UNIDADE 1 REVOLUÇÕES: NOVOS MODOS DE GOVERNAR, DE PRODUZIR E DE PENSAR

A história e você: opinião pública e meios de comunicação

Nesta unidade, você estudará diferentes revoluções. Começará pelas Revoluções Inglesas do século dezessete, em que diferentes grupos políticos e religiosos se revoltaram contra o absolutismo e o rei foi obrigado a se submeter às decisões do Parlamento.

Você aprenderá que, ao longo dos séculos dezessete e dezoito, uma mudança profunda ocorreu no modo de pensar dos europeus: filósofos, que ficariam conhecidos como iluministas, passaram a questionar os dogmas da Igreja e o poder absoluto dos reis.

Estudará também um processo que ficou conhecido como Revolução Industrial. Ele começou no século dezoito, quando a invenção da máquina a vapor transformou a fórma de produzir mercadorias.

Em seguida, aprenderá que, no século dezoito, sob a inspiração do iluminismo e das Revoluções Inglesas, as Treze Colônias inglesas proclamaram a independência e criaram as próprias leis, dando origem aos Estados Unidos. Foi a Revolução Americana.

Durante esse período, desenvolveu-se a noção de opinião pública como o conjunto de ideias, debates e de julgamentos expressos na esfera públicaglossário .

Atualmente, as redes sociais são um dos principais espaços de divulgação e de formação de opiniões. Porém, nelas, cada um seleciona e controla quem compõe sua rede e as opiniões que prevalecem. Além disso, os debates ocorridos nas redes sociais nem sempre são racionais e fundamentados. Em muitos casos, essas ferramentas são usadas para exaltar os próprios pontos de vista ou até mesmo para divulgar informações falsas.

Gravura. Em um local aberto, uma mulher de vestido longo e com listras horizontais em branco e vermelho usa um lenço na cabeça. Ela está sentada com uma folha de papel na mão. Ao redor dela estão expostas pilhas de panfletos e jornais. Atrás dela, homens de peruca branca e mulheres de rosto maquiado e cabelo preso conversam. Um dos homens segura um panfleto nas mãos. Na calçada, uma criança de cabelo comprido e claro, vestindo roupas listradas, está em pé, apontando para os panfletos expostos. Ao lado da criança, um militar sentado na calçada, com o corpo inclinado na direção dela. Ele segura uma arma com a mão esquerda e tem um chapéu escuro e alto na cabeça.
Representação da venda de jornais e panfletos nas ruas de Paris, na França, em gravura produzida por filibér luí debicúr, em 1790.

Para avaliar o papel dos meios de comunicação no debate público, você e os colegas farão um painel coletivo sobre a opinião pública, investigando diferentes fórmas e veículos de comunicação.

Organizar

  • Para começar, com o auxílio do professor, junte-se aos demais colegas da turma e escolham um tema atual de interesse público.
  • Em seguida, reúna-se em grupo com quatro colegas.
  • Pesquisem nas redes sociais e em veículos de imprensa (impressos ou digitais) publicações e artigos que expressem diferentes posições sobre o tema escolhido pela turma.
  • Selecionem dois textos publicados nas redes sociais e dois textos publicados em outros veículos de comunicação. Imprimam ou transcrevam os que forem digitais.

Produzir

  • Identifiquem as passagens dos textos que contêm informações e as que apresentam opiniões. Destaquem-nas com cores diferentes.
  • Confiram se os autores dos textos indicaram as fontes das quais retiraram os dados. Se as fontes foram indicadas, consultem-nas e verifiquem se são confiáveis.
  • Analisem os textos e reparem se os autores pretenderam provocar mais a razão ou a emoção do leitor. Para isso, verifiquem se eles contêm muitos adjetivos e se apresentam reflexões.
  • Classifiquem os textos entre os que apresentam as informações mais confiáveis e os que contêm informações menos confiáveis. Em cada texto, comentem os motivos da classificação e justifiquem o comentário com as passagens que contêm as respectivas informações. Organizem os textos em uma linha horizontal de acordo com essa classificação: do que tem informações mais confiáveis ao que tem as menos confiáveis. Sem tirá-los dessa ordem, movam para cima os que apresentam linguagem mais racional e para baixo os que contêm linguagem mais emotiva.
  • Criem o painel coletivo em cartolina ou outro suporte. Tracem duas retas: uma horizontal e outra vertical (disposição em cruz). Nas extremidades horizontais do suporte, escrevam: “mais confiável” (à esquerda) e “menos confiável” (à direita). Na vertical, escrevam: “mais racional” (na parte superior) e “mais emotivo” (na parte inferior).
  • Colem os textos analisados por todos os grupos no painel, respeitando a classificação prévia.

Compartilhar

  • Exponham o painel em um mural na sala de aula e analisem a posição de cada texto.
  • Com base no painel montado, debatam esta questão: as redes sociais e a imprensa contribuem igualmente para a construção de um debate público fundamentado e racional?
Ilustração. À direita e a esquerda grupos de pessoas usam o celular. Alguns olham para a tela, outros tiram selfies. No centro da ilustração, um grupo de pessoas faz protesto empunhando cartazes, sendo que uma pessoa usa um megafone. Ao fundo, prédios nas cores bege e cinza.
Ilustração atual representando o afastamento entre as pessoas na esfera pública e nas redes sociais.

CAPÍTULO 1 AS REVOLUÇÕES INGLESAS E O ILUMINISMO

A imagem a seguir é de uma manifestação de estudantes pela garantia do acesso à educação de boa qualidade a todos os cidadãos. A ideia de que as pessoas são cidadãs e, portanto, têm direitos passou a existir com a crise do Antigo Regime, fórma de organizar o poder em que os reis detinham poderes ilimitados.

Neste capítulo, você vai estudar o processo de contestação ao poder absoluto dos monarcas, as críticas aos privilégios da nobreza e do clero e o estabelecimento do conceito de cidadania.

Fotografia. Grupo de pessoas aglomeradas se manifestando em uma larga avenida. À frente uma longa faixa preta com os dizeres: ESTUDANTES EM DEFESA DO ENSINO PÚBLICO.
Manifestação de estudantes contra córtes no orçamento público destinado à educação, em São Paulo (São Paulo). Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. O que assegura os direitos básicos, como o acesso à educação e à saúde, aos cidadãos brasileiros?
  2. Os cidadãos sempre tiveram esses direitos garantidos? Explique.
  3. Em sua opinião, os direitos básicos são proporcionados, de fato, a todos os cidadãos brasileiros?

A Inglaterra sob a dinastia Stuart

No 7º ano, você estudou a consolidação do absolutismo na Inglaterra, que teve como principal personagem a rainha Elizabeth primeira. Ela faleceu em 1603, sem deixar herdeiros, e a dinastia Tudor chegou ao fim. Integrantes de outra dinastia assumiram o trono inglês: os Stuart. Eles eram parentes dos Tudor e governavam a Escócia.

Os dois primeiros monarcas da dinastia Stuart – Jaime primeiro, que reinou de 1603 a 1625, e seu filho, Carlos primeiro, que reinou de 1625 a 1649 – adotaram políticas centralizadoras e defenderam a origem divina do rei. Com a intenção de aumentar os impostos, ambos os monarcas dissolveramglossário o Parlamento em diferentes ocasiões.

Jaime primeiro e Carlos primeiro enfrentaram a oposição da maior parte dos nobres e burgueses do reino. Essa oposição era motivada por fatores econômicos e religiosos, entre outros. Os anglicanos tinham privilégios, como monopólios e proteção da Coroa. Parcela significativa da burguesia, da gentryglossário e dos súditos de religiões diferentes da oficial (anglicana), não tinha os mesmos benefícios.

Crise do reinado de Carlos primeiro

Durante o reinado de Carlos primeiro, o rei tentou impor o anglicanismo à população da Escócia, provocando o descontentamento dos presbiterianos da região. Carlos primeiro também entrou em conflito com o Parlamento ao restabelecer impostos, como o ship moneyglossário , e criar outras taxas.

A insatisfação dos camponeses e das camadas populares era crescente. Em virtude de uma série de fatores, principalmente dos cercamentos, esses grupos enfrentavam o empobrecimento, a falta de trabalho e a fome. Muitos camponeses migraram para as cidades em busca de trabalho.

Na tentativa de reduzir os conflitos religiosos e os problemas sociais, Carlos primeiro, assim como seu antecessor havia feito, incentivou a colonização como forma de enviar para a América os grupos sociais que lhe causavam problemas.

Fotografia. Medalha redonda com inscrições na borda. No centro, o busto de um homem de perfil, com cabelos encaracolados, usando gola de tecido rendado que circunda o pescoço. Ele tem barba e cavanhaque e usa uma coroa de louros sobre o cabelo.
Medalha de prata produzida para celebrar a coroação de Djeimes primeiro como rei da Inglaterra em 1603. Na imagem, o rei é retratado usando uma coroa de louros.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Após a ascensão dos Stuart na Inglaterra, com a coroação de Jaime primeiro, iniciaram-se revoltas contra o absolutismo, que havia sido instaurado durante a dinastia anterior, a Tudor.

A Revolução Puritana

A insatisfação generalizada esteve na origem de uma guerra civil que se iniciou em 1642. Esse conflito, chamado Revolução Puritana ou Guerra Civil Inglesa, dividiu o reino entre os defensores da monarquia e os do Parlamento.

Os integrantes do grupo que permaneceu fiel à monarquia Stuart faziam parte da alta nobreza e do clero anglicano, e ficaram conhecidos como cavaleiros. O grupo defensor do Parlamento, por sua vez, era bastante diversificado. Nele estavam puritanos, burgueses, integrantes da gentry e da população em geral, que ficaram conhecidos como cabeças redondas por não utilizarem as perucas da nobreza. Além desses dois, havia grupos mais radicais, como o dos levellers (“niveladores”), que propunham o direito de voto a todos os homens livres, e o dos diggers (“escavadores”), que defendiam a realização de uma reforma agrária.

O comandante do exército dos cabeças redondas era o puritano Óliver crómuél. Ele criou o New Model Army (“exército novo”), formado por soldados em tempo integral. Os demais exércitos da época eram grupos conscritosglossário a apenas uma área ou guarniçãoglossário , normalmente por tempo determinado. Como soldados profissionais, os membros do exército de crómuél não estavam ligados a nobres nem precisavam ser adeptos de alguma facção política ou religiosa.

Além disso, o líder puritano introduziu o mérito individual como critério de ascensão no exército. Dessa maneira, a bravura e outras qualidades podiam resultar em promoção, diferentemente do critério utilizado até então, que reservava aos nobres os cargos de comando. Como resultado dessas medidas, o exército de crómuél venceu várias batalhas.

Em 1649, ao fim da guerra civil, o rei Carlos primeiro foi condenado à morte e decapitado. O governo da Inglaterra passou ao Parlamento, sob liderança de crómuél, rompendo assim com a lógica da monarquia absolutista.

Pintura. No centro, grupo de pessoas reunidas ao redor de uma plataforma escura, sobre a qual há 5 homens em pé e um homem ajoelhado e morto: trata-se do rei Carlos I, já decapitado. O pescoço dele está sobre um pedaço de tronco, onde há muito sangue escorrendo. O homem à esquerda sobre a plataforma segura a cabeça do rei com a mão direita, de onde também escorre sangue. Ao lado dele, um outro segura um machado com a mão esquerda, e aponta para o corpo decapitado com a outra mão. Outros três homens sobre essa plataforma observam a cena. Todos vestem roupas escuras. Em torno da plataforma, uma multidão acompanha a execução do rei. Em destaque, em primeiro plano, uma mulher de cabelos escuros, de vestido amarelo e avental claro, está desmaiada e é amparada por duas outras pessoas. Essa cena é ladeada por dois homens, que usam vestes em vermelho, cinza e preto, e chapéus em preto. Nos cantos extremos da pintura, há quatro pinturas menores, emolduradas. No canto superior esquerdo, pintura do busto do rei Carlos I, com vestes em preto e detalhes em branco, com um medalhão pendente sobre o peito, cabelos e chapéu escuros. Abaixo dele, pintura de diversas pessoas enfileiradas, com vestes em preto, que caminham no sentido esquerda-direita da pintura. Uma delas carrega um instrumento musical similar a um tambor. À frente delas, o rei Carlos I, ladeado por dois homens. No canto superior direito, outro homem de cabelos longos e roupa marrom, tem na mão esquerda a cabeça do rei, pálida e de olhos fechados, e, na direita, um machado ensanguentado. Abaixo dele, uma outra pintura em que três pessoas limpam sangue do chão com um tecido branco, ladeadas por homens vestidos em preto com lanças na vertical.
Representação da execução do rei Carlos primeiro em 1649, pintura de djôn uíssôp, cêrca de 1653.

A República de crómuél

crómuél defendia a ideia de que, em uma república, os interesses dos cidadãos deveriam estar acima da vontade de qualquer pessoa. Essa concepção era revolucionária, pois contestava o direito absoluto dos reis e mudava a condição das pessoas de súditas para a de cidadãs.

O conceito de cidadania naquele contexto era muito diferente do atual. Na República Inglesa, mulheres e crianças não eram consideradas cidadãs. No entanto, grande parte dos homens maiores de idade passaram a entender-se como portadores de direitos, como reivindicavam os niveladores e parte do exército. crómuél, contudo, manteve o direito ao voto ligado à propriedade.

Ele procurou valorizar a burguesia, o que ficou evidente nos Atos de Navegação de 1651, que proibiam o transporte de produtos importados para a Inglaterra por navios estrangeiros. Isso criava um monopólio dos navios ingleses no transporte de mercadorias. A intenção era expandir o poder marítimo-comercial inglês.

Essa medida prejudicou outras nações, principalmente os Países Baixos, potência naval da época. Como resultado, Inglaterra e Países Baixos entraram em guerra entre 1652 e 1654. A Inglaterra venceu e garantiu o domínio dos mares.

Na política interna, crómuél ignorou as demandas populares, perseguiu os elementos mais radicais da revolução e massacrou opositores políticos. Suas medidas se distanciaram cada vez mais dos princípios da República Puritana.

Em 1653, ele dissolveu o Parlamento e se proclamou lorde protetor da Inglaterra. Com esse cargo, vitalício e hereditário, obteve plenos poderes, iniciando o período do Protetorado, considerado por muitos uma ditadura.

crómuél morreu em 1658, deixando seu filho, Ricardo, como herdeiro político. No entanto, o Parlamento foi reaberto em 1660 e os Stuart voltaram ao poder. Carlos segundo (filho de Carlos primeiro) assumiu o trono, iniciando a Restauração Stuart, que se estendeu no reinado de Jaime segundo, que governou de 1685 a 1688.

Charge em preto e branco. Três homens em pé, cada um sobre uma base quadrada. À esquerda, homem de cabelo longo, manto curto e botas de cano alto. Está com uma das mãos no cavanhaque e expressa olhar de desconfiança. Na base, uma inscrição em inglês: Carlos I. No centro, homem calvo de lado, vestindo um longo casaco e botas acima do joelho, segura uma espada presa na cintura e tem a expressão sisuda. Na base, uma inscrição: Cromwell. À direita, homem de cabelo longo, roupas largas, chapéu grande e botas de cano largo, observa lateralmente o homem ao centro, com expressão de desconfiança. Na base, uma inscrição em inglês: Carlos II. Abaixo dos três homens, escrita em inglês, a frase: 'Cromwell deve ter uma estátua?'.
crómuél deve ter uma estátua?, charge do século dezenove.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A charge foi publicada mais de duzentos anos depois da morte de Óliver Crom-uél, quando se debatia se deveria haver uma estátua em homenagem a ele no Parlamento. O olhar desconfiado dos personagens representados ao lado dele (os reis Carlos primeiro e seu filho Carlos segundo) e sua postura segurando a espada (no centro), revelam que a figura dele ainda era polêmica entre os britânicos. crómuél foi um dos signatáriosglossário da sentença de morte do rei Carlos primeiro.

A Revolução Gloriosa e a Declaração de Direitos

Os monarcas Carlos segundo e Jaime segundo retomaram a política de centralização de poder e as tentativas de enfraquecer o Parlamento. No campo religioso, tentaram favorecer o catolicismo, o que desagradou aos protestantes puritanos e anglicanos. Para evitar outras revoltas, em 1688, o Parlamento articulou a Revolução Gloriosa.

No conflito, que recebeu esse nome por ter ocorrido sem derramamento de sangue, o Parlamento destituiu Jaime segundo do poder e passou a coroa para Maria Stuart, sua filha, que era casada com o príncipe Guilherme terceiro, dos Países Baixos. Para evitar problemas dinásticos ou outras tentativas de fechamento do Parlamento, Guilherme terceiro foi obrigado a assinar a Bill of Rights (“Declaração de Direitos”) em 1689.

De acordo com esse documento, o monarca devia se submeter ao Parlamento, não podendo tomar decisões sobre o exército, as leis, os impostos e outros assuntos sem consentimento parlamentar. Na prática, era o fim do absolutismo na Inglaterra.

Gravura. À esquerda, um homem de cabelos longos, brancos e ondulados, usa uma coroa em amarelo e veste um longo manto rosa sobre um traje verde com detalhes em amarelo que lhe chega até os joelhos. Ele carrega um cetro na vertical com a mão direita e, com a esquerda, segura um pergaminho branco, com inscrições em inglês: Declaração de Direitos. À direita, mulher de vestido longo e vermelho com detalhes em azul e amarelo na barra. Ela também usa um manto longo, em azul, e carrega um cetro com a mão direita, na vertical.
Gravura britânica produzida para um livro infantil do século dezoito, representando o rei Guilherme terceiro e a rainha Maria aceitando a Declaração de Direitos.
Estátua. Um homem de cabelo longo, um manto sobre a armadura, e espada na cintura montado sobre um cavalo, que tem uma das patas dianteiras elevadas. A estátua é escura, com manchas esverdeadas.
Estátua equestre de Guilherme terceiro, localizada em Londres, Reino Unido. Foto de 2021.

A Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa ficaram conhecidas como as Revoluções Inglesas e estabeleceram a base da monarquia parlamentar do Reino Unido atual. Ao aproximar a burguesia e a gentry do governo e garantir seu acesso ao Parlamento, essas revoluções impulsionaram a economia capitalista na Inglaterra. Participando do poder no Estado, esses grupos conseguiram reduzir barreiras mercantilistas e ampliar os cercamentos, acelerando práticas capitalistas nos meios urbano e rural. Você saberá detalhes dessas transformações ao estudar a Revolução Industrial, no capítulo 2.

O conhecimento científico

No século dezessete, vários pensadores levaram adiante as mudanças iniciadas no século dezesseis com o Renascimento Científico, a expansão marítima europeia e os avanços matemáticos e astronômicos do início da Idade Moderna. Filósofos e estudiosos, como frâncis bêicon e Niutom, estabeleceram uma fórma de produzir conhecimento científico que valorizava a dúvida, a formulação de hipóteses e a experiência.

O político e filósofo inglês frâncis bêicon, que viveu de 1561 a 1626, escreveu várias obras nas quais defendeu o saber por meio da racionalidade diante dos ataques que as ciências sofriam dos teólogos, políticos e, até mesmo, segundo ele, dos “erros e imperfeições dos próprios sábios”. bêicom afirmava que o aprendizado humano devia ser contínuo, pois o conhecimento seria ilimitado e progressivo. Além disso, ele acreditava que as pessoas precisavam se livrar de “velhos ídolos”, como a filosofia antiga, as superstições e os preconceitos que escondiam a verdade, e confiar somente na experiência replicávelglossário para produzir conhecimento.

izáqui nílton, nascido em 1642, foi um físico e matemático inglês muito importante em seu tempo. Em 1703, tornou-se presidente da Royal Society, academia de ciências de destaque da Inglaterra, e, em 1705, recebeu da rainha Ana o título de cavaleiro da Coroa. Niutom procurou explicar o mundo natural com base em seu funcionamento mecânico, ou seja, por meio de leis e princípios matemáticos. Ainda, estabeleceu leis matemáticas para o movimento e para a inércia e fórmulas para explicar a gravidade, além de explorar prismas e telescópios.

Pintura. Adultos e crianças ao redor de uma estrutura com arcos esféricos sobrepostos. Do centro dele sai um intenso foco de luz iluminando o rosto das crianças e dos homens. Atrás delas, em destaque, há um homem de roupas coloridas e cabelo branco. Ao lado dele, um homem de cabelo curto faz anotações. Duas outras pessoas estão no canto direito da pintura: um homem vestido de azul tem as mãos sobre a testa e observa em direção à luz; outro homem, com cabelos escuros e vestes em roxo, olha para o homem de vestes coloridas no centro da pintura. Há, ainda, uma outra pessoa, no centro da pintura, com o cotovelo sobre a estrutura central, da qual só se vê a silhueta.
Um filósofo palestrando no planetário, pintura de Josef Urait, cêrca de 1766. No centro da imagem, é representado um modelo mecânico que reproduz o movimento dos planetas em torno do Sol.
Fotografia. Estrutura cilíndrica e curta, em tons de laranja, apoiada diagonalmente sobre uma esfera encaixada em uma base circular de madeira.
Réplica feita em 1924 do telescópio refletor desenvolvido por izáqui nílton no século dezessete.
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izáqui nílton ficou conhecido por sua capacidade de observação, de comparação e de criação de experiências e de métodos para comprovar hipóteses. Niutom elaborou teorias fundamentais para a ciência. Ele concluiu, por exemplo, que os corpos do universo, como a Lua e a Terra, eram atraídos ao centro por uma fôrça natural, obedecendo à lei da gravitação universal.

O sistema do telescópio refletor, desenvolvido por ele, ainda é utilizado em alguns equipamentos modernos.

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Transcrição do áudio

[LOCUTOR]: A razão no Iluminismo

[pausa]

[LOCUTOR]: Na pintura conhecida como Um filósofo palestrando no planetário, o artista inglês Joseph Wright retrata um tipo de evento que se tornou comum na Europa do século XVIII: palestras públicas em que diferentes conhecimentos científicos eram apresentados para parcelas da população.

[LOCUTOR]: A técnica utilizada por Wright, que evoca o efeito de uma iluminação à luz de velas, marca um contraste entre os rostos iluminados e o ambiente escuro.

[LOCUTOR]: Os rostos iluminados buscam representar a admiração dos personagens diante do conhecimento apresentado.

[LOCUTOR]: A luz que emana do planetário ilumina os personagens, separando-os da escuridão ao seu redor.

[LOCUTOR]: A pintura expressa algumas das principais características do Iluminismo, movimento cultural que se desenvolveu na Europa entre os séculos XVII e XVIII.

[LOCUTOR]: Influenciados pela Revolução Científica, os pensadores iluministas valorizavam o pensamento racional e se opunham à sociedade e às explicações sobre o mundo que se baseavam na religiosidade.

[LOCUTOR]: Por isso, consideravam alguns períodos anteriores da história como épocas de ignorância e escuridão intelectual.

[LOCUTOR]: Representando esse aspecto, Joseph Wright realizou outras pinturas em que personagens eram iluminados pela luz da razão e do conhecimento científico, em contraste com um passado de escuridão.

[LOCUTOR]: Durante o iluminismo, a oposição ao pensamento guiado pela fé, muitas vezes, era acompanhada da crítica à autoridade da Igreja Católica, e à estrutura social e econômica do Antigo Regime.

[LOCUTOR]: Tais críticas e ideias insuflaram a revolta e a organização da luta de uma burguesia em ascensão.

[LOCUTOR]: A crítica contra os privilégios vividos pelas classes nobres e clericais, feita pelos filósofos franceses Voltaire e Diderot, inspirou pensadores e revoltosos da Revolução Francesa, ocorrida em 1789.

[LOCUTOR]: Porém, Voltaire e Montesquieu, outro filosofo francês iluminista, ainda defendiam a permanência de uma aristocracia no poder.

[LOCUTOR]: O chamado despotismo esclarecido determinava que a figura do rei poderia permanecer, desde que ele fosse guiado pela razão.

[LOCUTOR]: Como exemplo desse tipo de governo está o reinado de Frederico II da Prússia, que atraiu para sua corte cientistas e pensadores como o próprio Voltaire.

[LOCUTOR]: A crença no progresso, ou seja, na capacidade humana de constantemente se aperfeiçoar a partir da razão, era compartilhada por uma grande parte desses pensadores, exceto o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, que criticava a corruptibilidade gerada pelo progresso.

O pensamento cartesiano

O matemático e filósofo francês Renê Decarte, que viveu de 1596 a 1650, afirmava que se devia duvidar de todas as certezas preconcebidas e confiar apenas na experiência e no conhecimento verificável. O propósito inicial de Decárte era encontrar um método seguro que conduzisse à verdade inquestionável.

Assim, Decárte procurou desenvolver um método em que usava a matemática para construir conhecimento. O tipo de raciocínio matemático, a ordem, a lógica e as deduções, segundo ele, deveriam ser utilizadas para analisar a realidade dos fenômenos do mundo, do corpo e da mente humana. Em 1637, Decárte escreveu o livro Discurso do método, em que se destacou sua famosa frase: “penso, logo existo” (em latim, ”).

Ao afirmar que as pessoas deviam se guiar por uma dúvida metódicaglossário e constante, Decárte enfrentou a hostilidadeglossário de vários grupos. As igrejas e os detentores do conhecimento tradicional nas universidades europeias consideravam essas ideias problemáticas e heréticas. Decárte acabou sendo expulso da França e morreu durante o exílio na Suécia, em 1650, mas por seu trabalho, que possibilitou a discussão sobre ciência e ética no século dezessete, ele é considerado o precursor da filosofia moderna.

Gravura em preto e branco. Apresenta dois quadros verticais, lado a lado. À esquerda, representação de uma pessoa sentada de lado, em perfil, com o braço direito flexionado e apoiado sobre uma superfície. A mão está sobre uma chama. No dorso da mão, está escrita a letra B e, na chama, a letra A. Dentro da cabeça, há filamentos ramificados. À direita, representação de uma pessoa sentada de lado, em perfil, com o braço direito flexionado e a mão apontando diagonalmente para cima. Da ponta do dedo sai uma reta na direção de uma flecha que está à frente da pessoa, com os pontos A, B e C marcados de cima para baixo, equidistantes. Da flecha saem outras retas em direção aos olhos da pessoa, originando pontos. Dentro da cabeça,  pontos marcados com letras e números. O centro do cérebro se interliga com os músculos do braço.
Gravura em preto e branco. Apresenta dois quadros verticais, lado a lado. À esquerda, representação de uma pessoa sentada de lado, em perfil, com o braço direito flexionado e apoiado sobre uma superfície. A mão está sobre uma chama. No dorso da mão, está escrita a letra B e, na chama, a letra A. Dentro da cabeça, há filamentos ramificados. À direita, representação de uma pessoa sentada de lado, em perfil, com o braço direito flexionado e a mão apontando diagonalmente para cima. Da ponta do dedo sai uma reta na direção de uma flecha que está à frente da pessoa, com os pontos A, B e C marcados de cima para baixo, equidistantes. Da flecha saem outras retas em direção aos olhos da pessoa, originando pontos. Dentro da cabeça,  pontos marcados com letras e números. O centro do cérebro se interliga com os músculos do braço.
Gravuras da edição de 1677 do livro O homem, de Renê Decarte.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Decárte procurava organizar de maneira sistemática o que observava a fim de encontrar a lógica de funcionamento de seus objetos de pesquisa. Nessas gravuras da obra O homem, ele representou seus estudos a respeito dos movimentos involuntários do corpo. A primeira imagem ilustra um trecho em que Decárte procurou mostrar a relação entre as sensações e as reações do corpo a um fenômeno externo – no caso, a mão próxima ao fogo. A segunda imagem também explora o funcionamento dos sistemas sensoriais do corpo, mas, nesse caso, investigando a visão.

O pensamento político

A Inglaterra das revoluções foi palco de muitas discussões sobre cidadania. As ideias do pensador inglês Djón Lóque, que viveu de 1632 a 1704, influenciaram a crítica ao Antigo Regime e o desenvolvimento da ideia de representação política.

Em sua obra Dois tratados sobre o governo civil, lançada em 1690, lóqui criticou o poder despóticoglossário e afirmou que o Estado e a política deveriam existir para melhorar a sociedade. De acordo com ele, os governos deveriam ampliar o conforto e a liberdade dos agrupamentos sociais. Se um governo fosse arbitrárioglossário , os homens teriam não só o direito, mas também o dever de derrubá-lo.

Entrava em cena uma transformação importante: o conceito de súdito dava lugar ao de cidadão. Um súdito estava submetido à autoridade monárquica: o rei representava o reino como se fosse uma extensão dele (as leis, as terras, os cargos etcétera). A soberania de um Estado, ou seja, o poder de tomar decisões, estava nas mãos do monarca.

Isso mudou com a ideia de cidadania, de acordo com a qual todos os cidadãos tinham os mesmos direitos e deveres. Em vez de representar uma propriedade do monarca, o Estado passou a pertencer aos cidadãos. A soberania partia do povo, que a transferia ao governante, como um representante da sociedade.

Com essas ideias, lóqui se opôs a teóricos como Tômas Róbes, para quem a natureza humana era naturalmente má, havendo, por isso, a necessidade de um poder centralizado para limitar o impulso ruim e assegurar a vida em sociedade.

Na época do Antigo Regime, as ideias de lóqui eram consideradas perigosas para a ordem das coisas, pois contestavam o poder absoluto do rei.

Pintura. Representação de um homem de cabelos grisalhos, longos até o ombro, e lisos. Ele está com o rosto voltado para a esquerda. Tem rugas ao redor dos olhos, nariz fino e comprido, veste uma camisa de gola branca e um casaco grosso em marrom.
Retrato de Djón Lóque, pintura de Gódfri Néler, 1697.
Fotografia. Vista frontal de uma construção formada por um prédio retangular baixo de telhado plano sobre o qual há duas construções em formato ovalado, uma com a base para baixo, e a outra com a base para cima; atrás deste, vista de uma bandeira do brasil hasteada. No centro, dois prédios altos de mesmo tamanho, lado a lado. À frente do prédio um espelho d’água e rampa na cor branca. No alto, céu do entardecer, azulado.
Prédio do Congresso Nacional, séde do Poder Legislativo federal, em Brasília (Distrito Federal). Foto de 2018. Pelo pensamento de lóqui, pode-se considerar esse poder o mais importante, pois é o responsável pela elaboração das leis que devem guiar os cidadãos.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Quais foram as principais motivações da Revolução Puritana? Identifique os grupos envolvidos nesse conflito.
  2. A deposição de Jaime segundo pelo Parlamento deflagrou a Revolução Gloriosa. Explique as principais consequências desse evento político.
  3. Explique como as ideias de Djón Lóque contribuíram para que o conceito de súdito desse lugar ao de cidadão.

O iluminismo: nova modernidade na Europa

No século dezoito, técnicas, instrumentos de observação e de medição mais eficazes, a prática da dúvida como método e a matematização do mundo natural se tornaram ferramentas para explicar os fenômenos naturais, sociais e econômicos.

Acreditava-se que somente a luz da razão acabaria com a escuridão da ignorância e do pensamento religioso dogmáticoglossário . Por esse motivo, são comuns as referências ao século dezoito como século das luzes e aos pensadores que defendiam a razão acima da superstição, em defesa do progresso e da plena felicidade, como iluministas.

Os pensadores iluministas criticavam vários aspectos da ordem vigente. No campo político, o principal alvo era o absolutismo monárquico. Para Djón Lóque e jeãn jác russô, por exemplo, o poder de governar não tinha origem em Deus, mas em um pacto entre governante e governados, com direitos e deveres para ambas as partes.

Por meio desse pacto, chamado contrato social, estabelecia-se a ideia de que o governo era uma criação humana na qual o monarca recebia dos súditos o direito de governar. Seu poder, portanto, não era ilimitado nem irrestritoglossário .

No campo social, as críticas dos iluministas se direcionavam às desigualdades e aos privilégios que serviam de base para a divisão estamental, em que a nobreza e o clero eram isentos da maioria dos impostos e monopolizavam os cargos mais importantes. Os iluministas defendiam, portanto, a liberdade individual e a igual- dade jurídica, base da ideia de cidadania, como princípios que deveriam nortear as sociedades.

Ao se opor às superstições e ao pensamento religioso dogmático como princípios usados para entender o mundo, o pensamento iluminista acentuou o declínio do poder da Igreja e do clero.

Caricatura. Homem representado com cabeça e testa avantajadas, olhos pequenos, nariz fino e lábios pequenos. O cabelo é claro, curto com ondulações nas pontas. Veste uma camisa de gola branca e casaco em marrom, com botões em bege escuro.
Caricatura atual representando cânti, inspirada na pintura de iôrrân gótlib béquer, produzida em 1768.

Pensadores iluministas franceses

Na França, um dos principais centros do iluminismo, essa fórma de pensar se propagou sobretudo entre os integrantes da elite. Aristocratas e ricos burgueses promoviam saraus e salões de leitura nos quais se discutiam e divulgavam as ideias iluministas.

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cânti foi um importante filósofo que viveu de 1724 a 1804. Ele acreditava que, por meio da razão e ousando saber, o ser humano seria capaz de pensar por si próprio e livrar-se das amarras que o prendiam a um estado de imaturidade.

Em Paris, uns dos principais centros de discussão filosófica eram os salões literários promovidos por Marrí-Terrêse Rodê Jufrán, que viveu de 1699 a 1777. Em sua casa, duas vezes na semana, artistas, pensadores, literatos e outras personalidades se encontravam para leituras e discussões.

Voltaire

Mais conhecido pelo pseudônimo de voltér, françuá marré arruê foi um filósofo e escritor que viveu na França de 1694 a 1778. Ele ficou conhecido por tecer duras críticas ao absolutismo e à Igreja Católica e por defender as liberdades individuais e de pensamento em dezenas de peças teatrais, ensaios, poemas e romances.

Entre suas principais obras, destacam-se Cartas inglesas, publicadas em 1734, nas quais reflete sobre temas como a sociedade inglesa, a Real Academia de Ciências e o pensamento de Djón Lóque e de izáqui nílton (comparando-o ao de Decárte); e Cândido, ou O otimismo, livro de ficção publicado em 1759, em que o personagem-título deixa um mundo ideal e se decepciona com a realidade que encontra pelo caminho.

voltér manteve posições conservadoras em algumas questões; por exemplo, na defesa da monarquia como fórma de governo, desde que orientada pelos princípios iluministas. Do ponto de vista social, o filósofo teve pouca consideração pelas camadas populares, que considerava ignorantes e rudes.

Pintura. Interior de um salão decorado com pinturas penduradas nas paredes, algumas retangulares, quadradas e outras circulares. Cerca de 50 pessoas estão reunidas nesse local, aproximadamente a metade delas está sentada em semicírculo. Ao fundo, há homens e mulheres em pé. No centro do salão, uma pequena mesa com uma toalha verde escura e um livro aberto. Em segundo plano, a escultura do busto de um homem. As pessoas ao redor da mesa estão sentadas sobre cadeiras; ao fundo, as demais estão em pé, lado a lado; a maioria das mulheres está sentada. Os homens usam perucas com cabelos brancos, cacheados, divididos ao meio. Alguns tem os cabelos cacheados brancos e longos presos com um laço. Eles vestem trajes compostos por casaco, colete, camisa branca, calças, meias longas brancas até os joelhos e sapatos escuros com fivelas douradas. Os casacos e calças deles são coloridos, em tons de vermelho, azul, verde, cinza, marrons e outros. As mulheres tem cabelos brancos, longos, cacheados. Algumas delas os têm presos, cobertos por lenços de cor escura. Elas trajam vestidos longos, de mangas compridas, saias longas armadas, e em diferentes cores, em tons de branco, azul, amarelo, entre outras.
Leitura da tragédia O órfão da China, de voltér, no salão de madame Geoffrin, pintura de Anicé Chárle Gabriél Lemoniê, 1812.
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As salonnières, proprietárias e organizadoras dos salões literários, constituíram um importante grupo de mulheres instruídas que conseguiram converter o espaço doméstico, concebido para mantê-las afastadas do espaço público, em locais de discussão política, filosófica e científica.

Dica

LIVRO

Cândido ou O otimismo, de voltér. São Paulo: Escala, 2008. (Coleção Filosofia em Quadrinhos).

Nessa adaptação da obra de voltér para quadrinhos, a história do ingênuo Cândido é narrada de maneira descomplicada, com bastante humor.

Barão de Montesquiê

chárle luí dê secondá, barão de Montesquiê, viveu na França de 1689 a 1755. Ele defendeu a divisão dos poderes como fórma de impedir governos despóticos.

Em sua principal obra, O espírito das leis, publicada em 1748, propôs a separação do Estado em três poderes independentes. O Poder Executivo se encarregaria de administrar e executar as leis, elaboradas pelo Legislativo. Ao Judiciário caberia julgar conflitos e a aplicar penas em caso de infrações às leis. Desse modo, sem interferir nas demais áreas, nenhuma instânciaglossário concentraria o poder.

Jean-Jacques Rousseau

Nascido em Genebra, na Suíça, em 1712, jeãn jác russô é considerado um dos pensadores iluministas mais radicais. Na obra Do contrato social, publicada em 1762, ele defendeu a ideia de que a soberania residia no povo, e não no governante.

Sua radicalidade se expressava na defesa do sistema republicano, dos direitos naturais inalienáveisglossário e  de formas igualitárias de sociedade. Afirmando que a propriedade privada era a causa das desigualdades sociais, Russô acreditava que a natureza humana era boa, mas a vida em sociedade desvirtuava essa essência.

No livro Emílio, ou Da educação, publicado em 1762, defendeu a educação como fórma de combater os vícios que afligiam a sociedade. O pensador faleceu em 1778.

A Enciclopédia

Para os iluministas, não bastava produzir conhecimento com base na razão. Também era preciso divulgá-lo. Por isso, Denis Diderrô e jân lerôn dalembér, que viveram, respectivamente, de 1713 a 1784 e de 1717 a 1783, organizaram a Enciclopédia.

O projeto contou com dezenas de intelectuais, filósofos e artistas, que pretendiam reunir e divulgar o conhecimento científico e refutarglossário os dogmas religiosos.

Nas dezenas de volumes da obra, editada entre 1751 e 1772, havia mais de 70 mil verbetesglossário e milhares de ilustrações. A Enciclopédia sofreu censura, principalmente pelo tom anticlericalglossário e foi incluída no índequis, lista dos livros proibidos pela Igreja.

Gravura em preto e branco. Em um ambiente fechado, com janelas amplas gradeadas, seis pessoas exercem diversos tipos de atividades vinculadas à produção de papel. A maioria delas está debruçada sobre uma mesa, manipulando instrumentos. Um delas, ao fundo, utiliza uma haste para pendurar uma folha de papel em um varal, que conta com diversas outras folhas, já penduradas. Há letras e figuras numeradas em cada uma das atividades realizadas pelas pessoas e em alguns dos objetos representados na cena.
Produção de papel, gravura da Enciclopédia em que é representado o trabalho de confecção de papel, século dezoito.

Vamos pensar juntos?

No mundo de hoje, a possibilidade de buscar e acessar informações a qualquer hora e em diferentes lugares se amplia cada vez mais. É comum o uso de enciclopédias digitais, entre elas a uiquipédia, que se destaca pela facilidade de acesso.

Fotografia. Parte de uma tela de computador que mostra o acesso ao site da Wikipédia. No canto superior esquerdo, o logotipo do site e um menu. No centro da página a bandeira do Brasil, o verbete Brasil e um trecho do texto sobre ele.
Verbete sobre o Brasil no site da Wikipédia em português. Foto de 2018.

Para quem está acostumado a isso, talvez seja difícil compreender o esforço dos enciclopedistas do século dezoito e a importância de seu projeto, a Enciclopédia. Leia o texto a seguir e, depois, faça as atividades.

“Analisando o modo como a uiquipédia se configura, podemos entender que a rapidez, a instantaneidade, estariam fortemente presentes em sua constituição. reticências seus verbetes reticências podem ser criados, modificados ou mesmo eliminados em questão de segundos ou minutos.

reticências

No iluminismo, quando foi produzida uma das mais célebres enciclopédias de todos os tempos, a Encyclopédie reticências [Enciclopédia], a elaboração dos seus vinte e oito volumes e setenta e dois mil artigos prolongou-se por vinte e um anos.

Embora enciclopédias reticências atualizem seus conteúdos com mais frequência, o que geralmente ocorre são atualizações a cada um ou vários anos, e o número de novos verbetes ou de alterações é bastante reduzido.

Juntamente com esta primeira característica, estaria uma outra, também central: a autoria colaborativaglossário . Para nós, por possibilitar que um número maior de sujeitos faça parte da escritura de seus verbetes, com a uiquipédia estaríamos diante do que [o filósofo michél] pêchê reticências denominou de ‘reorganização social do trabalho intelectual’.

Não é mais o monge ou o teólogo da Idade Média, o humanista do século dezesseis, o filósofo iluminista, ou ainda uma equipe de especialistas que elaboram as ‘coisas a saber’ reticências os saberes são postos em circulação por diferentes sujeitos que se encontram em diferentes lugares e momentos.”

iscôta, L. Da enciclopédia e da uiquipédia: uma leitura discursiva. Arte – Revista de Estudos em Linguagem e Tecnologia, ano 2, número 2, página 77-78, fevereiro 2009.

Responda no caderno.

  1. Segundo o texto, de que fórma as enciclopédias digitais ampliaram a produção de conhecimento?
  2. Descreva o que há em comum entre o projeto da Enciclopédia iluminista e as enciclopédias digitais atuais.
  3. Quais são as diferenças entre as enciclopédias tradicionais e a uiquipédia?
  4. Se qualquer pessoa pode inserir informações nos verbetes, como saber se as enciclopédias digitais são confiáveis? Avalie os problemas que o sistema desenvolvido pela uiquipédia pode trazer.

A fisiocracia e o liberalismo econômico

O absolutismo foi o principal alvo do pensamento político iluminista, e as práticas do mercantilismo, que você estudou no 7º ano, foram duramente criticadas por pensadores que se dedicaram ao estudo da economia. A intervenção do Estado na economia, o metalismo, a manutenção de níveis de exportação superiores aos de importação, os monopólios comerciais e os pactos coloniais foram amplamente contestados.

Os teóricos do liberalismo econômico tinham em comum a defesa da livre iniciativa e da autorregulação do mercado, que não necessitaria de intervenção ou contrôle do Estado para ocorrer. Assim como no pensamento político, porém, havia diversas propostas. A seguir, você estudará duas vertentes do pensamento econômico liberal: a dos fisiocratas franceses e a dos que defendiam o liberalismo clássico inglês.

Os fisiocratas

Formada na França, a fisiocracia (do grego “poder” ou “domínio da natureza”) implicava a ideia de que a geração de riqueza se encontrava na propriedade da terra; portanto, a principal atividade econômica seria a agricultura. françuá quêsné, que viveu de 1694 a 1774, na obra chamada Quadro econômico, de 1759, estabeleceu esse princípio e outros fundamentos do pensamento fisiocrata.

Pintura. Homem de cabelos longos, cacheados e brancos. Ele aparece segurando um livro nas mãos, e vestindo um casaco escuro com babados na gola e no punho na cor branca.
Retrato de françuá quêsné, pintura do século dezoito.

Além dele, destacou-se o marquês de gurné, economista que viveu de 1712 a 1759, cuja frase Laissez faire, laissez passer (“Deixe fazer, deixe passar”) tornou-se marca do pensamento liberal francês. A ideia era deixar as coisas (em especial o mercado e a economia) seguirem o próprio ritmo, sem a necessidade de constantes intervenções do Estado.

Pintura. Vista ampla de um campo aberto. Em primeiro plano, na parte inferior da pintura, área sombreada, com pastagem, onde há um pastor cuidando do rebanho, composto por vacas em marrom e branco e ovelhas brancas; à direita, uma árvore frondosa. Em segundo plano, área iluminada pela luz solar, com uma concentração de construções; ao redor, vegetação rasteira e algumas árvores. Em terceiro plano, no alto, céu azul com algumas nuvens em cinza e branco.
Perspectiva de Leeds, pintura de nêitan têodór fíldin, cêrca de 1800.
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O cultivo agrícola e a criação de animais dominaram parte da paisagem rural britânica até meados do século dezenove.

A pintura fornece um registro da cidade de Leeds, no norte da Inglaterra, em um estágio inicial de sua transformação em centro industrial, pouco antes de sua arquitetura ser dominada pela reconstrução maciça e pela expansão industrial no início daquele século.

Liberalismo clássico inglês

No fim do século dezoito, a Inglaterra passava por um impactante fenômeno: a Revolução Industrial. Esse processo, que você estudará de fórma aprofundada no próximo capítulo, impôs novos conceitos sobre a produção, o consumo e a circulação de bens e mercadorias, assim como sobre as relações de trabalho e o papel do Estado na economia. Nesse contexto, os liberais britânicos defenderam propostas que favoreciam a economia industrial.

A principal referência no período foi o pensador escocês Adam Ismíf, que viveu de 1723 a 1790. Autor do livro A riqueza das nações, publicado em 1776, em que fundamentou o liberalismo clássico, Ismíf contestou as práticas mercantilistas, defendendo a livre iniciativa econômica e a livre concorrência, o que incentivaria o trabalho e beneficiaria a nação.

Diferentemente dos fisiocratas, Ismíf e outros pensadores do liberalismo clássico entendiam que a geração de riquezas de uma nação não provinha da propriedade da terra, mas do trabalho humano.

Na perspectiva dele, o mercado detinha a capacidade de se regular pela lei de oferta e procuraglossário , sem medidas de contrôle do Estado. Para descrever o mecanismo de autorregulação do mercado, Ismíf utilizou a metáfora da mão invisível: um princípio impossível de visualizar, mas que agiria sobre preços, quantidade de produção etcétera, regulando-os conforme os interesses do mercado.

Os pensadores do liberalismo defendiam a ideia de que a riqueza era infinita, pois a partir dela era possível gerar mais riqueza. Em outras palavras, quanto mais alguém vendesse algo, mais capital acumularia. Gastando esse capital, essa pessoa impulsionaria a fabricação de outros bens, o que geraria mais renda e riqueza em um ciclo supostamente infinito.

Tirinha composta de quatro quadros. Apresenta Armandinho, um menino de cabelo farto em azul-escuro. Ele veste camiseta branca e bermuda azul, está sentado na sala de aula, sobre uma cadeira bege e diante de uma carteira da mesma cor. Apoiada sobre a carteira, uma mochila em vermelho. Armandinho está voltado para o lado esquerdo em todas as cenas, e observa a professora, que não pode ser vista. Quadro 1: a professora diz: NOSSA ESCOLA VAI PREPARAR VOCÊS PARA O MERCADO! Quadro 2: Armandinho levanta a mão manifestando o desejo de falar. A professora diz: DINHO? Quadro 3: Armandinho responde: ENTÃO A GENTE VAI SE ESFORÇAR TANTO... Quadro 4: Armandinho continua: ... PARA DEPOIS SER CONSUMIDO?
Armandinho, tirinha de Alexandre Beck, 2015.
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A palavra mercado pode ter vários sentidos e ser percebida de distintas maneiras. Na tirinha, o personagem observa que pode se transformar em um objeto a ser produzido, preparado e depois consumido, e questiona o sentido disso. O mercado, ao qual Adam Smifi se refere, também envolve a ideia da fôrça de trabalho produzida e reproduzida para gerar riqueza às nações.

O despotismo esclarecido

No século dezoito, alguns reis europeus empreenderam reformas inspiradas em princípios liberais e do iluminismo. Eles pretendiam modernizar a economia e a administração dos reinos, tornando-as mais eficientes, sem afetar as estruturas sociais (como os privilégios do clero e da nobreza) nem o poder absoluto que detinham. Essas reformas possibilitaram a formação de um tipo de governo que ficou conhecido como despotismo esclarecido.

Destacaram-se como déspotas esclarecidos José segundo, da Áustria, Frederico segundo, da Prússia (monarca que manteve constante diálogo com voltér, por meio de cartas e pessoalmente), Carlos terceiro, da Espanha, Catarina segunda, da Rússia, e dom José primeiro, de Portugal, que deixou a cargo do ministro Marquês de Pombal as reformas que influenciaram diretamente a política e a economia da América portuguesa, como você estudará adiante.

A déspota russa Catarina segunda

Catarina segunda (ou Catarina, a Grande) governou o Império Russo de 1762 a 1796. Conectada ao circuito intelectual do período, a rainha correspondia-se com vários iluministas, entre os quais Diderrô e voltér.

Catarina ampliou as universidades russas, diminuiu a violência das penas e aprovou, em 1773, o Edito da Tolerância, garantindo liberdade religiosa e de culto. Em 1783, fundou uma escola para moças nobres. Militarmente, reorganizou o exército e empreendeu uma série de guerras nas quais ampliou os territórios do império.

Em contrapartida, a rainha evidenciou os limites do despotismo esclarecido: reforçou os privilégios da nobreza, ampliando seus poderes políticos e garantindo-lhe a isenção de impostos, estendeu o regime de servidão no campo, reforçando a submissão dos servos aos nobres, e reprimiu violentamente protestos de camponeses contra a miséria e as péssimas condições de vida.

Pintura. Retrato de uma mulher vista de frente, de corpo inteiro. Ela tem o cabelo escuro ajeitado em duas tranças laterais e compridas. Usa uma grande coroa arredondada e veste um longo e farto vestido claro com detalhes e ornamentos dourados. Um manto dourado e claro nas bordas pende do vestido,. No torso, detalhes em dourado e uma faixa na diagonal em azul. Ela segura um cetro dourado com a mão direita e uma esfera dourada na mão esquerda. Ao fundo e à esquerda, há outras duas coroas sobre uma almofada vermelha em cima de um aparador; ao fundo e à direita, tecidos grossos em azul, vermelho e cinza.
Retrato de Catarina segunda, pintura de istéfano Torelli, século dezoito.
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A reprodução de retratos dos déspotas esclarecidos era marcada pela representação de elementos que simbolizavam o poder, como o cetro, a coroa e o manto, típicos dos monarcas absolutistas. A pintura representa Catarina segundano dia de sua coroação.

Despotismo espanhol

O despotismo esclarecido na Espanha coincidiu com a ascensão da dinastia burbôm ao poder depois de uma grave crise sucessória. Os burbôm iniciaram uma série de reformas a fim de reorganizar o governo. As Reformas burbônicas, como ficaram conhecidas, atingiram tanto a Espanha como suas colônias e marcaram uma nova etapa na organização do Império Espanhol.

Na América, houve uma remodelação da organização territorial, administrativa e econômica. Para facilitar a administração, o governo acrescentou dois vice-reinos à América espanhola: o de Nova Granada (em 1717, restaurado em 1739 após breve reanexação ao Peru) e o do Rio da Prata (em 1776).

Além disso, os criollos foram excluídos de postos importantes, que passaram a ser ocupados apenas por funcionários espanhóis. Os jesuítas foram expulsos dos territórios do Império Espanhol sob a justificativa de que eles dificultavam a administração e constituíam um poder não submetido ao monarca.

Medidas progressistas, como concessão de liberdade de expressão e de imprensa, incentivo à propriedade privada e abertura dos portos para o comércio estrangeiro, foram empreendidas seguindo os preceitosglossário do liberalismo.

O objetivo do governo era fortalecer o comércio espanhol e modernizar o sistema administrativo, mas essas transformações provocaram o descontentamento de alguns grupos.

Os criollos, que tinham vantagens políticas, econômicas e sociais no antigo sistema, viram seus privilégios e lucros diminuírem. Já os indígenas e integrantes de camadas populares nas colônias foram profundamente afetados pelo aumento dos impostos.

Pintura. Um homem de peruca branca e curta, com ondulações na altura da orelha, veste uma armadura metálica. Na altura da cintura, um manto vermelho e farto; no torso, uma faixa diagonal em vermelho com detalhes em dourado. Ele segura um bastão com a mão direita, que está abaixada; com a mão esquerda ele aponta para o fundo da pintura. O cabo de uma espada embainhada está do lado esquerdo do seu corpo e pode ser vista apenas parcialmente. Atrás do homem, tecidos em vermelho e em branco com detalhes em dourado. Ao fundo, uma parede cinza com um tecido dourado à esquerda e uma coluna cinza no centro.
Retrato de Carlos terceiro, pintura de Anton Rafael , cêrca de 1761.
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Um dos monarcas responsáveis pela política de reformas na Espanha foi Carlos terceiro, que reinou de 1759 a 1788. Entre as principais medidas implementadas por ele estavam a modernização do Estado, o fortalecimento da monarquia, o contrôle rígido da metrópole sobre os territórios na América, o aumento de impostos e a ampliação de fôrças militares.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique por que o século dezoito ficou conhecido como o século das luzes.
  2. Identifique aspectos do pensamento iluminista presentes no trabalho dos pensadores enciclopedistas do século dezoito. Explique por que eles foram perseguidos pela Igreja.
  3. Explique o conceito de despotismo esclarecido e cite exemplos de medidas tomadas por monarcas que seguiram seus princípios.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. No caderno, copie em ordem cronológica os acontecimentos históricos listados a seguir.
    1. Os Atos de Navegação aprovados no governo de crómuél estimularam o comércio inglês, mas prejudicaram economicamente os Países Baixos, o que causou uma guerra entre as duas nações.
    2. A Revolução Gloriosa reforçou o poder do Parlamento e os limites dos monarcas.
    3. Os monarcas da dinastia Stuart, Jaime primeiro e Carlos primeiro, que defendiam a ideia da origem divina dos reis, dissolveram o Parlamento inglês em diferentes ocasiões.
  2. Analise as informações a seguir sobre o iluminismo e, no caderno, classifique as afirmativas em verdadeiras ou falsas. Em seguida, reescreva as sentenças incorretas, corrigindo-as.
    1. O iluminismo foi um movimento artístico do século dezesseis.
    2. Os iluministas defendiam o conhecimento construído com base na razão.
    3. Os iluministas apoiavam o regime absolutista.
    4. O iluminismo foi um movimento unificado em defesa da tradição dos dogmas da Igreja.
  3. No caderno, associe corretamente os pensadores listados a seguir às respectivas ideias.
    1. voltér.
    2. Barão de Montesquiê.
    3. jeãn jác russô.
    4. Adam Ismíf.
  1. Propôs a divisão de poderes do Estado como fórma de evitar governos despóticos.
  2. Criticou a Igreja e o pensamento religioso, considerado supersticioso, e defendeu a liberdade de expressão e de pensamento.
  3. Defendeu o livre mercado e a liberdade econômica, propondo que o mercado seria capaz de autorregulação.
  4. Defendeu a existência da bondade natural do ser humano, além de propor as ideias de contrato social e de soberania do povo.

Aprofundando

4. Analise a tirinha e descreva o princípio ou ideal iluminista que pode ser identificado nela.

Tirinha composta de três quadros. Apresenta dois personagens: Armandinho, um menino de cabelo farto em azul-escuro que aparece vestido de camisa laranja e bermuda azul, e um sapo verde, amigo do Armandinho. Quadro 1: Armandinho e o sapo estão diante de uma árvore alta, da qual só vemos o tronco. O menino olha para cima e diz: UMA ÁRVORE DEVE TER BOAS RAÍZES... Quadro 2: Armandinho e o sapo estão do lado de fora de uma casa, da qual vemos uma parede azul com tijolos aparentes na base. Armandinho continua o raciocínio: ...UMA CASA DEVE TER UMA BOA FUNDAÇÃO... Quadro 3: Armandinho olha para o sapo e diz: ...E TODA OPINIÃO DEVIA TER UM BOM FUNDAMENTO!
Armandinho, tirinha de Alexandre Beck, 2015.

5. Leia o documento a seguir e faça o que se pede.

“Considerando que tendo Jaime segundo abdicado e estando o trono vacanteglossário , Sua Alteza, o Príncipe de Orange, ordenou a eleição de deputados para o Parlamento, estes agora reunidos como representantes totais e livres desta nação, declaram:

1 – Que o pretenso poder de suspender as leis, ou a execução das leis, pela autoridade régia, sem o consentimento do Parlamento é ilegal. reticências

4 – Que o direito de cobrar impostos para o uso da Coroa, com o pretexto de privilégio, sem outorgaglossário do Parlamento, é ilegal. reticências

6 – Que o recrutamento e manutenção de um exército, em tempo de paz, é ilegal sem o consentimento do Parlamento. reticências

9 – Que a liberdade de palavra nos debates e atas do Parlamento não deve ser questionada em nenhuma côrte ou lugar fóra do Parlamento.”

DECLARAÇÃO dos Direitos, 1689. ín: SÃO PAULO (estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Coletânea de documentos históricos para o 1º grau: 5ª a 8ª séries. São Paulo: ésse ê: cêmpi, 1979. página 84.

  1. Em que momento histórico esse documento foi redigido?
  2. De que maneira esse documento limitou os poderes do monarca?
  3. Que princípios liberais estão presentes nesse documento?

6. No século dezoito, no contexto do iluminismo, as sociedades indígenas americanas se tornaram objeto de debate. De um lado, alguns europeus classificavam a América como “degenerada” ou “imatura” em relação à Europa. De outro, essas ideias eurocêntricas eram contestadas, por exemplo, por jesuítas criollos exilados na Europa. Essa discussão pública ficou conhecida como Polêmica do Novo Mundo. Junte-se a um colega e leiam os textos a seguir. No primeiro deles, o filósofo holandês Cornelius de pôl descreve seu ponto de vista sobre os indígenas americanos. No segundo, o jesuíta Francisco clavirrêro apresenta sua visão.

reticências eles são de uma preguiça imperdoável, não inventam nada, não empreendem nada, e não estendem a esfera de sua concepção além do que veem, reticências o desânimo e a falta absoluta daquilo que constitui o animal racional os tornam inúteis para si mesmos e para a sociedade.”

pôl, C. de. Pesquisas sobre os americanos ou relatos interessantes para servir à história da espécie humana, 1774. ápud: LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2000. página 43.

“A organização que os espanhóis encontraram no México era muito superior àquela que os fenícios e cartagineses encontraram em nossa Espanha reticências Não há dúvida que os espanhóis naqueles remotos séculos reticências não possuíam a organização tão desenvolvida, suas artes tão florescentes e o conhecimento da natureza tão adiantado quanto os mexicanos do começo do século dezesseis.”

clavirrêro, F. J. Historia antigua de México. Cidade do México: Porrúa, 2003 [1964]. página 63. Tradução nossa.

  1. De que modo os indígenas são descritos nos dois textos?
  2. Segundo De pôl, por que os indígenas possuíam essas características? clavirrêro contesta a visão de De pôl ou a reforça? Como ele faz isso?
  3. De que maneira a Polêmica do Novo Mundo se relaciona ao contexto filosófico iluminista?

Glossário

Esfera pública
: conjunto de espaços (ruas, salões, teatros etcétera) e de veículos de comunicação (panfletos, jornais, revistas etcétera) em que temas de interesse público são debatidos de fórma livre e igualitária.
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Dissolver
: desfazer, eliminar, acabar. No texto, o termo está relacionado à atitude de encerrar as reuniões do Parlamento.
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: nobreza proprietária de terras, que se diferenciava da nobreza que detinha títulos nobiliárquicos, como o de príncipe, o de conde e o de barão.
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: taxa naval paga por moradores de cidades litorâneas.
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Conscrito
: convocado a prestar serviço militar.
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Guarnição
: conjunto de tropas destacadas para determinado local.
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Signatário
: aquele que assina um texto ou documento.
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Replicável
: que pode ser repetido.
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Metódico
: modo de fazer as coisas com método, de acordo com um plano ou procedimento.
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Hostilidade
: inimizade, agressividade, contrariedade.
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Despótico
: relativo ao poder absoluto e abusivo de um déspota.
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Arbitrário
: que não segue normas ou fundamentos e depende apenas da vontade de quem age.
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Dogmático
: que se apresenta como uma certeza absoluta.
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Irrestrito
: que não tem restrições, limites ou condições.
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Instância
: esfera de ação.
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Direito natural inalienável
: direito anterior ao Estado, que não pode ser cedido, pois é vinculado à dignidade humana. Na Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776, por exemplo, os direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade foram considerados inalienáveis.
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Refutar
: desmentir, contestar, negar.
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Verbete
: conjunto das definições e explicações de cada termo em dicionários ou enciclopédias.
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Anticlerical
: característica daquele que combate o clero.
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Colaborativo
: que é feito de fórma cooperativa, por várias pessoas.
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Lei de oferta e procura
: princípio segundo o qual o preço de mercado de um produto seria regulado pela proporção entre a oferta dessa mercadoria e a demanda (ou procura) por ela. Assim, a abundância de oferta de um produto ou serviço diminuiria seu preço, enquanto a escassez (ou falta) o aumentaria.
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Preceito
: regra, norma.
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Vacante
: vago, não ocupado.
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Outorgar
: aprovar, concordar, permitir.
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