UNIDADE 3 OS PRIMEIROS SÉCULOS DA AMÉRICA PORTUGUESA

A história e você: educação fiscal e cidadania

Nesta unidade, você estudará o início da colonização portuguesa na América.

Quando chegaram aqui, os portugueses não encontraram um lugar vazio: as terras estavam ocupadas por muitos grupos indígenas. Pouco depois, outros europeus, como franceses, ingleses e holandeses, também cobiçaram a região. Assim, para garantir a posse das terras, o rei de Portugal ordenou a construção de fortes e promoveu a efetiva exploração das terras por meio do incentivo ao comércio do pau-brasil e da instalação de engenhos de açúcar.

Essas atividades enriqueciam Portugal, que cobrava impostos sobre tudo o que era produzido na colônia. A Coroa também cobrava dos colonos taxas por tudo que eles importavam. Uma parte do que era arrecadado ia para Portugal; outra permanecia com os administradores coloniais. 

No período colonial, os súditos eram obrigados a pagar esses tributos ao rei e não recebiam quase nada em troca. No Brasil atual, cidadãos e empresas pagam impostos e taxas, mas, em contrapartida, esse dinheiro deve ser usado para garantir à população serviços de saúde, educação, segurança, habitação etcétera

Caminho que deve ser percorrido pelos impostos no Brasil

Infográfico. Caminho que deve ser percorrido pelos impostos no Brasil.
Há três ilustrações principais em destaque, conectadas por setas: 1. Cidadãos. 2. Governo. 3. Serviço público.  Em "2. Governo", a ilustração se subdivide em "Governo federal", "Governos estaduais" e "Governos municipais".

1. Cidadãos. Círculo branco contornado por linha pontilhada verde com a representação de um conjunto de pessoas segurando notas de dinheiro. Do círculo, saem duas setas verdes com a inscrição "Tributos". Uma delas, aponta para um círculo, à direita, com o texto acima dele:  "2. Governo federal". A outra aponta para dois círculos abaixo de "Governo Federal": um representa os "Governos estaduais", outro representa os "Governos municipais".

2. Governo federal.  Círculo verde com ilustração representando a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ao centro do círculo, está representado o Congresso Nacional, à direita o Supremo Tribunal Federal e à esquerda o Palácio do Planalto. Ao fundo, em verde escuro, há uma marca d'água de mapa do Brasil. De "Governo federal" partem três setas verdes com a inscrição "Repasse".  
Uma seta se dirige para um círculo menor, de cor de laranja, com a inscrição "Governos estaduais", logo abaixo. Dentro do círculo laranja, a ilustração de um grande palácio de dois andares com o mapa do Brasil em verde, ao fundo, com linhas dividindo os territórios dos estados e o estado do Pará em destaque, em verde escuro. Outra seta se dirige para um círculo azul, abaixo, à direita,  com a inscrição  "Governos municipais". Dentro do círculo azul, a ilustração de uma construção de dois andares com a fachada decorada por colunas, e o mapa da região Centro-Oeste do Brasil, ao fundo, com um marcador vermelho destacando uma cidade. 
A terceira seta vai diretamente para uma ilustração no canto inferior esquerdo, com a inscrição "3. Serviço público". 
Dos governos estaduais e municipais, também partem setas verdes, com a inscrição  "Investimentos", para a ilustração "3. Serviço público", à esquerda.

3. Serviço público.  Ilustração de uma rua com um hospital à esquerda e uma escola à direita. Há uma ambulância estacionada junto ao hospital e um ônibus próximo à escola. Em frente à escola, uma mulher e uma criança atravessam a rua na faixa de pedestres. Há placas de sinalização e árvores no entorno. De "3. Serviço público" parte uma seta verde com a inscrição "Retorno" para o círculo:  "1. Cidadãos" que representa os cidadãos, onde se inicia o infográfico.

FONTE: CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO. Orçamento da receita. Portal da Transparência. Disponível em: https://oeds.link/w1dk3Y. Acesso em: 9 fevereiro 2022.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A realização de uma enquete sobre a educação fiscal de adultos ajuda a promover a formação cidadã e o engajamento dos estudantes em questões relacionadas ao erário e aos serviços públicos, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 1, nº 2 e nº 4, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 2 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 2.

Tema Contemporâneo Transversal

Com a atividade, pretende-se introduzir, de forma simplificada, as temáticas da cobrança de tributos, do contrôle fiscal e do uso de recursos públicos, contribuindo para o desenvolvimento do Tema Contemporâneo Transversal Educação fiscal.

Interdisciplinaridade

Por envolver cálculos de porcentagem e planejamento de pesquisa amostral, com coleta e organização de dados, construção de gráficos e interpretação das informações, a atividade contribui para o desenvolvimento das habilidades do componente curricular matemática ê éfe zero seis ême ah um três – “Resolver e elaborar problemas que envolvam porcentagens, com base na ideia de proporcionalidade, sem fazer uso da ‘regra de três’, utilizando estratégias pessoais, cálculo mental e calculadora, em contextos de educação financeira, entre outros” – e ê éfe zero sete ême ah três seis – “Planejar e realizar pesquisa envolvendo tema da realidade social, identificando a necessidade de ser censitária ou de usar amostra, e interpretar os dados para comunicá-los por meio de relatório escrito, tabelas e gráficos, com o apoio de planilhas eletrônicas”.

Abertura de unidade

Essa unidade abarca os capítulos 7 (“América portuguesa: chegada dos europeus e início da colonização”), 8 (“A sociedade do açúcar e a expansão da América portuguesa”) e 9 (“O projeto holandês na América portuguesa e na África”) do volume. Nesse momento inicial, pretende-se contribuir para a formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. A cobrança de impostos na América portuguesa é tratada no capítulo 7.

O conjunto dos órgãos do governo que controlam a arrecadação dos tributos chama-se fisco. A população que tem educação fiscal conhece os impostos e as taxas que paga, sabe para que servem e cobra os governantes para investi-los bem. Assim, que tal fazer uma enquete e um gráfico sobre a educação fiscal dos cidadãos adultos que vivem na mesma comunidade que você? Para isso, observe as etapas a seguir.

Organizar

  • Com o auxílio do professor, elaborem um questionário para avaliar o que os adultos da comunidade de vocês sabem sobre os impostos que pagam. Formulem questões simples, que possam ter respostas objetivas e predeterminadas, como sim ou não.
  • Façam dez cópias do questionário, dividam essas cópias entre vocês e entrevistem pessoas da comunidade escolar, familiares e demais adultos conhecidos.
  • Em uma tabela, anotem o número de vezes que cada resposta foi dada e calculem sua porcentagem em relação ao total.
  • Com os dados da tabela, elaborem gráficos simples, em formato de pítsa ou de barras, para representar as respostas das questões.

Produzir

  • Reúna-se com quatro colegas e pesquisem, em materiais impressos ou na internet, os principais impostos e taxas mencionados nas entrevistas. Procurem saber: quais deles são cobrados pelo governo federal e quais são de competência dos estados e dos municípios; como é investido cada um deles; quais são cobrados diretamente pelos governos e quais estão embutidos no preço dos produtos e serviços; o que é sonegação fiscal e quais são suas consequências para o governo e a população; o que é nota fiscal e por que o consumidor deve sempre exigi-la.
  • Compartilhem o resultado da pesquisa com os demais colegas e prestem atenção à apresentação dos outros grupos.
  • Debatam esta questão: das informações encontradas, quais vocês já sabiam e quais desconheciam?
  • Façam cartazes com os gráficos produzidos com base nas entrevistas e criem pequenos textos sobre o que aprenderam ao pesquisar informações a respeito dos tributos e da importância de a população acompanhar o modo como eles são utilizados.

Compartilhar

  • No dia combinado com o professor, mostrem os cartazes para os colegas dos outros grupos.
  • Fixem os cartazes na sala de aula ou em outro local da escola autorizado pela direção. Caso seja possível, divulguem os trabalhos nas redes sociais.
Respostas e comentários

Atividade

Retome a atividade de abertura da unidade anterior, questionando os estudantes se algum tributo foi mencionado na discussão sobre o orçamento familiar. Pergunte-lhes se conhecem o significado das siglas í cê ême ésse, í pê Í e pís, presentes em notas fiscais, ou se sabem para que servem os impostos e as taxas identificados nos orçamentos familiares (como i pê tê ú, IPVA e taxa de iluminação). Ao comentar o texto de abertura, instigue-os a identificar as diferenças e as semelhanças entre os impostos atuais e os cobrados pela Coroa na América portuguesa. Para a elaboração do questionário, faça uma pré-seleção dos principais tributos cobrados no Brasil, apresente à turma o nome e a sigla de cada um e identifique sua principal destinação. Incentive os estudantes a formular as perguntas fechadas, revisando-as quando necessário. Sugira estas, por exemplo:

Você acha que os tributos são importantes para a sociedade? Sim. Não.

Você costuma pedir nota fiscal quando paga por um produto ou serviço? Sim. Não.

Quais destes tributos você paga? i pê tê ú. í cê ême ésse. ISS. i érre pê éfe. Í ó éfe. cofíns. Pís/pasépi. í pê Í. Outro(s): _______________.

Em quais desses lugares as pessoas pagam tributos? Açougue. Cabeleireiro. Parque de diversões. Hospital público.

qual ou quais destes serviços depende ou dependem dos tributos? Iluminação pública. Limpeza urbana. Escola pública. Policiamento. Transporte coletivo.

Ao formular as questões com os estudantes, destaque o fato de que alguns tributos – como í cê ême ésse (mercadorias), ISS (serviços), cofíns ePís/pasépi (conta de energia) – estão embutidos nos preços de produtos e serviços e são pouco conhecidos pelos cidadãos.

Ao final da aula, oriente os estudantes na realização das entrevistas. O mesmo questionário deve ser aplicado por todos os grupos. A quantificação das respostas pode ser realizada como tarefa de casa, mas é importante que a revisão dos dados seja feita em sala de aula com seu auxílio. Com a produção de dez entrevistas por grupo, pretende-se facilitar o cálculo das porcentagens. Para a produção dos gráficos, sugere-se o uso de softwares. Caso isso não seja possível, ajude os estudantes a calcular as porcentagens. Se necessário, peça auxílio ao professor de matemática para a realização dessa tarefa.

A etapa de pesquisa pode ser realizada na biblioteca da escola ou na sala de informática, com consulta à internet. Caso não seja possível, leve materiais impressos para a sala de aula ou oriente os estudantes a realizar a pesquisa como tarefa de casa em fontes confiáveis. Por fim, agende uma data para a apresentação dos cartazes. A atividade pode ser enriquecida com materiais complementares.

CAPÍTULO 7 América portuguesa: chegada dos europeus e início da colonização

Você provavelmente conhece esta narrativa: em 22 de abril de 1500, a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral chegou ao território correspondente ao do atual Brasil. Nos dias seguintes, os portugueses entraram em contato com a terra e com as pessoas que nela viviam, rezaram a primeira missa e relataram isso em uma carta destinada ao rei dom Manuel primeiro.

Você já imaginou como essa história seria narrada com base na visão dos indígenas? E por um artista e ilustrador que vive no Brasil de hoje?

Analise a imagem. Depois, leia a legenda dela e o quadro.

Colagem digital. Cartaz composto por uma gravura antiga como base, à qual são sobrepostos elementos de ilustração digital. No centro, na gravura original, há dois homens indígenas. Sobre essa representação, foram sobrepostas câmeras de vídeo profissionais, que aparecem na mão dos dois homens. Um deles, seminu, segura uma haste com um microfone na ponta, com cabos enrolados na cintura e tem uma câmera pendurada no pescoço. O outro veste uma camiseta vermelha, estampada com a capa do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol e segura uma câmera de filmagem. Ao fundo, há uma paisagem de uma praia com coqueiros e palmeiras à esquerda e uma caravela no mar à direita. Acima e abaixo, em inglês, o título: Brasil e a descoberta da Amazônia.
Caçadores de ficções coloniais, colagem digital de Denilson bãníua, 2021.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Denilson bãníua é um artista indígena brasileiro que se apropria de registros do passado, como imagens produzidas por antigos viajantes europeus, para questionar a versão da história tradicionalmente contada. Na série Ficções coloniais (ou finjam que não estou aqui), ele utiliza elementos da cultura pop para propor a inversão dessa narrativa.

Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Em sua opinião, por que Denilson bãníua representou os indígenas com câmera de vídeo e equipamentos de captação de som?
  2. Em muitas versões da história do Brasil, os povos indígenas são mencionados apenas nas narrativas de eventos do passado. Podemos afirmar que a obra de bãníua questiona essas narrativas?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Com essa abertura, questiona-se a narrativa canônica, isto é, a socialmente mais reconhecida sobre o chamado “descobrimento” do Brasil. Esse questionamento é importante para o desenvolvimento das Competências Específicas de História nº 4 e nº 6.

Abertura

Na abertura do capítulo, procura-se confrontar a narrativa tradicional sobre a chegada dos portugueses ao litoral do atual território brasileiro. Usualmente narrada como uma espécie de descoberta feita pelos portugueses, a presença colonizadora é apresentada de uma perspectiva indígena contemporânea. Assim, propõe-se a análise de uma imagem que faz parte da série Ficções coloniais (ou finjam que não estou aqui), produzida pelo artista gráfico indígena Denilson bãníua, a fim de chamar a atenção dos estudantes para a questão da agência indígena que estrutura boa parte do capítulo.

Atividades

1. Nas colagens e intervenções sobre as fotografias do século dezenove feitas pelo etnólogo e explorador alemão teodór kórr grrunberg, Denilson bãníua emprega a ironia e o sarcasmo para inverter a narrativa colonial, demonstrando que a história pode ser contada pela perspectiva dos nativos. Por isso, o artista representa os indígenas com equipamentos contemporâneos relacionados à produção de narrativas – no caso, o cinema.

2. Sim. A obra devolve aos indígenas o lugar de fala e o contrôle do processo de ficcionalização. É importante questionar a lógica de uma cultura indígena estática, estacionada no século dezesseis e apartada do processo histórico. Comente com os estudantes que é possível ser indígena e dominar tecnologias ou narrativas próprias da cultura pop. Diga-lhes, por fim, que o mais importante é compreender que o ser indígena não deve ser definido pelo olhar do outro. Esse é o principal debate suscitado pelas obras do artista Denilson bãníua.

Descoberta ou invasão: quem controla a narrativa?

Quando começou a história do Brasil: após a chegada dos portugueses em 1500 ou bem antes, quando os primeiros povos indígenas ocuparam o território? Para responder a essa questão, é preciso fazer uma série de escolhas.

Ao responder que a história do Brasil começou em 1500, adota-se o ponto de vista dos europeus. Essa visão transmite a ideia de que a presença dos povos originários foi menos importante que a dos colonizadores para a formação do país.

Já ao dizer que a história do Brasil começou com a ocupação do território pelos povos indígenas, confere-se importância aos povos indígenas na formação do país. Ao mesmo tempo, realiza-se um exercício de projeção do presente sobre o passado, pois antes da chegada dos portugueses, e mesmo um bom tempo depois disso, não havia a ideia de Brasil como país. Na América anterior à presença dos portugueses, os antigos habitantes desse território não se imaginavam como membros de uma nação, pois esse conceito era europeu.

O estabelecimento de critérios ou marcos temporais para narrar as origens da história brasileira não foi uma preocupação das pessoas que viveram no tempo histórico estudado neste capítulo. Tais critérios foram escolhidos ao longo dos séculos dezenove e vinte por grupos que atribuíram aos indígenas um papel secundário na história do Brasil.

Grafia dos nomes dos povos indígenas brasileiros

Nesta coleção, os nomes dos povos indígenas que vivem no Brasil foram grafados de acordo com a Convenção para a Grafia dos Nomes Tribais, aprovada em 1953 na Primeira Reunião Brasileira de Antropologia:

  • sem flexão de número ou gênero;
  • com inicial maiúscula quando usados como substantivo, sendo opcional quando usados como adjetivo.
Tirinha. História em três quadros. 
Apresenta Armandinho, menino de cabelos azuis, usando camiseta de manga comprida branca e calça azul.
Quadro 1: Armandinho está sentado em uma carteira escolar de madeira marrom, com uma mochila vermelha no chão, ao lado dele. Ele escuta uma pessoa que fala: “...e assim foi o descobrimento do Brasil!”.
Quadro 2: Armandinho questiona: “Como assim?”.
Quadro 3: Ele prossegue: “E a versão dos povos indígenas?”.
Armandinho, tirinha de Alexandre béc, 2015.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nessa tirinha, o personagem Armandinho, do ilustrador e cartunista brasileiro Alexandre béc, contesta a origem da história do Brasil como um processo de descobrimento português e defende o direito dos indígenas à narrativa.

Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

Refletir sobre as escolhas e os debates que envolvem a definição de marcos temporais para a origem da história do Brasil.

Identificar e analisar o contexto e os objetivos da viagem de Pedro Álvares Cabral, bem como as consequências de sua passagem pelo litoral do território correspondente ao do Brasil atual.

Analisar as primeiras décadas da ocupação portuguesa na América, assinalando a importância da extração e do comércio do pau-brasil durante o período.

Analisar as dinâmicas de aproximação e conflito entre os portugueses e as populações indígenas, valorizando os saberes produzidos por intelectuais e artistas indígenas contemporâneos sobre a colonização.

Reconhecer o contexto de implantação das capitanias hereditárias e a formação do governo-geral, identificando os principais eventos históricos que marcaram os governos de Tomé de Souza, Duarte da Costa e Mem de Sá.

Identificar e analisar os processos históricos que marcaram a fundação das colônias França Antártica e França Equinocial.

Justificativa

Os objetivos contribuem para reforçar o procedimento de periodização e localização espacial dos eventos e processos históricos pelos estudantes. Apresentam a história brasileira entrelaçada aos processos desencadeados na Europa, contribuindo para perceber a história como conexão entre espaços e movimento caracterizado pela mobilidade das populações. Os objetivos reforçam a multiplicidade dos sujeitos históricos, acentuando a visão pluralista da história.

Nas palavras de Denilson bãníua: “O mundo ocidental ficciona ataques alienígenas que destroem gente e cidades porque foi isso que fez ao longo dos tempos e teme um revide histórico. Pois, para os diversos povos originários deste planeta, um dia os alienígenas foram o mundo ocidental”.

A compreensão da história como criação dos sujeitos históricos é complexa para o 7º ano. É, contudo, fundamental que os estudantes desenvolvam a capacidade de refletir e questionar os conhecimentos históricos consolidados.

Rompendo com a visão eurocêntrica

A narrativa que vincula a formação do Brasil à ação civilizadora e desbravadora de navegantes portugueses é, hoje, contestada. A memória dos grupos indígenas, que por um longo período foi silenciada e apagada, tem sido resgatada por diferentes intelectuais.

Historiadores, educadores e escritores indígenas da atualidade questionam a visão eurocêntrica do passado, ou seja, a usada para interpretar o mundo considerando apenas os valores da cultura europeia. Em suas obras, eles analisam as narrativas que dão centralidade à figura do colonizador. Nessas narrativas, são utilizados estereótipos e preconceitos para associar os grupos indígenas, que são diversos e multiculturais, à pobreza material e à ausência de civilização.

O escritor e professor indígena Daniel mundurukú analisa o encontro entre europeus e povos originários com base na lógica do medo e do estranhamento. Segundo ele, os europeus procuraram destruir as diferenças entre europeus e indígenas por terem medo da floresta e não conseguirem compreender a diversidade cultural dos povos americanos. Ainda de acordo com o autor, as pessoas que têm medo fazem coisas sem refletir. Assim, é importante aproximar o universo indígena do mundo não indígena para que se possa substituir uma relação histórica baseada no medo pela lógica do respeito.

Fotografia. Em destaque, rosto de homem indígena de cabelos grisalhos curtos, com colares de miçangas brancas. Ele está sorrindo.
Kaká Uêrá Jecupé, autor de livros como A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio. Foto de 2022.
Fotografia. Homem indígena de cabelos pretos curtos, com colares de miçangas pretas e laranjas. Ele está sorrindo sentado diante de uma mesa e segura um livro aberto. Ao fundo, uma estante cheia de livros.
Daniel mundurukú na séde da Fundação bungue, em São Paulo (São Paulo). Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Assim como os escritores Daniel mundurukú e Kaká UêráJecupé, vários intelectuais indígenas dedicam-se ao estudo e à divulgação das tradições dos povos originários que vivem no território brasileiro.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1] História do Brasil a partir da perspectiva indígena

[TRILHA SONORA]

[LOCUTORA]: Você já reparou que o mesmo fato pode ser contado de diferentes pontos de vista? Historicamente, as visões de mundo que ganham voz são aquelas de cidadãos privilegiados, enquanto pessoas menos favorecidas lutam por ser ouvidas. Você já conversou com alguém de um povo indígena?

O que você acha que um indígena guarani tem a dizer a respeito da história do Brasil?

[THIAGO DJEKUPE]: Meu nome é Thiago Henrique Karai Djekupe. Eu tenho 24 anos. Sou liderança da Terra Indígena Jaraguá e Conselheiro Distrital de Saúde Indígena pela região de São Paulo. Hoje, somos representantes dessa retomada que é a Tekoa Yvy Porã, que é a Terra Sagrada.

Nós, povos tradicionais, a gente não tem esse... Esse acúmulo... Essa ganância de ficar acumulando riquezas... Nós vivemos de uma forma simples, com a nossa casinha mais próxima do tradicional, com um espaço para você poder nadar, para você poder pescar...

E quando se conta a história do país, conta a história de colonizadores que vêm como se fossem deuses, né? Que pegam todo o território... Se apropriam dele e... E começam a tomar as pessoas como suas escravas... Como seus bens materiais.

E o nosso povo foi um povo que não aceitou isso, que sempre entendeu, na nossa crença, no nosso conhecimento, que o mundo... Ele foi criado pra todo mundo viver como igual.

Então, a gente vivia nesse processo de migração, fugindo dos massacres do diruá, do não indígena, e conforme isso foi se passando ao longo do tempo... A história continua a mesma, né?

Você tem novos bandeirantes que são herdeiros de fazenda, herdeiros de riquezas do país, que continuam tentando escravizar o nosso povo, que continuam tentando roubar o nosso território, que continuam se dizendo donos daquilo que Ñanderu criou.

[LOCUTORA]: A Terra Indígena do Jaraguá teve sua primeira demarcação em 1987. Porém, na época, a FUNAI apenas considerou a área de confinamento da população Guarani, deixando de fora o espaço que os indígenas tradicionalmente ocupavam para plantar, coletar remédios e materiais para artesanato, entre outras atividades fundamentais para seu modo de vida.

Desde então, os Guarani reivindicam o direito garantido a eles na Constituição Brasileira de 1988, lutando por manter seguro seu povo, sua cultura e espiritualidade.

[THIAGO DJEKUPE]: Os Guarani, os povos indígenas, ainda vivem, ainda têm sua cultura, ainda têm sua crença e ainda dependem do seu território para poder sobreviver.

[LOCUTORA]: A história do Brasil tem mais de uma faceta. É um país que esbanja diversidade cultural, religiosa e social, portanto, dois aspectos fundamentais para assegurar a convivência e a sobrevivência de todos devem ser seriamente considerados: o diálogo livre de preconceitos e o respeito à diversidade cultural.

[FIM DA TRILHA SONORA]

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da chegada dos portugueses à América do ponto de vista dos indígenas, realizando a crítica ao eurocentrismo, o capítulo aponta um aspecto das conexões resultantes da expansão marítima, contribuindo para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois. Ao mesmo tempo, relaciona-se às competências necessárias para relativizar a própria identidade e compreender a variedade das interpretações da história, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1 e nº 4, bem como da Competência Específica de História nº 4.

Tema Contemporâneo Transversal

O destaque dado às visões indígenas sobre o descobrimento, bem como a crítica ao eurocentrismo formulada por intelectuais indígenas, contribui para desenvolver o Tema Contemporâneo Transversal Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Pode-se abordar o conceito de etnocentrismo como fenômeno cultural. Quando duas culturas entram em contato e os indivíduos estabelecem julgamentos uns sobre outros, manifesta-se o etnocentrismo. Essa manifestação pode ser exemplificada pelo juízo que gregos e romanos faziam dos bárbaros. Visto dessa perspectiva, o fenômeno pode ser considerado tão antigo quanto a própria humanidade. É preciso ressaltar, contudo, o fato de que o etnocentrismo é uma atitude marcada pela assimetria de poder. Durante a expansão europeia, a visão utilitária e mercantil da natureza e de outras sociedades predominou, criando uma percepção homogeneizante das culturas indígenas e tentando reduzi-las à imagem e semelhança das culturas europeias. Não houve, portanto, um encontro entre culturas, mediado pela empatia, seguido de um conflito sustentado na presunção de superioridade e na intolerância. Além disso, a visão dogmática da cristandade como a única via de salvação para a humanidade e a luta secular de cristãos contra o islamismo alimentaram posturas negativas dos europeus em relação aos ameríndios e às culturas africanas e asiáticas. A atitude etnocêntrica, portanto, teve longuíssima duração no contato das culturas ditas ocidentais com as demais. Tal postura se intensificou com a expansão marítima europeia e se consolidou com a ação imperialista ao longo dos séculos dezenove e vinte.

A chegada dos portugueses à América

O encontro entre portugueses e indígenas pode ser narrado de diferentes perspectivas, mas há um fato histórico inquestionável: no dia 22 de abril de .1500, a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral chegou ao litoral do território atualmente denominado Brasil, no local em que hoje é o estado da Bahia.

Como você estudou anteriormente, o interesse dos portugueses pelo Oceano Atlântico estava relacionado à descoberta e ao contrôle da rota comercial marítima que ligava a Europa ao Oriente. Em 1498, Vasco da Gama conseguiu chegar a Calicute, na costa ocidental da Índia. Dois anos depois, foi a vez de Pedro Álvares Cabral partir de Lisboa, liderando uma grande esquadra, com o mesmo objetivo.

A frota comandada por Cabral era composta de treze navios e cêrca de 1.500 tripulantes. Durante o trajeto, a rota traçada foi muito alterada e, depois de mais de trinta dias de viagem pelo Oceano Atlântico, os portugueses avistaram sinais de terra em uma região elevada, à qual deram o nome de Monte Pascoal. Poucos dias depois, desembarcaram no local correspondente ao do atual município de Porto Seguro e lá permaneceram por uns dez dias.

Alguns historiadores acreditam que o desvio da rota não foi acidental, pois Cabral estaria à procura de terras descritas por outros navegadores. No entanto, ainda não há documentos que comprovem que os portugueses chegaram ao Brasil intencionalmente.

Viagens marítimas portuguesas – séculos quinze-dezesseis

Mapa. Viagens marítimas portuguesas, séculos quinze e dezesseis. Apresenta planisfério com o nome dos continentes.
Legenda:
Linha vermelha: Viagem de Pedro Álvares Cabral.
Linha cinza: Ventos dominantes. 
Linha azul: Correntes marítimas.
No mapa:
A Viagem de Pedro Álvares Cabral parte de Lisboa, atravessa o Oceano Atlântico a sudoeste até Porto Seguro, no Brasil, contorna o Cabo da Boa Esperança, no sul da África, passa por Melinde, no atual Quênia e, por último, cruza o o Oceano Índico em direção a Calicute, na Índia.
Ventos dominantes no Oceano Atlântico, no Hemisfério Norte, partem de uma região próxima a Portugal em direção à costa nordeste da América do Sul. Ventos dominantes no Oceano Atlântico, no Hemisfério Sul, formam um círculo anti-horário da costa leste do território brasileiro em direção à costa oeste e norte do continente africano. Outros ventos partem da costa brasileira para o Oceano Índico, passando pelo Cabo da Boa Esperança, ao sul da África.
As correntes marítimas no Oceano Atlântico, no Hemisfério Norte, apresentam forma circular, sentido horário, entre Porto Santo, Madeira, Açores, Lisboa e Hispaniola (atual Ilha de São Domingo). As correntes marítimas no Oceano Atlântico, no Hemisfério Sul, partem do Golfo da Guiné, na direção da costa brasileira, e depois seguindo a oeste na direção do Oceano Índico.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 2.780 quilômetros.

FONTE: ATLAS histórico. São Paulo: enciclopédia Britannica do Brasil, 1997. página 88.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Identifique os fatores geográficos que favoreceram o desembarque da expedição de Cabral em Porto Seguro. Como eles contribuíram para o estabelecimento da rota representada no mapa?

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a viagem de Pedro Álvares Cabral foram retirados de: Chuárquis, L.; istárlin, H. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. página 26-27.

Resposta do “Se liga no espaço!”: Espera-se que os estudantes notem que os ventos e as correntes marítimas favoreceram a chegada da expedição a Porto Seguro. Como esses fenômenos eram fundamentais para a navegação, a expedição se distanciou da costa do continente africano e foi levada para o oeste, desviando-se da rota inicial.

Bê êne cê cê

Por relacionar a chegada dos portugueses à América às rotas comerciais do Oriente e envolver a análise de um mapa das viagens marítimas portuguesas no início da Idade Moderna, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih um um, ê éfe zero sete agá ih um três e ê éfe zero sete agá ih um quatro. Considerando que as navegações geraram um fluxo de populações e mercadorias, o conteúdo também mobiliza a Competência Específica de História nº 5.

Interdisciplinaridade

Em diferentes partes do capítulo, o conteúdo mobiliza habilidades do componente curricular geografia previstas para o 7º ano, principalmente a ê éfe zero sete gê ê zero nove – “Interpretar e elaborar mapas temáticos e históricos, inclusive utilizando tecnologias digitais, com informações demográficas e econômicas do Brasil (cartogramas), identificando padrões espaciais, regionalizações e analogias espaciais” – e a ê éfe zero sete gê ê zero dois – “Analisar a influência dos fluxos econômicos e populacionais na formação socioeconômica e territorial do Brasil, compreendendo os conflitos e as tensões históricas e contemporâneas”.

Comente com os estudantes que o deslocamento de europeus para a América modificou para sempre a história de pelo menos três continentes. Gradativamente, com a chegada dos primeiros colonizadores à América, todos os territórios do continente passaram a dispor de uma história comum. Apesar de terem se diferenciado no tempo e no espaço, os processos de colonização se interconectaram por uma série de fatores: a lógica de expansão da fé cristã, a conquista de povos nativos, a organização de povoados e centros urbanos pelas metrópoles europeias, a implantação da escravidão indígena e africana e o uso de idiomas europeus mesclados ao vocabulário indígena. Somaram-se a isso os intercâmbios culturais, alimentares e biológicos que determinaram os rumos da história mundial.

A escrita de um passado oficial para o Brasil

Em Porto Seguro, Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Cabral, redigiu uma carta ao rei de Portugal, dom Manuel primeiro, contando suas impressões sobre a terra em que estava.

Na carta, o escrivão explicou que Cabral parecia ter achado mais uma das ilhas do Atlântico. Além disso, ele mencionou a disponibilidade de água, descreveu os indígenas com os quais os portugueses tiveram contato e trocaram produtos e relatou a celebração da primeira missa. Apesar de os portugueses não terem plantado nada, o escrivão também contou sobre a fertilidade da terra e seu potencial para exploração.

Alguns dias após a chegada às terras americanas, a esquadra lançou-se ao mar novamente. Pero Vaz de Caminha morreu pouco tempo depois, a caminho das Índias. A expedição de Cabral, porém, chegou ao destino pretendido e voltou a Portugal cheia de especiarias e produtos de luxo do Oriente. O capitão ficou tão rico que nem planejou outra viagem.

Pintura. À direita e ao fundo da imagem, caravelas no mar e, em primeiro plano, um barco a remo com diversos homens brancos, uns com armaduras, outros com calças, mantos e túnicas e outros com batinas pretas, chegando à costa. Eles portam lanças com pontas de metal e estandartes com bandeiras. À esquerda, na praia, pessoas indígenas seminuas portando lanças de madeira observam a embarcação. No canto esquerdo, vegetação.
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, pintura de Oscar Pereira da Silva, 1922.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Após a inauguração do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (í agá gê bê), em 1838, o governo patrocinou a criação de uma história oficial do Brasil. Perguntas parecidas com a discutida no início deste capítulo foram feitas por intelectuais daquele período: quando começou a história do Brasil? Como narrar essa história? Naquele momento, temas considerados importantes foram resgatados, como o desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro. A principal fonte de informação analisada foi a carta escrita por Caminha. Note, na pintura, que o artista procurou representar um contato amigável entre indígenas e europeus.

Respostas e comentários

Interdisciplinaridade

A atenção conferida às representações da chegada dos portugueses à América por meio da pintura favorece o desenvolvimento das habilidades do componente curricular arte ê éfe seis nove á érre zero um – “Pesquisar, apreciar e analisar fórmas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético” – e ê éfe seis nove á érre zero dois – “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço”.

O destaque de Caminha à abundância da terra e à suposta maleabilidade de seus habitantes incorpora os dois fatores que estruturaram a expansão marítima: a integração de outras partes do mundo aos circuitos comerciais europeus e a expansão católica.

Ampliando

No trecho a seguir, o professor Eduardo Morettin analisa a obra de Oscar Pereira da Silva à luz das informações da carta de Pero Vaz de Caminha.

reticências

Em Desembarquereticênciasvírgula vemos muitos índios na praia, enquanto outros chegam pelas matas. Estão correndo, gritando e empunhando as suas lanças reticências. Observamos uma pequena embarcação se aproximando da terra. Nela, vemos os dois índios que haviam pernoitado na nau de Cabral, já vestidos e pedindo para os que se achavam na praia se afastassem e abaixassem o seu arco. Além deles, temos outros portugueses, alguns fortemente armados. No centro da tela, no ponto para onde converge o nosso olhar, estão Cabral e um assistente já em terra, dando início ao entendimento com o índio. Esta tela recria a atmosfera descrita por Caminha em relação ao terceiro contato. No entanto, apesar desta possível aproximação, este trabalho de Pereira da Silva mistura elementos da narrativa do escrivão, ao juntar dois momentos que ocorreram separadamente: primeiro, o episódio referente ao desembarque do degredado; segundo, o do comandante da expedição, como expresso pelo título. Trata-se de duas passagens diferentes. Ao transpô-las para o mesmo episódio, o pintor elide a precaução tomada pelo capitão ao desembarcar no território, bem como a estratégia que adotou para efetivá-la. [...]”

MORETTIN, E. V. Produção e fórmas de circulação do tema do Descobrimento do Brasil: uma análise de seu percurso e do filme Descobrimento do Brasil (1937), de Humberto Mauro. Revista Brasileira de História, São Paulo, volume 20, número 39, página 152, 2000.

Os indígenas dos primeiros contatos

Quando os portugueses chegaram às terras que se tornaram o Brasil, encontraram uma população ameríndia numerosa e diversa. Estima-se que viviam no território mais de mil povos indígenas, os quais falavam cêrca de .1300 línguas.

Eram denominados Tupi povos de várias etnias que falavam línguas semelhantes. Dois povos Tupi, os Tupinambá e os Tupiniquim, viviam no território que atualmente corresponde ao do litoral da Bahia e ao do estado de São Paulo.

Acredita-se que os indíge­nas que estabeleceram os primeiros contatos com os portugueses eram do povo Tupiniquim.

Povos indígenas no território do atual Brasil – 1500

Mapa. Povos indígenas no território do atual Brasil, 1500. Destaque para o mapa do Brasil.
Legenda:
Amarelo: Tupi.
Laranja: Macro-Jê.
Verde-escuro: Aruaque.
Verde-claro: Caraíba.
Roxo: Cariri.
Bege: Pano.
Rosa: Tucano.
Vermelho: Charrua.
Marrom: Outros grupos.
Linha cinza: Fronteiras atuais do Brasil.
No mapa:
Os povos Tupi ocupam o litoral nordeste e as regiões entre os atuais estados do Pará e Mato Grosso, entres os atuais estados da Bahia e de Minas Gerais e parte da região centro-sul do país.
Os Macro-Jê estão concentrados na região central do atual estado do Maranhão até a região do atual estado do Goiás e em regiões dos atuais estados de São Paulo e Paraná.
Os Aruaque viviam na região oeste do atual estado do Amazonas, em partes dos atuais estados de Roraima e Amapá, Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul.
Os Caraíba viviam no norte do atual estado do Amazonas, Roraima, norte do atual Pará e pequena porção no norte do atual estado da Bahia.
Os Cariri estavam concentrados no nordeste, em regiões dos atuais estados do Ceará, Pernambuco e Bahia.
Os Pano viviam na região que atualmente corresponde ao Acre e na região do Amazonas próxima ao Acre.
Os Tucano viviam em uma região à noroeste do atual estado do Amazonas.
Os Charrua estavam concentrados no sul do atual Rio Grande do Sul.
Outros grupos encontravam-se espalhados pela região leste do atual estado de Minas Gerais, pelo atual estado do Rio de Janeiro, pela faixa que vai dos atuais estados de Rondônia a Mato Grosso do Sul, e em uma pequena faixa central que pega o leste dos atuais estados do Pará e de Mato Grosso.
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 460 quilômetros.

FONTE: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 12.

Fotografia. Mulheres indígenas usando saias feitas de palha, coroa de flores amarelas na cabeça e colares seguram chocalhos durante uma apresentação. Ao fundo, uma tenda com pessoas não-indígenas.
Evento em comemoração ao Dia Internacional dos Povos Indígenas em Aracruz (Espírito Santo). Foto de 2019.

Dica

póde kést

Dia Internacional dos Povos Indígenas

Ademario Ribeiro e Gláucio Santos. Sistema ufópi de Rádio. Brasil, 2018. Duração: 5 minutosDisponível em: https://oeds.link/dKUTQ2. Acesso em: 9 fevereiro 2022.

Nesse podcast produzido pela Universidade Federal de Ouro Preto, o escritor e educador Ademario Ribeiro, da etnia Payayá, aborda a diversidade de povos indígenas que habitam o Brasil.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre as línguas indígenas foram retirados de: INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Línguas. Povos Indígenas no Brasil Mirim. Disponível em: https://oeds.link/GXji3t. Acesso em: 21 março 2022.

Bê êne cê cê

Ao tratar da distribuição dos povos indígenas em 1500 e de sua diversidade, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois.

Temas Contemporâneos Transversais

A compreensão da diversidade dos povos indígenas envolve os Temas Contemporâneos Transversais Diversidade cultural e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Interdisciplinaridade

Ao tratar da distribuição territorial dos grupos indígenas e das visões sobre o potencial econômico da América portuguesa, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade do componente curricular geografia ê éfe zero sete gê ê zero quatro – “Analisar a distribuição territorial da população brasileira, considerando a diversidade étnico-cultural (indígena, africana, europeia e asiática), assim como aspectos de renda, sexo e idade nas regiões brasileiras”.

Calcula-se que, por volta de 1500, viviam no território correspondente ao do Brasil atual aproximadamente 3,5 milhões de indígenas, que falavam diversas línguas das grandes famílias tupi-guarani, macro-jê, karib e Aruáque, sendo o idioma um dos fatores de diferenciação étnica.

Visualizar a distribuição dos povos indígenas é importante para dimensionar os efeitos dos encontros entre os ameríndios e as sociedades europeia e não indígenas, que continuam ocorrendo.

Para obter mais informações sobre os povos indígenas e a atual distribuição das suas terras, consulte o site Povos indígenas no Brasil, mantido pelo Instituto Socioambiental (Ísa). O mesmo instituto mantém, desde 1980, uma publicação intitulada Povos Indígenas no Brasil, cujo download pode ser feito gratuitamente em: https://oeds.link/aE7Yge. Acessos em: 16 março 2022.

As alianças

A colonização portuguesa só foi possível graças ao conhecimento dos indígenas sobre as espécies animais e vegetais do território. Para sobreviver na América, os portugueses precisaram, por exemplo, do conhecimento dos indígenas sobre raízes, como a mandioca e a batata-doce, outras espécies vegetais, como as abóboras, o milho e as palmeiras, e produtos de origem animal, como as larvas de taquara e as formigas tanajuras.

Foi também com os indígenas que os portugueses aprenderam a prática da coivaraglossário e o uso de vegetais nativos para a fabricação de medicamentos e de óleos utilizados na preparação de alimentos.

Gravura. Pessoas indígenas em terra com arco e flecha atiram em soldados europeus que estão em barcos a remo navegando em um rio. Alguns indígenas derrubam árvores dentro do rio. Os soldados que estão no barco atiram com armas de fogo na direção dos homens indígenas. Ao fundo, cenas de lutas entre soldados e indígenas.
Gravura colorizada de Theodor de Bry, produzida em 1592.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A gravura representa a guerra entre portugueses e seus aliados indígenas contra as fôrças indígenas e francesas durante a tentativa de invasão francesa à América portuguesa, que você estudará adiante. As diversas alianças estabelecidas entre portugueses e povos indígenas foram fundamentais para o triunfo do projeto colonizador.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique o que é uma visão eurocêntrica do passado. De que modo os intelectuais indígenas questionam essa visão?
  2. Caracterize as populações encontradas pelos portugueses no território que se tornaria o Brasil.
  3. Explique a importância dos conhecimentos dos diversos povos indígenas da América para o sucesso do projeto de colonização do território pelos portugueses.
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. Uma visão eurocêntrica sobre o passado é a utilizada para interpretar o mundo considerando como legítimos apenas os valores da cultura europeia. Intelectuais indígenas como Daniel mundurukú e Kaká Uêrá Jecupé têm problematizado narrativas e obras que atribuem aos europeus a centralidade do processo de colonização, tentando romper com os estereótipos e preconceitos que associam os grupos indígenas à pobreza e à ausência de civilização. Eles também procuram compreender o encontro entre europeus e indígenas com base na lógica do medo e do estranhamento.

2. Estima-se que, quando os portugueses chegaram, viviam no território mais de mil povos indígenas, que falavam cêrca de .1300 línguas. Os Tupinambá e os Tupiniquim (ambos Tupi) habitavam a região que corresponde aos atuais litoral da Bahia e estado de São Paulo. Acredita-se que foi com os Tupiniquim que os portugueses estabeleceram os primeiros contatos.

3. O triunfo de um projeto colonizador só foi possível graças às diversas alianças travadas entre portugueses e povos ou etnias indígenas. Para sobreviver em terras americanas, os portugueses se valeram, por exemplo, de raízes, como a mandioca e a batata-doce, de outras espécies vegetais, como as abóboras, o milho e as palmeiras, e de produtos de origem animal, como as larvas de taquara e as formigas tanajuras. Foi também com os indígenas que os portugueses aprenderam a prática da coivara e o uso da flora nativa na fabricação de medicamentos e de óleos e na preparação de alimentos. Dependentes das culturas e dos saberes locais, os portugueses mantiveram com os povos originários um jogo de trocas que ajudou a viabilizar os primeiros anos da América portuguesa e o posterior projeto de colonização.

Orientação para as atividades

A primeira atividade demanda a definição de um conceito complexo – o de eurocentrismo. Por isso, é importante discutir novamente com os estudantes tal conceito e as críticas às visões eurocêntricas. Na atividade 1, também se evidencia o protagonismo indígena no enfrentamento dessas visões e, portanto, a dimensão ética do conhecimento histórico. É importante destacar esse fato para os estudantes. As duas últimas questões envolvem a caracterização e a explicação, ou seja, dizem respeito à análise e à compreensão, respectivamente.

Os primeiros anos da América portuguesa

Depois da passagem de Pedro Álvares Cabral pelo litoral, a Coroa portuguesa demorou trinta anos para iniciar a colonização do território. Isso porque o rico comércio de especiarias com o Oriente concentrava boa parte das atenções do Estado português no início do século dezesseis.

Esse período de 1500 a 1530, em que Portugal demonstrou pouco interesse pelo território americano, costuma ser chamado pré-colonial. Nele, a principal atividade econômica realizada foi a extração de pau-brasil (paubrasília equinata), ou ibirapitanga, como a madeira era chamada pelos povos Tupi que habitavam o litoral. A árvore era uma das cêrca de 8 mil espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, que, por volta de 1500, ocupava mais de 100 milhões de hectares (o equivalente a mais de 100 milhões de campos de futebol).

A floresta se estendia pela faixa litorânea entre o que hoje são os estados da Paraíba e do Rio Grande do Sul, avançando centenas de quilômetros para o interior em algumas regiões.

Estima-se que, entre 1500 e 1532, tenham sido extraídas da Mata Atlântica cêrca de 300 toneladas de pau-brasil por ano, o que provocou o desmatamento de grandes áreas.

Fotografia. Árvore vista de baixo, com tronco alto e muitas raízes expostas. Seu tronco possui alguns espinhos. No alto, aparecem as copas das outras árvores.
Pau-brasil de mais de 600 anos, encontrado no sul da Bahia. Foto de 2020.
Carta náutica. À esquerda da imagem, representação da costa leste do território que atualmente pertence ao Brasil. Nela, se observa desenhos de muitas árvores, pessoas indígenas, algumas delas cortando e transportando toras de madeira, e diversos animais, como araras e macacos. À direita da imagem, o Oceano Atlântico, onde se nota bandeiras vermelhas com escudos azuis espalhadas demarcando algumas ilhas e desenhos de várias caravelas e outras embarcações.
Terra brasílis, carta náutica atribuída a Lopo Homem e Pedro Reinel, 1515-1519. Essa carta faz parte de uma coleção intitulada Atlas Miller, com dezenas de outras cartas náuticas.
Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

A carta contém uma representação detalhada do litoral brasileiro. O que ela revela sobre a exploração do pau-brasil?

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a exploração do pau-brasil foram retirados de: sáimonsen, R. História econômica do Brasil: 1500-1820. 8. edição São Paulo: Nacional, 1978. página 61.

Resposta do “Se liga no espaço!”: A carta náutica revela que o pau-brasil era um recurso natural abundante no período e era extraído pelos indígenas, representados cortando árvores e transportando a madeira.

Bê êne cê cê

Ao tratar do aprendizado, pelos europeus, de saberes e técnicas indígenas, o conteúdo favorece o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero dois e ê éfe zero sete agá ih zero três. Ao abordar a integração dos recursos naturais americanos aos circuitos comerciais europeus, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um três.

Tema Contemporâneo Transversal

Ao ressaltar os usos do pau-brasil e a exploração da Mata Atlântica desde o início da colonização, o conteúdo contribui para a reflexão sobre a relação do ser humano com a natureza, favorecendo a abordagem do Tema Contemporâneo Transversal Educação ambiental.

Interdisciplinaridade

O conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades do componente curricular geografia relativas à formação socioeconômica e aos impactos ambientais: ê éfe zero sete gê ê zero dois – “Analisar a influência dos fluxos econômicos e populacionais na formação socioeconômica e territorial do Brasil, compreendendo os conflitos e as tensões históricas e contemporâneas” – e ê éfe zero sete gê ê zero seis – “Discutir em que medida a produção, a circulação e o consumo de mercadorias provocam impactos ambientais, assim como influem na distribuição de riquezas, em diferentes lugares”.

A imagem do Atlas Miller é um caso interessante de corografia, uma fórma de representação espacial que combinava a descrição visual do espaço, semelhante à da moderna cartografia, a seus atributos naturais e humanos. Por vezes, a corografia também apresentava atributos da ordem do “maravilhoso” (animais monstruosos, por exemplo). Ainda se estava longe das imagens objetivas da cartografia moderna, que seriam criadas ao longo da expansão marítima europeia. O importante nessa corografia era indicar as potenciais riquezas da terra e as informações necessárias para a navegação segura.

Curadoria

Mapas históricos do Brasil (Site)

Disponível em: https://oeds.link/3fhJFT. Acesso em: 16 março 2022.

Nessa página do site Guia Geográfico História do Brasil, há vários mapas históricos relacionados à formação do território do Brasil. Excelente fonte de pesquisa para as aulas e para os estudantes.

A prática do escambo

O córte e o armazenamento do pau-brasil eram realizados por indígenas aliados dos europeus em regime de escambo, isto é, por meio da troca de produtos ou de serviços sem a utilização de moeda.

Os indígenas trocavam os produtos da terra, principalmente o pau-brasil, por facas, machados, contas de vidro, panos e outros objetos que aprenderam a apreciar e valorizar. Sabe-se, por exemplo, que eles tinham preferência por objetos que facilitavam as tarefas cotidianas, como machados, enxadas, foices e outras ferramentas de metal.

Os europeus e os indígenas entendiam o escambo de maneira distinta. Para os europeus, era uma atividade mercantil com a finalidade de obter lucro. Já os indígenas compreendiam que a troca de produtos estreitava os laços com os portugueses e os franceses, tornando-os seus aliados.

Ilustração. Praia do lado esquerdo e mar do lado direito, com vegetação e alguns coqueiros ao fundo. No canto direito, em primeiro plano, um homem indígena está em pé na água recebendo um objeto de um homem branco com roupas bufantes que está em cima de um barco. Atrás deles um homem e uma mulher indígenas estão agachados; a mulher indígena observa uma faca e uma foice que tem em mãos. Um homem branco também está agachado e no chão há alguns potes e rolos de tecido, e um pouco atrás um baú aberto com objetos coloridos dentro. Na frente deles, um homem branco em pé com um manto de mangas bufantes segura um colar de contas e uma faca. Atrás dele, um homem com armadura segura um escudo em uma mão e um estandarte com uma bandeira branca e uma cruz vermelha na outra. Ao fundo, dois homens brancos com armaduras atracam outro barco na praia. Do lado esquerdo, pessoas indígenas carregam toras de madeira e outras pessoas indígenas estão com machadinhas nas mãos cortando as toras.
Ilustração atual representando a prática do escambo.

FONTE: FARIA, A. A. da C.; SANT'ANNA, M. de. Caravelas do Novo Mundo. 16. edição São Paulo: Ática, 2003. página 26-27. (Cotidiano da história).

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Por ser muito resistente, a madeira do pau-brasil era usada pelos indígenas para fazer utensílios, armas e habitações. Na Europa, os pigmentos naturais avermelhados extraídos da madeira eram usados no tingimento de tecidos e simbolizavam riqueza e poder. Por conta da exploração dessa espécie, desde 1992 o pau-brasil está na lista oficial da flora brasileira ameaçada de extinção.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar do escambo e de seus diversos significados para europeus e indígenas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um três.

Tema Contemporâneo Transversal

O questionamento sobre os diferentes significados do escambo para indígenas e europeus envolve o Tema Contemporâneo Transversal Diversidade cultural.

A troca de objetos tem uma longa história, tendo sido praticada por diversas sociedades em diferentes tempos. Ela pode ter caráter ritual ou sinalizar o desejo de relações pacíficas, por exemplo, como ocorre no exercício da diplomacia. Pode, ainda, sinalizar o estabelecimento de alianças e a demarcação de posições e státus diferentes entre grupos diversos. O escambo é um acordo informal em que a troca sinaliza uma relação econômica, mas seus aspectos rituais não desaparecem completamente. Normalmente, o escambo está associado a economias nas quais se produzem e se trocam mercadorias para atender às necessidades de consumo, estabelecendo-se, assim, relações cooperativas. No período moderno, o escambo foi submetido à lógica mercantil, pois a economia colonial, que incluía a Europa, a África e a América, não era exatamente monetária. A troca do pau-brasil pelo trabalho indígena integrou a Europa e a América e criou lógicas diversas de atribuição de valor às coisas. Um pouco mais tarde, a troca direta também organizaria o tráfico atlântico de escravizados, assunto abordado nos capítulos seguintes.

Os indígenas davam valor aos produtos sem importância para os europeus (espelhos, miçangas, panos e instrumentos de ferro). O valor de uso era o que importava na composição de adornos, por exemplo. O sentido simbólico da troca também se destacava, pois o sistema de alianças dos grupos indígenas implicava uma sinalização objetiva dessas relações. O mais importante, porém, era a valorização dos instrumentos que podiam reduzir o tempo de trabalho. As sociedades indígenas não prezavam o acúmulo, e o trabalho limitava-se ao necessário. Ao reduzir a faina na abertura de capoeiras para o roçado, nas atividades de plantio e na confecção de instrumentos, os indígenas podiam dedicar mais tempo a afazeres mais significativos para sua sociedade: sua cosmologia, o cuidado com os parentes, a confecção de adornos e instrumentos, bem como o antagonismo em relação aos inimigos.

O início da colonização

A partir de 1530, Portugal passou a dedicar mais atenção à América. Essa mudança de postura estava relacionada a três fatores:

  • a redução dos lucros no comércio de especiarias orientais por causa da concorrência com outros povos europeus, principalmente holandeses e franceses;
  • o medo da invasão dos domínios portugueses por outras nações europeias, que tinham intenção de explorar o pau-brasil;
  • a possibilidade de descobrir jazidas de ouro e prata na América portuguesa, como as encontradas nas colônias espanholas.

Assim, o governo passou a incentivar a vinda de portugueses para o território americano a fim de colonizá-lo.

Oficialmente, a primeira expedição colonizadora foi comandada por um nobre português chamado Martim Afonso de Souza, que veio com a missão de expulsar os franceses do litoral e criar núcleos de povoamento. Ele fundou no litoral do atual estado de São Paulo a primeira vila da colônia, a de São Vicente, em 1532.

Fotografia. Em primeiro plano, homens caracterizados de indígenas, usando penas na cabeça e saiotes estão de costas, voltados para uma rampa onde estão homens vestidos com mantos, calças bufantes e meias compridas. De cada lado da rampa, homens com armaduras seguram lanças. Ao fundo, no palco, pessoas com roupas típicas de portugueses (bermuda ou saia verde, camisa branca com colete vermelho e touca verde) carregam bandeiras brancas com cruzes vermelhas.
Apresentação teatral durante a 38ª edição da Encenação da Fundação da Vila de São Vicente. São Vicente (São Paulo). Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A celebração de datas, personagens ou locais históricos faz parte da criação de narrativas sobre o passado. Eventos do presente, como o da fotografia, lembram aspectos importantes da história colonial, mas contribuem para o esquecimento de outros. Feita no local em que ocorreu o desembarque dos navios comandados por Martim Afonso de Souza, em 1532, a encenação retoma a perspectiva europeia dos eventos, celebrando a lógica de um contato amigável entre indígenas e portugueses.

Respostas e comentários

BNCC

Ao tratar das iniciativas de colonização mais permanentes, bem como das imagens que delas se criaram, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de História nº 4 e nº 5.

O processo de expansão marítima e comercial articulou-se a outros, como o de formação e consolidação dos Estados monárquicos europeus e o de reformas religiosas, estes também ligados à dimensão política dos Estados. Nesse contexto, o domínio das rotas atlânticas e das que conduziam ao Índico era disputado por Portugal e Espanha com outras potências europeias.

A cronologia da colonização da América portuguesa é mais bem compreendida quando articulada à das conquistas portuguesas no Oriente. Sabe-se que, entre o fim do século quinze e a metade do século dezesseis, o esforço da empresa marítima lusa se dirigiu a completar e assegurar as rotas e entrepostos orientais. Isso explica o papel secundário da América no Império Português até a metade do século dezesseis. No entanto, as terras americanas foram disputadas desde a chegada da frota cabralina à América.

Comerciantes franceses, com o apoio da monarquia francesa, que sempre questionaram a partilha do mundo estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, armavam anualmente navios para comercializar com os indígenas em diferentes pontos da costa brasileira. Diante da intensificação dessas expedições, os portugueses adotaram medidas para efetivar a colonização do território. Um marco dessas disputas entre projetos coloniais seria estabelecido nos episódios de fundação da França Antártica e da França Equinocial.

Ao propor a observação da imagem da encenação da fundação de São Vicente, reforce aos estudantes a ideia apresentada no boxe “Imagens em contexto!” a respeito da criação de narrativas oficiais sobre o passado. Trata-se de um momento oportuno para incentivar, mais uma vez, a reflexão sobre os limites e problemas da criação de uma memória oficial.

A administração da colônia

A partir de 1534, com o objetivo de aprofundar o processo de colonização, o Estado português concedeu a nobres o direito de administrar lotes de terra denominados capitanias hereditárias. Entre as obrigações desses nobres, chamados donatários, estavam a fundação de vilas, o patrulhamento contra a invasão de estrangeiros e piratas, a concessão de sesmarias (lotes de terra) a colonos e a cobrança dos tributos na região.

O sistema de capitanias, no entanto, não deu certo por diversos motivos. O principal foi a distância entre uma capitania e outra, o que dificultava a comunicação entre elas. Como a população europeia era pequena, o isolamento podia ser fatal em caso de ataque indígena ou de piratas, crises de abastecimento etcétera Por isso, só as capitanias de Pernambuco e São Vicente obtiveram sucesso no plantio e na comercialização do açúcar. Todas as outras fracassaram no objetivo inicial de promover o povoamento europeu e a exploração do território.

A partir de 1548 foi instituído o governo-geral. Com ele, a administração da colônia foi centralizada. O objetivo da Coroa portuguesa era tornar a colonização mais efetiva e controlada, ajudando as capitanias a se desenvolver.

Entre 1548 e 1808, 53 governadores-gerais foram nomeados pelo rei de Portugal, destacando-se os três primeiros: Tomé de Souza, Duarte da Costa e Mem de Sá.

Com Tomé de Souza, chegaram à América portuguesa, em 1549, cêrca de mil homens, entre eles funcionários da Coroa portuguesa, soldados, degredadosglossário , um arquiteto e cinco jesuítas liderados pelo padre Manuel da Nóbrega. Durante o governo de Tomé de Souza, foi fundada a cidade de Salvador, futuro centro político-administrativo da colônia.

Capitanias hereditárias – século dezesseis

Mapa. Capitanias hereditárias, século dezesseis. Destaque para o território leste delimitado pela Linha do Tratado de Tordesilhas, que corta o atual Brasil de norte a sul. 
Sem legenda. 
O mapa apresenta as capitanias hereditárias, de norte a sul: Maranhão (primeiro lote), Maranhão (segundo lote), Ceará, Rio Grande, Itamaracá, Pernambuco (incluindo a cidade de Olinda), Baía de Todos-os-Santos, Ilhéus, Porto Seguro (incluindo a cidade de Porto Seguro), Espírito Santo, São Tomé, São Vicente (primeiro lote), Santo Amaro, São Vicente (segundo lote) incluindo a cidade de São Vicente) e Santana. 
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 300 quilômetros.

FONTE: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 16.

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Coroa portuguesa dividiu seus domínios na América em quinze lotes de terra, separados por uma série de linhas paralelas ao Equador entre o litoral e a linha do Tratado de Tordesilhas. Essas terras, oferecidas a membros da pequena nobreza e a alguns militares responsáveis pela conquista de territórios na América, eram maiores do que muitos países europeus na época.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a comitiva de Tomé de Souza foram retirados de: FAUSTO, B. História do Brasil. 4. edição São Paulo: Edusp, 2011. página 46.

Bê êne cê cê

Ao ressaltar a administração das capitanias por meio do mapa, o conteúdo favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um um. Ao tratar dos deslocamentos populacionais provocados pela tentativa de assegurar a colonização e ao mencionar a escravização dos grupos indígenas e as fórmas de resistência empregadas por eles, o conteúdo mobiliza as habilidades ê éfe zero sete agá ih zero oito, ê éfe zero sete agá ih zero nove, ê éfe zero sete agá ih um dois e ê éfe zero sete agá ih um seis.

Ampliando

No texto a seguir, Boris Fausto aborda aspectos do sistema de capitanias hereditárias.

“Os donatários receberam uma doação da Coroa pela qual se tornaram possuidores, mas não proprietários da terra. Não podiam vender ou dividir as capitanias, cabendo ao rei o direito de modificá-la ou mesmo extingui-la. A posse dava aos donatários extensos poderes tanto na esfera econômica e na arrecadação de tributos como na esfera administrativa. reticências Do ponto de vista administrativo, tinham o monopólio da justiça e autorização para fundar vilas, doar sesmarias, alistar os colonos para fins militares e formar milícias.

A atribuição de doar sesmarias deu origem à formação de vastos latifúndios. A sesmaria foi conceituada no Brasil como uma extensão de terra virgem, cuja propriedade era doada a um sesmeiro, com a obrigação – raramente cumprida – de cultivá-la no prazo de cinco anos e de pagar um tributo à Coroa. reticências

Ao instituir as capitanias, a Coroa lançou mão de algumas fórmulas cuja origem se encontra na sociedade medieval europeia. É o caso, por exemplo, do direito concedido aos donatários de obter pagamento para licenciar a instalação de engenhos de açúcar, análogo às ‘banalidades’ pagas pelos lavradores aos senhores feudais. Mas, em essência, mesmo na sua fórma original, as capitanias representaram uma tentativa transitória e ainda tateante de colonização, com o objetivo de integrar a colônia à economia mercantil.”

FAUSTO, B. História concisa do Brasil. 4. edição São Paulo: Edusp, 2011. página 19.

As câmaras municipais

A administração local ficava a cargo das câmaras municipais. Os únicos que podiam concorrer e ser eleitos para ocupar os cargos nessas câmaras eram os proprietários de terras e de escravizados – os chamados homens bons.

Eles eram responsáveis pela organização de festas, pela limpeza urbana e pela construção de obras públicas, entre outras medidas necessárias ao funcionamento das vilas e cidades. Além disso, deviam cuidar da segurança da população em caso de ataques de inimigos, recebiam queixas e as enviavam ao rei, além de fiscalizar a cobrança de impostos. As câmaras também tinham autonomia para criar e arrecadar taxas dos moradores.

Resistência indígena

Com a colonização, o fluxo de pessoas vindas da Europa para a América portuguesa aumentou, assim como a violência dos europeus contra os indígenas. Muitos povos foram expulsos de suas terras e obrigados a migrar para áreas do interior. Outros foram dizimados por causa das guerras e das doenças trazidas pelos europeus. Outros, ainda, foram escravizados ou submetidos ao trabalho compulsório.

Para resistir à exploração e à escravização, os indígenas utilizaram diversas estratégias, como a rebelião, a destruição de vilas e plantações e a recusa em adotar a religião e os costumes dos europeus.

Gravura. Em uma região de floresta, pessoas indígenas armados de arco e flecha e lanças de madeira lutam com homens brancos e negros armados com mosquete, espingardas e baionetas. Algumas pessoas indígenas estão caídas no chão.
Guerrilhas, gravura de iôrrán Mórits rugêndas, 1835.
Respostas e comentários

Detenha-se um pouco sobre a imagem de rugêndas nesta página. Observe que ela foi produzida já na década de 1830, muito depois dos primeiros anos da colonização e resistência indígena tratados no conteúdo dessas páginas. Questione os estudantes a respeito da continuidade da resistência indígena representada por rugêndas; observe também a fórma como os indígenas são representados na imagem – em zonas mais escuras da cena, nus, associados à natureza, por oposição aos “civilizados”. Questione-os: essa imagem procurava legitimar a violência contra os povos originários?

Atividade complementar

O histórico de contatos, negociações e resistência dos povos indígenas em relação aos não indígenas é marcado por episódios violentos que precisam ser conhecidos. Mesmo após a Constituição de 1988 garantir o direito desses povos à terra, o reconhecimento e a demarcação dos territórios tradicionais avançam lentamente. Para refletir sobre essa questão, faça com os estudantes uma atividade dividida em quatro etapas.

Proponha-lhes a análise da letra da canção Canoa, canoa, composta por Fernando brent e Nelson Angelo em 1977.

Em seguida, se julgar conveniente, assista com eles ao documentário Avá-Canoeiro: o desfecho final, dirigido por Waldir de Pina (Brasil, 1990; duração: 22minutos).

Depois, peça-lhes que leiam os textos relativos aos Avá-Canoeiro e aos Cinta Larga no site do Instituto Socioambiental. Se achar necessário, faça uma adaptação dos textos para facilitar a leitura.

Por fim, proponha-lhes também a leitura do artigo 231 da Constituição Federal, que reconhece os direitos básicos dos povos indígenas.

Concluídas essas etapas, solicite aos estudantes que elaborem uma lista com medidas que podem ser tomadas para garantir a proteção e a continuidade das práticas culturais dos povos indígenas.

Segundo e terceiro governos-gerais

O segundo governador-geral, Duarte da Costa, chegou às terras americanas em julho de 1553, liderando uma comitiva de cêrca de 260 pessoas, que incluía membros da nobreza, religiosos e moças órfãs enviadas para se casar com colonos. Com o apoio da Igreja Católica, os casamentos eram promovidos para povoar o território e evitar a miscigenação entre os colonizadores portugueses e as mulheres indígenas.

Entre as muitas dificuldades enfrentadas por Duarte da Costa durante sua administração se destacaram: a resistência constante de povos indígenas hostis à presença portuguesa e uma tentativa de invasão de franceses ao litoral da colônia.

Mem de Sá, que assumiu o governo-geral em 1558, conviveu com a falta de recursos e ainda enfrentou uma grave epidemia de varíola que atingiu a Bahia. Durante seu governo, que se estendeu até 1572, foi fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e os franceses foram expulsos dessa região.

Assim como na América espanhola, a estrutura administrativa montada pelos portugueses era formada por instituições civis, militares e religiosas e variou de acordo com o tempo e com as necessidades. Diferente dos espanhóis, porém, no primeiro século os portugueses centraram a colonização nas regiões litorâneas e não fundaram universidades, imprensa ou outros centros de produção cultural e intelectual.

Fotografia. Em um pátio, pessoas indígenas estão reunidas, dispostas em círculo. Algumas portam pedaços de pau na mão, outras, cartazes. Um homem indígena segura um arco e um feixe de flechas. Pessoas ao redor observam o ato.
Protesto de indígenas Guarani pela demarcação de terras em frente ao Pátio do Colégio, em São Paulo (São Paulo). Foto de 2014.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O padre jesuíta José de Anchieta foi um dos religiosos que acompanharam a comitiva de Duarte da Costa. Em 25 de janeiro de 1554, ele e o padre Manuel da Nóbrega fundaram o Colégio de São Paulo, instituição considerada a origem da cidade de São Paulo.

O colégio, com o apoio de líderes indígenas locais, tornou-se uma referência importante no projeto de converter os habitantes da América portuguesa ao catolicismo.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar do fluxo de colonos para a América portuguesa, leva-se em conta a dinâmica das populações no projeto colonizador, relacionando o conteúdo à habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois.

A imagem do Pátio do Colégio suscita uma reflexão sobre o patrimônio histórico, especialmente aquele relacionado ao período colonial. Muitos municípios brasileiros ainda guardam edificações civis, militares e religiosas desse tempo da colonização. É possível, então, incentivar os estudantes a pensar sobre a presença e/ou a ausência desses objetos do patrimônio histórico no município em que vivem. O questionamento pode se dirigir também à identificação dos marcos espaciais e simbólicos que remetem à fundação dos municípios em qualquer tempo, visto que muitos são recentes, sobretudo nas regiões Centro-Oeste e Norte. De qualquer forma, em cada circunstância, é possível avaliar o longo processo de ocupação do território e/ou a identificação dos espaços contemporâneos e refletir sobre os momentos iniciais da colonização.

É conhecida a história do patrimônio no Brasil e a identificação do período colonial como momento fundacional desse patrimônio. Sabe-se também que, nas primeiras definições e políticas patrimoniais, as referências e práticas associadas aos afro-brasileiros, indígenas e grupos populares foram relegadas a segundo plano. Entre as décadas de 1930 e 1970 pelo menos, privilegiou-se o patrimônio edificado, havendo pouco lugar para o que seria conhecido como patrimônio imaterial ou intangível.

A imagem dos Guarani no Pátio do Colégio revela uma tensão importante entre a história preservada e a que foi de alguma maneira silenciada. O Pátio do Colégio se relaciona à fundação da cidade de São Paulo e à catequese, feita pelos jesuítas, dos grupos indígenas que habitavam o Planalto Paulista.

Os franceses na América portuguesa

No início do século dezesseis, a posse do litoral da América portuguesa não estava assegurada aos ibéricos. Alguns países europeus, como a França, contestaram a validade do Tratado de Tordesilhas, de 1494, que estabeleceu a divisão das terras sul-americanas entre Portugal e Espanha.

Interessados na exploração comercial do pau-brasil, os franceses visitavam com frequência o território desde 1501. Quase três décadas depois, embarcações da França ainda mantinham com os indígenas da América um intenso e lucrativo comércio.

Em 1532, por exemplo, o navio francês peregrina foi capturado no porto de Málaga, na Espanha. Ele continha aproximadamente 15 mil toras de pau-brasil, além de 3 mil peles de onça, seiscentos papagaios, uma grande diversidade de óleos medicinais, pimenta, sementes de algodão e amostras minerais.

Essa apreensão foi decisiva para o rompimento de relações entre Portugal e França. Com isso, em 1555, os franceses organizaram uma ação ambiciosa: estabeleceram na Baía de Guanabara (em parte do território correspondente ao do atual Rio de Janeiro) um assentamento permanente chamado França Antártica.

Como você estudou no capítulo 3, após a Reforma Protestante, a monarquia francesa enfrentou um período prolongado de guerras e agitações populares, envolvendo fôrças católicas e protestantes. Com a fundação desse núcleo de colonização, o governo francês, oficialmente católico, tinha dois objetivos: expandir seu comércio ultramarino e livrar-se dos protestantes, enviando-os como colonos para a América.

Fotografia. Grande construção retangular de quatro andares com muitas janelas à beira do mar. No alto da construção está escrito: Escola Naval. Ao fundo, prédios e montanhas.
Escola Naval construída no século vinte na Ilha de Villegagnon, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Foto de 2020. Nesse local, no século dezesseis, os franceses instalaram o Forte de Coligny.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Assim que chegaram à América portuguesa, no século dezesseis, os franceses iniciaram a construção de um forte militar na Ilha de Villegagnon, na Baía de Guanabara, local onde estabeleceram a França Antártica. O objetivo deles era se defender dos ataques dos lusitanos. O forte recebeu o nome de cólini, em homenagem ao líder protestante gaspár coliní, um dos idealizadores do projeto.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a captura do navio francês Peregrina foram retirados de: BUENO, E. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. página 8.

Bê êne cê cê

Ao tratar da França Antártica, o conteúdo se relaciona à colonização e às reformas religiosas, colaborando para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco. Ademais, o conteúdo engloba as disputas comerciais entre portugueses e franceses, favorecendo o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um três.

Ampliando

No texto a seguir, Paulo náus faz referência a Henriville, um povoado da Guanabara projetado para ser a séde do Estado francês na América.

reticências. A cidade projetada [de Henriville] seria a séde da colônia francesa e se distinguiria do estabelecimento na ilha, que hoje chamamos de Villegagnon. reticências

reticências Observa-se que o projeto de cidade se organizava reticências como um povoamento protegido pelo seu caráter militar, mas também pela sua capacidade econômica, articulada pela produção voltada para garantir subsistência. A escravidão de nativos aparecia como possibilidade para sustentar a colonização reticências. O vínculo entre a dimensão militar e econômica garante a fonte dessa mão de obra reticências. Complementava esse quadro o fato de a colônia surgir como ponta de lança do contrôle de fronteiras e de acesso aos caminhos que levavam às riquezas, representadas pelos metais andinos. reticências Henriville deveria ser a tradução do poder colonial francês, tal como o seu nome traduzia por sua identificação com o monarca chefe de Estado, Henrique segundo.”

náus, P. No rascunho do Novo Mundo: os espaços e os personagens da França Antártica. História, São Paulo, volume 27, número 1, página 145-146, 2008.

Curadoria

Desmundo (Filme)

Direção: alein frresôn. Brasil, 2003. Duração: 101 minutos

O filme apresenta uma visão dos primeiros momentos da colonização de São Paulo. Pelas opções realistas do diretor, no filme foram reconstruídos a prosódia do português quinhentista e cenários e figurinos condizentes com a cultura material do período. Questões importantes como o casamento e a presença dos cristãos-novos constituem parte essencial da trama adaptada do romance homônimo de Ana Miranda. O filme é indicado somente para professores, pois a classificação indicativa é 14 anos.

Conflitos e alianças

Na França Antártica, os franceses firmaram alianças com alguns grupos indígenas locais que se dispuseram a lutar contra os portugueses, principalmente para combater a escravidão. Esses indígenas eram denominados Tamoio. Os portugueses, por sua vez, aliaram-se aos Guaianá, Temiminó e Carijó, inimigos dos Tamoio.

No conflito, destacou-se o líder indígena araribóia, posteriormente batizado com o nome cristão de Martim Afonso de Souza, em homenagem ao donatário português. Atuando como intermediário entre os indígenas e os europeus, araribóia ficou ao lado de Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral e fundador do povoado de São Sebastião do Rio de Janeiro. A expulsão definitiva dos franceses ocorreu em 1567.

Fotografia. Estátua de um homem indígena em pé, de braços cruzados e vestindo uma tanga.
Estátua em homenagem ao indígena araribóia, em Niterói (Rio de Janeiro). Foto de 2021.

França Equinocial

Após a expulsão da França Antártica, os franceses fundaram outra colônia em 1612, no atual estado do Maranhão: a França Equinocial. Com a construção do Forte de São Luís, eles exploraram a costa norte da América portuguesa e chegaram até a foz do Rio Amazonas.

Em 1614, com o apoio dos indígenas Tremembé, os portugueses conseguiram tomar o Forte de São Luís, colocando fim à presença francesa na América portuguesa.

Fotografia. No primeiro plano, vista da lateral de um grande palácio colonial com seu jardim. Trata-se de uma construção horizontal, de dois pavimentos, protegida por uma muralha de paredes largas. Ao redor, outros casarões coloniais.
Centro histórico de São Luís (Maranhão). Foto de 2019. Essa é a única cidade brasileira fundada por franceses.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Qual foi a principal atividade econômica realizada no comêço da colonização da América portuguesa?
  2. Por que, a partir de 1530, a Coroa passou a incentivar a colonização do território?
  3. Os indígenas aceitaram passivamente a colonização do território em que viviam pelos portugueses? Justifique sua resposta.
  4. Explique como ocorreu a tentativa de colonização do litoral da América portuguesa pelos franceses.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

O conteúdo segue tratando das disputas e configurações do território colonial, o que favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois.

Agora é com você!

1. A extração do pau-brasil ou ibirapitanga.

2. A Coroa portuguesa passou a incentivar a colonização do território por receio de que este fosse invadido por outros europeus após a descoberta de grande quantidade de ouro e prata nas colônias espanholas. O outro motivo foi a concorrência no comércio de especiarias, que contribuiu para diminuir o preço dessas mercadorias na Europa.

3. Não. Muitos foram os conflitos entre europeus e indígenas. Estes resistiram de diversas maneiras: por meio da destruição de vilas e plantações, da organização de rebeliões e da recusa à adoção da religião e dos costumes europeus.

4. Os franceses estabeleceram, em 1555, na Baía de Guanabara, atual território do Rio de Janeiro, um assentamento permanente chamado França Antártica. A colônia ganhou fôrça em virtude do contexto da Reforma Protestante na Europa. Com o advento do protestantismo, a monarquia francesa mergulhou em um período prolongado de guerras e agitações populares envolvendo fôrças católicas e os huguenotes (protestantes calvinistas). Assim, com a fundação desse núcleo de colonização no Brasil, o governo francês tinha dois objetivos: expandir seu comércio ultramarino e, ao mesmo tempo, livrar-se dos protestantes, enviando-os como colonos para a América. Mais tarde, os franceses fundariam outra colônia no território, a França Equinocial, no atual estado do Maranhão.

Orientação para as atividades

Para realizar as atividades do boxe “Agora é com você!”, é necessário identificar os primeiros movimentos da colonização e as disputas entre as potências europeias pelo território, compreendendo a integração da América aos conflitos europeus. É preciso identificar também as resistências indígenas à colonização. Na correção ou na proposição das atividades, converse com os estudantes sobre a importância de compreender a diversidade de sujeitos e de processos históricos envolvidos na colonização.

Cruzando fronteiras

O trecho a seguir foi retirado da obra A queda do céu: palavras de um xamã Ianomâmi, de 2015. O livro foi escrito pelo líder indígena Davi Copênauae pelo antropólogo francês Bruce álbert, que durante mais de trinta anos acompanhou os povos Ianomâmina luta pelo reconhecimento oficial de suas terras na Amazônia.

“No comêço, seduzidos pela beleza da floresta, mostraram-se amigos de seus habitantes. Em seguida, começaram a construir casas. Foram abrindo roças cada vez maiores, para cultivar seu alimento, e plantaram capim por toda parte, para o seu gado. Suas palavras começaram a mudar. Puseram-se a amarrar e açoitar as gentes da floresta que não seguiam suas palavras. Fizeram-nas morrer de fome e de cansaço, forçando-as a trabalhar para eles. Expulsaram-nas de suas casas para se apoderar de suas terras. Envenenaram sua comida, contaminaram-nas com suas epidemias. Mataram-nas com suas espingardas e esfolaram seus cadáveres com facões, como caça, para levar as peles para seus grandes homens. Os xamãs conheciam todas essas antigas palavras. Tinham-nas ouvido ao fazerem dançar a imagem desses primeiros habitantes da floresta. Contam os brancos que um português disse ter descoberto o Brasil há muito tempo. Pensam mesmo, até hoje, que foi ele o primeiro a ver nossa terra. Mas esse é um pensamento cheio de esquecimento! omãma nos criou, com o céu e a floresta, lá onde nossos ancestrais têm vivido desde sempre. Nossas palavras estão presentes nesta terra desde o primeiro tempo, do mesmo modo que as montanhas onde moram os xapiri. Nasci na floresta e sempre vivi nela. No entanto, não digo que a descobri e que, por isso, quero possuí-la. Assim como não digo que descobri o céu, ou os animais de caça! Sempre estiveram aí, desde antes de eu nascer. Contento-me em olhar para o céu e caçar os animais da floresta. E só. E é esse o único pensamento direito.”

Copênaua, D.; álbert, B. A queda do céu: palavras de um xamã Ianomâmi. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. página 252-253.

Nesse relato, Davi Copênaua trata da presença dos europeus no Brasil pela perspectiva dos povos indígenas. Com base na reflexão que ele propõe, faça as atividades a seguir.

Responda no caderno.

  1. De acordo com o líder Ianomâmi, como o contato com os europeus modificou as fórmas de existência dos povos indígenas?
  2. Pode-se afirmar que Davi Copênaua concorda com a afirmação de que um português descobriu o Brasil há muito tempo? Justifique sua resposta.
  3. Identifique no texto traços da oralidade indígena.
Respostas e comentários

Interdisciplinaridade

A seção “Cruzando fronteiras” contribui para o desenvolvimento das seguintes habilidades dos componentes curriculares língua portuguesa e geografia: ê éfe seis nove éle pê quatro quatro – “Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos fórmas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção”; ê éfe zero sete gê ê zero três –“Selecionar argumentos que reconheçam as territorialidades dos povos indígenas originários, das comunidades remanescentes de quilombos, de povos das florestas e do cerrado, de ribeirinhos e caiçaras, entre outros grupos sociais do campo e da cidade, como direitos legais dessas comunidades”.

Cruzando fronteiras

Nessa seção, analisa-se um trecho da obra A queda do céu: palavras de um xamã Ianomâmi, de Davi Copênaua e brús álbertch. Promove-se uma interface com os componentes curriculares língua portuguesa e geografia ao analisar traços da oralidade indígena presentes no texto e chamar a atenção dos estudantes para as transformações no modo de vida indígena a partir do contato com as sociedades não indígenas.

Atividades

1. Davi Copênaua afirma que inicialmente os europeus, seduzidos pela floresta, fizeram-se amigos de seus habitantes, mas com o tempo passaram a modificar as terras indígenas, construindo casas e roças e abrindo pastos para a criação de gado. Essas modificações foram acompanhadas de ações violentas contra os povos da floresta, que, obrigados a trabalhar para os europeus, acabaram vítimas de fome, exaustão e epidemias, além da expulsão de suas terras e casas.

2. Não. O relato mostra que Davi Copênaua discorda da ideia, repleta de esquecimento, de que um português descobriu o Brasil. Ele reitera diversas vezes a presença de seus ancestrais no território desde tempos imemoriais e aponta uma lógica distinta de relação dos humanos com a floresta, que não envolve descoberta, posse ou propriedade do território.

3. O uso de expressões linguísticas como “no comêço” e “desde o primeiro tempo” ou de construções textuais como “os xamãs conheciam” e “contam os brancos” são indícios da oralidade indígena transcritos no texto. A referência a omãma e à criação dos seres, bem como aos ancestrais indígenas do autor, também remete à lógica da oralidade, com a inclusão de histórias narradas de geração em geração.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. No caderno, identifique as afirmativas verdadeiras e as falsas. Em seguida, corrija as incorretas.
    1. Os primeiros trinta anos de presença portuguesa na América foram marcados por poucas expedições, em geral de reconhecimento de território.
    2. A partir de 1530, as capitanias hereditárias promoveram o desenvolvimento de todas as regiões da colônia com baixo custo para a Coroa portuguesa.
    3. A exploração do pau-brasil por meio do escambo foi a principal atividade desenvolvida nos primeiros anos da América portuguesa.
    4. A vida dos portugueses na colônia era tranquila em razão da relação amigável que eles mantinham com os diversos povos indígenas do litoral.

Aprofundando

2. Analise a pintura Primeira missa no Brasil, de Victor Meirelles. Em seguida, faça o que se pede.

Pintura. Vista de um campo aberto com árvores esparsadas ao redor. No centro da imagem há uma clareira, é o ponto mais iluminado da pintura, onde foi representada uma cruz de madeira erguida sobre um pedestal. Aos pés da cruz, encontram-se dois clérigos de batina branca orando em posição de devotamento. Ao redor deles, clérigos de ordens religiosas e portugueses observam a cena. Alguns estão ajoelhados. Do lado esquerdo da imagem, em uma parte mais baixa do terreno, um grupo de indígenas contempla o ato. No primeiro plano da imagem, na parte menos iluminada da pintura, indígenas desnudos, em pé ou sentados no chão e em um galho de uma grande árvore disposta na lateral direita da imagem, observam com curiosidade.
Primeira missa no Brasil, pintura de Victor Meirelles, 1860.
  1. Como a história do encontro entre portugueses e indígenas é representada no quadro?
  2. Como os indígenas foram representados pelo pintor?

3. Durante a colonização, os europeus estabeleceram várias fórmas de dominar o território, como a exploração de lotes de terra e a fundação de vilas e cidades. Entretanto, essas formas de ocupar o espaço não eram as únicas. As populações indígenas tinham suas próprias maneiras de organizar seus territórios. Ao longo dos séculos, essas populações encontraram meios de resistir e de manter seus modos de organização. Com base nessas reflexões, analise as imagens a seguir e responda às questões.

Ilustração. Planta de uma cidade à beira-mar. Nota-se a presença de representações de edificações quadradas e retangulares. Na planta, foram colocados, da esquerda para a direita, os números de 1 a 5 para destacar as principais estruturas da cidade representada. Da esquerda para a direita, o número 1 designa uma fortificação; o número 2 representa uma área aberta próximo ao forte; o número 3 situa um local de culto; o número 4, uma moradia com sede política e administrativa; e o número 5, um forte construído no mar.
Detalhe de Planta da cidade de Salvador, de João Teixeira Albernaz primeiro, produzida no século dezessete. Em destaque: 1. cidadela, 2. praça, 3. igreja, 4. casa do governador e câmara municipal e 5. forte.
Ilustração. Planta de uma aldeia em meio à floresta, cortada por cursos de água. A aldeia foi representada rodeada por rios e árvores. Há marcações de 1 a 6 para destacar os principais elementos da imagem. O número 1 está no rio, azul, disposto na parte inferior da imagem em posição horizontal e cortando o lado esquerdo da imagem verticalmente, no rio, há uma pequena canoa; o número 2 está em um pátio circular amarelo em torno do qual há construções de moradias retangulares com teto de palha formando um círculo; o número 3 designa um campo de futebol, local para a prática de esporte alocado no centro do pátio amarelo entre as moradias; o número 4 refere-se a uma faixa retangular verde disposta diagonalmente abaixo dessa área circular amarela; o número 5 é uma área destacada em amarelo, próxima às margens do rio, com várias construções com telhado de palha; o número 6 está situado em uma de área mata na parte superior direita da imagem e representa vegetação. No canto superior direito da imagem, uma representação do sol em vermelho, laranja e amarelo.
Uma aldeia do Xingu, de napiku íkpeng, 1996. Em destaque: 1. Rio Xingu, 2. aldeia, 3. campo de futebol, 4. pista de pouso, 5. posto indígena e 6. roças.
Respostas e comentários

Atividades

Organize suas ideias

1. a) V; b) F; c) V; d) F. Correções: b) Com exceção das capitanias de Pernambuco e São Vicente, as capitanias hereditárias fracassaram no objetivo de promover o povoamento europeu e a exploração do território. d) A vida dos colonos foi marcada por interações amistosas e conflituosas com os indígenas do litoral.

Aprofundando

2. a) No quadro, é representado um contato interessado e amistoso entre europeus e indígenas.

b) Os indígenas foram representados de fórma pacífica e como parte do ambiente (natureza). Além disso, o olhar do pintor parece reproduzir um dos argumentos de Pero Vaz de Caminha: o da predisposição dos indígenas em aceitar os preceitos da fé cristã.

  1. Quais são as principais diferenças entre as duas representações?
  2. O que essas diferenças podem sugerir sobre as sociedades que produziram cada uma delas?

4. O texto a seguir é parte de uma obra literária escrita no século dezesseis por Jãn dê lêrri, missionário francês que viveu na França Antártica. Junte-se a um colega e leiam-no atentamente. Em seguida, façam o que se pede.

“Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, mairs e perôs [franceses e portugueses], buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta reticências.

Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? – Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. – Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre? – Sim, disse eu, morre como os outros.

Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? – Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. – Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros mairs sois grandes loucos, pois atravessais o mar reticências para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá reticências.”

lerrí, J. de. Viagem à terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980. página 169-170.

  1. Qual era a diferença no uso do pau-brasil pelos indígenas e pelos europeus?
  2. Por que o velho tupinambá não compreende a prática dos europeus?
  3. Jãn dê lêrri apresenta uma imagem positiva ou negativa do indígena? Por quê?
  4. Esse diálogo teria ocorrido de fato? Justifique seu ponto de vista.
  5. Na opinião de vocês, qual deve ter sido a reação dos europeus ao ler o livro de Jãn dê lêrri?
  1. Neste capítulo você estudou o papel das câmaras municipais no início da colonização portuguesa. Agora, você vai realizar uma pesquisa de campo para descobrir as características das câmaras municipais na atualidade. Para isso, siga estas etapas:
    1. No dia combinado com o professor, você e seus colegas farão uma visita à câmara de vereadores do município em que moram.
    2. No local, anote todas as informações passadas pelo professor ou pelos monitores responsáveis pela visita.
    3. Junte-se a outros dois colegas e dividam as seguintes tarefas: um fará uma entrevista com um funcionário do local sobre seu trabalho; o segundo vai investigar projetos em andamento; e o terceiro, projetos aprovados que impactaram a comunidade em que vocês vivem.
    4. Como tarefa de casa, usem todas as informações obtidas para produzir um relatório sobre a pesquisa de campo. Apontem as diferenças e semelhanças entre as câmaras coloniais e as atuais e qual é a importância dessa instituição para o seu município.
Respostas e comentários

3. a) Na primeira imagem, destacam-se estruturas produzidas pela mão humana relacionadas às atividades militares de defesa (como o forte e a cidadela) e de administração (casa do governador e câmara municipal). Na segunda, as estruturas humanas também estão presentes (pista de pouso, aldeia, campo de futebol, posto etcétera), mas a representação de elementos naturais (Rio Xingu, céu, córregos, vegetação, nascente e poente) ganha maior destaque. A disposição circular das habitações (aldeia) na segunda imagem também pode ser mencionada.

b) Explore a autoria de cada uma das imagens. João Teixeira Albernaz primeiro foi um cartógrafo português do século dezessete que registrou, em meios oficiais, a exploração colonial da América portuguesa, representando as principais edificações envolvidas nesse processo (igrejas católicas, órgãos administrativos coloniais e instalações militares portuguesas), indicando que estes aspectos eram considerados importantes pela sociedade colonialista. Já a segunda imagem foi produzida por napiku íkpeng – professor indígena do Parque Indígena do Xingu – com o objetivo de ensinar geografia para os povos do Xingu (entre os quais os Iquipengui). Essa representação pode ser considerada um exemplo de etnocartografia, pois, na imagem, são destacados os elementos culturais e naturais que considera fundamentais para seu próprio povo.

4. a) Os indígenas utilizavam o pau-brasil como lenha; já os europeus usavam a madeira para dela extrair uma tintura avermelhada.

b) A visão de mundo do velho Tupinambá era diferente da europeia. Para ele, não fazia sentido extrair tamanha quantidade de madeira.

c) A resposta a essa questão é, em parte, pessoal. É preciso verificar a coerência da resposta dos estudantes, observando os argumentos que eles utilizam para justificar seu ponto de vista. No texto, o autor representa uma perspectiva indígena.

d) A questão é relativamente aberta. Busca-se incentivar os estudantes a refletir sobre a natureza do documento em questão, que é uma obra literária. Não se pode afirmar se a conversa ocorreu de fato ou não. No entanto, a obra de lerrí é conhecida pelos antropólogos pelo “frescor do olhar”, ou seja, por ter sido escrita por alguém que viveu as experiências que relatou. Ele publicou seu livro em 1578, vinte anos depois de regressar à França e após ter vivido os horrores do Massacre da Noite de São Bartolomeu.

e) A resposta dos estudantes pode girar em torno do imaginário europeu a respeito do indígena americano, mas é possível que alguns deles mencionem que os europeus podem ter sentido certo incômodo diante do questionamento de seus princípios e valores.

5. O objetivo da atividade é incentivar a compreensão das mudanças históricas pelas quais passaram as câmaras municipais. Trata-se de uma atividade de campo, com o desenvolvimento de alguns dos procedimentos de investigação em ciências humanas. Será necessária a organização prévia de sua execução entrando em contato com a câmara municipal da cidade para agendar a visita e solicitando autorização aos responsáveis pelos estudantes. Também será preciso planejar o deslocamento dos estudantes. É importante revisar algumas noções prévias sobre o funcionamento das câmaras municipais. Oriente os estudantes a pesquisar sobre o tema e a elaborar um roteiro de entrevista. Estas são algumas perguntas que podem constar do roteiro:

Quais são suas atribuições?

O senhor tem algum projeto em discussão? Se tiver, de que trata o projeto?

O que o senhor pretende colocar em pauta?

Prepare os estudantes para o dia da visita à câmara municipal da cidade, solicitando-lhes que levem o termo de autorização assinado pelo responsável, água, materiais para anotação (caderno, lápis, caneta etcétera) e o que mais julgarem necessário. Além disso, instrua-os a respeitar as regras de visitação do local. Oriente-os a anotar informações sobre a organização e os trabalhadores do local, a quantidade de vereadores que fazem parte da câmara, os projetos que estão em votação e os já votados que afetam (e como afetam) a comunidade em que vivem. Após a visita, oriente-os na produção do relatório, que pode ser apresentado em meio digital. Peça-lhes que indiquem as diferenças e semelhanças entre as câmaras municipais coloniais e as atuais e comentem a importância desse órgão para a sociedade, citando os projetos aprovados e em discussão.

Glossário

Coivara
: técnica utilizada para desmatar e queimar uma área de floresta a fim de abrir espaço para a plantação de vegetais durante períodos curtos. A prática está associada à rotação de culturas, em que a plantação de diferentes cultivos é intercalada.
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Degredado
: criminoso condenado à pena de degredo (exílio).
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