CAPÍTULO 12 As Treze Colônias inglesas na América

Em capítulos anteriores, você estudou o chamado “descobrimento” do Brasil e a associação da formação do país à chegada de Pedro Álvares Cabral à América. Como você sabe, em virtude de diversos fatores, essa versão sobre a história do Brasil é questionável e polêmica.

É possível identificar elementos parecidos com esses na versão oficial da história dos Estados Unidos. Veja só: a história desse país também “começa” com uma suposta viagem fundadora. Além disso, a formação dos Estados Unidos está vinculada a personagens considerados desbravadores: os chamados pais peregrinos.

Você já leu algum texto ou ouviu algo sobre eles? E sobre o Dia de Ação de Graças? Esses assuntos serão estudados neste capítulo. Antes de começar a conhecê-los, porém, analise as imagens desta página para responder às questões.

Fotografia. Selo de fundo verde, com as bordas brancas picotadas. À direita, ilustração de um grupo de pessoas: duas mulheres, dois homens e duas meninas (uma delas de colo e outra mais velha, carregando um bebê em seu colo). 
No centro do grupo, os dois homens usam chapéus altos e pretos com uma fita com uma fivela no centro, vestem blusas brancas,  casacos compridos, calças bufantes marrons e meias compridas e coloridas. Um deles usa sapatos pretos e segura um cajado apoiado no solo. O outro usa botas altas marrons e leva uma arma de cano alto apoiado em seu ombro. 
À esquerda, há uma mulher de lenço preto no cabelo, vestida com blusa preta e saia longa azul, com um cesto de palha na mão. Na outra ponta, à frente do grupo, há uma mulher com os cabelos cobertos por um lenço branco, usando um vestido longo vermelho e segurando uma menina no colo. À frente dela, há uma menina, também usando lenço branco sobre os cabelos, trajando um vestido longo vermelho. Ela usa um avental cor de rosa e segura um bebê de vestido vermelho e lenço branco sobre a cabeça.
O grupo caminha da esquerda para direita.
Ao fundo, há uma embarcação à vela. Com a proa voltada para a esquerda. 
A embarcação é feita de madeira, tem algumas velas brancas içadas  e as bandeiras da Inglaterra (branca com uma cruz vermelha no centro) e do Reino Unido (azul com um "x" branco e uma cruz vermelha no centro) hasteadas no alto dos mastros. 
Do lado direito, na cor amarela, a silhueta do perfil  de uma mulher, virada para a esquerda  e, logo acima, a data 1620. Na parte inferior direita do selo, o número 1, uma barra e o número 6. No canto superior esquerdo, a palavra "Mayflower".
Selo britânico, lançado em 1970. Na imagem, foram representados os chamados pais peregrinos e o navio Mayflower, no qual colonos britânicos viajaram à América.
Cena de filme. À direita, em primeiro plano, uma menina branca de cabelos pretos divididos ao meio usando duas tranças laterais, uma faixa de cor branca ao redor da cabeça enfeitada com uma pena vermelha, vestida com uma túnica comprida de cor laranja clara.  Ela está com os olhos cerrados e os lábios abertos, como se falasse algo, com uma expressão séria. 
Atrás dela, no centro e na direita da cena, há outras crianças brancas fantasiadas como pessoas indígenas, também com o cabelo preto arrumado em duas tranças laterais e faixas na cabeça (algumas sem penas, outras com uma pena vermelha e, à esquerda, um menino com um grande cocar de penas vermelhas e brancas). A maioria das crianças está com os rostos pintados. Duas delas, no canto direito usam óculos.
No canto esquerdo, há um menino branco com um chapéu de peregrino alto e na cor marrom, casaco comprido fechado por botões, com gola e punhos brancos, cinto marrom e, ao lado dele, uma menina branca e loira com os cabelos cobertos por uma touca branca, usando um vestido azul claro de mangas longas com gola e punhos brancos e um  avental branco preso à cintura. À direita dela, há outro menino  com vestes de peregrino, visto apenas parcialmente.
A atriz cristina rítchie interpreta a personagem Wandinha Addams no filme estadunidense A família Addams 2, de 1993. Nesse filme, a personagem lidera uma rebelião indígena contra os pais peregrinos no Dia de Ação de Graças.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Que características dos colonos britânicos são destacadas no selo?
  2. De que fórma esse selo pode servir como exemplo da versão oficial e tradicionalmente atribuída à origem dos Estados Unidos?
  3. Levando em consideração o que você estudou sobre os processos de colonização da América, formule uma hipótese para justificar a atitude da personagem Wandinha no filme A família Addams 2.

Primeiros exploradores na América do Norte

No fim do século dez, navegadores nórdicos que partiram do território correspondente ao da Groenlândia atual fundaram uma pequena colônia no local correspondente ao das atuais províncias de Terra Nova e Labrador, no Canadá.

Pode-se afirmar, portanto, que quase cinco séculos antes de Cristóvão Colombo realizar sua viagem em 1492, os vikings estiveram na costa leste do território que hoje se chama América do Norte. No entanto, por motivos desconhecidos, essa colonização nórdica não prosperou.

Na Idade Moderna, a Inglaterra foi o primeiro país da Europa a demonstrar interesse pela porção norte do continente americano. Navegando a serviço do rei Henrique sétimo, o italiano Giovanni Caboto chegou à ilha da Terra Nova (ou Newfoundland, em inglês), em 1497.

Em busca de uma passagem para o Oriente, entre 1513 e 1539, navegadores a serviço da Espanha atingiram o litoral do território correspondente ao do atual estado da Flórida e às terras que hoje fazem parte do estado estadunidense do Kansas.

Em 1524, o navegador florentino Giovanni da Verrazano, a serviço da Coroa francesa, avistou os territórios que hoje compõem o estado da Carolina do Norte e parte do de Nova iórque, nos Estados Unidos.

Entre 1534 e 1536, o navegador francês jáque cartiê percorreu grande parte do território da América do Norte banhado pelo Rio São Lourenço.

Fotografia. Em região plana coberta de grama verde, no centro da imagem, há uma construção feita de pedras de cor marrom escura, com o teto coberto de turfa com vegetação verde e bege no telhado e nas laterais. Há quatro chaminés brancas no alto do telhado e duas entradas retangulares, cobertas por pequenos telhados triangulares com telhas na cor marrom. 
Há algumas toras de madeira clara encostadas nas laterais da construção e um caminho de pedras de cor cinza, circular, ao redor dela. Ao fundo, à esquerda e à direita, uma cerca feita de madeira. No alto, o céu azul claro com poucas nuvens.
Habitação reconstruída em sítio arqueológico onde havia vestígios da presença viking, em L’Anse aux Meadows, Canadá. Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Em 1963, escavações arqueológicas realizadas pelo casal norueguês rêlgue instá e âne istíne instá comprovaram a presença de grupos vikings na região norte do território correspondente ao do atual Canadá. Os estudiosos encontraram pelo menos oito edifícios, entre os quais residências, estaleiros e armazéns, construídos no século dez.

Os primeiros núcleos de colonização

A Inglaterra, a Espanha e a França justificaram a posse de territórios da atual América do Norte com base na presença de exploradores que partiram desses países europeus. No século dezessete, franceses e holandeses fundaram colônias de pesca na região da Terra Nova.

Os pescadores e comerciantes dessas comunidades mantiveram uma relação comercial com os indígenas locais. Os europeus forneciam roupas e utensílios de metal, como panelas e facas, aos indígenas, que, em troca, entregavam peles de animais, como a de castores.

A colônia de quebéc, fundada em 1608, e a de Montreal, criada em 1642, tiveram sucesso com essas trocas. As duas eram controladas por franceses. Também prosperaram com esse tipo de comércio a colônia sueca Fort Christina, fundada em uma região próxima ao Rio Delaware em 1638, e as fortificações holandesas de Fort Orange e Nova Amsterdã, ambas estabelecidas em 1642, nas margens do Rio Hudson.

Mas durante muito tempo, na costa leste da América do Norte, banhada pelo Oceano Atlântico, houve apenas pequenas colônias que funcionavam mais como entrepostos comerciais do que como núcleos de colonização.

Fotografia em preto e branco. Em uma pequena loja com um balcão de madeira à esquerda, há uma família de pessoas indígenas (composta por um homem, uma mulher e uma criança) em pé, diante do balcão, à direita. 
Eles têm cabelos pretos e lisos e usam espessos casacos de pelo de animal, com toucas grandes, abaixadas, apoiadas em suas costas. Estão observando uma pele de animal branca, acima do balcão, segurada por homem atrás do balcão, que está exibindo-a. 
Esse homem também veste um casaco espesso de pelo de animal e observa a pele no centro da imagem, acima do balcão. 
Atrás dele há prateleiras com outros tipos de objetos: chaleiras, tigelas e cilindros metálicos. Atrás da família, há uma janela de esquadrias de madeira branca e, no canto direito, uma porta aberta, com esquadrias de madeira escura.
Família indígena comercializando pele de raposa em entreposto na Baía de Hudson, no Canadá. Foto de 1945.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O comércio de peles de animais é uma prática antiga. Na Idade Moderna, essa atividade era praticada principalmente em lugares frios, como a Sibéria, o norte da Europa e o norte da América. As peles mais comercializadas naquele período eram as de mamíferos, como veados, visons, raposas, castores e lontras. Desde o século vinte, esse comércio diminuiu muito por causa do desenvolvimento de tecidos sintéticos, criados para substituir a pele de animais. Contudo, em países como Canadá e Rússia, ainda há cooperativas e companhias autorizadas a caçar e comercializar peles. Essas empresas são constantemente fiscalizadas por órgãos do governo para que a atividade que realizam não afete a vida selvagem. No Canadá, a maioria das cooperativas autorizadas a realizar esse comércio é gerida por indígenas.

A fundação da Virgínia

Ao longo da Idade Moderna, Inglaterra e Espanha eram rivais no comércio marítimo, mas a política espanhola era considerada um modelo para a ocupação do território americano. Assim, para fundar colônias na América e defender-se de ataques de países rivais, a rainha Elizabeth primeiro seguiu o exemplo da Espanha e autorizou viagens ao continente americano.

Em 1583, o explorador inglês Uálter Rálei financiou a ida de colonos ingleses ao território que ele nomeou como Virgínia, em homenagem a Elizabeth primeiro, conhecida como a Rainha Virgem.

No entanto, a tentativa de ocupação da região da Virgínia fracassou quando os integrantes de uma expedição envolveram-se em intensos combates contra os indígenas da região. Anos depois, em 1587, ruálei recrutou cêrca de 120 colonos para outra tentativa de colonização. Chefiados por djpon uáit, os integrantes da expedição fundaram a colônia de Roanoke, na Virgínia.

Enquanto os habitantes de Roanoke tentavam estabelecer parcerias com os indígenas da região, djpon uáit voltou para a Inglaterra com o objetivo de obter suprimentos e mais colonos. Quando ele retornou, três anos depois, não havia mais ninguém na região. É possível que os colonos tenham abandonado a colônia e se integrado a grupos indígenas locais.

Por causa do fracasso de ruálei na Virgínia, outras tentativas de colonização parecidas com a dele foram impedidas. A rainha preferiu incentivar a pirataria, que rendia bons lucros e enfraquecia o poder espanhol. Somente em 1606, a Coroa inglesa retomou as tentativas de estabelecer colônias na América, tendo mais uma vez a experiência espanhola como referência.

Fotografia. Mapa histórico. Mapa representando partes do continente americano, africano e europeu. Nos oceanos, pontilhados, há desenhos de embarcações à vela, um peixe gigante de corpo azul e barbatanas vermelhas (no Oceano Pacífico, no canto esquerdo inferior do mapa), e uma rosa dos ventos. Os territórios estão representados com um fundo branco e estão contornados em diferentes cores, como verde, vermelho e amarelo. Na América do Sul, a região que hoje corresponde à Colômbia e à Venezuela está demarcada como "Índia Ocidental". Na África, há destaque para Guiné e, no território africano, há algumas bandeiras desenhadas, assim como nos territórios que hoje correspondem ao Brasil e o México. Em destaque, há uma rota representada por uma linha cinza, partindo da Inglaterra, atravessando o Atlântico Norte até o território que hoje corresponde aos Estados Unidos, com uma parada no atual estado da Flórida. Em seguida, a rota desce para o Caribe, contornando Cuba, atingindo a região que hoje corresponde ao Caribe colombiano e, fazendo paradas nas Antilhas, volta para a Europa pelo Atlântico, até as Ilhas Canárias, e de lá para a Espanha e, por fim, para a Inglaterra.
Mapa do século dezesseis, com a rota de sãr fréncis Drêic à América entre 1585 e 1586.
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Imagens em contexto!

Frencis Dreic foi um personagem importante no século dezesseis. Ele era corsárioglossário e capitão da marinha inglesa, sendo nomeado Sirglossário pela rainha Elizabeth um pouco antes de suas viagens ao continente americano. Por causa do sucesso dos ataques de corsários ingleses aos navios espanhóis, a colonização da América tornou-se um objetivo cada vez mais possível e desejado pela Coroa inglesa.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Identifique no mapa os locais percorridos por Frencis Dreic e, com base no que você aprendeu em capítulos anteriores, elabore uma hipótese para explicar a escolha desses locais pelo corsário inglês.

A fundação de Jamestown: conflitos internos e resistência indígena

Em 1607, 144 homens fundaram a colônia de Jamestown, no território correspondente ao do atual estado estadunidense da Virgínia. Para isso, eles receberam uma carta de autorização escrita pelo rei James primeiro.

A maioria dos colonos de Jamestown estava mal-equipada. O grupo era composto de nobres e artesãos, que não estavam preparados para enfrentar os desafios que a colonização exigia. Em razão de disputas pelo contrôle da vila, doenças e desnutrição, em janeiro de 1608 restavam apenas 38 dos colonos originais.

Um dos membros de Jamestown, o capitão Djón Ismíf, conseguiu manter a colônia por algum tempo impondo aos sobreviventes uma disciplina rígida. Contudo, entre 1609 e 1610, a comunidade foi cercada por um grupo de povos indígenas algonquinos conhecido como Confederação pouatân. Esse grupo, que era liderado pelo cacique pouatân, não queria que os ingleses permanecessem nas terras indígenas.

Sem água e alimentos, desesperados, os colonos recorreram até a prática do canibalismo para sobreviver. No entanto, conseguiram fazer um acordo com a Confederação pouatân e continuar em Jamestown. Por esse acordo, os indígenas forneceriam alimentos aos europeus e receberiam deles facas e armas.

Em 1614, o acordo foi formalizado com o casamento de Pôcarrontas, filha de pouatân, com o colono djón roulf. Dois anos depois, em viagem à Inglaterra, Pôcarrontas e uma comitiva de indígenas tornaram-se atração na côrte. Convertida ao cristianismo e batizada com o nome de Rebecca, ela faleceu quando se preparava para voltar à América, em 1617.

Pintura. Sobre um fundo marrom escuro, retrato em uma moldura oval marrom clara, representando uma mulher branca de olhos e cabelos castanhos, os cabelos presos e com duas madeixas soltas ao lado do rosto, brincos dourados nas orelhas, usando roupas tidas como masculinas: um chapéu alto e preto com uma fita dourada, uma grande gola de renda branca, alta, quadrada na frente e redonda atrás, uma blusa verde de botões dourados e punhos de renda branca e um casaco vermelho com bordados dourados de mangas curtas por cima da blusa. Ela segura uma caneta de pena dourada (com uma pena tripla e branca) em uma das mãos. Ao redor da moldura há texto ilegível na reprodução e um fundo marrom e, na parte inferior do retrato, o texto em latim, 'Aetatis suae' e a data: '1616'.
Pôcarrontas, pintura inglesa, 1616.
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Imagens em contexto!

Pôcarrontas converteu-se ao cristianismo. Isso explica em parte a pintura dela feita na Europa: note como a feição da indígena foi embranquecida nessa representação do século dezessete.

Dica

FILME

O Novo Mundo

Direção: Térence Mélic. Estados Unidos, 2005. Duração 157 minutos

Esse filme narra a trajetória da indígena Pôcarrontas desde o encontro com os europeus, passando por seu casamento com o comerciante inglês djón roulf, até a ida dela para a Europa. Depois de ver o filme, se possível, assista à animação Pôcarrontas (direção: Eric gôldbérg e máike gueibriél, Estados Unidos, 1995, 91 minutos). Assim, você poderá perceber que a mesma personagem pode dar origem a narrativas muito diferentes.

A colonização da América e os problemas sociais ingleses

O governo inglês incentivou a colonização da América para enviar ao local indivíduos e grupos indesejáveis. No século dezessete, havia nas cidades inglesas uma grande agitação social por causa das más condições de vida e das violentas disputas religiosas entre anglicanos e puritanos, que você estudou no capítulo 3.

Entre os séculos dezessete e dezoito, essa situação foi agravada pelo processo de intensificação dos chamados cercamentos, que obrigou muitos camponeses a sair de suas terras e se dirigir às cidades, aumentando os problemas sociais lá existentes.

Depois de um século de tentativas e erros, os ingleses modificaram sua maneira de colonização. Diferentemente do que a Espanha e Portugal haviam feito até então, a Inglaterra passou a mandar homens e mulheres para fundar colônias baseadas na instalação de pequenas propriedades agrícolas.

Apenas no século dezessete, cêrca de 200 mil colonos chegaram à América seguindo esse novo modelo.

Pintura. Vista noturna de um beco de uma cidade. No alto, a Lua cheia entre nuvens espessas. Nas laterais, construções de três andares com letreiros pendurados em barras de metal horizontais. No centro, em primeiro plano, um grupo de mulheres, algumas idosas com cabelos longos cacheados e brancos, e crianças.  Há carroças, barris, rodas e outros materiais de madeiras empilhados, formando uma fogueira, no centro do beco. Uma das senhoras está com um lampião aceso nas mãos. Do lado direito, na janela de uma das construções, há um homem sendo barbeado. Ele está sentado, com pano branco no peito e espuma branca na região da barba. À frente dele, em pé, há um homem com uma navalha na mão. Ao fundo, a silhueta de um homem a cavalo indo em sentido contrário.
As horas do dia: noite, pintura de uíliãm rôgárt, 1736.
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Nessa obra, o pintor inglês uíliãm rôgárt representou uma cena da Londres do século dezoito: pessoas desabrigadas queimando entulhos nas ruas para se aquecer no frio. Naquele período, as cidades eram marcadas pela desorganização, falta de higiene nas ruas e mau cheiro, entre outros problemas. Tudo isso era agravado pela má alimentação da população, que não tinha recursos para garantir a subsistência, o que causava conflitos sociais. Diante dessa situação, o governo incentivou a emigração como fórma de reduzir os problemas sociais das grandes cidades.

Os puritanos e a fundação de massachússetis

Em 1620, puritanos ingleses perseguidos na Europa chegaram à América a bordo do navio Mayflower. Durante a viagem, eles estabeleceram um trato de autogoverno, no qual se comprometeram a seguir leis justas e imparciais na América. Esses colonos fundaram a colônia de Nova Plymouth, em Massachusetts, ao norte da Virgínia. Por causa disso, foi atribuído a eles o nome pilgrim fathers (“pais peregrinos”).

Apesar da promessa de uma terra farta e repleta de possibilidades, quase a metade do grupo morreu ainda no primeiro ano da colônia por causa do inverno rigoroso. Segundo a tradição, os sobreviventes aprenderam com os indígenas locais técnicas de plantio, e conseguiram uma colheita farta no ano de 1621. Esse evento é celebrado até hoje na última quinta-feira do mês de novembro, no feriado estadunidense de Thanksgiving (“Ação de Graças”).

Além dos puritanos, foram para as colônias aventureiros, órfãos, mulheres pobres, crianças raptadas, comerciantes, nobres e degredados. Alguns historiadores, no entanto, costumam identificar os puritanos como os únicos colonos que deram origem aos Estados Unidos, apagando a presença de outros grupos e construindo uma memória idealizada do passado.

Pintura. Homens reunidos em um porão de um navio ao redor de uma mesa. O teto, o chão e os móveis são feitos de madeira de cor marrom. à esquerda, uma coluna cilíndrica, parte do mastro do navio. No centro da imagem, há dois homens, um deles, à esquerda, é loiro e tem cabelos curtos, veste camisa branca, calça larga com listras verticais azuis e pretas e touca de pano com listras horizontais brancas e azuis. Com uma caneta de pena branca, ele escreve em um grande papel em cima de uma mesa de madeira, enquanto os outros observam. 
À direita dele, em pé, há um homem de cabelos cacheados, castanhos e longos, barba castanha, vestido com um casaco marrom com gola branca, blusa branca e calças verdes. Ele observa o papel sobre a mesa.
À direita e à esquerda, estão dois homens sentados. Um à esquerda usa capacete metálico e armadura e está com o cotovelo sobre uma mesa de apoio com uma jarra sobre ela; outro, à esquerda, é um homem de cabelos e barbas brancas, que usa um chapéu preto alto, casaco comprido preta, rufo (gola branca redonda plissada) e calças pretas. Em pé, à esquerda, há três homens, dois deles de chapéu, um com casaco de botões, outro de colete marrom e outro com uma capa azul.  No canto direito, há uma mulher em pé, encostada no mastro do navio, usando vestido longo preto com gola e punhos brancos, avental branco na cintura, touca branca na cabeça e tricotando, com duas agulhas longas, e um tecido azul.
No canto inferior direito, há uma caixa de metal vazada, com brasas dentro, emitindo uma pequena coluna de fumaça branca.
Assinando o Pacto Mayflower 1620, pintura de jean leôn gerrome ferrís, 1899.
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Imagens em contexto!

O pacto estabelecido a bordo do Mayflower é sempre lembrado por políticos e intelectuais estadunidenses como o marco fundador da ideia de liberdade nos Estados Unidos. No século dezenove, momento de consolidação política e territorial da nação, essa narrativa foi utilizada para legitimar a suposta superioridade dos estadunidenses em relação aos demais povos do continente.

Os puritanos e a educação

Os colonos incentivaram muitos projetos para fornecer educação formal à população, pois os puritanos defendiam a interpretação e a leitura da Bíblia por todos os fiéis. Esses projetos eram religiosos, mas não necessariamente dirigidos por integrantes do clero.

Um desses projetos era o da fundação da universidade Harvard, em Massachusetts, que ocorreu em 1636. A função dessa instituição era formar pessoas para assumir a direção religiosa. Em pouco tempo, os brancos da América foram alfabetizados, e os índices de analfabetismo entre eles tornaram-se os menores do mundo. Negros e indígenas, considerados inferiores ou infiéis, não recebiam educação formal.

Charge. Diante de uma casa feita de toras de madeira dispostas na horizontal e com telhado de palha, há uma mesa de madeira retangular. 
à frente da mesa, vistos de costas, um casal de indígenas entrega uma abóbora a um casal de pessoas brancas com vestes pretas. Sobre a mesa há um pão de forma e um recipiente com salada. 
Eles estão ao ar livre. Há uma fogueira no centro e, à frente, em primeiro plano, escondidos atrás de duas árvores, observando a cena, há dois perus, um deles, à direita, com olhar animado. Outro, à esquerda, com um olhar medroso. 
Abaixo, a frase: “Vamos, Sid, eles nos convidaram para a primeira Ação de Graças. O que poderia dar errado?”.
Birdbrains, charge de tôm blumel, 2016.
Fotografia. Em uma rua com construções altas no lado esquerdo, um grupo de homens desfilando sobre um tapete verde, usando uniformes e quepes militares azuis. Eles tocam instrumentos musicais de fanfarra, como bumbos e cornetas,  durante desfile em uma avenida. 
À esquerda, na marquise de um estabelecimento, há um peru gigante e inflável enfeitando a entrada da loja.
Desfile anual em celebração ao Dia de Ação de Graças na cidade de Nova iórque, Estados Unidos. Foto de 2020.
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Imagens em contexto!

O Dia de Ação de Graças é o principal feriado estadunidense. Ele é celebrado em várias cidades com desfiles, como o da foto, e com reuniões familiares para uma refeição especial com cardápio que geralmente contém peru, purê de batata e de abóbora e torta doce de abóbora. De acordo com a tradição, essas iguarias foram oferecidas pelos pais peregrinos aos indígenas como fórma de agradecer-lhes a ajuda em um período de privação. Apesar de a celebração desse feriado remeter aos indígenas, eles não foram beneficiados pela chegada dos europeus. A maioria deles foi exterminada durante o processo de colonização. A charge demonstra que o “convite” dos pais peregrinos prejudicou não apenas o peru síd e seu companheiro, mas também os indígenas que entregam uma abóbora ao puritano.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Por que os primeiros colonos ingleses vieram para a América?
  2. O que era a Confederação Powhatan? Relacione-a à colônia de Jamestown.
  3. Explique a relação entre os problemas sociais ingleses e o incentivo do governo à colonização da América.

Versões em diálogo

A invenção de um passado mítico para explicar a origem de povos e civilizações é comum a muitas sociedades do passado e do presente. Nos Estados Unidos, os pais peregrinos serviram como modelos de personagens com os quais os cidadãos deveriam se identificar. As imagens e os textos sobre a chegada desse grupo de puritanos ingleses à América do século dezessete contêm quase sempre ideias associadas às noções de sacrifício, fé e coragem.

A seguir, foram reproduzidos dois documentos. O primeiro é um relato escrito por Uílham Brédford, entre 1630 e 1648, sobre a viagem do grupo de colonos que migrou para a América do Norte a bordo do navio Mayflower. Vale lembrar que Bradford foi um dos integrantes dessa expedição. O segundo documento é uma pintura do artista britânico charles luci, produzida no século dezenove, séculos depois dos eventos narrados no primeiro texto.

Documento 1

reticências depois de passar longo tempo no mar, toparam com a terra chamada Cabo Cod; a qual, tendo sido encontrada e reconhecida com certeza, os encheu de contentamento. Depois de terem deliberadoglossário um pouco entre si e com o capitão do navio, viraram de bordo e resolveram rumar para o sul (sendo o vento e o tempo favoráveis) a fim de encontrar algum lugar à beira do Rio Hudson para a sua habitação. Mas depois de terem singradoglossário nesse rumo durante metade do dia, viram-se no meio de perigosas e atroadoras ondas de rebentação, e estavam ali tão embaraçadosglossário que se supunham em grande perigo; e como o vento, por outro lado, deixasse de soprar sobre eles, resolveram rumar de novo para o Cabo e julgaram-se felizes por safar-se desses perigos antes que a noite os alcançasse, o que, querendo a providência de Deus, conseguiram. E no dia seguinte entraram no fundeadouroglossário do Cabo, onde ficaram em segurança reticências. Tendo assim chegado a bom porto e desembarcado seguros em terra, caíram de joelhos e deram graças a Deus do céu, que os trouxera por sobre o vasto e furioso oceano, e os livrara de todos os perigos e misérias dele, para que pudessem novamente pôr os pés em terra firme e estável reticências.”

ápud: SYRETT, H. C. Documentos históricos dos Estados Unidos. São Paulo: Cultrix, 1993. página 14-15.

Documento 2

Gravura. Subindo um penhasco pedregoso, diante do mar azul, um grupo de homens, mulheres e crianças brancos. 
No centro, à frente do grupo, em uma parte do terreno plana, há dois homens, um à esquerda, com blusa amarela, colete preto e calças marrons. Ele está ajoelhado, com as costas curvadas e a cabeça inclinada, em sinal de devoção. Segura seu chapéu em uma das mãos e tem cabelos lisos, castanhos e divididos ao meio. Usa um bigode marrom espesso e tem os olhos baixos, fitando o chão. 
À direita, em pé, há um homem com longos cabelos castanhos e lisos e barba longa castanha. Ele usa um casaco preto com gola e punhos brancos, calças bufantes na cor preta, meias pretas longas pretas até os joelhos e sapatos pretos com fivelas. Assim como o homem ao lado dele, ele também carrega o chapéu em uma das mãos. Tem a outra mão ao longo do corpo, com a palma estendida para frente e olha para esquerda, com uma expressão reflexiva.
Atrás dele, há um homem de bigode com cabelos e vestes parecidas, porém, na cor marrom. Apoiada sobre o ombro dele, há uma mulher muito cansada, com a cabeça abaixada e as mãos entrelaçadas no ombro do homem de traje marrom A mulher usa uma touca vermelha e uma blusa de mangas longas azuis com punhos brancos.
À esquerda dela, há uma mulher com vestido cor de vinho e lenço escuro sobre os cabelos. Ela segura um bebê no colo, enrolado em um pano verde. Atrás dela, visto parcialmente, um homem de barba comprida apoiado em um cajado.
À direita, em plano mais baixo, subindo o penhasco, há uma mulher segurando um menino no colo e, com a outra mão, ela segura a mão uma menina de vestido longo azul. Ambas usam lenços na cabeça e, à direita delas, há um cachorrinho preto. 
Atrás delas, visto parcialmente, um homem de casaco marrom e chapéu alto preto, carregando uma picareta em seus ombros.
No canto esquerdo, ao fundo, há um homem indígena com os cabelos compridos, lisos e castanhos voando ao vento, vestido com uma túnica bege com um sol desenhado em tons de azul e vermelho e uma aljava bege cheia de flechas presa às costas. Sobre a cabeça, ele usa um adorno com três penas brancas com as pontas pretas. Ele é visto de costas, com o rosto voltado para a direita, na direção do grupo de pessoas brancas, com o olhar desconfiado. Ele está próximo a uma árvore sem folhas, ao fundo.
Atrás do grupo, o mar em tons de azul escuro e, no canto direito, vista parcial de uma embarcação feita de madeira.
O desembarque dos peregrinos em Plymouth, Massachusetts, 22 de dezembro de 1620, gravura de cãrier end áives, cêrca de 1876.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A cena da chegada de europeus colonizadores à América do Norte é reproduzida por muitos artistas desde o século dezessete. Os pais peregrinos, o navio Mayflower e o Dia de Ação de Graças são identificados como as bases sobre as quais os Estados Unidos se edificaram. Note o modo como o artista britânico representou o grupo de europeus e o indígena, solitário e distante, no lado esquerdo da cena.

Responda no caderno.

  1. Como é narrada a viagem dos pais peregrinos no primeiro documento? Cite exemplos do texto para justificar sua resposta.
  2. A pintura produzida por charles luci se aproxima ou se distancia desse relato? Por quê?
  3. Como esses documentos ajudam a construir uma narrativa mítica da origem dos Estados Unidos?

O cultivo de tabaco e a fundação de Maryland

Como você estudou em capítulos anteriores, o cultivo do tabaco foi muito importante no processo de colonização da América. Em 1620, cêrca de 25 quilos de tabaco produzidos na Virgínia foram exportados para a Europa. Dez anos depois, foram aproximadamente 680 quilos.

Ao longo da década de 1610, em que os lucros dos produtores aumentavam cada vez mais, muitas levas de colonos chegavam à colônia com o objetivo de ganhar dinheiro rápido e instalavam-se em fazendas isoladas. Para o cultivo do tabaco eram necessárias muitas terras, pois o solo perdia rapidamente os nutrientes e tinha de repousar por longos períodos para recuperar a capacidade produtiva. Em busca de novas terras, os colonos entravam constantemente em conflito com os grupos indígenas, como os que formavam a Confederação pouatân, que se rendeu em 1646.

Encorajados pelo rentável cultivo do tabaco e pelo desejo de um local seguro para fugir da perseguição no país de origem, ingleses católicos fundaram a colônia de Maryland, na Baía de Chesapeake, em 1632.

O modelo de assentamento de Maryland era parecido com o da Virgínia e das demais colônias do sul das possessões inglesas na América: áreas de fazendas de tabaco espalhadas pelas margens de rios, com cais próprios, isoladas umas das outras. Pelos rios chegavam produtos manufaturados vindos do outro lado do oceano, que eram descarregados diretamente no local em que seriam consumidos. Por esses rios também eram transportadas as folhas secas de tabaco que seguiam para a Europa. Por isso, não havia na região grandes centros urbanos comerciais nem estradas.

Fotografia. Vista aérea de uma região com vegetação baixa em tons amarelados e esverdeados, entrecortada por um rio de águas azuis que refletem a cor do céu. Alguns pequenos lagos se formam nas várzeas. Ao fundo, o mar.
Vista aérea da região do Rio Nanticoke, na Baía Chesapeake, em Maryland, Estados Unidos. Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A conexão de rios navegáveis com o oceano nessa região foi fundamental para a colonização dessa parte da América do Norte. O trabalho nos campos nessa região punha lado a lado os donos das terras, seus servos e escravizados: todos limpavam a terra, plantavam e colhiam.

Servidão temporária e escravidão nas colônias inglesas

Uma das fórmas mais comum de trabalho nas colônias inglesas era a servidão temporária. De modo geral, trabalhadores da Inglaterra eram contratados para ficar sob o domínio de senhores por um período de quatro a sete anos. Em troca, tinham os custos da passagem para a América financiados e, ao término do período de servidão, a promessa de que receberiam terras, liberdade e ferramentas.

No século dezessete, foram poucos os africanos traficados para as colônias do sul. A princípio, a maioria dos escravizados era nascida fóra da África, em regiões como o Caribe. No primeiro período da colonização, a cor da pele era apenas um indicativo de posição social entre tantos. Em uma sociedade formada por cristãos, por exemplo, ser judeu ou muçulmano podia ser, a princípio, mais problemático do que ser negro.

Ao que tudo indica, quando chegaram os primeiros africanos escravizados, sua inclusão nas comunidades locais era possível. Antônio, o Negro, por exemplo, viajou de Angola a Chesapeake em um navio holandês como escravizado. Ele obteve alforria, casou-se, adotou o nome éntoni djônson, teve quatro filhos e foi dono de 250 acres de terra.

Fotografia. Imagem subaquática. No centro, da imagem, uma escultura representando homens e mulheres de mãos dadas formando um círculo. Elas estão viradas pro lado de fora do círculo. Vestem camisetas e calças compridas. As mulheres têm os cabelos presos e com uma faixa sobre a testa. Diante de cada estátua, (há dezenas delas), há uma pequena placa de metal. 
A escultura está submersa em águas em tons de azul cristalino. Abaixo, areia fina e branca no leito marinho. Ao fundo, no alto, um mergulhador nadando para a direita.
Vicissitudes, escultura de Diêisan dequéris Têilor, de 2007. A peça está no fundo do Mar do Caribe, e faz parte do Museu de Arte Subaquático em Cancún, no México.
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Imagens em contexto!

A escultura da imagem foi produzida para relembrar as vítimas do tráfico transatlântico de escravizados. As principais localidades do Caribe onde se comercializavam escravizados em direção à América do Norte eram os territórios correspondentes aos das atuais Jamaica e Cuba. Inicialmente, o trabalho de escravizados na região do Caribe não envolveu apenas africanos, mas também indígenas. A partir do século dezoito, no entanto, a maioria das pessoas que foram escravizadas era africana ou de origem africana.

A plantation

Nas colônias do sul, os fazendeiros começaram a adotar um sistema de produção agrícola chamado plantation. Nesse sistema, eram utilizadas grandes propriedades em que se cultivava apenas um produto para ser exportado e a mão de obra era escravizada.

Com o avanço da utilização da plantation, o número de africanos escravizados aumentou demais. Assim, a sociedade com escravizados transformou-se em uma sociedade escravista.

Os escravizados eram levados à América do Norte diretamente da África. Seus proprietários davam-lhes novos nomes, separavam suas famílias de origem e tomavam seus bens. Para garantir a escravidão como condição pereneglossário , foram criadas leis nas colônias inglesas da América.

Assim, o lucrativo comércio de seres humanos aumentou de maneira espantosa. Em 1680, dois mil negros escravizados foram levados para a Virgínia. Em 1700, foram cêrca de dez mil. Era o início da diáspora africana que você estudou anteriormente.

Na época da independência das colônias inglesas da América do Norte, em 1776, cêrca de meio milhão de escravizados viviam no local, sendo 90% deles de origem africana. Apenas 5% das pessoas negras eram libertas.

A formação das Treze Colônias

Ao longo do século dezessete, o aumento do número de colonos, somado ao deslocamento forçado de africanos escravizados, deu origem às Treze Colônias inglesas na América.

Essa área era dividida em três grandes blocos: o das colônias do norte, o das do centro e o das do sul. Elas foram agrupadas de acordo com as afinidades econômicas, culturais e sociais.

As Treze Colônias inglesas

Mapa. As Treze Colônias inglesas. 
Mapa representando a costa leste da América do Norte, desde a região ao sul do Golfo de São Lourenço (no norte) até a Península da Flórida (no sul). Alguns territórios estão demarcados em cores distintas.
Legenda:
Roxo: Colônias do norte (Nova Inglaterra).
Rosa: Colônias do centro.
Laranja: Colônias do sul.
No mapa: 
As Colônias do norte (Nova Inglaterra) englobam: Massachussetts, Rhode Island, Nova Hampshire e Connecticut. 
As Colônias do centro são: Nova York, Pensilvânia, Nova Jersey e Delaware.
As Colônias do sul correspondem a: Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia.  
À oeste da Virgínia, os Montes Apalaches e os territórios franceses.  Ao sul, na Península da Flórida, os territórios espanhóis. 
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 220 quilômetros.

FONTE: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 62.

Nas colônias do norte, chamadas de Nova Inglaterra, o clima era temperado. Por causa desse tipo climático, os colonos puderam desenvolver policulturasglossário voltadas para o mercado interno, com mão de obra geralmente livre, assalariada ou temporariamente servil.

Além da pesca, outra atividade importante era o comércio triangular, em que os colonos compravam cana-de-açúcar e melado das Antilhas para fabricar rum e, com a bebida, adquirir escravizados na África. Eventualmente, o comércio triangular podia envolver a Europa, para onde era transportado o açúcar das Antilhas. Os navios voltavam ao ponto de origem com os porões repletos de manufaturas vendidas com o pescado.

Nas colônias centrais, a maioria das lavouras era pequena, como as da Nova Inglaterra, ligadas principalmente à produção de cereais. Assim como nas colônias do norte, nas do centro foram instaladas manufaturas e havia poucos escravizados africanos.

Nas colônias do sul, como você estudou, desenvolveu-se o modelo de plantation. No início de sua formação, nas colônias do sul predominou o cultivo do tabaco e do anil e, posteriormente, o do algodão.

O comércio triangular

Mapa.  O comércio triangular.  Mapa representando parte da América do Norte, com foco na costa leste; parte das Antilhas, com foco em Cuba, Porto Rico e Jamaica; o norte da América do Sul, a costa oeste da África e parte da Europa. No centro do mapa, o Oceano Atlântico. Legenda: Seta vermelha: Treze Colônias para a África. Seta verde: África para a América Central. Seta azul: América central para as Treze Colônias e vice-versa. Círculo preto: Principais portos. Laranja: Área de colonização inglesa (Treze Colônias). No mapa: A área de colonização inglesa (Treze Colônias) localiza-se na costa leste da América do Norte. Nessa área estão localizados os principais portos de: Boston, Nova York, Newport, Filadélfia, Norfolk e Charleston. A rota comercial das Treze Colônias para a África parte da altura do porto de Newport, atravessando o Atlântico Atlântico no rumo sudeste até a região do Golfo da Guiné no oeste da África. Nessa rota, há o texto 'rum, armas e tecidos'. A rota da África para a América Central parte da região do Golfo da Guiné, no oeste da África, atravessando o Oceano Atlântico no rumo oeste até as Antilhas, dividindo-se em dois trajetos, um para Porto Rico, outro para a Jamaica. Nessa rota, há o texto: 'escravizados e ouro'. A rota comercial da América Central para as Treze Colônias e vice-versa parte da região das Antilhas, entre Cuba e Jamaica, atravessando o Mar das Antilhas no rumo norte até a costa leste da América do Norte.  A rota se divide em dois caminhos no Mar das Antilhas: um indica 'escravizados' e liga a região das Antilhas até o porto de Charleston. Outro indica, 'moedas e açúcar, melaço e cana', e liga as Antilhas ao porto de Nova York. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 1180 quilômetros.

FONTE: NARO, N. P. S. A formação dos Estados Unidos. São Paulo: Atual; Campinas: Editora da unicâmpi, 1987. página 15.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Como começou o emprego do trabalho de escravizados nas colônias inglesas? Em que contexto isso ocorreu?
  2. Compare o núcleo de colonização da Nova Inglaterra ao das colônias do sul.
  3. Que regiões faziam parte do comércio triangular? Descreva os produtos transportados para cada um desses lugares, explicando por que as colônias inglesas não seguiam a lógica do sistema colonial imposto em outros lugares da América.

Vamos pensar juntos?

No 7º ano, você dedicou boa parte de seus estudos em história para pensar nos diferentes processos de colonização da América. No decorrer desse trajeto, você pode ter pensado: se todos os territórios americanos, em algum momento, foram colônias europeias, por que os Estados Unidos são a maior economia do mundo na atualidade e o Brasil não? Em outras palavras, se todos os países americanos foram explorados ou dominados por potências estrangeiras, por que os latino-americanos não são tão bem-sucedidos economicamente quanto os Estados Unidos?

No Brasil, ao longo do século vinte, desenvolveu-se a seguinte explicação para essa pergunta: a riqueza deles e a nossa pobreza teriam origem em dois modelos históricos, o modelo da colonização de povoamento e o da colonização de exploração.

Seguindo essa lógica, as colônias de exploração seriam as áreas colonizadas por Portugal e Espanha. Com a instalação delas, só se pretenderia promover o enriquecimento das metrópoles. Para essas áreas, teriam vindo apenas aventureiros, degredados, pessoas corruptas e ambiciosas, com a finalidade de enriquecer o mais rapidamente possível e retornar ao país de origem.

As colônias de povoamento, por sua vez, seriam diferentes. Nas áreas de colonização britânica, a atitude dos colonos não seria predatória, pois as famílias, bem constituídas, teriam alto nível intelectual e sólida base religiosa. Esses colonos só se deslocariam para a América com o objetivo de morar definitivamente no local e desenvolvê-lo.

Enquanto para as colônias de exploração a metrópole enviava o que era considerado refugo social da Europa, para as de povoamento iam pessoas de alto valor, coragem e honradez. A explicação parece correta, não é mesmo? Para responder a essa questão, analise mais profundamente os modelos ibérico e britânico de colonização tratados no texto a seguir.

“Na verdade, só podemos falar em projeto colonial nas áreas portuguesa e espanhola. Só nelas houve preocupação constante e sistemática quanto às questões da América. A colonização da América do Norte inglesa reticências foi assistemática.

No século dezoito, quando a América espanhola já apresentava universidade, bispados, produções literárias e artísticas de várias gerações, a costa inglesa da América do Norte era um amontoado de pequenas aldeias atacadas por índios e rondadas pela fome.

A Península Ibérica enviava ao Novo Mundo homens de toda espécie. Dentre os primeiros franciscanos que foram ao México, por exemplo, estava Pedro de Gante, parente do próprio imperador da Espanha. No Brasil, a nova e entusiasmada ordem dos jesuítas veio com o primeiro governador-geral. Imaginar o Brasil povoado só por ladrões reticências é tão falso como supor que apenas intelectuais piedosos foram para as Treze Colônias.

Decorridos cem anos do início da colonização, caso comparássemos as duas Américas, constataríamos que a ibérica tornou-se muito mais urbana e possuía muito mais comércio, maior população e produções culturais e artísticas mais ‘desenvolvidas’ que a inglesa. reticências

O mundo ibérico dá a ideia de permanência. Construir e reformar ao longo de três séculos uma catedral como a da Cidade do México não é atitude típica de quem quer apenas enriquecer e voltar para a Europa. A solidez das cidades coloniais espanholas, seus traçados urbanos e suas pesadas construções não harmonizam com um projeto de exploração imediata.

No limite do cômico, aqueles que apelam para a explicação de colônias de povoamento e exploração parecem dizer que, caso um colono em Boston no século dezessete encontrasse um monte de ouro no quintal, diria: ‘não vou pegar este ouro porque sou um colono de povoamento, não de exploração; vim aqui para trabalhar não para ficar rico e voltar’. Quando os norte-americanos encontraram, enfim, ouro na Califórnia e no Alasca, o comportamento dos puritanos não ficou muito distante do dos católicos das Minas Gerais. reticências Não é, certamente, nessa explicação simplista de exploração e povoamento que encontraremos as respostas para as tão gritantes diferenças na América.”

karnál, L. e outros História dos Estados Unidos: das origens ao século vinte e um. São Paulo: Contexto, 2007. página 25-29.

Fotografia. No centro da imagem, uma grande catedral de pedra com duas torres altas e quadradas, localizada em uma praça com uma fileira de árvores de copas arredondadas e verdes. Na praça, muitas pessoas caminham e carros passam. A catedral cobre todo um quarteirão e sua fachada é revestida de pedras em tons de bege. As entradas se dão por portas e forma de arco, na cor vermelha. A base da catedral tem quatro andares, com pequenas janelas em forma de arco.  No topo das torres, com oito andares, há cúpulas de formas arredondadas, revestidas de metal de cor azulada. No topo da coluna à esquerda, há uma cruz.
Ao fundo o céu em tons de azul e laranja claro.
Catedral Metropolitana, na Cidade do México, México. Foto de 2019. Grandes construções como essa são a prova de que existia um projeto ibérico de ocupação de longo prazo das terras americanas.

Responda no caderno.

  1. Descreva as características básicas dos modelos de colônia de povoamento e de exploração.
  2. Apresente dois exemplos que indicam falhas no modelo explicativo apontado na questão anterior.
  3. Com base em seus estudos sobre a colonização da América, indique semelhanças e diferenças entre o modelo ibérico e o modelo inglês.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Na década de 1960, pesquisadores canadenses encontraram vestígios arqueológicos da presença de vikings na América do Norte de cinco séculos antes da viagem de Cristóvão Colombo. Identifique no caderno a alternativa correta a seguir sobre a presença dos vikings na América do Norte.
    1. Representa uma curiosidade que não altera a importância da viagem de Colombo e não deveria ser estudada pelos arqueólogos.
    2. Representa um fato relevante que pode alterar a história da colonização da América.
    3. Representa um fato histórico significativo, pois os vikings implantaram na América núcleos de povoamento duradouros.
    4. Representa um fato histórico relevante que exige mais pesquisas sobre esses possíveis núcleos de povoamento.
    5. Representa um fato histórico de muita relevância, pois diminui a importância da viagem de Colombo no fim do século quinze.
  2. Sobre os passageiros do navio Mayflower, identifique, no caderno, as informações verdadeiras e as falsas.
    1. Representam importante mito de origem dos Estados Unidos, constantemente encenado em escolas por meio do feriado do Dia de Ação de Graças.
    2. São tomados como os pais da nação estadunidense, pois representam as bases políticas e culturais dos Estados Unidos da América.
    3. Tiveram pouco destaque na colonização da América do Norte e foram esquecidos pela historiografia estadunidense, sendo relembrados apenas recentemente em razão do Dia de Ação de Graças.
    4. Representam uma parte da história inicial da colonização da América do Norte, associada ao radicalismo político e ao conservadorismo religioso que os levaram a massacrar os indígenas assim que aportaram na América.
    5. Representam a parte da história da colonização da América do Norte que foi transformada no mito de fundação da nação estadunidense. Por isso, ficaram conhecidos como pais peregrinos.

Aprofundando

3. O depoimento a seguir foi dado por tecâmsé, líder dos indígenas sháuní, que viviam principalmente nas áreas do vale do Rio Ohio entre os séculos dezoito e dezenove. Esse relato foi inserido como epígrafe do livro Enterrem meu coração na curva do rio, de di bróun. Leia o texto a seguir com atenção e depois faça o que se pede.

“CAPÍTULO UM

Suas maneiras são decentes e elogiáveis

Onde estão hoje os pícuóts? Onde estão os néregânséts, os moicanos, os pokânokets e muitas outras tribos outrora poderosas de nosso povo? Desapareceram diante da avareza e da opressão do Homem Branco, como a neve diante de um sol de verão. Vamos nos deixar destruir, por nossa vez, sem luta, renunciar a nossas casas, a nossa terra dada pelo Grande Espírito, aos túmulos de nossos mortos e a tudo que nos é caro e sagrado? Sei que vão gritar comigo: ‘Nunca! Nunca!´

tucumsé, dos shawnees.

Tudo começou com Cristóvão Colombo, que deu ao povo o nome de índios. Os europeus, os homens brancos, falavam com dialetos diferentes, e alguns pronunciavam a palavra índien’, ou índianer’, ou índian’. pou ruge, ou ‘redskins’ (peles-vermelhas), veio depois. reticências”.

bróun, D. Enterrem meu coração na curva do rio. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2003. página 15.

  1. Nesse depoimento, qual é o objetivo de tecâmsé?
  2. Faça uma pesquisa sobre quem foi di bróun, o autor do livro em que foi publicado o depoimento do líder indígena. Anote os resultados da pesquisa e as fontes utilizadas.
  3. Faça outra pesquisa na internet, em livros e revistas, etcétera a respeito da obra Enterrem meu coração na curva do rio, da qual foi tirado o texto citado. Anote os resultados da pesquisa e as fontes utilizadas.
  4. Com base nas pesquisas que você fez, responda às questões:
    • Essa obra está disponível em língua portuguesa?
    • Que editora publicou a versão mais atual da obra traduzida?
    • Você considera uma organização, como uma editora, uma fonte confiável para se obter informações a respeito de um livro? Por quê?
    • Qual é o título do primeiro capítulo desse livro?
    • Por que se pode afirmar que o depoimento de Tecumseh é uma epígrafe?
    • Em seguida, responda: essa epígrafe seria uma boa síntese para a biografia do líder sháuní? Por quê?

4. Analise a charge a seguir e faça o que se pede.

Charge. Três personagens sentados à mesa. Uma mesa redonda, coberta por uma toalha branca. Ao fundo uma parede laranja. À esquerda, sentado sobre uma cadeira de madeira, um homem branco e loiro usando um traje de peregrino preto, com gola quadrada branca e um chapéu preto, alto, com uma fivela no centro. À mesa, à frente dele, um copo azul, um prato com alimentos e um pequeno prato com um pãozinho. Esse homem está com os lábios abertos e tem um balão de fala com o texto: 'Esse negócio de jantar de Ação de Graças é ótimo! Vamos fazer isso de novo no ano que vem!'. No centro, à mesa, um homem indígena de cabelos longos, lisos e pretos, com torso nu e um colar com três dentes de animais. À frente dele, sobre a mesa, um copo azul, um prato com alimentos: ervilhas, purê e um rolinho marrom. Esse homem tem os lábios abertos e o dedo indicador sobre o queixo, com uma postura e um olhar indagativos. O homem indígena tem um balão de fala com o texto: 'Fantástico! Vamos fazer na minha casa – Oh, espere, certo, você roubou minha casa.' A palavra 'roubou' está destacada em bold. À direita, o personagem Cuco, com feições humanas e antenas de barata, vestido com uma camisa amarela. À frente dele, um prato de comida e um copo azul. Cuco segura um garfo com alimento espetado e está com os olhos arregalados e um olhar assustado.
La cucaracha, charge de lalo alcaráz, 2011.
  1. Identifique o grupo social de que fazem parte os personagens da charge.
  2. A que evento da história estadunidense a charge faz referência?
  3. A relação entre os chamados pais peregrinos e os indígenas foi benéfica para ambos os grupos? Explique.

Glossário

Corsário
: comandante de navio autorizado pelo Estado a atacar ou pilhar navios de outras nações.
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Sir
: título de nobreza britânico.
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Deliberar
: discutir, analisar.
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Singrar
: navegar.
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Embaraçado
: preso, bloqueado.
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Fundeadouro
: ancoradouro.
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Perene
: constante e sem interrupção.
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Policultura
: cultivo de diversas plantas em uma mesma área.
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