UNIDADE 2 A REVOLUÇÃO FRANCESA E A INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA IBÉRICA

A história e você: diversidade escolar e enfrentamento ao bullying

No primeiro capítulo desta unidade, você estudará a Revolução Francesa e seus desdobramentos. Durante o processo dessa revolução, que começou como uma revolta popular, a monarquia absolutista foi derrubada, e o governo da França se tornou republicano. Depois de se alastrar pela Europa, as ideias revolucionárias chegaram à América e inspiraram as rebeliões e as lutas por independência que serão estudadas nos capítulos seguintes.

A importância da Revolução Francesa para o mundo ocidental foi tão grande que ela é considerada o marco inicial da Idade Contemporânea. Diversos valores cultivados hoje em dia – como o respeito ao bem público, a liberdade individual, a igualdade de direitos e de oportunidades – foram defendidos pela primeira vez pelos revolucionários franceses.

Também foram eles que tiveram a ideia de criar uma escola pública, sem vínculo com religiões, gratuita e para ambos os sexos. Ao propor que as escolas acolhessem todos, independentemente de religião, camada social ou sexo, os revolucionários esperavam criar uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna. Esses valores orientam até hoje a educação pública!

Quanto mais democrática é a escola, mais diversos são os estudantes, com diferentes gostos, crenças, orientações sexuais, origens étnicas etcétera. Entretanto, a diversidade escolar nem sempre é valorizada. Prova disso é a ocorrência de bullyingglossário glossário entres os estudantes.

Segundo uma pesquisa divulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), cêrca de 43% dos jovens brasileiros alegaram ter sofrido algum tipo de bullying em 2013. Em muitos casos, as vítimas não denunciam seus agressores por medo ou vergonha.

Ilustração. Adolescente de cabelo claro, sentado com as pernas encolhidas e as mãos na cabeça. Ele tem um semblante triste. Está dentro de um círculo amarelo. Ao redor desse círculo, braços de pessoas com o dedo indicador apontando para o menino. Ao fundo, uma sala de aula.
Ilustração representando adolescente vítima de bullying. Crianças e adolescentes que sofrem esse tipo de agressão tendem a desenvolver depressão e a ter baixa autoestima. Além disso, o rendimento escolar deles pode ser prejudicado.

Para valorizar a diversidade escolar e incentivar o respeito e a solidariedade entre os estudantes, você e os colegas produzirão uma campanha de prevenção e combate ao bullying na escola. Siga estes passos.

Organizar

  • Reúna-se em grupo com até quatro colegas.
  • Elaborem um formulário com questões como as dos exemplos a seguir, para identificar os alvos, a ocorrência e a frequência da prática do bullying na escola. 
    • Você ou alguém que você conhece sofre bullying na escola?
    • De que fórma isso ocorre?
  • Façam vinte cópias do formulário.
  • No intervalo ou na saída da escola, entrevistem vinte estudantes (cinco de cada ano, do 6º ao 9º), exceto colegas de turma. Diga-lhes que eles não serão identificados.
  • Organizem as respostas contando o número de estudantes que responderam “sim” ou “não”.
  • Em sala de aula, analisem os dados das entrevistas realizadas para compreender como esse problema atinge a escola.

Produzir

  • Para a campanha, elaborem um slogan: uma frase fácil de memorizar que apresente, de maneira sintética, o posicionamento do grupo.
  • Produzam mensagens que incentivem a empatia e uma ou duas hashtags para combater a prática do bullying.
  • Com o slogan da campanha, as mensagens, as palavras-chave (hashtags), um ou mais dados da entrevista e uma orientação para evitar o bullying ou prestar auxílio aos estudantes que são vítimas dessa prática, produzam um texto que possa ser postado na internet.
  • Escolham uma imagem atraente para ilustrar a campanha.

Compartilhar

  • Se possível, divulguem as postagens e as hashtags na internet por meio das redes sociais. Vocês também podem imprimir o conteúdo da campanha e colá-lo em um local da escola.
  • Conversem com os colegas e o professor sobre a recepção da campanha pela comunidade escolar.
Ilustração. Quatro adolescentes segurando cartazes com hashtags. Ao fundo, ilustração do corredor de uma escola, com armários e plantas. O menino à esquerda segura um cartaz com as palavras: #diversidade #solidariedade #amizade. Ao lado dele, uma menina carrega outro cartaz com as palavras: #paz, #acolhimento, #diálogo. No centro, um menino cadeirante tem o cartaz com as palavras: #empataia, #autoestima, #inclusão. Por fim, à direita, uma menina carrega um cartaz com as palavras: #respeito, #cooperação, #amizade.
Ilustração representando a produção de cartazes com hashtags de combate ao bullying por adolescentes.

CAPÍTULO 4 A REVOLUÇÃO FRANCESA E O IMPÉRIO NAPOLEÔNICO

Se você tem o costume de navegar na internet, provavelmente já viu um même. Esse tipo de postagem pode conter uma imagem, uma frase ou até um vídeo que comunica, de maneira rápida, uma ideia de modo engraçado e, muitas vezes, com humor ácido. Um même pode até evocar o romance, como o reproduzido a seguir, em que a representação da Queda da Bastilha foi utilizada em uma declaração de amor.

Meme. Ao fundo da ilustração, um edifício grande de pedra em bege, de muro alto, de onde sai fumaça - trata-se da Bastilha. À frente e ao lado dela, outras construções em pedra, menores. Em primeiro plano, soldados e populares com armas em mãos (os soldados vestem traje militar em azul, chapéu preto e portam armas de fogo; os populares usam vestes de cores diversas e chapéus escuros, e tem em mãos foices, lanças e machados). Todos investem contra a Bastilha. O autor do meme escreveu, na parte de cima  e de baixo da ilustração: O QUE É QUEDA BASTILHA... PERTO DA QUEDA QUE TENHO POR VOCÊ?
même atual com uma ilustração produzida por máique uáite, no século vinte, que representa a queda da Bastilha, ocorrida em Paris, França, em 1789. Sobre a imagem, foram inseridas frases com o objetivo de sensibilizar a pessoa amada e também de causar humor.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A prisão da Bastilha, em Paris, era um dos principais marcos do poder absolutista. Ao ser derrubada, durante a Revolução Francesa, tornou-se um símbolo de luta contra a opressão.

Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Você se lembra de ter visto algum même que se tornou viral? Qual e quando?
  2. O que é possível deduzir sobre a sociedade atual com base na popularidade e na intensa produção de postagens com mêmes?
  3. Nesse même, a palavra queda é utilizada com dois signficados. De que modo esse termo associa o interesse amoroso ao evento representado na pintura?

A França do século XVIII

No início do século dezoito, a França era um Estado absolutista e havia se consolidado como potência europeia, mas passava por uma intensa crise econômica. Essa crise tinha várias causas, como dívidas, um sistema tributário ineficiente, gastos excessivos e problemas de abastecimento.

A situação foi agravada pelos diversos conflitos em que o país se envolveu entre os séculos dezessete e dezoito. Tanto na Guerra dos Sete Anos (ocorrida entre 1756 e 1763) quanto na Guerra de Independência das Trezes Colônias (que se estendeu de 1775 a 1783), ambos travados contra a Grã-Bretanha, a Coroa francesa teve de desembolsar valores altíssimos e endividar-se, acumulando um enorme déficit orçamentárioglossário .

A economia e a sociedade francesas

Em 1788 e 1789, uma grave crise climática afetou o país: as temperaturas caíram muito, diminuindo drasticamente a produção de alimentos no campo. Assim como no restante da Europa, na França a economia tinha base agrária, que foi fortemente abalada pela crise. O preço do trigo e do pão disparou, e a população mais pobre chegou a passar fome.

Naquela época, viviam na França aproximadamente 25 milhões de pessoas, divididas em três estamentos, denominados estados, que eram as camadas sociais determinadas pelo nascimento.

O primeiro estado era formado pelo clero, que vivia das rendas das propriedades da Igreja, do dízimo e das doações dos fiéis, e compunha 0,5% da população.

O segundo estado era composto dos integrantes da nobreza (a família real e a côrte), que representavam 1,5% da população. Eles eram os proprietários de terras usadas para explorar o trabalho dos camponeses por meio do regime de servidão.

O terceiro estado concentrava 98% da população francesa. Englobava os camponeses (que viviam do trabalho na terra), a burguesia (formada pelos profissionais liberais, artesãos, comerciantes, banqueiros etcétera) e os sans-culottes (nome dado aos pequenos proprietários, trabalhadores e aprendizes). Sobre esse estado pesava a maioria dos impostos, pois o clero e a nobreza tinham diversos privilégios e isenções tributáriasglossário .

Assim, em anos de crise de produção no campo, o peso das obrigações era tão alto que um camponês ficava com muito pouco do que produzia. Os privilégios conferidos ao clero e à nobreza aumentavam a desigualdade entre as diferentes parcelas da sociedade.

Diante dessa situação, os integrantes do terceiro estado reivindicavam reformas para solucionar os graves problemas sociais e econômicos do reino. A imensa desigualdade entre a vida na côrte e a do francês comum aumentava o descontentamento da maioria da população, pois os gastos com palácios, festas e confecção de roupas e joias luxuosas comprometiam boa parte do orçamento do governo.

Gravura. Um homem de cabelo escuro sentado sobre um caixote. Ele veste um casaco verde, uma camisa branca e calça azul, meias brancas e sapato marrom. É possível ver o seu joelho esquerdo, pois a meia comprida não se une adequadamente à calça. Ele usa uma touca vermelha sobre a cabeça e segura um sapato sobre as pernas. Ao redor dele, outros sapatos no chão. Ao lado dele, outra caixa, sobre a qual há algumas ferramentas.
Representação de um sans-culotte, gravura de 1794.
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Imagens em contexto!

O personagem representado na gravura usa um barrete frígio, uma espécie de touca vermelha que se tornou, posteriormente, um dos símbolos dos revolucionários franceses.

Enfrentamento ao déficit orçamentário

Os problemas com o déficit orçamentário foram enfrentados por Luís dezesseis, que assumiu o trono francês em 1774. Com o objetivo de resolver o problema, ele nomeou diversos ministros das finanças, que realizaram diferentes reformas, mas não conseguiram alcançar os resultados esperados.

Diante dessa situação, foi convocada, em 1787, a Assembleia dos Notáveis. Nessa reunião, o então ministro das finanças propôs aos nobres que renunciassem a alguns privilégios para aumentar a renda da Coroa como uma tentativa de superar a crise, mas eles não concordaram. Alguns anos depois o monarca convocou a Assembleia dos Estados Gerais. Nela se reuniram integrantes dos três estamentos com o objetivo de encontrar outra solução para a crise.

A Assembleia dos Estados Gerais

A Assembleia dos Estados Gerais se reuniu em maio de 1789. Ela funcionava da seguinte maneira: cada estado elegia os deputados que iriam representá-lo na Assembleia. Depois, quando os temas eram debatidos, cada estado tinha direito a um voto. Com essa estrutura, a nobreza e o clero sempre se uniam para manter seus privilégios contra o terceiro estado.

Os membros do terceiro estado, que eram representados principalmente pela burguesia, conseguiram aprovar a duplicação do número de seus deputados na Assembleia. Para isso, eles tiveram apoio da maioria da população, que estava revoltada e faminta. Assim, o número de representantes do clero e da nobreza, somados, foi igualado ao dos representantes do terceiro estado. Então, os deputados do terceiro estado exigiram que os votos fossem contados por pessoa, e não mais por grupo social.

Fotografia. Vista de baixo para cima de um amplo salão, com assoalho em bege e branco e grandes janelas em arco à direita. As paredes estão cheias de ornamentos em dourado, e há lustres de cristal. À esquerda, há grandes espelhos com o topo em forma de arco. O teto curvo tem pinturas. Há algumas pessoas nesse salão.
Galeria dos Espelhos no Palácio de Versalhes, em Versalhes, França. Foto de 2018.
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A Galeria dos Espelhos é um dos símbolos da ostentação da nobreza francesa durante o chamado Antigo Regime. A diferença entre a vida dos nobres e a da maioria da população francesa gerava várias críticas. Na época da eleição para deputados da Assembleia dos Estados Gerais, por exemplo, a produção de panfletos com críticas ao governo e ao sistema de privilégios era contínua. Como grande parte do povo era iletrada, esses panfletos continham charges que, geralmente, representavam o terceiro estado como uma pessoa carregando às costas membros da nobreza e do clero.

O Juramento do Jogo da péla

A Assembleia se reuniu no dia 6 de maio no Palácio de Versalhes. Na ocasião, a nobreza e o clero se juntaram para decidir que os votos não seriam contados por pessoa, mas do modo como acontecia antes: apenas um voto por estado.

Diante das votações que não favoreciam o terceiro estado e da pressão que seus deputados faziam, decidiu-se fechar a porta do salão onde eles estavam, proibindo a entrada de outras pessoas. Naquele momento, os representantes do terceiro estado retiraram-se e ocuparam uma quadra de péla, um jogo muito popular nas côrtes da época, considerado um dos antepassados do tênis. Nesse local, no dia 20 de junho de 1789, eles se declararam unidos em Assembleia Nacional e jura- ram que não descansariam enquanto não redigissem uma Constituição para o país. O episódio ficou conhecido como Juramento do Jogo da péla.

Nem todos os representantes do terceiro estado estavam convencidos de que a Assembleia Nacional era um movimento correto e tinham medo das consequências disso. Alguns membros do clero e da nobreza, por sua vez, juntaram-se aos revoltosos. Um deles foi o abade Emanuél Joséf Sieiés, escritor do panfleto O que é o terceiro estado?, que circulava naquele período histórico. Nele, Siés declarou que aquele estado era uma nação completa, e não precisava do primeiro e do segundo estados.

Pintura. Pessoas reunidas em um grande salão de paredes altas em cinza escuro com janelas apenas no alto, com cortinas beges e esvoaçantes pela ação do vento que entra pelas janelas. Há pessoas debruçadas na janela, observando a cena central. Nessa parte central, um homem de calça e casaca preta, está em pé sobre uma mesa e se destaca na multidão. Ele segura um papel com a mão esquerda, tem o braço direito erguido e a mão espalmada. Ao redor dele, centenas de pessoas o saúdam, erguendo um dos braços em direção a ele. À frente desse homem em destaque, um homem abraça outros dois, que conversam e estão frente a frente. À direita e à esquerda deles, algumas pessoas estão sentadas, outras estão em pé. Ao fundo, diversas pessoas, algumas com as mãos erguidas.
Juramento do Jogo da péla, pintura de jác lui daví, século dezoito.
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A pintura de jác lui daví é uma alegoria do que se prometia com a Constituição. Foram representados nobres e membros do clero, católicos e protestantes, mostrando a união, inclusive religiosa, que se pretendia. A maioria dos personagens, porém, era do terceiro estado. O advogado maquissimiliâ de Rubespiér, figura importante para a revolução, foi representado de braços abertos, à esquerda, olhando o povo nas janelas. À esquerda, na parte de baixo, um sans-culotte com barrete frígio, foi representado ajudando um idoso para simbolizar a união da antiga França com a esperança diante daquilo que se prometia.

A Assembleia Nacional Constituinte

Como a adesão à Assembleia Nacional organizada pelo terceiro estado continuava a crescer, o rei Luís dezesseis ordenou que os representantes dos outros estados se juntassem a ela. Isso ocorreu em 9 de julho de 1789, quando teve início a Assembleia Nacional Constituinte.

No entanto, apesar de declarar que aceitaria governar a França respeitando uma Constituição e que acabaria com os privilégios dos estamentos, Luís dezesseis armou uma contrarrevolução para dissolver a Assembleia. A notícia se espalhou rapidamente por Paris e a população revoltou-se.

O início da revolução

Nos dias 13 e 14 de julho de 1789, ocorreram em Paris vários conflitos, que ficaram conhecidos como Jornadas de Julho. O movimento chegou ao auge no dia 14, com o ataque à prisão política da Bastilha, um dos principais símbolos do autoritarismo e da violência do governo absolutista francês.

Quando invadiram a Bastilha, os revoltosos libertaram os poucos presos que estavam no prédio. Além disso, pegaram as armas que ficavam no local, pois a prisão também funcionava como arsenal, e as distribuíram à população. A Bastilha foi demolida pela multidão; por isso, o episódio ficou conhecido como Queda da Bastilha, tornando-se um dos principais símbolos de luta contra a opressão do Antigo Regime.

Pintura. Ao fundo, uma grande construção de pedra. À frente e ao lado dela, outras construções menores, com telhado em cinza. A rua está tomada de centenas de pessoas, algumas delas com trajes militares - casaco azul e calças brancas - e, outros, são populares. Eles carregam armas na vertical, principalmente lanças estreitas e espingardas. Há, também, dois canhões. Algumas pessoas estão caídas ao chão. Bem no meio da rua, um homem de vestes brancas é abordado por vários soldados. No céu, muita fumaça. Há fogo saindo de algumas janelas.
Queda da Bastilha e detenção do governador bernár renê dê loné, pintura do século dezoito.

As revoltas populares de Paris foram tão simbólicas que levaram a revolução da cidade para o campo. Em diversos movimentos, os camponeses saqueavam e destruíam os castelos, amedrontando os grandes proprietários, que fugiam. Por isso, esse período de convulsões sociais foi chamado Grande Medo.

Para acalmar os revoltosos e como uma tentativa de manter as propriedades de parte da aristocracia e de burgueses ricos, a Assembleia Nacional Constituinte aprovou o fim de vários privilégios da nobreza. Assim, a revolução camponesa enfraqueceu a estrutura social do feudalismo francês e a da monarquia.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Em agosto de 1789, os deputados da Assembleia decidiram escrever um preâmbulo para a Constituição Francesa que estava sendo elaborada: a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. De acordo com esse documento, eram direitos fundamentais de todos os cidadãos “a liberdade, a segurança e a resistência à opressão”.

Com a defesa da igualdade, formou-se o conceito de cidadania, que deveria ser protegida pelo Estado sem distinção entre os indivíduos. A defesa da igualdade, da liberdade, da segurança e da resistência à opressão, assim como a negação de privilégios de nascimento, eram inspiradas nas ideias iluministas.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Analisando o passado

marrí gúze foi uma ativista política que usou o pseudônimo de Olamp de Gúge para publicar a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Esse documento era baseado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas apresentava as dificuldades e os desafios que as mulheres enfrentavam na sociedade mesmo após a revolução. Gúge foi presa, condenada como contrarrevolucionária e morta na guilhotinaglossário em 1793. Leia a seguir trechos de sua declaração e, depois, faça as atividades propostas.

Artigo 2º – O objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis da mulher e do homem. Estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e, sobretudo, a resistência à opressão.

reticências

Artigo 4º – A liberdade e a justiça consistem em restituir tudo que pertence a outrem. Sendo assim, o exercício dos direitos naturais da mulher não tem outros limites senão a perpétua tirania que o homem lhe impõe; estes limites devem ser reformados pelas leis da natureza e da razão.

reticências

Artigo 6º reticências todas as cidadãs e todos os cidadãos, sendo iguais frente a ela [a lei], devem ser igualmente admitidos a todas as dignidades, postos e empregos públicos, de acordo com sua capacidade, e sem qualquer distinção a não ser por suas virtudes e seus talentos.

reticências

Artigo 10º – Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo que sejam de princípio; a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; mas ela deve igualmente ter o direito de subir à tribuna, contanto que suas manifestações não perturbem a ordem pública estabelecida pela lei.

Gúge, O. de. Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, 1791. Revista Internacional Interdisciplinar intertésis, Florianópolis, volume 4, número 1, janeiro/junho 2007. 

Tirinha em preto e branco em um quadro. Mulher de perfil, com o cabelo arrumado em um penteado volumoso no alto da cabeça e decorado com penas. Usa um vestido escuro com babados e um laço, na altura do colo. Ela tem um livreto nas mãos e lê, em voz alta: 'ARTIGO 1: A MULHER NASCE LIVRE E É IGUL AO HOMEM PERANTE A LEI.' 'AS DISTINÇÕES SOCIAIS SÓ PODEM FUNDAR-SE NA UTILIDADE COMUM.'
Representação de Olamp de Gúge, tirinha do livro Olamp de Gúge, de catél millêr e josê luí bôquê, 2014.

Responda no caderno.

  1. Identifique na declaração de Gúge:
    1. a defesa dos princípios iluministas de igualdade e liberdade;
    2. a negação de privilégios de nascimento.
  2. De acordo com Gúge, que direitos deveriam ser garantidos às mulheres? Explique de que modo eles seriam alcançados.

A Constituição Francesa de 1791

A Constituição terminou de ser redigida em 1791. De acordo com esse documento, o poder deixaria de ser concentrado no monarca e o Estado seria organizado em três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. Além disso, a escolha dos representantes e dos governantes passaria a ser feita por meio de eleições.

O voto seria censitário e masculino, ou seja, apenas os homens que possuíam determinada renda poderiam votar. Com o passar do tempo, os critérios para a votação foram revistos e estendidos para quase todos os homens, incluindo os escravizados. Assim como no resto do mundo, o processo da conquista de direitos pelos negros foi muito difícil. Na França, havia o receio de que a concessão de direitos aos negros livres incentivasse a revolta dos escravizados.

Em 1791, por meio de um decreto, foram concedidos direitos políticos aos negros livres que fossem filhos de pessoas livres. Em 1792, diante da situação caótica na colônia francesa de São Domingos, onde os escravizados se revoltaram, esse decreto foi ampliado com o objetivo de convencer os negros livres a se juntar às tropas francesas e combater os revoltosos.

Gravura. Busto de um homem negro de perfil. Ele usa um gorro vermelho e uma túnica azulada sobre o ombro, que pende sobre o torso.
Eu também sou livre, gravura de luí , século dezoito.
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A representação de um homem negro livre utilizando o barrete frígio revela que sua liberdade foi concedida pela república e pelos ideais revolucionários.

Gravura. À esquerda, um homem de calça azul, camisa vermelha de mangas curtas e chapéu em preto. Ele está em pé e voltado para a direita. Sobre sua cabeça, está escrito: número 1. Com as mãos e os braços erguidos à frente, ele segura o cabo de uma pá. Diante dele, um homem de peruca branca, casaca em azul com detalhes em dourado, camisa e calça em laranja, meias longas em branco e sapato preto, está voltado para a esquerda. Ele está em pé, tem o braço direito estendido, e segura uma pequena seta voltada para o chão próxima à haste da pá. Sobre a sua cabeça, o número 3. Um cachorro bege morde a sua casaca. Atrás dele, um homem de peruca branca, casaca laranja, blusa em bege, faixa azul em diagonal no torso, calça branca, meias compridas brancas e sapato preto, também está em pé. Ele tem o braço direito estendido em direção à pá, e segura uma folha de papel. Atrás desses dois homens, um tecido verde. Atrás deles, à direita da gravura, um homem de chapéu preto, cabelos escuros até os ombros, casaco verde de mangas compridas, calça vermelha, meias compridas brancas e sapato preto está de braços cruzados e sentado sobre um objeto cilíndrico similar a um tronco de madeira. Ele observa a cena. Sobre a cabeça dele, o número 2.
Cidadãos ativos e cidadãos passivos, gravura de 1791.
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Para impedir que os pobres participassem da vida política, na primeira versão da Constituição Francesa de 1791, declarava-se que todos os indivíduos eram cidadãos, mas havia distinção entre cidadãos ativos e passivos. Os ativos eram os homens que pagavam impostos e possuíam propriedades e, por isso, tinham direitos políticos. Os que não se encaixavam nessa categoria foram classificados como cidadãos passivos, sem direitos políticos. A gravura satiriza essa distinção, dando a entender que os cidadãos passivos não tinham direitos políticos, mas eram os únicos que trabalhavam.

O direito de voto foi concedido aos escravizados no contexto da Independência do Haiti (que você estudará no capítulo 6). Em 1792, um grupo de escravizados liderou uma revolta e garantiu o fim da escravidão na ilha. Com isso, em 1794 os deputados da Assembleia foram obrigados a votar pela abolição da escravidão em todas as colônias francesas. Além disso, decretaram que todos os homens que residiam nas colônias eram cidadãos franceses e tinham direitos assegurados pela Constituição.

As mulheres, no entanto, não receberam os mesmos direitos políticos. As ideias liberais desestabilizaram as relações racistas, mas não o sexismoglossário presente na sociedade.

No plano social, a Constituição estabeleceu a igualdade jurídica de todos os homens e aboliu os privilégios feudais. Foram declaradas também a separação entre o Estado e a Igreja e a liberdade de crença. Um ano antes, em 1790, a Assembleia tinha aprovado a Constituição Civil do Clero. De acordo com esse documento, os bispos e os padres deviam ser eleitos pelo povo e jurar fidelidade ao governo. Além disso, as terras da Igreja foram confiscadas com o objetivo de diminuir o déficit orçamentário francês.

As decisões sobre a economia garantiram os interesses da burguesia, que, como você estudou no capítulo 2, ficou mais poderosa com a formação da sociedade capitalista. Assim, a Constituição estabeleceu a liberdade de produção e circulação de bens e a proibição da interferência do Estado na economia.

Com essas medidas, ocorreu uma profunda transformação cultural, social, econômica e política na França; por isso, o movimento ocorrido naquele período no país é chamado revolução. Com essa transformação, além do sistema de governo ter sido modificado, os homens passaram a compreender-se de maneira diferente, como cidadãos, ou seja, como portadores de direitos e de deveres iguais.

Pintura. No centro, uma mulher nua segura um tecido claro atrás de seu corpo. Ao lado dela, à esquerda, uma pessoa de túnica cinza e um manto vermelho segura um longo pergaminho com a mão direita, e uma haste com uma touca vermelha no topo com a mão esquerda. À direita da mulher, uma pessoa de vestes longas  em bege com um manto vermelho segura uma cornucópia. Mais à direita, um homem de barba comprida e cabelo cacheado e branco, tem um tecido vermelho ao redor do corpo e segura um bastão longo com a mão direita. Ele está agachado, e ergue sua mão esquerda em direção à cena central. Ao fundo, muita fumaça. No canto inferior esquerdo, duas figuras humanas com mantos escuros, com as mãos erguidas.
A Verdade traz a República e a Abundância, pintura de nicolá dê curtéil, 1793.
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Imagens em contexto!

Na imagem, a Verdade (alegoria representada ao centro) traz consigo a República (à esquerda, portando o barrete frígio e a Constituição) e a Abundância (à direita, com uma cornucópia, um vaso em fórma de chifre que simboliza a fertilidade e a riqueza). O personagem à direita é a representação do antigo filósofo Diógenes, que apaga a lanterna com a qual procurava o “verdadeiro homem”, pois o aparecimento da Verdade encerrou sua busca.

A contrarrevolução

O rei conseguiu adiar a assinatura da Constituição e continuou a presidir as sessões da Assembleia, sem obedecer ao texto redigido por ela. Além disso, tentou retomar o contrôle do país com a ajuda de outros monarcas europeus.

O imperador Leopoldo segundo, da Áustria (irmão da rainha da França, Maria Antonieta), e o rei da Prússia, Frederico Guilherme segundo, assinaram, em 1791, a Declaração de pílnitiz, em que pediram a restituição dos poderes de Luís dezesseis e solicitaram a ajuda de outros reis para impedir que a revolução se espalhasse pelo continente. Assim, alguns monarcas europeus, liderados por eles, organizaram tropas para invadir a França e enfrentar os revolucionários.

Para sabotar essa contrarrevolução, a Assembleia francesa decidiu invadir a Áustria, o que daria aos revolucionários a oportunidade de se apoderar das riquezas e dos grãos do país. Nos bastidores, Luís dezesseis negociava com a nobreza estrangeira o sufocamento da revolução, pretendendo se unir às tropas austríacas e prussianas para chefiá-las, mas foi preso na cidade de Varennes ao tentar fugir da França.

As tropas da Áustria e da Prússia invadiram a França em julho de 1792, sendo detidas em setembro pela Comuna Insurrecional de Paris, o governo revolucionário que se formou após a tomada da Bastilha. Depois dessa vitória, que parecia improvável, os franceses abandonaram o tradicional grito “viva o rei” e celebraram com a frase “viva a França”. Essa comemoração demonstrou uma mudança drástica na sociedade francesa, que começou a renegar a ideia de ser formada por súditos do rei, passando a se considerar constituída por cidadãos vinculados ao local em que nasciam (pátria).

No dia 21 de setembro de 1792, os revolucionários proclamaram a república, prenderam o rei, acusando-o de traição, e dissolveram a antiga Assembleia Constituinte para criar a Convenção Nacional.

Pintura. Em um local fechado e pequeno, há uma dezena de pessoas. À esquerda, um homem de cabelo branco está voltado para a direita. Atrás dele, um soldado observa a cena, à frente de um armário de madeira. Ao lado deles, um homem de peruca branca está sentado diante de uma mesa com uma toalha verde. Ele está com a mão esquerda no queixo e observa a cena central. Nela, um homem e uma mulher estão voltados para a esquerda, onde está uma mulher de chapéu, cabelo penteado em coque, vestido em amarelo e saia azul, com um avental branco. Ele usa um chapéu escuro, casaca em vermelho e camisa de gola branca. À frente dele, uma mulher de cabelo preso, farto e branco, e um véu escuro que pende da cabeça, usa um vestido claro com manto rosa com detalhes em rosa escuro. Duas crianças estão próximas a ela. No canto direito, uma mulher de cabelos brancos, saia amarela e blusa azul escuro está com as mãos no rosto, cabisbaixa. Ao fundo, uma porta pequena, por onde se vê inúmeras pessoas parcialmente, incluindo soldados e armas.
Detenção de Luís dezesseise sua família em Varennes, pintura de tômas fálcon márchôl, cêrca de1854.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique de que modo a crise do absolutismo francês no século dezoito está relacionada à convocação da Assembleia dos Estados Gerais em 1789.
  2. O que foi a Queda da Bastilha? Qual foi sua importância para a revolução?
  3. Como os homens negros livres e os escravizados conquistaram direitos políticos durante a Revolução Francesa?

A Convenção Nacional

Além de acabar com a monarquia, a Convenção criou um calendário revolucionárioglossário que tinha como ponto de partida a instauração da república.

Durante as votações, os deputados dividiram-se principalmente em três grupos, de acordo com seus interesses.

  • Girondinos: eram os mais conservadores, formados pela alta e pela média burguesias e pelos nobres liberais. Eles defendiam o respeito à Constituição e se sentavam do lado direito da Assembleia.
  • Jacobinos: eram os mais radicais. Defendiam de fórma ferrenha o republicanismo e sentavam-se do lado esquerdo da Assembleia.
  • Pântano: também identificados como de centro, os integrantes desse grupo oscilavam o apoio aos outros dois grupos.

A utilização dos termos esquerda e direita para denominar grupos com interesses e objetivos diferentes foi depois adaptada, tornando-se comum na esfera política.

Os jacobinos e os girondinos divergiam profundamente sobre o modo como a revolução deveria ser conduzida. Os girondinos eram quase sempre apoiados pelo grupo pântano e, por isso, passaram a comandar o governo, que tentava proteger a França do ataque dos estrangeiros e, ao mesmo tempo, controlar as agitações internas lideradas pelos sans-culottes e pelos camponeses. Os revoltosos exigiam o contrôle dos preços, o recrutamento geral da população para o exército e o fim de qualquer resquício do feudalismo, entre outras reivindicações.

Alguns camponeses defendiam também uma espécie de reforma agrária por meio da distribuição gratuita das terras das grandes propriedades, o que amedrontou os girondinos, pois muitos deles eram burgueses ricos e, também, proprietários de terras.

Ilustração. Busto de mulher de cabelo castanho com as pontas encaracoladas. Tem olhos azuis e o lábio rosa. Usa um lenço cinza nos cabelos e um xale cinza sobre os ombros. Na junção das pontas do xale, há duas rosas.
Ilustração atual, representando a revolucionária francesa manôn rolân, inspirada no quadro Retrato de manôn rolân, de autoria desconhecida, produzido em 1790.
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Como você estudou, as mulheres não tinham direitos políticos reconhecidos, mas lutaram de fórma consistente durante a revolução e tiveram participação decisiva na implementação da república na França. manôn rolân, por exemplo, foi uma influente girondina que promoveu debates e encontros de diversos revolucionários na cidade de Paris. Graças a sua atuação política, seu marido, Marierolân de la platiér, tornou-se ministro do interior em 1792. A partir de então, ela assumiu a direção dos escritórios da família e, entre outras funções, redigia as cartas que la platiér enviava como representante do governo republicano francês.

A queda dos girondinos e a ascensão dos jacobinos

Com medo de conceder muito poder aos sans-culottes e camponeses, os girondinos adotaram uma postura conservadora para lidar com os conflitos internos, recusando-se a promover a economia de guerra ou o recrutamento geral. Nos conflitos externos, porém, decidiram avançar sobre os inimigos, o que causou o enfraquecimento do exército francês e a entrada da Grã-Bretanha na guerra contra a França.

Como resultado dessa política, houve carestia, além de aumento da inflação e da especulação, e a França perdeu muitos territórios para os países inimigos e os contrarrevolucionários.

Além desses problemas, um episódio contribuiu para a queda dos girondinos: o julgamento do rei Luís dezesseis pela Convenção e sua condenação à morte. O rei foi guilhotinado em janeiro de 1793 e Maria Antonieta, em outubro do mesmo ano. Na execução de ambos, a população gritava “viva a nação”, “viva a república” e “viva a liberdade”.

Os jacobinos assumiram, então, o governo. Eles estabeleceram uma economia de guerra, mobilizaram os recursos de toda a nação por meio de recrutamentos e aboliram a distinção entre soldados e civis no exterior. Além disso, atenderam às solicitações dos sans-culottes, o que deu à população a energia que transformou a revolução em uma grande fôrça política e de guerra. Para isso, porém, os jacobinos recorreram à ditadura e ao terror.

Radicalidade revolucionária

O movimento revolucionário se tornou cada vez mais radical, principalmente após o assassinato do jornalista jacobino jãn pôl marrá pela girondina Charlóte Cordé.

Os girondinos foram expulsos da Convenção e os jacobinos, liderados pelo advogado Maquissimilián de Rubespiér, organizaram comitês para lidar com a crise interna e os ataques de países que tentavam sufocar a revolução: o Comitê de Salvação Pública, o Comitê de Segurança Nacional e o Tribunal Revolucionário, encarregado de julgar os contrarrevolucionários.

As prisões e as execuções de suspeitos de trair o movimento tornaram-se, então, frequentes. Teve início, assim, o chamado Período do Terror da Revolução Francesa, no qual 17 mil pessoas foram acusadas de traição e executadas na guilhotina.

Gravura. Em destaque, uma plataforma sobre a qual há um cadafalso onde está instalada uma guilhotina. À direita uma mulher de vestido claro é levada em direção à guilhotina por um homem de chapéu e calça marrom e casaco claro de mangas longas. Atrás deles, outro homem. À esquerda deles há outra pessoa que olha para a estrutura de madeira; na ponta  esquerda da guilhotina, uma pessoa manipula a estrutura de madeira que irá prender o pescoço da condenada. Ao redor da plataforma, há soldados. Ao fundo, muitas pessoas e construções, além de árvores altas de folhas verdes.
Representação da rainha Maria Antonieta sendo levada para a guilhotina, gravura de crístian jozí, 1798.
Fotografia. Estrutura de madeira com uma base retangular na horizontal, acoplada a uma estrutura vertical, onde há uma lâmina com o fio em diagonal; na base dessa estrutura vertical, um quadro de madeira tem uma abertura redonda, onde o condenado coloca o pescoço.
Miniatura de uma guilhotina produzida na França, no século dezoito.
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A guilhotina se tornou o símbolo do Período do Terror. A execução dos que eram tidos como inimigos foi considerada não só normal, mas também necessária para a revolução.

O Golpe de 9 do Termidor

Apesar de a radicalização ter partido dos jacobinos, nem todos os integrantes do grupo eram favoráveis a ela. Em razão disso, houve uma separação entre os que defendiam a manutenção do terror e os que se opunham à violência.

Em março de 1794, o advogado JácDantún e outros jacobinos que se opunham à radicalização da revolução foram presos e executados pelo Comitê de Salvação Pública, dirigido por Rubespiér, que se tornou um ditador.

Durante o Período do Terror, os jacobinos confiscaram as propriedades dos nobres que fugiram, vendendo-as em troca de pagamento facilitado aos camponeses. Eles também acabaram com os últimos vestígios do feudalismo, realizaram reformas educacionais, estabeleceram o uso do sistema de numeração decimal e tomaram outras medidas para estabilizar a sociedade francesa e afastar as ameaças externas.

Diante da situação estabilizada e do medo da violência jacobina, a burguesia girondina e membros do pântano organizaram o Golpe de 9 do Termidor (a palavra Termidor era usada para definir o aumento da temperatura na Europa entre julho e agosto e inspirou o calendário revolucionário), que correspondia a 27 de julho de 1794, contra Rubespiér. Ele foi executado um dia depois, em 28 de julho de 1794.

Com a morte de Rubespiér e de diversos de seus companheiros, os girondinos voltaram à Convenção e anularam diversas medidas governamentais tomadas durante o Período do Terror.

Foi revogada, por exemplo, a lei de contrôle do preço dos alimentos, favorecendo a burguesia, que havia voltado a ser a maioria na Assembleia. Medidas como essa, que favoreciam o liberalismo econômico, resultaram na volta da inflação e da pobreza durante o inverno, no final de 1794 e no início de 1795.

A carestia atingiu sobretudo a população mais pobre, que, em 1795, se revoltou. A rebelião foi facilmente controlada, pois não havia uma liderança. No mesmo ano, outra investida contrarrevolucionária, que procurava restaurar a monarquia francesa, foi detida por um general chamado Napoleão Bonaparte, que passou a se destacar no exército.

Fotografia. Vista do alto para um local aberto. Uma praça ovalada com um obelisco alto ao centro. Ao redor da praça uma via larga e, ao fundo uma construção horizontal ampla, em bege. Mais ao fundo é possível ver inúmeras outras construções. No céu azul, algumas nuvens.
Praça da Concórdia, em Paris, França. Foto de 2020.
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A Praça da Concórdia, construída no século dezoito, foi chamada, inicialmente, Praça Luís quinze, sendo rebatizada em 1792 como Praça da Revolução. Depois disso, foi instalada nela uma guilhotina, usada para executar milhares de pessoas, entre as quais Luís dezesseis, Maria Antonieta, jorge jáque dantôn e

O Diretório

Em 1795 foi elaborada outra Constituição Francesa. O novo texto demonstrou a fôrça que a burguesia havia conquistado, pois estabelecia o direito de voto apenas aos cidadãos proprietários. Além disso, o governo do país foi atribuído a um grupo de cinco diretores, razão pela qual o período em que eles estiveram no poder ficou conhecido como Diretório.

No plano interno, esse período foi marcado pelas tentativas de controlar os partidários da monarquia e pela repressão às manifestações jacobinas. Em 1796, alguns jacobinos, liderados por Graco babêf, participaram da Conspiração dos Iguais, com o objetivo de extinguir a propriedade privada. Tal ideia aterrorizou os deputados da Assembleia, que executaram quase todos os membros da conspiração.

Ao mesmo tempo, a França continuava a enfrentar as investidas externas que procuravam restabelecer a monarquia, ficando cada vez mais dependente do exército para manter a ordem. O Diretório tentou, sem sucesso, pacificar um lugar arrasado pela guerra civil e pela ameaça de invasão estrangeira.

Golpe do 18 de Brumário

Após anos de conflitos com países estrangeiros, revoltas nas colônias e agitações sociais, a população francesa passou a enxergar o jovem general Napoleão Bonaparte como solução para um governo forte, que poderia conduzir a França ao caminho da estabilidade política e econômica.

Assim, apoiado por alguns membros do Diretório e principalmente pela burguesia, Napoleão articulou um golpe para tomar o poder em 9 de novembro de 1799. O evento ficou conhecido como Golpe do 18 de Brumário. O termo bruma (“névoa”) inspirou o nome do segundo mês do calendário adotado pelos revolucionários.

Gravura em preto e branco. Ao centro, uma mulher é puxada para o abismo por uma figura alada, de túnica na cintura e chapéu. A mulher usa um vestido longo e claro. Ao lado dela, amparando-a, um homem em trajes militares. Ele olha para a mulher e estende o braço esquerdo a duas figuras de túnica. Uma delas carrega um feixe e uma balança; a outra, carrega uma cornucópia. No céu, nuvens e um anjo tocando uma trombeta. No canto inferior direito, uma outra figura tem na mão direita uma tocha e, na esquerda, correntes.
O apoio da França, gravura de alêquissí chantenhê, século dezoito.
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Na gravura, Napoleão é representado como o salvador da França, que, por sua vez, é representada como uma mulher à beira do abismo. Tentando derrubar a França estão os revolucionários fanáticos, representados como dois personagens segurando as correntes que remetem à escravidão e uma tocha que simboliza a discórdia. Isso significa que a ideia que permeava a sociedade da época era a de um governo forte e centralizado, que poderia acabar com os embates entre os partidos políticos.

O Consulado e a eleição de Napoleão Bonaparte

Em 1799, Napoleão tinha 30 anos e era um militar de razoável mérito, pois havia liderado importantes vitórias. Ele assumiu o Poder Executivo com outros dois cônsules: o abade Emanuél Joséf Sieiés e rogê dicô. Nesse regime político, denominado Consulado, o poder deveria ser exercido de modo igual pelos três cônsules, mas não foi o que aconteceu: Napoleão tomava quase todas as decisões, controlava o exército e a política externa.

Durante o Consulado, a França passou por um processo de estabilização política e econômica. A criação do Banco da França, em 1800, possibilitou a reorganização do sistema financeiro do país, ao passo que os investimentos em industrialização aumentaram a produção do mercado interno e o enriquecimento da burguesia, que apoiava Napoleão.

Em 1801, o governo se aproximou da Igreja Católica ao assinar um acordo com o papa Pio sétimo, afirmando o catolicismo como religião predominante no país, e conseguiu diminuir os atritos internos com o clero.

Ao mesmo tempo, Napoleão deu início a uma reforma educacional por meio da fundação de liceus, instituições que forneciam instrução pública para as camadas de elite com o principal objetivo de formar futuros funcionários do governo e oficiais do exército. Além disso, promoveu a realização de obras de infraestrutura e embelezamento das cidades.

Com essas ações, Napoleão conquistou popularidade e se tornou cônsul vitalício em 1802, por meio de um plebiscito.

Pintura. Em um local fechado, paredes em azul ou vermelho, ricamente adornadas em dourado com amplas janelas e cortinas em vermelho. O assoalho é azul com detalhes em vermelho, amarelo, branco e flores coloridas. Ao fundo, uma mureta em vermelho separa dezenas de homens em pé da parte central do local, onde há outros homens em pé.  Eles têm os braços erguidos na direção centro-esquerda da pintura, onde está Napoleão Bonaparte. Sobre uma plataforma acessada por dois degraus, há uma mesa com toalha em verde e detalhes em dourado. Atrás dela, três homens estão vestidos de casaca em vermelho e calças em branco. Apenas o que está ao centro não usa peruca e tem uma faixa dourada na diagonal, no torso. É Napoleão Bonaparte. Ao lado dele, outro homem está cabisbaixo. Atrás dele, um outro homem observa. Diante da mesa, um homem com camisa de gola branca, casaca e calças em preto está sentado sobre uma banqueta estofada em vermelho com detalhes dourados. Ele tem um livro aberto sobre o colo, onde faz anotações com uma pena. Ele olha para trás e para cima, na direção de Napoleão. À frente dele, em pé, quatro homens usam casaca em azul, calças brancas, meias compridas em branco e sapatos pretos, com um tecido vermelho em volta da cintura. Eles também têm os braços erguidos na direção de Napoleão. À esquerda, próximo à mesa onde está  Napoleão, um outro homem em pé, de casaca azul, calças brancas e sapatos pretos segura uma pasta vermelha em uma das mãos e, na  outra, uma folha de papel. Ele olha na direção de Bonaparte.
Instalação do Conselho de Estado no Palácio Petit­‑Luxembourg, em 25 de dezembro de 1799, pintura de Oguíste Cudê, 1856.
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Na pintura, foi representada a instalação do Conselho de Estado, em dezembro de 1799. À esquerda e acima dos outros personagens, encontram-se os três membros do Consulado. O personagem sem peruca é Napoleão Bonaparte. Os outros dois cônsules – um de cabeça abaixada, em posição de obediência, e o outro a sua sombra – são representados como menos importantes que ele.

Napoleão como cônsul vitalício

Com o objetivo de reconstruir um império na América e gerar riquezas para engrandecer a França, Napoleão Bonaparte criou uma lei segundo a qual o que ocorria na França continental não valia para suas colônias.

Com base nessa lei, ele tentou reintroduzir a escravidão na ilha caribenha de São Domingos, em que a prática havia sido abolida após a revolução, mas os colonos não aceitaram e promoveram uma revolta. Os franceses foram derrotados no conflito e a ilha se tornou independente, sendo renomeada Haiti, o nome indígena do território.

Em 1802, Napoleão obteve um importante acordo de paz com o Reino Unido, o principal adversário francês. A fim de levantar fundos para o fortalecimento do exército, vendeu o território francês da Luisiana para os Estados Unidos, em 1803. Dessa maneira, obteve algumas vitórias militares e acordos diplomáticos.

Em 1804 o cônsul promulgou o Código Civil Napoleônico, que confirmava a igualdade jurídica dos cidadãos, conquistada durante a revolução, e o fim das antigas obrigações feudais. Além disso, assegurava a separação entre a Igreja e o Estado.

As mulheres, no entanto, continuaram juridicamente subordinadas a seus pais ou maridos. Além disso, apesar da ênfase na liberdade religiosa e na igualdade perante a lei, Napoleão restringiu várias liberdades políticas, pois controlava de fórma repressiva a oposição a seu governo, punindo greves, impedindo a organização de sindicatos e censurando a imprensa.

Pintura. Em local com solo de cor bege-acinzentado, com pedras e nomes gravados sobre elas, um homem está montado sobre um cavalo branco. O cavalo está apoiado sobre as patas traseiras, com o corpo inclinado para cima e tem a crina dourada. O homem sobre ele tem cabelos escuros, nariz e lábios finos, chapéu largo preto com detalhes dourados, manto amarelo avermelhado esvoaçante sobre os ombros, casaca azul, calça amarela, meias em marrom e sapatos pretos. Seu braço direito está erguido para frente e tem o dedo indicador para frente. Ele tem o olhar sereno e decidido. Em segundo plano, há outras pessoas, um carro de madeira com duas rodas, vistos parcialmente. No alto, céu em azul-claro com nuvens em cinza e tons de bege.
Napoleão atravessando os Alpes, pintura de jác lui daví, 1800.
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Napoleão contratou pintores, como jác lui daví, com o objetivo de popularizar sua imagem como a de um líder forte e destemido. Na pintura Napoleão atravessando os Alpes, por exemplo, diversos elementos foram usados para ressaltar a grandiosidade de Napoleão: o personagem foi representado em primeiro plano, ocupando todo o centro da tela, sendo destacadas sua habilidade em controlar e conduzir o cavalo e a serenidade em seu semblante.

O Império Napoleônico

Em 1804, amparado pelo sucesso do Código Napoleônico e pelas medidas de estabilização, por meio de outro plebiscito, Napoleão se tornou imperador da França, conquistando o título de Napoleão primeiro.

Um dos objetivos de Napoleão era difundir os ideais da Revolução Francesa na Europa. Por isso, as monarquias do continente formaram uma coligaçãoglossário de oposição organizada à França. Fizeram parte desse movimento Reino Unido, Suécia, Rússia e Áustria.

Os monarcas desses reinos se assustaram com a ascensão de Napoleão, que apresentava qualidades militares, como disciplina e estratégia. Além disso, ele organizou um exército nacional formado não por mercenários ou nobres, mas por cidadãos comuns. Era a primeira vez que um exército lutava pelo ideal da nação e sob a bandeira de sua soberania. Com essas características, o exército francês tinha muita fôrça e coragem, pois os soldados acreditavam em sua missão de levar a revolução para o restante da Europa.

Em 1805, os franceses venceram a Áustria e a Rússia na Batalha de austerlítz, localizada no território correspondente ao da atual República Tcheca. Essa foi uma das conquistas militares mais importantes do exército francês sob o comando de Napoleão Bonaparte. A Prússia, por sua vez, foi vencida em 1806 e desmembrada. Já a Rússia foi vencida nas batalhas de Eylau e de Friedland, em 1807.

O poder do exército francês, em solo, era inquestionável, mas não nas batalhas marinhas. Em 1805, a França foi derrotada pelo Reino Unido no conflito marítimo de Trafalgar. As duas potências se enfrentavam desde 1803, em razão do descumprimento de um acordo de paz assinado um ano antes em Amiens, na França. O resultado desse conflito deixou claro que a marinha francesa era inferior à do Reino Unido; por isso, Napoleão passou a concentrar seus esforços em enfraquecê-la.

Pintura. Vista de local aberto, com muita fumaça ao fundo, e solo em bege e cinza. Ao centro, sobre cavalos, três homens em trajes militares conversam. Um deles, à direita, gesticula. Os demais o escutam. Ao redor deles, diversos soldados; alguns usam turbantes. Sobre o chão, alguns soldados caídos. Ao fundo e à esquerda, soldados carregam bandeiras.
Napoleão na Batalha de austerlítz, pintura de françuá gerrár, 1805.

O Bloqueio Continental de 1806

Para enfraquecer a marinha britânica, Napoleão estabeleceu, em 1806, o Bloqueio Continental, por meio do qual proibiu todos os países dominados pelo Império Francês de receber em seus portos navios britânicos. Com essa estratégia, além de impedir o comércio da produção britânica, afetando sua economia, Napoleão procurava ampliar o consumo de produtos franceses pelos outros países.

Como resultado do bloqueio, em 1807, a França dominava quase toda a Europa, mas a Península Ibérica ainda mantinha acordos com o Reino Unido. Assim, Napoleão invadiu a Espanha, colocando seu irmão, José Bonaparte, no governo espanhol.

Os franceses também ameaçaram invadir Portugal, razão pela qual a monarquia lusitana e toda a sua côrte se retiraram para o Brasil em 1808. Com a mudança para a América, a capital do Império Português passou a ser o Rio de Janeiro.

A invasão da Rússia por Napoleão Bonaparte

Em 1809, a Rússia decidiu se retirar do Bloqueio Continental. Em represália, Napoleão invadiu o país em 1812 e tomou a capital, Moscou, com um exército de 610 mil soldados.

Para barrar o avanço das poderosas tropas francesas, os russos adotaram a tática da terra arrasada: queimavam as plantações, os celeiros e todo tipo de suprimento que pudesse ser aproveitado pelos invasores e, depois, fugiam de suas terras.

Sem suprimentos e abalado pelo rigoroso inverno russo (que podia alcançar –30 grauscélsius), o exército francês foi duramente afetado pela fome e pelas doenças e sofreu uma de suas piores derrotas: perdeu 500 mil soldados, sendo obrigado a se retirar da Rússia.

A partir de então, Napoleão enfrentou diversas revoltas nos territórios conquistados e sofreu uma série de derrotas para a coligação liderada pela Rússia, pela Áustria e pela Prússia. A França perdeu a Batalha das Nações, em 1813, e a cidade de Paris foi invadida em 1814. Napoleão teve de fugir e se exilar na Ilha de Elba. Com isso, os burbôm retornaram ao poder e restabeleceram a monarquia na França. O trono foi assumido por Luís dezoito.

O Império Napoleônico – 1811

Mapa. O Império Napoleônico – 1811. Legenda: Vermelho: França em 1789. Rosa com listras em vermelho: Conquistas da Convenção desde 1792. Hachura em amarelo e rosa: Territórios anexados ao império. Amarelo: países e estados dominados por Napoleão. Lilás: Estados independentes aliados de Napoleão. Verde: Principal país adversário. Linha horizontal em verde escuro: Limites do Império Napoleônico. Linha horizontal em rosa: Confederação do Reno. Linha horizontal em azul: Bloqueio Continental. Símbolo de um navio: Base naval britânica. França em 1789: corresponde aproximadamente à França atual, com destaque para as cidades de Paris e Fontainebleau, e incluindo a ilha da Córsega. Conquistas da Convenção desde 1792: Área nordeste da França e fronteira entre a França e a Itália. Territórios anexados ao império: Região dos Países Baixos, da Catalunha, do centro da Península Itálica até o Piemonte, além da costa leste do Mar Adriático. Países e Estados dominados por Napoleão: Espanha, com destaque para a cidade de Madri; Grão-Ducado de Varsóvia; a Confederação do Reno, com destaque para a cidade de Leipzig; Suíça; Reino da Itália, com destaque para a cidade de Milão; e Reino de Nápoles. Estados independentes aliados de Napoleão: Noruega; Suécia; Prússia; Império Austríaco, com destaque para a cidade de Viena; Império Russo, com destaque para a cidade de Moscou. Principal país adversário: Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, onde se localiza a cidade de Londres. Limites do Império Napoleônico: Região da França, as áreas conquistadas pela Convenção mais os territórios anexados ao império. Confederação do Reno: região da Europa Central ao sul dos Países Baixos e ao norte do Reino de Itália e da Suíça. Bloqueio continental: Toda a região litorânea da Europa ocidental, com exceção de Portugal. Base naval britânica: ao sul da Espanha; ao sul da ilha da Sicília; e no Mar do Norte. À direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 450 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. pê ponto 82-85.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

No mapa, estão representados os territórios sob domínio do exército napoleônico, os anexados ao império e a linha do Bloqueio Continental. Analise-o e responda: quais foram os países que não aderiram ao bloqueio?

O Governo dos Cem Dias e o exílio final

Luís dezoito assumiu o trono com apoio de integrantes da sociedade francesa que desejavam a restauração da monarquia e da família burbôm. Muitos deles eram nobres que haviam fugido durante a revolução e retornaram para a França esperando recuperar suas terras e seus privilégios.

Napoleão, porém, não ficou muito tempo no exílio. Ele fugiu da ilha de Elba no dia 1º de março de 1815 e invadiu a França apenas com sua guarda pessoal.

Enquanto se dirigia a Paris, para confrontar o rei, sua guarda foi sendo engrossada por camponeses e outros indivíduos descontentes com o retorno dos burbôm, pois não queriam ver os antigos privilégios restabelecidos. Assim, quando a guarda de Napoleão se encontrou com o batalhão enviado pelo rei para combatê-la, grande parte da opinião pública já era favorável ao retorno do ex-governante, de modo que até o batalhão real abandonou Luís dezoito e se uniu ao antigo imperador, que voltou ao trono.

O rei fugiu às pressas de Paris no dia 19 de março e se refugiou na Bélgica, onde foi perseguido pelas tropas francesas. Napoleão, por sua vez, permaneceu no poder por um curto período, conhecido como Os Cem Dias, pois foi vencido em 18 de junho de 1815 na Batalha de uóterlú, por tropas austríacas e britânicas. Foi, então, obrigado a abdicar novamente do trono e se refugiou na ilha de Santa Helena, na costa ocidental da África, onde faleceu em 1821.

Fotografia. Vista de local aberto, com solo bege e calçado de pedra. No centro, uma pirâmide de vidro e metal. Ao fundo, o edifício do Museu do Louvre, um grande prédio horizontal com três andares e muitas janelas. À esquerda, uma construção que se destaca do restante, com uma cúpula em cinza no topo. Diversas pessoas circulam no local.
Museu do Louvre em Paris, França. Foto de 2018.
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Além das conquistas políticas e territoriais, Napoleão formou coleções que dariam origem a instituições como o Museu do Louvre em Paris. Durante suas campanhas militares e tratados de paz, levou para a França várias coleções de objetos artísticos e antiguidades de outros países. Utilizou para isso a justificativa eurocêntrica de que, por sua singularidade e importância, esses objetos deveriam ficar com os franceses, que seriam mais capazes de conservá-los. Os retornos do imperador a Paris eram sempre marcados por grandiosas festas e desfiles. Depois, as coleções consideradas mais significativas eram direcionadas ao Louvre e, o restante, encaminhado a museus de outras regiões.

Cruzando fronteiras

As caricaturas são desenhos produzidos para representar pessoas ou situações de modo exagerado, despertando o humor daqueles que as veem. Elas são consideradas um gênero discursivo e podem ser utilizadas para satirizar figuras políticas, ridicularizar situações especiais e cotidianas, entre diversas outras possibilidades.

No início do século dezenove, Napoleão Bonaparte foi o tema da produção de diversas caricaturas. Patrocinadas por Luís dezoito, mas produzidas também em outros locais, como o Reino Unido e a Prússia, essas caricaturas o representavam em diversas situações, algumas constrangedoras. Estava em jogo a utilização de uma manifestação artística provocativa e bem-humorada para representar o inimigo Napoleão.

Gravura. Dois homens de roupas em tons de azul com detalhes dourados. Um deles, com traje em azul claro, está com a mão sobre o bocal de uma garrafa grande de vidro. Dentro dela, um homem em miniatura. O outro homem de azul escuro, segura um bastão e observa e aponta para o conteúdo da garrafa de vidro.
O pequeno diabo cartesiano: camponeses alemães capturando o pequeno diabo Napoleão, gravura de 1813.
Gravura. Composta de seis quadros com homens segurando um boneco de Napoleão Bonaparte. No primeiro quadro, um homem tenta cortar Napoleão com a tesoura. No segundo quadro, um homem parece golpeá-lo com a mão. No terceiro quadro, outro homem tenta cozinhá-lo. No quarto quadro, um homem segura um chicote nas mãos enquanto Napoleão parece dançar. No quinto quadro, outro homem tenta beber Napoleão em uma caneca. No sexto quadro, um homem tenta engoli-lo.
Napoleão reduzido a um tamanho administrável, gravura de cêrca de 1815.
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Um diabo cartesiano ou mergulhador cartesiano é um boneco que flutua dentro de uma garrafa. O brinquedo pode ser usado como fórma de observar os princípios hidrostáticos (as condições de estática dos fluidos) propostos pelo cientista francês Pascal, que viveu de 1623 a 1662, e Arquimedes, estudioso grego da Antiguidade. Na gravura de 1813, Napoleão foi representado como esse boneco flutuando dentro de uma garrafa com água. Na imagem de 1815, Napoleão também foi representado em tamanho pequeno, como um boneco de brinquedo.

Responda no caderno.

  1. Descreva as duas gravuras. 
  2. Em sua opinião, qual foi o objetivo dos autores das gravuras ao representar Napoleão Bonaparte dessa maneira?

O Congresso de Viena

Ao colocar em ação sua política expansionista, Napoleão Bonaparte difundiu pelo continente europeu os ideais revolucionários franceses de soberania popular e nação, enfraquecendo os regimes absolutistas. Assim, após sua queda, os monarcas europeus respiraram aliviados e tentaram retomar a antiga ordem.

Para isso, um dos primeiros passos era restabelecer as fronteiras que tinham sido modificadas em razão do avanço da França imperial. A fim de debater esse assunto, representantes das monarquias europeias se reuniram no Congresso de Viena, na Áustria, em novembro de 1814. Os trabalhos foram iniciados em dezembro do mesmo ano e se estenderam até junho de 1815.

Foi decidido que as fronteiras e a configuração política da Europa voltariam a ser como antes da revolução de 1789. Assim, a França teve de devolver todos os territórios conquistados por Napoleão, além de pagar indenizações às nações prejudicadas. Foi acordado também que as dinastias que reinavam antes de 1789 voltariam ao poder.

A Europa após o Congresso de Viena – 1815

Mapa. A Europa após o Congresso de Viena, 1815. Mapa sem legenda. Mapa da Europa, parte da África e da Ásia, representando a configuração política da Europa após o Congresso de Viena, em 1815. Europa, em 1815: Portugal: destaque para a cidade de Lisboa; Espanha: com destaque para as cidades de Madri, Cádiz, Granada, Valência, Barcelona e  ilhas Baleares; França: com destaque para as cidades de Brest, Paris, Bordéus, Lyon; Reino da Sardenha-Piemonte: com destaque para  Piemonte (entre a França e o Império Austríaco) e a ilha da Sardenha; Módena; Lucca; Toscana; Estados Pontifícios, com destaque para a cidade de Roma; Reino das Duas Sicílias, com destaque para a cidade de Palermo; Suíça: com destaque para a cidade de Berna; Reino dos Países Baixos Unidos; Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda:  com destaque para Escócia, Inglaterra e a cidade de Londres; Noruega; Suécia: com destaque para a cidade de Estocolmo; Dinamarca; Reino de Hanôver;  Baviera: destaque para Munique; Reino da Prússia:  com destaque para as cidades de Berlim e Sarre; Império Austríaco: com destaque para Praga, Boêmia, Viena, Budapeste; Lombardia-Vêneto; Império Russo: com destaque para as cidades de Moscou e São Petersburgo; Bessarábia; Crimeia; Polônia; República de Cracóvia; Lituânia, com destaque para Riga; Estônia; Finlândia; Império Turco Otomano, com destaque para Constantinopla; Bulgária, com destaque para as cidades de Valáquia e Bucareste; Moldávia; Bósnia-Herzegovina; Dalmácia; Servia, com destaque para a cidade de Belgrado; Albânia; Grécia, com destaque para Atenas; Creta; Rodes; Chipre; região de Túnis, no norte da África. À esquerda, rosa dos ventos e escala entre 0 e 340 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larrússi, 2003. página 86.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Compare esse mapa com o da página 88 e responda: por que é possível dizer que a França foi desfavorecida com os acordos territoriais do Congresso de Viena? Cite algumas regiões que se tornaram independentes do país.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Identifique e descreva os três grupos nos quais se dividiram os deputados durante a Convenção Nacional.
  2. O que foi o Período do Terror? Quais foram seus desdobramentos no processo revolucionário francês?
  3. Quem foi Napoleão Bonaparte? Como ele se tornou imperador da França?

Dica

LIVRO

Guerra e paz, de Porto Alegre: Edições dél Prado do Brasil, 2019.

Nessa versão em quadrinhos do clássico de o período das campanhas militares napoleônicas do século dezenove é reconstituído minuciosamente por meio da narrativa do ponto de vista do povo russo.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. No caderno, reproduza o quadro a seguir e o preencha com as informações a respeito dos três estados que compunham a sociedade francesa antes da revolução.

*Ícone.Modelo.

Primeiro estado

Segundo estado

Terceiro estado

Integrantes

Porcentagem da sociedade francesa

Renda

Privilégios e isenções tributária

  1. Identifique, no caderno, as informações verdadeiras e as falsas sobre as realizações político-administrativas na França durante o Consulado.
    1. Napoleão desempenhou um papel secundário, assessorando Emanuél Joséf Sieiés e Rogê no Consulado.
    2. Durante o Consulado, foi reorganizado o sistema financeiro e estabilizada a economia com a criação do Banco da França e a expansão dos investimentos em industrialização.
    3. No período, as tensões entre o governo francês e a Igreja Católica foram acentuadas com a excomunhão dos três cônsules pelo papa.
    4. Napoleão comandou uma reforma educacional e promoveu obras de infraestrutura, conquistando popularidade.
    5. Napoleão Bonaparte mobilizou seu exército e aplicou um golpe de Estado, tornando-se cônsul vitalício em 1802.
  2. Caracterize o Império Napoleônico e os conflitos em que a França se envolveu entre 1804 e 1814.

Aprofundando

4. (enêm méqui – adaptado) No caderno, copie a alternativa correta.

“Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem. Pois bem: foi no século dezoito – em 1789, precisamente – que uma Assembleia Constituinte produziu e proclamou em Paris a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa Declaração se impôs como necessária para um grupo de revolucionários, por ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e das mentalidades: o iluminismo.”

FORTES, L. R. S. O Iluminismo e os reis filósofos. São Paulo: Brasiliense, 1981. (Adaptado).

Correlacionando temporalidades históricas, o texto apresenta uma concepção de pensamento que tem como uma de suas bases a:
  1. modernização da educação escolar.
  2. atualização da disciplina moral cristã.
  3. divulgação de costumes aristocráticos.
  4. socialização do conhecimento científico.
  5. universalização do princípio da igualdade civil.

5. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi finalizada no dia 26 de agosto de 1791. No primeiro artigo, anunciava-se que todos os homens, não só os franceses, nasciam e permaneciam livres e iguais em direitos. Sobre a origem do termo “direitos do homem” presente na declaração, leia o texto da historiadora lín rânt e, em seguida, faça o que se pede.

“O termo ‘direitos do homem’ começou a circular em francês depois de sua aparição em O contrato social, de jeãn jác russô, reticências por volta de junho de 1763, ‘direitos do homem’ tinha se tornado um termo comum

Antes de 1789, ‘direitos do homem’ tinha poucas incursões no inglês. Mas a Revolução Americana incitou o marquês de Condorcé, defensor do iluminismo francês, a dar o primeiro passo para definir ‘os direitos do homem’, que para ele incluíam a segurança da pessoa, a segurança da propriedade, a justiça imparcial e idônea e o direito de contribuir para a formulação de leis.

reticências

Em janeiro de 1789, usou a expressão no seu incendiário panfleto contra a nobreza, O que é o terceiro estado?. reticências Desde a primavera de 1789 – isto é, mesmo antes da queda da Bastilha em 14 de julho – muitos debates sobre a necessidade de uma declaração dos ‘direitos do homem’ permeavam os círculos políticos franceses.”

rãnt, L. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página 22-23.

  1. O que significa a espressão “direitos do homem” presente na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão?
  2. Qual é a origem desse termo?
  3. De acordo com lín rânt, o panfleto O que é o terceiro estado?, de Emanuél Joséf Sieiés, foi incendiário. O que ela quis dizer com isso?
  4. Relacione a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão aos princípios da filosofia iluminista que você estudou no capítulo 1 e neste.
  1. Na França, a partir de 1789, os revolucionários confiscaram diversas coleções de objetos do clero e dos nobres. Baseando-se no ideal humanista da igualdade de direitos entre os indivíduos, decidiram que esses objetos deviam tornar-se propriedade, por herança, de todo o povo francês e os transferiram para lugares públicos, que deram origem aos museus. Inspirados na experiência francesa, muitos países passaram a organizar coleções de objetos e expô-las em museus a fim de construir uma identidade e uma memória nacionalista. Atualmente, muitos dos museus mudaram o foco de suas coleções, transformando-se em instituições mais dinâmicas, que valorizam a diversidade de culturas e conservam, investigam e expõem seus objetos e acervos com diferentes finalidades, como a preservação, o estudo, a pesquisa científica e a educação. Para compreender melhor a importância dos museus, você e os demais colegas da turma farão uma visita guiada a um museu do município em que moram. Anote no caderno as questões a seguir. Elas devem nortear sua visita e, depois, ser debatidas em sala de aula.
    1. Qual é o nome do museu visitado?
    2. Qual é o objetivo dessa instituição?
    3. Em sua opinião, quais são os objetos expostos ou recursos mais interessantes do museu? Por quê?
    4. O que você entendeu a respeito dos elementos expostos no museu?
    5. De que modo a visita a essa instituição está relacionada à memória e à história de sua comunidade? E à sua história?

Glossário

:
agressão recorrente a alguém por causa de sua aparência física, seu gênero, sua origem e seu desempenho escolar, entre outros motivos. O bullying pode ser verbal (apelidos, insultos etcétera), físico (agressões, roubo etcétera) ou moral (exclusão do grupo, difamação etcétera) e é caracterizado por um desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima, que não consegue se defender. A palavra, em inglês, tem origem no verbo bully, que significa “intimidar”.
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Déficit orçamentário
: situação em que as despesas de um governo são maiores do que a arrecadação.
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Isenção tributária
: dispensa do pagamento de tributos ou impostos.
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Guilhotina
: instrumento utilizado para aplicar a pena de morte por decapitação.
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Sexismo
: discriminação de pessoas com base em gênero.
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Calendário revolucionário
: calendário criado durante a Revolução Francesa para substituir a medição do tempo influenciada por referências religiosas, que são a base do calendário gregoriano. Era dividido em doze meses, nomeados de acordo com as colheitas e os fenômenos climáticos. Cada mês era formado por três semanas e cada semana, por dez dias.
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Coligação
: associação ou aliança de entidades.
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