CAPÍTULO 6 A colonização da América espanhola

Como você estudou no capítulo anterior, os intercâmbios culturais e comerciais, que aumentaram a partir do século dezesseis, contribuíram para a mundialização de costumes, as inovações tecnológicas, a alteração nos hábitos alimentares etcéteraAtualmente, metade das calorias de alimentos consumidas no planeta deriva do milho, do trigo e do arroz, mas durante séculos esses cereais só eram conhecidos em seu local de origem. Eles foram incluídos na alimentação mundial de modo sistemático após a colonização da América. O milho, por exemplo, originário da América, não era conhecido na Europa e na Ásia até o século dezesseis.

Fotografia. Espigas de milho com palha roxa e grãos vermelhos e roxos.
Milho mexicano vermelho de Puebla, México. Foto de 2018.
Fotografia. Colheita de milho vista do alto. Do lado esquerdo da imagem, centenas de feixes de milho com formato de cilindro dispostos lado a lado. Do lado direito da imagem montes de milho espalhados no chão. Dividindo a imagem diagonalmente ao meio, um caminhão cheio de milho e uma pessoa a pé se deslocam por um caminho localizado na propriedade rural.
Vista aérea de milho em processo de secagem em Hebei, China. Foto de 2020. A China é o segundo maior produtor mundial de milho e de farinha de milho.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Em que continente o milho foi cultivado pela primeira vez?
  2. Qual é a relação entre a expansão marítima europeia e o fato de esse cereal ser consumido no mundo todo?
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a produção de milho na China foram retirados de: MAIORES produtores de milho na safra 2020/21, revisão de outubro de 2020. fármnius, 12 outubro 2020. Disponível em: https://oeds.link/0BI2eA. Acesso em: 8 fevereiro 2022.

Abertura

Ao tratar da disseminação de alimentos típicos dos povos da América pré-hispânica pelos europeus, pretende-se instigar os estudantes a refletir sobre o impacto da colonização para a formação do mundo moderno. A alimentação é apenas um dos campos revolucionados pelas trocas interculturais iniciadas no período da expansão marítima. Pode-se dizer que os navios europeus chegavam à América com determinada bagagem de objetos, saberes e técnicas e voltavam carregados de outros elementos. As trocas também ocorriam no sentido oposto, quando os nativos adotavam elementos de outras culturas, como a pólvora e a domesticação de cachorros, por exemplo.

Atividades

1. No continente americano.

2. A partir do século dezesseis, ao promover a colonização da América, os espanhóis difundiram na Europa o consumo de alimentos típicos americanos, como o milho, cuja cultura se expandiu, por meio do intercâmbio comercial dos europeus com povos da Ásia e da África, pelo restante do mundo.

Ampliando

A análise do trânsito de alimentos permite observar as conexões mundiais tecidas a partir do século dezesseis. No texto a seguir, Henrique Carneiro trata desse assunto.

“A maior revolução na alimentação humana ocorreu no período moderno com a ruptura no isolamento continental, quando o intercâmbio de produtos de diferentes continentes, ocorrido no bojo da expansão colonial europeia, alterou radicalmente a dieta de praticamente todos os povos do mundo. As especiarias asiáticas reticências difundiram-se para a Europa e chegaram aos outros continentes. As plantas alimentícias das Américas reticências propagaram-se pelo planeta. Gêneros tropicais, como a cana-de-açúcar, o chá, o café e o chocolate, combinaram-se para fornecer um novo padrão de consumo reticências de bebidas excitantes, que, ao lado do tabaco, tornaram-se hábitos internacionais. Produtos típicos da Europa mediterrânica como o trigo e a uva acompanharam a colonização de diversos países e o álcool destilado penetrou em todos os continentes. reticências

reticências

Além dos metais preciosos, reticências os alimentos foram as principais mercadorias do mercado intercontinental. Alimentos indispensáveis e triviais como o trigo reticências e exóticos reticências como as especiarias do Oriente e, mais tarde, o açúcar da América, inicialmente foram consumos reticências supérfluos das elites aristocráticas e, depois, tornaram-se necessidades alimentares de massas e um dos motores mais importantes do comércio mundial.”

CARNEIRO, H. Comida e sociedade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. página 60, 66.

América espanhola: o que aconteceu depois da conquista?

Entre os séculos dezesseis e dezessete, a Espanha controlava diferentes territórios com tradições culturais diversas. Esses territórios estendiam-se da América até a Península Ibérica, passando pelos Países Baixos e Nápoles. Do ponto de vista administrativo, o objetivo da Espanha em relação à América e aos territórios europeus que a compunham era assegurar seu poder político e econômico. Por causa desse objetivo comum, os termos colônia e colonização não eram usados no reino espanhol entre os séculos dezesseis e dezoito para designar seu domínio na América.

Em todos os territórios espanhóis, foram fundados diversos centros locais de poder. Para esses centros, eram nomeados vice-reis para representar a Coroa espanhola. O cargo era temporário, sendo ocupado por integrantes da alta nobreza ou do alto clero com experiência administrativa. Uma vez no cargo, os vice-reis seguiam as instruções do rei e tinham poder quase absoluto para governar.

Havia, entretanto, diferenças entre um vice-reino na Europa e um vice-reino na América. Por causa da existência de diferentes culturas e sociedades, ainda desconhecidas dos europeus, e de um oceano entre os dois continentes, a Espanha adaptou suas ações na América para melhor administrá-la.

Gravura em preto e branco. Busto de homem com barba usando casaco comprido com rufo (gola alta plissada ao redor do pescoço). Abaixo, sua assinatura.
Gravura do século dezesseis que representa Blasco Núñez Vela, primeiro espanhol vice-rei do Peru, que governou entre 1544 e 1546.
Pintura. No centro, mar com uma baía ao redor repleto de embarcações grandes, algumas com bandeiras vermelhas com cruzes brancas, e barcos menores a remo, um deles com uma bandeira branca com uma cruz vermelha. No canto esquerdo, na faixa de terra, homens retiram carregamentos dos barcos e carregam sacos nas costas. Mais ao fundo, muralhas com pessoas em cima e uma grande bandeira hasteada. Em segundo plano, no centro da imagem, um farol e, ao fundo, montanhas e um vulcão expelindo fumaça.
Vista do porto de Nápoles, pintura de iôrrán vílrrem báa, cêrca de 1640.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nápoles, que atualmente faz parte da Itália, foi vice‑reino da Coroa espanhola entre 1505 e 1707. Essa cidade, porém, não foi tão afetada pela dominação política e militar dos espanhóis quanto as da América espanhola no mesmo período. Isso ocorreu porque Nápoles se localizava na Europa e o modo de vida de sua população era parecido com o dos espanhóis. Além disso, as práticas administrativas e a fórma de governo napolitanas e espanholas eram similares.

Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

• Identificar as instituições criadas na América espanhola, destacando os diálogos com as culturas já existentes nos territórios conquistados pelo Império Espanhol.

• Descrever as fórmas de sociabilidade na América espanhola, levando em conta as instituições políticas e religiosas e as práticas sociais.

• Descrever as fórmas de organização das sociedades ameríndias no tempo da conquista a fim de revelar os mecanismos de aliança, confronto e resistência estabelecidos entre espanhóis e indígenas.

• Mapear as conexões e as interações entre as sociedades da América, da Europa, da África e da Ásia no contexto da expansão marítima e comercial.

• Analisar os diferentes impactos da conquista espanhola na vida das populações ameríndias.

• Analisar, com base em documentos históricos, diferentes interpretações sobre o funcionamento das sociedades americanas no período colonial.

• Caracterizar a ação dos europeus e as lógicas mercantis com base nas quais eles buscavam o domínio do mundo atlântico.

• Descrever as dinâmicas comerciais das sociedades americanas e africanas e analisar suas interações com outras sociedades do Ocidente e do Oriente.

Justificativa

Os objetivos elencados para este capítulo são importantes na medida em que caracterizam as diferentes sociedades que interagiram entre si no contexto da colonização da América pelos espanhóis, sensibilizando os estudantes para a importância das trocas de saberes, mercadorias e ideias entre elas. Incentivam o desenvolvimento de processos analíticos e de uma visão crítica, pois permitem aos estudantes analisar resistências, adaptações e negociações que caracterizam as sociedades da América espanhola.

A conquista espiritual

A Coroa espanhola buscou, junto da Igreja, aproximar os nativos americanos do modelo cultural europeu. Uma das estratégias utilizadas pelos espanhóis para tentar dominar os indígenas foi buscar convertê-los ao catolicismo. Esse processo, que durou três séculos, foi chamado de catequese ou conquista espiritual.

Para receber a catequese, os indígenas eram reunidos em missões ou reduçõesglossário . O trabalho dos missionários envolvia uma série de estratégias, como a encenação de peças teatrais e o aprendizado das línguas nativas. Além disso, os indígenas que mantivessem costumes antigos ou que faltassem à missa católica eram punidos. Outra estratégia usada pelos europeus na catequese foi a destruição de templos, estátuas e escritos indígenas.

Os religiosos europeus viam as práticas de outras culturas como heréticas, pois eram diferentes dos princípios estabelecidos pela Igreja. Essa visão era etnocêntricaglossário e desrespeitosa. O processo de conversão foi violento contra os indígenas e sua cultura, pois foi feito por meio da imposição dos valores, do modelo de constituição familiar, dos códigos de vestimenta e conduta e das relações de trabalho que os europeus achavam corretos. Essas medidas, porém, não impediram a continuidade de práticas da cultura indígena, muitas vezes incorporadas aos rituais cristãos.

Fotografia. Em primeiro plano, desfile celebrativo em uma avenida. Os desfilantes estão fantasiados: usam calças, coletes e chapéus de aba larga pretos, camisas brancas e lenços vermelhos no pescoço. Os rostos estão com maquiagem de caveira. Eles também carregam tambores e seguram baquetas nas mãos. Em segundo plano, espectadores acompanham a cena.
Celebração do Dia dos Mortos na Cidade do México, México. Foto de 2019. A festa começa em 31 de outubro e termina em 2 de novembro, coincidindo com a celebração católica do Dia de Finados.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os rituais de celebração no Dia dos Mortos têm origem indígena. Há cêrca de 3 mil anos, eles eram realizados para homenagear a deusa míctecacíualt. Quando os espanhóis chegaram ao continente, procuraram apropriar-se desses rituais e incorporá‑los aos festejos católicos.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar do processo de conquista espiritual dos povos ameríndios pelos europeus, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco. Ao considerar as formas de resistência e identificar a existência de adaptações e de negociações entre as culturas cristãs e as indígenas, destacando o fato de que a conversão espiritual não afetou de fórma absoluta a consciência dos povos ameríndios, contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove. Já a abordagem, por meio do exemplo do Dia dos Mortos, de tradições dos povos indígenas anteriores ao contato com os europeus, bem como de suas transformações e manutenção até os dias contemporâneos, possibilita a retomada da habilidade do 6º ano ê éfe zero seis agá ih zero oito – “Identificar os espaços territoriais ocupados e os aportes culturais, científicos, sociais e econômicos dos astecas, maias e incas e dos povos indígenas de diversas regiões brasileiras”.

• Algumas instituições foram implementadas na América com base no molde que tinham em outros territórios da Espanha. Outras, contudo, precisaram ser criadas para dar conta das especificidades do ultramar e, principalmente, das demandas da elite indígena da América. O modelo arquitetônico das cidades, a Casa de Contratação e o Conselho das Índias eram fórmas de o Império Espanhol tentar controlar a política dos adelantados, que, como conquistadores, viam-se no direito de legislar nas terras da América espanhola.

• Na região do México, franciscanos assumiram a iniciativa da conversão, batizando milhares de indígenas e construindo colégios para educar os filhos de integrantes da elite nativa e espanhola. Dominicanos, agostinianos e jesuítas se juntaram à tarefa, embora nem sempre mantendo relações harmoniosas uns com os outros.

• A chamada conquista espiritual ocorreu de fórma paralela às conquistas militares estudadas no capítulo 5. Enquanto a segunda dizia respeito à dominação de territórios e populações indígenas, o objetivo da primeira era a expansão da fé cristã entre os ameríndios.

Formas de resistência indígena

Os povos indígenas reagiram de várias fórmas aos abusos e à violência dos espanhóis, que pretendiam impor sua crença: mataram religiosos, além de roubar e destruir igrejas. Entretanto, como muitos religiosos defenderam os indígenas, a Igreja também conseguiu protegê-los contra a violência dos colonizadores.

Um dos mais conhecidos religiosos que lutaram pelo direito à vida e à dignidade dos ameríndiosglossário foi o frade dominicano espanhol bartolomê de las cásas. Na metade do século dezesseis, ele pressionou a Coroa espanhola a aprovar leis que favorecessem os indígenas, em relações de trabalho que abolissem a violência, bem como advogava que a conversão deveria ser um direito dos indígenas, e não um dever a ser imposto pelos espanhóis. Seus textos foram as principais armas para denunciar os maus-tratos aos quais os nativos eram submetidos pelos colonos.

Ao enfatizar os massacres e a crueldade dos conquistadores, as obras de Las Cássas ajudaram a divulgar na Europa um forte sentimento antiespanhol. Países protestantes, retardatáriosglossário na conquista e na colonização, usaram os textos de Las Cássas contra os espanhóis. Os ingleses, por exemplo, que também exploravam e agrediam nativos nas áreas que ocupavam, relacionaram a fama da crueldade ibérica ao catolicismo, na lógica das guerras de religião que você estudou no capítulo 3.

Gravura. Em primeiro plano, homens europeus com armaduras, chapéus, espadas e armas de fogo empurram e conduzem grupo de seis indígenas nus com as mãos amarradas. Em segundo plano, outros europeus com armaduras, chapéus e lanças, montados em cavalos, avançam sobre um grupo maior de homens indígenas nus que correm com pedaços de pau na mão. Ao fundo, um monjolo e uma construção simples e uma montanha, e, ao redor, árvores. Do lado direito, homens indígenas nus enforcados nos galhos de árvores.
Gravura de TEODOR DE BRÁI, produzida em 1595, representando a violência dos espanhóis contra os indígenas americanos.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

As obras de TEODOR DE BRÁI, gravurista e editor belga protestante que viveu no século dezesseis, foram muito reproduzidas com a intenção de degradar a imagem dos espanhóis e da Igreja Católica na América espanhola. Em contrapartida, textos e imagens do frade católico bartolomê de las cásaseram reproduzidos com a intenção de mostrar os valores humanos e cristãos dos espanhóis. Percebe‑se, além do espírito colonizador dos povos europeus, o embate religioso entre católicos e protestantes.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Nesta página, são analisados alguns impactos da conquista, considerando também a resistência indígena, temática que mobiliza a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove. O texto no boxe “Imagens em contexto!”, sobre as disputas ideológicas entre protestantes e católicos em torno da conquista, contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.

• Uma das principais polêmicas na Europa sobre a América estava na descrença de que os povos indígenas fossem, de fato, humanos. O debate sobre a possibilidade de “salvá-los” pela religião influenciava diretamente as políticas da escravização indígena nas colônias.

Curadoria

O paraíso destruído: a sangrenta história da conquista da América espanhola (Livro)

Freibartolomê de las cásas. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2011.

O livro traz o testemunho de Las Cássas sobre a violência da conquista espanhola da América. Las Cássas ficaria conhecido como um defensor da liberdade dos indígenas contra o despotismo dos conquistadores. Se julgar conveniente e possível em suas turmas, o texto pode ser empregado em sala de aula para análise.

A consolidação do Império Espanhol na América

Para impor-se politicamente e dominar as terras americanas, o Estado espanhol fundou diversas cidades, que serviram como centros de colonização. A partir delas, a Coroa espanhola pôde controlar a exploração das riquezas, principalmente as minas de prata de potozí (no território correspondente ao da atual Bolívia), as de ouro (no território correspondente ao do atual México) e as de cobre (no território correspondente ao do atual Chile).

Essas cidades eram construídas com base nas da Espanha. Pareciam um tabuleiro de xadrez, com traçadosglossário quadrados, ruas perpendiculares e, ao centro, uma praça onde se concentravam as principais instituições do império: o palácio do vice-rei, as câmaras administrativas e a igreja.

Outra fórma de controlar as colônias americanas foi a criação de órgãos administrativos. Em 1503, a Coroa espanhola instaurou, na cidade de Sevilha, na Espanha, a Casa de Contratação. Esse órgão era responsável pela administração e pelo registro de todas as ações de compra e venda de produtos na colônia. Com os registros, era possível centralizar as informações para, em seguida, cobrar impostos sobre essas movimentações.

Assim que chegavam ao porto de Sevilha, toneladas de prata americana eram recolhidas, pesadas e taxadas na Casa de Contratação. Segundo a determinação real, um quinto de imposto sobre o valor dos minérios extraídos na América devia ir para os cofres da Coroa espanhola. Da Espanha, a prata americana era levada para o restante da Europa e para a Ásia.

Pintura. Vista aérea de uma praça sem árvores, cercada por grandes construções, com pessoas transitando, algumas montadas em cavalos, outras em carruagens puxadas por cavalos, outras caminhando em grupos.
Praça Maior de Lima, pintura de 1680.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A cidade de Lima era uma das mais importantes da América espanhola por causa do comércio e de sua estrutura. Pessoas de diferentes grupos sociais que viviam na região frequentavam a Praça Maior de Lima. Lá funcionavam as instituições burocráticas estabelecidas pela Coroa espanhola para o contrôle geral da colônia. A cidade se tornou capital do vice-reino do Peru em 1543.

Titulo do carrossel
Imagem meramente ilustrativa

Gire o seu dispositivo para a posição vertical

Respostas e comentários

• Frequentemente se comparam as cidades da América espanhola com as da América portuguesa. Enquanto nas primeiras houve um grande esforço de planejamento desde muito cedo, as segundas se formaram com base em menor ordenação.

• Até os dias atuais, o traçado dos principais centros urbanos do período colonial espanhol é verificável. Isso pode ser feito por meio da comparação de imagens antigas e recentes de cidades como Lima e Cuzco.

• O esforço de contrôle pela Espanha da vida colonial gerou a ampliação da Casa de Contratação, que passou a registrar em livros os indivíduos mapeados na colônia, a fazer a regulamentação da emigração e a valer-se de cartógrafos, que produziam informações detalhadas sobre o território.

Ampliando

Desde os primeiros tempos da colonização, os espanhóis fundaram cidades planejadas, conforme se pode confirmar no trecho do artigo abaixo.

“É sabido que, desde o início da colonização, os soberanos espanhóis orientaram-se por um projeto moderno e absolutista, a ser implantado nas colônias americanas. Para a execução eficiente do projeto de ocupação e colonização das terras do Novo Mundo, e em atendimento à noção de imperium, elaborada durante e após a Reconquista, a implantação de núcleos urbanos era uma condição indispensável. Seriam esses núcleos os suportes do processo econômico e político. Daí a precocidade na execução de assentamentos urbanos que pode ser observada pela rápida substituição das feitorias do Caribe por assentamentos citadinos, de caráter mais permanente, e dos quais Santo Domingo é o primeiro exemplo. Assim, as cidades tornaram-se, na América espanhola, o grande teatro social no qual se desenrolaram e [se] decidiram os fatos de ordem política, econômica, religiosa e outros que marcaram a feição da sociedade colonial. Elas implantaram, como extensão do poder metropolitano, uma fisionomia e modos de ser característicos e específicos do Novo Mundo colonial, mas que, de algum modo, transcendem e ultrapassam aquele período.”

CENTURIÃO, L. R. M. A cidade na América espanhola aos tempos da conquista e colonização. Biblos, Rio Grande, volume 10, página 127, 1998.

Mais contrôle sobre as colônias

Em 1524, a Coroa espanhola criou o Conselho das Índias. Essa instituição era composta de conselheiros reais, nobres e religiosos que se reuniam periodicamente para ajudar os reis a tomar decisões relativas à América.

Os integrantes desse órgão criavam e publicavam leis que afetavam diretamente o funcionamento das colônias, recebiam e enviavam as petiçõesglossário dos súditos aos reis, encaminhavam as respostas, regulavam as relações entre o Estado e a Igreja e nomeavam os ocupantes dos principais cargos do governo na América.

A Espanha buscava fórmas de acabar com as chamadas políticas dos adelantados (“adiantados”) – como eram conhecidos os primeiros conquistadores. Vários deles chegaram à América com financiamento próprio e não dependiam da Coroa espanhola, além de terem muito poder político e econômico.

Os adelantados foram fundamentais para garantir a presença espanhola na América, mas sua autonomia reduzia a fôrça da monarquia no território. Nesse contexto, os vice-reis tiveram um papel fundamental, pois serviam de contrapeso aos poderes locais dos conquistadores.

Pintura. Na parte superior da imagem, inscrições e, no centro, o desenho de um homem de barba sentado num trono, segurando uma cruz. Entre ele, há dois brasões, um com dois castelos e dois leões intercalados e outro com uma onça-pintada. Abaixo, pinturas de 24 pessoas, sendo 15 representantes da nobreza inca, vestindo túnicas, colares coloridos, mantos nos ombros e segurando lanças, e 9 homens europeus, vestidos com trajes finos. O primeiro deles está com uma coroa.
Pintura do século dezoito que retrata os governantes incas e seus sucessores espanhóis: de Manco capác, o primeiro rei inca que viveu no início do século treze, ao rei espanhol Fernando seis, que viveu em meados do século dezoito.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar das estruturas administrativas da América espanhola, considerando o objetivo de exploração mercantil da metrópole e as adaptações às dinâmicas internas da sociedade colonial, o conteúdo abordado contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero oito e ê éfe zero sete agá ih um três.

Interdisciplinaridade

A apresentação das cidades coloniais espanholas e o estudo das transformações no ambiente geradas pela intensificação de ocupações de tipo urbano no continente americano são temas que possibilitam diálogos com o componente curricular geografia. Podem ser exploradas habilidades trabalhadas no 6º ano, como ê éfe zero seis gê ê zero dois – “Analisar modificações de paisagens por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos originários”.

Curadoria

Hora americana (Podcasts)

Brasil, 2020. Disponível em: https://oeds.link/eWcEYk. Acesso em: 10 março. 2022.

Nesse site, idealizado pelos professores Luís Guilherme Assis kalíl, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ú éfe érre érre jota), e Caio Pedrosa da Silva, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (ú éfe vê jota ême), entre outros, são publicados podcasts quinzenais em que se discutem temas relativos à história da América em diferentes períodos. Vários episódios têm relação com o conteúdo deste capítulo.

Os vice-reinos

A implementação dos sistemas de contrôle do território americano pela Espanha foi complexa. Nos vice-reinos foram criadas as audiências, os alcaides e os cabildos, órgãos judiciários e fiscalizadores. A ideia era não só controlar os impostos, impor regras e leis aos indígenas, mas também fiscalizar os espanhóis e seus descendentes no continente.

Para atingir esses objetivos, foi inevitável que se valessem de redes de poder e cadeias de comando indígenas que já existiam antes da conquista. Quando se fundiram sistemas de governo indígenas locais com lógicas espanholas de administração formaram-se instituições híbridasglossário , como as cabeceras de indios.

As cabeceras eram pequenos territórios sob responsabilidade de um cacique, que se tornava vassalo do rei. Esse cacique não pagava impostos, recebia títulos e, em troca, organizava os indígenas que trabalhariam para os espanhóis.

Cargos e assembleias semelhantes às cabeceras representavam os interesses indígenas diante da Coroa. Os poderes locais não foram destruídos, mas transformados em espaços de negociação e tentativa de contrôle.

Os vice-reinos da América espanhola – século dezoito

Mapa. Os vice-reinos da América espanhola, século dezoito. Destaque para as possessões espanholas no continente americano. Sem legenda.
No mapa. Na América do Sul, do sul para o norte:
Lilás: Vice-Reino do Rio da Prata (1776), incluindo a cidade de Buenos Aires, engloba o territórios do cone sul do continente americano. 
Rosa: Capitania-Geral do Chile – incluindo a cidade de Santiago, situado à sudoeste do Vice-Reino do Rio da Prata.
Marrom: Vice-Reino do Peru (1542), incluindo as cidades de Lima e Cuzco.
Rosa-claro: Vice-Reino da Nova Granada (1740), incluindo as cidades de Quito, Bogotá, Cartagena e Porto Belo. 
Verde: Capitania-Geral da Venezuela, incluindo a cidade de Caracas.
Da América Central para a América do Norte:
Amarelo: Capitania-Geral da Guatemala, incluindo a cidade de Guatemala. 
Roxo: Vice-Reino da Nova Espanha (1535), incluindo as cidade de México e Veracruz.
Verde-escuro: Capitania-Geral de Cuba, incluindo a cidade de Havana e o estado da Flórida.
No canto inferior esquerdo, a rosa dos ventos e escala de 0 a 1.030 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas historique. Paris: Larousse, 1987. página 239.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise o mapa sobre a configuração dos vice-reinos da América espanhola, no século dezoito. Em seguida, compare-o com um mapa atual da América e cite o nome dos países localizados nos territórios correspondentes aos dos antigos vice-reinos do Peru, da Nova Espanha e da Nova Granada.

Agora é com você!

  1. O que foi a conquista espiritual? Explique sua importância para o projeto de colonização espanhola.
  2. Cite três estratégias utilizadas pelos religiosos para catequizar os indígenas. De que modos os indígenas resistiam a elas?
  3. Quem eram os adelantados? Por que eles se tornaram um problema para a Coroa espanhola?
Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: O mapa atual da América pode ser encontrado no final deste livro. Espera-se que, ao comparar os mapas, os estudantes identifiquem o Peru e a Bolívia como os países que ocupam o território correspondente ao do vice-reino do Peru, percebam que o México é a denominação contemporânea para o vice-reino da Nova Espanha e notem que o Equador e a Colômbia equivalem ao vice-reino da Nova Granada.

Agora é com você!

1. O termo conquista espiritual foi criado no século dezessete pelos jesuítas para nomear o processo de catequização dos indígenas da América do Sul. Sua importância estava relacionada ao contrôle e à subjugação dos indígenas, pois a conversão ao cristianismo aproximava-os da cultura europeia.

2. Entre as estratégias utilizadas, podem-se citar a encenação de peças teatrais, o aprendizado da língua dos indígenas pelos religiosos, a destruição de templos, estátuas e códices indígenas e a punição aos ameríndios que mantivessem seus costumes antigos ou faltassem às missas. Entre as fórmas de resistência indígena, podem-se citar a destruição e o roubo a igrejas, assim como o assassinato de religiosos.

3. Os adelantados (adiantados) foram os primeiros conquistadores que chegaram à América, sendo fundamentais para garantir a presença espanhola na região. Eles passaram a ser um problema para a metrópole porque se tornaram independentes da Coroa e conquistaram muito poder político e econômico, diminuindo a fôrça da monarquia no território americano.

Orientação para as atividades

Para realizar as atividades do boxe “Agora é com você!”, é necessário definir conceitos e enumerar e explicar os processos históricos correspondentes. Portanto, além de seguir os procedimentos de estudo e análise do texto-base, os estudantes precisarão exercitar esses procedimentos cognitivos associados à atitude historiadora. Comente com a turma, na preparação ou na correção das atividades, que os dois processos tratados (conquista espiritual e contrôle territorial) se serviram de diferentes agentes históricos e se realizaram com forte ação centralizadora da Coroa e também com forte resistência dos grupos indígenas. Sistematizam-se, portanto, conhecimentos necessários para que se produza uma visão de conjunto sobre o processo de colonização. Essa visão sistêmica é o objeto da ação docente.

Mulheres na América espanhola

As mulheres espanholas tiveram papel ativo no processo de colonização da América. A elas era atribuído, além do papel de mães, a manutenção dos valores cristãos na família. Nesse sentido, elas tinham a missão de garantir a presença das instituições espanholas nas terras ocupadas.

Mesmo assim, pelas leis espanholas, as mulheres eram consideradas seres incapazes, independentemente do grupo étnico de que faziam parte ou da posição social que ocupavam; por isso, deviam ser tuteladas pelos homens. Assim, as solteiras dependiam dos pais ou das instituições religiosas (quando órfãs). Quando se casavam, passavam para a tutela do marido.

Essas regras, porém, nem sempre correspondiam à prática. Se ficassem viúvas, as mulheres podiam, de acordo com a lei, administrar os negócios da família e até escrever petições ao Conselho das Índias.

A vida religiosa era uma opção recorrente para as mulheres da elite. A maioria das que sabiam ler e escrever na América espanhola teve educação religiosa. Uma delas foi a sóror (irmã) ruana inês de la cruz. Nascida em 1651, ela entrou para o Monastério de São José aos 16 anos e tornou-se escritora. Seus textos, lidos tanto na colônia quanto na metrópole, foram considerados referência do movimento artístico Barroco da América espanhola.

Pintura. Mulher usando roupas religiosas (vestido branco longo, com um manto preto por cima que cobre seus cabelos). Ela usa uma grande corrente com o símbolo da cruz e tem um quadro oval no peito. Está sentada em uma poltrona vermelha do lado de uma mesa coberta de um pano vermelho, onde há um livro aberto em que repousa uma das mãos. Na mesa, há um estojo com penas para escrever. Atrás dela, uma estante com livros e um relógio.
Retrato da sóror Juana Inés de la Cruz, pintura de Miguel Cabrera, 1750.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A sóror Juana é representada na imagem com trajes eclesiásticos em sua biblioteca. O retrato póstumoglossário reforça o caráter intelectual de sua vida e seu espaço no campo das letras.

Respostas e comentários

Tema Contemporâneo Transversal

Nesta página e na seguinte, discutem-se os papéis das mulheres na sociedade patriarcal da América espanhola e a atuação delas na vida privada e pública. São destacados aspectos como a subordinação jurídica em relação aos homens, a importância das mulheres na manutenção de valores fundamentais da sociedade, assim como a relativa autonomia que algumas delas conquistaram em determinadas situações. Portanto, trata-se de tema oportuno para historicizar as relações de gênero, estabelecendo pontes com o mundo contemporâneo, em diálogo com o Tema Contemporâneo Transversal Vida familiar e social.

Distintos papéis femininos

Por não ter origem nobre nem riqueza, a maioria das mulheres negras, indígenas, de origem asiática ou mestiças tinha mais liberdade de ir e vir, trabalhar e casar-se que as espanholas. No entanto, as mulheres que trabalhavam para sobreviver sofriam preconceito e eram consideradas desonradas e corrompidas. Dificilmente conseguiam tornar-se independentes, prosperar e enriquecer. Algumas eram escravizadas (negras, principalmente) e muitas, submetidas a trabalhos servis.

As mulheres das camadas médias trabalhavam ensinando às meninas a arte da tecelagem ou ajudavam o marido em pequenos estabelecimentos comerciais, como padarias, vendas de tabaco ou as chamadas pulperías – armazéns típicos da América espanhola. Se o marido falecesse, não era incomum que continuassem tocando os negócios.

Nas cidades, as mulheres mais pobres dedicavam-se a todo tipo de serviço doméstico, trabalhando como cozinheiras, lavadeiras, bordadeiras e tecelãs. Elas também forneciam alimentos e bebidas para os mercados locais e percorriam as cidades para vender doces, tecidos e roupas. Nas fazendas, elas cuidavam das crianças, dedicavam-se à produção e ao preparo dos alimentos, além de tecer e costurar. Suas tarefas eram cansativas e repetitivas, e as jornadas de trabalho eram longas.

Indígenas, negras e mestiças da colônia espanhola quase não tinham a oportunidade de seguir a vida religiosa, pois para isso era preciso pagar um alto dote ao convento, e as mais pobres não podiam arcar com essa despesa. Elas eram admitidas como religiosas de hierarquia mais baixa ou eram empregadas ou escravizadas nos conventos.

Fotografia. Mulher vista de lado com um turbante azul na cabeça. Ela está sentada no chão com as pernas esticadas, segurando um tecido vermelho esticado em um tear. Atrás e à frente dela há tecidos dobrados empilhados sobre um banco. Ao lado, no fundo da imagem, vários tecidos coloridos pendurados em varais.
Mulher maia tecendo em tear, Santa Catarina Palopó, Guatemala. Foto de 2019. Povos maias e seus descendentes estão presentes no México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A tecelagem é uma atividade desempenhada majoritariamente por mulheres, presente em diferentes culturas latino-americanas desde o período pré-colombiano. Os tecidos são confeccionados com base em uma grande variedade de técnicas, usando algodão ou fios de lã, em tons naturais ou tingidos. Chamado em alguns países de aguayo ou quepina, o pano produzido da tecelagem possui alta resistência e é usado para carregar crianças pequenas e itens agrícolas.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por meio da análise do papel das mulheres na sociedade da América colonial, incluindo as europeias, indígenas, negras e mestiças, é possível problematizar e historicizar as relações de poder segundo o recorte de gênero, favorecendo comparações da sociedade colonial com as do presente e de outros períodos. Dessa fórma, as discussões sobre o assunto contribuem para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 1 e da Competência Específica de História nº 1.

Ampliando

O trecho a seguir trata das condições de casamento das mulheres e do ingresso delas na vida religiosa na América.

“Na Carta de 1720/30, encontramos a seguinte informação: em Buenos Aires, muitas donzelas, em perigo de perder seu pudor virginal, foram recolhidas em casas de preservação sob a direção de uma senhora muito honrada, a qual havia oferecido para este fim sua própria habitação. Outras, já caídas, e convertidas depois, têm sido casadas honradamente, providas de um dote, proporcionado pela liberalidade de alguns ‘distinguidos’ cavalheiros. O dote era indispensável para a mulher poder casar. Sem ele, dificilmente uma mulher encontrava um marido. Por este motivo, os pais, desde cedo, procuravam guardar algum bem ou propriedade que pudesse garantir o futuro casamento de suas filhas. As meninas órfãs ou cujos pais não tivessem condições de dar-lhes um dote estavam destinadas a permanecer solteiras, como serviçais e, em muitos casos, transformavam-se em mulheres ‘caídas’, como diz a carta reticências. Também a entrada nos conventos lhes era vedada, devido à falta de dote. Entretanto, reticências a falta de dote não impediu a entrada de mulheres na vida religiosa. Muitas jovens prometiam donativos, mas não chegaram a pagá-los reticências.

Porém, geralmente, havia alguém que se responsabilizava pelas despesas, especialmente quando a jovem demonstrava grande virtude. A Carta Ânua de 1720/30 informa-nos sobre um homem muito rico, que havia feito os Exercícios Espirituais e, arrependido de sua anterior má vida, fez o propósito reticências de destinar o dinheiro que gastava antes com as mulheres para dote de donzelas pobres. Fez levantar um edifício que servisse para Casa de Refúgio de jovens, reticências colocadas ali sob a direção de algumas senhoras honradas reticências.”

FRANZEN, B. V. Mulheres e vida religiosa na sociedade colonial espanhola na província platina: as beatas da companhia. Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul, 15 abril 2009. página 3-4.

A sociedade na América espanhola

Antes de os espanhóis chegarem, viviam na América vários grupos culturais, com diferentes línguas e costumes. Os espanhóis não compreenderam essa diversidade. Para eles, esses povos eram todos similares e os chamaram de índios.

As consequências das conquistas militares e da colonização foram muito duras para a população indígena. Milhões de nativos americanos morreram em razão da violência militar nas guerras da conquista, das doenças contagiosas vindas da Europa e do trabalho desgastante e perigoso a que foram submetidos.

Além disso, os espanhóis pressionaram os indígenas a abandonar as terras em que viviam e, em certas regiões, desestruturaram o antigo sistema agrícola e de criação de animais. Isso causou a fome e o aumento da mortalidade.

Ainda assim, houve grandes regiões da América em que os indígenas continuaram vivendo sem muito contato com os espanhóis por todo o período colonial. E, mesmo nas áreas dominadas pela Coroa, os grupos indígenas notaram um benefício político no uso da palavra espanhola índio para identificá-los: como a Igreja não os considerava plenamente civilizados, não se podia culpá-los ou responsabilizá-los pela suposta situação incivilizada. Um exemplo: indígenas não podiam ser julgados pela Inquisição. Se incorressem em pecado grave, tinham tratamento diferenciado do dado a pessoas vindas da Europa ou a seus descendentes.

A existência de uma identidade genérica (índios) tornava mais negociáveis as relações entre a metrópole e a colônia e mesmo entre os diferentes grupos nativos.

Fotografia. Calçadão urbano com muitas pessoas transitando.
Movimentação de pedestres na Cidade do México, México. Foto de 2019. A sociedade colonial da América espanhola foi marcada pela presença de várias etnias e culturas, traço que se mantém nas grandes cidades latino‑americanas.

Dica

LIVRO

Histórias da América Latina, de Silvana Salerno. São Paulo: Editora Planeta de Livros, 2013.

O livro reúne contos de 22 países da América Latina baseados em lendas e mitos difundidos pela tradição oral de cada país. Ao final de cada conto, o livro apresenta também uma lista de fatos interessantes sobre o país.

Respostas e comentários

Tema Contemporâneo Transversal

Ao desconstruir a narrativa que homogeneíza os nativos da América, agrupando-os na categoria índios, o conteúdo coloca em evidência a multiplicidade de povos encontrados pelos europeus e a diversidade cultural presente nos territórios. Dessa fórma, trata-se de uma situação oportuna para explorar o Tema Contemporâneo Transversal Diversidade cultural.

• A América sob o domínio administrativo dos espanhóis era composta de uma grande variedade de grupos culturais, com línguas e costumes bastante diversos. Nessa parte do capítulo, discorre-se sobre a construção das categorias de indígena e espanhol, com suas singularidades, e a presença de outros grupos étnicos na colônia. Também são explicadas a construção da narrativa sobre o sistema de castas e a política de limpeza de sangue.

Posição social de indígenas e espanhóis

A maioria dos indígenas que tiveram contato com os espanhóis morava em pequenas cidades rurais chamadas pueblos. A vida desses indígenas continuou ligada à terra e à agricultura, mas a maioria deles se converteu ao catolicismo. Cada pueblo era representado por um santo protetor.

Os indígenas que viviam nas grandes cidades, como a Cidade do México, potozí ou Lima, em geral trabalhavam na casa de um senhor, desempenhando funções domésticas, como a limpeza e a preparação dos alimentos. Eles também trabalhavam na construção civil, em padarias, em mercados e na prestação de serviços, como os de barbeiros, sapateiros, marceneiros e ferreiros.

Os espanhóis que viviam na colônia americana vieram de diferentes locais do país. Havia castelhanos, estremenhos, galegos etcétera, mas em qualquer local fóra da Europa eles ficaram conhecidos apenas como espanhóis. Os nascidos na Espanha, depois de se fixarem na América, eram chamados chapetones ou peninsularesglossário . Eles ocupavam os altos cargos administrativos e podiam atuar no comércio internacional. Além disso, muitos tornaram-se grandes proprietários de terras e de minas.

Gravura. Em primeiro plano, homem indígena puxa carroça com duas rodas e, mais atrás, três homens indígenas o acompanham. Do lado direito, um moinho de vento com pessoas indígenas trabalhando dentro dele. Em segundo plano, em um vale, várias construções pequenas e uma maior com duas torres e, atrás delas, uma montanha alta com uma construção no topo. Ao fundo, do lado esquerdo, poucas construções e alguns moinhos de vento espalhados no vale.
Representação da cidade de potozí, no vice-reino do Peru, em gravura de cêrca de 1820.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao identificar as hierarquias sociais e étnicas nos primeiros séculos da colonização da América espanhola, relacionando-as com a estrutura política e administrativa desses territórios, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero oito.

• As informações sobre as posições e hierarquias sociais na América espanhola remetem ao conhecimento da sociedade do Antigo Regime e sua lógica estamental. Como se sabe, uma das características do Antigo Regime era a distribuição das posições e privilégios segundo as condições de nascimento, limitando a mobilidade social. Na América, as distinções sociais entre brancos, indígenas, negros e mestiços eram o ponto de partida para a distribuição do poder, conforme os privilégios, na fórma de cargos na estrutura administrativa, concedidos a tchápetones e criôlos.

• Nas colônias, a condição racial foi acrescida à lógica do nascimento. É seguro dizer, então, que a experiência americana aprofundou as hierarquias herdadas da sociedade do Antigo Regime, dando a elas uma tonalidade racial mais ou menos inédita. É importante notar isso para relacionar esse conteúdo a temas já estudados e para problematizar as sociedades contemporâneas que emergiram da colonização.

• Se possível, ao tratar da composição étnica das cidades e territórios sob domínio espanhol, apresente aos estudantes dados sobre a pirâmide social e étnica da atualidade em um dos países abordados, como Peru, México ou Equador, destacando a porcentagem de indígenas, negros e brancos. Assim, evidenciam-se a influência das diferentes etnias na composição populacional desses países e o peso dessa categoria no lugar social ocupado pelas gerações futuras, relacionando o conteúdo histórico ao mundo contemporâneo.

Criollos e mestiços

A reserva dos cargos aos chapetones era uma fórma de a administração metropolitana evitar a formação de uma elite local independente que questionasse as relações com a metrópole.

Os cargos locais, específicos para a administração dos pequenos povoados, eram destinados aos descendentes de espanhóis nascidos na colônia e conhecidos na Espanha como criollos.

O encontro entre espanhóis e indígenas gerou casamentos, mas também muitas relações não consensuais. Os filhos de espanhóis com indígenas eram chamados mestiços. Eles podiam ser acolhidos pela família de origem, principalmente se seus pais tivessem se casado na Igreja Católica. A maioria das pessoas nessa condição, porém, não tinha acesso a posições de poder e prestígio.

No fim do século dezesseis, mestiços e mulatos eram termos comuns na documentação colonial. Na Cidade do México, no fim do século dezoito, quase 50% da população era composta de espanhóis (tanto criollos quanto peninsulares), 24% eram identificados como índios e os demais eram mestiços, negros e asiáticos. Esses números não refletiam a realidade da população de todo o vice-reino, em que cêrca de 60% da população era de indígenas, sendo o restante mestiços, negros e asiáticos, e na qual apenas 2% tinha origem europeia.

Pintura. Um homem branco e uma mulher indígena manuseando alimentos em cima de uma mesa, com uma criança mestiça sentada ao lado observando-os.
Pintura. Uma criança mestiça segura um prato com frutas que uma mulher branca coloca acompanhados de um homem indígena. Em primeiro plano, uma mesa cheia de frutas.
Pinturas de andrés de islasque retratam a miscigenação da população mexicana, 1774.
Pintura. À esquerda, uma mulher indígena sentada no chão, entregando um prato para uma criança ao seu lado. À direita, um homem negro sentado em um banquinho está fazendo sapatos. Atrás dele, suportes de madeira com sapatos pendurados. Atrás da mulher, armário com louças. Ao lado dela, uma mesa baixa com alimentos em cima.
Representação de família composta de homem negro, mulher indígena e seu filho em pintura do século dezoito.
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Essas misturas entre etnias (chamadas de castas) era mostrada na arte colonial como uma fórma de categorizar as pessoas e marcar seu lugar na sociedade. Neste caso, como trabalhadores braçais especializados.

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Dados sobre a população na Nova Espanha foram retirados de: MÉXICO. 1er Censo de población de la Nueva España, 1790. Censo de Revillagigedo (um censo condenado). México: Secretaria de Programacion y Presupuesto, 1977. página 23.

Ampliando

No contexto da América espanhola, o termo mestiço, já empregado na Península Ibérica, ganhou outros significados relacionados aos povos indígenas, conforme explica o professor eidriân másters no texto a seguir.

“O conceito de mestiço tem uma longa história na Ibéria, mas seu significado era bastante aberto no início. De suas origens no latim vulgar em tratados teológicos ambíguos, passando por aparições em documentos da poesia provençal, no século doze, até sua estreia castelhana na Estoril do general Alfonso décimo de 1275, em referência a um blasfemador meio egípcio, meio israelita, e utilizado no manual agrícola impresso de Alonso de Herrera, de 1513, mestiço pode se referir a vários tipos de etnias neutras ou [de conotação] negativa, [de cunho] religioso, moral reticências. Não tinha status legal e nenhuma associação com uma população humana, tampouco conexão direta com o descendente hispano-indígena.”

másters, A. A thousand invisible architects: vassals, the petition and response system, and the creation of spanish imperial caste legislation. Hispanic American Historical Review, volume 98, número 3, página 396, agosto 2018. Tradução nossa.

O sistema de castas

A ligação entre as partes ocidentais e orientais do Império Espanhol era favorecida pela localização geográfica, que facilitava o deslocamento de pessoas e a fixação de estrangeiros no continente americano. Além de indígenas, chapetones, criollos e mestiços, viviam na América grupos culturais do Oriente, como filipinos, e da África.

A sociedade colonial era dividida em grupos. Formou-se, desde o século dezesseis, um sistema em que as pessoas eram identificadas: quanto mais parentesco tivessem com espanhóis, mais elevada era sua condição social.

No lugar mais alto dessa hierarquia social figuravam os chapetones e os criollos; no mais baixo, estavam os indígenas, os negros e os orientais. Os mestiços ficavam entre dois mundos – o dos europeus e o dos indígenas –, embora os espanhóis afirmassem que a mestiçagem criava problemas sociais. No geral, as camadas consideradas inferiores não podiam ocupar cargos públicos.

Assim, para evitar a mestiçagem, os espanhóis procuraram garantir casamentos (e filhos) apenas entre pessoas do mesmo grupo social. A divisão populacional baseada na proporção de mestiçagem foi uma violenta fórma de contrôle social e cultural para manter a América espanhola nas mãos da elite colonial. As misturas entre etnias ganhavam o nome de castas e eram muito malvistas.

Pintura. Três homens negros com brincos nas orelhas e no nariz, usando mantos longos detalhados, com rufos (gola redonda branca com babados). Eles seguram lanças em uma mão e chapéus na outra.
Os mulatos de Esmeraldas, pintura de Andrés Sánchez Gallque, 1599.
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Imagens em contexto!

A obra Os mulatos de Esmeraldas representa Francisco de arobe e seus filhos, Pedro e Domingo, ex‑escravizados que viviam na região de Esmeraldas, no território correspondente ao do atual Equador. O artista indígena andrés sántches gálque os desenhou vestidos com tradicionais roupas espanholas de seda, acessórios e adornos faciais de ouro de origem indígena, além de lanças de ferro de tecnologia tipicamente africana. A obra foi ofertada ao rei Filipe terceiro para mostrar a conversão desses senhores e sua cooperação com o Império Espanhol.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao demonstrar relações entre as várias partes do Império Espanhol, destacando a circulação de pessoas entre o Ocidente e o Oriente, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

Ampliando

Há um debate nas ciências humanas sobre a historicidade e as especificidades de práticas racistas no tempo e no espaço.

“A ideia de que a teoria das raças antecede o racismo – visão relativamente consensual entre os historiadores – pressupõe que a noção de ascendência étnica se desenvolveu na Europa dos séculos dezoito e dezenove de acordo com a teoria das raças, a qual definia a divisão natural da humanidade em subespécies dispostas de acordo com uma hierarquia. Segundo essa visão, a teoria das raças tornara-se uma ferramenta importante para criar e justificar a discriminação e a segregação. Tal abordagem atribui a responsabilidade de conflitos étnicos anteriores a antagonismos religiosos, e não a divisões modernas e naturais. Por fim, destaca o uso histórico do termo ‘raça’ em contraste com a criação, no século vinte, da palavra ‘racismo’. Na minha perspectiva, a classificação não antecede a ação. Embora reconheça o impacto crítico da estrutura científica veiculada pela teoria das raças, o preconceito em relação à ascendência étnica combinado com a ação discriminatória sempre existiu em diversos períodos da história. Os conceitos de sangue e de ascendência já desempenhavam um papel central nas fórmas medievais de identificação coletiva, ao passo que o moderno antagonismo étnico e racial foi, em grande medida, inspirado nos conflitos religiosos tradicionais.”

bitencur, F. Racismos: das Cruzadas ao século vinte. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. página 8.

• Assim como na América portuguesa, há registros de quilombos na América espanhola, principalmente na região do Panamá, território de encontros e fluxos de mercadorias de toda a América. Naquela área, havia uma expressiva quantidade de negros escravizados. Em 1556, o marquês de canhête, governador da região, relatou a fuga de negros escravizados, a formação dos cimarrones, ou quilombos, e as empreitadas para aniquilar a população desses locais.

Analisando o passado

No século dezoito, houve uma intensa produção de pinturas com representação de famílias formadas por pessoas de diversos grupos étnicos da América espanhola. Tais obras, que ficaram conhecidas como pinturas de castas, eram valorizadas por colecionadores dos dois lados do Atlântico, gerando comércio e guildas de pintura para produzi-las.

As séries de imagens tinham normalmente um padrão: dezesseis combinações de pai, mãe e filho, caracterizados com vestimentas e objetos ligados a atividades consideradas representativas de sua condição social e etnia. Por meio delas, pode-se perceber que, no pensamento daqueles que produziram as pinturas, quanto mais branca e com mais características europeias, mais “feliz” era a família.

Os mais pobres ou os integrantes de etnias consideradas “inferiores” do ponto de vista dos europeus eram sempre associados à violência. Os termos descritivos de cada pintura – como tente en el aire (“algo no ar”) e no te entiendo (“não o entendo”) – e nomenclaturas – como mulato (derivado de mula), coyote e lobo ou chino (derivado de cochino, que significa “porco”) – atribuídas às pessoas representadas, inclusive crianças, revelam o preconceito e a intenção de desestimular a miscigenação.

Analise, a seguir, duas dessas pinturas, produzidas pelos artistas Miguel cabrera e José de Alcíbar, ambos nascidos no vice-reino da Nova Espanha.

Pintura. À esquerda, homem branco usando casaco marrom comprido e um chapéu bege de abas largas abraça menina mestiça de camisa branca de mangas compridas e saia azul ao centro. À direita, uma mulher negra usando um manto preto cobrindo sua cabeça e tronco com um longo vestido estampado segura cesto com alimentos em uma das mãos.
De español y negra, mulata, pintura de Miguel cabrera, 1763.
Pintura. Um homem negro com camisa branca e casaco aberto vermelho ergue um pedaço de madeira na direção de uma criança mestiça, que está em sua frente e tem expressão assustada. Uma mulher indígena empurra a cabeça do homem com uma mão e puxa o lenço que está amarrado no pescoço dele com a outra mão. Ela usa vestido de mangas longas. Ao lado, uma mesa com alimentos sendo preparados e, ao fundo, uma estante com louças.
De negro y india sale lovo, pintura de José de Alcíbar, século dezenove.

Responda no caderno.

  1. Com base na caracterização dos personagens, identifique os grupos sociais que os artistas procuraram representar.
  2. Analise as imagens e responda: que expressões e posturas das figuras representadas revelam preconceitos étnicos na América espanhola?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver discussões sobre o sistema de castas e as ideias de pureza de raça, a seção contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero. Além disso, por meio da análise documental de fontes visuais, a seção propõe uma problematização a respeito das discriminações representadas artisticamente no contexto colonial, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 3 e nº 9 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 4.

Analisando o passado

Nessa seção, são apresentadas pinturas dos séculos dezoito e dezenove que representam o sistema de castas e as políticas de limpeza étnica na América espanhola. O conteúdo contribui para o exercício da análise de fontes visuais ao propor a comparação entre duas pinturas com o propósito pedagógico de desenvolver nos estudantes a compreensão sobre o uso da arte para exaltar ou para estigmatizar um grupo social, como no segundo em caso, em que a violência foi utilizada como recurso para caracterizar a cena representada. Além de incentivar o debate, pretende-se contribuir para a construção da empatia histórica fomentando atitudes de repúdio a quaisquer formas de discriminação e preconceito persistentes no mundo contemporâneo.

Interdisciplinaridade

O conteúdo da seção contribui para o desenvolvimento das habilidades do componente curricular arte ê éfe seis nove á érre zero dois – “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço” – e ê éfe seis nove á érre três um – “Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética”.

Atividades

1. Na pintura de Miguel cabrera foram representados um homem espanhol, possivelmente criollo, uma mulher negra e uma criança mestiça. José de Alcíbar retratou em sua pintura um homem negro, uma mulher indígena e uma criança mestiça.

2. As posturas e as ações dos tipos sociais representados indicam uma suposta desvirtuação da família nuclear. Na pintura de Miguel cabrera, a mulher negra é representada ligeiramente distante da filha, que, por sua vez, foi retratada mais próxima do pai, de origem criolla, que a envolve e parece acariciá-la. Isso dá ao observador a impressão de que o pai, “mais puro ou nobre”, estaria apto a cuidar da criança. Na pintura de José de Alcíbar, por sua vez, são representados um homem agredindo a esposa e uma criança que se desespera diante da cena, transmitindo a ideia da suposta instabilidade do núcleo familiar pobre e mestiço. A análise iconográfica pode ser uma oportunidade para refletir, de maneira crítica, sobre a violência contra a mulher, desnaturalizando-a.

As fórmas de trabalho na América espanhola

A atividade econômica mais importante e lucrativa na América espanhola era a extração de prata e de ouro. Portanto, a maior demanda de trabalhadores estava nas áreas onde existiam esses minérios.

O trabalho dos indígenas foi o mais explorado na América espanhola. Com o apoio da Igreja, a Coroa entendia que os indígenas não deviam ser escravizados, como acontecia, por exemplo, com os africanos na América portuguesa ou nas ilhas centrais do Caribe. Então, outras fórmas de trabalho compulsórioglossário foram impostas aos nativos.

Os colonos (chapetones ou criollos) organizaram a exploração do trabalho indígena nas minas de prata e de ouro e na produção agrícola e pecuária. Para isso, eles adaptaram práticas de cobrança de taxas pré-coloniais, como a mita, do antigo Império Inca (no vice-reino do Peru), e o cuatequil, do Império Asteca (no vice-reino da Nova Espanha). Essa relação, baseada no pagamento de impostos em fórma de trabalho, passou a se chamar repartimiento.

De acordo com esse sistema, os colonos podiam recrutar pessoas nas comunidades indígenas e obrigá-las a trabalhar nas minas, por tempo determinado, com baixa remuneração e pouca alimentação. O recrutamento podia ser feito pelos próprios colonizadores ou após acordos com líderes indígenas, que selecionavam os homens que trabalhariam nas minas.

O deslocamento de indígenas para minas de prata e o longo período de ausência dificultavam o retorno deles ao local onde moravam e prejudicavam as famílias. Depois de recrutar os trabalhadores, os colonos muitas vezes destruíam as plantações próximas às áreas onde os indígenas viviam para atrapalhar seu retorno. Além disso, os donos das minas endividavam os trabalhadores, manipulando suas contas no armazém, a fim de mantê-los mais tempo no trabalho forçado.

Gravura. Interior de uma mina, com pessoas indígenas trabalhando e segurando tochas, e algumas delas subindo uma escada de madeira que dá para uma abertura no topo da montanha. Ao fundo, do lado esquerdo, um rio cruza a região com algumas construções nas margens.
Interior do Cerro Rico, montanha de extração de prata de potozí, gravura de TEODOR DE BRÁI, 1597.
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Imagens em contexto!

A Montanha de Cerro Rico, na Bolívia, é parte da paisagem da cidade de potozí. Desse local, milhares de toneladas de prata foram extraídas para enriquecer os cofres da Espanha e de outros reinos europeus. No México e em outras regiões da América espanhola também foi encontrado o minério, mas a quantidade era bem menor que a de potozí. Para os indígenas, que trabalhavam forçadamente em péssimas condições, a exploração da prata significou muitas doenças, sacrifícios e morte precoce.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao descrever as fórmas de exploração do trabalho na colonização da América espanhola, o conteúdo desta dupla de páginas contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero oito, ê éfe zero sete agá ih zero nove e ê éfe zero sete agá ih um três. Já a discussão sobre as fórmas de trabalho compulsório e suas diferenças e semelhanças com a escravidão mobiliza a habilidade ê éfe zero sete agá ih um cinco.

Atividade complementar

O estudo das diversas fórmas de exploração do trabalho indígena na América espanhola suscita dúvidas sobre as reais diferenças entre exploração e escravidão. Por que essas fórmas de trabalho não são avaliadas como escravidão?

Proponha aos estudantes uma reflexão sobre essas modalidades de trabalho e suas relações com a escravidão. Para isso, peça-lhes que produzam uma dissertação contendo os seguintes itens:

• descrição de algum dos regimes de trabalho, como a mita ou a encomienda, estabelecendo comparações, em termos teóricos, com o trabalho escravo;

• reflexão sobre os impactos desse trabalho sobre os indígenas;

• comparação entre as fórmas de exploração do trabalho indígena e a escravidão.

Lembre-os de que uma boa dissertação deve ter uma introdução do assunto (apresentação do argumento), seu desenvolvimento (a argumentação) e uma conclusão.

Para auxiliar os estudantes na comparação das fórmas de exploração do trabalho e no aprofundamento dos conhecimentos prévios a respeito dos tipos de trabalho compulsório da colonização espanhola, proponha-lhes uma pesquisa sobre o conceito de escravidão.

Curadoria

A influência dos recursos naturais e dos aspectos físico-geográficos na configuração territorial da América do Sul (Artigo)

Luis Antonio Bittar Venturi. Ciência e Natura, Santa Maria, volume 38, número 2, página 716-721, 2016.

Nesse artigo, o geógrafo e professor Luis Antonio Bittar Venturi debate o modo pelo qual os recursos geográficos da América do Sul, aliados aos fatores históricos, produziram a configuração territorial do continente, assinalando como a atividade espanhola da mineração favoreceu a concentração de massas urbanas, o desenvolvimento de núcleos urbanos e de movimentos revolucionários.

A encomienda

Na encomienda, a administração do Império Espanhol permitia aos chapetones ou aos criollos usar a mão de obra dos indígenas na extração dos minérios e nas plantações. Em troca, o encomendêro se responsabilizava pela catequese dos grupos indígenas que explorava. A encomienda foi proibida e retomada diversas vezes ao longo do período colonial, sendo extinta no século dezoito.

A estrutura do repartimiento e da encomienda era violenta. Resultava na tomada de terras de populações indígenas, na exploração desmedida do trabalho nos ambientes tóxicos e perigosos das minas, no trabalho forçado nas tecelagens e no baixo pagamento pelas atividades realizadas.

A resistência à exploração

Muitas pessoas resistiram à violência desses sistemas por meio de petições, de subversõesglossário religiosas e da persistência na manutenção de suas crenças, línguas e tradições.

Uma das revoltas mais marcantes da história peruana foi a organizada, em 1780, pelo indígena José Gabriel condorcânqui. Inicialmente, por meio de petições, condorcânqui solicitou o fim da cobrança de impostos dos trabalhadores das minas, que, em razão das dívidas acumuladas, estavam sacrificando até crianças e idosos no trabalho da extração da prata.

Ao ser ignorado pelo governo espanhol, tupác amarú segundo – nome adotado por condorcânqui – liderou movimentos e rebeliões em vários pontos, reunindo até 100 mil indígenas. Ele foi derrotado em 1781. A crueldade das torturas a que foi submetido, até a morte, ainda é lembrada. Ele é considerado um dos principais defensores dos povos indígenas.

Fotografia. Cédula de dinheiro com a imagem, no canto direito, de um homem indígena com cabelos compridos e um brasão no centro. No canto inferior esquerdo o valor, 500 intis.
Cédula de 500 íntis, antiga moeda peruana, com a imagem de tupác amarú segundo, 1987.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Qual era o papel atribuído pela Igreja e pela política do Império Espanhol às mulheres na América espanhola? Explique por que nem todas as mulheres tinham os mesmos direitos.
  2. Qual era a principal atividade econômica que os espanhóis pretendiam desenvolver na América? Qual foi a principal mão de obra utilizada nessa atividade?
  3. Sobre o sistema de castas na América espanhola, responda:
    1. O que era esse sistema e quando ele começou a existir?
    2. Qual era a relação entre esse sistema e a tentativa dos espanhóis de impedir a mestiçagem?
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a revolta de tupác amarú segundo foram retirados de: GOLTE, J. Repartos y rebeliones: Túpac Amaru y las contradicciones de la economía colonial. Lima: IEP, 1980. página 202.

Agora é com você!

1. Os papéis atribuídos a essas mulheres eram o da maternidade e o do zelo pela manutenção dos valores cristãos na família. As mulheres das diferentes camadas sociais não tinham os mesmos direitos. Isso ocorria porque as negras, as indígenas e as de origem asiática ou mestiça eram consideradas inferiores aos homens e às mulheres europeus. As pobres e desprovidas de linhagem nobre tinham mais liberdade de ir e vir, de trabalhar e de casar-se, embora fossem estigmatizadas. Muitas delas eram escravizadas, principalmente as negras, ou submetidas a trabalhos servis. Para as mulheres da elite, a vida religiosa era uma opção recorrente.

2. A extração e o comércio da prata. A principal mão de obra utilizada foi a indígena (ou ameríndia).

3. a) O sistema de castas era uma fórma de ordenamento e hierarquia social imposta na América espanhola com base na origem étnica das pessoas. Esse sistema passou a vigorar de maneira sistemática a partir do século dezesseis para desestimular os casamentos entre pessoas de diferentes etnias. No topo da hierarquia social estavam os espanhóis (chapetones, seguidos pelos criollos) e, logo abaixo, a maioria da população: indígenas, mestiços, negros e orientais.

b) Segundo os colonizadores, a mestiçagem seria prejudicial para a sociedade da América espanhola, pois desvirtuaria os valores das etnias por eles consideradas “superiores”. Dessa maneira, os espanhóis reproduziram o discurso da “pureza de sangue”, a fim de impedir a mobilidade social.

Orientação para as atividades

Nessas atividades do boxe “Agora é com você!”, espera-se que os estudantes identifiquem papéis sociais, atividades econômicas e a mão de obra empregada, e descrevam os princípios e o funcionamento de estruturas sociais. Do ponto de vista do pensamento histórico, trata-se de criar uma visão sistêmica sobre a realidade – o que não é fácil, pois é preciso relacionar elementos para descrever uma estrutura. Para facilitar esse trabalho, proponha aos estudantes que:

• identifiquem e anotem os sujeitos (mulheres, mulheres da elite, mulheres indígenas etcétera) e seus atributos ou papéis, ordenando-os conforme sua posição na sociedade colonial;

• identifiquem a atividade econômica e a mão de obra associada;

• definam o sistema de castas em uma linha e identifiquem a sua duração;

• definam o princípio da “pureza de sangue” e o relacionem ao sistema de castas.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Analise as afirmações e, no caderno, identifique as verdadeiras e as falsas.
    1. Todas as instituições criadas na América espanhola pela Coroa eram idênticas às da Europa.
    2. A Casa de Contratação localizava-se em Sevilha e foi criada pelo Império Espanhol para controlar as colônias americanas.
    3. O Conselho das Índias era uma instituição espanhola fundada para ajudar a realeza a tomar decisões sobre o comércio com a Índia e a China.
    4. Os adelantados foram úteis à Coroa espanhola no início da colonização, mas depois foram combatidos pelo império em razão do aumento de seu poder autônomo.
    5. Os vice-reis eram nobres espanhóis escolhidos pela Coroa para administrar e controlar econômica e politicamente as colônias.
  2. No caderno, relacione as instituições às respectivas definições.
    1. Casa de Contratação.
    2. Conselho das Índias.
    3. Vice-reino.
    4. Cabeceras de indios.
    1. Sem localização fixa, seus membros eram responsáveis pela criação de leis e pela nomeação dos representantes do governo espanhol na América.
    2. Responsável pelo gerenciamento dos negócios entre a Espanha e a colônia na América.
    3. O poder dessa instituição sobre um território era dividido entre um espanhol e um líder indígena.
    4. Divisão territorial na colônia submetida politicamente à Coroa espanhola.

Aprofundando

3. Com base no que você aprendeu no capítulo, faça no caderno um desenho do modelo de cidade utilizado pelos espanhóis na América.

Versão adaptada acessível

3. Com base no que você aprendeu no capítulo, faça uma representação tátil do modelo de cidade utilizado pelos espanhóis na América. Materiais como cartolina, papelão, barbante, palitos de sorvete e botões podem ajudar a construir essa representação.

Orientação para acessibilidade

3. Caso possível, proponha a construção de uma representação tátil a partir de materiais de diferentes texturas. Uma aula antes, oriente os estudantes a respeito dos materiais que eles devem levar à sala de aula para realizar a atividade. Contrastes do tipo liso e áspero, fino e espesso, tendem a favorecer a percepção tátil dos estudantes. Dessa forma, podem ser utilizados material emborrachado, diversos tipos de papéis, palitos, linhas, botões etc. Auxilie os estudantes durante a seleção e a organização dos materiais. Para facilitar a percepção em alto-relevo, o traçado de quadrícula pode ser feito com materiais mais espessos. As ruas perpendiculares podem ser representadas por materiais mais maleáveis, como fios de barbante. Já a praça quadrangular pode ser representada por meio da colagem de palitos de sorvete. A transposição de uma representação visual para uma representação tátil tende a favorecer a ampliação do processo de ensino-aprendizagem. Se considerar pertinente, adapte o nível de complexidade da atividade.

4. Leia com atenção os textos e faça as atividades.

“Vindo da igreja, arranje sua casa. E se você é casado, e Deus lhe deu uma companheira que cuida de ordenar e governar a casa, entenda-se com o que é de fóra de casa, de acordo com o estado que Deus lhe deu. Porque uma coisa é certa: o dono da casa entende-se com os homens, e a senhora comanda e governa as mulheres.”

Tsumárraga, J. de. Regla cristiana breve, cêrca de 1540. Pamplona: Eunate, 1994. página 53. Tradução nossa.

“Ai do México! Ai do México por seus escândalos! Escândalos nas ruas, escândalos nos concursos, escândalos nos passeios e até nos templos sagrados de Deus reticências. Se apenas um escândalo serve para perder incontáveis, o que faria uma cidade inteira cheia de escândalos?”

la pára, J. M. de. (SIglossário ). Luz de verdades católicas. Madri: Joaquim Ibarra, 1789. página 223. Tradução nossa.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao propor a elaboração de uma dissertação a respeito da discriminação como fundamento da sociedade da América espanhola, problematizando a persistência de preconceitos raciais na sociedade contemporânea, a atividade 6 contribui para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 7 e nº 9.

Atividades

Organize suas ideias

1. a) F;b) V;c) F;d) V;e) V.

2. a) dois;b) um;c) quatro;d) três.

Aprofundando

3. O desenho deve assemelhar-se a um tabuleiro de xadrez, com traçado de quadrícula, ruas perpendiculares e, ao centro, uma praça quadrangular representando a praça principal, onde se concentravam o palácio do vice-rei, as câmaras administrativas e a igreja.

Curadoria

Sobre o Novo Mundo: a história e a historiografia das Américas na Primeira Modernidade em 10 entrevistas (Livro)

Anderson Roberti dos Reis, Luís Guilherme Assis kalíl e Luiz Estevam de Oliveira Fernandes. Curitiba: Prismas, 2018.

O livro reúne entrevistas de especialistas sobre o tema da historiografia da América, que elucidam conceitos caros ao tema da América colonial. Trata-se de uma boa referência de síntese para aprofundar aspectos históricos e as diversas interpretações historiográficas sobre o tema do capítulo.

  1. Identifique os autores dos textos.
  2. Explique o conteúdo de cada um dos documentos.
  3. Ao comparar os documentos, o que se pode afirmar sobre a vida na América espanhola?

5. Esta obra foi feita em 1750 e representa um casamento que ocorreu em 1572, em Cuzco, no Peru. Analise-a e, depois, faça o que se pede.

Pintura. No primeiro plano, no centro da imagem, dois homens brancos com batinas pretas, um segura um livro aberto e outro segura um crânio. Do lado direito, uma mulher branca de vestido rosa de mãos dadas com um homem branco com manto preto, calças justas, rufo no pescoço e chapéu preto e vermelho na mão. Do lado esquerdo, uma mulher indígena com vestido estampado e manto azul nos ombros de mãos dadas com um homem branco de cabelos compridos, casaco amarelo, calça bufante, e meias justas com laços azuis com um chapéu amarelo na mão. Ao fundo, à esquerda, pessoas indígenas com colares coloridos e adornos na cabeça observam as pessoas do centro. Ao fundo, à direita, pessoas brancas (homens de preto e mulheres de vestidos longos coloridos) observam as pessoas do centro.
Casamento de martin garcia ônhez de loióla e Beatriz Clara sairitupác, 1572, pintura de 1750. A princesa inca casou-se com um nobre espanhol, sobrinho do fundador da Companhia de Jesus.
  1. Que elementos visuais indicam que se trata do casamento de uma indígena com um espanhol?
  2. Que grupo social é representado, ao fundo, no canto esquerdo? E no canto direito?
  3. Essa cena foi reproduzida em várias pinturas posteriormente. Por que pessoas encomendavam a reprodução desse tipo de cena? Que interesse poderia existir na divulgação desse acontecimento tantos anos depois?
  1. Ao longo da colonização, as relações entre indígenas e espanhóis foram bastante complexas. Um dos elementos que marcou essas relações foi a questão física. Apesar de haver mistura étnica, a estratificação da sociedade em castas baseava-se em critérios que, hoje, chamaríamos de raciais. Com base nessa ideia, escreva uma dissertação sobre o tema do preconceito racial. Estruture a sua redação em três parágrafos, nos quais você deverá responder às questões dos itens a seguir.
    • Primeiro parágrafo: qual é o tema da sua redação? Por que esse tema é relevante?
    • Segundo parágrafo: na América espanhola, como a questão racial contribuía para a organização da sociedade? Houve mistura étnica nessa sociedade? De que tipo? A mistura étnica beneficiava os espanhóis e os indígenas igualmente? Por quê?
    • Terceiro parágrafo: o que você pensa sobre o fato de a etnia determinar a posição de um indivíduo na sociedade? Quais práticas como essa ocorrem nas sociedades contemporâneas, como a brasileira? Por que é importante combater atitudes desse tipo?
Respostas e comentários

4. a) O primeiro texto foi escrito pelo frei Juan de Tsumárraga e o segundo, pelo religioso jesuíta RuánMartínez de La Parra.

b) No primeiro texto, o frei destaca a importância da vida religiosa e do estabelecimento de uma família nuclear e institucionalizada, com um esposo e uma esposa cumprindo suas funções “naturais”. O segundo documento apresenta o espanto e a indignação do autor ao constatar escândalos morais no México colonial, até mesmo nas igrejas.

c) Pode-se deduzir que havia um embate entre os ideais de vida pública e privada da Igreja Católica e os interesses e as práticas que de fato ocorriam nas cidades coloniais.

5. a) Os trajes dos personagens representados, seus tipos físicos e os grupos sociais que aparecem ao fundo, com roupas tradicionais. O colorido no grupo da esquerda e o preto no grupo da direita, além do tipo de construção de cada lado da cena, demonstram que se trata do casamento de uma indígena com um espanhol.

b) Do lado esquerdo, são representadas pessoas da elite indígena inca e, do lado direito, homens e mulheres espanhóis, ligados possivelmente aos jesuítas, pois o casamento era de um descendente do fundador da Companhia de Jesus.

c) Provavelmente porque procuravam, no século dezoito, reforçar sua autoridade e legitimar os acordos feitos entre indígenas e espanhóis e seus descendentes. O século dezoito foi marcado pela resistência do povo indígena americano à exploração da Coroa espanhola, mas também por tentativas de integrantes da elite indígena, descendentes dos imperadores incas, de ser reconhecidos como nobres tanto quanto os espanhóis.

6. Espera-se que, ao realizar a atividade, os estudantes voltem para o texto-base e observem as pinturas apresentadas no capítulo, com especial destaque para aquelas presentes na seção “Analisando o passado”, que permitem uma reflexão sobre a temática racial. Espera-se também que, ao elaborar a redação, eles sistematizem os conteúdos de parte do capítulo para refletir sobre o mundo que os cérca, marcado por disputas e confrontos raciais de diversos tipos, e desenvolvam atitudes de superação de preconceitos, sobretudo os raciais. Encoraje os estudantes a revisar e reescrever o texto para que este se torne coeso e objetivo.

Curadoria

Sete mitos da conquista espanhola (Livro)

méfiu ristául. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

Nessa obra considerada clássica, méfiu ristául debate alguns mitos sobre a conquista espanhola construídos ao longo dos séculos pelos discursos oficiais e pela historiografia. Para desmontar as ideias errôneas que se perpetuaram, o autor busca incluir as perspectivas e agências indígenas em sua explicação do processo. Alguns pontos debatidos são: a imagem dos conquistadores como homens excepcionais; o mito de que os espanhóis guerrearam contra um grupo homogêneo de indígenas, sem explorar as disputas entre os diferentes povos ameríndios e as alianças estabelecidas entre estes e os espanhóis; o mito de que a conquista foi um evento rápido, não um processo histórico de séculos, com idas e vindas.

Glossário

Redução
: missão jesuítica para catequizar indígenas.
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Etnocêntrico
: centrado em um grupo étnico, considerando inferiores as sociedades ou povos diferentes desse grupo.
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Ameríndio
: indígena nativo americano.
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Retardatário
: atrasado, tardio.
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Traçado
: neste caso, desenhado, marcado.
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Petição
: instrumento jurídico em que se solicita ao poder público que regulamente ou aplique uma lei.
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Híbrido
: que apresenta mistura de elementos de diferentes origens.
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Póstumo
: feito após a morte.
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Peninsular
: nesse contexto, relacionado ao nascido na Península Ibérica, ou seja, ao território onde se localiza a Espanha.
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Compulsório
: imposto, obrigatório, forçado.
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Subversão
: revolta; rebelião.
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SI
: abreviatura de Societas Iesu (“Companhia de Jesus”).
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