UNIDADE 4 TRABALHO, VIOLÊNCIA E RIQUEZA NA AMÉRICA

A história e você: igualdade racial no mundo do trabalho

Nesta unidade, você estudará a descoberta e a exploração do ouro na América portuguesa e a formação das Treze Colônias Britânicas, que mais tarde deram origem aos Estados Unidos. Também conhecerá a diáspora (dispersão forçada) de pessoas africanas pela América, onde eram vendidas como escravizadas e submetidas a um cotidiano de violência e opressão.

Na região das Minas Gerais, pessoas escravizadas realizavam tarefas pesadas e perigosas para a saúde, além de trabalhar sob constante vigilância, pois os senhores tinham receio de que fugissem com o ouro encontrado. Muitas não suportavam trabalhar mais do que cinco anos na mineração e morriam jovens. Algumas conseguiam juntar ouro para comprar sua liberdade.

Na América inglesa, as pessoas escravizadas eram a principal fôrça de trabalho usada nas cinco colônias do sul, onde eram cultivados produtos tropicais para exportação.

Brasil: Participação da população negra na sociedade e no mercado de trabalho - 2018

Gráficos. Brasil: Participação da população negra na sociedade e no mercado de trabalho – 2018. Há quatro gráficos assim dispostos: no alto, dois gráficos de barras; na parte inferior, um gráfico de barras (à esquerda) e um de setores (à direita). Uma legenda, no alto e à direita, remete aos três primeiros gráficos: Em azul: população branca. Em verde: população preta ou parda. Abaixo, à direita, outra legenda se refere ao último gráfico. Em vermelho escuro: homem branco. Em vermelho claro: homem preto ou pardo. Em amarelo: mulher preta ou parda. O primeiro gráfico, à esquerda, no alto, é um gráfico de barras, com as informações: Na primeira coluna, à esquerda, 'Composição racial da população'. Cor azul. População branca: 43,1% da população. Cor verde. População preta ou parda: 55,8% da população. Na segunda coluna, no centro, 'Cargos gerenciais'. Em azul, a população branca ocupa 68,6% dos cargos gerenciais. Em verde, a população preta ou parda ocupa 29,9% dos cargos gerenciais. Na terceira coluna à direita, 'População desocupada'. Em azul, a população branca desocupada corresponde a: 34,6% do total. Em verde, a população preta ou parda desocupada corresponde a: 64,2% do total. No segundo gráfico, no alto e à direita, as informações: 'Renda média das pessoas ocupadas'. No eixo vertical, valores de 0 a 3.000,00 reais. No eixo horizontal, a renda média da população. Na primeira coluna, em azul, renda média das pessoas brancas ocupadas: 2.796,00 reais. Em verde, renda média das pessoas pretas ou pardas ocupadas: 1.608,00 reais. No terceiro gráfico, na parte inferior e à esquerda, as informações: 'Rendimento da hora de trabalho das pessoas ocupadas com Ensino Superior completo'. No eixo vertical, valores de 0 a 15 reais. No eixo horizontal, o rendimento da hora de trabalho da população. Em azul, rendimento da hora de trabalho das pessoas brancas com Ensino Superior completo: 15 reais. Em verde, rendimento da hora de trabalho das pessoas pretas ou pardas com Ensino Superior completo: 11,50 reais. No quarto gráfico, na parte inferior e à direita, um gráfico de setores, com as informações: 'Proporção do rendimento de pessoas ocupadas'.  No primeiro círculo, à esquerda, em vermelho escuro, homem branco: 100%. Em vermelho claro, homem preto ou pardo: 56,1%. No segundo círculo, à direita, homem branco: 100%; em amarelo, mulher preta ou parda: 44,4%.

FONTE: í bê gê É. Desigualdades por cor ou raça no Brasil. Estudos e Pesquisas. Informação Demográfica e Socioeconômica. Rio de Janeiro: í bê gê É, número 41, 2019. página 1-12. Nota: Pessoas de 14 anos ou mais de idade.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao exercitar a criação de um projeto de lei fictício, visando à diminuição das desigualdades raciais no mundo do trabalho, os estudantes se prepararão para a resolução de problemas e o exercício da cidadania, desenvolvendo as Competências Gerais da Educação Básica nº 1, nº 2, nº 4, nº 6, nº 7 e nº 10, a Competência Específica de Ciências Humanas nº 6 e as Competências Específicas de História nº 1, nº 4 e nº 5.

Abertura de unidade

Essa unidade abarca os capítulos 10 (“A descoberta do ouro na América portuguesa e a sociedade mineradora”), 11 (“A diáspora africana”) e 12 (“As Treze Colônias inglesas na América”) do volume.

O tema escolhido para a abertura foi a desigualdade racial no mundo do trabalho, compreendida como uma das consequências de séculos de escravidão no Brasil. Essa questão contemporânea dialoga com os capítulos 10 e 11 da unidade.

Interdisciplinaridade

Por envolver a redação de um texto que emula um modelo de base legal, levando em conta, mesmo que de fórma simplificada, as especificidades desse gênero textual, sua fórma de organização e o léxico empregado, a atividade contribui para o desenvolvimento da habilidade do componente curricular língua portuguesa ê éfe seis nove éle pê dois zero – “Identificar, tendo em vista o contexto de produção, a fórma de organização dos textos normativos e legais, a lógica de hierarquização de seus itens e subitens e suas partes: parte inicial (título – nome e data – e ementa), blocos de artigos (parte, livro, capítulo, seção, subseção), artigos (capúthi e parágrafos e incisos) e parte final (disposições pertinentes à sua implementação) e analisar efeitos de sentido causados pelo uso de vocabulário técnico, pelo uso do imperativo, de palavras e expressões que indicam circunstâncias, como advérbios e locuções adverbiais, de palavras que indicam generalidade, como alguns pronomes indefinidos, de fórma a poder compreender o caráter imperativo, coercitivo e generalista das leis e de outras fórmas de regulamentação”.

Temas Contemporâneos Transversais

Por proporcionar uma discussão acerca do mundo do trabalho, problematizando a desigualdade racial no Brasil e promovendo a busca por equidade entre brancos e negros, a atividade proposta mobiliza os Temas Contemporâneos Transversais Trabalho e Educação em direitos humanos.

A escravidão marcou profundamente as sociedades americanas. Mesmo depois que ela acabou, a população afrodescendente continuou sentindo seus efeitos. Você já reparou que, no Brasil de hoje, nem todos têm acesso às profissões mais bem remuneradas? Com quantos médicos negros você já se consultou? Por que a maioria dos juízes, engenheiros, empresários e artistas de televisão é branca? Das profissões que você conhece, quais são majoritariamente exercidas por pessoas negras?

Nos últimos anos, algumas leis foram criadas para diminuir a desigualdade racial no Brasil. Entre elas estão as que determinam a reserva de vagas para pessoas negras em universidades e concursos públicos, mas isso não é suficiente para resolver o problema.

Pensando na construção de uma sociedade mais justa e democrática, você e os colegas redigirão um projeto de leiglossário para tornar o acesso ao mundo do trabalho mais igualitário. Para isso, sigam estas etapas:

Organizar

  • Em grupos de três colegas, observem os gráficos da página anterior e respondam às questões a seguir. Depois, compartilhem suas respostas com os demais colegas.
    • O que os dados apresentados revelam sobre a população brasileira? Eles reforçam ou contradizem situações de seu cotidiano?
    • Que medidas poderiam reduzir as desigualdades raciais no mundo do trabalho?
  • Pesquisem projetos de lei em tramitação, ou seja, que ainda não viraram lei, para usar como modelo.

Produzir

  • Redijam um projeto de lei para pôr em prática as medidas propostas para reduzir as desigualdades raciais no trabalho. Ele deve ter uma parte preliminar, uma parte normativa e uma parte final.
  • Observem a seguinte estrutura: a parte preliminar apresenta o título, o nome dos autores e um resumo do projeto de lei; a normativa deve conter os artigos do projeto; já na parte final se apresentam a justificativa e a data em que o projeto de lei entrará em vigor.
  • Revisem o que vocês escreveram para ter certeza de que o texto está compreensível e objetivo.

Compartilhar

  • No dia combinado com o professor, apresentem o projeto de lei para os colegas e prestem atenção à exposição dos outros grupos. Em seguida, avaliem coletivamente os projetos dos colegas e respondam: vocês acham que as propostas são válidas e podem ser executadas?
  • Revisem o trabalho do grupo de acordo com a avaliação dos colegas após essa rodada de avaliação coletiva das propostas.
  • Divulguem o projeto na escola ou redes sociais. Lembrem-se de produzir um pequeno texto explicando suas descobertas e a importância de seu trabalho!
Respostas e comentários

Atividade

Antes de propor a atividade, pergunte aos estudantes se eles sabem o que é um projeto de lei. Comente com eles que as leis devem atender às demandas da sociedade e sensibilize-os para a questão da desigualdade racial com base em situações do cotidiano. Ao discutir a reserva de vagas para negros em universidade e concursos públicos, destaque o caráter estrutural das desigualdades raciais que se procura compensar com a lei de cotas (Lei nº .12711, de 2012). Cite também a lei que trata do crime de racismo (Lei nº .7716, de 1989).

Ao discutir os dados apresentados, chame a atenção dos estudantes para o fato de que, embora sejam a maioria da população brasileira, negros e pardos têm participação menor que a dos brancos no mercado de trabalho, recebem salários mais baixos e ocupam menos cargos de chefia. Mesmo quando apresentam alto grau de escolaridade, recebem salários menores que os dos brancos. Isso revela que não é só a diferença de instrução que promove as desigualdades raciais, mas também o racismo estrutural. As mulheres negras ou pardas são as pessoas que enfrentam mais dificuldades no mundo do trabalho, pois, além do preconceito de raça, incide sobre elas a discriminação de gênero.

Reserve pelo menos uma aula para a etapa inicial e, ao final dela, ouça todas as medidas propostas pelos grupos e avalie sua abrangência (federal, estadual ou municipal), a fim de identificar a instância legislativa à qual deveria ser apresentado o projeto. Pergunte aos grupos como a lei seria posta em prática, levantando algumas questões que podem auxiliá-los na redação dos artigos e da justificativa do projeto. Como tarefa de casa, peça-lhes que pesquisem projetos de lei na internet, em jornais e revistas etcétera

Reserve pelo menos uma aula para a segunda etapa da atividade. Se possível, trabalhe em parceria com o professor de língua portuguesa. Leia e analise com os estudantes um projeto de lei que possa ser utilizado como modelo, identificando suas partes constitutivas e seu vocabulário. Alguns exemplos podem ser encontrados no site do programa Parlamento Jovem Brasileiro, da Câmara dos Deputados. A página também apresenta orientações para a escolha de um tema e dicas sobre a adequação de um tema a um projeto de lei. Supervisione a redação dos projetos e aponte, se necessário, incoerências ou lacunas na redação dos artigos ou da justificativa.

Por fim, organize a apresentação dos projetos de lei em sala de aula. Se julgar conveniente, encaminhe algumas propostas ao programa Parlamento Jovem Brasileiro ou submeta-as à apreciação da comunidade por meio da exposição em um mural físico da escola ou em redes sociais. Sugere-se a reserva de uma aula para essa apresentação dos projetos.

CAPÍTULO 10  A descoberta do ouro na América portuguesa e a sociedade mineradora

Você sabe o significado das expressões ter um coração de ouro e fechar com chave de ouro? A primeira significa “ser amável e afetuoso”; a segunda, “terminar algo de fórma bem-sucedida”.

Essa associação do ouro com bondade, êxito ou bom desempenho está presente em diversas situações do dia a dia. Prêmios como medalhas de ouro costumam ser atribuídos a atletas que se destacam em eventos esportivos.

A valorização do ouro esteve presente no processo da expansão marítima europeia, marcada por uma intensa busca por metais preciosos. Na América portuguesa, a chamada corrida do ouro, a partir do século dezessete, contribuiu para a ocorrência de um intenso processo de ocupação do interior do território.

Fotografia. Uma jovem negra com os cabelos presos em um coque enfeitado com um laço de fita, vista de frente. Sorrindo, ela veste uma jaqueta verde com zíper amarelo e a bandeira do Brasil em um emblema no peito. Com uma mão, segura uma medalha de ouro pendurada em seu pescoço por uma fita quadriculada azul e branca. Na outra mão, ela segura um bichinho de pelúcia, um pequeno buquê de girassóis e uma máscara de proteção contra o coronavírus.
Fotografia. Diante de um fundo azul-marinho, com os cinco círculos entrelaçados que formam o símbolo das Olimpíadas desenhado em branco, vista das pernas para cima, no centro da imagem, uma jovem negra com os cabelos presos em um coque. 
Ela olha para a câmera com a cabeça levemente inclinada e sorri. Veste um maiô de mangas compridas cor de rosa, branco e amarelo, enfeitado com brilhos e, em cada uma das mãos, segura uma medalha olímpica. À esquerda, uma medalha de prata, e, à direita, uma medalha de ouro. Ambas estão penduradas em seu pescoço por fitas largas e coloridas.
A ginasta Rebeca Andrade com as medalhas de ouro e de prata que conquistou nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão. Fotos de 2021.
Ícone. Ilustração de um ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Cite outras expressões usadas para associar o ouro à riqueza, ao conforto ou ao luxo.
  2. Embora não mencionem precisamente o metal, há outras expressões da língua portuguesa associadas ao contexto da descoberta do ouro no Brasil. Você saberia dizer, por exemplo, o significado atual de encher o bucho e meia-tigela? Compartilhe sua opinião com os colegas.
Respostas e comentários

Abertura

Por meio de um exercício semântico, procura-se sensibilizar os estudantes para a importância histórica e cultural da mineração do ouro, salientando a modificação causada pela busca por esse metal, na cultura e na sociedade do território brasileiro. Parte-se de uma análise que combina a interpretação iconográfica à verbal, incentivando os estudantes a relacionar as expressões ter um coração de ouro e fechar com chave de ouro à imagem, a fim de reconhecer noções como a de bondade e a de êxito. Assim, aborda-se a historicidade da linguagem, por meio da análise dos significados atuais e históricos de determinadas expressões.

Atividades

1. Algumas possibilidades de resposta: mina de ouro – expressão usada para indicar algo muito lucrativo; nadar em ouro – expressão utilizada para designar uma situação de muita riqueza e conforto material; galinha dos ovos de ouro – expressão, derivada da fábula homônima, empregada para caracterizar algo capaz de gerar muito dinheiro (a fábula consiste em uma crítica à ambição humana); nascido em berço de ouro – expressão usada para designar um herdeiro de grande quantidade de dinheiro que vive, desde o nascimento, em situação de luxo e conforto (em algumas situações, essa expressão também é utilizada para indicar alguém que não teve de trabalhar para conseguir o que possui).

2. Atualmente, encher o bucho significa “estar bem alimentado”, “de barriga cheia”; meia-tigela significa “de baixo valor”, “insignificante”, “medíocre”. A primeira expressão era utilizada na região mineradora porque o bucho era o local onde devia ser depositado o material extraído das minas subterrâneas pelos escravizados em troca de sua tigela de comida. Quando o escravizado não conseguia encher o bucho com ouro, recebia apenas meia tigela de comida. A punição, no entanto, não era restrita às minas, e os escravizados castigados muitas vezes recebiam o apelido de meia-tigela.

A descoberta do ouro nas Minas Gerais

Na América portuguesa, diferentemente do que aconteceu nas áreas de colonização espanhola, não foi encontrada grande quantidade de metais preciosos no início da colonização.

A descoberta de reservas de ouro ocorreu na região das Minas Gerais, no fim do século dezessete. Os historiadores mencionam três expedições pioneiras em busca do metal, realizadas pelos bandeirantes paulistas Antônio Rodrigues Arzão, em 1693; Bartolomeu Bueno da Siqueira, em 1696; e Manuel de Borba Gato, que esteve na região correspondente à do atual município de Sabará entre 1682 e 1700.

O início da exploração

No território correspondente ao do atual estado de Minas Gerais, os bandeirantes encontraram ouro em terrenos de aluviãoglossário , próximos a rios, onde a areia e o ouro se concentram pela ação da erosão.

Inicialmente, o ouro era separado com pratos de estanhoglossário e gamelasglossário de madeira. Com o tempo, foi adotada uma técnica trazida por africanos escravizados, que consistia em “lavar” a areia em uma bateia (instrumento semelhante a uma peneira) para facilitar a extração do ouro.

Ilustração. No leito de um rio de águas azuis, quatro homens negros de cabelos curtos e escuros, dois à frente e dois ao fundo, usando apenas calças brancas enroladas acima dos joelhos, remexem bateias, uma espécie de grande peneira,  com sedimentos retirados do rio. 
Na beira do rio, do lado esquerdo, um homem branco de chapéu, camisa cor de rosa, calças de cor cinza e botas marrons, segura um chicote enrolado em uma mão e os observa. 
Ao fundo, morros pedregosos cobertos de vegetação verde e o céu azul.
Ilustração atual representando pessoas escravizadas trabalhando na atividade mineradora, observadas por um feitor.

FONTE: DEAN, W. A ferro e fogo: a história da devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. página 113.

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Note na imagem que, além das pessoas escravizadas, é representado um feitor, que fiscalizava o trabalho para evitar o contrabando e o extravio do ouro. No período colonial, havia duas fórmas básicas de extração de metais preciosos nas Minas Gerais. Uma delas era a das lavras, em que as jazidasglossário glossário eram exploradas por empresas, com uso de aparelhos para a lavagem do ouro. A outra era a dos faiscadores, trabalhadores autônomos que usavam a bateia para extrair o ouro, reunidos em áreas de livre acesso.

Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

• Analisar os efeitos da descoberta do ouro no interior da América portuguesa.

• Identificar os conflitos pela posse do ouro que contribuíram para o início da chamada Guerra dos Emboabas.

• Apresentar os conflitos gerados pelo contrôle da Coroa portuguesa sobre a exploração aurífera, destacando a Revolta de Vila Rica (ou Revolta de Filipe dos Santos).

• Caracterizar as fórmas de trabalho utilizadas na exploração do ouro, sobretudo a mão de obra escravizada de origem africana.

• Identificar algumas características da sociedade mineradora, como a religiosidade, presente na vida cotidiana e nas divisões sociais (festas, irmandades etcétera).

• Analisar elementos culturais na vida das mulheres livres, libertas ou escravizadas e suas estratégias de ascensão social na região mineradora.

• Caracterizar a arte barroca, estilo determinante da região das minas no século dezoito.

• Identificar os elementos que contribuíram para a crise da exploração do ouro.

• Identificar o papel das fronteiras nos tratados territoriais entre os reinos ibéricos.

Justificativa

Os objetivos deste capítulo demonstram como a exploração do ouro levou à ocupação colonial do interior da América portuguesa, incentivando a formação de uma sociedade com características próprias, cujo estudo permite compreender melhor a configuração socioeconômica da sociedade brasileira atual. A contextualização e a análise de aspectos religiosos dessa sociedade, seu multiculturalismo e as relações entre os diversos grupos que a compunham almejam incentivar a compreensão de que ações e comportamentos dos sujeitos são influenciados pela época e lugar em que vivem.

• O racismo estrutural da sociedade brasileira está implícito em muitas expressões idiomáticas, como disputar a nega e não sou tua nega. A popularização de declarações como essas demonstra que a opressão e o preconceito estão enraizados no modo de compreender o mundo e de expressar-se. É importante que os estudantes entendam a relação dessas expressões com a história da sociedade brasileira e a violência simbólica que se reproduz e é ampliada com sua banalização. É possível aprofundar a discussão ao salientar que as duas declarações evidenciam a subalternização feminina e a objetificação das mulheres, sobretudo das negras e pobres. Se desejar, problematize outros termos, como cabelo ruim, beleza exótica ou negro de traços finos, todos relacionados a expressões que atribuem sentidos pejorativos aos traços físicos e tipos de beleza que escapam ao padrão branco e ocidental.

O contrôle metropolitano

Ao saber a notícia da descoberta de ouro, milhares de pessoas do interior e de fóra da colônia migraram para as Minas Gerais. Entre 1700 e 1760, só de Portugal, cêrca de 600 mil pessoas chegaram ao Brasil, das quais parcela significativa se dirigiu à região das Minas Gerais. Em 1776, a população total da região (excluídos os indígenas) era de cêrca de 320 mil adultos, entre homens e mulheres.

No início do século dezoito, o local havia passado por um rápido e desordenado processo de urbanização. Entre os habitantes da região havia indígenas, africanos, afrodescendentes e brancos europeus e americanos, com diferentes culturas e modos de viver.

Com receio de que ocorressem conflitos e rebeliões, o governo de Portugal tentou restringir o acesso à Minas Gerais e limitar o número de escravizados no local. A Coroa portuguesa também pretendia impedir, com essa restrição, que as pessoas escravizadas fossem retiradas em massa dos engenhos, pois isso poderia comprometer a produção de açúcar.

Assim, em 1702, com a intensa exploração do ouro de aluvião, a Coroa portuguesa criou a Intendência das Minas para regular a atividade mineradora. Esse órgão passou a ser responsável, por exemplo, pela cobrança de impostos, pela supervisão e distribuição dos lotes a ser explorados (chamados datas) e pela resolução de possíveis conflitos.

Gravura. Em primeiro plano, dois homens e um menino usando chapéus, camisas brancas de mangas compridas e calças curtas brancas simples. Eles usam colares com contas brancas e cruzes e têm facões presos à cintura por faixas de tecido de cor marrom. 
Um dos homens é visto de frente, está em pé segurando uma vara com linha na ponta e apoiada no chão. O outro é visto de lado e está encostado na parede de uma pequena casa de pau-a-pique, em cuja janela há colheres, cabaças e outros objetos pendurados, além de outra vara com linha e um cesto com outros objetos. 
Visto de costas, o menino também tem um facão preso à cintura e leva no ombro uma bolsa feita de tecido branco. Ele está descalço sobre o chão de terra. Os homens usam sandálias feitas de palha trançada.
Ao fundo, à direita, um caminho aberto e estreito entre morros pedregosos. No caminho, há homens em fila; eles são vistos de longe. Alguns deles fazem o caminho à cavalo, outros à pé
Tropeiros pobres de Minas, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1823.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na imagem, foram representados três tropeiros. Eles eram os trabalhadores responsáveis pela condução de tropas de mulas e cavalos usados para transportar mercadorias entre as diversas regiões da colônia. Com a chegada de muitas pessoas à região mineradora, desenvolveu-se um intenso comércio interno na América portuguesa, aumentando a atividade portuária e a circulação de pessoas.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a migração para as Minas Gerais foram retirados de: ARRUDA, J. J. Os portugueses no Brasil: imigração espontânea, imigração compulsória e colonização. ín: SOUSA. F. de e outros. Portugal e as migrações da Europa do Sul para a América do Sul. Porto: cepése, 2014. página 22; istâmpf, R. G. Minas contada em números – A capitania de Minas Gerais e as fontes demográficas (1776­‑1821). Revista Brasileira de Estudos de População, volume 34, número 3, setembro/dezembro 2017, página 536.

Bê êne cê cê

Ao introduzir a temática da formação da sociedade mineradora no Brasil colonial, abordando aspectos como a migração portuguesa para a região das Minas, a urbanização incipiente e o estabelecimento de estruturas fiscais metropolitanas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero sete agá ih um dois e ê éfe zero sete agá ih um três.

Ampliando

No texto a seguir, o historiador dônald Ramos analisa as estruturas familiares da principal área de emigração dos portugueses e do local para onde se destinaram: a região das Minas Gerais.

“As estruturas dos domicílios em Minas Gerais também apresentam um amplo leque de padrões, mas a tendência mais comum era repetir algumas das características do norte de Portugal. reticências O resultado é uma proporção marcadamente similar de famílias nucleares encabeçadas por adultos que nunca se casaram.

Em Portugal, as casas comandadas por mulheres solteiras eram mais comuns no norte do que no sul, mas mesmo esses números desvanecem quando comparados com os de Minas Gerais. Em Minas, o percentual de casas comandadas por mulheres solteiras quase sempre alcançou dois dígitos.

reticências

Contemplada como um todo, a sociedade mineira surge com o mesmo conjunto de características sociais do norte de Portugal. Esse universo engloba predominância demográfica de mulheres livres, uma grande proporção de famílias chefiadas por mulheres, baixas taxas de casamento, idade ao se casar mais tardia que o esperado, uma tendência entre as mulheres solteiras de estabelecerem em domicílios independentes, altas taxas de ilegitimidade e abandono infantil e baixas proporções de famílias nucleares sacramentadas pelo matrimônio. Os mesmos indicadores também são encontrados no Minho e no Douro.

O argumento central deste estudo é o de que os emigrantes portugueses que vieram para Minas Gerais eram, em sua maioria, originários do norte de Portugal, onde a estrutura familiar e domiciliar diferia das outras partes do reino. Esses emigrantes trouxeram para Minas Gerais um conjunto particular de valores sociais e culturais que, no ambiente social e cultural mineiro, apesar das diferenças superficiais, era muito semelhante ao que haviam deixado para trás.”

RAMOS, D. Do Minho a Minas. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, volume 44, número 1, página 148, 2008.

Os primeiros conflitos

Entre 1707 e 1709, no contexto da chegada de muitas pessoas à região das minas, ocorreu um dos primeiros conflitos no local: a Guerra dos Emboabas, travada entre bandeirantes paulistas e indivíduos recém-chegados à região, principalmente portugueses e baianos. Eles eram chamados de emboabas pelos paulistas.

O conflito começou porque os paulistas reivindicavam o direito exclusivo de exploração da área por se considerarem seus descobridores. Ao final do confronto, vencidos pelos emboabas, muitas pessoas se dirigiram para outras áreas da América portuguesa, alcançando o território correspondente ao dos atuais estados de Goiás e Mato Grosso, onde também encontraram ouro e diamantes.

Fotografia. Mapa antigo, desenhado em uma folha amarelada com a lateral superior direita rasgada. A folha foi quadriculada. Nela foram desenhadas montanhas, serras, rios e vegetação no centro e na direita. À direita, há anotações em letra de mão e na parte inferior uma escala. Os nomes dos locais foram indicados, como Mantiqueira, no canto direito, assinalado sobre um grupo de morros. No mapa, o espaço à esquerda foi deixado em branco.
Região das Minas Gerais com uma parte do caminho de São Paulo e do Rio de Janeiro para as minas e dos afluentes terminais do São Francisco, mapa produzido no século dezoito.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O mapa faz parte da chamada cartografia bandeirante, que se apropriou de conhecimentos e símbolos indígenas e foi muito importante para o processo de conquista do interior da América portuguesa. Nele, são assinalados pontos como a Serra da Mantiqueira e diversos rios, como o Paraibuna e o Paraíba, fundamentais para a entrada dos bandeirantes no interior das áreas de exploração do ouro.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise no mapa a diferença de detalhes entre o lado direito, que corresponde à região de Minas Gerais, e o esquerdo, que corresponde ao território dos atuais estados de Goiás e Mato Grosso. Elabore uma hipótese para explicar essa diferença no detalhamento do desenho em cada parte.

Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: A principal diferença de detalhamento deve-se ao fato de a região à esquerda não ser objeto de interesse dos bandeirantes. Estes se concentravam, até então, na região das Minas Gerais. Espera-se que os estudantes percebam que os bandeirantes não tinham acesso a conhecimentos geográficos detalhados para representar territórios fora da região de Minas Gerais. Por isso, provavelmente, o espaço foi deixado em branco. Estimule a turma a refletir sobre o fato de que os espaços não surgiram como estão hoje, mas foram socialmente construídos e que, apesar de não constar no mapa, a região em branco era povoada por diversos povos indígenas.

Bê êne cê cê

Ao tratar da expansão territorial dos domínios portugueses por meio das entradas e bandeiras, o boxe “Se liga no espaço!” contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um um.

• Com o estudo dos conflitos ocorridos na região das minas, pretende-se promover algumas reflexões sobre o processo de expansão das fronteiras da América portuguesa, incentivando, dessa fórma, o pensamento crítico sobre a ocupação humana e da produção do espaço em tempos distintos. Ao abordar esse tema, é possível promover diálogos férteis com o componente curricular geografia.

Curadoria

Guerra dos Emboabas: balanço histórico (Ensaio)

Adriana Romeiro. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, volume 45, número 1, página 106-117, 2009.

Nesse ensaio, a historiadora Adriana Romeiro faz uma análise acurada das apropriações históricas e das narrativas construídas a respeito dos sujeitos envolvidos na Guerra dos Emboabas. Além de ser um bom material para o aprofundamento do tema, as informações apresentadas podem auxiliar no preparo e na exposição do conteúdo de aula, principalmente para abordar conceitos como o de nativistas e o de paulistas.

A revolta de Filipe dos Santos

Em 1719, para evitar o contrabando e aumentar sua receita, Portugal instituiu as primeiras casas de fundição, locais onde o ouro era recolhido e transformado em barras para que pudesse circular na colônia.

Nesse processo de entrega do ouro para fundição, um quinto, ou seja, 20% do metal encontrado era apropriado pela Coroa. Além disso, o governo português cobrava a capitação, que era um imposto sobre cada pessoa escravizada.

Fotografia. Dispostas verticalmente, à esquerda, uma lingueta de ouro e, à direita, uma barra de ouro. Ambas com um brasão formado por uma esfera armilar com uma coroa gravado na parte superior e números gravados ao longo dos materiais. Na lingueta, à esquerda, temos: o brasão gravado parcialmente, o número 22, o número 34,  a inscrição 'N. 699', os números: '3.7.71.1784', e as letras 'GDD'. Na barra, à esquerda, temos o brasão, gravado parcialmente, a palavra 'Toque', os números 23 e 48, a inscrição 'N. 658' e as letras: 'IDBE'.
Barra de ouro produzida no século dezoito no território correspondente ao do atual estado de Mato Grosso.

A cobrança desses impostos, com a instalação das Casas de Fundição, aumentou as tensões na região das minas, onde a população já estava insatisfeita com o alto custo de vida, a corrupção das autoridades locais e a constante repressão das tropas metropolitanas, que tentavam impedir a sonegaçãoglossário dos impostos.

Nesse contexto, ocorreu a Revolta de Filipe dos Santos, ou Revolta de Vila Rica, em 1720. Liderados pelo comerciante Filipe dos Santos, mineiros de Vila Rica se rebelaram exigindo a diminuição dos impostos e o fim das Casas de Fundição. Porém, as tropas da Coroa portuguesa reprimiram duramente o movimento.

Pintura. Em uma rua com casarões de dois pavimentos, à esquerda, ao lado de uma igreja de paredes de cor branca com uma pequena cruz no topo, no centro da pintura, na rua, uma multidão de pessoas em pé. Em destaque, no centro, um homem branco, de cabelos e barba castanhos, com uma faixa branca com uma mancha vermelha ao redor da cabeça,  vestido com blusa de mangas compridas branca rasgada e calça amarela com manchas. À frente dele, um homem negro sentado no chão, visto de lado, usando calça curta azul escura, descalço, com os braços estendidos para a frente. À esquerda, um outro homem negro de cabelos pretos e curtos, vestido com uma camisa vermelha, calça cinza e descalço, está em pé, com as costas flexionadas e o braço esquerdo apontando para frente, onde está o homem agachado. Atrás dele, há um cavalo branco com a cabeça inclinada para baixo e outro marrom, empinando, com as patas dianteiras fora do chão, montado por um homem de casaco azul e chapéu alto, com uma faixa branca cruzando o peito e um dos braços para o alto segurando um bastão marrom. 
À direita, sobre degraus que levam à porta de um edifício visto parcialmente, há um homem branco sentado sobre uma cadeira marrom. Este homem tem cabelos escuros e longos presos em um rabo de cavalo, e veste casaca verde com detalhes dourados, blusa branca, calça branca e botas de cano alto pretas. Ele está com a mão esquerda sobre o joelho. Perto dele, outros homens em pé, todos brancos, com casacas, calças e botas de cano alto. Na calçada, há diversas outras pessoas, a maioria homens, mas também algumas crianças. Ao redor da multidão, homens de uniforme militar azul montados à cavalo. Nas janelas das construções, muitas pessoas observam a rua. No alto, o céu azul com nuvens.
Julgamento de Filipe dos Santos, pintura de Antônio Parreiras, 1923.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A pintura representa o julgamento de Filipe dos Santos. O líder da rebelião teve o corpo esquartejado e a cabeça exposta publicamente. O comércio de ouro em outras fórmas – em barras não marcadas ou pepitas – era rigorosamente proibido e punido. As penas variavam do confisco de todos os bens do infrator ao degredo perpétuo nas colônias portuguesas na África.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar o regime tributário instaurado pela metrópole na colônia, sobretudo com o advento da exploração do ouro na região das minas, o conteúdo mobiliza a habilidade ê éfe zero sete agá ih um três.

• Se julgar conveniente, mencione o fato de que a sociedade colonial era regida por um conjunto de regras, leis e códigos derivados do Estado moderno português, no qual muitos crimes eram considerados de lesa-majestade e, portanto, tinham como penalidade a execução de quem os cometesse.

• Para adicionar mais um exemplo à discussão da historicidade das expressões da língua portuguesa, a insatisfação dos colonos com a cobrança do quinto inspirou o termo quinto dos infernos, utilizado até os dias atuais.

Curadoria

O quinto do ouro no regime tributário nas Minas Gerais (Ensaio)

frídric renha. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, volume 42, número 2, página 91-104, 2006.

Esse ensaio apresenta uma discussão elaborada sobre o regime tributário do quinto, além de tabelas, gráficos e uma cronologia completa do funcionamento da cobrança de impostos relativa ao ouro, a escravizados e a outras mercadorias ao longo da história colonial.

O abastecimento das minas e a formação dos primeiros núcleos urbanos

Com a descoberta de ouro e, posteriormente, de diamantes em Minas Gerais e no território correspondente ao dos atuais estados de Mato Grosso e Goiás, formaram-se núcleos urbanos em regiões até então inexploradas pelos portugueses na América.

A estruturação desses primeiros núcleos contribuiu para a redução da vegetação nativa. Além disso, os portugueses entraram em conflito com povos indígenas que viviam em muitas dessas áreas.

Com o crescimento da população e a intensificação das atividades comerciais, foram abertos diversos caminhos para abastecer as vilas e os arraiais que se formaram e vender o ouro e as pedras preciosas produzidos na região das minas.

Os produtos consumidos nesses locais eram transportados e comercializados principalmente pelos tropeiros procedentes de diversas partes da colônia.

Os tropeiros que chegavam da região sul da colônia às minas vendiam mulas e charqueglossário , além de outros alimentos que adquiriam dos paulistas em feiras, como a de Sorocaba.

Da Bahia, levavam mercadorias como tabaco, aguardente e escravizados. Do Rio de Janeiro, transportavam produtos de origem europeia, como ferramentas e roupas, além de escravizados.

Com o tempo, nas paradas das tropas se formaram outros arraiais e vilas, expandindo os núcleos urbanos da América portuguesa.

Fotografia. Vista aérea de uma cidade em região montanhosa com várias construções baixas, com paredes brancas, janelas coloridas em forma de arco, uma igreja branca com detalhes amarelos na parte de baixo e outra igreja, com três torres, na parte de cima. Entre as construções, árvores altas com as copas verdes. Ao fundo, um morro coberto de verde cortado por uma estrada.
Vista da cidade de Ouro Preto (Minas Gerais). Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O rápido povoamento urbano foi um dos traços característicos da região das Minas Gerais. A cidade de Ouro Preto, antiga Vila Rica, foi formada pela junção de diversos arraiais em 1711, em uma das principais áreas de extração do ouro na América portuguesa. Por volta de 1730, já havia na cidade um palácio para o governador, diversas pontes, um mercado consumidor interno e prestadores de serviços como ferreiros, ourives, estalajadeiros, boticários e diversos outros.

Dica

site

Ouro Preto: Era Virtual: Patrimônios da Humanidade

Disponível em: https://oeds.link/N3Fkv0. Acesso em: 11 fevereiro 2022.

Nesse site, é possível realizar um passeio virtual por Ouro Preto, cidade que se formou com a mineração e ainda carrega as marcas do período colonial.

Respostas e comentários

Interdisciplinaridade

Ao tratar da urbanização e do deslocamento das populações, o conteúdo se relaciona à habilidade do componente curricular geografia ê éfe zero sete gê ê zero quatro – “Analisar a distribuição territorial da população brasileira, considerando a diversidade étnico-cultural (indígena, africana, europeia e asiática), assim como aspectos de renda, sexo e idade nas regiões brasileiras”.

• No século dezoito, a mineração já causava alguns danos ambientais, como o assoreamento de rios e a consequente mortandade de peixes, o desmonte de morros, que provocava erosão, e as queimadas frequentes para abrir o solo para a mineração.

• Ao abordar o tema desta página, é importante destacar dois aspectos: a formação de um mercado interno, contradizendo parte da historiografia, de acordo com a qual o pacto colonial na América portuguesa voltava-se apenas à exportação, e o crescimento demográfico em Minas Gerais, provocado pelo afluxo de pessoas, o que contribuiu para integrar diferentes regiões coloniais.

Curadoria

Atlas Histórico do Brasil: Colônia (1500-1808) (Site)

Bernardo jôfili éti ól. Rio de Janeiro: éfe gê vê-cê pê dóc, 2016. Disponível em: https://oeds.link/aROpLr. Acesso em: 9 março 2022.

Caso deseje incrementar as aulas com gráficos, mapas, tabelas e outros compilados de dados, pode utilizar o material organizado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (cê pê dóc). Sobre o período do ouro, são apresentados no site dados demográficos e da produção econômica, mapas de rotas comerciais e ocupação territorial do país, entre outros materiais.

As monções

Uma das principais expedições realizadas pelos bandeirantes eram as monções, grupos de pessoas que utilizavam os rios para transportar mercadorias para o interior da colônia em embarcações. Esse sistema também foi utilizado para abastecer as regiões mineradoras.

As monções ocorriam em períodos específicos do ano, pois dependiam do volume dos rios para navegar. Além dos bandeirantes, participavam dessas expedições grande número de pessoas livres, indígenas e escravizadas, que trabalhavam como carregadoras, intérpretes e conhecedoras do sertão.

As embarcações, no geral, eram feitas com o tronco de uma árvore, utilizando uma técnica aprendida com os indígenas. Entre as mercadorias transportadas estavam alimentos, armas, ferramentas, artigos de luxo e pessoas escravizadas.

Com o tempo, nas proximidades dos primeiros núcleos urbanos da região, foram construídas fazendas destinadas à agricultura e à criação de animais, formando um complexo conjunto de trocas, assim como uma organização social denominada pelos historiadores de sociedade mineradora.

Abastecimento das minas – século dezoito

Mapa. Abastecimento das minas.  Século dezoito. 
Mapa representando o território atual do Brasil em amarelo, com os rios São Francisco, Tietê, Paraná e Cuiabá demarcados.  
Legenda:
Rosa: Áreas de mineração (século dezoito).
Losango amarelo: Diamantes.
Quadrado laranja: Principais portos.
Linha marrom-claro: Caminhos terrestres.
Linha roxa: Caminho Geral do Sertão: aguardente, rapadura, marmelada, alimentos.
Linha marrom: Caminho Velho: diamante, ouro, pessoas escravizadas, ferramentas, roupas, importados.
Linha rosa: Caminho Novo: diamante, ouro, pessoas escravizadas, ferramentas, roupas, importados.
Linha azul: Monções.
Seta amarela: Mulas e charque.
Seta vermelha: Tabaco, aguardente, pessoas escravizadas.
Seta verde-escura: Arroz, carne-seca, couro, jegues, coco.
Seta verde-clara: Ouro, suprimentos.
No mapa:
Áreas de mineração (século dezoito) abarcam três territórios: um no centro do Brasil englobando desde as cidades de Cuiabá e Vila Boa de Goiás até a região a oeste de Tejuco; um território a noroeste de São João del-Rei; e um território que se estende, ao norte, desde Nossa Senhora da Conceição do Sabará até, ao sul, a Vila Real de Nossa Senhora do Carmo e Vila Rica.
Diamantes: encontrados ao norte de Cuiabá, entre Cuiabá e Vila Boa de Goiás, ao norte de São João del-Rei, a oeste de Recife, a oeste de Salvador, em Nossa Senhora da Conceição do Sabará e a leste de Tejuco.
Principais portos: localizados em Salvador, Rio de Janeiro, Paraty e no litoral de São Paulo.
Caminhos terrestres: compondo um caminho de Vila Bela até o norte de Vila Real de Nossa Senhora do Carmo, passando por Vila Bela, Cuiabá, Vila Boa de Goiás, Tejuco e pelo norte de Vila Real de Nossa Senhora do Carmo.
O Caminho Geral do Sertão: se estendendo da metade do Caminho Velho, ao norte de Paraty, até São Paulo.
O Caminho Velho: liga Vila Rica e Paraty.
O Caminho Novo: conecta Vila Rica ao Rio de Janeiro.
As Monções: se estendem ao longo do Rio Cuiabá, dos rios Paraná e Tietê e ao longo do Rio São Francisco.
A seta correspondente a mulas e charque parte de Pelotas e segue até a região de Sorocaba.
A seta vermelha corresponde a Tabaco, aguardente, pessoas escravizadas: conecta Salvador e Vila Rica.
Uma seta correspondente a Arroz, carne-seca, couro, jegues, cocos parte de São Luís para a região entorno do Rio São Francisco; e outra seta parte de Recife e se conecta à rota do tabaco, aguardente e pessoas escravizadas, que liga Salvador e Vila Rica.
A seta corresponde a Ouro e suprimentos: conetando Paraty e Vila Boa de Goiás.
No canto inferior direito, a rosa dos ventos e escala de 0 a 470 quilômetros.

FONTES: IstoÉ Brasil, 500 anos: atlas histórico. São Paulo: Três, 1998. página 28; quítin, V.; MARANHÃO, R. Caminhos da conquista: a formação do espaço brasileiro. São Paulo: Terceiro Nome, 2008. página 209.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Com base nas informações do mapa, relacione a descoberta do ouro na América portuguesa à formação de um intenso mercado interno.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Como a descoberta de ouro contribuiu para tornar a região das Minas Gerais multicultural?
  2. Descreva as causas da Revolta de Filipe dos Santos, também conhecida como Revolta de Vila Rica.
  3. Como chegavam os alimentos, as pessoas escravizadas e outras mercadorias à região das minas no início de sua ocupação?
Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: A intensa vida urbana atraiu mercadores de todas as partes da América portuguesa. Do sul, os mercadores levavam mulas e charque; da Bahia, tabaco, aguardente e pessoas escravizadas; de outras partes do nordeste da colônia, arroz, carne-seca, couro, jegues e coco; dos portos do Rio de Janeiro e de Salvador, pessoas escravizadas e artigos de luxo vindos da Europa. Com isso, desenvolveu-se na América portuguesa um intenso mercado interno.

Bê êne cê cê

Por envolver o estudo da dinâmica comercial interna da colônia, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 5 e das habilidades ê éfe zero sete agá ih um dois e ê éfe zero sete agá ih um quatro. No boxe “Se liga no espaço!”, explora-se a formação histórico-geográfica do território brasileiro, relacionando-a ao desenvolvimento das rotas comerciais. Mobiliza-se, assim, a habilidade ê éfe zero sete agá ih um um.

Agora é com você!

1. Com a notícia da descoberta de ouro na região, uma grande onda migratória teve início. Para as Minas Gerais, migraram brancos europeus e americanos, africanos, afrodescendentes e indígenas, que transformaram a cultura e os modos de viver da região, dotando-a de uma característica multicultural.

2. A cobrança da capitação e a instalação das casas de fundição, aliadas à insatisfação com o alto custo de vida, a corrupção das autoridades locais e a repressão da população pelas tropas metropolitanas, contribuíram para o estabelecimento de um clima de tensão na região das minas, que resultou na Revolta de Filipe dos Santos.

3. As pessoas escravizadas chegavam principalmente ao porto do Rio de Janeiro e, de lá, eram levadas até as minas pelos tropeiros, pelos camboeiros ou pelos comissários volantes, os quais também eram responsáveis pelo transporte de produtos como louças, tapeçarias, azeite e diversos outros artigos consumidos pelos habitantes da região. Da Bahia, chegavam o tabaco, a aguardente e as pessoas escravizadas. Do sul da colônia, provinham as mulas, o charque e outros alimentos que eram adquiridos pelos paulistas. O transporte fluvial de mercadorias, baseado nos conhecimentos indígenas, também foi importante. Alimentos, ferramentas e artigos de luxo eram levados em embarcações feitas com tronco de árvore, principalmente no período em que os rios estavam cheios.

Orientação para as atividades

Para realizar as atividades 1 e 2 do boxe “Agora é com você!”, é necessário associar acontecimentos a fim de estabelecer relações causais entre eles. Para responder à questão 3, é preciso desenvolver uma explicação sobre o funcionamento das rotas comerciais. O estabelecimento de relações causais lógicas e inteligíveis demanda a elaboração linguística de conexões; portanto, é importante retomar a ideia de que o estudo de história é parte do processo geral de letramento. Assim, lembre-se de considerar esse aspecto na correção dos exercícios propostos.

A sociedade mineradora: trabalho, hierarquia e mobilidade social

Com a mineração, os indígenas do tronco linguístico Macro-Jê, que habitavam a região das Minas Gerais, foram maciçamente escravizados. Como fórma de resistência, os purí, os crenác e integrantes de outros povos atacaram territórios controlados pela Coroa portuguesa.

A partir de 1730, fugas, revoltas, massacres e epidemias reduziram drasticamente a população indígena e, consequentemente, sua mão de obra. Os indígenas que sobreviveram se juntaram às pessoas mais pobres das vilas, arraiais e cidades que se formavam ou foram para o interior do território. Por causa da precariedade dos dados demográficos, não há precisão sobre o contingente populacional de indígenas no Brasil no período. Em 1650, estima-se que correspondiam a 74% da população. Esse percentual caiu para menos de 10% no início do século dezenove.

Nas cidades mineradoras, o topo da hierarquia social era ocupado por um pequeno grupo de proprietários de lavras de ouro, contratadores (pessoas que obtinham da Coroa portuguesa a autorização para explorar as minas de diamantes), altos funcionários do governo e ricos comerciantes.

Entre as camadas sociais intermediárias estavam os artesãos, os pequenos comerciantes, os profissionais liberais (como médicos e advogados), os representantes da Igreja e os funcionários da administração colonial. Já as camadas populares eram formadas por pessoas livres pobres, em geral mestiças ou libertas.

Gravura. Sobre um fundo de papel amarelado com uma moldura retangular preta, à frente, à direita, um homem branco usando um casaco longo e preto, com punhos e golas vermelhas, chapéu branco com fita vermelha, camisa amarela com gola de babados, meias longas brancas se sapatos pretos, olhando para trás, observando uma mulher e um homem ao fundo, à esquerda.
No canto esquerdo, ao fundo, uma mulher branca com os cabelos brancos presos em um coque, usando um vestido longo branco estampado com flores e de mangas longas, segurando uma tigela e, à frente dela, um homem negro de cabelos crespo, escuros e curtos, com um chapéu de palha de abas, vestido com casaco azul e calças curtas brancas, descalço, despejando na tigela uma concha  de leite. No chão,aos pés do homem de casaco azul, um grande vaso de barro com alças laterais.
Vendedor ambulante, gravura de Carlos Julião, século dezoito. Na imagem estão representadas pessoas de diferentes camadas sociais da sociedade das Minas.
Gravura. Um grupo de pessoas indígenas subindo uma região de montanhas rochosas. No centro, em um patamar mais elevado, há dois homens indígenas à frente do grupo. Eles estão vestidos com mantos de pele de animal de fundo branco com listras verticais em tons de marrom. 
Na parte da frente, os mantos cobrem do pescoço até a cintura, na parte de trás, se estendem dos ombros aos pés. 
Eles usam botoques, adornos em formato de disco inseridos no lábio inferior, argolas alargadoras nas orelhas e seguram lanças pontiagudas. Um deles, à esquerda, tem uma faixa ao redor da cabeça.
Ao fundo, subindo pelo caminho de terra, uma mulher indígena, nua, segurando feixes de lanças com as duas mãos. Atrás dela, uma mulher indígena carregando uma criança nas costas e outras pessoas indígenas, vistas parcialmente, algumas portanto lanças. 
À esquerda e à direita, rochas cobertas por vegetação rasteira. No alto, o céu azul com nuvens.
Família de botocudos em marcha, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1834.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na gravura de Jãn Batiste Dêbret, é representada uma família de indígenas utilizando botoques, peças de madeira ou de conchas usadas como enfeites. Em decorrência desse costume, diferentes povos do tronco linguístico Macro-Jê foram genericamente apelidados por colonizadores portugueses de “botocudos”. Durante o período colonial, tais povos foram alvo de violentos processos de genocídio e etnocídio. Entre os sobreviventes contemporâneos, figuram os crenác, que habitam os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a população indígena foram retirados de: AZEVEDO, M. Diagnóstico da população indígena no Brasil. Ciência e Cultura, São Paulo, volume 60, número 4, página 19-22, outubro. 2008.

BNCC

Ao tratar da resistência dos diversos grupos indígenas que habitavam a região das minas à ocupação colonial, o conteúdo mobiliza a habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove. Além disso, a análise das estruturas sociais da sociedade colonial, considerando os diferentes grupos que a compunham e as relações de poder, contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 1.

• Em 1786, a população de Minas Gerais era de aproximadamente 363 mil pessoas. Em Pernambuco, que desde o século dezesseis era o polo açucareiro da América portuguesa, havia, em 1782, aproximadamente 240 mil habitantes.

Curadoria

Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século dezoito (Livro)

Laura de Mello e Souza. 4. ediçãoRio de Janeiro: Graal, 2004.

Nesse livro, a historiadora Laura de Mello e Souza salienta o fato de que a sociedade mineradora criou uma parcela enorme de sujeitos considerados desclassificados. Tendo em vista a mobilidade social entre os sujeitos dessa sociedade, o livro evidencia o alto número de negros (forros, pobres e livres) e de mestiços que coexistiram nesse espaço.

A população negra e mestiça

As divisões sociais marcavam a vida das pessoas na região das Minas Gerais. Homens, mulheres e crianças negros e mestiços, que compunham 77,9% da população na primeira metade do século dezoito, trabalhavam principalmente nas atividades da mineração.

As pessoas escravizadas eram submetidas a trabalhos árduos e insalubres na atividade mineradora. Muitas ficavam horas dentro da água para lavar o ouro ou no interior das minas, onde havia gases venenosos, além de riscos de desmoronamento e explosões. Além dos riscos e doenças, o cotidiano era violento, marcado por punições e castigos físicos.

Diante dessas condições precárias, o índice de mortalidade era tão alto que os senhores esperavam que cada pessoa escravizada trabalhasse, em média, doze anos. Estima-se que a taxa de mortalidade era de 50 a 66 mortes em cada grupo de mil indivíduos.

Apesar dessa realidade dura e hostil, parte das pessoas escravizadas conseguia obter a liberdade. Isso ocorria, por exemplo, por meio da compra da alforria pelas pessoas que conseguiam juntar recursos ao realizar trabalhos remunerados, vendendo quitutes ou prestando outros serviços.

Gravura. Em uma região de terra batida, escavada na terra, com rochas no solo, vista de lado, uma estrutura feita de ripas de madeira com telhado de palha, como um barracão sem paredes. No chão, sob a estrutura, dezenas de valas cheias de água dispostas em fileiras. Em cada uma das valas, há pessoas negras trabalhando com as costas curvadas e com as mãos na água. À frente de cada uma delas, homens brancos estão sentados em cadeiras, observando as pessoas negras. Alguns deles, seguram chicotes. Ao fundo, região montanhosa e rochosa na cor cinza, com algumas casas de cor bege nas montanhas, ao fundo e à esquerda.

Serro Frio, trabalho de lavagem do cascalho feito por escravos, gravura de Carlos Julião, século dezoito.

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Na gravura são representadas pessoas escravizadas trabalhando na lavagem de cascalho em busca de diamantes. No auge da mineração, a maior parte da população era negra, composta de pessoas trazidas da África para serem escravizadas e de seus descendentes. Apenas 22% do total da população da região era considerado branco.

As mulheres

Na sociedade mineradora, as divisões sociais e por cor de pele afetavam muito a vida das mulheres. As que faziam parte da elite eram vigiadas o tempo todo. Elas não podiam circular desacompanhadas nas ruas, por exemplo.

As mulheres negras, mestiças e indígenas, escravizadas ou livres, sofriam várias fórmas de exploração e violência.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a sociedade mineradora foram retirados de: PRIORE, M. Histórias da gente brasileira. São Paulo: Lêia, 2016. volume 1, página 110; COSTA, I. N. As populações das Minas Grais no século dezoito: um estudo de demografia histórica. Revista Crítica Histórica, volume segunda, número 4, página 176-197, dezembro 2011; istâmpf, R. G. Minas contada em números – A capitania de Minas Gerais e as fontes demográficas (1776-1821). Revista Brasileira de Estudos de População, volume 34, número 3, página 536, setembro/dezembro 2017.

Ampliando

A população africana e seus descendentes influenciaram a sociedade colonial em diversos aspectos, com saberes, técnicas e instrumentos de trabalho que trouxeram de suas sociedades de origem. Esse assunto é tratado no texto a seguir.

“O ciclo do ouro é compreendido como o período em que vigorou a extração e exportação do ouro como principal atividade econômica na fase colonial. Com o ouro, prata e diamantes vieram as cidades e os centros urbanos. Das cidades no interior tivemos as cidades portuárias e os equipamentos urbanos. Todos esses progressos econômicos têm como contrapartida as aplicações técnicas e desenvolvimentos de engenharia produzidos por africanos e descendentes de africanos. reticências

Outros estudos arqueológicos e históricos sobre metalurgia no Brasil demonstram a presença das tecnologias africanas e de africanos nas primeiras fundições implantadas no país [...]. Por outro lado, a descoberta de ouro em Minas Gerais fomentou a necessidade da siderurgia. Temos notícias [de] que fundições de ferro foram abertas para a construção de implementos de ferro utilizados no trabalho das minas, estas empregando trabalho de africanos. reticências Em 1815, ficou pronta a usina do Morro do Pilar, em Minas Gerais, e ainda existe referência ao emprego de africanos e afrodescendentes [...].”

CUNHA JUNIOR, H. A. Arte e tecnologia africana no tempo do escravismo criminoso. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, número 116, página 105, 109, março 2015.

Curadoria

Chica da Silva e o contratador dos diamantes: o outro lado do mito (Livro)

Júnia Ferreira Furtado. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

A historiadora aborda as relações de gênero e raça em Minas Gerais no século dezoito, salientando uma série de mitos criados em torno da figura de Chica da Silva. Além disso, demonstra as estratégias adotadas por Chica da Silva para imitar os hábitos e costumes da elite, com base na experiência histórica marcada pela escravização.

A prática do concubinatoglossário era comum, apesar de amplamente combatida pela Igreja Católica. Por meio dela, algumas mulheres conseguiam mudar sua condição econômica e social. O caso mais conhecido foi o de Chica da Silva.

Comprada em condição de escravizada pelo contratador João Fernandes de Oliveira, ela foi alforriada logo depois e ambos assumiram publicamente uma relação amorosa que durou vinte anos. Chica da Silva teve muitas casas e escravizados e manteve sua riqueza mesmo após se separar do contratador.

Em outros casos, quando estavam no fim da vida, alguns senhores que viviam com as escravizadas as alforriavam como fórma de gratidão, afeto ou para lhes deixar herança. Como viúvas, ricas e livres, elas podiam administrar a casa.

Na sociedade mineradora, foi muito comum o ofício de quitandeira. Normalmente, eram mulheres negras que vendiam, nas ruas, alimentos em tabuleiros; por isso, eram chamadas negras de tabuleiro. Essa prática, de origem africana, foi levada para as minas pelas pessoas escravizadas. Muitas quitandeiras eram escravas de ganho, ou seja, complementavam a renda de seus senhores com esse trabalho.

As quitandeiras se deslocavam para os centros mineradores, onde, por circular livremente, ajudavam a contrabandear ouro ou faziam circular informações. Elas forneciam, assim, importante apoio às rebeliões e sofriam, por isso, diversas medidas repressivas pelas autoridades locais.

Ilustração.  Em uma rua, diante de uma casa de paredes de cor bege, com uma janela de madeira em forma de arco, à esquerda, e duas portas de madeira em forma de arco, no centro e à direita, há três mulheres negras, em fila, caminhando da direita para a esquerda. 
Elas usam saias longas coloridas (à esquerda, azul, no centro, branca e  à direita, vermelha). Sobre os ombros, uma delas, à esquerda, usa um lenço branco com listras verticais vermelhas, outra mulher, no centro, usa uma blusa azul clara e a terceira mulher, à direita, veste uma camisa bege e um colete longo verde.  As mulheres das laterais usam turbantes. A mulher no centro usa um véu cobrindo a cabeça e o cabelo. Todas elas carregam objetos equilibrados na cabeça: a primeira, à esquerda, de turbante azul, leva uma tigela grande com bolinhos equilibrada sobre sua cabeça e amparada por uma pano; a segunda mulher, de lenço azul, leva sobre a cabeça um cesto de palha com uma galinha dentro e em uma das mãos um cesto de palha menor; e a terceira mulher, de turbante bege, carrega um cesto com frutas e segura uma galinha em uma de suas mãos.
Ilustração atual representando quitandeiras na região das Minas Gerais no século dezoito.

FONTE: BONOMO, J. R. O que é que a quitandeira tem? Um estudo sobre a memória e a identidade das quitandeiras de Minas Gerais. Dissertação (Mestrado em Memória Social) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. página 37.

Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A palavra quitandeira deriva do termo quitanda, de origem quimbundo, língua falada na região de Angola. No Brasil, nomeia os tabuleiros onde os alimentos são expostos para venda, e também os pequenos comércios de frutas, verduras e legumes e alimentos, como broas, bolos e biscoitos.

Respostas e comentários

Ampliando

Sobre o emprego do termo quitanda, leia o texto a seguir.

“O termo quitanda seria um derivativo de kitanda, que, na língua quimbundo, falada no noroeste de Angola, significa tabuleiro, onde se expõem gêneros alimentícios nas feiras, e também designa as próprias feiras e mercados livres, muito difundidos em toda África [...]. Nas crônicas dos viajantes do século dezessete e dezoito, há frequentes referências a essas feiras e mercados onde se vendiam fubá, fruta, verdura, peixe, óleo de dendê, ginguba (pimenta), fritadas e guisados e que povoaram as ruas de Luanda [...]. As kitandas se tornaram quitandas quando essa prática atravessou o Atlântico a bordo dos navios negreiros e alcançou o Brasil. Portanto, trata-se de uma prática econômica e cultural que se reproduziu nas colônias e que mantinha um elo com a África não somente por motivos de origem. As kitandeiras africanas reticências abasteciam o grande tráfico atlântico, vendendo os alimentos que garantiram a longa viagem até as Américas, como farinha, peixe seco e outros alimentos que adquiriam nos mercados de Luanda [...].”

LIFSCHITZ, J. A.; BONOMO, J. As quitandeiras de Minas Gerais: memórias brancas e memórias negras. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, volume 51, número 2, página 194, maio-agosto 2015. Destaques dos autores.

Curadoria

Mulheres negras: quitandeiras (Plano de aula)

Laboratório de Ensino e Material Didático (lemádi fefeléchi úspi). Kits didáticos: documentos históricos no ensino: material impresso e digital. 2 edição, 2015-2016. Disponível em: https://oeds.link/pt7KHa. Acesso em: 24 março 2022.

Esse material apresenta uma compilação de fontes históricas variadas sobre a atuação das quitandeiras na sociedade colonial, com orientações para abordar o tema em sala de aula. São apresentadas fontes como pinturas e relatos de viajantes para subsidiar planos de aula.

Analisando o passado

A seguir está reproduzido um trecho da obra Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, escrita pelo religioso jesuíta André João Antonil e publicada em 1711.

Antonil viveu na América portuguesa durante cêrca de 35 anos e escreveu um relato detalhado da sociedade colonial. Analise o trecho para responder às atividades que seguem.

CAPÍTULO dezessete – Dos danos que tem causado ao Brasil a cobiça depois do descobrimento do ouro nas minas.

[…] Convidou a fama das minas tão abundantes do Brasil homens de toda a castaglossário e de todas as partes, uns de cabedalglossário , e outros vadios. Aos de cabedal, que tiraram muita quantidade dele nas catasglossário , foi causa de se haverem com altivez e arrogância, de andarem sempre acompanhados de tropas de espingardeirosglossário , de ânimo pronto para executarem qualquer violência, e de tomar, sem temor algum da justiça, grandes e estrondosas vinganças. Convidou-os o ouro a jogar largamente e a gastar em superfluidadesglossário quantias extraordinárias sem reparo, comprando (por exemplo) um negro trombeteiro por mil cruzados, e uma mulata de mau trato por dobrado preço, para multiplicar com ela contínuos e escandalosos pecados. Os vadios que vão às minas para tirar ouro não dos ribeiros, mas dos canudos em que o ajuntam e guardam os que trabalham nas catas, usaram de traições lamentáveis e de mortes mais que cruéis, ficando estes crimes sem castigo, porque nas minas a justiça humana não teve ainda tribunal e o respeito de que em outras partes goza, aonde há ministros de suposição, assistidos de numeroso e seguro presídio, e só agora poderá esperar-se algum remédio, indo lá governador e ministros. reticências

ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2013. página 208-209.

Responda no caderno.

  1. A primeira versão da obra Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas foi confiscada pela Coroa portuguesa, por receio de que o livro aumentasse o interesse de outras potências europeias por sua colônia americana. Identifique, no texto, informações que poderiam provocar esse aumento de interesse.
  2. Que críticas André João Antonil fez à sociedade que estava se formando na região das Minas Gerais?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a análise de aspectos da sociedade colonial com base em fontes históricas, considerando e problematizando a perspectiva do autor, o conteúdo da seção contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero e das Competências Específicas de História nº 3 e nº 4.

Analisando o passado

Nessa seção, é reproduzido um excerto da obra Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, escrita pelo padre jesuíta André João Antonil. Tendo em vista que o português do excerto é arcaico, para realizar as atividades de interpretação do texto, os estudantes precisarão de atenção, especialmente, para inferir alguns sentidos e conotações que o autor desejava expressar. Na primeira atividade, incentiva-se a leitura, a interpretação e a síntese. Na segunda, será necessário aprofundamento na análise do texto para identificar as características da sociedade mineradora, considerando a subjetividade do autor do documento, e assim identificar suas críticas.

Atividades

1. O interesse de outras potências europeias pelo Brasil poderia ser aumentado por observações sobre a riqueza das minas. Além disso, a pouca segurança na região e a falta de agentes da justiça – aspectos relatados por Antonil – poderiam aumentar o interesse de outras potências pela região diante da falta de contrôle por parte da Coroa portuguesa.

2. Quando Antonil escreveu a obra, ainda não havia nas Minas Gerais mecanismos de justiça organizados, como tribunais e presídios. Assim, diversos crimes relatados por ele, como vinganças, traições e assassinatos, ficavam sem punição, motivo de crítica do autor. Além disso, Antonil destacou a arrogância dos homens ricos e os “escandalosos pecados” cometidos entre senhores e escravizadas, críticas que podem ser atribuídas à noção de vício, oriunda de sua religiosidade, pois ele era um jesuíta.

Religião e cultura na sociedade mineradora

Nas cidades históricas de Minas Gerais existe um grande número de igrejas católicas ricamente adornadas. Essa quantidade se deve à importância que a Igreja tinha na América portuguesa.

Além da função religiosa, a Igreja era responsável pelo registro de mortes, nascimentos e casamentos, atribuições que hoje são do Estado. Esse trabalho era remunerado e garantia muita riqueza.

Além das igrejas, havia um número bastante expressivo de irmandades religiosas. Elas eram grupos de pessoas leigas (que eram religiosas, mas não faziam parte da hierarquia formal de cargos da Igreja). As irmandades organizavam os rituais religiosos e forneciam ajuda material a seus participantes, como o empréstimo de dinheiro.

Cada irmandade leiga era formada por pessoas de um grupo social, como o dos mineradores, o dos artesãos ou o dos comerciantes. Além disso, havia separação entre brancos e negros, apesar de existirem casos de negros aceitos em irmandades brancas.

Fotografia. À direita, pequena igreja de paredes brancas com detalhes em pedra na fachada, com uma cruz no alto da fachada e um sino em um nicho vermelho do lado esquerdo. No centro, uma porta de madeira, alta, vermelha, retangular e cercada por adornos esculpidos em pedra. No alto da porta, um oratório com a imagem de um santo negro no centro. De cada lado do oratório, uma pequena janela retangular. O pavimento à frente da igreja é feito de pedras. À esquerda, árvores. No alto, o céu nublado.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Tiradentes (Minas Gerais). Foto de 2019.
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Imagens em contexto!

A igreja da foto é a mais antiga do município de Tiradentes. Ela foi construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos entre 1708 e 1719. Acima da porta de entrada está a imagem de São Benedito, um dos mais populares santos negros na colônia. Dentro do edifício, ao lado do altar central, encontram-se, à direita, uma imagem de São Benedito, e à esquerda, uma de Santo Antônio Categeró, ambos negros. O culto a santos negros nessa região reflete a população que lá vivia no século dezoito.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao abordar a religiosidade no período colonial, considerando a atuação da Igreja Católica e as fusões e transformações religiosas na América portuguesa, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero cinco.

• O fenômeno social das irmandades ocorreu em todos os espaços coloniais; não foi, portanto, exclusivo de Minas Gerais.

Ampliando

No excerto a seguir, Caio C. bósqui discorre sobre a participação dos negros nas irmandades.

“No Brasil colonial, para os negros, as irmandades se apresentavam como fórma de sociabilidade, organismo de relativa autonomização e fórma de ação coletiva e de (re)construção de identidade. Nelas, praticaram o catolicismo, mas conservaram suas matrizes culturais. Aninharam-se na religião dos brancos, mas fizeram das irmandades instrumento de resistência cultural [...].”

bósqui, C. C. Confraternidades negras na América portuguesa do Setecentos. Estudos Avançados, São Paulo, volume 33, número 97, página 228, 2019.

Sincretismo religioso e efervescência cultural

São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia e Santo Antônio Categeró foram alguns dos santos pretos utilizados como recurso para converter as pessoas ao catolicismo. A crença nos santos era elemento central da religiosidade local. Isso ocorria especialmente porque eles representavam exemplos humanos de virtude.

Fotografia. Escultura feita em madeira em tons de marrom escuro com detalhes dourados, representando um homem de cabelos curtos, sem barba, usando um longo manto drapeado adornado com desenhos dourados. A figura olha para o alto com um olhar sereno.
Imagem de São Benedito de Palermo, o Negro, produzida no século dezenove, que está no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (Minas Gerais).

Como os africanos e seus descendentes eram a maioria da população nas minas, os santos eram utilizados como modelos de vida, baseados na obediência e na resignação, para aqueles que eram identificados como pretos.

Apesar de serem usados com a intenção de controlar essa população, os santos pretos abriram um espaço importante para que crenças de matriz africana se misturassem com as católicas. Um exemplo dessa mistura é a congada, manifestação cultural popular praticada até hoje que reúne influências portuguesas cristãs e saberes de antigos escravizados.

Os cultos organizados em diversos templos por irmandades religiosas estimularam a atuação de regentes e músicos. Eram realizadas na região apresentações cênicas e musicais, na maior parte das vezes em casas de particulares, desenvolvendo-se uma intensa vida social, incentivada pela grande quantidade de riquezas que circulava.

Essa vida social agitada possibilitou a melhora de vida de indivíduos que pertenciam aos grupos mais pobres da sociedade. Muitos deles, como Joaquim José Emérico Lobo de Mesquita, tornaram-se especialistas em música sacra e erudita, estabelecendo laços com a elite econômica e as autoridades locais.

Fotografia. Em primeiro plano, uma multidão de pessoas com roupas brancas, algumas com chapéus brancos, um deles com um chapéu com fitas coloridas, carregam tambores e outros instrumentos musicais e levantam estandartes azuis e vermelhos com imagens de santos. Algumas pessoas, à direita, levantam um mastro com fitinhas coloridas formando listras brancas e marrons. Do lado esquerdo, um mastro já levantado com fitinhas coloridas formando listras azuis, rosas e brancas. Ao fundo, vista lateral de uma construção colonial retangular, de paredes brancas, dois andares, duas janelas retangulares com molduras amarelas. Ao fundo, à direita, uma tenda de estrutura metálica e teto branco e muitas casas em um morro inclinado.
Congada em Ouro Preto (Minas Gerais), durante Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito. Foto de 2020.
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A congada envolve dança, canto e outras fórmas de expressão cultural, com elementos cristãos e de religiosidades de matriz africana.

Respostas e comentários

• O conceito de sincretismo, nas ciências sociais e na história, se relaciona de alguma forma aos de mestiçagem ou miscigenação. Esses termos designam processos sociais e históricos que produzem culturas e manifestações artísticas singulares e de muita beleza. São conceitos operativos para refletir sobre as culturas híbridas ou os processos transculturais ocorridos na América, mas também integram discursos ideológicos que mascaram as assimetrias entre brancos e negros ou indígenas na produção da cultura brasileira. Além disso, tais discursos ocultam a violência contra os afro-brasileiros e as populações indígenas. No mito da democracia racial, sincretismo, miscigenação e mestiçagem são valorizados para enaltecer o caráter supostamente coeso e pacífico da cultura nacional brasileira.

Atividade complementar

Para complementar e aprofundar o tema das fusões culturais e religiosas, sugere-se uma atividade de pesquisa com base no contexto escolar. Nas tradições de muitos municípios brasileiros e em todos os estados, é possível encontrar elementos de contato entre as culturas africanas e indígenas e o cristianismo. Portanto, trata-se de um momento oportuno para propor aos estudantes que pesquisem esses elementos nas tradições do município em que vivem. Caso sejam raros na localidade, pode-se ampliar a pesquisa para o estado todo.

Oriente os estudantes a investigar as festas, procissões e manifestações que ocorrem no município, bem como os espaços culturais e religiosos, à procura desses exemplos contemporâneos. Eles podem também entrevistar as pessoas mais velhas da família e os moradores mais antigos do bairro para obter as informações. A atividade pode ser feita em pequenos grupos e, após a pesquisa, ser organizada uma roda de conversa para os grupos compartilharem as descobertas.

O Barroco mineiro

Boa parte da vida religiosa, artística e intelectual da região das Minas Gerais está relacionada ao Barroco. Iniciado na Europa no fim do século dezessete, o movimento foi usado pela Igreja Católica para recuperar fiéis e fortalecer sua doutrina diante da Reforma Protestante, como você estudou no capítulo 3.

Para isso, foram elaboradas esculturas de santos e construídos altares e igrejas ricamente adornados, com características como jogos de luz e sombra e, principalmente, a opulência, ou seja, o emprego do luxo excessivo nas peças com o uso, por exemplo, do ouro. Esse luxo e o uso de elementos exagerados, cheios de detalhes e com cores vivas eram usados como estratégia para atrair os fiéis por meio do impacto que as peças causavam em quem as via.

Na América portuguesa, o Barroco se mesclou aos elementos das culturas indígenas e africanas. Assim, em vez do mármore, material que era empregado na Europa, as esculturas na América foram modeladas em argila ou esculpidas em pedra-sabão e madeira. Na sociedade mineradora, o auge desse estilo ocorreu no século dezoito.

A arquitetura religiosa foi trazida à colônia por mestres portugueses como Manuel Francisco Lisboa, que participou da construção de importantes templos em Vila Rica, como a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias e a Igreja Matriz de Santa Efigênia. O filho que Manuel teve com uma escravizada, chamado Antônio Francisco Lisboa, tornou-se a principal referência do Barroco mineiro.

Antônio, que nasceu em 1738, era conhecido como Aleijadinho por causa de uma doença que atrofiou seu corpo, principalmente os pés e as mãos. Como era arquiteto e escultor, trabalhava ajoelhado e com seus instrumentos amarrados às mãos, contando com o auxílio de pessoas escravizadas, artesãos e aprendizes.

Aleijadinho foi o mestre de ofício mais requisitado de sua época e viveu com certo conforto, em razão dos rendimentos de sua oficina, até 1814, quando faleceu.

Fotografia. No alto, uma igreja branca com bordas de pedra-sabão na fachada com duas torres nas laterais com cruzes no topo das torres e uma cruz maior no meio do telhado, na fachada esculpida em pedra. Na frente dela, uma escadaria composta de dois conjuntos de escadas com lances em zigue-zague. As escadas são protegidas nas laterais por paredes brancas. Nas pontas formadas pelos lances de escada, há doze esculturas grandes em pedra-sabão representando figuras masculinas. O início da escadaria é fechado com um portão e o chão, pavimentado com pedras. No alto, o céu azul e sem nuvens.
Os doze profetas, esculturas em pedra-sabão de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, 1805. Foto de 2021.
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As esculturas de Aleijadinho fazem parte do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (Minas Gerais), que foi reconhecido como patrimônio cultural mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unêsco), em 1985.

Respostas e comentários

Interdisciplinaridade

Ao abordar a arte barroca, destacando suas transformações no contexto da América portuguesa, é possível realizar uma série de conexões com o componente curricular arte, promovendo o desenvolvimento das habilidades ê éfe seis nove á érre zero dois – “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço” – e ê éfe seis nove á érre três três – “Analisar aspectos históricos, sociais e políticos da produção artística, problematizando as narrativas eurocêntricas e as diversas categorizações da arte (arte, artesanato, folclore, design etcétera)”.

Ampliando

No texto a seguir, Fabio Viana comenta a relação da arte barroca com o maravilhamento e sua utilização como instrumento de conversão religiosa.

“As tradições clássica e cristã sempre reconheceram a importância do maravilhamento no processo de conhecimento. Aristóteles, na Metafísica, afirma que a filosofia nasce do maravilhamento, da admiração: ‘foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora’ e ‘filosofavam para fugir à ignorância’ reticências e Gregório de Nissa, no século quatro, insistia que ‘só o maravilhamento conhece’.

Se esse pensamento estiver correto, o maravilhamento seria o estopim que desencadearia todo o processo que culminaria na salvação do homem, razão pela qual os barrocos teriam apostado tanto na maravilha. Nesse sentido, a arte religiosa barroca pode ser vista não apenas como uma machina dell’inganno, mas como uma máquina da maravilha, onde palavra, gesto, cenário, luz, som, enfim, todos os recursos disponíveis são utilizados numa estrutura retórica que se expressa em fórma de teatro, com o objetivo de persuadir o fiel, ou seja, ensinar e convencer o fiel, movendo-o à conversão.”

VIANA, F. H. Maravilha e conhecimento na arte religiosa de Minas colonial. Per Musi, Belo Horizonte, número 24, página 145, dezembro 2011.

• Nessa parte do capítulo, a arte barroca, uma das principais marcas da história mineira, fruto da exploração aurífera, é apresentada como um movimento que, apesar das influências europeias, desenvolveu características próprias na América portuguesa.

A crise do ouro na América portuguesa

A extração do ouro foi crescente até 1760, momento do auge da atividade na América portuguesa. Durante o século dezoito, cêrca de 800 toneladas de ouro foram enviadas da América portuguesa para a metrópole europeia.

Porém, no fim do século, a extração já apresentava sinais de crise e esgotamento. Assim, por volta de 1780, a renda da atividade era menos da metade do que havia sido duas décadas antes. Como o esgotamento foi gradual, a Coroa portuguesa demorou para perceber a situação e atribuiu a queda da receita do quinto ao contrabando.

Para recuperar-se da queda na arrecadação, Portugal instituiu a finta, que era um imposto anual de 100 arrobas de ouro (cêrca de 1.500 quilogramas). Quando a cota não era atingida, autoridades metropolitanas acionavam a cobrança da derrama: os colonos eram obrigados a completar a parcela não recolhida do imposto. Mineradores ou não, todos tinham de contribuir.

Não havia um regulamento para a derrama, mas ela geralmente era feita por meio da cobrança de impostos sobre a posse de escravizados e as transações comerciais. Era também cobrada em pedágios nas estradas que davam acesso à região devedora. Essas ações geravam muito descontentamento entre os colonos.

A atividade mineradora contribuiu para mudar as características da colonização da América portuguesa. Antes dessa atividade, a exploração colonial era realizada principalmente no litoral. Depois, se deslocou para o interior e provocou grande movimentação de migrantes pelo território, entre outras mudanças.

Um dos impactos da extração do ouro foi a devastação da natureza: as matas foram queimadas para permitir o acesso às minas, os cursos dos rios foram modificados para facilitar a lavagem do ouro e a escavação nas montanhas produziu erosão. Esse problema ambiental só começou a ser discutido efetivamente no fim do século vinte.

Fotografia. Vista de costas de uma escultura em madeira representando uma mulher com manto comprido, véu e coroa metálica na cabeça. No centro da escultura, nas costas da figura, há um buraco retangular, que revela que a imagem é oca por dentro. A escultura está sobre uma pequena base de madeira com rosas esculpidas.
Escultura de madeira de Nossa Senhora do Rosário produzida no século dezoito.
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Imagens em contexto!

Santo do pau oco é uma expressão popular utilizada no Brasil para designar pessoas dissimuladas ou mentirosas. Segundo alguns estudiosos, essa expressão teve origem na região das minas por causa das esculturas de madeira feitas com um buraco no meio para esconder ouro ou diamantes da fiscalização e cobrança do quinto. Assim, essa estratégia passou a ser associada a pessoas consideradas fingidas ou hipócritas. Outros pesquisadores, entretanto, afirmam que as esculturas eram ocas apenas para ficar mais leves, facilitando o transporte.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre o envio de ouro para Portugal retirados de: FIGUEIREDO, L. R. A. Derrama e política fiscal ilustrada. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte, volume 41, página 22-39, julho.-dezembro. 2005.

Bê êne cê cê

Ao analisar as respostas da metrópole à queda da arrecadação tributária gerada pelo esgotamento das jazidas minerais, o conteúdo mobiliza a habilidade ê éfe zero sete agá ih um três. Ao mencionar os danos à natureza gerados pela mineração predatória, apontando para a degradação ambiental no período colonial, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da Competência Geral da Educação Básica nº 7 e das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 5 e nº 6.

Tema Contemporâneo Transversal

O conteúdo, ao apresentar a degradação ambiental durante a colonização portuguesa na América, possibilita ao docente abordar a crise ambiental contemporânea, explorando o Tema Contemporâneo Transversal Educação ambiental.

• Aproveite para discutir com os estudantes a continuidade dos danos ambientais causados pela mineração em larga escala, atividade cuja regulação precária resultou em desastres ambientais. O rompimento, em 2015, da barragem de Fundão, causou a morte de dezenove pessoas, o assoreamento do Rio Gualaxo do Norte e de toda a bacia do Rio Doce, de Minas Gerais até sua foz no Espírito Santo. Convide a turma a refletir sobre o impacto desse desastre nas comunidades rurais e indígenas que dependiam dos rios, bem como sobre a crise econômica que atingiu os municípios mineradores.

• A fim de contemplar a dinâmica local, afetada pela construção às pressas de uma sociedade em torno da exploração do ouro, apresentam-se os impactos da mineração no meio ambiente e em outros espaços coloniais, que passavam a direcionar suas atividades comerciais para a região das minas.

A reconfiguração territorial da América portuguesa

Com o intenso processo de ocupação do interior da colônia nos séculos dezessete e dezoito, ficou evidente que o Tratado de Tordesilhas, por meio do qual foi traçada uma linha imaginária separando o domínio colonial português do espanhol, precisava ser substituído.

Assim, em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, que conferia a posse da terra a quem realmente a utilizava.

A execução do Tratado de Madri ocasionou alguns conflitos, principalmente na região dos Sete Povos das Missões, localizada no território correspondente ao do atual estado do Rio Grande do Sul. Os jesuítas e os indígenas Guarani que viviam nas aldeias da região não aceitaram a ordem dada pelos dois países de deixar o local. A guerra durou de 1753 a 1756, resultando na morte de milhares de indígenas Guarani.

Em 1763, por causa, entre outros fatores, de sua proximidade com a região mineradora, a cidade do Rio de Janeiro se tornou a capital da América portuguesa.

No ano de 1777, outro tratado foi assinado, o de Santo Ildefonso, que devolveu à Coroa portuguesa a Ilha de Santa Catarina e à Coroa espanhola os territórios de Sete Povos das Missões e de Colônia do Sacramento, que atualmente faz parte do Uruguai.

Mais tarde, em 1801, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Badajós, devolvendo a Portugal a região dos Sete Povos das Missões.

América portuguesa: os tratados de limite – séculos dezoito-dezenove

Mapa. América portuguesa: os tratados de limite. Século dezoito e dezenove.
Mapa representando o território atual do Brasil em amarelo, com linhas coloridas indicando fronteiras e algumas cidades e rios destacados. Na fronteira a noroeste, o Vice Reino de Nova Granada. Na fronteira a oeste, o Vice Reino do Peru. Na fronteira a sudoeste, o Vice Reino do Rio da Prata.
Legenda:
Amarelo hachurado de cinza: Área incorporada pelo Tratado de Badajós (1801).
Amarelo: Território atual do Brasil.
Linha lilás: Tratado de Madri (1750).
Linha roxa: Tratado de Santo Ildefonso (1777)
Linha pontilhada azul: Tratado de Tordesilhas (1494)
No mapa, a Área incorporada pelo Tratado de Badajós (1801) corresponde à região de Sete Povos, no oeste do atual estado do Rio Grande do Sul. As fronteiras do Tratado de Madri (1750), corresponde à parte dos limites terrestres atuais do Brasil, excluindo os territórios do Amapá, do Acre, parte do oeste do Amazonas e os territórios ao sul de Vila Bela e a sudoeste de Cuiabá. 
As fronteiras do Tratado de Santo Ildefonso (1777) exclui os Sete Povos do território da América Portuguesa.
O Tratado de Tordesilhas (1494) divide  a América do Sul de norte a sul, na altura da ilha de Marajó, ao norte, até Laguna, ao sul.
Destaque para os rios Madeira, Amazonas, São Francisco e Paraná. 
No atual território do Brasil, destaque para as cidades de: Barra do Rio Negro, São Luís, Fortaleza, Natal, Paraíba (hoje João Pessoa), Olinda, Salvador, Mariana, Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Desterro, Laguna, Rio Grande de São Pedro, Vila Boa, Cuiabá e Vila Bela.
E para outras cidades da América do Sul, como: Caiena, Bogotá, Quito, Lima, Assunção, Buenos Aires e Colônia do Sacramento.
No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 420 quilômetros.

FONTE: BADIRU, A. I.; SANTOS, N. D. Regionalização dos expressivos não morfológicos dos estados de Alagoas e Sergipe, Brasil. Confins, número 41, 2019. 

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Quem eram as quitandeiras? Por que elas eram reprimidas pelas autoridades nas Minas Gerais?
  2. Qual era a importância das irmandades religiosas para a sociedade mineradora?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a análise da reconfiguração territorial da América portuguesa, considerando os tratados entre Portugal e Espanha e promovendo o exercício da leitura de mapas, o conteúdo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um um e da Competência Específica de Ciências Humanas nº 7.

Agora é com você!

1. As quitandeiras eram mulheres que vendiam alimentos nas ruas em tabuleiros. Muitas vezes, eram escravizadas de ganho. Elas eram reprimidas pelas autoridades porque, por circular livremente nos espaços das minas, desviavam o ouro e/ou faziam circular informações restritas, fornecendo importante apoio às sublevações.

2. Além de organizar as práticas religiosas, as irmandades forneciam diversos tipos de amparo a seus participantes. Era comum, por exemplo, o empréstimo de recursos financeiros, assim como, em caso de falecimento, garantia da reza de certo número de missas e de um lugar para ser sepultado. Nesse sentido, era de extrema importância pertencer a irmandades, pois esses grupos garantiam assistência, contribuindo para a ordem social e funcionando como uma espécie de apoio para diferentes grupos sociais.

Orientação para as atividades

Para realizar as atividades do boxe “Agora é com você!”, os estudantes precisarão descrever tipos sociais e a razão de estes serem reprimidos pelas autoridades, bem como explicar as funções das irmandades religiosas na sociedade mineradora. Provavelmente, eles terão facilidade na identificação das informações, mas podem apresentar alguma dificuldade na associação das estruturas em textos autônomos. Para ajudá-los nessa tarefa, recorde com eles as características gerais da sociedade mineradora. Peça-lhes que, antes de redigir a resposta, respondam às questões oralmente.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. No caderno, relacione os níveis da pirâmide a seguir com os integrantes das camadas da população que formavam a sociedade mineradora.

Ilustração. Triângulo equilátero de cor laranja dividido em quatro faixas horizontais identificadas, do topo para a base, com as letras:  'A', no topo; 'B', logo abaixo; 'C', acima da base e 'D', na base.
  1. Pessoas negras escravizadas.
  2. Trabalhadores ocasionais, podendo ser brancos, indígenas, mestiços ou negros libertos.
  3. Altos funcionários da Coroa, contratadores, grandes comerciantes e mineradores.
  4. Comerciantes, profissionais liberais, como médicos e advogados, funcionários do governo e representantes do clero, em sua maioria brancos, com algumas exceções, como negros que conseguiam ascender socialmente.
  1. Analise as informações a seguir a respeito da mineração na América portuguesa no século dezoito. Em seguida, no caderno, identifique as que são verdadeiras e as que são falsas.
    1. A instituição da derrama foi uma fórma de a Coroa pressionar os colonos a completar o valor estipulado de 100 arrobas anuais de imposto.
    2. Tanto as mulheres de elite quanto as escravizadas podiam andar desacompanhadas nas ruas e eram protegidas, por lei, de violência física.
    3. Uma das consequências do desenvolvimento econômico da região das minas foi a mudança da capital da América portuguesa de Salvador para o Rio de Janeiro.
    4. A cobrança do quinto favoreceu a relação entre colonos, mineradores e funcionários da Coroa, pois a fiscalização organizou o comércio do ouro.

Aprofundando

3. No dia 5 de novembro de 2015, ocorreu um dos piores desastres ambientais do Brasil: o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana (Minas Gerais), ocasionando a morte de dezenove pessoas e danos incalculáveis ao meio ambiente. O texto e a imagem a seguir tratam dos impactos da mineração. Analise-os e faça as atividades propostas.

A exploração de Minas cavou a tragédia em Mariana

No final do século dezessete, teve início a extração aurífera nas terras de Minas, nova fronteira da colonização portuguesa, aberta por sertanistas vindos da região de São Paulo. Logo nos primeiros anos do século seguinte, foi introduzida a técnica utilizada pelos espanhóis para extração do ouro nas encostas dos morros, através da escavação subterrânea.

reticências

Os impactos ambientais trazidos pela ocupação desordenada decorrente da mineração rapidamente foram sentidos. Ainda na primeira metade do século dezoito, a região já enfrentava problemas vinculados ao assoreamento dos rios, devido à quantidade de refugo da mineração lançado nos mananciais.

Observe-se que desde essa época a atividade mineradora empregava muita água, a fim de proceder à separação entre o ouro e os resíduos minerais considerados indesejáveis.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

A atividade 5, por demandar proposições para o reconhecimento de patrimônios culturais, contribui para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 2 e nº 4.

Atividades

Organize suas ideias

1. A – três; B – quatro; C – dois; D – um.

2. a) V; b) F; c) V; d) F.

Havia ainda a erosão causada pelo descampo de serras e morros. Simultaneamente, as reservas naturais de ouro começaram a diminuir, com o ouro dando mostras de esgotamento reticências, o que levou ao abandono de muitas residências e lavras, enquanto grande parte das terras para plantio permanecia devoluta.”

BUARQUE, V.; mátzner, M.; EUGÊNIO, K. L. P. A exploração de Minas cavou a tragédia em Mariana. Carta Capital, 17 dezembro 2015. Disponível em: https://oeds.link/2M1VSe. Acesso em: 11 fevereiro 2022.

Fotografia. Vista aérea de uma vila destruída, soterrada por lama de cor marrom. No centro da imagem, algumas casas com os telhados destruídos e o interior soterrado por lama. Há carros afundados na lama ao redor e, à direita, algumas árvores altas parcialmente verdes.
Parte da região atingida pelo rompimento da barragem em Mariana (Minas Gerais). Foto de 2015.
  1. Qual foi a intenção dos autores do texto ao utilizar o título “A exploração de Minas cavou a tragédia em Mariana”?
  2. Com base no texto e no que você estudou, comente outros impactos causados pela mineração na região no século dezoito.
  3. Identifique na imagem um dos principais efeitos do rompimento da barragem em 2015. Responda no caderno.
  1. A mineração em Minas Gerais passou por uma grande transformação na década de 1930, quando o foco da atividade passou a ser a extração de bauxita e manganês (minérios de ferro) e a produção de aço. Esses minérios e o aço estão presentes em vários produtos de uso cotidiano. Junte-se a dois colegas e façam uma pesquisa na internet, ou em livros, revistas e jornais impressos, sobre os objetos nos quais eles estão presentes, o modo como é feita a mineração na atualidade e os riscos que envolvem essa atividade.
  2. Festejos como a congada são considerados patrimônio cultural, pois estão relacionados às tradições, às histórias e aos modos de viver e saber-fazer que as pessoas herdam de seus antepassados. Os patrimônios culturais são reconhecidos no Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn), que produz inventários sobre eles. Tendo isso em mente, você e os colegas vão elaborar um modelo de ficha que sirva para reconhecer manifestações culturais como patrimônio. Para isso, sigam estas etapas:
    1. Faça, em casa e individualmente, uma pesquisa no site do ifãn ou em livros, revistas e jornais impressos sobre os bens culturais do município ou região onde você vive que foram listados pelo ifãn.
    2. Anote que tipo de informação é apresentada sobre esses bens, separando-as em categorias, por exemplo: origem, localização, história, entre outros.
    3. Na sala de aula, reúna-se com os colegas e compare as informações obtidas. Em conjunto, analisem quais são categorias que mais se repetem e quais delas se aplicam a cada tipo de bem cultural (festas, lugares ou objetos, por exemplo), produzindo, coletivamente, um modelo de ficha.
    4. Escolham uma manifestação cultural do município ou da região em que vivem e preencham o modelo de ficha com as informações sobre ela.
    5. Verifiquem se a ficha reúne as características básicas dessa manifestação cultural e se há algum campo que precisa ser eliminado ou incluído para aprimorá-la.
Respostas e comentários

Aprofundando

3. a) Conforme o texto, no início do século dezoito foi introduzida a técnica utilizada para a extração de ouro nas encostas dos morros, por meio da escavação subterrânea. Essa estratégia gerou mais lucros, mas causou fortes impactos ambientais, principalmente em razão da ocupação desordenada. Na primeira metade do século dezoito, a região enfrentava problemas vinculados ao assoreamento dos rios, provocado pelo lançamento dos refugos da mineração nos mananciais. Além disso, muita água era utilizada para separar o ouro de outros materiais. Também ocorria a erosão do solo, causada pelo descampo das serras e dos morros. Desse modo, é possível inferir que a escolha do título, em que se exploram dois significados da palavra cavar (“fazer um buraco” e “provocar”), indica que a tragédia do rompimento da barragem do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (Minas Gerais), em 2015, é decorrente de um processo de exploração histórica.

b) Durante o ciclo do ouro, as matas foram queimadas para permitir o acesso às minas, o curso dos rios foi modificado para facilitar a lavagem do ouro e as montanhas escavadas produziram erosão, quedas de encostas e lançamento de lama nos rios. Além disso, quando o ouro cessou em razão de sua superexploração, os terrenos foram abandonados.

c) Na imagem, é possível identificar principalmente o rio de lama tóxica, contendo rejeitos da mineração, que mata qualquer espécie alcançada. A falta de cuidado com o meio ambiente demonstra a continuidade de certas práticas de degradação ambiental por mais de trezentos anos. Mesmo que as tecnologias de extração tenham se modificado, os impactos ao meio ambiente são similares e até piores que os causados no século dezoito.

4. Incentive os estudantes a pesquisar informações sobre processos industriais que dependem da extração dos minérios citados no enunciado da questão e de outros, presentes em diversos aparelhos eletrônicos, como tablets, celulares e computadores. Os trios devem escolher um ou mais minérios e pesquisar informações sobre todas as etapas de exploração dele ou deles: da extração à transformação em produtos finais. Dessa fórma, eles poderão conhecer o modo como é feita a mineração nos dias de hoje. Por fim, há muitas matérias recentes de periódicos confiáveis sobre o processo de mineração em Minas Gerais e os perigos que envolvem a atividade em razão dos problemas ocorridos com as barragens em 2015 (Mariana) e 2019 (Brumadinho) entre outros. Se necessário, auxilie-os nesse trabalho.

5. Pretende-se com essa atividade sensibilizar os estudantes para a compreensão do conceito de patrimônio cultural e incentivá-los a conhecer o processo do reconhecimento institucional de manifestações desse tipo. Para isso, incentiva-se o desenvolvimento da tarefa usando como premissa algumas bases do pensamento computacional. Na primeira etapa, de decomposição do trabalho, incentive-os a pesquisar os “Inventários de bens culturais”, no site do ifãn. Caso os estudantes não tenham acesso à internet mesmo em casa, providencie uma lista desses bens e a disponibilize impressa em sala de aula aos estudantes. Para realizar o reconhecimento de padrões, eles precisarão comparar as informações. Comente com os estudantes que eles não devem criar uma ficha exatamente igual às produzidas pelo ifãn, mas basear-se nelas e selecionar as categorias que lhes parecerem adequadas. Essa etapa, portanto, contempla o processo de abstração das informações, pois nem todas as informações encontradas serão adequadas à ficha deles, que deve ser simples e ter campos preenchidos com informações básicas: o nome e o endereço do patrimônio, sua importância histórica etcétera Após o debate para a seleção dos campos e a elaboração da ficha, é importante selecionar um patrimônio cultural e produzir uma ficha sobre ele, para testar a efetividade do modelo.

Por fim, incentive os estudantes a pensar sobre o preenchimento da ficha e questione-os sobre sua utilidade: ela serviria para eles analisarem objetos que não fossem manifestações culturais? A ficha poderia auxiliá-los, por exemplo, na leitura das imagens e de obras de arte reproduzidas nos livros didáticos, em que é importante verificar título, data de produção etcétera?

Glossário

Projeto de lei
: proposta enviada ao Poder Legislativo para a criação ou a alteração de uma lei. Pode ser elaborado pelos membros dos poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário ou pelos cidadãos comuns.
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Aluvião
: local onde ficam depositados materiais levados pela água, como lodo, areia e cascalho.
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Estanho
: metal de coloração prateada.
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Gamela
: tigela grande.
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Jazida
: nesse caso, local onde há grande quantidade de metais e minerais preciosos.
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Sonegação
: ocultação; não pagamento.
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Charque
: carne salgada e seca ao sol que era utilizada principalmente na alimentação de escravizados.
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Concubinato
: união estável de um casal sem o casamento reconhecido pela lei ou pela Igreja.
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Casta
: nesse caso, camada social.
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Cabedal
: riqueza.
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Cata
: ato de pegar as pepitas de ouro e pedras preciosas.
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Espingardeiro
: nesse caso, pessoa que carrega uma espingarda, arma de fogo.
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Superfluidade
: nesse caso, algo não essencial, supérfluo.
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