CAPÍTULO 8 A sociedade do açúcar e a expansão da América portuguesa

Em 1954, ano em que São Paulo completava 400 anos, foi inaugurado na cidade o Monumento às bandeiras, de Victor brêchêrê. A obra foi encomendada para homenagear os bandeirantes, que, desde o fim do século dezenove, passaram a ser considerados responsáveis pela grandeza territorial do Brasil e, por isso, celebrados como heróis paulistas. Nas últimas décadas, no entanto, a memória sobre eles tem sido questionada.

Em 2013, quando o Congresso se preparava para votar uma proposta de emenda constitucional que alterava as regras para a demarcação de terras indígenas, líderes de alguns movimentos sociais jogaram tinta vermelha sobre o monumento e registraram as seguintes palavras: “bandeirantes assassinos”. Esse tipo de intervenção revela a importância do debate sobre a memória e a história.

Fotografia. No centro e na parte inferior da imagem vista de um monumento feito de pedra esculpida representando um grupo de homens indígenas que puxam uma canoa usando cordas, enquanto outros dois homens indígenas na popa do barco, o empurram. No canto, esquerdo um homem de barba, representando um homem branco, se mistura ao grupo. O monumento foi pichado com tinta nas cores vermelho e branco. Os homens estão sujos com tinta vermelha e no barco foi escrito com tinta branca: 'Tupi Sétimo. Bandeirantes assassinos'. Ao fundo, prédios altos, o céu acinzentado e uma árvore à direita.
Monumento às bandeiras, de Victor brêchêrê, em São Paulo (São Paulo). Foto de 2013.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Quem são os personagens da obra? Como eles foram representados no monumento?
  2. Por que algumas pessoas jogaram tinta vermelha sobre o monumento? Relacione esse gesto à frase pichada na canoa.
  3. Como monumentos históricos podem ser ressignificados ao longo do tempo?
Respostas e comentários

Abertura

Por meio da análise da obra Monumento às bandeiras, de Victor brêchêrê, pretende-se chamar a atenção dos estudantes para um dos temas do capítulo: a importância dos indígenas no processo de estruturação da América portuguesa e a construção, no estado de São Paulo, de uma memória que tende a apagar essa herança para favorecer a imagem, bastante difundida, do bandeirante como herói paulista. Nesse sentido, o capítulo se inicia com uma fotografia do monumento em 2013, quando foi alvo de uma intervenção em virtude da votação da péqui 205, que alterava as regras para a demarcação de terras indígenas no Brasil. Como é possível notar, tanto o debate sobre a memória como a história em si são dinâmicos e, portanto, reatualizam questões do passado diante de demandas do presente.

Atividades

1. Na obra é representado um grupo de pessoas dispostas em fila e, atrás delas, uma canoa. Os homens que dirigem a comitiva são bandeirantes. Os personagens seguintes formam um conjunto que mistura portugueses (homens barbados) com outros povos, em especial indígenas. A canoa representa as monções, expedições fluviais que ligavam a vila de São Paulo e seus arredores a outras regiões. O conjunto da obra representa uma espécie de marcha colonizadora na conquista da terra, indicando a possível ação desbravadora dos bandeirantes.

2. A tinta vermelha provavelmente foi utilizada para simbolizar o sangue indígena derramado durante as ações dos bandeirantes. As bandeiras eram organizadas com o intuito de capturar e escravizar indígenas. Isso explica a pichação da frase “bandeirantes assassinos” na canoa. É importante também destacar para os estudantes que, apesar de se tratar de um protesto legítimo, essa ação envolveu a depredação de um patrimônio público, um problema social que pode causar muitos prejuízos ao Estado e à sociedade. Assim, debata com eles a funcionalidade dessa e de outras fórmas de protesto, incentivando-os a pensar a respeito de sua efetividade em propor fórmas de reparação histórica.

3. Toda memória histórica é dinâmica e está relacionada a um processo de lembrança e esquecimento. Nos diversos monumentos do passado, a capacidade de esquecer é tão importante quanto a de lembrar. Nesse caso específico, trata-se de um monumento que glorifica a ação dos bandeirantes como desbravadora e responsável por fundar a grandeza territorial do Brasil, atribuindo protagonismo aos paulistas e ao estado de São Paulo. Essa memória deixa de lado a violência contra a população indígena, escravizada e dizimada no processo de interiorização da América portuguesa. O objetivo do debate é alertar os estudantes para o fato de que o mesmo monumento histórico pode ser interpretado como símbolo de heroísmo ou de opressão.

O cultivo de açúcar na América portuguesa

As primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram à América portuguesa em 1530, com a expedição de Martim Afonso de Souza, e foram plantadas no litoral de São Vicente.

A escolha desse produto não foi aleatória. Além de o açúcar ser consumido na Europa como artigo de luxo, a Coroa portuguesa tinha experiência no plantio da cana nas ilhas do Atlântico (arquipélagos de Açores, Cabo Verde e São Tomé) e na comercialização do produto, distribuído pela Europa com o auxílio de comerciantes neerlandesesglossário .

Ao longo dos séculos dezesseis e dezessete, a lavoura canavieira tornou­‑se a principal atividade econômica da América portuguesa. A grande procura pelo produto na Europa tornava seu comércio altamente lucrativo.

Os engenhos do Nordeste

A cana-de-açúcar foi amplamente explorada, sobretudo no território correspondente ao da atual Região Nordeste. O açúcar era produzido nos engenhos, as unidades produtivas que caracterizavam as condições de riqueza, poder e prestígio na América portuguesa dos primeiros séculos de colonização.

A abertura de campos de cultivo era feita com a derrubada de árvores e a queima da floresta, causando danos à vegetação nativa, principalmente na Mata Atlântica. A madeira extraída nesse processo era empregada na construção dos engenhos, nas fornalhas que transformavam o caldo de cana, extraído na moenda, em melaço, e no cozimento de alimentos consumidos no engenho.

Outro recurso natural importante era a água, utilizada para a produção de alimentos, a criação de animais e o consumo humano.

Pintura. Há elementos da pintura destacados por setas verdes e texto na cor branca com indicações dos nomes das construções.
Vista de um engenho. À esquerda e à direita, há pessoas trabalhando. Em primeiro plano, à esquerda, há um grande barracão com paredes abertas, telhado sustentado por vigas de madeira, com telhas de terracota. Nele há, no canto à esquerda, uma parede vista de frente, com alguns fornos em forma de arco e pessoas trabalhando diante deles. Uma seta verde indica o nome da estrutura: Casa das fornalhas.
À esquerda, sob o mesmo barracão, na parte sem paredes, há um conjunto de engrenagens grandes dispostas na horizontal e, ao lado delas, uma engrenagem maior, na vertical, movida pela força humana: dois homens negros estão girando a estrutura de madeira. Uma seta verde indica o nome da estrutura: Moenda. 
No fundo, há vegetação com árvores altas e um coqueiro. No alto de um morro, há um grande sobrado de dois andares, com paredes brancas e telhado coberto por telhas de cor alaranjada. Uma seta verde indica o nome: Casa-grande. 
Do lado direito da casa-grande, ainda no alto do morro, há uma pequena construção de paredes brancas com uma cruz no topo da fachada. Uma seta verde indica o nome: Capela. 
Na parte direita da pintura, em terreno mais baixo e plano, em frente à moenda e a casa das fornalhas, há um pátio com chão de terra e, do lado direito, um palanque de madeira sobre o qual há dois homens negros com o torso nu e panos brancos ao redor do quadril formando pequenos cones brancos de açúcar. Uma seta verde indica o nome da estrutura: Balcão de secagem e separação.  
Na parte inferior da imagem, na área central, sobre o chão de terra, há um grupo formado por quatro pessoas adultas e um jovem. Eles estão de costas. Uma dessas pessoas, vestida com camisa branca, colete marrom e calças vermelhas, está carregando um grande cesto de palha sobre sua cabeça. As demais pessoas ao redor dela estão com o torso nu e com tecidos brancos ao redor dos quadris.
Ao fundo, à direita, há um lago com um a pequena ilha no centro, e, em primeiro plano, vegetação, incluindo um coqueiro alto. Ao fundo, o horizonte revela uma área plana coberta de vegetação. No alto, o céu azul com nuvens esparsas brancas.
Engenho, pintura de frãns pôst, século dezessete. Textos inseridos posteriormente para fins didáticos.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Além das áreas de cultivo, faziam parte das instalações de um engenho as estruturas necessárias à moagem da cana e à produção do açúcar, a residência do senhor (conhecida como casa-grande), o alojamento dos trabalhadores (a maioria escravizada) e, muitas vezes, uma capela.

Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

Descrever a organização das estruturas econômicas, culturais e sociais do Brasil colonial em torno do comércio do açúcar, a partir de 1530.

Caracterizar as relações sociais, econômicas, culturais e políticas que se formaram nos engenhos coloniais.

Demonstrar o conceito de guerra justa e a brecha jurídica que autorizou a escravização de indígenas na América portuguesa, analisando a importância dessa ação para o projeto colonial português na América.

Analisar a atuação dos padres jesuítas no território colonial português.

Analisar a atuação dos bandeirantes paulistas no interior do território colonial, bem como os discursos criados sobre eles.

Analisar a construção do mito dos heróis bandeirantes.

Demonstrar a importância de várias atividades econômicas, além do açúcar, na criação de um mercado e de uma dinâmica produtiva própria da América portuguesa, com destaque para o processo de extração das drogas do sertão, a pecuária e o plantio de mandioca.

Justificativa

Os objetivos listados neste capítulo têm a importante função de sensibilizar os estudantes para a importância do comércio do açúcar nos primeiros séculos da colonização da América portuguesa, demonstrando como se configuravam as relações sociais, culturais e econômicas nos engenhos, analisando processos simbólicos e violências por trás da escravização de indígenas, africanos e afrodescendentes. O incentivo a processos como os de análise e interpretação ocorre por meio da crítica à construção do mito do herói bandeirante, por meio da qual se objetiva ensejar o desenvolvimento de um pensamento crítico relacionado à produção de conhecimento histórico e à ressignificação dos símbolos de poder.

Bê êne cê cê

A abertura na página 140, por envolver a análise do Monumento às bandeiras, apontando interpretações e agentes diferentes que disputam a narrativa do passado, mobiliza as Competências Específicas de História nº 4 e nº 6. Ao associar a produção da cana-de-açúcar na América portuguesa à alta procura do produto na Europa, com o consequente estabelecimento de relações comerciais, o conteúdo da página 141 contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois.

O trabalho e os trabalhadores nos engenhos

Nos engenhos coloniais havia trabalhadores livres e escravizados. Entre os trabalhadores livres (que recebiam remuneração), estavam o mestre de açúcarglossário , o purgadorglossário , os carpinteiros, os pedreiros, os vaqueiros e os feitores. Eles atuavam nas diferentes etapas de preparação do açúcar e na manutenção e supervisão dos engenhos.

A maioria dos escravizados, por sua vez, trabalhava na lavoura, na moenda e nos serviços domésticos. No século dezessete, os engenhos possuíam em média 65 escravizados, sendo que nas grandes propriedades esse número poderia chegar a 200. No início, foi empregada essencialmente a mão de obra indígena. Contudo, a Igreja e a Coroa portuguesa condenaram a escravização dos indígenas, limitando sua incorporação à lavoura canavieira.

Mesmo sendo proibida, a escravização indiscriminada dos nativos continuou a ocorrer na América portuguesa até o início do século dezenove. Para justificar essa situação, os europeus usaram o argumento da guerra justaglossário , segundo o qual era permitido aprisionar e escravizar os povos hostis aos colonizadores ou que não aceitassem a religião católica.

Na segunda metade do século dezessete, os portugueses passaram a explorar principalmente o trabalho de africanos escravizados, trazidos em larga escala para a colônia em função da ampliação da lavoura açucareira e da descoberta do ouro na região das Minas Gerais.

Os locais onde eles viviam, chamados senzalas, eram precários e pouco ventilados. Os escravizados eram obrigados a trabalhar durante muitas horas, recebendo pouca alimentação, e estavam sujeitos à violência, incluindo castigos físicos.

Fotografia. Sobre um fundo branco, há dez instrumentos de metal de vários tipos. No alto, um instrumento de tortura conhecido como vira-mundo, composto por dois conjuntos de algemas acoplados em duas estruturas horizontais de ferro, usado para prender punhos e tornozelos e imobilizar a pessoa torturada. 
Logo abaixo, à direita, uma gargalheira, espécie de coleira feita de ferro com duas alças nas laterais e uma haste vertical com um gancho na ponta. No centro, uma palmatória, peça circular na ponta de um cabo de madeira. 
Ao lado, à direta, uma máscara de flandres, espécie de máscara composta por círculos de metal (usados presos por cadeados atrás da cabeça) com uma máscara que cobria a parte frontal do rosto, com alguns orifícios dispostos em forma de círculo. 
No centro da imagem, há um grosso cinto feito de ferro. À direita, um conjunto de instrumentos de ferro com base de madeira, usados para marcar os corpos das pessoas a ferro quente. Na parte inferior, há algemas e gargalheiras de ferro de diferentes tamanhos. E, no canto inferior direito, uma algema com um cadeado de ferro.
Instrumentos dos séculos dezoito e dezenove utilizados para o castigo de escravizados.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O emprego de instrumentos de castigo, como algemas, gargalheira, palmatória, ferro para marcar o corpo, entre outros, fez parte do cotidiano da colônia e continuou também no Brasil independente até o final do século dezenove.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre os engenhos de açúcar foram retirados de: FARIA, S. C. Engenho. ín vâinfas, R. Dicionário do Brasil colonial: 1500-1808. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. página 201.

Bê êne cê cê

Ao explorar o estabelecimento da produção açucareira e a incorporação de indígenas e africanos como mão de obra nas áreas de colonização portuguesa, mobiliza-se a habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois.

Havia muitos lavradores que não possuíam engenho. Parte deles cultivava a cana em terras próprias e negociava com os senhores as condições para moê-la nos engenhos. Outra parte arrendava terras, sendo obrigada a moer a cana no engenho do proprietário e a entregar a ele uma parcela da produção.

De acordo com o historiador Istíuart B. Chuárts, apenas nas décadas de 1620 e 1630 os trabalhadores de origem africana superaram em número os de origem indígena na produção de cana-de-açúcar. Assim, os ameríndios foram a principal mão de obra empregada durante um século e continuaram a atuar na economia canavieira mesmo após a chegada maciça de africanos escravizados. Para saber mais sobre a importância da mão de obra indígena e sobre o emprego conjunto de trabalhadores africanos e indígenas nos engenhos, consulte: Chuárts, S. B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

Há quem afirme, erroneamente, que os indígenas não eram adaptados ao trabalho, o que justificaria a opção pelo emprego da mão de obra de escravizados africanos. Durante a colonização, grupos indígenas foram sistematicamente escravizados, especialmente entre o século dezesseis e o início do século dezoito, com as expedições de captura lideradas pelos bandeirantes. O trabalho dos indígenas escravizados foi usado nas lavouras e na construção de obras públicas, como o Aqueduto da Carioca (os famosos Arcos da Lapa), no Rio de Janeiro. Além disso, no norte da colônia, os indígenas foram a principal mão de obra empregada nas expedições de coleta de produtos da floresta, como o cacau, o pau-cravo, a baunilha e o guaraná, conhecidos como drogas do sertão.

Estima-se que a quantidade de indígenas inseridos no sistema produtivo, no auge do cacau na Amazônia, era equivalente à de escravizados negros nos períodos do auge da produção da cana de açúcar na Bahia, assim como no da atividade mineradora em Minas Gerais. 

A sociedade do açúcar

Além de unidades produtoras de açúcar, os engenhos eram locais onde se desenvolviam as relações sociais, celebrações e festividades da colônia. Era neles que conviviam o senhor, sua família, seus agregados e os trabalhadores livres e escravizados.

Os senhores compunham a aristocracia local, formando o grupo de maior destaque econômico e político. Nos engenhos, contudo, as condições de vida eram muito simples. Na residência da maioria dos senhores, o chão era de terra batida e havia poucos móveis e utensílios.

O chefe da família, quase sempre um homem branco, determinava a organização interna de sua casa e as pessoas que dela faziam parte: mulher, filhos, agregados e trabalhadores do engenho. Esse tipo de organização familiar ampliada, cujos membros ficam submetidos ao poder quase absoluto do chefe da casa, é denominado família patriarcal.

Gravura. Em primeiro plano, à frente da entrada de uma casa, à direita e vista parcialmente, há um grupo de pessoas em fila, vistas de lado, caminhando da direita para a esquerda, formando uma linha horizontal.
À esquerda, o primeiro da fila é um homem branco de cabelos brancos curtos, usando chapéu de abas largas na cor preta, vestido com camisa branca, colete, casaco, calça e botas de cano alto pretos. Ele segura uma vara apoiada sobre o ombro e olha para a frente. 
Atrás dele, há duas meninas brancas usando vestidos brancos, longos, de mangas longas. Ambas usam cintos feitos de fita, meias brancas e sapatinhos brancos. Estão com os cabelos castanhos presos em um coque. Uma delas, mais baixa, à frente, usa um xale azul sobre os ombros. A outra, atrás dela, mais alta, segura um leque fechado em suas mãos, à frente de seu corpo.
Atrás delas, no centro da gravura, uma mulher branca de cabelos pretos presos em um coque, cobertos por um véu longo, transparente e rendado. Ela usa um vestido longo, com saia armada e mangas longas bufantes. O vestido é branco com listras verticais amarelas. A barra do vestido é decorada com faixas azuis e rosas. Ela usa meias longas brancas e sapatos brancos. Em sua cintura, usa um cinto feito de fita azul, com um grande laço nas costas. 
Em seguida, atrás dela, à direita, há uma mulher negra com os cabelos castanhos presos em um coque enfeitado com uma flor, trajando um vestido longo, branco, rendado e um casaco amarelo, comprido, com detalhes pretos, aberto e por cima do vestido. À frente do corpo, ela leva uma pequena bolsa quadrada de fundo branco e detalhes amarelos.
Atrás delas, mais à direita, há uma mulher negra de cabelos castanhos e curtos, usando um vestido azul  longo, com babados no decote. Ela está descalça e segura um bebê no colo, envolvido por um manto branco.
Atrás dela, à direita, há uma jovem  mulher negra de cabelos castanhos e curtos, usando um vestido longo cor de rosa e de mangas compridas. Ela está descalça. 
Atrás dela, à direita, há um homem negro usando um chapéu preto de copa alta enfeitado com uma pluma. Ele veste uma camisa branca, um casaco preto, uma calça justa amarela e está descalço, segurando uma sombrinha fechada em seus braços.
No final da fila, no canto direito, há dois meninos negros. Um deles, é visto apenas parcialmente.  O primeiro tem cabelos castanhos e curtos e veste uma camisa branca de mangas compridas e uma calça amarela. Ele está descalço. Atrás dele, há outro menino negro e descalço, esse usa uma camisa de mangas curtas bege e uma bermuda bege. 
A casa, à direita, tem paredes brancas, apenas um andar,  uma porta grande em forma de arco, acessada por alguns poucos degraus, e uma janela em forma de arco, fechada, na cor verde. Há alguns ornamentos em relevo na fachada.
Ao fundo, morros e o céu encoberto, em tons de branco e azul claro. 
No chão, o calçamento é feito de pedras na cor bege e há uma tira horizontal de pedras de cor cinza.
Funcionário público saindo de casa com a família, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1835.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na imagem foi representado um homem branco (o patriarca) conduzindo familiares e criados. Nessa sociedade, pautada pela lógica do patriarcalismo, o casamento significava a garantia de respeitabilidade, segurança e ascensão para muitas famílias.

Dica

LIVRO

Mulher e família na América portuguesa, de Luciano Figueiredo. São Paulo: Atual, 2004. (Coleção Discutindo a História do Brasil).

O autor traça nesse livro um panorama dos diferentes tipos de família existentes na América portuguesa dos três primeiros séculos, com destaque para o protagonismo de mulheres.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. O que era o princípio da guerra justa? De que modo ele foi apropriado pelos colonizadores portugueses na América?
  2. Qual foi a importância do açúcar para a organização da sociedade e da economia coloniais na América portuguesa? Cite exemplos e comente-os.
  3. Defina o que era uma família patriarcal no contexto da sociedade do açúcar.
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. Tratava-se do princípio com base no qual se justificavam os casos em que os cristãos recorriam às armas legitimamente. Tais casos deviam destinar-se à reparação de uma injustiça e não podiam desencadear violência. Ele foi utilizado pelos colonos para escravizar indígenas com a justificativa de que estes muitas vezes se aliavam aos inimigos dos portugueses ou recusavam o processo de catequese.

2. Em razão dos altos lucros obtidos com a produção do açúcar, durante o século dezesseis formou-se em torno dos engenhos uma sociedade baseada na agricultura e na escravização. Nos engenhos, viviam o senhor (dono das terras e das edificações) e sua família, os agregados e os trabalhadores livres e escravizados. Lá ocorriam festas, enterros, casamentos etcétera

3. Tratava-se de uma organização familiar ampliada, com muitos criados, parentes, agregados e escravizados submetidos ao poder quase absoluto do chefe da casa, na maioria das vezes um homem branco.

Orientação para as atividades

As atividades do boxe “Agora é com você!” mobilizam conceitos históricos importantes: guerra justa, organização social e família patriarcal. Proponha aos estudantes que, antes de realizá-las, releiam o conteúdo a respeito do trabalho e dos trabalhadores do engenho e da sociedade do açúcar. Após a retomada do conteúdo, terão mais facilidade para elaborar as respostas.

Curadoria

Dicionário do Brasil colonial: 1500-1808 (Livro)

Ronaldo Vainfas direção Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Nessa obra dirigida pelo historiador Ronaldo Vainfas, há um verbete intitulado “Patriarcalismo”, em que Sheila de Castro Faria explica o uso do termo no contexto colonial.

Analisando o passado

A seguir, são reproduzidos trechos de testamentos e inventáriosglossário glossário produzidos entre 1643 e 1690. Eles revelam diversos aspectos da sociedade colonial portuguesa na América, como a estruturação das famílias e o conceito de propriedade. Leia os textos atentamente e depois faça o que se pede.

TEXTO 1

“Declaro que tenho um moço do gentio da terraglossário da minha obrigação que é meu tio, irmão de minha mãe, casado com uma índia da aldeia e assim por bons serviços que me tem feito reticências o deixo forroglossário glossário e livre.”

Testamento de Antonio Nunes, 1643. In: MONTEIRO, J. Alforrias, litígios e a desagregação da escravidão indígena em São Paulo. Revista de História, número 120, página 49, 1989.

TEXTO 2

“CATARINA RIBEIRO

Inventário e Testamento

saéspi [Sistema de Arquivos do Estado de São Paulo], cx 21, não publicados

Ano: 1690

Documento escrito com tinta ocreglossário já desbotada, com poucas folhas, trechos ilegíveis e outros atacados por traçasglossário .

Anotações de: Regina Moraes Junqueira

Em seu testamento, além de invocaçõesglossário piasglossário , refere-se ao filho André Mendes que tinha lhe dado algum dinheiro. Declarou que a filha Clara Domingues estava inteiradaglossário de seu dote.

Legouglossário a moça Antonia para a filha Maria.

Deixou à neta Ana Luiz um sítio onde ela já morava. Legou um sítio em Boigimirim à neta Ana Vidigal. Declarou que possuía gentios da terra dados a ela pelo neto Diogo Domingues.

Pediu para ser sepultada na Matriz ‘donde tenho cova própria onde estão meus defuntos enterrados’, envolta no hábito de São Francisco.”

Catarina Ribeiro: inventário e testamento, 1690. Projeto Compartilhar. Disponível em: https://oeds.link/YllkUp. Acesso em: 3 fevereiro 2022.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a análise de testamentos e a formulação de hipóteses interpretativas a respeito de aspectos da sociedade colonial, a seção favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero, assim como das Competências Específicas de História nº 3 e nº 6.

Analisando o passado

O objetivo da seção é trabalhar com a leitura, pelos estudantes, de documentos do período abordado pelo capítulo. Além disso, explora a ideia de que mulheres também compunham de forma ativa a sociedade colonial, e que, mesmo em uma sociedade patriarcal – como era a sociedade colonial na América portuguesa –, algumas mulheres conseguiam inclusive serem as líderes da família, tomando decisões até sobre questões como herança.

As questões presentes na seção visam trabalhar com a leitura e interpretação desses documentos transcritos. Ao responder à segunda questão, os estudantes exercitarão a capacidade dedutiva e o protagonismo na produção do conhecimento. Para realizar a terceira atividade, precisarão interpretar o texto citado, que assinala a importância da religião para a sociedade colonial. Ao responder à última questão, eles poderão ampliar seu olhar sobre as famílias coloniais, indicando a importância assumida por algumas mulheres naquele contexto.

Curadoria

Ao sul do corpo: condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil Colônia (Livro)

Mary del prióre. 2. edição São Paulo: Editora Unésp, 2009.

Com base em documentos do século dezesseis ao dezoito, a historiadora apresenta personagens comuns e situações cotidianas para caracterizar as condições das mulheres na América portuguesa. A leitura propicia o estabelecimento de paralelos e rupturas entre o Brasil colonial e o contemporâneo.

Fotografia. Vista parcial de um manuscrito. Folha de papel amarelada com texto manuscrito em tinta preta, ilegível.
Testamento de Fernão Dias Leme e de sua esposa, Catharina Camacho, escrito em 1632.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A maioria dos manuscritos produzidos nesse período se parece com esse documento. Por isso, no início do texto 2, há informações registradas em arquivo sobre o estado de conservação do testamento de Catarina Ribeiro, de 1690, guardado no Acervo do Museu de Arte Sacra, em São Paulo (São Paulo).

Responda no caderno.

  1. Do que tratam os textos apresentados?
  2. Com base na análise do texto 1, é possível afirmar que durante o período colonial houve casos de parentesco entre senhores e escravizados? Justifique.
  3. Com base na análise do texto 2, indique a importância da religião para a sociedade colonial.
  4. É comum considerar que a sociedade colonial era centrada no homem, como se apenas ele pudesse ser proprietário e desfrutar de direitos legais. Entretanto, com base em um desses documentos, pode-se observar que a mulher também fazia parte dessa organização. Qual é esse documento? Justifique sua resposta.
Respostas e comentários

Oriente os estudantes durante a leitura atenta dos documentos transcritos, ajudando-os a perceber: a datação, a autoria, os personagens envolvidos e sua posição social.

Atividades

1. Os textos apresentados são transcrições de testamentos e inventários produzidos entre 1643 e 1690.

2. Sim. Durante o período colonial, eram comuns a prática da violência sexual dos senhores contra as mulheres escravizadas e, consequentemente, o nascimento de filhos considerados bastardos. No texto 1, revela-se a existência de uma relação de parentesco entre um senhor e um escravizado: o senhor era sobrinho do escravizado.

3. A religião era um dos eixos norteadores da sociedade colonial, instruindo as pessoas sobre os modos como deveriam viver e morrer. Nesse sentido, com base no texto 2, nota-se que na sociedade colonial havia preocupação com os rituais funerários, pois os vivos eram instruídos, por meio de testamentos, sobre os procedimentos que deveriam adotar no pós-morte: ao final do testamento de Catarina Ribeiro, há recomendações sobre o sepultamento de seu corpo.

4. O inventário e o testamento de Catarina Ribeiro provam a possibilidade de ascensão feminina ao governo da casa, pois foi ela quem organizou a partilha dos bens e os termos da vida futura de seus familiares.

A interiorização do território colonial português

Ao longo do século dezessete, a conquista e a exploração econômica do sertão eram importantes atividades dos colonos da vila de São Paulo de Piratininga. Mas o que era o sertão?

Se hoje esse termo geralmente é associado ao semiárido nordestinoglossário , na época da colonização, os portugueses utilizaram essa palavra com um sentido muito diferente. Inicialmente, sertão designava terras consideradas desabitadas e, frequentemente, inóspitasglossário .

No território brasileiro, porém, aquilo que chamavam de sertão compreendia áreas consideradas atraentes pelos portugueses, pela possibilidade de encontrar ouro e pedras preciosas, e perigosas, por causa do medo da natureza selvagem.

Além disso, as terras do sertão não eram desabitadas, pois compreendiam os territórios de povos indígenas que tradicionalmente ocupavam essas áreas.

Gravura. Envolta em uma borda sinuosa, composta de frisos representando flores e ramos, sobre um fundo de papel amarelado, no centro da moldura, uma paisagem em tons de bege.
No centro da gravura, uma pequena cidade com diversas casas e outras construções baixas. Três torres se destacam acima da linha dos telhados das demais construções. Ao fundo, uma serra com vários morros arredondados. 
Em primeiro plano, alguns caminhos de terra, alguns arbustos esparsos e um rio sinuoso. 
A gravura está emoldurada por frisos com flores e há uma placa no centro, na parte superior, com a inscrição: 'Desenho por ideia da cidade de São Paulo'.
Cidade de São Paulo, gravura do século dezoito.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar dos povos indígenas que habitavam o chamado sertão, do processo de expropriação de suas terras e da interiorização do território colonial português, o conteúdo desta parte do capítulo favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois e da Competência Específica de História nº 5.

Ampliando

Os portugueses promoveram guerras de extermínio para dominar territórios de povos originários e integrá-los à economia colonial. No relato a seguir, o administrador colonial português Mem de Sá trata desse assunto.

“[...] veio recado ao governador como o gentio Tupiniquim da capitania de Ilhéus se alevantava e tinha morto muitos cristãos e destruído e queimado os engenhos. reticênciasantes da manhã duas horas, dei na aldeia e a destruí e matei todos os que quiseram resistir e na vinda vim queimando e destruindo todas as aldeias que ficaram atrás e porque o gentio se ajuntou e me veio seguindo ao longo da praia, lhes fiz algumas ciladas onde o cerquei e lhes foi forçado deitarem-se a nado no mar de costa brava. Mandei outros índios atrás deles e gente solta que o seguiram perto de duas léguas e lá no mar, pelejaram de maneira que nenhum Tupiniquim ficou vivo, e todos os trouxeram a terra e os puseram ao longo da praia por ordem que tomavam os corpos perto de uma légua. reticências vieram pedir misericórdia e lhes dei pazes com condição de que haviam de ser vassalos de sua alteza, pagar tributo e tornar a fazer os engenhos. Tudo aceitaram e fizeram e ficou a terra pacífica em espaço de trinta dias [...].”

SÁ, M. de. Instrumento dos serviços de Mem de Sá, 1570. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1905. volume vinte e sete, página 133.

Curadoria

Tupinambá: o retorno da terra (Filme)

Direção: Daniela Alarcon. Brasil, 2015. Duração: 24 minutos.

Os Tupinambá da aldeia Serra do Padeiro, na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia, resistem à violência colonial desde o século dezesseis. O povo indígena luta pela demarcação de seus territórios em uma das áreas de colonização mais antigas da América. No filme, os Tupinambá contam em primeira pessoa sua história de luta e resistência. Para eles, a terra pertence aos encantados, as entidades mais importantes de sua cosmologia.

A entrada dos colonizadores no interior do território foi narrada como a história do povoamento português. Ao longo desse processo, milhares de indígenas foram escravizados e mortos para serem substituídos por algumas centenas de brancos.

Em razão disso, a conquista do chamado sertão não foi povoadora, mas um violento processo de despovoamento do território de seus habitantes originários.

Lembra-se da imagem reproduzida na abertura deste capítulo? Do Monumento às bandeiras, erguido em 1954 para celebrar os feitos daqueles que eram tidos como pioneiros e heróis paulistas? Talvez, agora, ele apresente para você outro significado e possa ser encarado como um monumento que narra a violência presente em nossa sociedade contra os povos originários desde o passado colonial.

Jesuítas e bandeirantes

No processo de interiorização do território colonial português, o contrôle sobre a população indígena foi estratégico e causou muitas disputas. Por meio da atividade missionária e das ações conduzidas pelos colonos com o objetivo de apresamento dos nativos, muitas áreas até então desconhecidas pelos portugueses foram incorporadas ao império.

Na ocupação da Amazônia, que você estudará adiante, as duas atividades estiveram presentes, destacando-se as ações conduzidas pelos padres jesuítas e pelos bandeirantes paulistas.

Fotografia. Escultura de uma criança indígena segurando o focinho de um tamanduá. A escultura foi feita em metal de cor preta. A luz do sol incide sobre ela. A peça está sobre um pedestal composto de tijolos de pedra, e há uma pequena placa preta com o texto: 'O índio e o tamanduá'. E abaixo, o nome do artista.
O índio e o tamanduá, escultura de Ricardo sipíquia, da década de 1940. São Paulo (São Paulo). Foto de 2009.
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A escultura retrata uma criança indígena com um tamanduá, mostrando a intensa relação que existe entre os indígenas e a natureza, seu território. Essa obra também se localiza em São Paulo, mas não está em um ponto de grande visibilidade da cidade, como ocorre com o Monumento às bandeiras. A escultura de temática indígena também está muito longe de possuir as grandes dimensões da obra dedicada aos bandeirantes. Perceba como monumentos são escolhas daquilo que, em determinado momento da história, se quer celebrar ou não sobre um povo, uma cultura.

Respostas e comentários

Para obter informações sobre o número de indígenas na América portuguesa e seu declínio ao longo da colonização, consulte o artigo: MONTEIRO, J. M. A dança dos números: a população indígena do Brasil desde 1500. Tempo e Presença, número 271, 1994, página 17-18. É importante destacar o fato de que a depopulação ameríndia não representa apenas a morte de indivíduos, mas pode corresponder a um etnocídio (extinção de povos inteiros) e à ruptura nas cadeias de transmissão dos conhecimentos, pois os anciãos, comumente mais vulneráveis a doenças, atuam como bibliotecas vivas de conhecimentos tradicionais. Para aprofundar essa discussão, leia a obra: VILAÇA, A. Morte na floresta. São Paulo: Todavia, 2020.

É recomendável conversar com os estudantes sobre o papel decisivo das doenças levadas da Ásia, da África, da Europa para a América nas conquistas coloniais. Poucos europeus, com alguns cavalos e arcabuzes – que eram armas, na época, muito ineficientes –, não dariam conta de dominar sociedades indígenas tão diversas e complexas.

Para entender o processo colonial, é importante considerar o fato de que os povos indígenas não eram um corpo uno; eram diversos e tinham rivalidades internas muito profundas, de modo que os europeus se apresentaram como possíveis aliados de alguns, participando de disputas tradicionais. É preciso considerar, ainda, a disseminação das doenças para as quais os indígenas não tinham memória imunológica.

Os historiadores conseguem propor mapeamentos populacionais mais consistentes do primeiro século da colonização, sobretudo em áreas com mais registros, como o centro do México. Estima-se que nessa região houve um declínio populacional na escala de 90%. Alguns autores propõem tal redução de população para a América inteira.

As missões jesuíticas

Como você estudou no capítulo 7, os primeiros jesuítas chegaram à América portuguesa na comitiva do governador-geral Duarte da Costa com a tarefa de manter a fé dos colonos e catequizar os indígenas.

O projeto de cristianização da América ocorreu no contexto das Reformas Religiosas, como você estudou no capítulo 3. Para os padres missionários, os indígenas eram como uma “folha em branco”, na qual os cristãos europeus poderiam gravar a palavra de Deus.

Com essa ideia, os jesuítas organizaram aldeias chamadas missões (algumas vezes também chamadas de aldeamentos ou reduções) com o objetivo de reunir indígenas, convertê-los ao cristianismo e mudar seus hábitos.

Nas missões organizadas pelos jesuítas, os indígenas trabalhavam para produzir o próprio sustento e viviam sob as ordens e os ensinamentos dos padres.

Por estarem separados de vilas e aldeias portuguesas, esses territórios das missões foram alvo de muitos ataques de bandeirantes paulistas.

Fotografia. Construção de pedras de cor marrom, formada por colunas nas laterais, à direita, e uma torre quadrada, à esquerda, em meio a um campo plano coberto por grama verde.
Ruínas da igreja de São Miguel Arcanjo, localizada no Parque Histórico Nacional das Missões, em São Miguel das Missões (Rio Grande do Sul). Foto de 2019.
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Localizada no atual território do Rio Grande do Sul, São Miguel Arcanjo era uma das missões jesuíticas que, com outras seis, formavam os Sete Povos das Missões, onde viviam grupos catequizados jesuítico-guaranis. O sítio histórico foi tombado como Patrimônio Cultural em 1938 e declarado Patrimônio da Humanidade, pela unêsco, em 1983. Já o Parque Histórico Nacional das Missões foi instituído pelo governo brasileiro em 2009.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar do contexto das reformas religiosas durante o processo de cristianização da América e ao explorar a ação missionária dos jesuítas e o estabelecimento de aldeamentos na América portuguesa, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero cinco e ê éfe zero sete agá ih um dois, bem como da Competência Específica de História nº 5.

O desafio apresentado pelos povos indígenas da América portuguesa à conversão foi tanto que o padre Antônio Vieira chegou a dizer em sermão que “a gente destas terras é a mais bruta, a mais ingrata, a mais inconstante, a mais avessa, a mais trabalhosa de ensinar de quantas há no mundo” (“Sermão do Espírito Santo”, 1657). No mesmo sermão, o jesuíta comparou-os, ainda, a estátuas de murta (espécie de arbusto), que, mesmo moldadas com facilidade, rapidamente perdiam a fórma, diferentemente dos que Vieira considerava estátuas de mármore, os quais, embora exigissem mais dedicação na conversão, permaneciam estáveis na fé. Essa analogia foi analisada pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro no célebre texto “O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem”. In: VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Ubu, 2017. página 157-228.

Manuel da Nóbrega, no Plano Civilizador, de 1558, concluiu que, para assegurar a estabilidade da conversão, seria preciso primeiro civilizar os indígenas para, então, convertê-los. Portanto, as expedições de conversão, que inicialmente se configuraram como missões volantes – idas e vindas à aldeia –, passaram a se organizar em espaços físicos, primeiro nas redondezas das vilas; depois, em espaços mais afastados das ocupações coloniais. Sendo assim, as missões, os aldeamentos ou as reduções foram invenções americanas, tendo resultado de tentativas e erros dos missionários jesuítas no intuito de converter os ameríndios.

No processo de catequese, os jesuítas empregaram várias estratégias, que envolviam o uso do teatro, o ensino de música e a realização de autos religiosos e procissões.

Apesar de todo o esforço empregado, os jesuítas encontraram a resistência dos próprios povos indígenas, que, de diversos modos, recusaram-se a seguir os padres.

A oposição vinha também dos colonos interessados em ter os indígenas como mão de obra cativa nos engenhos açucareiros e nas demais atividades coloniais.

É importante destacar que muitos padres jesuítas, como Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, eram favoráveis à dominação dos indígenas. Entretanto, eles afirmavam que os paulistas conseguiam indígenas de fórma ilegal, fóra do princípio da guerra justa.

Por isso, nesse sentido, eles se opunham aos colonos da vila de São Paulo, responsáveis pela organização das bandeiras.

Fotografia. Sobre um fundo de papel amarelado, a planta de um aldeamento jesuíta. Na parte superior, uma grande construção retangular com três pátios internos com uma torre e a fachada principal triangular. 
À frente dela, um grande pátio externo contornado por muitas construções retangulares dispostas em quatro fileiras verticais. As duas fileiras laterais têm cerca de catorze construções. As duas fileiras centrais têm cerca de dez construções, deixando espaço para o pátio, ao centro.
Todas as construções têm paredes brancas, telhados de cor avermelhada e muitas janelas.
Abaixo, no canto esquerdo, dois anjos seguram uma bandeira com inscrições à mão, em tinta preta. No canto direito, algumas construções a partir de outro ponto de vista, lateral e diagonal.
Planta da missão jesuíta de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões Rio Grande do Sul, cêrca de 1756.
Fotografia. Construção branca, retangular, com dois pavimentos, composta de muitas janelas, à esquerda; no centro, há uma torre quadrada de quatro pavimentos, cada pavimento tem um tipo de janela. No primeiro pavimento, uma janela quadrada. No segundo, uma janela retangular, no terceiro, uma minúscula janela redonda, e no quarto, duas janelas em forma de arco. O telhado da torre é triangular coberto por telhas cor de terracota e encimado por uma cruz.
À direita, a construção apresenta três pavimentos, com um frontão triangular com uma cruz em cima. No primeiro pavimento há uma grande porta retangular, onde há algumas pessoas. No segundo, três janelas retangulares. No terceiro, uma pequena janela redonda no centro. 
À frente da construção, um pátio com piso de pedras e duas pessoas, à esquerda, vistas de costas, montando estruturas baixas de metal. Ao fundo, à esquerda, duas árvores. No alto, o céu azul sem nuvens.
Vista da praça do Pátio do Colégio, em São Paulo (São Paulo). Foto de 2019. Os jesuítas fundaram o Colégio de São Paulo nesse local.
Respostas e comentários

Nos aldeamentos, os indígenas passavam por um processo intenso de redução, no qual eram obrigados a abandonar os antigos modos de vida para viver sob a lei cristã. Esse processo implicava o banimento dos pajés (chefes religiosos) e o esvaziamento do poder dos caciques (chefes políticos); a fixação ao território de povos nômades ou seminômades; o ensino de língua portuguesa; a criação de famílias nucleares à revelia de práticas poligâmicas; o batismo e a proibição de rituais indígenas e práticas antropofágicas; a imersão em uma rotina de trabalho compulsório, sujeito a castigos e punições; o contrôle do tempo, entre outros aspectos.

É preciso atentar à particularidade do trabalho nos aldeamentos. Após o Regimento das Missões, de 1686, os indígenas eram obrigados a trabalhar de maneira rotativa – um terço do ano nos aldeamentos, outro terço nas fazendas dos colonos e o terço restante em serviços régios (por exemplo, nas obras públicas) –, o que alguns historiadores caracterizam como trabalho livre compulsório. Essa modalidade diferencia-se da escravização porque, entre outros aspectos, os aldeados não podiam ser vendidos, mas também se distancia abissalmente do trabalho assalariado dos dias atuais. Na Amazônia colonial, por exemplo, a remuneração por jornada de quatro meses podia corresponder a apenas dois metros de pano de algodão, que devia ser utilizado na confecção de roupas para os trabalhadores indígenas.

Na capitania de São Vicente, a fôrça de trabalho indígena era central até meados do século dezoito. Uma série de aldeamentos foi estabelecida no entorno da Vila de São Paulo de Piratininga, e os colonos valiam-se do serviço de trabalhadores escravizados em suas fazendas.

Quando se trata de escravização e de trabalho compulsório, trata-se também de resistência: há registros de fugas e de revoltas nos aldeamentos e de grandes levantes nas fazendas paulistas. Para obter mais informações sobre esses levantes, leia o livro: VELLOSO, G. Ociosos e sedicionários: populações indígenas e os tempos do trabalho nos Campos de Piratininga (século dezessete). São Paulo: Intermeios, 2018.

As bandeiras

No início do século dezessete, a economia da vila de São Paulo dependia da escravização de indígenas. Para capturar e escravizar os nativos, os colonos paulistas, chamados bandeirantes, organizaram expedições conhecidas como bandeiras.

Nessas expedições, os bandeirantes ultrapassaram os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, colaborando para ampliar os domínios portugueses na América.

As bandeiras paulistas eram organizadas normalmente por particulares, mas também podiam ser contratadas por autoridades coloniais para combater povos indígenas hostis ou destruir quilombosglossário . Nesses casos, eram chamadas de expedições de sertanismo de contrato. Havia ainda as entradas, expedições financiadas com o apoio da Coroa portuguesa.

Para desbravar o sertão, os bandeirantes se beneficiaram dos conhecimentos da cultura indígena e aprenderam a identificar os potenciais da flora e da fauna. Criaram, assim, uma espécie de cultura híbrida própria da sociedade colonial paulista.

Ilustração. Em uma região de mata, dois homens brancos segurando armas de cano longo, um à esquerda, outro à direita, cercam um grupo de seis pessoas indígenas, homens, mulheres e crianças, no centro da imagem. Vistas de lado, as pessoas indígenas estão seminuas com as mãos amarradas à frente do corpo, atravessando uma ponte feita com um tronco caído. Ao fundo, árvores altas e o céu azul com nuvens brancas.
Ilustração atual, feita com base em gravura do século dezenove de Jãn Batiste Dêbret, representando a captura e o comércio de indígenas escravizados praticados pelos chamados bandeirantes.
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Imagens em contexto!

Na capitania de São Vicente, onde se localizava a vila de São Paulo, desenvolveu-se uma economia de subsistência baseada no cultivo de trigo, algodão, uva e outras frutas mediterrânicas e na criação de gado.

O interesse inicial pela escravização de indígenas estava vinculado ao cultivo de trigo na região. Com o tempo, os bandeirantes passaram a ter outros objetivos, como o de encontrar metais e pedras preciosas.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar das expedições sertanistas e bandeirantes, da escravização e do alargamento das fronteiras da colônia portuguesa, o conteúdo desta parte do capítulo mobiliza a habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois, além da Competência Específica de História nº 5. 

Assegure-se de que os estudantes compreendam bem a ordem dos fatores: os bandeirantes direcionavam-se ao interior em busca de indígenas para escravizar e de metais preciosos para explorar, empreitadas nas quais desrespeitavam os limites do Tratado de Tordesilhas. De acordo com o mito dos heróis bandeirantes, que ainda está presente na memória coletiva do país e no senso comum, apresenta-se a ideia de que o alargamento das fronteiras da colônia era o objetivo dos bandeirantes, mas, na realidade, a expansão territorial foi consequência de suas atividades econômicas.

Curadoria

Xondaro (Livro)

Victor flín patiôrník. São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo: Elefante, 2016.

O quadrinho apresenta a história recente dos Guarani que vivem em São Paulo. Trata da luta desses indígenas pela demarcação de suas terras e da desconstrução da memória heroicizada dos bandeirantes.

Ampliando

No texto a seguir, Djón Monteiro trata da história dos bandeirantes e dos povos indígenas da capitania de São Vicente.

“Ao longo do século dezessete, colonos de São Paulo e de outras vilas circunvizinhas assaltaram centenas de aldeias indígenas em várias regiões, trazendo milhares de índios de diversas sociedades para suas fazendas e sítios na condição de ‘serviços obrigatórios’. Estas frequentes expedições para o interior alimentaram uma crescente base de mão de obra indígena no planalto paulista, que, por sua vez, possibilitou a produção e o transporte de excedentes agrícolas, articulando – ainda que de fórma modesta – a região a outras partes da colônia portuguesa e mesmo ao circuito mercantil do Atlântico meridional. Sem este fluxo constante de novos cativos, a frágil população indígena do planalto logo teria desaparecido, porque, a exemplo da escravidão negra do litoral nordestino, a reprodução física da instituição dependia, em última instância, do abastecimento externo. Porém, ao contrário da sua contrapartida senhorial do litoral, os paulistas deram as costas para o circuito comercial do Atlântico e, desenvolvendo fórmas distintivas de organização empresarial, tomaram em suas próprias mãos a tarefa de constituir uma fôrça de trabalho.”

MONTEIRO, J. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. página 57.

De fórma ilegal, mas constante, essas explorações criavam caminhos que interligavam São Paulo ao Guairá (atual estado do Paraná) e chegavam até as minas de Potosí, controlada pelos espanhóis, no território correspondente ao da atual Bolívia.

No final do século dezessete, foram encontradas as primeiras reservas de ouro na região das Minas Gerais. Devido à rápida urbanização em Minas Gerais, foram organizadas várias viagens para atender à crescente demanda por mantimentos, armas, ferramentas e escravizados.

A descoberta do ouro, como você estudará no capítulo 10, acelerou o processo de ocupação do interior e contribuiu para a ampliação dos territórios portugueses na América.

Analise a trajetória de algumas bandeiras paulistas indicadas no mapa a seguir: a expedição chefiada por Antônio Raposo Tavares foi até a região amazônica, chegando em Belém no ano de 1651.

Bandeiras e missões – 1550-1720

Mapa. Bandeiras e missões. De 1550 a 1720. Mapa representando os limites atuais do Brasil em cor de laranja. Há alguns rios demarcados, setas indicando rotas e ícones espalhados pelo território. Na legenda, uma cruz vermelha indica:  'Missões portuguesas'. Uma cruz verde indica: 'Missões espanholas'. Linhas de cor cinza indicam os 'Limites do Brasil atual'. Setas cor de rosa indicam: 'Grande bandeira de Antônio Raposo Tavares'. Linhas vermelhas indicam: 'Rota de Manuel Preto'. Linhas verdes indicam: 'Rota de Fernão Dias'. No mapa, há  cruzes vermelhas indicando as Missões portuguesas localizadas, sobretudo, no norte do território, ao longo dos rios Madeira e Amazonas até a ilha de Marajó; nos arredores da cidade de Belém; na região ao redor da cidade de São Luís; e algumas na região que hoje corresponde ao Rio Grande do Norte. Há cruzes verdes indicando as Missões espanholas na região entre os rios Guaporé e Mamoré; na região de Itatim, no território que hoje corresponde ao Mato Grosso do Sul; na região que hoje corresponde ao oeste dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em Guairá, Tape e Sete Povos das Missões; e na Colônia do Sacramento, no atual Uruguai. Uma seta rosa, indica a Grande bandeira de Antônio Raposo Tavares, saindo da cidade de São Paulo na direção oeste, passando por Itatim, na região que hoje corresponde ao Mato Grosso do Sul, seguindo até Santa Cruz de la Sierra, na atual Bolívia. De lá, sobe o Rio Madeira e o Rio Amazonas até a foz desse último, perto da Ilha de Marajó. Linhas vermelhas indicam a Rota de Manuel Preto, saindo da cidade de São Paulo na direção oeste até a região entre o Rio Paranapanema e o Rio Paraná. Uma linha verde representa a Rota de Fernão Dias, saindo da região do Rio Doce, no território que hoje corresponde ao território de Minas Gerais, passando pela cidade de São Paulo, atravessando a região que hoje corresponde ao estado do Paraná e seguindo até o oeste do território que hoje corresponde ao Rio Grande do Sul, passando pelos Sete Povos das Missões até encerrar-se na região da Colônia do Sacramento. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 340 quilômetros.

FONTES: VICENTINO, C. Atlas histórico: geral & Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 105; Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: fei , 1991. página 24, 58.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise o mapa: onde se concentrava a maior parte das missões portuguesas? Elabore uma hipótese para justificar essa concentração. Depois, explique como a ação de bandeirantes e jesuítas ajudou a ampliar as áreas de domínio português na América.

Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: A maior parte das missões se localizava na região amazônica. Com a ampliação da presença portuguesa na América, muitos povos nativos, fugindo da escravização e do contato com os portugueses, deslocaram-se do litoral para o interior do território. Em relação à ampliação das áreas de domínio português na América, foi para dominar os indígenas (a fim de catequizá-los ou escravizá-los) que os jesuítas e bandeirantes ultrapassaram os limites do Tratado de Tordesilhas, como se nota nas rotas das bandeiras e nos aldeamentos apontados no mapa.

Bê êne cê cê

Ao realizar a análise do mapa e a atividade proposta no boxe “Se liga no espaço!”, contribui-se para desenvolver a habilidade ê éfe zero sete agá ih um um, as Competências Específicas de Ciências Humanas norteº 5 e norteº 7 e a Competência Específica de História norteº 3.

Na região amazônica, a exploração das chamadas drogas do sertão foi também um motivo para a atração de colonos e padres portugueses. Nesse sentido, as missões estabelecidas nas margens dos rios amazônicos atuavam como locais de apoio e fornecimento de mão de obra para as expedições – extrativistas e de escravização. A ânsia portuguesa em assegurar territórios também ajuda a explicar a concentração de aldeamentos na Amazônia, principalmente no Rio Negro e no Alto Amazonas.

• O historiador Sérgio Buarque de Holanda tem estudos representativos sobre os deslocamentos dos sertanistas e sobre as vilas paulistas capitaneadas por mulheres. Uma síntese do autor sobre o tema é apresentada em: RAMINELLI, R. Bandeiras. In: VAINFAS, R. direção Dicionário do Brasil colonial: 1500-1808. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. página 64.

Vamos pensar juntos?

Você já deve ter lido textos ou assistido a vídeos sobre o Quilombo dos Palmares. Localizado na Serra da Barriga, na então capitania de Pernambuco, o local chegou a abrigar milhares de pessoas por volta de 1670, entre escravizados africanos e indígenas e indivíduos de diversas outras origens.

Você vai estudar melhor esse quilombo no capítulo 11, mas o que você talvez não saiba é que a repressão a Palmares contou com a participação de um bandeirante paulista: Domingos Jorge Velho.

Conhecido como caçador de indígenas e africanos escravizados, ele viveu entre os anos de 1641 e 1705. Morreu, portanto, no início do século dezoito e nunca foi retratado em vida. Quase dois séculos depois, o governo de São Paulo ordenou a elaboração de um quadro do bandeirante para ser exposto no recém-criado Museu Paulista. A tarefa foi confiada ao pintor Benedito Calixto, que finalizou a obra em 1903.

Na imagem inventada pelo pintor brasileiro, a pose altivaglossário e os trajes suntuososglossário de Domingos Jorge Velho contribuíram para imortalizar o personagem como símbolo de uma geração de paulistas responsáveis pela grandeza territorial do Brasil. Sobre o processo de elaboração do quadro, leia o que o historiador Paulo César Garcez escreveu.

“Benedito calísto, autor da pintura, utilizou para a composição formal do protagonista uma pose característica dos reis franceses da dinastia Bourbon, inaugurada por riassãnti rigô nos célebres retratos em que representara a majestade monárquica de Luís catorze. Esta solução pictórica adotada por Calixto ligava-se à necessidade de conferir ao retratado a maior dignidade possível, de maneira a evidenciar seu caráter altivo, atributo daquele que passava ser compreendido como um dos heróis da saga histórica simultaneamente paulista e brasileira.”

MARINS, P. C. G. Nas matas com pose de reis: representação de bandeirantes e a tradição retratística monárquica europeia. Revista do iébi, número 44, página 79, fevereiro 2007.

Outros pintores, como Miguel antónio do Amaral, utilizaram a técnica de riassãnti rigô para retratar monarcas europeus.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao explorar as visões e memórias sobre os bandeirantes, considerando a disputa do passado por diferentes grupos sociais, são mobilizadas as Competências Gerais da Educação Básica nº 1 e nº 3 e as Competências Específicas de História nº 3 e nº 4.

Vamos pensar juntos?

Nessa seção, é analisada a construção de uma mitologia bandeirante no estado de São Paulo, problematizando a questão principalmente com base na análise de uma das obras de Benedito calísto, produzida em 1903. Com ela, é possível retomar parte das reflexões propostas na abertura do capítulo.

Além de pinturas, estátuas e monumentos em homenagem aos bandeirantes, há ruas, estradas e rodovias com nomes de importantes sertanistas no estado de São Paulo. Caso considere pertinente e existam recursos disponíveis para tal, peça aos estudantes que pesquisem essas ocorrências em jornais, revistas ou na internet. Para contrapor essa toponímia laudatória dos bandeirantes, os estudantes podem pesquisar nomes de ruas e de localidades de origem indígena. Uma das conclusões do confronto de toponímias será a verificação de que os indígenas são majoritariamente representados por nomes coletivos, de povos. Constatam-se assim os limites e as características da representatividade indígena.

Atividade complementar

calísto pintou o período colonial quando o Brasil já era independente. Pintores como Jãn Batiste Dêbret e frãns pôst representaram o espaço e os sujeitos coloniais neste período. Os poucos registros visuais de pessoas de origem africana e indígena foram feitos por mãos europeias. Rompendo com esse monopólio da narrativa, uma leva de artistas contemporâneos afro-indígenas recriaram tais representações. Apresente aos estudantes a série Atualização traumática de debrê, da artista maranhense Gê Viana. Confronte as colagens digitais da artista contemporânea com os originais de debrê e peça aos estudantes que identifiquem as intervenções realizadas pela artista. Em seguida, discuta com eles as implicações políticas do trabalho não só na memória, mas também na restituição da dignidade de grupos subalternizados. Para finalizar, solicite aos estudantes que escolham obras de debrê ou de outros pintores europeus e produzam intervenções inspiradas no trabalho de Gê Viana.

Para pintar seu quadro, Benedito calísto baseou-se em um dos mitos da historiografia paulista, criado entre o final do século dezenove e o início do século vinte: o dos bandeirantes como desbravadores do sertão, heróis que contribuíram para a construção da grandeza do país ampliando as fronteiras territoriais.

Esse mito de origem paulista conferia ao estado de São Paulo pioneirismo e protagonismo na formação do Brasil.

Pois bem, de lá para cá, essa imagem heroica passou a ser sistematicamente questionada por causa da crueldade e da violência da ação dos bandeirantes, responsáveis pela escravização e pela morte de milhares de indígenas.

Pintura. Retrato de um um homem visto de corpo inteiro, em pé, em uma sala ricamente decorada.  O homem está com o corpo levemente voltado para a direita. Uma mão na cintura e a outra estendida para o lado, apoiada em um cetro apoiado no chão e disposto verticalmente. Um dos pés está à frente do outro. A cabeça está levemente voltada para a direita com uma expressão altiva e serena. Ele foi representado no centro da imagem.
É um homem de cabelos compridos, encaracolados e brancos, usando um longo manto vermelho com aspecto aveludado e forro branco com pintinhas pretas preso na altura do peito com um broche com pedras brilhantes, um casaco vermelho escuro adornado com bordados dourado usado por cima de uma camisa branca de gola alta e punhos rendados, uma calça de aspecto aveludado vermelha escura  com bordados dourados nas laterais, meias brancas longas té a altura dos joelhos usadas por cima da calça, sapatos pretos de salto com fivela quadrada. Preso ao pescoço por uma fita vermelha, há um grande crucifixo vermelho com pedras brilhantes.
No fundo da sala, há uma espécie de cortina feita com um tecido verde de aspecto aveludado pendurado na parede à esquerda; atrás do homem, à esquerda, há um trono dourado forrado com tecido vermelho e detalhes dourados. Do lado direito, há uma coluna cinza ao fundo, e, logo abaixo, uma mesa coberta por uma toalha de aspecto aveludado vermelha escura. Sobre a mesa, há uma coroa dourada e vermelha decorada com pérolas, com uma cruz no topo colocada em cima de uma almofada vermelha. Ele tem a mão esquerda apoiada em um cetro firmado no chão e disposto verticalmente.
Retrato de José primeiro de Portugal, pintura de Miguel António do Amaral, cêrca de 1773.
Pintura. Em um local aberto, dois homens vistos dos joelhos para cima. Um deles, em primeiro plano, à esquerda, e o outro em segundo plano, à direita. Eles estão em uma região de mata, com uma montanha no fundo à esquerda e árvores e vegetação à direita.  
O homem à esquerda está com o corpo levemente voltado para a direita. Um braço escondido sob um casaco em seus ombros e o outro estendido para o lado, com a mão apoiada no cano de uma arma colocada verticalmente. A cabeça está  voltada para a frente com uma expressão altiva e severa.
Ele tem cabelos curtos e brancos, uma longa barba branca, um bigode espesso na cor marrom, usa um chapéu de abas largas na cor marrom, camisa azul com punhos brancos, calças marrons e botas de cano alto marrons até a altura das coxas.  Sobre um dos ombros, à esquerda, ele leva um casaco preto de aspecto aveludado com lapela e bordas vermelhas, seu braço está oculto sob o casaco. Tem um cinto marrom e uma pistola presa ao cinto. Atravessando o peito, usa uma faixa diagonal marrom, sobre a qual está preso um facão. Ele tem um dos braços apoiado em uma arma de cano longo firmada no chão à direita.
O homem à direita, mais ao fundo tem cabelos até a altura do queixo, lisos e pretos, um bigode preto e o rosto redondo. Ele usa um chapéu de abas de cor marrom, uma blusa azul de mangas compridas com gola e punhos brancos, uma proteção de metal cobrindo os ombros e a parte superior do peito,  calças de cor bege e botas marrons de cano alto até a altura das coxas. Tem uma faixa marrom atravessando o peito na diagonal e usa um cinto marrom em que está presa uma espada atada à sua cintura.
O mestre de campo Domingos Jorge Velho e seu lugar-tenente Antônio Fernandes de Abreu, pintura de Benedito Calixto, 1903.

A representação desses personagens em diversos monumentos no estado de São Paulo alimenta um importante debate sobre a questão da memória histórica. O que é lembrado e o que é esquecido quando são resgatados personagens e eventos do passado?

Responda no caderno.

  1. Identifique e caracterize duas visões conflitantes sobre os bandeirantes paulistas.
  2. Quais são as semelhanças entre o quadro de Benedito calísto e o de Miguel antónio do Amaral?
  3. De acordo com o que você estudou neste capítulo, elabore uma hipótese para explicar a aproximação feita por Benedito calísto entre a imagem de Domingos Jorge Velho e a do rei José primeiro de Portugal.
Respostas e comentários

Atividades

1. Nessa atividade, problematiza-se a construção do mito dos heróis bandeirantes, com base no qual esses personagens históricos são caracterizados como desbravadores valentes e audaciosos, responsáveis pela ampliação das fronteiras nacionais. Nos últimos anos, porém, investiu-se na imagem oposta, ressaltando as atitudes cruéis e predatórias desses homens do passado colonial brasileiro, principalmente no tratamento e na escravização de indígenas.

2. No quadro de Benedito calísto, a figura do bandeirante Domingos Jorge Velho foi construída de acordo com a postura da retratística real inaugurada por Hyacinthe Rigaud. A pose, as vestimentas e o aspecto altivo do personagem de calísto lembram bastante o quadro Retrato de José primeiro de Portugal, de Miguel antónio do Amaral. A manta real serve de referência para o casaco aveludado do bandeirante, e o cetro é substituído na imagem por uma arma de fogo. Nas duas obras, é possível perceber uma aura de poder sobre os personagens representados.

3. O objetivo de Benedito calísto foi reforçar o caráter heroico do personagem paulista. É importante lembrar que o pintor elaborou seu quadro quando se operava no estado de São Paulo a construção do mito dos heróis bandeirantes. Não por acaso, a obra foi comprada para compor o acervo do Museu Paulista.

Curadoria

A epopeia bandeirante: letrados, instituições, invenção histórica (1870-1940) (Livro)

Antonio Celso Ferreira. São Paulo: Editora da Unésp, 2002.

Nessa obra, por meio de análise de fontes históricas como o Almanach Literario, de matérias veiculadas na revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, de contos, romances e outras narrativas, o historiador Antonio Celso Ferreira busca compreender a construção da identidade regional do paulista no período entre o fim do século dezenove e o início do século vinte.

Outras atividades econômicas nos primeiros séculos de colonização

Além da produção do açúcar para exportação, outras atividades econômicas se desenvolveram na América portuguesa. Nesse período, a exploração das chamadas drogas do sertão – produtos como cravo, baunilha, pimenta e urucum – cumpriu o importante papel de evitar a invasão da região amazônica por europeus de outros países.

O governo português tomou, ainda, outras medidas de ocupação do território, como a construção de fortificações e a fundação de vilas em diferentes partes da América portuguesa.

Além da produção do açúcar e da extração das chamadas drogas do sertão, muitas outras atividades estavam relacionadas ao abastecimento da população local, como a criação de gado para obtenção de carne, leite e couro e o cultivo de trigo, mandioca, milho e feijão.

A pecuária avançou pelo interior da colônia, principalmente no Nordeste, a partir do século dezessete e, depois, desenvolveu-se no Sul e no Sudeste, o que contribuiu para a expansão da ocupação do território pelos portugueses.

Fotomontagem. Sobre tábuas de madeira de cor marrom avermelhada com folhas verdes, acima e abaixo, há seis vegetais dispostos em duas fileiras horizontais, cada uma delas com  três produtos. 
Na primeira fileira, no alto, sobre círculos cor de abóbora, há dois frutos de cacau, um fechado (de formato oval, com linhas verticais e tons de verde, amarelo e marrom) e outro, à direita, parcialmente aberto, revelando sementes brancas de tamanho médio dispostas em duas fileiras de gomos, à esquerda, há uma cumbuca com muitas sementes de cacau secas, torradas, na cor marrom. 
No centro, sobre círculos cor de abóbora, há frutos de guaraná. Há um ramo central marrom com diversos frutinhos arredondados em tons de cor de laranja e vermelho, alguns deles têm um centro branco e uma ponta arredondada preta. 
À direita, sobre círculos cor de abóbora, há uma porção de cravos-da-índia, pequenos botões de flor, secos, com a base marrom e um centro amarelado. 
Abaixo, na segunda fileira, à esquerda, sobre círculos cor de abóbora, há três metades de frutos abertos de castanha. Os frutos estão cortados ao meio e têm a aparência de ouriços marrons. Dentro deles, há uma fina camada de polpa branca e diversas castanhas com casca espessa, de aparência dura e cor marrom.
No centro, sobre círculos cor de abóbora, há uma porção de favas de baunilha, frutos semelhantes a vagens finas e compridas de cor marrom. 
À direita, sobre círculos cor de abóbora, há três frutos de urucum, dois deles abertos ao meio, e um fechado. Também há um montinho de pó de urucum vermelho abaixo. Os frutos parecem pequenos ouriços de cor marrom avermelhada, têm uma polpa branca espessa e muitas pequenas sementes vermelhas em seu interior. O pó tem um aspecto fino e um tom vermelho alaranjado.
Fotomontagem atual com imagens de algumas das chamadas drogas do sertão: acima, da esquerda para a direita, cacau, guaraná e cravo; abaixo, da esquerda para a direita, castanha, baunilha e urucum.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

As chamadas drogas do sertão formavam um amplo conjunto de espécies vegetais aromáticas, raízes e frutos (nativos ou aclimatados) da região dos atuais estados do Amazonas, do Pará e do Maranhão, que eram consumidos na Europa como drogas medicinais, temperos ou tinturas. Para a extração desses produtos da floresta, o trabalho e o conhecimento dos indígenas eram indispensáveis.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar da exploração de atividades econômicas diversificadas, como o extrativismo vegetal, a pecuária, o cultivo do feijão, do milho e do tabaco, o comércio interno e externo e o tráfico de escravizados, o conteúdo destas páginas contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero dois, ê éfe zero sete agá ih um dois e ê éfe zero sete agá ih um quatro, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 5 e da Competência Específica de História nº 5.

A fôrça de trabalho indígena era fundamental para a extração das drogas do sertão. Indígenas remeiros eram os braços que subiam e desciam os rios, remavam sem parar e se alimentavam basicamente de uma mistura de farinha e água. Indígenas pilotos e guias também compunham a tropa. Com ofícios especializados, eles conheciam os caminhos mais facilmente navegáveis e identificavam os atracadouros, por isso recebiam maior remuneração. Para obter mais informações sobre esse tema, consulte: ROLLER, H. F. Expedições coloniais de coleta e a busca por oportunidades no sertão amazônico, cêrca de 1750-1800. Revista de História, São Paulo, número 168, página 201-243, janeiro/junho 2013.

Ampliando

No trecho a seguir, é descrita uma expedição extrativista na Amazônia colonial.

“Uma viagem de canoas ao sertão era um empreendimento complexo. A começar pelo tempo de duração que normalmente girava em torno de seis a oito meses. Para empreender esta jornada era necessário a quem se propusesse realizá-la uma portaria do governo e cumprir a exigência de não estar envolvido com qualquer crime. […] O maior trabalho, no entanto, era juntar os índios necessários à jornada. Não os conseguiam em uma só missão, senão em muitas. Em cada uma delas, somavam um ou dois remeiros. Da canoa maior, partiam normalmente canoas menores e mais ligeiras a percorrer as missões do entorno em busca dos tais remeiros. Nas missões que aportavam com este intuito também compravam alguns mantimentos, principalmente farinhas que eram vendidas pelos índios a preços baixíssimos, segundo João Daniel.

Chegados à missão em busca de índios apresentavam a portaria ao seu missionário e este chamava o Principal ou outro oficial público que reunia os índios mais capazes. Embora nestas repartições já entrassem índios de 13 anos, normalmente o cabo da canoa não aceitava os que tivessem menos de 20. Por muitas vezes demoravam em juntar os índios necessários na aldeia.”

CARVALHO JÚNIOR, A. D. Índios cristãos: a conversão dos gentios da Amazônia portuguesa (1653-1769). 2005. 402 página Tese (Doutorado em História Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, 2005. página 239-240.

Também eram relevantes a produção de fumo, aguardente e farinha de mandioca, muito utilizados nas negociações estabelecidas na costa da África para a compra de escravizados.

O cultivo de trigo ocorria principalmente nos arredores da vila de São Paulo e se destinava, sobretudo, às cidades do litoral, cujos principais consumidores eram senhores de engenho, comerciantes e funcionários do Estado português que viviam no Rio de Janeiro.

Essa produção interna era crescente e ganharia novos contornos com a exploração do ouro no século dezoito. Mas esse tema será aprofundado adiante.

Pintura. Sobre um fundo representando um céu nublado, em tons de cinza com muitas nuvens, na parte inferior da imagem, sobre uma bancada em tons de cinza, há algumas raízes de mandioca. Umas inteiras (à direita), outras cortadas no meio, (à esquerda). 
As raízes tem casca marrom e polpa em tons de amarelo claro e branco. 
Do lado direito, ocupando desde o alto até a base da pintura: a planta da mandioca. Com ramos finos de cor marrom, caules finos verdes caindo para as laterais e ramos verdes compostos por cerca de cinco folhas finas e compridas.
Natureza morta com vegetais, pintura de álbert équirráut , 1640.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O consumo de mandioca foi muito importante para a sociedade colonial. A farinha obtida de seu processamento durava bastante e podia ser transportada em longas viagens. Além do milho e do feijão, ela abastecia o mercado interno colonial. No século dezessete, os pintores frãns pôst e álbert équirráut , encarregados de retratar a América portuguesa para os europeus, registraram em suas telas a raiz americana.

Dica

LIVRO

Farinha, feijão e carne-seca: um tripé culinário, de Paula Pinto e Silva. São Paulo: Senac, 2005.

Nessa obra de linguagem acessível, é apresentado um panorama da cozinha na sociedade colonial da América portuguesa. Você poderá perceber por que a alimentação é um dos principais aspectos da cultura de um povo.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique o papel dos jesuítas na colonização da América portuguesa.
  2. De que modo os bandeirantes se beneficiaram dos conhecimentos indígenas? Cite exemplos.
  3. Além do açúcar, cite outras duas atividades econômicas desenvolvidas nos primeiros séculos de colonização da América portuguesa. Explique a importância de cada uma delas.
Respostas e comentários

Agora é com você!

1. Os jesuítas buscavam controlar os indígenas e sujeitá-los à religião cristã com o objetivo de integrá-los à sociedade portuguesa. Eles reuniam indígenas em territórios nos quais os nativos trabalhavam para o próprio sustento e eram obrigados a receber ensinamentos dos religiosos. Chamados de aldeamentos, missões ou reduções, tais territórios eram separados das vilas e aldeias portuguesas do litoral.

2. Os conhecimentos indígenas foram fundamentais para a organização das bandeiras, principalmente os relacionados à natureza. Foi por meio deles que os bandeirantes aprenderam a identificar os potenciais da flora e da fauna.

3. Pode-se citar a criação de gado para a obtenção de carne, leite e couro. O avanço da pecuária para o sul e o sudeste contribuiu para a expansão do território português. Também se desenvolveu o cultivo de trigo – que era destinado principalmente ao abastecimento das cidades do litoral –, de mandioca – cuja farinha era amplamente utilizada em negociações com o continente africano –, de milho, de feijão, de algodão e de fumo, além da produção de aguardente. O fumo e a aguardente eram muito utilizados como moeda de troca na costa da África para a compra de escravizados. Também é possível mencionar as drogas do sertão, consumidas na Europa como drogas medicinais, temperos ou tinturas.

Orientação para as atividades

As atividades do boxe “Agora é com você!” podem ser consideradas simples, pois demandam mais a identificação do que o relacionamento de informações. Os movimentos básicos mais comuns na resolução de atividades são o de identificação e o de registro de conteúdo. Um pouco mais complexo é o procedimento de elaboração de respostas com autonomia após a identificação do conteúdo. Lembre-se de valorizar as duas fórmas de desenvolvimento da atividade.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. (enêm-Méqui-adaptada) Em seu caderno, identifique a alternativa correta.

“O açúcar e suas técnicas de produção foram levados à Europa pelos árabes no século oito, durante a Idade Média, mas foi principalmente a partir das Cruzadas (séculos onze e treze) que a sua procura foi aumentando. Nessa época passou a ser importado do Oriente Médio e produzido em pequena escala no sul da Itália, mas continuou a ser um produto de luxo, extremamente caro, chegando a figurar nos dotes de princesas casadoiras.”

CAMPOS, R. Grandeza do Brasil no tempo de Antonil (1681-1716). São Paulo: Atual, 1996.

Considerando o conceito do Antigo Sistema Colonial, o açúcar foi o produto escolhido por Portugal para dar início à colonização brasileira, em virtude de
  1. o lucro obtido com o seu comércio ser muito vantajoso.
  2. os árabes serem aliados históricos dos portugueses.
  3. a mão de obra necessária para o cultivo ser insuficiente.
  4. as feitorias africanas facilitarem a comercialização desse produto.
  5. os nativos da América dominarem uma técnica de cultivo semelhante.
  1. Em seu caderno, identifique quais dos objetivos a seguir faziam parte das expedições dos bandeirantes paulistas:
    1. a expansão das fronteiras territoriais da América portuguesa.
    2. a procura por novas áreas de plantio.
    3. a conversão e a catequese de indígenas.
    4. o apresamento de indígenas.
    5. a procura por metais preciosos.

Aprofundando

  1. Nos séculos dezenove e vinte, em muitos livros sobre o período colonial brasileiro (a chamada América portuguesa) o papel da escravidão indígena foi reduzido, sustentando-se até mesmo a ideia de que os indígenas não haviam sido escravizados por serem “preguiçosos” ou “inaptos para o trabalho”. Como base no que você estudou, elabore um pequeno texto que ofereça argumentos que questionem essa visão.
  2. A Mata Atlântica é o bioma brasileiro mais ameaçado pela ação predatória humana desde o primeiro período da colonização europeia no território do atual Brasil. Sobre esse assunto, leia o texto a seguir e depois faça o que se pede.

“Amplos espaços cobertos de florestas virgens e solo fértil possibilitaram a crescente expansão da agricultura em novas áreas, movida pelo desmatamento e pelas queimadas. Uma vez instalados, os engenhos de açúcar demandavam grandes quantidades de lenha para as caldeiras e de madeira para a construção e reparos de equipamentos e instalações. reticências O baixo nível técnico, sob o qual desenvolveu-se a agricultura na colônia, completou o desgaste e a esterilização dos solos.”

MARTINEZ, P. H. História ambiental no Brasil: pesquisa e ensino. São Paulo: Cortez, 2006. página 77.

  1. Qual é o gênero agrícola a que o texto faz referência?
  2. A qual atividade econômica ele está ligado?
  3. A expansão da agricultura ocorreu em quais áreas? Quais foram as técnicas empregadas?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a sensibilização dos estudantes para a existência e a manutenção das práticas escravistas ao longo do tempo e a pesquisa em meios variados, a atividade 6 ao propor uma elaboração textual sobre o tema, contribui para o desenvolvimento da escrita argumentativa, da Competência Geral da Educação Básica nº 2, nº 7 e nº 9, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 2 e nº 6 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 3.

Temas Contemporâneos Transversais

Os Temas Contemporâneos Transversais Educação em direitos humanos e Trabalho são mobilizados por meio da investigação e reflexão sobre a existência de práticas escravistas na atualidade proposto na atividade 6.

Atividades

Organize suas ideias

1. Alternativa a.

2. Alternativas d; êponto

Aprofundando

3. Essa visão não se sustenta, pois muitos indígenas foram submetidos à condição de escravizados por meio das guerras justas empreendidas contra os considerados índios bravos. Além disso, houve a invasão de missões para o aprisionamento de indígenas e a realização das entradas e bandeiras, muitas vezes de fórma ilegal. Nesse sentido, durante a colonização houve a escravização tanto de indígenas quanto de africanos. Até o século dezessete, o número de trabalhadores indígenas nos engenhos do Brasil era superior ao de africanos escravizados.

  1. Explique o emprego da lenha e da madeira nos engenhos de açúcar.
  2. Quais foram as consequências dessa atividade econômica para o bioma da Mata Atlântica no período colonial?

5. (Fuvésti-São Paulo - adaptada) Analise as seguintes fotos.

Fotografia. Diante de um fundo preto com um arco de cor bege em relevo na parede, no centro, há uma escultura representando um homem visto de corpo inteiro. A estátua foi esculpida em mármore de cor branca. O homem está com os dois pés paralelos fixados sobre um pedestal do mesmo material, uma das pernas levemente flexionada, o quadril levemente flexionado lateralmente, um dos ombros abaixado, o braço flexionado segurando um canudo de papel com a mão. O outro ombro elevado, o cotovelo flexionado e a lateral da mão apoiada na testa, como se estivesse avistando algo.
Ele tem cabelos ondulados, cheios e curtos, sob um chapéu de abas largas. Usa um casaco comprido até os quadris, fechado por botões, um cinto na cintura, uma arma presa na cintura, uma faixa cruzando o peito diagonalmente, calças compridas  e botas de cano alto logo abaixo dos joelhos. Nas costas, usa uma espécie de capa, esvoaçando à esquerda.
Fotografia. Diante de um fundo preto com um arco de cor bege em relevo na parede, no centro, há uma escultura representando um homem visto de corpo inteiro. A estátua foi esculpida em mármore de cor branca. O homem está com os dois pés paralelos fixados sobre uma base do mesmo material, um dos joelhos levemente flexionado, um dos braços flexionado à frente do corpo e apoiado em uma arma de cano longo firmada no pedestal, o outro flexionado na altura do peito segurando um objeto pequeno, como uma pedra média arredondada.
Ele tem a cabeça levemente inclinada para a direta e os olhos baixos, observando a pedra que segura em uma das mãos. 
O homem tem cabelos cheios, curtos, encaracolados, usa uma barba comprida até o peito, usa um chapéu de abas largas viradas para cima. Veste um casaco comprido até os quadris, fechado por botões, uma faixa cruzando o peito diagonalmente, calças compridas e botas de cano alto logo abaixo dos joelhos. Nas costas, usa uma espécie de capa, drapeada.
Na primeira imagem, estátua de Antônio Raposo Tavares; na segunda, estátua de Fernão Dias Paes Leme. Ambas estão no salão de entrada do Museu Paulista, São Paulo.
Essas duas estátuas representam bandeirantes paulistas do século dezessete e trazem conteúdo de uma mitologia criada em torno desses personagens históricos.
  1. Caracterize a mitologia construída em torno dos bandeirantes paulistas.
  2. Indique dois aspectos da atuação dos bandeirantes que, em geral, são omitidos por essa mitologia.

6. No contexto da colonização da América portuguesa, havia leis que legitimavam a posse de pessoas. Essas leis foram desconstruídas com a Lei de 6 de junho de 1755 e com a abolição do cativeiro negro (1888). A extinção legal da escravidão, no entanto, não garantiu a superação das práticas escravistas em território nacional. Só no ano de 2020, o Ministério Público do Trabalho (ême pê tê) recebeu mais de 6 mil denúncias de trabalhos forçados e em condições degradantes. Leia a seguir a definição de trabalho análogo à escravidão presente no Código Penal.

Artigo. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou prepostoglossário .”

BRASIL. Lei número .10803, de 11 de dezembro de 2003. Disponível em: https://oeds.link/4wYHCk. Acesso em: 3 fevereiro 2022.

Faça uma pesquisa e produza um texto argumentativo-dissertativo sobre o assunto, propondo soluções para esse problema.
Respostas e comentários

Esculturas de Luigi Brizzolara, de 1922.

Dados numéricos sobre as denúncias de trabalho em condições degradantes foram retirados de: félzác, C. ême pê tê recebe mais de 6 mil denúncias de escravidão e tráfico de pessoas. Agência Brasil. 28 fevereiro. 2021. Disponível em: https://oeds.link/qHI7XM. Acesso em: 19 maio 2022.

4. a) O texto faz referência ao cultivo da cana-de-açúcar.

b) Esse gênero está ligado à agroexportação do açúcar.

c) A expansão da agricultura ocorreu sobre áreas de Mata Atlântica coberta por florestas virgens e solos férteis. Ela foi realizada após desmatamentos e queimadas.

d) As lenhas e as madeiras eram utilizadas para o aquecimento das caldeiras e para a construção e a manutenção dos equipamentos e das instalações.

e) A atividade monocultora realizada nesses termos contribuiu para o desgaste e esterilização de áreas do bioma da Mata Atlântica.

5. a) Os bandeirantes figuram entre os grandes mitos da historiografia brasileira, produzido, sobretudo, em São Paulo no final do século dezenove e no início do século vinte. Historiadores tradicionais, como Afonso toné e Alfredo Ellis Júnior, consideravam os bandeirantes responsáveis pela atual dimensão territorial do Brasil. Entre os aspectos positivos ressaltados por esses intelectuais figuravam a bravura e a coragem desses primeiros colonizadores para vencer o sertão e povoar o interior do território brasileiro. Além disso, esses personagens eram descritos e caracterizados como homens instruídos e acostumados ao luxo. Na imagem analisada nessa atividade, Raposo Tavares e Fernão Dias foram representados com botas de montar, calças, provavelmente de veludo, como se usava na época, e casacas que costumavam ser de couro almofadado. Essa indumentária imaginada ilustrava o mito dos heróis bandeirantes como origem da “grandeza paulista”.

b) São omitidas nessa mitologia edificada em torno dos bandeirantes, por exemplo, a destruição de aldeamentos religiosos e a escravização indiscriminada de indígenas.

6. A atividade visa que os estudantes desenvolvam um texto próprio sobre um tema da contemporaneidade. Como explicitado no enunciado, ainda existem no Brasil situações de trabalho análogo à escravidão, um problema sério e persistente no país. Existem instituições e ONG’s voltadas para o combate desse crime, além da monitoria e fiscalização realizada pelo próprio Ministério do Trabalho. Entre as ações governamentais visando o combate desse crime está a divulgação da “lista suja do trabalho escravo”, um cadastro de empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo. Se possível, apresente aos estudantes a “lista suja do trabalho escravo”, disponível em: https://oeds.link/XRIujr. Acesso em: 21 março 2022. Assim, os estudantes poderão verificar os empregadores que são reincidentes. De qualquer forma, incentive-os a abordar o assunto com ética e empatia, ressaltando as graves violações aos direitos humanos e a importância de uma legislação trabalhista transparente e atualizada para combater esse crime.

Glossário

Neerlandês
: nascido nos Países Baixos (Holanda). No Brasil, os termos Holanda e holandês são mais difundidos, embora se refiram apenas a uma das regiões dos Países Baixos. Em razão de ser mais usual, nos livros desta coleção foi empregado o termo holandês.
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Mestre de açúcar
: responsável pela qualidade do produto e pela supervisão de todo o processo de produção.
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Purgador
: responsável pelo processo de clareamento do açúcar.
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Guerra justa
: princípio estabelecido por Santo Agostinho, com base no qual se determinavam os casos em que o cristão podia recorrer às armas. A guerra justa devia ser defensiva e destinar­‑se à reparação de uma injustiça. Na América, ela foi justificada diante da aliança de indígenas com povos europeus inimigos dos portugueses, por exemplo.
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Inventário
: levantamento dos bens de uma pessoa, feito após sua morte.
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Gentio da terra
: expressão utilizada antigamente para se referir aos indígenas.
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Forro
: alforriado, liberto da condição de escravizado.
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Ocre
: cor alaranjada.
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Traça
: neste caso, traça de livro, inseto de coloração acinzentada, de hábito noturno, que come papel.
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Invocação
: neste caso, um manifesto de fé e de boas intenções antes de passar a mencionar bens materiais.
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Pio
: religioso.
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Inteirar
: saber, estar ciente.
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Legar
: deixar como herança.
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Semiárido nordestino
: região em que predomina o bioma da Caatinga e que apresenta clima seco e quente e chuvas concentradas em poucos meses do ano.
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Inóspito
: que apresenta características consideradas inadequadas à sobrevivência do ser humano.
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Quilombo
: território escondido e fortificado onde viviam, entre outras pessoas, africanos escravizados que fugiam do cativeiro.
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Altivo
: ilustre, pomposo.
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Suntuoso
: luxuoso.
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Preposto
: pessoa nomeada para dirigir uma empresa.
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