CAPÍTULO 2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Máquinas automáticas, veículos de alta velocidade, uma gigantesca oferta de produtos e muita poluição! Esses elementos, que podem fazer parte de seu cotidiano, são o resultado de um dos processos mais importantes da história: a Revolução Industrial. Durante esse processo, mudaram muitas coisas: o modo como as pessoas trabalhavam e consumiam, as relações que estabeleciam umas com as outras, os impactos que causavam ao ambiente e até a maneira como compreendiam o tempo.

Antes da Revolução Industrial, não havia, por exemplo, sapatos suficientes na Europa para atender a todas as pessoas que queriam comprar essa mercadoria. Hoje, sapatos e muitos outros produtos são fabricados em uma velocidade maior do que as pessoas conseguem consumir e descartados na natureza com a mesma rapidez.

Neste capítulo, você vai estudar o início da Revolução Industrial e, também, algumas das características e consequências desse processo que ajudou a moldar o mundo de hoje.

Ilustração. Um homem, à direita, e uma mulher, à esquerda, se entreolham espantados. Ela está de vestido em laranja, com uma bolsa amarela pendurada no ombro, e empurra um carrinho de compras no sentido direita-esquerda da ilustração. O carrinho contém produtos variados, como uma luminária, um telefone celular, um copo etc. Ele está de bermuda listrada em azul e branco, camiseta branca e chinelo laranja. Ele carrega os mesmos produtos no sentido esquerda-direita da ilustração em um grande cesto de lixo cinza.
Ilustração atual representando o excesso de consumo e de produção de lixo pela sociedade contemporânea.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Com base na imagem, indique a relação entre o consumismo e a produção de lixo na atualidade.
  2. É possível relacionar a Revolução Industrial ao consumismo? Use o texto da abertura para justificar sua resposta.
  3. De acordo com dados divulgados pelo Fundo Mundial para a Natureza (dáblio dáblio éfe) em 2019, o Brasil é o quarto país que mais produz lixo plástico no mundo. Em 2018, cada pessoa descartou, em média, 1 quilo desse material por semana. Essa média reflete a quantidade de lixo produzida por você e pelas pessoas com quem mora?
  4. O que você pode fazer para consumir menos?

O início da Revolução Industrial

Revolução Industrial é um termo usado para nomear uma série de mudanças nas fórmas de produzir e consumir mercadorias. Essas mudanças começaram na Europa, entre 1750 e 1780, e se consolidaram entre 1830 e 1850, com o desenvolvimento das fábricas.

Alguns dos aspectos que caracterizaram a Revolução Industrial foram a utilização de máquinas e a automação de certas etapas da produção, a divisão e a especialização do trabalho e a grande quantidade de assalariados e fábricas. Além disso, a produção passou a ser realizada em larga escala e comercializada em nível local, regional e até mundial.

Essas transformações demoraram décadas para se concretizar e se desenvolveram de modo desigual em diferentes partes do mundo. O processo iniciou-se na Grã-Bretanha, alcançando países como a França (na primeira metade do século dezenove), os diferentes Estados germânicos (por volta de 1850), o Japão (no fim do século dezenove) e o Brasil (no século vinte).

Desde a primeira fase da Revolução Industrial, a tecnologia não parou de se aperfeiçoar, dando origem a outras revoluções, que ocasionaram profundas transformações.

Fotografia. Robô com pernas, braços tronco e cabeça similares aos de um ser humano, articulado, feito de um material escuro. Ele veste regata e bermuda em preto. Estampada na regata, uma miniatura da bandeira do Japão e, abaixo dela, os escritos 'Tokyo 2020' e o número '95'. O robô está com os joelhos flexionados e com uma bola de basquete em laranja e branco em uma das mãos, em posição de arremesso. Ao fundo, uma moça ajoelhada o observa; ela usa máscara de proteção sobre o nariz e a boca. Mais ao fundo, arquibancadas e algumas pessoas em pé e sentadas.
Robô fazendo arremessos durante intervalo de jogo de basquete nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Japão. Foto de 2021.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Com lances milimetricamente calculados, o robô jogador de basquete chamou a atenção dos espectadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que estavam programados para 2020, mas, por causa da pandemia de covid-19, foram adiados para 2021. A quantidade de robôs especializados em diferentes tarefas, antes realizadas exclusivamente por humanos, é cada vez maior. A área da robótica faz parte do que os especialistas chamam de Quarta Revolução Industrial, que teve início na década de 2010. Estima-se que os robôs assumam cada vez mais tarefas de produção e serviço, substituindo a ação humana de fórma parcial ou total.

Trocas comerciais e crescimento demográfico

Um dos fatores que possibilitaram a Revolução Industrial foi o aumento do comércio entre as metrópoles e suas colônias no século dezesseis, no período da expansão marítima europeia. Com essa atividade, as potências europeias acumularam muito dinheiro.

A riqueza acumulada, assim como o intercâmbio de culturas e conhecimentos entre as metrópoles e suas colônias, possibilitou a melhora nas condições de alimentação e saúde dos europeus, contribuindo para o crescimento da população.

Cruzando fronteiras

O intercâmbio de culturas e de conhecimentos entre povos de diferentes lugares ocorrido após a expansão marítima europeia favoreceu, por exemplo, o aprimoramento da agricultura e da pecuária.

Diferentes produtos circularam entre a América e a Europa, onde foram adaptados e salvaram regiões inteiras da fome. Um desses produtos foi a batata, que passou a ser produzida em várias regiões do continente europeu.

Nesse contexto, ocorreu a consolidação da filosofia moderna e, com ela, a valorização das experiências e do método científico, possibilitando importantes avanços nos conhecimentos sobre saúde.

Todos esses fatores contribuíram para um grande crescimento demográfico na Europa. Entre os séculos dezesseis e dezessete a população dessa região quase duplicou. Como consequência, aumentou a procura por mercadorias, como roupas e sapatos, que precisavam ser produzidas cada vez mais rápido e em maior quantidade.

Para refletir sobre esse tema, analise o gráfico a seguir e, depois, faça o que se pede.

Europa: dinâmica populacional – 200-1800

Gráfico de linha. Europa: dinâmica populacional - 200 a 1800. O eixo vertical indica a população em milhões de habitantes, e vai de 0 a 700 em intervalos de 100. O eixo horizontal indica a passagem dos anos, e vai de 0 a 1800, com intervalos de 200. A linha vermelha indica o aumento da população europeia. Entre o ano 1 e o ano 1000, a população europeia manteve-se praticamente estável, com aumento gradativo de aproximadamente 45 (ano 1) a 55 milhões de habitantes (ano 1000). A partir de então, a linha começa a subir, demonstrando aumento populacional. Em 1200, a linha chega próxima de 100 milhões de habitantes; em cerca de 1350, a linha ultrapassa um pouco os 100 milhões de habitantes; entre 1350 e 1400, há uma queda, e a população europeia atinge os 100 milhões de habitantes novamente; entre 1400 e 1600, há um aumento constante, sendo que em 1600, a população atinge pouco mais de 100 milhões de habitantes. Em aproximadamente 1650, a população tem uma nova queda, chegando mais próximo dos 100 milhões de habitantes. A partir dessa data, o aumento é constante e mais acentuado, chegando a aproximadamente 220 milhões de habitantes em 1800.

FONTE: zinquína, J.; corotaiév, A; alechi-cóvsqui, I. The demographic transition in the First World: the nineteenth century. ín grinín, L. E. e outros (edição.). Globalistics and globalization studiesglobal evolution, historical globalistics and globalization studies. Volgograd: Uchitel, 2017. página 185. 

Responda no caderno.

  1. Quantos milhões de habitantes havia na Europa em 1400 e em 1800? Em quantas vezes o número de habitantes aumentou nesse período?
  2. Explique a razão desse grande crescimento populacional.
  3. Relacione o crescimento populacional europeu no século dezenove à Revolução Industrial.

Do artesanato à maquinofatura

No período anterior à Revolução Industrial, a maioria das pessoas vivia no meio rural e trabalhava com agricultura e pecuária. As mercadorias eram feitas pelos artesãos.

Os artesãos se organizavam nas corporações de ofício ou nas guildas. Nessas associações, eles conseguiam regulamentar o processo produtivo, negociar os preços e controlar a concorrência e o comércio de determinados artigos em uma cidade.

Os regulamentos para controlar, por exemplo, os modos de trabalho, as matérias-primas utilizadas e a quantidade de mercadorias eram muito rígidos. Assim, os artesãos não conseguiam aumentar a produção para atender a demanda dos consumidores.

Naquele período, foram desenvolvidas outras fórmas de produção, como a doméstica, que começou a ser implementada por volta do século dezesseis. Nesse sistema, os artesãos recebiam a matéria-prima para produzir determinada mercadoria, mas a venda era feita por um comerciante. Nesse caso, o artesão tinha conhecimento de todo o processo de produção, mas não do mercado no qual seu produto era vendido.

Por volta da metade do século dezessete, começaram se formar as manufaturas. A produção passou a ser realizada em grandes oficinas, nas quais os artesãos se reuniam e o trabalho era dividido em etapas, cabendo a cada trabalhador a responsabilidade por uma delas.

Pintura. Um homem, uma mulher e uma criança em um local fechado, de parede de tijolos aparentes em marrom, com uma janela pequena e gradeada ao fundo. O homem, visto da cintura para cima, usa um chapéu vermelho, uma camisa vermelha e uma vestimenta azul com botões sobre ela, além de um avental branco em volta da cintura. Ele está em pé à esquerda da pintura, e manuseia uma ferramenta de carpinteiro longa e horizontal em vermelho claro sobre uma mesa em amarelo. Atrás dele, uma caixa em madeira em amarelo claro com adornos, sobre a qual há objetos em madeira, na horizontal e na vertical. Acima dela, em uma haste fixada na parede, na horizontal, instrumentos de trabalho. A mulher também está em pé, à direita da pintura. Ela usa um vestido marrom com punhos em branco, um tecido escuro sobre a cabeça e um avental branco em volta da cintura. Ela segura um fio branco com a mão direita e, encostada ao corpo, uma haste com um carretel, na diagonal, que ela segura com o braço esquerdo. Uma criança está ajoelhada no chão, à frente dela, embaixo da bancada de trabalho. Ela usa camisa marrom e manipula um cesto bege. Em primeiro plano, uma segunda bancada retangular e sobre ela diversos instrumentos de trabalho, entre eles um pequeno machado.
As quatro condições sociais: trabalho, pintura de jân burdichôn, século dezesseis. 
Gravura. Em um ambiente amplo e fechado, há quatro trabalhadores. Eles vestem uma túnica azul até os joelhos e touca de mesma cor.  Eles trabalham em diferentes etapas na produção de papel. À esquerda, um homem puxa uma corrente que passa por uma roldana, e ergue uma estrutura em metal sobre um tonel aquecido por uma chama. No centro, o trabalhador despeja um líquido claro no tonel à sua frente. Atrás dele outro trabalhador diante de uma porta carrega folhas de papel nas mãos. À direita da gravura, um outro trabalhador manipula uma folha de papel sobre outro tonel. Mais à direita, uma estrutura em madeira, onde há uma prensa de papel, por cuja base sai um líquido claro que é despejado em uma tina. Ao fundo, paredes em marrom em formato de arco no topo, e uma única janela pequena gradeada.
Produção de papel em uma manufatura, gravura colorizada do século dezoito.
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Na imagem do século dezesseis está representado o sistema doméstico, em que uma família sozinha produzia o objeto que seria vendido. Já na imagem do século dezoito, é representada uma manufatura. Nesse sistema, o trabalhador perdia a noção do processo de produção como um todo e do mercado, pois recebia um salário para executar apenas uma função, a mando de um patrão ou mestre.

A formação das fábricas e as primeiras máquinas

O artesanato, o sistema doméstico e a manufatura não foram suficientes para atender à demanda por mercadorias. Diante disso, alguns burgueses começaram a utilizar máquinas em seus galpões para acelerar a produção. Assim, a manufatura transformou-se em maquinofatura.

Como as máquinas realizavam determinados processos de modo mais rápido e mais barato que os operários, os lucros dos donos desses meios de produçãoglossário aumentaram muito. Eles passaram, então, a agrupar um número cada vez maior de trabalhadores e máquinas em determinados espaços, dando origem às fábricas, um dos principais símbolos da primeira fase da Revolução Industrial.

Com essas transformações, a burguesia se tornou mais poderosa e a economia se voltou cada vez mais para a indústria, afastando-se das práticas mercantilistas que caracterizaram o expansionismo europeu dos séculos quinze a dezoito.

A invenção das máquinas fez parte do contexto da mudança de mentalidade que ocorreu na Europa entre os séculos quinze e dezoito. Nesse período, a ciência passou por um processo de valorização, e as descobertas científicas e os inventos se multiplicaram. Essas inovações eram direcionadas, principalmente, às atividades de mineração e tecelagem.

Em 1733, o inglês djôn quêi patenteouglossário a invenção da lançadeira volante. Com essa ferramenta, foi possível dobrar a produtividade da indústria têxtil. O mecanismo facilitava a tarefa de entrelaçar os fios para a confecção do tecido e era operado por apenas um artesão – para movimentar as máquinas antigas eram necessários até três trabalhadores.

No mesmo período, inventores aperfeiçoaram as máquinas existentes e criaram outras, como as movidas a fôrça hidráulica e a vapor. Assim, a mecanização tornou-se uma das principais característica dessa fase da Revolução Industrial.

Pintura. Um local fechado, com duas janelas pequenas e gradeadas, à esquerda e ao fundo, sendo que uma delas está sendo destruída por uma pessoa com uma marreta nas mãos. À direita, uma porta em forma de arco no topo e, ao fundo, nota-se um homem de chapéu verde claro e casaco bege sentado sobre a carga de uma carroça, alheio à cena central. À esquerda, no fundo da sala, parede com a parte superior em branco e a inferior em verde. À frente dessa parede, um tear mecânico com estrutura em madeira e de fundo vermelho, produz tecido. Diante dele, um homem tenta pular sobre uma estrutura em madeira, na horizontal. Ele está de costas para o observador, tem os cabelos longos e amarrados para trás, usa uma camisa branca, colete vermelho, calça azul, meias brancas e sapatos escuros. Um cachorro pequeno e marrom, no canto inferior esquerdo, observa esse homem. O chão, à esquerda, foi representado por lajotas quadradas em bege e vermelho claro. À direita da pintura, diante de uma parede em verde escuro e chão de tacos em vermelho claro e marrom, há quatro pessoas. Um homem calvo e de casaco marrom é enrolado pelas outras três pessoas em um longo tecido claro. Ele tenta se agarrar a um dos braços de uma mulher, à esquerda, que sustenta com a outra mão parte do pano para o alto. Ela usa um longo vestido volumoso, com várias camadas, e um avental vermelho. Um homem, abaixado, coloca sobre as costas o homem enrolado no tecido. Um outro homem, de chapéu escuro, o auxilia nessa tarefa. À esquerda, duas meninas, em pé,  observam a cena próximas à porta.
djôn quêi, inventor da lançadeira volante, pintura de fórd médoquis bráun, 1753.
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Muitos trabalhadores ingleses se revoltaram quando a lançadeira volante foi inventada, pois com ela diminuiu o número de operários contratados. Um grupo desses trabalhadores atacou a casa de djôn quêi em 1753, obrigando-o a fugir e a refugiar-se na França. Na imagem, o artista representou o momento desse ataque. Note que quêi está sendo enrolado em um largo tecido, que é puxado pela personagem à qual ele tenta se agarrar, uma mulher representada utilizando volumosas vestes.

O pioneirismo inglês

Os ingleses popularizaram e aperfeiçoaram muitas invenções que resultaram na automatização das máquinas e contribuíram para que o país fosse o primeiro a realizar a Revolução Industrial. Isso foi favorecido por diversos aspectos culturais, econômicos e sociais.

As políticas mercantilistas adotadas a partir do século dezesseis e, principalmente, o processo das Revoluções Inglesas que marcou o aumento da influência da gentry na Inglaterra foram muito importantes.

A expansão comercial foi favorecida pelo fato de a maioria dos integrantes do Parlamento ser da gentry e, portanto, ter interesses comerciais. Além disso, após a promulgação dos Atos de Navegação, em 1651, durante o governo republicano de Óliver Crom-uél, a marinha inglesa se tornou uma potência mundial.

O acúmulo de capital pelos ingleses também foi beneficiado pelo grande mercado consumidor, principalmente o externo, que teve diversas altas entre 1660 e 1760. Nesse período, as exportações britânicas aumentaram de três a quatro vezes. As causas desse crescimento estavam relacionadas à poderosa marinha mercante e, também, às bem-sucedidas estratégias comerciais do país.

Além disso, a Inglaterra apresentava mais estabilidade política que as outras potências europeias, pois tinha conseguido controlar os graves problemas de fome. Essa situação se devia também ao fato de os integrantes do Parlamento concordarem em priorizar as políticas de obtenção de lucro. Para completar, a monarquia parlamentarista estava amparada nos princípios de liberdade individual, que era o objetivo de muitos daqueles que protestavam na Europa naquele momento.

No mesmo período, a França, uma de suas principais concorrentes comerciais, enfrentava escassez de alimentos e uma forte crise econômica. Portugal e Espanha, por sua vez, estavam em declínio econômico.

Pintura. Embarcações perto de um porto. À direita, navio de grande porte com muitos mastros, velas recolhidas e bandeiras em vermelho, branco e azul. Ao lado dele um barco menor e embarcações a remo. Ao fundo, uma cidade e diversas bandeiras hasteadas. No alto, céu azul com muitas nuvens em branco e cinza.
Lançamento no Deptford Dockyard, pintura de djôn clíveli, cêrca de 1750.
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Com a promulgação dos Atos de Navegação, a Inglaterra se tornou uma potência naval da Idade Moderna. Nessa pintura, o artista djôn clíveli representou o estaleiro naval de Deptford Dockyard, no Rio Tâmisa (região de Londres), para evidenciar a grandeza da marinha real britânica.

A terra como mercadoria

Outro fator que contribuiu para o pioneirismo inglês na Revolução Industrial foi a quantidade de mão de obra disponível para as fábricas, em razão do processo de arrendamento e cercamento dos campos.

No século dezesseis, durante a Reforma Anglicana, o rei Henrique oitavo confiscou amplos territórios pertencentes à Igreja Católica, os quais foram vendidos ou doados para os integrantes da gentry.

Na época, os campos eram ocupados por camponeses, que podiam ser os donos das terras ou arrendatários, nobres e outros proprietários. Além disso, existiam as terras comunais, que pertenciam aos senhores, mas podiam ser utilizadas coletivamente para atividades como pastoreio e coleta de lenha.

Para aproveitar a alta de preços decorrente do crescimento da economia nos séculos dezesseis e dezessete, os proprietários rurais ingleses passaram a cobrar o arrendamento de todos os camponeses e obrigaram muitos deles a sair das terras em que viviam.

A partir do século dezoito, esse processo passou a ser regulamentado pelos Enclosure Acts (“Decretos das Cercas”), que determinavam o enclosure (“cercamento dos campos”), transformando a terra em mercadoria que podia ser vendida e comprada.

Pintura. Em um local aberto, um homem e uma mulher estão embaixo de uma árvore, com o rosto voltado para frente, em direção ao observador. Ela está sentada em um banco, usa um longo vestido azul claro e chapéu. Ele está em pé, ao lado dela, com um dos braços apoiado no banco. Ele veste casaco claro, calça escura e meias compridas até o joelho. Usa um chapéu triangular em preto e carrega uma longa arma embaixo do braço, apontada para o solo. Ao lado dele, no chão, um cachorro. Ao fundo, um grande campo com animais, árvores e grama. No céu azul, muitas nuvens em branco e cinza.
Senhor e Senhora Andrews, pintura de tômas guéinsburu, 1750.
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Responda no caderno.

Analise a pintura. Nela tômas guéinsburu representou dois membros da gentry com roupas elegantes e acessórios de caça. Nessa imagem, qual é o papel da grande extensão de terras desenhada atrás dos dois personagens?

Mão de obra e recursos

Ao longo do processo de retirada dos camponeses, que durou séculos, as terras passaram a ser administradas pelos arrendatários e proprietários capitalistas, que as utilizaram principalmente para a produção agrícola, aumentando bastante a oferta de alimentos na região.

Fotografia. Vista aérea de um longo campo verde dividido em lotes cercados. No centro, uma estrada. À direita algumas casas e gados pastando em um dos lotes. Ao fundo, encosta de um morro, também dividida em lotes de coloração verde e marrom.
Campos cercados de muros de pedra no condado de Cumbria, Reino Unido. Foto de 2019.

Foram empregadas nessa produção técnicas agrícolas avançadas, o que possibilitou a redução do número de trabalhadores. Além disso, a criação de ovelhas aumentou muito no século dezoito, pois a lã era uma das principais matérias-primas utilizadas na crescente indústria têxtil. Esse trabalho também demandava pouca mão de obra.

Dessa maneira, muitos camponeses ficaram desempregados e, assim como os artesãos falidos e os imigrantes judeus e irlandeses, tornaram-se mão de obra barata para as fábricas.

Por último, havia na Grã-Bretanha abundante oferta de recursos naturais necessários para a construção e o funcionamento das primeiras máquinas industriais, pois o subsolo da ilha era rico em carvão mineral e ferro.

O carvão mineral era mais eficiente que o carvão vegetal. Por isso, foi o escolhido como combustível para as máquinas a vapor. O ferro, por sua vez, foi utilizado na construção das máquinas, das ferramentas e das estradas de ferro, fundamentais para escoar a produção industrial em um segundo momento do processo de industrialização.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Descreva as principais mudanças nas fórmas de produzir que caracterizaram a Revolução Industrial.
  2. Como se formaram as primeiras fábricas na Inglaterra?
  3. O início da Revolução Industrial afetou apenas o espaço urbano? Justifique.

A Primeira Revolução Industrial

Durante a primeira fase da Revolução Industrial, as máquinas foram sendo adotadas e aperfeiçoadas aos poucos, e não substituíram completamente a produção artesanal ou a manufatureira, que existem até hoje.

A princípio, na indústria têxtil foi utilizada como matéria-prima apenas a lã produzida nos campos britânicos. Depois, a lã foi substituída pelo algodão, pois a produção desse material era mais barata. Além disso, os tecidos de algodão duravam menos e precisavam ser recomprados com mais frequência, o que aumentava o lucro dos comerciantes. Assim, o algodão foi a matéria-prima da revolução e seu consumo, apenas na Grã-Bretanha, aumentou mais de doze vezes entre as décadas de 1770 e 1800.

A partir do momento em que as máquinas a vapor começaram a ser usadas, a produção passou a ser feita de modo seriadoglossário e em larga escala. Para manter o ritmo de produção, era preciso exportar as mercadorias, pois o mercado interno não tinha condições de absorvê-las. Assim, a indústria britânica passou a depender do mercado externo, principalmente o colonial, para adquirir matéria-prima e para vender as mercadorias produzidas.

O aperfeiçoamento dos meios de transporte

Com o aumento constante da produção nas fábricas, foi necessário pensar também em meios para transportar rapidamente as mercadorias entre as cidades, os campos e os portos.

O vapor foi muito utilizado nos motores das máquinas da indústria têxtil e para movimentar diversos outros tipos de maquinário, tornando-se a principal fonte de energia do período.

Em 1807 foi construído o North River Steamboat, o primeiro barco a vapor, inventado pelo estadunidense Róbert Fúlton. O barco ficaria conhecido informalmente como Clearmont.

Pintura. Um homem e uma mulher negros em uma plantação de algodão, ambos descalços. Ele usa calça escura, camisa branca e chapéu escuro, todos gastos. Ele carrega na cabeça um grande cesto cheio de algodão recém-colhido. Ela usa um lenço vermelho sobre a cabeça, camisa azul de mangas compridas, saia branca e lenço branco sobre os ombros e sobre o colo. Diante dela, um cesto com algodão recém-colhido. Ao fundo, plantação de algodão, em tons de vermelho, algumas folhas em verde, e o fruto em branco. Mais ao fundo, construções de telhado em bege e paredes claras. No céu azul, muitas nuvens em cinza.
Colhedores de algodão, pintura de uíliam áiquen uólquer, século dezenove.
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A maior parte do algodão consumido na Grã-Bretanha provinha de suas colônias na Índia e na América do Norte. Nesse último local, o produto era cultivado por negros escravizados. A partir da última década do século dezoito, a América portuguesa se tornou um dos principais fornecedores da mercadoria, chegando a produzir, também com uso de trabalho escravizado, 40% do algodão utilizado na cidade de Liverpool.

A primeira travessia oceânica com esse tipo de embarcação ocorreu alguns anos depois, em 1819. Nessa viagem, foi utilizado o barco britânico Savannah, que combinou a tecnologia da máquina a vapor com a propulsão a velas e levou um mês para percorrer o trajeto entre o Reino Unido e os Estados Unidos.

Por tornar a navegação menos dependente de fatores como o vento e as correntes marítimas, a invenção do barco a vapor inaugurou uma nova era nos transportes e no comércio mundial.

A locomotiva a vapor foi inventada pouco tempo depois e provocou outras transformações. A primeira estrada de ferro destinada a passageiros foi projetada pelo engenheiro djêordji istívenson e inaugurada em 1825, conectando as cidades de Darlington e Stockton, no Reino Unido. As locomotivas que percorriam essa ferrovia alcançavam a velocidade de 24 quilômetros por hora.

Gravura em preto e branco. Locomotiva com quatro rodas, duas grandes à frente, e duas menores atrás. Uma longa chaminé desponta da frente da locomotiva, e um pistão está encaixado nas rodas maiores. Uma haste na diagonal liga o topo da chaminé ao pistão.
Representação da locomotiva Rocket, de 1829, projetada por djêordji e róbert istívenson, em gravura do século dezenove.

Os trens foram fundamentais para integrar regiões onde a navegação fluvial não era possível, realizando o transporte de pessoas e mercadorias entre os portos e o interior do território. Além disso, a construção das estradas de ferro impulsionou as atividades relacionadas à siderurgia e ao carvão.

Para construir estradas, era necessário ferro fundido. Esse material era produzido com uso de máquinas a vapor, movidas a carvão, que também alimentava as locomotivas. Assim, o consumo de ferro e o de carvão se retroalimentavamglossário e movimentaram a economia britânica a partir de então.

Europa: grandes centros industriais e ferrovias – século dezenove

Mapa. Europa: grandes centros industriais e ferrovias – século dezenove. Legenda: Bolinha laranja: Grandes centros industriais. Linha horizontal vermelha: Ferrovias em 1880. No mapa, os grandes centros industriais localizam-se em: Glasgow, Liverpool, Birmingham, Sheffield, Londres, Hamburgo, Bremen, Amsterdã, Roterdã, Gent, Le Havre, Paris, Bruxelas, Reims, Colônia, Berlim, Praga, Ostrava, Viena, Pilsen, Berna, Turim, Veneza, Roma, Nápoles, Lyon, Creusot, Barcelona, Bilbao, Santander, Oviedo e Madri. As ferrovias em 1880 estão ramificadas por toda a Europa, passando pelos grandes centro industriais. A maior concentração de ferrovias ocorre na porção centro-norte da Europa Ocidental e no Reino Unido. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 290 quilômetros.

FONTE: VICENTINO, C. Atlas histórico: geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 122.

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Responda no caderno.

Em que parte da Europa o número de ferrovias era maior? Explique os fatores que contribuíram para isso.

Crescimento urbano e ambiente

Por causa da relação entre a produção de carvão e a de ferro, as fábricas eram instaladas perto das minas. As minas e as fábricas atraíam milhares de camponeses, imigrantes e artesãos em busca de trabalho, que se instalavam nas proximidades desses locais. Formaram-se, assim, grandes cidades industriais em um processo de urbanização desordenado.

Para se ter ideia de como foi rápido esse processo, na Grã-Bretanha, até 1750, apenas nas cidades de Londres e Edimburgo havia mais de 50 mil habitantes. Em 1801, oito cidades ultrapassaram esse número e, em 1851, o mesmo ocorreu em outras 59.

Além disso, o aprimoramento dos meios de produção foi acompanhado pela transformação dos outros processos que envolviam a indústria têxtil, como o de lavagem, preparação das mechas e acabamento dos tecidos. Inicialmente, os tecidos eram alvejados em grandes terrenos ao ar livre. Depois, isso passou a ser feito com produtos químicos, como o ácido sulfúrico e, a partir de 1720, o cloro.

A utilização crescente desses produtos e o descarte de seus resíduos nos rios aumentaram a poluição da água, causando profundo desequilíbrio ambiental e tornando as regiões fabris insalubres.

A poluição dos rios britânicos aumentou tanto com a Revolução Industrial e o processo de urbanização que, em 1874, em um naufrágio no Rio Tâmisa morreram sessenta pessoas, não por afogamento, mas por contaminação. Desde o início do século dezenove, o rio foi usado como uma das principais rotas comerciais da região, e sua poluição foi constante a partir de então.

Fotografia. Vista aérea de um rio largo e sinuoso cortando uma cidade. Uma grande ponte com duas torres no leito do rio une as margens direita e esquerda, interligando a cidade. Navegam nele diversas embarcações de tamanhos variados. Do lado direito e esquerdo, às margens do rio, e ao fundo, diversas construções de altura, formato e cores variados. No alto, céu azul sem nuvens.
Vista aérea do Rio Tâmisa, em Londres, Reino Unido. Foto de 2019.
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Em 1957, os especialistas consideraram o Rio Tâmisa biologicamente morto. Os trabalhos para despoluí-lo foram iniciados na segunda metade da década de 1960 e ainda não terminaram. Graças a esse processo de despoluição, alguns peixes e outros animais aquáticos voltaram a aparecer no rio.

O ludismo

Com o aumento do uso de máquinas e a automação dos processos de produção, muitos operários ficaram com medo de perder o emprego. Em razão disso, promoveram revoltas e destruição dos maquinários.

Você sabia que a palavra sabotagem tem origem nesse período? Ela deriva da palavra francesa sabot, que significa “tamanco”, um tipo de sapato que era atirado pelos operários nas máquinas para danificá-las e comprometer a produção.

Esses protestos, que ocorreram na Grã-Bretanha, na França, na Bélgica e em outros locais, foram meios utilizados pelos operários para lutar por melhores condições de trabalho, diante de uma situação de intensa exploração e de péssima qualidade de vida nas cidades. No início, o movimento era principalmente de resistência e protesto.

No século dezoito, muitos operários passaram a encarar as máquinas como causadoras dos males que o mundo industrial lhes trazia. Assim, grupos de trabalhadores se reuniam com o objetivo de destruí-las; por isso, ficaram conhecidos como quebradores de máquinas.

Com o objetivo de conter esse movimento, que ganhou fôrça sobretudo a partir da segunda metade do século dezoito, o governo britânico promulgou, em 1769, uma lei que determinava a pena de morte para os destruidores de máquinas e fábricas.

Apesar dessa primeira proibição, protestos foram realizados no Condado de Nottingham, onde os patrões foram acusados de reduzir o salário dos operários para baratear seus produtos. Os operários, então, solicitaram o fim do uso das máquinas no processo de produção e o restabelecimento de seus antigos pagamentos. A fim de conquistar esses direitos, promoveram violentos protestos, nos quais destruíram parte das máquinas e fábricas de Nottingham.

A estratégia era reunir-se em grupos de aproximadamente cinquenta pessoas e invadir de modo rápido uma aldeia após a outra, destruindo os teares que encontrassem pelo caminho.

Gravura em preto e branco. Um homem com semblante enfurecido, visto de perfil, segura uma marreta nas mãos e empurra pedaços de madeira e um tear com o pé esquerdo. Ao fundo e à esquerda, a inscrição 'Ludd Nedd'. Diversos elementos complementam a gravura: pedaços de madeira, arames, hastes verticais e horizontais, trechos de muros com tijolos etc.
Representação de néd lúd destruindo um tear em gravura de béla uítis, 1923.
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Mesmo com a promulgação da lei de 1769, o movimento não foi extinto e alcançou o auge por volta de 1812. Nesse período, já era conhecido como ludismo, em homenagem a néd lúd, personagem que foi apontado como o líder dos operários e que teria destruído a marretadas as máquinas da oficina em que trabalhou.

Reação governamental aos protestos

Os ludistas iam passando de aldeia em aldeia e se spalharam por outras regiões, chegando a Yorkshire, onde atacaram a tecelagem de Uilian cártráit, além de alcançar Liversedge, onde assassinaram o industrial Uilian , em 1812.

O Parlamento britânico considerou o movimento dos ludistas uma organização militar e enviou tropas para lutar contra eles. Em janeiro de 1813, ordenou a execução por enforcamento de dezessete pessoas em iórque. A ação conteve o movimento, mas não o destruiu.

Em 1830 foi promulgada a Nova Lei dos Pobres. O objetivo do governo era prestar assistência social aos mais pobres, garantindo-lhes roupas, alimentação e alojamento em asilos. No entanto, em troca dessa assistência, as pessoas em situação de pobreza eram obrigadas a trabalhar exaustivamente várias horas por dia.

O descontentamento dos operários aumentou ainda mais em 1832, quando foi realizada uma reforma no Parlamento britânico, que dedidiu manter o sufrágio censitário. Isso significava que o direito ao voto era determinado por critérios econômicos e de renda, o que excluía os operários da vida política institucional.

Logo depois, em 1836, uma grave crise econômica atingiu o Reino Unido, aumentado ainda mais a miséria dos trabalhadores.

Cartaz. Na parte de cima o título, em letras garrafais. Abaixo ilustração de pessoas marretando um objeto à esquerda, outros reunidos no chão à direita, e alguns brigando. Ao fundo pessoas penduradas.
Denúncia da situação dos operários em cartaz britânico de 1834. Na parte superior da imagem, está escrito: “A Nova Lei dos Pobres com a descrição das novas casas de trabalho. Olhe a imagem – veja”.
Gravura em preto e branco. Em primeiro plano, no canto inferior direito, pessoas com bastões e ferramentas nas mãos passam por uma vegetação alta. Atrás deles, dois homens observam casebres, de onde saem chamas claras que se erguem em direção ao céu. Ao fundo, outras casas.
Gravura de cêrca de 1890 representando o ataque de trabalhadores a uma fazenda em Kentish, no Reino Unido, para destruir o maquinário agrícola.
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Os operários denunciavam as péssimas condições de trabalho e os castigos corporais aos quais eram submetidos em cartazes como o reproduzido nesta página, que também era uma crítica à Nova Lei dos Pobres.

No campo, com a aceleração do processo de cercamentos, somada às péssimas condições de vida e trabalho, diversos trabalhadores atacaram fazendas e propriedades agrícolas vinculadas à indústria têxtil. O ataque ilustrado na imagem de 1890 foi direcionado às máquinas de triturar. Camponeses viam nessas máquinas uma ameaça à garantia de seu trabalho.

O cartismo

Em 1838, os trabalhadores de Londres enviaram ao Parlamento a Carta do Povo, um documento no qual reivindicavam o direito ao voto para todos os homens maiores de 21 anos, assim como o voto secreto, entre outras demandas.

O movimento em defesa dessa carta ficou conhecido como cartismo. Por visar à representação política dos trabalhadores, ele pode ser entendido como um amadurecimento do movimento operário europeu.

Apesar de haver recebido mais de um milhão de assinaturas, a reforma parlamentar proposta na Carta do Povo foi negada pelo Parlamento britânico. Por isso, em 1842 os operários organizaram outra petição, dessa vez assinada por 3 milhões de pessoas.

Na petição cartista de 1842, os operários reivindicaram a diminuição da jornada de trabalho, a proibição do trabalho infantil e a regulamentação do trabalho feminino, entre outras demandas. Como tais reivindicações também não foram atendidas, eles realizaram uma grande manifestação em 1848.

Com o aumento da repressão por parte do governo, o cartismo perdeu fôrça e os operários se organizaram de outras maneiras. Apesar de não avançar na conquista institucional dos direitos dos trabalhadores, o cartismo foi muito importante. Por mais de vinte anos, o movimento reuniu milhões de trabalhadores britânicos na luta por uma causa, incentivando-os a se identificar como uma classe com os mesmos interesses e problemas.

Aos poucos, ao longo do século dezenove e no início do século vinte, o movimento operário conquistou vários direitos.

Fotografia. Multidão reunida em frente a uma grande construção horizontal, similar a uma fábrica, com uma chaminé alta, à esquerda. À direta, outra construção de três pavimentos, com diversas janelas, de paredes de cor branca e telhados em formato triangular. Alguns dos manifestantes carregam cartazes. No centro da foto, uma plataforma sobre a qual há outras pessoas. No alto, céu azul sem nuvens.
Multidão em manifestação cartista, na cidade de Londres, Reino Unido. Foto de 1848.
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A expressiva ação do cartismo foi liderada principalmente por Uilian e férgus ôu cónor. A reunião de trabalhadores na região de Kennington Common, em Londres, registrada na foto, foi convocada por ôu cónor para apresentar uma petição ao Parlamento.

Analisando o passado

Analise a seguir duas charges sobre o cartismo, publicadas em 1848 pela Punch, revista especializada em sátiras e análise de assuntos do cotidiano por meio do humor. A Punch foi veiculada no Reino Unido de 1841 a 1992, sendo reativada em 1996 e, em 2002, encerrou suas atividades. Reflita sobre essas imagens, produzidas no século dezenove, para responder às perguntas que seguem.

CHARGE 1

Charge em preto e branco. À esquerda, um homem de cabelo curto e cacheado, vestindo calça comprida e colete escuro sobre uma camisa clara. Ele carrega com as duas mãos um papel grande e enrolado, onde se lê, em inglês, 'A Carta'. Ele está diante de um homem representado em menor tamanho e magro, vestindo calça e casaca escuras, com camisa de gola branca e gravata.
Charge publicada na revista Punch, em 1848. Abaixo da ilustração, está escrito: “Operário cartista: Não é tão impossível, certo? Membro do Parlamento: Minha mulher diz que espera que você não convoque uma reunião com seus credores...”.

CHARGE 2

Charge em preto e branco. À esquerda, mulheres usando vestidos longos, alguns em branco e outros em preto, estão em uma passeata, fugindo de ratos que homens de cartola e casaca, à direita, soltaram sobre elas.
Como tratar mulheres cartistas, charge publicada na revista Punch, em 1848.

Responda no caderno.

  1. Na primeira charge é representado um operário do movimento cartista entregando a Carta do Povo a um membro do Parlamento. De que modo esse operário e a carta estão representados? Em sua opinião, o que isso simboliza?
  2. Na segunda charge, de que modo as mulheres são representadas? Qual é o simbolismo por trás disso?
  3. Considerando que as duas charges abordam a luta do movimento cartista, que opinião elas transmitem sobre a capacidade das mulheres e dos homens de lutar por seus direitos? Você acha que ainda existem pessoas com essa opinião?

Vida, cotidiano e trabalho durante a Revolução Industrial

A Revolução Industrial modificou completamente a vida da maioria das pessoas pobres, que passou a enfrentar duras condições de trabalho nas fábricas. Não havia salário mínimo, jornada de trabalho máxima, descanso semanal, férias nem outros direitos trabalhistas.

As jornadas de trabalho eram cansativas e podiam se estender de dez a dezoito horas por dia. Como havia muitos desempregados, os operários se submetiam a salários baixíssimos e a condições que geravam lesões graves, como as causadas por esforço repetitivo, e acidentes, que podiam levar à morte. Em caso de acidente ou doença, os trabalhadores não recebiam auxílio.

Para aumentar o lucro, os donos dos meios de produção lotavam as fábricas com máquinas e trabalhadores. Esses locais eram abafados, sujos e úmidos. Para piorar, o ar era poluído pela fumaça das máquinas e cheio de fiapos que se soltavam nos processos de tecelagem, causando doenças respiratórias.

Com a industrialização, a maioria dos operários passou a viver em bairros próximos às fábricas. Esses bairros eram caracterizados pela pobreza e por ruas estreitas e mal iluminadas. As casas eram precárias e pequenas. Diversos homens, mulheres e crianças tinham de dormir no mesmo cômodo. Os banheiros eram fossas que ficavam a céu aberto, pois não havia rede de esgoto. Diante dessas péssimas condições de vida, era comum a disseminação de doenças, como a tuberculose e a cólera.

Ilustração. Vista de cima a diagonal de uma rua onde há pessoas sentadas e transeuntes. No canto esquerdo da ilustração, os fundos das casas operárias, com quintal aberto. Algumas pessoas penduram lençóis no varal. No canto direito, à frente das casas, algumas estão com a porta aberta. Os cômodos estão iluminados com uma luz amarelada. As casas são feitas de tijolos, padronizadas e geminadas. Elas têm dois andares e uma torre com duas chaminés. Ao fundo, grandes chaminés de uma fábrica. O céu está encoberto por uma névoa preta.
Ilustração atual inspirada na gravura do francês gustáv dorrê representando uma vila operária de Londres, produzida em 1872.
O trabalho de mulheres e crianças

A maior parte dos patrões evitava empregar homens adultos, pois o contrato deles podia ser mediado por guildas ou corporações. Não havia, porém, leis que regulamentassem a contratação de mulheres e crianças, que podiam trabalhar nas fábricas e receber menos. Por isso, elas eram maioria.

Estima-se que, em 1839, quase a metade dos trabalhadores das fábricas britânicas tinha menos de 18 anos. As mulheres compunham 56,25% dos operários nas fábricas de algodão, 69,5% nas fábricas de lã e 70,5% nas fábricas de seda e de fiação de linho.

Mulheres grávidas podiam ser dispensadas sem ressarcimento. As que não eram demitidas tinham de voltar para as fábricas três ou quatro dias depois do parto. Os bebês ficavam em casa e era comum dar-lhes narcóticosglossário , como o láudano, para acalmá-los, o que causava a diminuição do ritmo cardíaco e podia levar à morte.

Por volta dos 9 anos, as crianças já podiam ser enviadas para as fábricas, onde chegavam a trabalhar dezesseis horas por dia. Por causa de seu tamanho, trabalhavam em locais pequenos e realizavam tarefas que seriam difíceis para os adultos, como recolher os carretéis de fios que caíam entre as máquinas. Como não havia nenhum tipo de proteção, era comum elas se ferirem no maquinário e até terem partes do corpo amputadas.

Fotografia. Multidão em uma manifestação. Há crianças e adultos vestindo camisetas com cores padronizadas, formando faixas de cor ao longo da via que recebe a manifestação: branco, azul, vermelho e, algumas pessoas, vestem amarelo. Eles carregam cartazes; em dois deles, é possível ler: 'MARCHA POR UM BRASIL SEM TRABALHO INFANTIL'.
Manifestação contra o trabalho infantil em Belém (Pará). Foto de 2020.
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O Dia Nacional e Mundial de Combate ao Trabalho Infantil é comemorado em 12 de junho. Todos os anos, nesse dia, são realizados eventos para dar visibilidade ao tema e propor um debate sobre a violação e a defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, pois a exploração do trabalho infantil ainda ocorre em várias partes do mundo.

Dica

FILME

As aventuras de óliver tuíste Direção: tôni bíl. Estados Unidos, 1997. Duração: 91 minutos.

O filme é baseado no romance homônimo de chárles díquens, escrita de As aventuras de Óliver que abordou em suas obras os dramas da vida cotidiana dos pobres. Essa adaptação cinematográfica apresenta a história do jovem Oliver e sua vida nas ruas da Londres do século dezenove.

A mudança na relação com a natureza

Antes da Revolução Industrial, as pessoas tinham uma relação mais equilibrada com a natureza. Depois, a sociedade ocidental passou a enxergar o planeta como fonte de recursos a ser domada pela inteligência humana e pelo maquinário. A água, por exemplo, passou a ser vista como algo que podia ser transformado em energia por meio do vapor. Além disso, como você estudou, o crescimento urbano e industrial aconteceu sem planejamento nem preocupação com o meio ambiente.

O afastamento da natureza também se manifestou na mudança da percepção que as pessoas tinham sobre o tempo. Antes, a passagem do tempo era percebida de maneira cíclica e as tarefas eram relacionadas às condições da natureza. Com a Revolução Industrial, passou a ser definida pelo patrão e não estava mais relacionada às estações do ano ou ao nascer e ao pôr do sol, pois as fábricas funcionavam também no período noturno.

Na sociedade industrial, o tempo passou a ser valorizado e medido como um recurso para controlar a produção nas fábricas e calcular a remuneração dos trabalhadores.

Essa mudança da relação com o tempo envolveu, por exemplo, a criação de instrumentos de medição para disciplinar os operários, como os relógios de ponto, que controlavam os horários de chegada e saída dos trabalhadores nas fábricas. Os relógios públicos já eram construídos na Europa desde o século catorze, mas com a industrialização se tornaram populares os relógios portáteis. Com eles, cada indíviduo podia controlar o próprio tempo.

Fotografia. Vista de um local fechado, comprido e de paredes brancas. Funcionários diante de uma esteira rolante, típicas das linhas de produção industriais. Eles usam capacete vermelho, máscara de proteção, macacão azul e luvas. A esteira conduz peças de produtos eletrônicos. No canto inferior direito da fotografia, um saco grande com muitas peças de produtos eletrônicos.
Funcionários de fábrica de produtos eletrônicos em Gizé, no Egito, examinando materiais que podem ser destinados à reciclagem. Foto de 2021.
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O crescimento urbano e industrial e o consumo descontrolado são problemas que começaram no século dezoito, com a Revolução Industrial, mas persistem até os dias de hoje. Em 2020, a Organização das Nações Unidas (ônu) publicou um relatório de acordo com o qual, em todo o mundo, são produzidos 53 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano. Estima-se que até 2050 serão produzidos 120 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Relacione a Revolução Industrial à declaração da morte biológica do Rio Tâmisa, em Londres, em 1957.
  2. Identifique as principais características dos movimentos operários ludista e cartista.
  3. De que fórma a modernização dos processos de produção, da implementação das manufaturas à formação das indústrias, afetou a vida dos trabalhadores?

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Analise o mapa mental da Revolução Industrial. No caderno, relacione os fatos e personagens do quadro a seguir aos títulos desse mapa.

  • Capital acumulado.
  • Grande quantidade de mão de obra disponível.
  • Poluição ambiental.
  • Quebradores de máquinas.
  • Sentimento de união entre os trabalhadores.
  • Teares mecânicos.
  • Trens e estradas de ferro.
  • Trabalho não regulamentado.
  • Trabalho infantil.
  • Vapor pela queima do carvão.
Mapa mental. Ao centro, uma engrenagem em laranja com a expressão 'Revolução Industrial'. Ao redor dela, diversas ilustrações em tons de azul com palavras a elas associadas. Em sentido horário, temos, à direita, a expressão: 'Vida dos operários', próxima à ilustração de uma mulher e de uma criança. À esquerda delas, a expressão: 'Fonte de energia', próxima à ilustração de um pequeno vagão contendo carvão e uma pá ao lado dele. Abaixo, a expressão: 'Avanços tecnológicos', próxima a uma máquina sobre duas rodas que solta uma fumaça por uma chaminé. À esquerda, a palavra: 'Urbanização', vinculada a uma série de construções geminadas de dois pavimentos com chaminés no telhado. À esquerda dela, ilustração de uma fábrica com duas chaminés e um operário, que tem uma marreta em mãos, com os braços para cima, prestes a desferir um golpe. Próxima a essas ilustrações, a expressão: 'Movimento operário - ludismo e cartismo'. Acima, ilustração do mapa do Reino Unido e, ao lado dela, a expressão 'Pioneirismo inglês'.
  1. Analise as informações a seguir. No caderno, identifique as alternativas que apresentam características da Revolução Industrial.
    1. Produção artesanal.
    2. Produção em baixa escala.
    3. Automação de algumas etapas da produção.
    4. Grande quantidade de assalariados e fábricas.

Aprofundando

3. Leia o texto a seguir, sobre a sociedade britânica do século dezoito, e faça o que se pede.

“A família era a base reticências de todas as moças pertencentes à classe média e à aristocracia daquela época; por isso, era de se esperar que os pais as deixassem certa quantia [de dinheiro] após sua morte ou que os irmãos ficassem com a responsabilidade de ajudá-las, caso não se casassem. A herança e bens materiais eram transmitidos sempre ao filho primogênito ou parente mais próximo do sexo masculino, impedindo assim que as filhas recebessem a herança. Na verdade, esse era o sistema legal da época, criado para que a fortuna ficasse sempre em nome da família por várias gerações, e para que não fosse partilhada, caso o pai decidisse dividir as terras e bens entre todos os filhos, incluindo filhas.

As leis inglesas da época colocavam a mulher em uma situação muito delicada. O direito de propriedade e o contrôle do dinheiro eram exclusivos dos maridos. Somente após o The Married Woman’s Property Act, de 1870, é que as mulheres conquistam o direito de herdarem rendimentos e propriedades após o casamento reticências.

O Matrimonial Causes Act, de 1857, dava ao homem o direito de se divorciar, caso a mulher lhe fosse infiel. Porém, se uma mulher pedisse o divórcio por infidelidade do marido, esta perderia a guarda dos filhos e ficava proibida de vê-los. reticências Somente em 1891 reticências as mulheres conquistaram o direito do divórcio, sem restrições aos filhos.”

ZARDINI, A. S. O universo feminino nas obras de Djêine Óstin. Em Tese, Belo Horizonte, volume 17, número 2, página158-164, 2011. 

  1. Segundo a autora do texto, por que a herança familiar ficava sempre com o filho primogênito ou outro homem da família?
  2. Como o Married Woman’s Property Act, de 1870, mudou essa situação?
  3. Compare a situação das mulheres descrita nesse texto com a das trabalhadoras das fábricas, que você estudou no capítulo, e aponte as principais diferenças e semelhanças entre elas.

4. ()

“Na Europa, até o século dezoito, o passado era o modelo para o presente e para o futuro. O velho representava a sabedoria, não apenas em termos de uma longa experiência, mas também da memória de como eram as coisas, como eram feitas e, portanto, de como deveriam ser feitas. Atualmente, a experiência acumulada não é mais considerada tão relevante. Desde o início da Revolução Industrial, a novidade trazida por cada geração é muito mais marcante do que sua semelhança com o que havia antes.”

Adaptado de Eric róbisbáum, O que a história tem a dizer-nos sobre a sociedade contemporânea? em: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, página 37-38.

  1. Segundo o texto, como a Revolução Industrial transformou nossa atitude em relação ao passado?
  2. De que maneiras a Revolução Industrial dos séculos dezoito e dezenove alterou o sistema de produção?
  1. Debata com os colegas as questões a seguir.
    1. O desenvolvimento tecnológico e a industrialização causaram mudanças positivas ou negativas à vida dos seres humanos? Expliquem.
    2. Na opinião de vocês, o século vinte e um já superou os problemas apresentados na alternativa anterior? Justifiquem a resposta.
  2. Leia a seguir três trechos do Estatuto da Criança e do Adolescente (éca), uma lei de 1990 criada para proteger juridicamente as crianças e os adolescentes.

Artigo 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho reticências

Artigo 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. reticências 

Artigo 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.”

BRASIL. Lei nº 8 069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF, 13 julho 1990. Disponível em: https://oeds.link/fGd074. Acesso em: 18 fevereiro 2022.

Com base nesses artigos do éca, produza uma dissertação argumentativa comparando os direitos das crianças e dos adolescentes na época da Revolução Industrial aos que eles têm hoje, no Brasil. Caso queira utilizar outras informações para a comparação, pesquise dados e estatísticas sobre o trabalho infantil na atualidade. Você pode encerrar o texto com propostas para solucionar esse problema.

Glossário

Meio de produção
: utensílio, ferramenta ou qualquer outro instrumento utilizado no processo de produção de determinada mercadoria.
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Patentear
: registrar legalmente uma invenção de utilidade pública.
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Seriado
: em série, seguindo a lógica da linha de montagem, em que diversos trabalhadores operam máquinas com funções específicas.
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Retroalimentar-se
: alimentar um ao outro.
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Narcótico
: nesse caso, substância que causa sonolência e reduz ou elimina a sensibilidade.
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