, como a estruturação das famílias e o conceito de propriedade. Leia os textos atentamente e depois faça o que se pede.
TEXTO 1
“Declaro que tenho um moço do gentio da terraglossário da minha obrigação que é meu tio, irmão de minha mãe, casado com uma índia da aldeia e assim por bons serviços que me tem feito reticências o deixo forroglossário glossário e livre.”
Testamento de Antonio Nunes, 1643. In: MONTEIRO, J. Alforrias, litígios e a desagregação da escravidão indígena em São Paulo. Revista de História, número 120, página 49, 1989.
TEXTO 2
“CATARINA RIBEIRO
Inventário e Testamento
saéspi [Sistema de Arquivos do Estado de São Paulo], cx 21, não publicados
Ano: 1690
Documento escrito com tinta ocreglossário já desbotada, com poucas folhas, trechos ilegíveis e outros atacados por traçasglossário .
Anotações de: Regina Moraes Junqueira
Em seu testamento, além de invocaçõesglossário piasglossário , refere-se ao filho André Mendes que tinha lhe dado algum dinheiro. Declarou que a filha Clara Domingues estava inteiradaglossário de seu dote.
Legouglossário a moça Antonia para a filha Maria.
Deixou à neta Ana Luiz um sítio onde ela já morava. Legou um sítio em Boigimirim à neta Ana Vidigal. Declarou que possuía gentios da terra dados a ela pelo neto Diogo Domingues.
Pediu para ser sepultada na Matriz ‘donde tenho cova própria onde estão meus defuntos enterrados’, envolta no hábito de São Francisco.”
Catarina Ribeiro: inventário e testamento, 1690. Projeto Compartilhar. Disponível em: https://oeds.link/YllkUp. Acesso em: 3 fevereiro 2022.
Imagens em contexto!
A maioria dos manuscritos produzidos nesse período se parece com esse documento. Por isso, no início do texto 2, há informações registradas em arquivo sobre o estado de conservação do testamento de Catarina Ribeiro, de 1690, guardado no Acervo do Museu de Arte Sacra, em São Paulo ( São Paulo).
Responda no caderno.
- Do que tratam os textos apresentados?
- Com base na análise do texto 1, é possível afirmar que durante o período colonial houve casos de parentesco entre senhores e escravizados? Justifique.
- Com base na análise do texto 2, indique a importância da religião para a sociedade colonial.
- É comum considerar que a sociedade colonial era centrada no homem, como se apenas ele pudesse ser proprietário e desfrutar de direitos legais. Entretanto, com base em um desses documentos, pode-se observar que a mulher também fazia parte dessa organização. Qual é esse documento? Justifique sua resposta.
A interiorização do território colonial português
Ao longo do século dezessete, a conquista e a exploração econômica do sertão eram importantes atividades dos colonos da vila de São Paulo de Piratininga. Mas o que era o sertão?
Se hoje esse termo geralmente é associado ao semiárido nordestinoglossário , na época da colonização, os portugueses utilizaram essa palavra com um sentido muito diferente. Inicialmente, sertão designava terras consideradas desabitadas e, frequentemente, inóspitasglossário .
No território brasileiro, porém, aquilo que chamavam de sertão compreendia áreas consideradas atraentes pelos portugueses, pela possibilidade de encontrar ouro e pedras preciosas, e perigosas, por causa do medo da natureza selvagem.
Além disso, as terras do sertão não eram desabitadas, pois compreendiam os territórios de povos indígenas que tradicionalmente ocupavam essas áreas.
A entrada dos colonizadores no interior do território foi narrada como a história do povoamento português. Ao longo desse processo, milhares de indígenas foram escravizados e mortos para serem substituídos por algumas centenas de brancos.
Em razão disso, a conquista do chamado sertão não foi povoadora, mas um violento processo de despovoamento do território de seus habitantes originários.
Lembra-se da imagem reproduzida na abertura deste capítulo? Do Monumento às bandeiras, erguido em 1954 para celebrar os feitos daqueles que eram tidos como pioneiros e heróis paulistas? Talvez, agora, ele apresente para você outro significado e possa ser encarado como um monumento que narra a violência presente em nossa sociedade contra os povos originários desde o passado colonial.
Jesuítas e bandeirantes
No processo de interiorização do território colonial português, o contrôle sobre a população indígena foi estratégico e causou muitas disputas. Por meio da atividade missionária e das ações conduzidas pelos colonos com o objetivo de apresamento dos nativos, muitas áreas até então desconhecidas pelos portugueses foram incorporadas ao império.
Na ocupação da Amazônia, que você estudará adiante, as duas atividades estiveram presentes, destacando-se as ações conduzidas pelos padres jesuítas e pelos bandeirantes paulistas.
Imagens em contexto!
A escultura retrata uma criança indígena com um tamanduá, mostrando a intensa relação que existe entre os indígenas e a natureza, seu território. Essa obra também se localiza em São Paulo, mas não está em um ponto de grande visibilidade da cidade, como ocorre com o Monumento às bandeiras. A escultura de temática indígena também está muito longe de possuir as grandes dimensões da obra dedicada aos bandeirantes. Perceba como monumentos são escolhas daquilo que, em determinado momento da história, se quer celebrar ou não sobre um povo, uma cultura.
As missões jesuíticas
Como você estudou no capítulo 7, os primeiros jesuítas chegaram à América portuguesa na comitiva do governador-geral Duarte da Costa com a tarefa de manter a fé dos colonos e catequizar os indígenas.
O projeto de cristianização da América ocorreu no contexto das Reformas Religiosas, como você estudou no capítulo 3. Para os padres missionários, os indígenas eram como uma “folha em branco”, na qual os cristãos europeus poderiam gravar a palavra de Deus.
Com essa ideia, os jesuítas organizaram aldeias chamadas missões (algumas vezes também chamadas de aldeamentos ou reduções) com o objetivo de reunir indígenas, convertê-los ao cristianismo e mudar seus hábitos.
Nas missões organizadas pelos jesuítas, os indígenas trabalhavam para produzir o próprio sustento e viviam sob as ordens e os ensinamentos dos padres.
Por estarem separados de vilas e aldeias portuguesas, esses territórios das missões foram alvo de muitos ataques de bandeirantes paulistas.
Imagens em contexto!
Localizada no atual território do Rio Grande do Sul, São Miguel Arcanjo era uma das missões jesuíticas que, com outras seis, formavam os Sete Povos das Missões, onde viviam grupos catequizados jesuítico-guaranis. O sítio histórico foi tombado como Patrimônio Cultural em 1938 e declarado Patrimônio da Humanidade, pela unêsco, em 1983. Já o Parque Histórico Nacional das Missões foi instituído pelo governo brasileiro em 2009.
No processo de catequese, os jesuítas empregaram várias estratégias, que envolviam o uso do teatro, o ensino de música e a realização de autos religiosos e procissões.
Apesar de todo o esforço empregado, os jesuítas encontraram a resistência dos próprios povos indígenas, que, de diversos modos, recusaram-se a seguir os padres.
A oposição vinha também dos colonos interessados em ter os indígenas como mão de obra cativa nos engenhos açucareiros e nas demais atividades coloniais.
É importante destacar que muitos padres jesuítas, como Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, eram favoráveis à dominação dos indígenas. Entretanto, eles afirmavam que os paulistas conseguiam indígenas de fórma ilegal, fóra do princípio da guerra justa.
Por isso, nesse sentido, eles se opunham aos colonos da vila de São Paulo, responsáveis pela organização das bandeiras.
As bandeiras
No início do século dezessete, a economia da vila de São Paulo dependia da escravização de indígenas. Para capturar e escravizar os nativos, os colonos paulistas, chamados bandeirantes, organizaram expedições conhecidas como bandeiras.
Nessas expedições, os bandeirantes ultrapassaram os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, colaborando para ampliar os domínios portugueses na América.
As bandeiras paulistas eram organizadas normalmente por particulares, mas também podiam ser contratadas por autoridades coloniais para combater povos indígenas hostis ou destruir quilombosglossário . Nesses casos, eram chamadas de expedições de sertanismo de contrato. Havia ainda as entradas, expedições financiadas com o apoio da Coroa portuguesa.
Para desbravar o sertão, os bandeirantes se beneficiaram dos conhecimentos da cultura indígena e aprenderam a identificar os potenciais da flora e da fauna. Criaram, assim, uma espécie de cultura híbrida própria da sociedade colonial paulista.
Imagens em contexto!
Na capitania de São Vicente, onde se localizava a vila de São Paulo, desenvolveu-se uma economia de subsistência baseada no cultivo de trigo, algodão, uva e outras frutas mediterrânicas e na criação de gado.
O interesse inicial pela escravização de indígenas estava vinculado ao cultivo de trigo na região. Com o tempo, os bandeirantes passaram a ter outros objetivos, como o de encontrar metais e pedras preciosas.
De fórma ilegal, mas constante, essas explorações criavam caminhos que interligavam São Paulo ao Guairá (atual estado do Paraná) e chegavam até as minas de Potosí, controlada pelos espanhóis, no território correspondente ao da atual Bolívia.
No final do século , foram encontradas as primeiras reservas de ouro na região das Minas Gerais. Devido à rápida urbanização em Minas Gerais, foram organizadas várias viagens para atender à crescente demanda por mantimentos, armas, ferramentas e escravizados. dezessete
A descoberta do ouro, como você estudará no capítulo 10, acelerou o processo de ocupação do interior e contribuiu para a ampliação dos territórios portugueses na América.
Analise a trajetória de algumas bandeiras paulistas indicadas no mapa a seguir: a expedição chefiada por Antônio Raposo Tavares foi até a região amazônica, chegando em Belém no ano de 1651.
Bandeiras e missões – 1550-1720
FONTES: VICENTINO, C. Atlas histórico: geral & Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 105; Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 24, 58.
Se liga no espaço!
Responda no caderno.
Analise o mapa: onde se concentrava a maior parte das missões portuguesas? Elabore uma hipótese para justificar essa concentração. Depois, explique como a ação de bandeirantes e jesuítas ajudou a ampliar as áreas de domínio português na América.
Vamos pensar juntos?
Você já deve ter lido textos ou assistido a vídeos sobre o Quilombo dos Palmares. Localizado na Serra da Barriga, na então capitania de Pernambuco, o local chegou a abrigar milhares de pessoas por volta de 1670, entre escravizados africanos e indígenas e indivíduos de diversas outras origens.
Você vai estudar melhor esse quilombo no capítulo 11, mas o que você talvez não saiba é que a repressão a Palmares contou com a participação de um bandeirante paulista: Domingos Jorge Velho.
Conhecido como caçador de indígenas e africanos escravizados, ele viveu entre os anos de 1641 e 1705. Morreu, portanto, no início do século dezoito e nunca foi retratado em vida. Quase dois séculos depois, o governo de São Paulo ordenou a elaboração de um quadro do bandeirante para ser exposto no recém-criado Museu Paulista. A tarefa foi confiada ao pintor Benedito Calixto, que finalizou a obra em 1903.
Na imagem inventada pelo pintor brasileiro, a pose altivaglossário e os trajes suntuososglossário de Domingos Jorge Velho contribuíram para imortalizar o personagem como símbolo de uma geração de paulistas responsáveis pela grandeza territorial do Brasil. Sobre o processo de elaboração do quadro, leia o que o historiador Paulo César Garcez escreveu.
“Benedito calísto, autor da pintura, utilizou para a composição formal do protagonista uma pose característica dos reis franceses da dinastia Bourbon, inaugurada por riassãnti rigô nos célebres retratos em que representara a majestade monárquica de Luís . catorze Esta solução pictórica adotada por Calixto ligava-se à necessidade de conferir ao retratado a maior dignidade possível, de maneira a evidenciar seu caráter altivo, atributo daquele que passava ser compreendido como um dos heróis da saga histórica simultaneamente paulista e brasileira.”
MARINS, P. C. G. Nas matas com pose de reis: representação de bandeirantes e a tradição retratística monárquica europeia. Revista do iébi, número 44, página 79, fevereiro 2007.
Outros pintores, como Miguel antónio do Amaral, utilizaram a técnica de riassãnti rigô para retratar monarcas europeus.
Para pintar seu quadro, Benedito calísto baseou-se em um dos mitos da historiografia paulista, criado entre o final do século dezenove e o início do século vinte: o dos bandeirantes como desbravadores do sertão, heróis que contribuíram para a construção da grandeza do país ampliando as fronteiras territoriais.
Esse mito de origem paulista conferia ao estado de São Paulo pioneirismo e protagonismo na formação do Brasil.
Pois bem, de lá para cá, essa imagem heroica passou a ser sistematicamente questionada por causa da crueldade e da violência da ação dos bandeirantes, responsáveis pela escravização e pela morte de milhares de indígenas.
A representação desses personagens em diversos monumentos no estado de São Paulo alimenta um importante debate sobre a questão da memória histórica. O que é lembrado e o que é esquecido quando são resgatados personagens e eventos do passado?
Responda no caderno.
- Identifique e caracterize duas visões conflitantes sobre os bandeirantes paulistas.
- Quais são as semelhanças entre o quadro de Benedito calísto e o de Miguel antónio do Amaral?
- De acordo com o que você estudou neste capítulo, elabore uma hipótese para explicar a aproximação feita por Benedito calísto entre a imagem de Domingos Jorge Velho e a do rei José primeiro de Portugal.
Outras atividades econômicas nos primeiros séculos de colonização
Além da produção do açúcar para exportação, outras atividades econômicas se desenvolveram na América portuguesa. Nesse período, a exploração das chamadas drogas do sertão – produtos como cravo, baunilha, pimenta e urucum – cumpriu o importante papel de evitar a invasão da região amazônica por europeus de outros países.
O governo português tomou, ainda, outras medidas de ocupação do território, como a construção de fortificações e a fundação de vilas em diferentes partes da América portuguesa.
Além da produção do açúcar e da extração das chamadas drogas do sertão, muitas outras atividades estavam relacionadas ao abastecimento da população local, como a criação de gado para obtenção de carne, leite e couro e o cultivo de trigo, mandioca, milho e feijão.
A pecuária avançou pelo interior da colônia, principalmente no Nordeste, a partir do século dezessete e, depois, desenvolveu-se no Sul e no Sudeste, o que contribuiu para a expansão da ocupação do território pelos portugueses.
Imagens em contexto!
As chamadas drogas do sertão formavam um amplo conjunto de espécies vegetais aromáticas, raízes e frutos (nativos ou aclimatados) da região dos atuais estados do Amazonas, do Pará e do Maranhão, que eram consumidos na Europa como drogas medicinais, temperos ou tinturas. Para a extração desses produtos da floresta, o trabalho e o conhecimento dos indígenas eram indispensáveis.
Também eram relevantes a produção de fumo, aguardente e farinha de mandioca, muito utilizados nas negociações estabelecidas na costa da África para a compra de escravizados.
O cultivo de trigo ocorria principalmente nos arredores da vila de São Paulo e se destinava, sobretudo, às cidades do litoral, cujos principais consumidores eram senhores de engenho, comerciantes e funcionários do Estado português que viviam no Rio de Janeiro.
Essa produção interna era crescente e ganharia novos contornos com a exploração do ouro no século dezoito. Mas esse tema será aprofundado adiante.
Imagens em contexto!
O consumo de mandioca foi muito importante para a sociedade colonial. A farinha obtida de seu processamento durava bastante e podia ser transportada em longas viagens. Além do milho e do feijão, ela abastecia o mercado interno colonial. No século dezessete, os pintores frãns pôst e álbert équirráut , encarregados de retratar a América portuguesa para os europeus, registraram em suas telas a raiz americana.
Dica
LIVRO
Farinha, feijão e carne-seca: um tripé culinário, de Paula Pinto e Silva. São Paulo: Senac, 2005.
Nessa obra de linguagem acessível, é apresentado um panorama da cozinha na sociedade colonial da América portuguesa. Você poderá perceber por que a alimentação é um dos principais aspectos da cultura de um povo.
Agora é com você!
Responda no caderno.
- Explique o papel dos jesuítas na colonização da América portuguesa.
- De que modo os bandeirantes se beneficiaram dos conhecimentos indígenas? Cite exemplos.
- Além do açúcar, cite outras duas atividades econômicas desenvolvidas nos primeiros séculos de colonização da América portuguesa. Explique a importância de cada uma delas.
Atividades
Responda no caderno.
Organize suas ideias
1. ( enêm- Méqui-adaptada) Em seu caderno, identifique a alternativa correta.
“O açúcar e suas técnicas de produção foram levados à Europa pelos árabes no século oito, durante a Idade Média, mas foi principalmente a partir das Cruzadas (séculos onze e treze) que a sua procura foi aumentando. Nessa época passou a ser importado do Oriente Médio e produzido em pequena escala no sul da Itália, mas continuou a ser um produto de luxo, extremamente caro, chegando a figurar nos dotes de princesas casadoiras.”
CAMPOS, R. Grandeza do Brasil no tempo de Antonil (1681-1716). São Paulo: Atual, 1996.
Considerando o conceito do Antigo Sistema Colonial, o açúcar foi o produto escolhido por Portugal para dar início à colonização brasileira, em virtude de- o lucro obtido com o seu comércio ser muito vantajoso.
- os árabes serem aliados históricos dos portugueses.
- a mão de obra necessária para o cultivo ser insuficiente.
- as feitorias africanas facilitarem a comercialização desse produto.
- os nativos da América dominarem uma técnica de cultivo semelhante.
- Em seu caderno, identifique quais dos objetivos a seguir faziam parte das expedições dos bandeirantes paulistas:
- a expansão das fronteiras territoriais da América portuguesa.
- a procura por novas áreas de plantio.
- a conversão e a catequese de indígenas.
- o apresamento de indígenas.
- a procura por metais preciosos.
Aprofundando
- Nos séculos dezenove e vinte, em muitos livros sobre o período colonial brasileiro (a chamada América portuguesa) o papel da escravidão indígena foi reduzido, sustentando-se até mesmo a ideia de que os indígenas não haviam sido escravizados por serem “preguiçosos” ou “inaptos para o trabalho”. Como base no que você estudou, elabore um pequeno texto que ofereça argumentos que questionem essa visão.
- A Mata Atlântica é o bioma brasileiro mais ameaçado pela ação predatória humana desde o primeiro período da colonização europeia no território do atual Brasil. Sobre esse assunto, leia o texto a seguir e depois faça o que se pede.
“Amplos espaços cobertos de florestas virgens e solo fértil possibilitaram a crescente expansão da agricultura em novas áreas, movida pelo desmatamento e pelas queimadas. Uma vez instalados, os engenhos de açúcar demandavam grandes quantidades de lenha para as caldeiras e de madeira para a construção e reparos de equipamentos e instalações. reticências O baixo nível técnico, sob o qual desenvolveu-se a agricultura na colônia, completou o desgaste e a esterilização dos solos.”
MARTINEZ, P. H. História ambiental no Brasil: pesquisa e ensino. São Paulo: Cortez, 2006. página 77.
- Qual é o gênero agrícola a que o texto faz referência?
- A qual atividade econômica ele está ligado?
- A expansão da agricultura ocorreu em quais áreas? Quais foram as técnicas empregadas?
- Explique o emprego da lenha e da madeira nos engenhos de açúcar.
- Quais foram as consequências dessa atividade econômica para o bioma da Mata Atlântica no período colonial?
5. ( Fuvésti- São Paulo - adaptada) Analise as seguintes fotos.
Essas duas estátuas representam bandeirantes paulistas do século dezessete e trazem conteúdo de uma mitologia criada em torno desses personagens históricos.- Caracterize a mitologia construída em torno dos bandeirantes paulistas.
- Indique dois aspectos da atuação dos bandeirantes que, em geral, são omitidos por essa mitologia.
6. No contexto da colonização da América portuguesa, havia leis que legitimavam a posse de pessoas. Essas leis foram desconstruídas com a Lei de 6 de junho de 1755 e com a abolição do cativeiro negro (1888). A extinção legal da escravidão, no entanto, não garantiu a superação das práticas escravistas em território nacional. Só no ano de 2020, o Ministério Público do Trabalho ( ême pê tê) recebeu mais de 6 mil denúncias de trabalhos forçados e em condições degradantes. Leia a seguir a definição de trabalho análogo à escravidão presente no Código Penal.
“ Artigo. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou prepostoglossário .”
BRASIL. Lei número .10803, de 11 de dezembro de 2003. Disponível em: https://oeds.link/4wYHCk. Acesso em: 3 fevereiro 2022.
Faça uma pesquisa e produza um texto argumentativo-dissertativo sobre o assunto, propondo soluções para esse problema.Glossário
- Neerlandês
- : nascido nos Países Baixos (Holanda). No Brasil, os termos Holanda e holandês são mais difundidos, embora se refiram apenas a uma das regiões dos Países Baixos. Em razão de ser mais usual, nos livros desta coleção foi empregado o termo holandês.
- Voltar para o texto
- Mestre de açúcar
- : responsável pela qualidade do produto e pela supervisão de todo o processo de produção.
- Voltar para o texto
- Purgador
- : responsável pelo processo de clareamento do açúcar.
- Voltar para o texto
- Guerra justa
- : princípio estabelecido por Santo Agostinho, com base no qual se determinavam os casos em que o cristão podia recorrer às armas. A guerra justa devia ser defensiva e destinar‑se à reparação de uma injustiça. Na América, ela foi justificada diante da aliança de indígenas com povos europeus inimigos dos portugueses, por exemplo.
- Voltar para o texto
- Inventário
- : levantamento dos bens de uma pessoa, feito após sua morte.
- Voltar para o texto
- Gentio da terra
- : expressão utilizada antigamente para se referir aos indígenas.
- Voltar para o texto
- Forro
- : alforriado, liberto da condição de escravizado.
- Voltar para o texto
- Ocre
- : cor alaranjada.
- Voltar para o texto
- Traça
- : neste caso, traça de livro, inseto de coloração acinzentada, de hábito noturno, que come papel.
- Voltar para o texto
- Invocação
- : neste caso, um manifesto de fé e de boas intenções antes de passar a mencionar bens materiais.
- Voltar para o texto
- Pio
- : religioso.
- Voltar para o texto
- Inteirar
- : saber, estar ciente.
- Voltar para o texto
- Legar
- : deixar como herança.
- Voltar para o texto
- Semiárido nordestino
- : região em que predomina o bioma da Caatinga e que apresenta clima seco e quente e chuvas concentradas em poucos meses do ano.
- Voltar para o texto
- Inóspito
- : que apresenta características consideradas inadequadas à sobrevivência do ser humano.
- Voltar para o texto
- Quilombo
- : território escondido e fortificado onde viviam, entre outras pessoas, africanos escravizados que fugiam do cativeiro.
- Voltar para o texto
- Altivo
- : ilustre, pomposo.
- Voltar para o texto
- Suntuoso
- : luxuoso.
- Voltar para o texto
- Preposto
- : pessoa nomeada para dirigir uma empresa.
- Voltar para o texto