CAPÍTULO 2 Renascimento cultural e Humanismo

Entre os séculos quinze e dezesseis, navegantes europeus atravessaram o Oceano Atlântico e chegaram a terras de outros continentes, onde entraram em contato com diferentes espaços naturais e culturas.

No mesmo período, o comércio se expandiu, as cidades cresceram rapidamente e os horizontes se ampliaram, modificando a visão de mundo de várias sociedades. Muitas pessoas queriam compreender o universo e também buscavam explicações para o funcionamento do corpo humano.

Essas e outras transformações na fórma de os seres humanos se relacionarem consigo mesmos, com o conhecimento, com a sociedade e com Deus ocorreram no período da história chamado Idade Moderna.

Desenho. Imagem em sépia do corpo de um homem nu dentro e no centro de um quadrado e de um círculo. Os braços e as pernas foram desenhados duas vezes em diferentes ângulos, primeiro com os pés juntos e os braços esticados na horizontal, e depois com as pernas abertas e os braços esticados ligeiramente levantados. Os traços utilizados no desenho ressaltam os músculos dos braços, pernas e tronco.
Homem vitruviano, desenho de Leonardo da vinti, 1492.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Qual é o tema do desenho de Leonardo da vinti?
  2. Em que ele é diferente dos temas medievais?
  3. Na visão de mundo da modernidade, o homem se tornou o centro das atenções. Qual é a relação entre o desenho Homem vitruviano e essa afirmação?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

No capítulo, as imagens, mais do que representações que ilustram o conteúdo, são utilizadas como fontes de investigação. Considerando o desenho de da vinti, é possível introduzir questionamentos sobre a representação naturalista na arte que se traduz em um ideal de beleza sustentado na simetria das fórmas. Nesse sentido, a página inicial do capítulo favorece a mobilização das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 2 e nº 7 e da Competência Específica de História nº 1. Além disso, ao possibilitar a fruição de obras de arte renascentistas, o capítulo contribui para o desenvolvimento da Competência Geral da Educação Básica nº 3.

Abertura

Com base no desenho Homem vitruviano, de Leonardo da vinti, são propostos questionamentos com o intuito de mobilizar os estudantes para os assuntos do capítulo: o Renascimento, o Humanismo e o conceito de moderno. Essas questões podem ser utilizadas para identificar os conhecimentos prévios dos estudantes e, com esse diagnóstico, dar encaminhamento à aula. No capítulo, o Renascimento é apresentado como a fase da história europeia marcada pela revalorização da cultura greco-romana e pela produção de saberes no campo da arte, da ciência e da filosofia.

Atividades

1. O tema do desenho de Leonardo da vinti é o corpo humano com proporções ideais.

2. A representação corresponde à anatomia do corpo humano, distanciando-se das representações esquemáticas e religiosas medievais.

3. A resposta requer conhecimentos prévios. De todo modo, espera-se que os estudantes correlacionem a centralidade do corpo desenhado no interior das figuras com a ideia de que o ser humano se tornou o centro das atenções.

O Renascimento

Embora algumas caraterísticas já pudessem ser vistas no século catorze, o processo de transformação ocorrido na Europa entre o século quinze e o fim do século dezesseis ficou conhecido como Renascimento, e foi marcado pela revalorização da cultura greco-romana e dos saberes no campo da arte, da ciência e da filosofia.

Nesse contexto, o termo renascimento começou a ser associado à ideia de renascer ou de recuperar o universo cultural greco-romano, após uma suposta morte dessa cultura na Idade Média. Por isso, dizia-se que a arte antiga estava renascendo.

Hoje, é evidente que na Idade Média foram criadas expressões culturais diferentes das greco-romanas embora dialogassem com elas: cidades italianas lucraram com atividades comerciais, universidades foram fundadas e o direito romano foi reinterpretado. Nos séculos quinze e dezesseis, porém, não se pensava assim.

Pintura. Interior de um salão com teto em formato de arco. Em primeiro plano, um arco decorado com frisos e pinturas na cor dourada. No salão, há dois patamares que estão conectados por quatro andares de degraus de mármore. O salão tem colunas decoradas com frisos e esculturas. A escultura à esquerda tem uma seta azul indicando que ela representa Apolo. A escultura à direita tem uma seta azul indicando que ela representa Atena. Espalhados pelo salão, tanto no patamar superior como no inferior, há pessoas reunidas. O grupo é formado majoritariamente homens. A maioria veste túnica, com diferentes cores (vermelho claro, azul claro, branco, laranja, verde claro, entre outras) e está descalça. 
O grupo está subdividido em grupos menores. Muitos homens estão em pé, apenas alguns estão sentados ou encostados nos pilares que sustentam as colunas. 
Há dois homens lado a lado, no centro da pintura. Um, à esquerda, tem o topo da cabeça calvo, cabelos longos brancos nas laterais da cabeça, longa barba comprida branca, aponta o dedo indicador para o alto, com uma mão, e com a outra, segura um grande livro, fechado, encostado junto à lateral de seu corpo. Uma seta azul indica seu nome: Platão. O outro, à direita, tem cabelos cacheados, castanhos, cheios, barba espessa e cheia da mesma cor. Tem uma das mãos à frente de seu corpo, com a palma voltada para baixo, e com a outra, segura um grande livro fechado, apoiado em sua coxa. Uma seta azul indica seu nome: Aristóteles.
Logo abaixo deles, há um homem de túnica azul sentado nos degraus, lendo uma folha de papel. 
No patamar inferior, à esquerda, há um grupo de doze pessoas, entre os quais duas crianças. Um dos homens está ajoelhado, escrevendo sobre um grande livro. Ele é calvo, tem barba marrom e veste túnica laranja e branca. Uma seta azul identifica seu nome: Pitágoras. Atrás dele, outro homem, com o corpo inclinado em sua direção, observa. Ele veste túnica verde e turbante branco. Uma seta azul identifica seu nome: Averróis. À direita de Pitágoras, uma mulher em pé, vista de perfil. Ela tem os cabelos claros e longos e veste uma túnica branca. Uma seta azul identifica seu nome: Hipátia. À direita deles, um homem sentado, apoiando um dos cotovelos sobre um bloco de mármore, tem o olhar voltado para baixo, pensativo.
No patamar superior à esquerda, há um grupo com cerca de dezesseis pessoas, a maior parte, homens vestindo túnicas coloridas. Entre eles, há uma figura usando armadura metálica e capacete militar dourado. Uma seta azul indica seu nome: Alexandre Magno. À direita dele, conversando no mesmo grupo, um homem calvo, com cabelo apenas nas laterais da cabeça e barba, vestindo túnica verde. Uma seta azul indica seu nome: Sócrates. Mais à esquerda desse grupo, uma figura com o peito nu, usando apenas um tecido de cor marrom ao redor do quadril e sobre seus ombros, carregando uma pilha de pergaminhos enrolados.
No patamar superior à direita, há cerca de dezoito pessoas, algumas olhando para os dois homens no centro, outras em postura pensativa. Há uma figura masculina vestindo túnica vermelha, curvada, apoiando-se sobre a base de uma coluna, com as pernas cruzadas e escrevendo sobre um caderno apoiado em seu joelho. 
No patamar inferior à direita, há um grupo de nove pessoas. Cinco delas, em torno de uma pequena lousa que está sobre o chão. Um homem calvo está curvado, traçando uma figura com um compasso na lousa sobre o chão. Outro, jovem, de túnica azul, está ajoelhado no chão observando. Mais à direita, um grupo de quatro homens em pé. Um deles, visto de costas, segura um globo terrestre; outro, visto de frente, segura uma esfera celeste. Outro, visto de perfil, veste túnica e chapéu brancos. Uma seta azul identifica seu nome: Rafael, o autor da pintura.
Ao fundo, em perspectiva, há três grupos de arcos. As estruturas são sustentadas por colunas e ocupam o centro da imagem. Ao fundo, os arcos revelam o céu azul com poucas nuvens.
Escola de Atenas, afresco de Rafael Sãnzio, 1510-1511. Reprodução com aplicação de legendas para fins didáticos.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Neste a afrescoglossário  que se encontra em uma das salas do Palácio do Vaticano, Rafael Sãnzio, um dos principais artistas do Renascimento, representou vários pensadores da Grécia antiga, como os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles e o matemático Pitágoras.

A matemática Hipátia, o médico Averróis e o imperador da Macedônia, Alexandre Magno, personagens que você conheceu no 6º ano, também foram representados.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

Apresentar os conceitos de antropocentrismo, individualismo e racionalismo que caracterizaram o pensamento humanista.

Demonstrar as principais características e algumas realizações ocorridas nas diferentes fases do renascentismo europeu.

Problematizar a situação das mulheres e o papel desempenhado pelas artistas nesse período.

Analisar a historicidade do termo renascimento e o uso que se faz dele.

Apresentar as principais características do início da Idade Moderna e o sentido do termo moderno.

Demonstrar a relação entre Renascimento, Humanismo e Renascimento científico.

Justificativa

A aquisição e o uso de conceitos históricos são centrais para o desenvolvimento da atitude historiadora. Os objetivos trabalhados neste capítulo apresentam pertinência na medida em que trabalham conceitos oriundos da cultura humanística e científica, criada na modernidade, que encontram ecos na contemporaneidade. Eles contribuem para perceber a historicidade das ideias que definem nosso mundo, desenvolver a habilidade de periodização e reconhecer a diversidade dos sujeitos históricos.

Nesse capítulo, são trabalhadas duas percepções de modernidade: a apresentada pela filósofa rãnaarent, na obra A condição humana (Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997), e a evidenciada pelo historiador rãns ulrrich gumbréchit, no livro Modernização dos sentidos (São Paulo: Editora 34, 1998).

De acordo com arent, a modernidade foi inaugurada por três acontecimentos distintos que se relacionaram de fórma umbilical: a chegada dos europeus à América, a Reforma Protestante e a invenção do telescópio. Segundo a filósofa, os três eventos permitiram questionar os limites do conhecimento produzido até então. rãns ulrrich gumbréchit, por sua vez, defende a ideia de que a modernidade foi iniciada pela invenção da imprensa e pela chegada dos europeus ao continente americano. Esses eventos teriam produzido uma nova subjetividade. Para gumbréchit, haveria quatro “cascatas de modernidade”, que se sobreporiam: a do Renascimento seria a primeira modernidade.

O Humanismo

O Humanismo foi um movimento cultural que começou na Península Itálica no fim da Idade Média e chegou ao auge no Renascimento. Para os humanistas, o homem era a mais perfeita criação de Deus, capaz de desenvolver conhecimento sobre tudo a seu redor.

O Humanismo apresentava três características principais: o individualismo, o antropocentrismo e o racionalismo. A escultura a seguir, de miquelângelo buonarôti, foi produzida com base nessas características.

O individualismo fundava-se na crença cada vez maior no indivíduo e em sua capacidade criativa, o que lhe permitia ser autor de suas obras. No detalhe da pietá, por exemplo, há a inscrição (em latim): “Miguel Angelo Buonarotus de Florença fez”.

O antropocentrismo (antrôpo = “homem”), por sua vez, era a ideia de que o homem, e não Deus, ocupava o centro do Universo. Opunha-se, portanto, ao teocentrismo (téo = “deus”) da Idade Média. É importante destacar o fato de que a menção ao homem na visão antropocêntrica designava apenas uma pessoa do gênero masculino. Essa ideia estava atrelada à percepção da época de que o homem era um ser racional e a mulher era um ser de natureza inferior.

O racionalismo era a valorização da razão para conhecer e compreender o mundo natural e cultural.

Escultura. Sobre um pedestal de mármore vermelho, uma escultura em mármore branco representando uma mulher sentada com um homem desfalecido em seu colo. A mulher veste uma longa túnica, com muitas camadas de tecido cobrindo suas pernas e pés, e usa um véu sobre a cabeça, cobrindo os cabelos. Ela está cabisbaixa, com o rosto levemente inclinado, uma das mãos apoiada nas costas do homem, segurando-o, a outra mão com a palma virada para o alto, na linha de sua cintura. Sobre suas pernas, está deitado, desfalecido, um homem de peito desnudo, usando uma faixa de tecido ao redor da cintura. Ele tem a cabeça caída para trás, um dos braços, solto, caído sobre os joelhos da mulher, o outro flexionado, apoiado sobre seu próprio corpo. Acima, à esquerda, uma fotografia da mesma escultura em tamanho menor é demarcada por um triângulo que tem como vértice principal a cabeça da mulher. Abaixo, à direita, outra fotografia mostra os detalhes da roupa da mulher representada na escultura.
pietá, escultura de mármore de miquelângelo buonarôti, 1499.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Ao esculpir a mãe de Jesus amparando o corpo do filho morto, Miquelângelo combinou três elementos valorizados pelos renascentistas: o ideal de beleza da Antiguidade, a temática cristã e o naturalismo. A escultura foi idealizada no formato triangular, pois os renascentistas buscavam especialmente na geometria as referências para representar a harmonia das fórmas.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a discussão da noção de modernidade no contexto europeu e abordar as características do Humanismo, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero um e ê éfe zero sete agá ih zero quatro e da Competência Específica de História nº 6.

Na Idade Média, a autoria não era importante, e o artista era reconhecido apenas como artesão. Por isso, a maioria das obras não continha sequer a assinatura do autor. Com o Humanismo, o ser humano começou a ser valorizado como ser inventivo e agente de modificação do mundo natural, e a arte passou a ser vista como um talento de gênio, ao passo que o artesanato foi considerado um trabalho mecânico. Sobre o assunto, leia o artigo: ALMEIDA, L. P. de. A função-autor: examinando o papel do nome do autor na trama discursiva. Fractal: Revista de Psicologia, volume 20, número 1, página 221-235, junho 2008.

Ampliando

No texto a seguir, o historiador jean dâlimô propõe um questionamento sobre a periodização da história.

“A nossa compreensão do período que vai de Filipe, o Belo, a Henrique quarto ficaria muito facilitada se fossem suprimidos dos livros de história dois termos solidários e solidariamente inexatos: ‘Idade Média’ e ‘Renascimento’. Com isso se abandonaria todo um conjunto de preconceitos. Ficar-se-ia, especialmente, livre da ideia de ter havido um córte brusco que veio separar uma época de luz de um período de trevas. reticências

dâlimô, J. A civilização do Renascimento. São Paulo: Estampa, 1994. volume 1, página 19.

Vamos pensar juntos?

O termo renascimento foi empregado pela primeira vez, no século dezesseis, pelo humanista italiano djôrdjo vasári para nomear um movimento artístico e cultural que estava ocorrendo nas cidades italianas. vazári percebeu que os integrantes desse movimento não seguiam as tradições da arte bizantina. Em vez disso, valorizavam a arquitetura, a escultura, a matemática e as obras filosóficas do mundo antigo.

O uso dessa palavra para definir a cultura europeia entre os séculos quinze e dezesseis só se popularizou no século dezenove, quando o historiador iácôb burcrrart retomou o conceito e o utilizou para designar o que ele considerava o momento da compreensão do homem sobre seu potencial no mundo.

Esse conceito, porém, desvalorizava o que foi produzido entre a Antiguidade e a Idade Moderna. Além disso, o Renascimento não foi uma cópia da arte e da filosofia da Antiguidade. Nos séculos quinze e dezesseis, outras técnicas foram criadas e colocadas em diálogo com as práticas artísticas medievais.

As culturas bizantina, islâmica, judaica, indiana e chinesa também foram muito importantes para as atividades eruditas no Ocidente medieval. O impacto da expansão marítima e do contato dos europeus com outros povos e com outras fórmas de vida também incentivou a criação de obras humanistas e renascentistas.

Alguns historiadores destacaram a presença de características do que se denomina cultura renascentista já no século treze. Em 1204, por exemplo, quando os cruzados saquearam Constantinopla, artistas bizantinos fugiram para a Península Itálica, influenciando a arte local e despertando o interesse de parte da população pela língua grega e pelas obras clássicas.

Com base nessas constatações, compreende-se que as práticas culturais do Renascimento não significaram uma ruptura com o período medieval. Em vez disso, houve permanências que aos poucos foram transformadas e ressignificadas.

Responda no caderno.

  1. Explique como o termo renascimento foi criado.
  2. Qual foi o papel de iácôb burcrrart na definição do conceito de renascimento?
  3. Por que o uso do termo renascimento para designar a cultura europeia entre os séculos quinze e dezesseis é problemático? Explique.
  4. Com base na informação de que historiadores identificaram características da cultura renascentista no século treze, o que se pode concluir sobre as relações entre a cultura medieval e o Renascimento?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao mencionar o caráter histórico do termo renascimento, notando que seu uso se afirma no século dezenove, questionam-se os preceitos da história que associam o período anterior (Idade Média) a uma época de morte da cultura letrada na Europa. Com isso, contribui-se para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 6. Ao tratar da migração da cultura clássica por intermédio de artistas e intelectuais bizantinos, o conteúdo da seção contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 5.

Vamos pensar juntos?

O significado do termo renascimento não é consensual entre os estudiosos da história moderna. Desde os anos 1960, com o início dos estudos pós-coloniais, tem-se discutido o foco dado à Europa dos séculos quinze a dezoito como berço da ciência. Em razão disso, o státus do Renascimento, da Idade Média e até da história global tem sido repensado. Em busca da construção de histórias não eurocêntricas, é proposta nessa seção uma análise da historicidade do termo renascimento (o tema foi desenvolvido no livro A cultura do Renascimento na Itália, de iácôb burcrrart, publicado em 1867). Se possível, retome imagens de construções famosas do período medieval, como a Catedral de nótre dâme de Paris, e pergunte aos estudantes de que período elas são. A ideia é desnaturalizar o princípio de que não houve uma arquitetura sofisticada no período medieval. O mesmo pode ser feito com iluminuras, vitrais e outros exemplos.

Atividades

1. O termo renascimento foi criado no século dezesseis, por djôrdjo vasári, para nomear um movimento artístico e cultural cujos participantes recusavam as tradições artísticas de Bizâncio e valorizavam a arquitetura, a escultura, a matemática e as obras filosóficas do mundo antigo.

2. O historiador iácôb burcrrart retomou o conceito criado no século dezesseis e o utilizou para designar um período que ele considerava compreender o desenvolvimento do potencial do homem sobre o mundo.

3. Porque desconsidera o papel das culturas bizantina, islâmica, judaica, indiana e chinesa no desenvolvimento das atividades eruditas no Ocidente medieval.

4. Pode-se concluir que o Renascimento não significou uma ruptura completa com o período anterior. Em vez disso, práticas culturais medievais foram transformadas e ressignificadas durante o Renascimento.

O Renascimento na Península Itálica

O movimento renascentista teve início na Península Itálica em razão do grande movimento de comerciantes do Ocidente e do Oriente no local. O trânsito de pessoas e de mercadorias, além da concentração de riquezas na região, contribuiu para a produção e o financiamento das manifestações artísticas.

Muitos dos pintores renascentistas eram patrocinados pelos chamados mecenas, que eram ricos comerciantes, famílias aristocratas e até mesmo representantes do clero. A contratação de um artista para produzir obras exclusivamente para uma família ou instituição era uma demonstração do poder econômico e político do mecenas. A família Médici, por exemplo, foi responsável pelo financiamento de grande parte dos artistas em Florença nos séculos quinze e dezesseis.

Pintura. Cena no céu, com diversas pessoas, algumas nuas, outras com panos cobrindo apenas o quadril, sobre nuvens ou flutuando. Elas formam um semicírculo e olham para o centro. Ao centro, mulher encurvada, com vestimentas compridas, em tons rosa e azul, e véu branco cobrindo a cabeça. Ela tem os braços cruzados sobre o peito e as penas dobradas. Ao seu lado, um homem em pé, com o torso nu e tecido preso aos ombros e sobre a cintura, levanta um dos braços. Há uma luz amarela atrás dos dois personagens do centro. Abaixo, um homem careca e sem barba segura uma escada. Do lado direito da imagem, um homem de barba branca segura uma grande chave e um pergaminho. Abaixo deste, um homem careca com barba longa branca segura um objeto pequeno em uma mão e algo semelhante a um grande pedaço de pele na outra.
O juízo final, detalhe da pintura de miquelângelo buonarôti, na parede do altar da Capela Sistina na Cidade do Vaticano, produzida entre 1536-1541.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na imagem, foi reproduzida apenas a parte central do afresco O juízo final, que tem mais de 12 metros de altura. No centro, Jesus Cristo foi representado sem barba, com o braço levantado, dirigindo o julgamento. Ao lado dele está Maria, sua mãe. Em torno deles foram representados os santos e os eleitos da Igreja. Entre eles, São Pedro, no lado direito segurando as chaves do Paraíso, e São Bartolomeu, logo abaixo, que aparece segurando a própria pele.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao caracterizar o fenômeno do Renascimento na Península Itálica, mobiliza-se a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro.

Dialogando com visões tradicionais de história, apresenta-se a Península Itálica como o berço do Renascimento por causa da importância do comércio mediterrâneo e da prática do mecenato. Além disso, foi o local em que ocorreu o encontro de tradições culturais do Ocidente e do Oriente.

Um grande desafio desse capítulo está na compreensão de que, ao mesmo tempo que o Renascimento dialogava com a Idade Média, havia em seu contexto, principalmente na proposta do Humanismo, uma leitura de mundo que fundava a modernidade ocidental. O objetivo consciente e deliberado dos humanistas era superar a cultura medieval tomando por referência a Antiguidade clássica.

O Humanismo, como movimento intelectual, foi responsável pela realização de uma revolução no conhecimento e na arte. Ao utilizar a filologia, a história e a perspectiva – era a primeira vez que isso acontecia –, os humanistas davam-se conta de que um texto e um objeto tinham uma história – um passado que os separava do presente do sujeito – e, por isso, deviam ser vistos e estudados em seu contexto. De certa fórma, pelas opções, ao longo da história, de construção de uma narrativa sobre o Ocidente, os indivíduos contemporâneos são devedores desse método e dessa concepção de tempo histórico. Tudo isso começou em Florença, na passagem do século catorze ao quinze, e, dessa cidade e do centro-norte da Itália, difundiu-se, na passagem do século quinze ao dezesseis, para o restante da Europa.

Interdisciplinaridade

Por envolver as relações entre arte e poder político e social (mecenato) e a análise de imagens, o conteúdo mobiliza as habilidades do componente curricular arte ê éfe seis nove á érre zero um – “Pesquisar, apreciar e analisar fórmas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético” – e ê éfe seis nove á érre zero quatro – “Analisar os elementos constitutivos das artes visuais (ponto, linha, fórma, direção, cor, tom, escala, dimensão, espaço, movimento etcétera) na apreciação de diferentes produções artísticas”.

Os anos 1300

Durante a Idade Média, o latim foi usado como principal idioma em textos científicos, religiosos e literários. No século catorze, porém, o florentino Dante aliguéri rompeu essa tradição ao escrever o poema épico A Divina Comédia em um dialeto italiano (o toscano). Na história, que apresenta temas e personagens bíblicos, o personagem principal, acompanhado do poeta romano Virgílio, atravessa o inferno, passa pelo purgatório e chega ao céu à procura de sua amada Beatriz. No poema, são propostas reflexões sobre a vida e a morte, o certo e o errado.

No campo das artes visuais, o pintor florentino djôto di Bondone ficou conhecido por reinterpretar e transformar a arte bizantina. djôto desenvolveu estudos matemáticos para representar, nas pinturas, o espaço de maneira mais parecida com a real; por isso, ele é considerado um dos principais precursores do Renascimento.

Ao pintar a Capella degli Scrovegni, na cidade italiana de Pádua, djôto representou, com volume e cores, a cena bíblica da retirada do corpo de Jesus da cruz, reproduzida a seguir.

Pintura. Na parte inferior, em primeiro plano, grupo de pessoas com túnicas compridas e mantos observa, no canto esquerdo, uma mulher sentada segurando um homem desfalecido em seus braços. Várias mulheres estão próximas e observam a cena, algumas sentadas e outras em pé. Uma delas, à direita, segura os pés do homem desfalecido. Na parte direita da imagem, um pouco mais afastados, dois homens de barba estão em pé, também observando a cena. Acima, ao fundo, anjos voam no céu, representado em tons de azul.
Lamentação, pintura de Dióto di Bondône, cêrca de 1305.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na obra Lamentação, verifica-se a expressão de sofrimento de Maria, segurando a cabeça do filho, e de Maria Madalena, que segura os pés de Jesus. No céu, os anjos representados parecem sentir dor e consternaçãoglossário . Diferentemente das figuras bizantinas, os personagens de djôto têm expressão mais humana, com traços semelhantes aos reais.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da temporalidade do Renascimento e de seus personagens, questionando aspectos da compreensão do tempo histórico e dos sujeitos da história, o conteúdo auxilia no desenvolvimento da Competência Específica de História nº 6. O questionamento da cronologia também possibilita pensar a noção de modernidade relacionada à habilidade ê éfe zero sete agá ih zero um.

A cronologia ou a demarcação dos anos 1300, 1400 e 1500 indica o Renascimento como fenômeno de longa duração que caracterizou a primeira modernidade.

Acompanhando a caracterização do Renascimento como fenômeno histórico e fato historiográfico, essa página remete ao século catorze, que normalmente é identificado como parte da Idade Média. Comentar isso com os estudantes pode ajudá-los a identificar e compreender aspectos importantes do tempo histórico, como a simultaneidade e a diferença entre os processos históricos.

Podem-se retomar conteúdos estudados no 6º ano. Por exemplo: ao mesmo tempo que a Inquisição, o espírito cruzadista e a fragmentação política própria do feudalismo atuavam em parte da Europa, as cidades italianas eram lugar de artistas como dante aliguiéri e djôto di Bondone. Pode-se, também, desmistificar a ideia de que a mudança histórica ocorre de maneira abrupta. Certamente ela é impulsionada por um acontecimento ou processo que ocorre em intervalo curto de tempo, mas o Renascimento tem uma história mais longa.

djôto é um artista tradicionalmente categorizado como gótico e, por isso, foi mencionado no conteúdo do 6º ano. No entanto, ao trabalhar o volume e a proporcionalidade das fórmas, ele entrou em um contexto histórico transicional: abriu espaço para artistas renascentistas, como os escultores Nicóla e djiováni pisano.

Curadoria

O Renascimento italiano: cultura e sociedade na Itália (Livro)

Píter Burc. São Paulo: Nova Alexandria, 1999.

Nesse livro, o historiador Píter Burc problematiza a questão do período renascentista e aborda o tema por meio de um diálogo com outras áreas do conhecimento, discutindo, entre outras questões, as instituições sociais e políticas existentes na Península Itálica nos séculos quinze e dezesseis, bem como a origem social dos artistas, a formação de aprendizes e os meios de subsistência desses artífices.

Os anos 1400

O quattrocento, como é chamado o movimento artístico do Renascimento italiano, foi marcado pelo mecenatoglossário da família Médici, atuando na cidade de Florença.

No campo da escultura, destacou-se o artista florentino donatélo, que retomou a nudez em obras de arte. Durante a Idade Média, na maioria das esculturas e pinturas, os personagens eram representados vestidos, pois um corpo nu podia ser associado, do ponto de vista cristão daquela época, ao pecado. No Renascimento, porém, os temas religiosos podiam ser associados à nudez, pois o corpo humano era considerado belo e sua exposição já não era relacionada ao mal.

Sandro Botitcheli foi um importante pintor renascentista. Patrocinado por lorendzo de Médici, conhecido como O Magnífico, ele produziu algumas das mais expressivas obras do período, como O nascimento de Vênus ou A Primavera. Em suas pinturas, o artista recuperou temas pagãos e da mitologia greco-romana e também explorou a nudez distante dos temas bíblicos em que isso era possível (como em Adão e Eva). A anatomia dos seres retratados revela bastante conhecimento do corpo humano e seus movimentos, mas, ainda assim, Botitcheli parece dar a suas pinturas uma sensação de leveza, quase como se não tocassem o chão ou flutuassem logo acima dele.

Pintura. Em uma praia, sob um céu azul e um mar de águas claras e calmas, destaque no centro da pintura, para uma mulher em pé sobre uma concha de tonalidade clara sobre as águas azuis. Ao redor dela, há três figuras de feições humanas, duas à esquerda e uma à direita.
A mulher no centro tem cabelos ruivos e muito longos, e o corpo desnudo. Ela é vista de frente e está em pé sobre uma concha gigantesca, com um dos braços flexionados com a mão recostada sobre o peito e o outro braço ao longo do corpo, com a mão na frente da pelve segurando as pontas de seus longos cabelos, com os quais cobre a frente de seu corpo. 
À esquerda, flutuando sobre as águas, vistos de lado, dois seres de formas humanas, um de formas masculinas, à esquerda, outro, à direita, de formas femininas. A figura de formas masculinas tem cabelo longo, cacheado e escuro, asas escuras nas costas, o quadril coberto por faixas de tecido azul claro; a figura de formas femininas tem cabelos ruivos, longos e esvoaçantes, está abraçada ao ser com asas e usa uma túnica de tom verde, amarrada na altura de seu ombro com um nó. Ambos tem o peito desnudo e de suas bocas saem sopros de ar. Ao redor deles, há rosas brancas voando em diferentes direções. 
À direita, em pé, sobre uma área gramada na praia, há uma mulher, vista de lado, com o corpo voltado para a esquerda.  Ela tem os cabelos ruivos, longos e ondulados, presos por uma trança; usa um vestido de mangas longas branco com estampa de flores pequenas e segura com as duas mãos um grande tecido rosa estampado com flores, voltado em direção à outra mulher, no centro. 
Em segundo plano, contornando às águas pelo lado direito, uma faixa de terra com árvores de troncos finos e altos.
O nascimento de Vênus, de Sandro Botitcheli, cêrca de1485.
Respostas e comentários

Botitcheli foi inovador, sendo o primeiro artista de seu tempo a representar nudez que não fosse a de Eva. Além disso, esteve entre os primeiros artistas a incluir temas mitológicos remetendo à cultura dita pagã. Com relação à cultura material, esteve entre os primeiros pintores da Toscana a utilizar tela como suporte. Até então, as obras eram costumeiramente produzidas sobre madeira ou diretamente em paredes.

Ampliando

O texto a seguir apresenta características das cidades italianas durante o Renascimento.

“Que elementos representam essa presença do mundo antigo na Itália? Antes de mais nada, a persistência material e mental da tchívitas romana. Mesmo durante os séculos de profunda desorganização das velhas estruturas do Império Romano, a Itália permanece sendo um arquipélago de cidades, uma civilização cuja referência principal não é o feudo, mas a cidade, a vida urbana. reticências

De pedra, a cidade italiana é também uma construção cenográfica, uma scaenôgrafia, em suma, a fórma simbólica das fórmas simbólicas. Pelas perspectivas de suas ruas principais avançam a entrada triunfal, o cortejo festivo, o nupcial, o religioso e o funerário – todas ocasiões para comemorar uma tradição cujo prestígio provém de suas alusões à Antiguidade. Em suas praças, encenam-se os jogos, os julgamentos, os suplícios e as execuções, além dos embates retóricos e armados entre as corporações e os aristocratas – outras tantas ocasiões de mimese do Antigo.”

MARQUES, L. Para entender o Renascimento. História Viva. O tempo do Renascimento, volume um. 1260 a 1400. Roma como ideal. São Paulo, Duetto Editorial, 2009. página 12-13.

A arquitetura renascentista

As principais obras de arquitetura renascentista foram produzidas entre os séculos catorze e dezesseis. Nelas, eram valorizadas a proporção, a simetria e a regularidade, ou seja, os arquitetos procuravam criar construções em que os ângulos visuais de todas as partes eram proporcionais.

O escultor e engenheiro florentino Filippo Brunelêsqui é reconhecido como um dos principais arquitetos do quattrocento. Ele realizou o estudo da perspectiva, no qual usou o conhecimento matemático para criar fórmas harmônicas.

Após estudar as ruínas de Roma, Brunelêsqui retomou os ideais greco-romanos e os aplicou em construções da cidade de Florença. Um de seus mais importantes projetos foi o da cúpulaglossário da catedral Santa Maria del Fiore. Outro foi o da Capela pádzi, considerada uma das obras-primas da arquitetura renascentista.

É interessante observar que Brunelêsqui lia as obras de Dante aliguéri, estudava matemática e geometria e apreciava as obras de pintores como djôto di Bondone. Isso indica que havia circulação de valores, conhecimentos e diálogo entre os renascentistas.

Fotografia. Jardim interno de uma área com algumas construções. Ao fundo, destaque para um prédio retangular com janelas, colunas e uma pequena torre circular em cima e, à esquerda, construção com corredor e colunas, uma construção mais elevada e uma alta torre pontiaguda. Na parte direita da imagem, há árvores altas totalmente recobertas por folhagens verdes e parte de outra estrutura em arco.
Capela pádzi, no claustro da Basílica da Santa Cruz, em Florença, Itália. Foto de 2020. Essa construção foi projetada por Filippo Brunelêsqui.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Andréa pádzi, membro de uma rica família de banqueiros, ordenou o início da construção da Capela pádzi em cêrca de 1429, mas as obras só começaram por volta de 1441, sendo completadas na década de 1460. O artista projetou o edifício para ocupar porções simétricas: cada lado da capela é composto de 3 colunas que apresentam os mesmos tamanhos, a mesma distância entre si e uma massa idêntica ao peso que sustentam; ou seja, o edifício apresenta proporção, harmonia e correspondência entre as partes da composição.

Respostas e comentários

BNCC

Por envolver a comparação do fenômeno urbano no Renascimento com o que ocorria no mundo medieval, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 2.

Interessado na linguagem artística que se formava, Brunelêsqui foi a Roma para observar e medir as ruínas antigas. Com essa atitude pioneira, mas condizente com o espírito da época, ele constatou que a arquitetura clássica, diferentemente da gótica, seguia um sistema de proporções fixas das medidas de cada elemento que a compunha. A descoberta da perspectiva por Brunelêsqui e a valorização da geometria como elemento estruturante do espaço arquitetônico proporcionaram aos projetos uma dimensão até então desconhecida.

O projeto da obra passou a constituir uma etapa fundamental do processo criativo. Se, por um lado, esse procedimento possibilitava ao arquiteto ensaiar soluções para os melhores resultados, por outro, o pensamento neoplatônico na cultura renascentista privilegiava o momento prévio da criação – a ideia da obra antes da sua materialização. Foram importantes o enquadramento da arte em conceitos e metodologias próprias, tornando-a uma realidade demonstrável como qualquer outra ciência, e a concepção do artista como criador.

Os preceitos de ordem e simetria e o emprego da linguagem matemática, reforçados nesse período, significavam uma tentativa de aproximação e de representação da natureza. A cultura renascentista seria decisiva para o chamado pensamento científico do século dezessete.

A atenção dada à cultura urbana revela que o Renascimento foi um fenômeno associado à política, à economia e à sociabilidade que desenvolviam nas cidades naquele momento. Assim, retome com os estudantes o que aprenderam sobre as cidades durante o medievo.

Cruzando fronteiras

No Renascimento, o diálogo entre os conhecimentos científicos era valorizado. Para construir uma obra de arte simétrica, os artistas recorriam à matemática. Para misturar as cores das tintas, buscavam na química as fórmulas que julgavam perfeitas. A botânica estava na escolha consciente, pelos artistas, dos elementos naturais que representariam. A poesia aliava-se à história, e assim por diante.

Analise a obra renascentista Santíssima Trindade, pintada por Ma­saccio em uma das paredes da Igreja de Santa Maria novelia, situada em Florença, na Itália. Esse foi um dos primeiros murais produzidos com base nas regras matemáticas elaboradas pelo arquiteto italiano Filipo Brunelesqui.

No centro da imagem Santíssima Trindade, destaca-se a representação de Cristo crucificado. Sobre a cabeça dele, o Espírito Santo é representado em fórma de pomba. Acima deles, está Deus Pai, formando a Santíssima Trindade da fé cristã.

Na pintura, mazátchio usou uma técnica denominada perspectiva para criar a impressão de profundidade e de volume. A obra apresenta, assim, a impressão de realidade tridimensional.

Pintura. Ao centro, em uma construção feita com arcos e colunas representadas em branco e rosa, um homem de barba e cabelos longos, torso nu, usando apenas um tecido branco para cobrir o quadril e as coxas, está preso com os braços abertos e as pernas unidas em uma cruz marrom. Atrás dele, um homem de barba com uma túnica azul e rosa está em pé sobre uma estrutura e com os braços estendidos para frente. Ao pé da cruz, do lado esquerdo, uma mulher com manto e véu roxos e a mão direita estendida em direção ao homem preso à cruz. Do lado direito, um homem jovem sem barba, vestindo um manto rosa. No degrau em frente às colunas, do lado de fora da sala, há duas mulheres com manto e véu compridos ajoelhadas, uma em cada canto. Na parte inferior da pintura, há um esqueleto completo deitado sobre um túmulo. Acima do esqueleto, inscrições em latim.
Santíssima Trindade, pintura de mazátchio, cêrca de 1424-1425.
Respostas e comentários

Cruzando fronteiras

Nessa seção, abordam-se diálogos entre a arte e a matemática no contexto renascentista. Temas como simetria, harmonia e fórmas geométricas são explorados como constituidores de um ideal de beleza do Renascimento. Pode-se perguntar aos estudantes qual é a influência desses fatores nos ideais de beleza contemporâneos.

Interdisciplinaridade

O conteúdo da seção “Cruzando fronteiras” mobiliza a habilidade ê éfe seis nove á érre zero quatro do componente curricular arte – “Analisar os elementos constitutivos das artes visuais (ponto, linha, fórma, direção, cor, tom, escala, dimensão, espaço, movimento etcétera) na apreciação de diferentes produções artísticas”. Além disso, contribui para o desenvolvimento da habilidade do componente curricular matemática ê éfe zero sete ême ah dois um – “Reconhecer e construir figuras obtidas por simetrias de translação, rotação e reflexão, usando instrumentos de desenho ou softwares de geometria dinâmica e vincular esse estudo a representações planas de obras de arte, elementos arquitetônicos, entre outros”.

Analise novamente o desenho de Leonardo da vinti, chamado Homem vitruviano, na página 30. Por meio da ciência e da arte, Da vinti desenhou o corpo do homem de acordo com as proporções geométricas.

De posse dessas informações, faça as atividades a seguir.

Ilustração. Três reproduções da pintura anterior com representações de proporções geométricas. A primeira ilustração apresenta apenas os contornos da pintura em preto e branco com três quadrados vermelhos desenhados na parte central, entre as colunas, de alto a baixo: um que vai logo abaixo do frontispício da construção até a cintura do homem na cruz; outro que vai da cintura do homem na cruz até o piso da sala da cruz, e outro que vai do piso da sala da cruz até o final do quadro, abaixo do túmulo. Além disso, há dois círculos vermelhos desenhados, um no alto, no arco da construção, até a cintura do homem na cruz (esse círculo tem uma linha divisória no meio), e outro na parte inferior, do túmulo, com o esqueleto no centro. Dentro deste último círculo foi desenhada a silhueta de uma mulher em pé com os braços estendidos na horizontal. A segunda ilustração foi aplicada sobre a pintura original de Masaccio, anteriormente descrita. Apresenta alguns retângulos amarelos na horizontal e na vertical demarcando o frontispício, as colunas, os degraus da escada, o túmulo, a região onde está o esqueleto, a mesa atrás da cruz e o início das colunas. A terceira ilustração, também aplicada sobre a pintura de Masaccio, apresenta um triângulo amarelo que tem como vértices a cabeça do homem atrás da cruz e os pés das duas mulheres ajoelhadas, uma em cada canto do degrau. Há também uma linha determinando a altura do triângulo, que parte da cabeça do homem que está atrás da cruz e desce perpendicularmente até o meio do degrau em que estão as mulheres ajoelhadas.
Ilustração atual e representações geométricas sobre a pintura de mazátchio com finalidades didáticas.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nessa obra, o artista utilizou o conceito de proporção áurea, uma fórmula matemática usada na Antiguidade para a construção, por exemplo, do pártenôn, em Atenas, Grécia. A proporção áurea garante o equilíbrio das fórmas dos elementos representados.

Responda no caderno.

  1. Descreva as figuras geométricas usadas por mazátchio na pintura Santíssima Trindade, explicando como elas garantem a simetria da obra.
  2. Em Homem vitruviano:
    1. indique o local do desenho em que a simetria está mais evidente;
    2. encontre três fórmas geométricas que Da vinti usou para obter a simetria.
  3. Com base nas duas obras, o que é possível concluir sobre a relação dos artistas renascentistas com a matemática?
Respostas e comentários

Atividades

1. O quadro apresenta um ponto central de observação: Jesus e Deus Pai. Partindo desse ponto focal, o artista distribuiu simetricamente outras fórmas que compõem a cena: a Virgem Maria de um lado, o apóstolo João de outro e, mais abaixo, dois outros personagens, um de cada lado. Como síntese, pode-se dizer que a distribuição equivalente dos elementos do quadro (personagens, colunas, arcos etcétera) em torno das figuras de Jesus e de Deus Pai garante a simetria da obra. As figuras geométricas usadas pelo artista são, grosso modo: um retângulo maior, que contém a cena, e um triângulo equilátero, cujo traçado começa na cabeça de Deus Pai, desce em diagonal até o canto inferior direito, segue em linha reta até o canto inferior esquerdo e sobe em diagonal, fechando a figura. Quando se traça uma linha vertical da ponta do triângulo até o centro da base, dividindo essa figura ao meio, obtêm-se dois triângulos escalenos.

2. a) A mais evidente é a simetria bilateral, própria do corpo humano (e de outras espécies animais). A divisão imaginária do corpo em duas metades fórma dois planos perfeitamente simétricos, o que equivale a dizer que uma metade é igual à outra.

b) Entre outras figuras, há um quadrado, um círculo dentro do quadrado e um triângulo formado pela abertura das pernas do personagem.

3. No contexto do Renascimento, os artistas recorriam ao uso de princípios da geometria para produzir representações realistas do espaço e dos elementos que compunham seus quadros.

Ampliando

Leia o texto a seguir, sobre a importância de Brunelêsqui para a aplicação da perspectiva na arte.

Brunelêsqui foi provavelmente o primeiro artista a demonstrar os princípios da perspectiva linear reticências. A perspectiva linear é uma técnica na qual o artista pode criar a impressão de profundidade tridimensional numa superfície plana. Como ciência, a perspectiva está relacionada à ótica (o estudo da visão e do olho humano), mas como sistema pictórico ela só foi completamente desenvolvida no comêço do século quinze, em meio à atmosfera intelectual e artística única da Renascença florentina. Pela primeira vez na história da pintura havia um sistema matemático para calcular como dimensionar proporcionalmente o tamanho dos personagens e elementos em relação à distância.

Brunelêsqui também foi um importante inovador em outras áreas e um dos primeiros mestres da Renascença a redescobrir as leis da perspectiva de um único ponto de fuga. O pintor mazátchio pôs em prática as teorias de Brunelêsqui a respeito de como sugerir profundidade numa superfície plana. Na igreja florentina de Santa Maria novelia, mazátchio explorou o potencial da perspectiva para criar ilusões ao pintar uma capela reticências que parece se abrir para o espectador – o efeito trompe l’oeil. A monumental imagem da Trindade reticências e os demais personagens (a Virgem e São João, localizados acima dos patronos em súplicas) exibem uma tridimensionalidade tão real que parecem quase esculturas.”

Fártfing, S. (edição). Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. página 151-152.

Os anos 1500

Três dos principais artistas do Renascimento italiano atingiram o auge produtivo na passagem do século quinze ao dezesseis: Leonardo da vinti, miquelângelo buonarôti e Rafael Sãnzio. O período foi marcado pelo uso intenso da perspectiva e da matemática para criar a ilusão de profundidade nos quadros e nas esculturas.

Miquelângelo produziu esculturas bastante conhecidas, como Davi, em 1501, e Moisés, em 1515. Quando jovem, conheceu as técnicas dos escultores antigos que estavam na coleção da poderosa família Médici, de Florença. Além disso, trabalhou na pintura da Capela Sistina.

Rafael Sãnzio, o mais jovem dos três, morreu aos 37 anos. Deixou uma importante produção de pinturas com cores vibrantes e claras. Suas madonas (cenas de Maria, normalmente com Jesus) são muito conhecidas.

Leonardo da vinti é considerado um modelo de artista da Renascença: era pintor, escultor, arquiteto, inventor, engenheiro e estudioso de botânica, anatomia e geologia! Em suas obras, dava destaque ao mundo natural.

Nas pinturas de Da vinti é possível notar a importância das cores e da sombra, para dar a ideia de profundidade, e da luz, para destacar o centro da ação do quadro. A técnica que ele usou para obter esses efeitos é conhecida como chiaroscuro (“claro escuro”).

As obras de Da vinti são valorizadas até hoje. Analise a reprodução do quadro Mona Lisa, pintado entre 1503 e 1506. A obra tem cinco séculos de história e mantém-se popular, sendo uma das mais visitadas no Museu do Louvre, em Paris, na França. Por sua popularidade, artistas de diferentes nacionalidades, tempos e lugares pro­duziram releituras dela.

Pintura. Uma mulher sentada ligeiramente de perfil, com cabelos escuros, soltos, na altura dos ombros e divididos ao meio. Ela foi representada de frente para quem observa a pintura, tem sobrancelhas finas, olhos marrons e lábios cerrados, usa vestido escuro com mangas compridas e está com a mão direita sobreposta ao pulso esquerdo. O seu braço esquerdo está repousado no apoio do assento em que está sentada. Ao fundo, paisagem campestre, com presença de rio e vegetação.
Mona Lisa, pintura de Leonardo da vinti, 1503-1506.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. O que foi o Humanismo? Aponte suas principais características.
  2. Descreva as principais características do Renascimento.
  3. Caracterize as fases do Renascimento e cite exemplos de cada uma delas.
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. O Humanismo foi um movimento iniciado na Península Itálica, no final da Idade Média, com apogeu no Renascimento, que afirmava o homem como a mais perfeita criação de Deus. Suas principais características eram: o individualismo, baseado na crença na capacidade criativa do indivíduo, o antropocentrismo, de acordo com o qual o homem, e não mais Deus, era o centro do universo, e o racionalismo, que era a valorização da razão para conhecer e compreender o mundo natural e cultural.

2. O Renascimento tem como características o uso da arte e da filosofia da Antiguidade e, principalmente, a incorporação de novas técnicas à temática cristã. Entre as técnicas desenvolvidas e difundidas no período estão: o uso da perspectiva, a reabilitação do nu artístico em quadros e esculturas, a simetria, a matematização do espaço e o equilíbrio.

3. A primeira fase do Renascimento, o trecento (número, na língua italiana, que se refere aos anos 1300), caracterizou-se pelo uso de dialetos locais em lugar do latim, língua utilizada pela Igreja Católica. Na fase seguinte, o quattrocento, aflorou a escola florentina, que teve como um de seus principais expoentes o pintor Sandro Botitcheli. No período, alguns aspectos da arquitetura clássica foram revisitados, sendo os elementos góticos abandonados. Na escultura e na pintura, elementos como a nudez foram cada vez mais utilizados. Por fim, a última fase, no século dezesseis, foi o cinquecento. Sua principal característica foi o uso intenso da perspectiva e a matematização do espaço, possibilitando criar a ilusão de profundidade nos quadros e esculturas.

Orientação para as atividades

As questões propostas no boxe “Agora é com você!” demandam respostas trabalhosas e a repetição dos procedimentos de estudo do texto-base e formulação de respostas já exercitados. É necessário que os estudantes:

releiam o texto-base e anotem as informações solicitadas;

elaborem respostas autônomas oralmente, registrando-as na sequência;

revisem as respostas, ajustando-as à linguagem textual.

As artistas do Renascimento

O número de mulheres artistas na Europa, entre os séculos quinze e dezesseis, era muito baixo por causa dos preconceitos sociais. Não se aceitava que as mulheres trabalhassem fóra de casa, estudassem com mestres pintores desde jovens, nem se mudassem para a casa ou a oficina deles, como era normal para os artistas do gênero masculino.

A italiana Sofonisba Anguissola, porém, conseguiu driblar o preconceito e se tornou pintora profissional. Ela nasceu em Cremona, na Península Itálica, e era de família nobre. Trabalhou na Espanha, servindo a esposa do rei Filipe segundo, Isabel de Valois, e também em Gênova e na Sicília.

Sofonisba pintou muitos autorretratos, temas familiares, cotidianos e religiosos. Seu talento foi reconhecido na época, e Miquelângelo, vazári e antôn van deic estudaram sua obra e a homenagearam.

Artistas como ela foram exceções, não por falta de talento, mas por falta de oportunidades. Seu exemplo e sua obra influenciaram outras mulheres e abriram caminho para pintoras renascentistas de outras gerações, como Lavinia Fontana, Barbara longui, Fede galídzia e artemísia dgentilesqui.

Pintura. À frente, uma mulher de joelhos, usando vestido rosa e longo com um manto laranja sobrepondo-o e segurando um objeto pequeno na mão esquerda. Ao seu lado, um homem de barba em pé com uma túnica acima dos joelhos, um manto azul sobre os ombros e um chapéu bege na cabeça segura uma grande pá. Ele leva a outra mão na direção da cabeça da mulher. Ao fundo, à esquerda, duas pessoas de túnicas e mantos compridos estão ao lado de uma gruta, na qual há um objeto quadrado e um anjo sentado sobre ele.
Não me toques, pintura de Lavinia Fontana, 1581.
Pintura. Retrato de mulher jovem com os cabelos presos em coque e um vestido comprido, nas cores preta e marrom, de gola branca rendada segura um pincel em uma mão e uma vareta na outra. Ela foi representada de frente para quem observa a pintura e, à sua direita, há uma tela presa a um suporte de madeira, com compartimento para a paleta e outros pincéis. Na tela, há uma mulher com vestimentas rosa e azul e que apoia a mão direita na nuca de uma criança que está em pé ao seu lado. A mão esquerda, toca levemente o rosto da criança.
Autorretrato no cavalete, pintura de Sofonisba Anguissola, 1556.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A obra da artista Lavinia Fontana é uma representação da passagem bíblica sobre o momento em que Maria Madalena reconheceu Jesus, depois de ele ressuscitar. Elementos da religiosidade cristã estiveram presentes em diferentes obras de Fontana. Já o quadro de Sofonisba Anguissola apresenta a imagem que a artista tinha dela mesma. Ao representar-se pintando uma obra, ela se afirmou como mulher e como artista profissional.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar do Renascimento como fenômeno cultural, relacionando-o aos grupos sociais que produziam e consumiam arte, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero quatro. Ao tratar do papel das mulheres ao longo da história, o conteúdo mobiliza a Competência Geral da Educação Básica nº 9, pois contribui para o exercício da empatia, a promoção do respeito aos direitos humanos e a valorização da diversidade dos grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza.

Curadoria

História da arte como história das imagens: a iconologia de érvin panófíski (Artigo)

Raquel quinê Pifano. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais, volume 7, ano sete, número 3, página 1-21, setembro-dezembro 2010. Disponível em: https://oeds.link/rFP4Wa. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

O artigo apresenta os principais elementos do método iconológico, muito útil para os estudantes aprenderem a interpretar as imagens como fontes históricas. A iconologia foi desenvolvida por Erwin panifsc, historiador da arte formado por ábi várburg. Com Ernst Gâmbritch, panifsc aprofundou os métodos de compreensão das imagens artísticas, distanciando-se da história dos estilos que vigorava desde o século dezenove.

Curadoria

artemísia dgentilesqui: trajetória biográfica e representações do feminino (Livro)

Cristine Tedesco. São Leopoldo: Oikos, 2020.

Nessa obra, a historiadora Cristine Tedesco analisa a vida e as obras da pintora artemísia dgentilesqui. Destaca a valorização da artista, produzindo naquele período, e as diversas representações do feminino realizadas pela pintora: mulheres reais, personagens bíblicas e heroínas romanas que expressam sentimentos de tristeza, rebeldia e fôrça.

O Renascimento e o Humanismo se espalham pela Europa

O Renascimento, iniciado na Península Itálica, espalhou-se para outras partes da Europa. Isso ocorreu porque os ideais renascentistas foram divulgados por artistas patrocinados por mecenas estrangeiros. Leonardo da Vinci, por exemplo, trabalhou para a côrtefrancesa. Com o tempo, artistas de outros locais adotaram as técnicas utilizadas por ele.

Muitos artistas das monarquias nacionais europeias tinham aprendido seu ofício nos ateliês do sul da Península Itálica. Em razão disso, suas obras apresentavam marcas do diálogo entre as tradições italianas e as particularidades da cultura de origem.

No Sacro Império Romano-Germânico e nos Países Baixos, por exemplo, os artistas incorporaram as técnicas renascentistas a suas obras e também os temas ligados à Reforma Protestante (tema do próximo capítulo), ao retorno aos antigos valores cristãos e à revolta contra a autoridade da Igreja Católica.

Pintura. Ao centro, uma mulher de cabelos ruivos, longos e soltos com um vestido vermelho e comprido está sentada na grama segurando um bebê. Ao seu lado, em pé, um homem calvo de barba branca com uma túnica azul comprida e um manto vermelho nos ombros segura um chapéu em uma mão e uma bengala na outra. Ao lado deles há três crianças agachadas e cinco anjos. Ao fundo, vegetação arbustiva e árvores altas.
Descanso da Virgem durante a fuga para o Egito, pintura de Lucas cránar, 1504.
Xilogravura em preto e branco. Quatro homens montados em cavalos correm da esquerda para a direita. Cada um tem um objeto diferente nas mãos. De cima para baixo: o primeiro, segura um arco e flecha, o segundo, uma espada, o terceiro, uma balança de pesos e o quarto, que tem um corpo esquelético, um tridente. Embaixo deles, há pessoas caídas, sendo pisoteadas pelos cavalos. Acima, um anjo voando entre nuvens.
Quatro cavaleiros do apocalipse, xilogravura de Albrechi Durrár, 1498.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Lucas cránar trabalhou para as cortes do Sacro Império Romano-Germânico durante o Renascimento. Na tela Descanso da Virgem durante a fuga para o Egito, ele retrata uma cena bíblica usando os princípios da arte renascentista italiana. A temática religiosa presente nessa pintura, porém, foi influenciada pela Reforma Protestante. A gravura de Albrechi Durrár também está ligada a uma temática religiosa. Esse artista despertou admiração tanto no norte quanto no sul da Europa. Ele vendia suas obras para nobres e burgueses, ansiosos pela aquisição de imagens com a recém-desenvolvida técnica da xilogravura, uma fórma de gravura feita em um suporte em madeira, como uma espécie de carimbo.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Nessa parte do capítulo, trata-se do desenvolvimento da cultura do Renascimento e sua expansão no espaço europeu, o que contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de História nº 2 e nº 6.

A arte medieval e a do Renascimento compartilharam a temática religiosa. No período renascentista, porém, a arte foi profundamente transformada por novas técnicas – a perspectiva, por exemplo – e pela introdução de motivos artísticos que reconfiguraram temas recorrentes da iconografia cristã, como os pintados por Lucas cránar ou Albrechi Durrár. Nas pinturas reproduzidas nesta página, é possível notar uma transição entre as representações medievais e o naturalismo renascentista.

Na gravura de durrár, por exemplo, a perspectiva dialoga com fórmas próprias da iconografia medieval. Outro elemento importante, que também comunica os dois universos artísticos, é a europeização dos personagens, que têm o corpo, as vestimentas, os adereços e tudo mais atualizados para o universo europeu. Isso, de certa fórma, é óbvio, pois as imagens se comunicam com um público desejoso de reconhecer-se nelas. No caso das intenções pedagógicas da iconografia religiosa, tal reconhecimento era fundamental.

A arte renascentista se confunde com o desenvolvimento das técnicas de impressão. durrár, por exemplo, tornou-se exímio gravador. A xilogravura é a técnica na qual uma matriz com a imagem invertida talhada em madeira é impregnada de uma tinta untuosa sobre a qual se deita o papel. Isso possibilita a reprodução de uma imagem quantas vezes durar a qualidade da matriz. O Renascimento foi o primeiro momento que intensificou a circulação das imagens artísticas. Nos capítulos sobre a colonização da América, pode-se retomar esse aspecto ao tratar da circulação das imagens de têodór de Bry e outros artistas e da atuação de gravadores que ilustrariam obras como as de Rans Stáden.

Renascimento na literatura

O início da expansão marítima europeia produziu mudanças profundas na Península Ibérica. Com a chegada à América e a descoberta de caminhos alternativos para o comércio com as Índias, Portugal e Espanha (e, mais tarde, os Países Baixos) passaram a ter mais importância econômica que as cidades da Península Itálica, que dominavam o comércio no Mediterrâneo. O Renascimento e o Humanismo também se estabeleceram nesses países. O poeta português Luís de Camões publicou, em 1572, Os lusíadas, poema mencionado no capítulo anterior.

O espanhol Miguel de Cer­vantes, por sua vez, tornou-se símbolo do Humanismo ao publicar, em 1605, a obra O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha, sobre um homem que decidiu se tornar cavaleiro andante depois de ler muitos romances de cavalaria. Para lutar contra inimigos imaginários, Dom Quixote providencia uma armadura, um cavalo (Rocinante) e um escudeiro (Sancho Pança). Nessa obra, Cervantes estabeleceu um diálogo com as fórmas narrativas da Idade Média e inovou ao usar a língua nacional (espanhol) e a paródiaglossário .

As obras Utopia, de Tômas Morus, lançada em 1516, e Elogio da loucura, de Erasmo de Roterdã, publicada em 1511, usaram a ironia para criticar a sociedade daquele tempo. Na Inglaterra, entre 1599 e 1607, Uilian Xêiquispíer escreveu Rãmlet, Rei Lear e Macbéf. Nessas e em outras peças sobre traição, vingança e corrupção, ele promoveu reflexões sobre a moral e as relações humanas. Na França, o escritor frrãnçoá rabelé narrou a história de dois gigantes comilões, em Gargântua e Pantagruel, promovendo uma crítica à Igreja e aos poderes da época.

Ilustração. Em uma área aberta, plana e com vegetação rasteira e verde, um homem de barba e armadura, chapéu e botas, está montado em um cavalo que ergue as patas dianteiras. O homem segura um escudo redondo com uma mão e ergue uma lança com a outra na direção de um moinho de vento. As quatro pás do moinho estão com o tecido rasgado. Ao lado da construção, uma mulher está de joelhos com as mãos unidas à frente do rosto. Ao fundo, região montanhosa e, no alto, uma nuvem atrás da qual saem raios de sol.
Ilustração atual representando elementos da narrativa do clássico da literatura espanhola O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes.
Respostas e comentários

Nos capítulos que se referem aos séculos quinze a dezoito, são abordadas temáticas profundamente conectadas. É importante destacar essas conexões para que os estudantes exercitem a habilidade de compreender múltiplos eventos no mesmo contexto histórico. Lucas Cranach será retomado no capítulo 3, mas em sua tônica reformista. Se possível, faça alusão a esses dois momentos da vida do artista como um instrumento didático para a compreensão das reformas religiosas e da modernidade.

A leitura das obras de Miguel de Cervantes, Luís Vaz de Camões, Uilian Xêiquispíer e outros autores desse período pode ser difícil para os estudantes, mas existem boas versões adaptadas, como as seguintes, para começar a familiarizá-los com a literatura: Lémb, C.; Lémb, M. Histórias de Xêiquispíer. São Paulo: Ática, 2001; CARRASCO, W. Dom Quixote. São Paulo: Moderna, 2012. (Série Clássicos Universais).

Atividade complementar

Sugere-se uma atividade que pode ser realizada de fórma independente ou em parceria com os professores de língua portuguesa, língua inglesa e arte: a encenação em sala de aula de trechos de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, e de A Tempestade, de Uilian Xêiquispíer. O projeto demanda a leitura das obras adaptadas. Em ambas, os temas da viagem e do conhecimento organizam as narrativas.

Os estudantes devem se organizar em grupos para encenar pequenos trechos, produzindo as adaptações do texto, a caracterização dos personagens e os cenários. Podem-se também organizar as cenas como quadros vivos (tableau vivants) e, com o uso de tecnologias digitais, inseri-las em outros planos de fundo.

O Renascimento científico

No período renascentista, iniciou-se o experimentalismo – o estudo do mundo natural por experimentos. A palavra experiência era entendida em seus vários significados: podia designar a vivência mística de um santo ou as aventuras dos navegadores na América. Podia, também, dizer respeito a provas matemáticas e experimentos práticos para testar hipóteses e compreender o mundo.

A matematização da experiência deu origem a diferentes fórmas de produzir ciência. Hipóteses foram formuladas sobre o que havia de mais amplo, como o universo, e de mais estrito, como o corpo humano.

Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Iorranes képler destacaram-se na astronomia. Copérnico concluiu que o Sol ocupava o centro do antigo sistema de pitolomeu e os planetas giravam ao seu redor. Essa concepção heliocêntrica rompeu com o geocentrismo defendido pela Igreja, segundo o qual a Terra (géo) era o centro desse sistema, e os corpos celestes giravam ao redor dela.

Galileu levou os estudos de Copérnico adiante e atraiu a atenção da Inquisição, que o ameaçou de morte. Para se salvar, ele teve de silenciar-se a respeito de suas descobertas.

Já o astrônomo e matemático alemão Iorranes képler elaborou leis fundamentais sobre o movimento dos planetas, como a descrição de suas órbitas elípticas em torno de um sol.

Leonardo da vinti registrou projetos de submarinos e de máquinas voadoras. Na anatomia, deixou descrições de estruturas musculares e do esqueleto humano. Ele foi o primeiro a descrever os nervos ópticos e a desenhar os ventrículos do coração.

Anatomistas como Andreas Vesálio, Uilian Rrárvi e Miguel servêt fizeram descobertas sobre o funcionamento do corpo e da circulação sanguínea. Seus estudos de anatomia baseavam-se na dissecação de cadáveres e na observação das estruturas do corpo. Paracelso destacou-se no estudo de drogas medicinais e âmbroáse parrê criou a técnica de ligamento de artérias para estancar hemorragias.

Apesar do desenvolvimento científico humanista, crenças como a astrologia e a feitiçaria continuaram sendo comuns.

Gravura. Círculo com uma elipse dentro e, ao centro, o desenho de um sol representado com olhos, nariz e boca e de quatro globos terrestres ao redor (um atrás, outro na frente, outro à esquerda e outro à direita do sol). Em todos os globos, a representação do planeta está com a metade voltada para o sol colorida e a outra metade escura. Ao redor do círculo, nos cantos superiores, anjos seguram faixas com inscrições em meio às nuvens; no canto inferior esquerdo, uma mulher com manto comprido e de olhos vendados tem ao seu redor um globo, um relógio e duas crianças. No canto inferior direito, uma mulher com manto comprido sentada em um trono segura uma haste com uma tocha; aos seus pés, duas crianças, uma delas segura um livro aberto e a outra está ajoelhada.
Gravura da obra Atlas celestial ou A harmonia do universo, de andrêas celárius, 1660.

Responda no caderno.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Analise a gravura. Ela representa a teoria heliocêntrica ou a geocêntrica? Explique.

Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: A gravura representa a teoria heliocêntrica. Por meio da análise da imagem, percebe-se que o Sol foi representado no centro da gravura, com a Terra girando ao redor dessa estrela.

Bê êne cê cê

Ao chamar atenção para o papel das grandes navegações e das relações culturais delas decorrentes, contribui-se para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Nesse tópico, é apresentada uma base epistemológica do Renascimento científico: o experimentalismo. A proposta de matematização das experiências é fundamental para compreender as descobertas e seus impactos na astronomia.

Tema Contemporâneo Transversal

Por abordar o desenvolvimento do experimentalismo e de tecnologias, como a necessária para a impressão tipográfica, o conteúdo das páginas colabora para o desenvolvimento do Tema Contemporâneo Transversal Ciência e tecnologia.

Ampliando

Sobre o impacto da difusão da invenção de Gutembergue, o historiador Píter Burc fornece alguns dados estatísticos.

“Por volta do ano de 1500 havia impressoras em mais de 250 centros europeus e elas já haviam produzido cêrca de 27 mil edições. Fazendo uma estimativa conservadora de 500 exemplares por edição, haveria então algo em torno de 13 milhões de livros em circulação no ano de 1500 numa Europa de 100 milhões de habitantes reticências. Já para o período entre 1500 e 1750, foram publicados na Europa tantos volumes cujos totais os estudiosos da história do livro não conseguem ou não querem calcular (com base no índice de produção do século quinze o total estaria ao redor de 130 milhões, mas de fato o índice de produção aumentou dramaticamente).”

Bãrke, P. Problemas causados por Gutembergue: a explosão da informação nos primórdios da Europa moderna. Estudos Avançados, São Paulo, volume 16, número 44, página 176, 2002.

Interdisciplinaridade

Ao abordar o experimentalismo, o conteúdo possibilita uma aproximação com as habilidades do componente curricular ciências ê éfe zero seis cê ih um três – “Selecionar argumentos e evidências que demonstrem a esfericidade da Terra” – e ê éfe zero seis cê ih um quatro – “Inferir que as mudanças na sombra de uma vara (gnômon) ao longo do dia em diferentes períodos do ano são uma evidência dos movimentos relativos entre a Terra e o Sol, que podem ser explicados por meio dos movimentos de rotação e translação da Terra e da inclinação de seu eixo de rotação em relação ao plano de sua órbita em torno do Sol”.

A imprensa

As ideias humanistas e científicas espalharam-se rapidamente pela Europa graças ao desenvolvimento de uma técnica por Iorranes Gutembergue, em 1439. Ele criou moldes de ouro e prata para montar a prensa – um móvel para impressão tipográfica. As letras, feitas de chumbo fundido, eram combinadas uma a uma para realizar impressões em papel. O primeiro livro impresso foi a Bíblia.

A tipografiaglossário de Gutembergue barateava a produção e tornava o livro mais acessível. Grande parte da população europeia, porém, era iletrada ou não tinha dinheiro para comprar livros, que continuaram restritos à elite.

As novidades da expansão marítima europeia, do Renasci­mento e do Humanismo chegaram, graças à imprensa, a essa elite letrada, propagando o chamado Renascimento científico.

Fotografia. Prensa feita de madeira dotada de uma estrutura com duas bases verticais paralelas e uma base superior. Na parte frontal dessa estrutura, há um longo objeto de madeira em formato espiral disposto verticalmente e apoiado sobre uma tábua formando uma prensa com duas tábuas de madeiras na horizontal. Abaixo das tábuas, há uma estrutura fixa nas bases verticais, ligada a outro objeto, à esquerda, semelhante a uma mesa baixa. Sobre ela, há uma estrutura retangular de tamanho médio, constituída em madeira, e dentro dela tipos móveis de metal arranjados formando um texto em duas colunas, servindo como uma base que receberá tinta para que o texto seja impresso.  No canto direito da prensa, há outra tábua, disposta diagonalmente, livre, para receber a folha de papel a ser impressa. 
À esquerda, há um destaque de formato redondo com outra fotografia, que evidencia, de cima para baixo, tipos móveis com as seguintes letras metálicas enfileiradas: W, Z, A, A, C e D em caixa alta.
Réplica da prensa de madeira criada por Gutembergue. Foto de 2018. E detalhe das letras de metal utilizadas para a tipografia.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique por que existem poucas informações sobre as artistas e as cientistas do período do Renascimento.
  2. Qual foi o papel da imprensa para o Humanismo e para o Renascimento científico?
  3. Quais são as características do Renascimento científico? Apresente dois avanços ocorridos no período.
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. No contexto social da Europa, entre os séculos quinze e dezoito, o número de mulheres artistas e cientistas era reduzido, pois não havia liberdade para elas prosseguirem na carreira. Uma pintora era algo raro. Dificilmente a sociedade aceitava que as mulheres executassem tarefas fóra do âmbito doméstico ou que estudassem com os mestres de arte, mudando-se para a casa deles, como de costume. Por isso, quando se estuda a história da arte do período renascentista, o contato é majoritariamente com pinturas produzidas por homens.

2. A imprensa contribuiu para baratear a produção de livros, além de diminuir o tempo de publicação. O processo de popularização da impressão tipográfica ajuda a explicar o aumento do número de livros entre os séculos quinze e dezesseis. No entanto, as publicações eram direcionadas às pessoas letradas da elite, principalmente intelectuais e pensadores humanistas atrelados ao movimento renascentista europeu.

3. No Renascimento científico, o experimento, a matemática e a observação dos fenômenos eram pré-requisitos para produção de conhecimento sobre o mundo e sobre a natureza. Com base nesses princípios, reforçaram-se e produziram-se conhecimentos diferentes dos aceitos pela Igreja Católica. Nicolau Copérnico, por exemplo, com base em seus estudos, defendeu o modelo heliocêntrico. Galileu Galilei e Iorranes képler apresentaram contribuições para a análise dos corpos celestes, suas disposições e movimentos. No campo da anatomia, as observações diretas realizadas por Leonardo da vinti, Andreas Vesálio, Uilian Rrárvi e Miguel servêt renderam novos conhecimentos sobre o corpo humano. Apesar disso, a astrologia e a feitiçaria eram comuns no período.

Orientação para as atividades

Espera-se que os estudantes, ao resolver as atividades de sistematização na coleção, percebam o tipo de habilidade requerida em cada uma. As propostas nesta página requerem a habilidade de explicar. Comente que tal habilidade pode ser mobilizada por um comando direto (o uso do verbo no imperativo) ou por uma pergunta em que se relacione mais de um elemento, como na segunda questão (a imprensa, o Humanismo e o Renascimento científico).

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Analise as informações a seguir e, no caderno, identifique as afirmativas falsas e as verdadeiras. Corrija as que estiverem incorretas.
    1. Os pintores renascentistas rejeitavam o uso de técnicas que se baseavam no conhecimento matemático e geométrico para a elaboração de suas obras.
    2. A perspectiva foi uma das principais técnicas utilizadas pelos artistas do Renascimento para criar a impressão de profundidade e de volume nas obras de arte.
    3. No Renascimento, os temas religiosos não podiam ser associados à nudez, pois o corpo nu era vinculado ao pecado.
    4. O ideal de beleza da Antiguidade, a temática cristã e o naturalismo eram três elementos valorizados pelos artistas renascentistas.
  2. No caderno, relacione corretamente os nomes às invenções, descobertas e teorias.
    1. Nicolau Copérnico.
    2. Galileu Galilei.
    3. Leonardo da vinti.
    4. âmbroáse parrê.
    1. Por meio de suas observações astronômicas, defendeu a teoria heliocêntrica. Seus estudos serviram de base para vários conceitos da física moderna.
    2. Esboçou projetos de submarinos e de máquinas voadoras, além de produzir desenhos e descrições de estruturas musculares e do esqueleto humano.
    3. Criou a técnica de ligamento de artérias para estancar hemorragias.
    4. Concluiu, em seus estudos, que os pla­netas giravam ao redor do Sol, o que contribuiu para o rompimento com o geo­centrismo, defendido pela Igreja Católica.
  3. Neste capítulo, você estudou acontecimentos históricos relacionados ao início da Idade Moderna. Identifique, no caderno, as alternativas corretas sobre as características e os significados da modernidade.
    1. A expansão marítima instigou a curiosidade dos europeus e contribuiu para que eles mudassem sua visão de mundo após ter contato com outros povos e ambientes naturais.
    2. Por meio da razão, da experiência e da observação, alguns indivíduos puderam confirmar hipóteses e produzir conhecimentos, desafiando dogmas religiosos.
    3. Na Idade Moderna, as representações religiosas foram abandonadas pelos artistas, a cultura preservada pelos copistas medievais foi ignorada e a astrologia foi desprezada como sistema de conhecimento.
    4. No campo filosófico, marcado pelo Humanismo e pelo Renascimento, os saberes da Antiguidade, assim como os de povos não europeus, foram recriados e integrados aos saberes cristãos.
    5. A modernidade foi fortemente marcada pela crença no indivíduo e na capacidade humana de inovar e modificar a natureza.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver o conhecimento sobre as utopias para a proposição de uma intervenção na escola, a atividade 5 mobiliza a Competência Geral da Educação Básica nº 1, a Competência Específica de Ciências Humanas nº 6 e a Competência Específica de História nº 1.

Atividades

Organize suas ideias

1. a) F;b) V;c) F;d) V.

Correções: á Com o objetivo de produzir obras simétricas e criar a ilusão de profundidade e perspectiva, os pintores renascentistas recorriam à matemática e à geometria. c) No Renascimento, o corpo humano passou a ser considerado belo e dissociado do mal, de modo que os temas religiosos podiam ser associados à nudez.

2. a) quatro;b) um;c) dois;d) três.

3. Alternativas a; b; d; ê.

Curadoria

Entrevista com Rogê Chartiê concedida à historiadora Claudete Maria Miranda Dias (Entrevista)

Claudete Maria Miranda Dias. Linguagens, Educação e Sociedade, Teresina, número 13, julho-dezembro 2005, página 137-156.

Rogê Chartiê é um historiador que pesquisa temas da história cultural, como a circulação dos livros e as práticas de leitura, escrita e literatura. Na entrevista, cartiê trata da circulação dos livros e da história da leitura a partir do período moderno.

Aprofundando

4. A expansão marítima europeia marcou o início da mundialização e da modernidade. Naquele período, os europeus fizeram uma série de representações de si mesmos e dos povos e locais com os quais tiveram contato. Analise o mapa e, na sequência, responda às questões.

Mapa histórico ilustrado. Representação ilustrada de uma mulher com um longo vestido vermelho e uma coroa, segurando um cetro com bandeira em uma mão e uma esfera com o símbolo da cruz em cima na outra. Ao longo do corpo da mulher, há representação de montes, cadeias de montanhas, árvores, rios, pequenas construções e nomes de localidades, como se ela fosse um mapa. Na coroa e cabeça está escrito Hispania; na bandeira do cetro, Anglia e Scotia. No peito, Galia e Germania; em um braço, Italia, e, no outro, Dania. Na esfera na mão do braço correspondente à Itália está escrito Sicilia. Ao longo do corpo há as seguintes inscrições: Vandalia, Ungaria, Polonia, Lithuania, Livonia, Moscovia, Bulgaria, Scythia, Tartaria, Sclavonia, Macedo, Grecia, Morea. A mulher está rodeada por águas, nas quais está escrito Oceanus, Mare Mediterraneo, Sinus Adriaticus, Mare Ionium, Potus Evx e Mare Balthicum. Em um pedaço de terra com cadeia montanhosa, localizado à noroeste da mulher, está escrito Africa; em um pedaço de terra à leste da mulher, está escrito Scandia; e em um pedaço de terra ao sul da mulher, está escrito Ásia.
Europa regina (“rainha Europa”), mapa de sebástian munstá, cêrca de 1550-1570.
  1. Qual é o continente representado no mapa?
  2. Qual era a intenção de Sebastian Müns­ter ao representá-lo com esse formato?
  3. Como a arte e a ciência renascentistas contribuíram para o reforço da ideia de “rainha Europa”?

5. Tômas Morus é considerado um dos principais humanistas do Renascimento. Em seu livro Utopia, ele descreveu uma sociedade ideal e justa. Leia a seguir a análise realizada pelo historiador grégori cleis sobre a ideia de utopia explorada por mórus.

“Desde a publicação da obra, a palavra ‘utopia’ tornou-se sinônimo de paraíso, o ideal, o irrealista e inatingível. reticências Contudo, a tradição estabelecida pelo texto, reticências na verdade representa não a sociedade perfeita, mas apenas uma sociedade radicalmente melhorada.”

cleis, G. Utopia: a história de uma ideia. São Paulo: Edições Sésqui, 2013. página 59.

Agora, escreva um texto dissertativo sobre o que você considera uma escola ideal, apontando os possíveis problemas existentes no local em que estuda e as propostas para solucioná-los. Lembre-se de que o texto deve conter introdução, desenvolvimento e conclusão.
Respostas e comentários

Aprofundando

4. a) O continente representado é a Europa.

b) A intenção de Sebástianmunstá era mostrar o continente como a rainha do mundo (conforme demonstram a coroa, o orbe na mão direita e o cetro na mão esquerda).

c) Os avanços técnicos obtidos no Renascimento, que possibilitaram feitos como as navegações e o aprimoramento da perspectiva na pintura, eram compreendidos pelos europeus como um avanço da civilização. A ideia de retomar a grandiosidade greco-romana e silenciar o legado medieval propiciava um ideal coletivo de superioridade diante de outras culturas.

5. Na atividade, emprega-se o conceito de utopia com base na obra homônima do escritor inglês Tômas Morus. Espera-se que os estudantes se apropriem desse conceito para produzir uma reflexão sobre a escola ideal e a real. Verifique se eles compreendem a ideia de utopia como uma possibilidade factível de transformação da realidade, diagnosticando problemas enfrentados no cotidiano escolar e elaborando propostas para superá-los. A atividade de produção textual contribui para o desenvolvimento das habilidades de interpretação de texto e escrita pelos estudantes, com foco em dissertações argumentativas. Com a idealização de um modelo de escola e o convite à reflexão sobre a realidade escolar e os modos de transformá-la, espera-se que os estudantes tomem como base elementos presentes na obra de mórus para exercitar a cidadania. Verifique se, na introdução, eles apresentaram com clareza o tema do texto. Na sequência, avalie se eles citaram problemas que de fato existem na escola ou se suas percepções referem-se mais ao sistema escolar como um todo: grade curricular, disciplina, horários etcétera Por fim, espera-se que demonstrem o modelo de escola ideal e, se possível, os caminhos para torná-lo efetivo.

Curadoria

Florença no século catorze: da bidimensionalidade pictórica ao Renascimento (Vídeo)

univéspi. Brasil, 2014. Duração: 25 minutos Disponível em: https://oeds.link/aVaeWy. Acesso em: 22 fevereiro2022.

Algumas das aulas do curso de história da arte ministradas por José Leonardo do Nascimento, professor do Instituto de Artes da Universidade do Estado de São Paulo (Unésp), foram disponibilizadas para o público pela univéspi. Entre elas, destaca-se a aula sobre arte florentina do século catorze, em que são apresentados alguns locais históricos da cidade de Florença e as características da arte ali produzida no período.

Glossário

Afresco
: arte ou técnica de pintura mural que consiste em aplicar tintas diluídas em água sobre um revestimento de argamassa ainda fresco.
Voltar para o texto
Consternação
: tristeza profunda.
Voltar para o texto
Mecenato
: prática de incentivo e patrocínio de obras de artistas e literatos.
Voltar para o texto
Cúpula
: parte superior de construções e edifícios com a fórma de semiesfera.
Voltar para o texto
Paródia
: obra que imita outra obra ou estilo artístico com objetivo satírico.
Voltar para o texto
Tipografia
: técnica de compor e imprimir com o uso de tipos, também conhecidos como fontes ou letras.
Voltar para o texto