CAPÍTULO 6 INDEPENDÊNCIA DAS COLÔNIAS DA AMÉRICA ESPANHOLA E REVOLUÇÃO HAITIANA

Entre o fim do século dezoito e o início do século dezenove, parte da população que vivia entre o norte do México e o extremo da América do Sul buscou a independência da Espanha. Os líderes dessas lutas pela emancipação foram chamados de libertadores.

Eles foram homenageados com estátuas, celebrações e nomes de ruas em todos os países que se formaram nessa região. Além disso, desde 1965, o nome do maior torneio de futebol do continente é um reconhecimento aos feitos deles: Copa Libertadores da América.

Como e por que nomes e eventos históricos são relembrados? O que define um país independente e livre? Você descobrirá neste capítulo as respostas a essas perguntas.

Tirinha em três quadros. Apresenta Armandinho, um menino de cabelo azul, vestindo camiseta branca e bermuda azul. Ele está em uma ligação no telefone fixo vermelho, sobre uma plataforma em bege e branco. Um sapo está ao lado dele. Quadro 1: Sorridente, Armandinho  responde ao telefone: SIM, VÓ! PASSOU NA TEVÊ! MILHARES DE PESSOAS NAS RUAS! Quadro 2: Ele continua: 'LIBERTAÇÃO'?! NÃO, VÓ... PELA LIBERTADORES! Quadro 3: Cabisbaixo, o menino continua a conversa: 'GREMISTAS', VÓ... NÃO 'GREVISTAS'... NÃO CHORE, VÓ...
Armandinho, tirinha de Alexandre Beck, 2019. O personagem se refere à Copa Libertadores da América de 2017, em que o Grêmio Foot-ball Porto Alegrense conquistou o título de campeão.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Que relação a avó de Armandinho estabeleceu entre o movimento de pessoas nas ruas e o termo libertação?
  2. Em sua opinião, quando um país alcança a independência política, toda a população se torna imediatamente independente e livre? Justifique sua resposta.
  3. Por que as colônias da América espanhola decidiram romper com a metrópole?

O impacto das Reformas burbônicas

As Reformas burbônicas do século dezoito afetaram a América espanhola de várias fórmas. Em alguns locais, elas reduziram a autonomia dos criollos. Em outros, esse grupo foi beneficiado, por exemplo, pela abertura dos portos espanhóis ao comércio com nações estrangeiras.

Os cargos públicos mais altos (como o de vice-rei), entretanto, ainda eram ocupados somente por membros da elite nascidos na Espanha, causando descontentamento entre os criôlos. Ao mesmo tempo, diversas jurisdiçõesglossário foram extintas, diminuindo o poder local das lideranças indígenas. Além disso, a Coroa espanhola aumentou muito os tributos cobrados da população ameríndia.

Essas e outras medidas, que fizeram parte das Reformas burbônicas, desencadearam uma série de revoltas coloniais, principalmente em áreas nas quais o comércio local foi mais afetado. Integrantes de vários segmentos da sociedade colonial, incluindo criollos, indígenas e mestiços, participaram dessas rebeliões.

Gravura em preto e branco. Vista para um local aberto, com edifícios de quatro pavimentos ao fundo, à esquerda. Em primeiro plano, três homens de batinas escuras. Um deles, à direita, está arqueado e caminha com dificuldade com a ajuda de uma bengala e de um homem vestido de casaca, calça, meia, sapatos e chapéu escuro. Esse homem aponta o caminho à frente. Ao lado dele, outro homem alto, de batina escura, segura os cabelos escuros com as mãos, com olhar aflito. Ele é conduzido por outro homem de casaca e chapéu, com uma lança na mão esquerda. À frente dele, o terceiro homem de batina está sentado e tem as mãos sobre o rosto. Um homem de casaca repousa sua mão sobre a cabeça dele. Atrás deles, uma carruagem conduzida por cavalos com pessoas. Ao fundo, uma grande embarcação com velas içadas. No canto inferior direito, um homem recostado sobre duas caixas aponta para cena central. No canto superior direito, uma construção em pedra, similar a um forte, da qual emanam raios.
Expulsão dos jesuítas da Espanha, por ordem do rei Carlos três, 1767, gravura do século dezoito.
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A expulsão dos jesuítas das colônias espanholas na América foi uma das medidas estabelecidas nas Reformas burbônicas. No século dezoito, os jesuítas também foram expulsos da América portuguesa, como você estudou no capítulo 5.

A crise dos domínios coloniais na América espanhola

As ideias liberais e iluministas que serviram de base para processos como o de independência dos Estados Unidos, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789, circularam rapidamente pelo continente americano. As informações sobre esses eventos chegaram às colônias espanholas por meio de jornais, livros e panfletos, e inspiraram parte da população local.

Além dessa influência e dos processos revolucionários ocorridos nos Estados Unidos e na França, a população da América espanhola tinha outros motivos para lutar pela independência.

As colônias espanholas enfrentavam graves crises fiscais, e as diversas camadas sociais que compunham a população colonial, de cêrca de 2 milhões de pessoas no início do século dezenove, reagiram de diferentes fórmas a elas. Parte da elite econômica lucrava com a situação imposta pelas Reformas burbônicas, mas a maioria dos indígenas, mestiços e negros estava insatisfeita com os sistemas de cobrança de impostos, o aumento dos trabalhos forçados e a carestiaglossário generalizada. Além disso, muitos criollos, que eram senhores de escravizados, associavam o governo espanhol às limitações de seus negócios.

Não faltavam motivos para quase toda a sociedade da América hispânica estar descontente com a metrópole, apesar de as razões serem diferentes e às vezes até opostas.

Escudo de armas. Emoldurado por uma tarja em amarelo escuro e dividido em quatro partes, com ilustrações em cada uma delas. Acima, e à direita, um pergaminho com inscrições. À direita e embaixo, retrato de um homem de rosto comprido, cabelo curto e liso, com costeletas. Veste um casaco vermelho com um lenço no pescoço.  À esquerda, punhos rompendo correntes. Acima e à esquerda, retrato de um homem de cabelo curto com costeletas largas e bigode fino. Na tarja ao redor do escudo, inscrições em espanhol. Uma lança e uma arma estão sobrepostas ao escudo na parte superior. Abaixo do escudo uma faixa em cinza com frase em espanhol.
Escudo de armas da cidade de Charalá, na Colômbia, com a representação, no canto esquerdo, de José Antonio , líder da Insurreição dos , de 1781.
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A Insurreição dos Comuneros ocorreu no vice-reino de Nova Granada. Dela participaram integrantes da elite criolla que estavam descontentes com as medidas e taxas impostas pelas Reformas burbônicas.

A Revolução Haitiana

A insatisfação generalizada não afetou só a América espanhola. Foi em um local dominado pela França que ocorreu a primeira guerra por soberania: na Ilha de São Domingos.

No século dezoito, nessa pequena ilha, estava a colônia mais lucrativa da França. Com rentáveis propriedades escravistas, era responsável pelo fornecimento de 40% do açúcar e 60% do café consumido na Europa. Em algumas fazendas havia mais de duzentos escravizados, sendo a maioria composta de mulheres. Os negros correspondiam a 90% da população dessa colônia francesa.

A sociedade era dividida em quatro estamentos. O primeiro era formado pelos grandes proprietários brancos, que, em sua maioria, moravam na França. O segundo era o dos negros e mulatos libertos, que atuavam como milicianos e funcionários públicos. Alguns deles possuíam escravizados e fazendas. O terceiro estamento era formado por brancos pobres, muitos deles artesãos. O quarto grupo, em que estava a maior parte da população, era composto de escravizados.

Inspirados pelas ideias iluministas e pela revolução ocorrida na França, os homens pobres que viviam na ilha passaram a exigir direitos, como o de igualdade jurídica em relação aos ricos e nobres, o de voto, a redução dos impostos e melhores condições na aquisição de escravizados.

Em resposta a essas exigências, em 1791, o governo revolucionário francês estendeu a cidadania a todos os homens livres da colônia, independentemente da cor, desde que comprovassem renda e propriedade e não fossem filhos de escravizados.

Gravura. Vista de local aberto, com solo claro e uma construção branca de dois pavimentos com telhado escuro ao fundo. Há três construções onde trabalham, em diferentes funções, homens negros e descalços e com apenas parte do corpo coberta por um pano. À frente, um deles está abaixado perto de uma panela sobre uma fogueira, de onde sai uma fumaça cinza. À esquerda, outro homem manuseia um líquido em um tacho no chão. No canto esquerdo, um homem em pé está curvado sobre uma prancha na diagonal que termina em uma bacia. Ao fundo, um homem move uma grande roda.  À direita, ao lado de uma criança, um homem manipula fibras, um outro manipula um carretel e, no canto inferior direito, um outro homem manipula uma estrutura cilíndrica, horizontal.
Escravizados trabalhando em uma plantação nas Índias Ocidentais francesas, gravura do século dezoito.
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Na gravura foi representado o trabalho de escravizados em uma fazenda no Haiti. No fim do século dezoito, a maior parte da população de São Domingos era composta de pessoas escravizadas.

Escravidão e independência

Apesar dos benefícios concedidos aos homens livres, o sistema escravista foi mantido. Diante dessa situação, os cativos se rebelaram sob a liderança do ex-escravizado lôvertíur. Os integrantes do movimento destruíram plantações e engenhos e assassinaram diversos proprietários de terras brancos.

A Espanha declarou apoio ao movimento para minarglossário a influência colonial francesa no continente americano e lôvertíur acabou se tornando oficial do exército espanhol. Os britânicos também invadiram São Domingos, em 1793, para combater os franceses, com quem estavam em guerra na Europa.

Em 1794, a Convenção Nacional na França aboliu a escravidão na ilha. Como contrapartida, lôvertíur passou para o lado francês e, entre 1794 e 1800, combateu os ataques britânicos e espanhóis e as rebeliões locais. lôvertíur defendia a manutenção do sistema de planteition, pois o considerava muito importante para a economia da ilha.

Em 1801, Napoleão Bonaparte tentou reintroduzir a escravidão em São Domingos, enviando à colônia milhares de soldados franceses, que capturaram lôvertíur e o levaram para a França, onde o mantiveram preso. A liderança da revolução foi, então, assumida por jãn jaque dêssalíne, que, em 1804, declarou a independência de São Domingos e nomeou o novo país como Haiti.

Livre da dominação colonial, o Haiti abandonou o modelo de plantation e sua economia voltou-se para a subsistência. O país foi obrigado a pagar uma pesada indenização à França, que reconheceu sua independência apenas em 1825.

Gravura. Um homem negro, com vestes militares em verde, com uma faixa vermelha amarrada na cintura e calça branca com detalhes em dourado. A faixa e a roupa têm as barras douradas. Ele está de chapéu preto e dourado, montado em um cavalo marrom. O cavalo está inclinado para frete, com as patas dianteiras levantadas. O homem olha para trás, e, com a mão direita, empunha uma espada para o alto na horizontal.
Representação de gravura de 1802.
Ilustração. Vista dos joelhos para cima de um homem negro, de casaco vermelho com detalhes dourados, calça branca e chapéu vermelho com plumas brancas. Ele segura uma espada com a mão esquerda, cuja ponta repousa no chão. O dedo indicador da mão direita aponta para o alto. Atrás dele, uma bandeira com duas faixas horizontais, uma azul e uma vermelha.  Ao fundo, vegetação e morros.
Representação de jãn jaque dêssalíne, ilustração de 1957.
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lôvertíur e dêssalíne foram líderes da emancipação do Haiti, único caso na história da América em que um levante de escravizados deu origem a uma nação independente. Após sua emancipação, o país sofreu com embargos econômicos impostos por outros países americanos, que tinham medo de que o processo de independência haitiano influenciasse de alguma fórma os escravizados de outros locais.

A invasão da Espanha por Napoleão

No início do século dezenove, a relação entre a Espanha e suas colônias mudou em virtude da invasão napoleônica à Península Ibérica. Em 1808, o rei Fernando sétimo foi preso pelos franceses e obrigado a renunciar. Seu lugar foi ocupado por José Bonaparte, irmão de Napoleão, mas diversas províncias formaram juntas de governo fiéis ao rei. Elas eram coordenadas pela Junta Central de Governo, estabelecida em Sevilha.

Nas colônias, a maioria dos criollos permaneceu fiel a Fernando sétimo, mas não aceitou a autoridade da Junta Central espanhola. Assim, em Caracas (1808), em tchuquiásca, em lá pás e em Quito (1809), foram fundadas juntas de governo autônomas nos cabildos, instituições municipais de governo administradas principalmente por criollos. Na prática, os cabildos se tornaram juntas de autogoverno e passaram a ter uma autonomia inédita nas colônias.

Pintura. À direita, soldados perfilados, vistos de costas, apontam armas para um grupo de pessoas que está à esquerda, no pé de uma colina. Um homem de camisa branca e calças em amarelo está com os braços erguidos. Outros estão abaixados, com as mãos no rosto. No chão, alguns corpos ensanguentados.
O 3 de maio de 1808 em Madri, pintura de Francisco de góia, 1814.
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A obra de Francisco de góia retrata a repressão à resistência popular durante a invasão de Napoleão Bonaparte à Espanha. Os soldados franceses foram representados de costas para o observador e a figura central da cena, um homem comum espanhol espantado e incrédulo, expressa o horror da situação.

As Cortes de Cádiz e a volta do rei

Na Espanha, entre 1810 e 1812, grupos que recusavam a autoridade de José Bonaparte reuniram-se nas côrtes de Cádiz para elaborar uma Constituição. Para sufocar os movimentos por autonomia das colônias americanas, as côrtes transformaram os territórios coloniais espanhóis em províncias, concedendo a elas o direito de enviar representantes à constituinte.

Os debates que deram origem à primeira Constituição Espanhola, em 1812, eram inspirados nas ideias liberais e iluministas. De acordo com o documento, quem tinha o poder era a nação espanhola, e não o rei. Assim, a decisão final a respeito de todos os assuntos importantes ficava a cargo das côrtes. Liberdade de imprensa, separação dos poderes, direito ao voto para os homens e cidadania aos indígenas (negros libertos e pardos poderiam adquirir cidadania mediante pedido) foram estabelecidos.

Em 1814, com o enfraquecimento de Napoleão Bonaparte, Fernando sétimo foi reconduzido ao trono espanhol. O rei dissolveu as côrtes, invalidou a Constituição e fechou jornais e clubes liberais. A população colonial se sentiu traída pelo monarca, o que aumentou as reivindicações e a agitação política.

O haitianismo

A experiência política das juntas americanas encorajou grupos da elite local a exigir mais poder e, consequentemente, autonomia em relação à Espanha. A população pobre também passou a reivindicar melhores condições de vida e de trabalho, mais autonomia e direitos.

Grande parte dos membros das tropas locais era formada por indígenas, mestiços e negros, que enxergavam na luta por autonomia uma oportunidade de conquistar melhores condições de vida e direitos sociais. Diante dessa movimentação, a elite criolla temia o fim da escravidão e a participação dos indígenas, negros e mestiços nos espaços representativos.

Esse medo de revoltas populares por parte da elite americana, no século dezenove, era causado pela lembrança do processo de independência do Haiti; por isso, é denominado haitianismo. Para a elite colonial da América espanhola e da América portuguesa, a independência dos Estados Unidos era considerada um modelo a ser seguido, enquanto a haitiana representava uma ameaça a ser evitada.

Fotografia. Vista do alto para local aberto. Prédios em ruínas, com apenas algumas paredes em pé e muitos escombros pelo chão. Na rua, diversas pessoas passando ou observando as ruínas.
Ruínas da cidade de Jeremie, no Haiti, após o terremoto que atingiu o país. Foto de 2021.
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A população do Haiti sofre com as consequências de fenômenos naturais recorrentes. Em 2010, por exemplo, fortes terremotos devastaram o território haitiano, levando à morte mais de 200 mil pessoas e deixando 1,5 milhão de feridos e desabrigados. Em 2021, outro terremoto atingiu o país, deixando mais de 2 mil mortos e cêrca de 10 mil feridos. Além disso, o país é um dos mais pobres do mundo.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Como as Reformas burbônicas afetaram os diferentes grupos sociais das colônias da Espanha na América?
  2. Descreva os quatro estamentos sociais da Ilha de São Domingos no século dezoito.
  3. Qual foi a importância das juntas autônomas de governo para os movimentos pela independência das colônias espanholas?

A independência das colônias na América espanhola

Como você percebeu, o território espanhol era muito grande e formado por regiões com diferentes características. Por causa disso, os movimentos pela independência também ocorreram de maneira diversa em cada local. Houve, pelo menos, dois grandes blocos independentistas na América espanhola: o da Nova Espanha e o da América do Sul.

Em algumas colônias, foram as camadas populares que lideraram o movimento de independência. Em outras, foram integrantes da elite criolla que protagonizaram as lutas emancipatórias. Em algumas regiões e períodos, esses dois movimentos se fundiram, lutando lado a lado contra o domínio espanhol.

Houve, entretanto, grupos de criollos que continuaram apoiando a Coroa espanhola. Esses grupos acreditavam que poderiam perder muito mais do que ganhar com uma eventual independência e lutaram pela manutenção do sistema colonial.

Fotografia. Vista do alto para uma praça com um obelisco elevado no centro. Ao redor da praça, uma larga e extensa avenida, cheia de automóveis. Ao longo de sua extensão, ela é arborizada. À direita, muitos prédios de diversas alturas e cores.
Vista aérea da Avenida 9 de Julho, em Buenos Aires, Argentina. Foto de 2018.
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A Avenida 9 de Julho é uma das principais vias de tráfego em Buenos Aires. Seu nome provém de uma homenagem ao dia da declaração da independência da Argentina: 9 de julho de 1816.

Independência das colônias na América espanhola – século dezenove

Mapa. Independência das colônias na América espanhola, século 19. Apresenta a América espanhola no início do século 19 e datas de independência: Legenda: Em verde: Vice-Reino da Nova Espanha. Em laranja: Vice-Reino da Nova Granada. Em rosa: Vice-Reino do Peru. Em bege: Vice-Reino do Rio da Prata. Em lilás: Capitania-geral da Guatemala (Províncias Unidas da América Central a partir de 1823). Em roxo: Capitania-geral de Santo Domingo (República Dominicana a partir de 1865). Em amarelo: Capitanias-gerais de Cuba e do Chile. Linhas em azul-escuro: Território mexicano perdido para os Estados Unidos no século XIX. Linhas em vermelho: Área em disputa. Linha em cinza: Divisão política atual. Linha tracejada em preto: Divisão política em cerca de 1830. Seta roxa: Campanha de libertação do norte (Simón Bolívar). Seta vermelha: Campanha de libertação do sul (José de San Martín). Vice-Reino da Nova Espanha: correspondia ao atual território do México; às terras que correspondem à parte sul do atual território dos Estados Unidos); ao território da atual ilha de Porto Rico, na América Central insular. Vice-Reino da Nova Granada: era constituído pela Grã-Colômbia, que correspondia aos atuais territórios da Venezuela (cidades em destaque: Caracas e Angostura), Colômbia (cidades em destaque: Bogotá e Pasto), Equador (cidades em destaque: Quito e Guayaquil) e da Costa Rica. Vice-Reino do Peru: correspondia ao atual território do Peru, com destaque para as cidades de Callao, Lima, Pisco, Cuzco. Vice-Reino do Rio da Prata:  correspondia aos atuais territórios da Bolívia (cidade de La Paz), do Paraguai, do Uruguai e da Argentina (cidades de Mendoza em destaque). Capitania-geral da Guatemala (Províncias Unidas da América Central a partir de 1823): correspondia aos atuais territórios da atual Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica, na América Central. Capitania-geral de Santo Domingo: correspondia ao atual território da República Dominicana. Capitanias gerais de Cuba e do Chile: correspondia aos atuais territórios de Cuba e do Chile (cidades com destaque:  Santiago e Valaraíso). O Território mexicano perdido para os Estados Unidos no século XIX corresponde à atual porção sul dos Estados Unidos. As áreas em disputa situavam-se na América do Sul: terras que correspondem ao atual território da Guiana Francesa; terras da porção norte do atual Peru; porção norte do atual Chile; porção norte do atual Paraguai; porção sul da atual Argentina; porções dos territórios atuais dos estados de Roraima, Amazonas, Acre, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraná. Divisão política atual consiste nas fronteiras atuais dos países da América do Norte, Central e do Sul. Divisão política em cerca de 1830 incluíam as áreas em disputa citadas anteriormente no Chile;  entre Peru e Brasil (atual Acre); entre México e Estados Unidos (porção sul do atual Estados Unidos). A Campanha de libertação do norte (Simón Bolívar) partiu de  Angostura (atual Venezuela) em direção a La Paz (atual Bolívia), passando por Bogotá e Pasto (Colômbia), Quito e Guayaquil (Peru), Callao, Lima e Cuzco (Peru). A Campanha de libertação do sul (José de San Martín) partiu de Mendoza, na Argentina, em direção a Lima, no Peru, passando por Santiago e Valparaíso, no Chile, e por Pisco, no Peru. O mapa mostra o ano da independência das colônias na América Espanhola: México e Peru em 1821; Províncias Unidas da América Central em 1823; Cuba em 1898; Haiti em 1804;  República Dominicana em 1865; Grã-Colômbia em 1819;  Bolívia em 1825; Paraguai em 1811; Uruguai em 1828; Argentina em 1816; Chile em 1818, Brasil em 1822. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 990 quilômetros..

FONTE: dubí, G. átlas istorrique mondiál. Paris: Larrússi, 2003. página 242.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Cite e ordene cronologicamente o nome das primeiras cinco nações que se tornaram independentes na América.

O vice-reino da Nova Espanha

Em 1810, no vice-reino da Nova Espanha, o padre Miguel Hidalgo tornou-se o comandante de um movimento que reuniu indígenas e mestiços pobres, que lutavam pela independência do México e por amplas transformações sociais.

Hidalgo defendia o fim da escravidão e do trabalho forçado, o fim da cobrança de tributos dos indígenas e a divisão e a distribuição de terras das grandes propriedades.

A presença de indígenas pobres e armados incomodou profundamente setores da elite criolla, que negaram apoio ao movimento, receosos de que ele se convertesse em uma revolução popular.

Hidalgo chegou a liderar milhares de pessoas, mas suas tropas sofreram sucessivas baixas. Ele foi preso em 1811 e executado pelo exército espanhol. A liderança do movimento passou, então, ao padre José Maria Morélos, descendente de mestiços e negros e seguidor de Hidalgo.

Em 1813, Morélos convocou um congresso no qual apresentou o documento Sentimentos da nação, declarando a independência do México. Nessa ocasião, decidiu-se que o novo país manteria a fé católica, que o poder seria dividido em Executivo, Judiciário e Legislativo e que todos os homens maiores de idade seriam considerados cidadãos.

No ano seguinte, o congresso promulgou a primeira Constituição do país. Apesar de inicialmente vitorioso, Morélos passou a ser perseguido por apoiadores do rei espanhol, comandados pelo general Augustín de Iturbide, e acabou preso, julgado e fuzilado em 1815.

Mural. Uma profusão de elementos e diversas cenas coloridas compõem esse mural. No centro, um padre de batina preta, cabelos brancos, com o braço esquerdo erguido e segurando uma tocha em vermelho. Acima de sua cabeça, um estandarte com a representação de uma mulher com manto azul, emoldurada por uma forma ovalada em amarelo. A outra mão do padre está sobre a cabeça de um homem ajoelhado a seus pés. À esquerda alguns homens sem camisa, acorrentados. No canto superior esquerdo, pessoas aglomeradas. À direita, um militar montando um cavalo. Ele usa uniforme azul com detalhes dourados e empunha uma espada. No canto inferior direito uma mulher abaixada sobre um vitral colorido. Ela segura uma pequena espada brilhante de lâmina curva. Ao lado dela, no canto inferior esquerdo, homens curvados, sem camisa, estão presos por correntes; acima deles, outros homens, que acabaram de romper as suas correntes.
Detalhe do mural Ignácio Alhênde e a história do México, do artista David Leonardo, 1999. A obra, localizada em Sân Miguel de alênde, no México, é uma homenagem à independência do país.
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No centro da imagem, o padre Hidalgo foi representado segurando uma tocha, que simboliza a liberdade, ao lado de pessoas que lhe pediam ajuda. À esquerda dessa cena, foram representados escravizados com as correntes quebradas, simbolizando o fim da escravidão. À direita, Morélos foi retratado montando um cavalo e empunhando uma espada, em pose de ataque.

A independência do México

Enquanto se desenrolava o processo revolucionário popular, a elite do vice-reino da Nova Espanha enviou delegados às côrtes de Cádiz para participar da elaboração da primeira Constituição Espanhola. A elite criolla exigia mais autonomia econômica e política, mas ainda não pensava na independência.

Com o retorno de Fernando sétimo ao trono espanhol, a luta pela independência foi retomada. Porém, dessa vez, foi conduzida pela elite criolla, que havia contribuído para reprimir o movimento popular e ajudado a elaborar a Constituição.

Liderado pelo militar augustín de iturbíde, esse grupo proclamou a independência do México em 1821. Iturbide foi declarado imperador, mas governou por pouquíssimo tempo, renunciando ao trono dois anos depois, quando o país adotou o regime republicano.

Escultura. Sobre uma plataforma de pedra em cinza, ergue-se uma figura feminina em dourado, com grandes asas abertas. O torso está à mostra, e um tecido cobre a parte inferior do corpo. Ela ergue um objeto com uma das mãos. Uma das pernas está mais a frente, e ela pisa no chão graciosamente, com a ponta dos dedos do pé.
Monumento à independência, na Cidade do México, México. Foto de 2018.

Ao se tornar independente, o México anexou a capitania da Guatemala. Em 1823, a região se emancipou, formando as Províncias Unidas da América Central. Em 1838, as províncias se separaram, dando origem a Nicarágua, Honduras, Costa Rica, Él Salvador e Guatemala.

Fotografia. Vista de local aberto. Uma praça com ampla área cimentada, por onde pessoas caminham. Uma ampla construção horizontal tem janelas cobertas com toldos em vermelho. No centro, um pórtico alto em cujo topo está uma bandeira do México.  Entre essa construção e a praça, uma via, por onde passam automóveis. No canto esquerdo, no centro da praça, um grande mastro com uma enorme bandeira do México, composta de três faixas verticais, uma verde, uma branca e uma vermelha. Na faixa central, branca, um brasão.
Palácio Nacional, na Praça da Constituição, na Cidade do México, México. Foto de 2019.
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O Palácio Nacional é a séde do Poder Executivo federal do México desde 1823, quando foi instaurada a república no país. Ele foi construído na mesma área em que, no século dezesseis, estava localizado o palácio do imperador asteca Montezuma segundo e, posteriormente, a moradia do vice-rei hernãn cortêse o Palácio Imperial.

Movimentos de independência na América do Sul

Entre 1809 e 1810, foram formadas juntas de governo na capitania-geral da Venezuela. Simôn Bolívar, que fazia parte da elite criolla, foi um importante membro dessas juntas.

Influente defensor das ideias republicanas, nomeado comandante das fôrças militares, bolívar foi um dos principais responsáveis pela formação de um exército independente na região, composto de pessoas de diferentes culturas e camadas sociais.

Depois de algumas vitórias, em 1811, o movimento liderado por bolívar foi derrotado. Em 1813, ele liderou um ataque aos apoiadores da Coroa e tomou Caracas, capital venezuelana. A partir desse momento, passou a ser conhecido como O Libertador.

Após sofrer outras derrotas para os espanhóis, bolívar exilou-se na Jamaica, em 1814. Lá, no ano seguinte, escreveu a Carta da Jamaica, em que defendeu a ideia de que a conquista da independência só seria possível por meio da união entre os povos americanos. Do exílio, convocou toda a América a lutar pela independência.

Depois de combater as tropas espanholas no norte, em 1819, ele declarou a independência da Grã-Colômbia, região formada pelo vice-reino de Nova Granada e pela capitania-geral da Venezuela, e foi seu primeiro presidente. Posteriormente, a região se fragmentou, dando origem à Colômbia, ao Equador e à Venezuela.

A independência do vice-reino do Rio da Prata

Em 1812, após combater as tropas napoleônicas na Espanha, o integrante da elite criolla do vice-reino do Rio da Prata (atual Argentina), rossê de sãn martín, retornou a Buenos Aires, onde assumiu o comando da luta pela independência nessa região.

A conquista da independência do vice-reino ocorreu em 1816, sendo instituída a República das Províncias Unidas do Rio da Prata. Os exércitos liderados por sân participaram ainda da luta pela independência do Chile, ocorrida em 1818, e do Peru, conquistada em 1821.

Pintura. Em um local amplo e comprido, com teto claro em formato de arcos, há dezenas de homens reunidos. Estão aglomerados à esquerda e à direita, deixando um corredor no centro. Em destaque, um homem em pé, com vestes escuras, está com o braço direito estendido. Ele parece discursar. À frente dele, homens sentados, ao menos dois deles usam vestes religiosas, claras. Ao fundo, uma mesa com toalha verde atrás da qual está sentado um homem, visto parcialmente Atrás dele, um fundo em verde.
Cabildo aberto de 22 de maio de 1810 em Buenos Aires, pintura de Pedro Subercasô, 1910.
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Nessa pintura, o artista representou a reunião organizada pela elite política e econômica da cidade de Buenos Aires (na época, parte do vice-reino do Rio da Prata) para debater a legitimidade do vice-rei espanhol e a conveniência de um governo local autônomo para substituí-lo. O vice-rei baltassár hidalgo de cisnêros foi afastado de seu cargo, o que revelou o descontentamento e o rompimento, cada vez mais próximo, entre o governo colonial e o domínio espanhol.

Versões em diálogo

Simôn Bolívar produziu uma série de documentos que marcaram as questões políticas e sociais de seu tempo. Leia a seguir trechos de dois desses documentos e responda às questões.

TEXTO 1

O sucesso coroará nossos esforços porque o destino da América fixou-se irrevogavelmenteglossário ; o laço que a unia à Espanha está cortado: a opinião era toda sua fôrça, por ela estreitavam-se mutuamente as partes daquela imensa monarquia; o que antes as atavaglossário agora as divide; maior é o ódio que a Península nos inspirou que o mar que dela nos separa; reticências a morte, a desonra, tudo o que é nocivo nos ameaça e atemoriza; tudo sofremos dessa desnaturada madrasta. O véu rasgou-se, já vimos a luz e querem nos fazer voltar às trevas; romperam-se os grilhõesglossário ; já fomos livres e nossos inimigos querem novamente escravizar-nos. Por tudo isso a América luta desesperadamente e, raras vezes, o desespero não leva consigo a vitória.

bolívar, S. Carta da Jamaica (1815). ín bolívar, S. Escritos políticos. Campinas: Editora da unicâmpi, 1992. página 53-55.

TEXTO 2

“Meu caro general:

Sabe sua excelência que governei por vinte anos e deles não tirei mais que poucos resultados certos:

1) A América do Sul é ingovernável;

2) Quem serve a uma revolução, ara no mar;

3) A única coisa que se pode fazer na América do Sul é emigrar;

4) Nossos países cairão infalivelmente nas mãos da multidão desenfreada, para depois passar a tiranetesglossário , quase imperceptíveis de todas as cores e raças;

5) Devorados por todos os crimes e extinguidos pela ferocidade, os europeus não se dignarão mais nem a conquistar-nos;

6) Se fosse possível que uma parte do mundo voltasse ao caos primitivo, este seria o último período da América do Sul.

bolívar, S. Carta a ruân rossê Flores (1830). ín: bolívar, S. Escritos políticos. Campinas: Editora da unicâmpi, 1992. página 139-140.

Responda no caderno.

  1. Em que contexto os dois documentos foram produzidos?
  2. No texto 1, qual é a visão de bolívar sobre as relações entre as colônias americanas e a Espanha? Transcreva no caderno um trecho que justifique sua resposta.
  3. No texto 2, qual parece ser a opinião de bolívar sobre os processos de independência na América espanhola?
  4. O que poderia explicar a mudança de opinião de bolívar?

A participação feminina nos processos de independência

Em todas as campanhas e movimentos pela independência da América espanhola, a participação das mulheres foi fundamental. Muitas atuaram como soldados nos exércitos, fornecedoras de apoio às tropas, mensageiras, articuladoras políticas e difusoras das ideias revolucionárias.

Leona Vicario, por exemplo, participou ativamente do processo de independência da Nova Espanha. Ela empregou sua fortuna na causa revolucionária, atuou como informante dos rebeldes e publicou os acontecimentos em jornais. Além disso, correspondeu-se por cartas com José Maria Morélos para discutir os rumos do movimento.

Manuela sáenz também foi muito importante para os movimentos de independência na América espanhola. Nascida em Quito em 1797, ela atuou em diversas frentes, participando das reuniões dos grupos independentistas, distribuindo informações, divulgando as ideias revolucionárias e comandando batalhões.

sáenz foi condecorada por sãn martín com a Ordem do Sol do Peru por sua participação nas guerras de libertação do vice-reino do Peru. Ela foi reconhecida, principalmente, por seu protagonismo em importantes batalhas, como a de aiacútcho, em 1824. Ela também combateu ao lado de Simôn Bolívar, mas, ao final dos processos de independência da região, não foi incluída na política republicana.

ruána assurduí, de origem indígena, foi líder de guerrilhas contra o exército espanhol na região correspondente à da atual Bolívia. Assim como Manuela sáenz, após o encerramento dos embates, foi excluída da vida política e terminou seus dias na pobreza.

Pintura. Retrato de perfil de uma mulher de cabelo escuro preso no alto, em coque. O queixo é arredondado e o pescoço largo. Usa brinco e um vestido em verde, com renda em branco, que lhe deixa o colo nu.
Pintura. Retrato de mulher de cabelo escuro preso para trás em coque baixo. Usa um vestido escuro, com o pescoço e ombros à mostra. Usa um colar que pende por todo o torso e cuja ponta ela segura com a mão.
Pintura. Retrato de mulher de cabelo escuro dividido no meio e preso para trás. Ela tem marcas de expressão na testa e ao redor da boca, usa uniforme vermelho e preto com abotoaduras douradas. Há duas medalhas presas no uniforme. Com a mão esquerda, ela segura o cabo de uma espada, vista parcialmente.
Na sequência: Retrato de Leona Vicario, pintura do século dezenove; Retrato de Manuela sáenz, pintura de Pedro Duarte, 1825; e Retrato de ruána assurduí, pintura de 1857.
Fotografia. Moeda dourada com o busto de perfil de uma mulher de cabelo preso, com brinco e de pescoço largo. A borda da moeda é prateada e tem inscrições em espanhol.
Moeda comemorativa mexicana, de 2010, com a imagem de Leona Vicario.
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A participação das mulheres nas lutas pela independência nas diversas regiões da América Latina foi de muita relevância. Em 2009, Leona Vicario estampou a moeda de 5 pesos em comemoração ao Bicentenário da Independência do México.

O pós-independência

As guerras de independência na América espanhola foram longas e violentas. Estima-se que, apenas no México, cêrca de 400 mil pessoas morreram nos conflitos. Na região da Venezuela, aproximadamente 250 mil pessoas perderam a vida.

Apesar de indígenas e mestiços terem lutado nos campos de batalha, os Estados nacionais formados após a emancipação mantiveram a hierarquia colonial. Os privilégios políticos e sociais da elite branca continuaram sobrepondo-se aos direitos dos demais grupos sociais e étnicos. De maneira geral, os integrantes dessa elite achavam que as camadas populares eram ignorantes e, por isso, precisavam educá-las antes de conceder-lhes o direito de participar das questões políticas.

Além disso, o poder da Igreja Católica, que era criticado pelos participantes das revoluções liberais na Europa, permaneceu quase intacto na América espanhola.

Em outras instâncias, porém, já na primeira metade do século dezenove, nos países da América espanhola foi alcançada uma série de avanços políticos que na Europa ocorreriam décadas mais tarde. Entre esses avanços estavam a fragmentação de impérios em nações independentes e autônomas e a instituição de regimes republicanos.

Assim, pode-se dizer que o continente americano foi pioneiro nas discussões e tentativas de praticar ideias liberais e iluministas. Mesmo antes do fim das lutas por independência, por exemplo, os integrantes dos movimentos emancipatórios já discutiam os modelos de república a ser adotados.

Fotografia. Grupo de pessoas em manifestação, segurando uma bandeira com faixas coloridas. Alguns usam máscara de proteção no nariz e na boca. Alguns carregam bandeiras nas cores do arco-íris ou do Equador (com três faixas horizontais em amarelo, azul e vermelho e um brasão ao centro). Outros manifestantes usam lenços coloridos no pescoço. Ao fundo, árvores altas com folhas em verde claro.
Indígenas em manifestação de apoio a iacú péres, candidato à Presidência do Equador pelo Movimento de Unidade Plurinacional patchá cutíque, em Quito, Equador. Foto de 2021.
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Após a independência das colônias da América espanhola, indígenas, negros e pessoas pobres em geral tiveram de lutar muito ao longo dos anos para ter acesso, por exemplo, à participação no processo eleitoral por meio do voto.

Dica

SITE

Memorial da América Latina

Disponível em: https://oeds.link/k6IC7j. Acesso em: 23 fevereiro 2022.

Na página virtual dessa instituição, criada com o objetivo de aproximar o Brasil dos demais países latino-americanos, estão disponíveis informações sobre a cultura, a história, a política, a arte e outros temas relacionados à América Latina.

O Pan-americanismo

Após a independência, discutiu-se a possibilidade de manter os territórios unidos em uma confederação pan-americana. As principais finalidades dessa aliança seriam a manutenção da paz na região, a união entre os países americanos e a formação de um bloco para a defesa contra eventuais agressões externas.

Simôn Bolívar foi o principal defensor dessa ideia. Em 1824, ele convocou representantes dos países independentes do continente para um encontro. Dois anos depois, ocorreu o Congresso do Panamá, no qual representantes das nações americanas discutiram a proposta do pan-americanismo.

Estátua. Um homem em pé com um braço para baixo e o outro apoiado atrás, na pedra do monumento. O cabelo está penteado em um topete; um tecido volumoso está atrás dele. Acima da cabeça dessa escultura em marrom escuro, uma estrutura triangular em pedra com inscrições em espanhol. De cada lado dessa estrutura, uma escultura de um homem nu; eles se dão as mãos, ao centro. Acima deles, a escultura de um pássaro com as asas entreabertas.
Estátua de Simôn Bolívar, na Cidade do Panamá, Panamá. Foto de 2016.
Fotografia. Uma mulher de calça jeans, bolsa escura, camiseta azul e cabelos brancos passa na calçada em frente a um grande mural com bustos em preto e branco de um homem de rosto comprido, testa franzida, sobrancelha fina, olhos grandes e boca pequena. Em três ilustrações, ele usa vestes militares. Em uma das ilustrações à direita, vê-se o rosto dele pela metade e, em outra, o rosto aparece emoldurado em um quadrado. Alguns quadrados nessa ilustração são em amarelo, vermelho ou azul escuro. Abaixo delas, três faixas coloridas, horizontais: amarelo, azul escuro com três estrelas distribuídas ao longo da faixa,  e vermelho.
Mural em homenagem a Simôn Bolívar, em San Antonio del Táchira, Venezuela. Foto de 2014.
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A figura de Simôn Bolívar é bastante presente em diversos locais da América Latina, nomeando ruas, praças, monumentos e até países. O Estado boliviano, por exemplo, foi fundado em 1825, com o nome de República de bolívar em homenagem ao líder, passando, no ano seguinte, a ser chamado de República da Bolívia.

A fragmentação territorial

A proposta de uma confederação pan-americana não foi aceita em todo o continente. A postura republicana e antiescravista defendida no Congresso do Panamá foi considerada radical por muitos países, como os Estados Unidos (que mantiveram a escravidão em seus estados do sul mesmo após a independência) e o Brasil (que também manteve o sistema escravista e adotou o regime monárquico).

Além disso, em vários locais da América Latina, os representantes da antiga elite colonial, que tinham grandes propriedades, fraudavam eleições e estabeleciam mecanismos de contrôle de voto para se manter sempre no poder ou derrotar adversários. Esses líderes, chamados caudilhos, ficaram cada vez mais poderosos ao longo dos séculos dezenove e vinte.

As diferenças regionais se refletiram nas lutas e na administração dos territórios libertados, acentuando personalismosglossário de líderes locais e provocando a fragmentação territorial. Com isso, ideias de caráter centralizador, aristocrático e conservador acabaram se impondo.

Diante desses fatores, em vez de formar uma confederação, os territórios coloniais se fragmentaram em diversos países independentes e soberanos. Mesmo assim, os representantes enviados ao Congresso do Panamá, em 1826, aprovaram princípios inovadores para a época, como a solução pacífica para conflitos, o auxílio e a defesa mútuos e a condenação do tráfico de escravizados.

Fotografia. Escultura de uma grande mão de concreto sobre uma plataforma de mesmo material e cor. No centro dela um mapa da América Latina em vermelho, simbolizando sangue escorrendo da palma ao punho e braço. Ao fundo construções em concreto em branco e vidros em preto. Mais ao fundo, prédios de diferentes cores. No alto, céu azul com poucas nuvens.
Mão, escultura de Oscar Niemáier, 1988, no Memorial da América Latina, São Paulo (São Paulo). Foto de 2019.
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Imagens em contexto!

A escultura Mão é considerada um dos símbolos do Memorial da América Latina. Projetada pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemáier, a obra denuncia a violência da colonização no território latino-americano e homenageia as lutas dos povos da região por liberdade, soberania e justiça social.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Descreva resumidamente o processo de independência do vice-reino da Nova Espanha.
  2. Identifique duas mulheres que se destacaram nos processos de independência na América espanhola e demonstre como foi a participação de cada uma.
  3. Quais eram os objetivos dos congressistas pan-americanos reunidos em 1826? Que fatores contribuíram para o fracasso desse projeto?

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Leia o texto a seguir, sobre a Revolução Haitiana, e responda às questões.

“Para a América espanhola reticências o Haiti foi um exemplo e uma advertência, observados com crescente horror tanto por governantes como por governados.”

línti, J. As origens da independência da América espanhola. ínbétel, L. (. História da América Latina. São Paulo: Edusp: Imprensa Oficial do Estado; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2001. volume 3,página69.

  1. Para quais grupos sociais da América espanhola o Haiti foi uma advertência observada com horror?
  2. Em que sentido o que ocorreu no Haiti foi um exemplo? Os integrantes de que camadas sociais poderiam seguir esse exemplo?

2. Leia o texto sobre a independência da América espanhola e, no caderno, identifique a alternativa correta.

“A luta pela independência na América espanhola implicou uma passagem de todo o poder político àqueles que já possuíam a maior parte do poder econômico.”

POMER, L. As independências na América Latina. décima ediçãoSão Paulo: Brasiliense, 1990. página12.

Segundo Leon Pomer, é correto afirmar que:
  1. os trabalhadores da cidade e do campo tiveram sua participação política garantida e melhoria em suas condições de vida.
  2. a mobilidade social contribuiu para que os indígenas conseguissem um lugar melhor na hierarquia social.
  3. funcionários e clérigos nomeados pela Coroa puderam exercer livremente seu domínio político.
  4. a aristocracia criolla passou a dominar politicamente as sociedades americanas sem intervenção política e econômica da Espanha.
  5. com o fim do domínio espanhol, as nações que se formaram tornaram-se democracias que garantiram os direitos civis, políticos e sociais a todos os cidadãos.

Aprofundando

3. Leia o texto a seguir, sobre o conceito de liberdade no contexto da independência das colônias na América espanhola.

Liberdade, no entanto, não é um conceito entendido de fórma única Para um representante das classes proprietárias venezuelanas, liberdade era sinônimo de rompimento com a Espanha para a criação de fulgurantesglossário nações livres reticências para comerciar com todos os países, livres para produzir

Para outros dominados e oprimidos, como os indígenas mexicanos, a liberdade passava distante da Espanha e muito próxima da questão da terra. Na década de 1810, os líderes da rebelião camponesa mexicana, reticências [padre clamavam por terra para os deserdadosglossário .”

PRADO, M. L. A formação das nações latino-americanas. São Paulo: Atual, 1994. página 15-16.

  1. No texto, a autora afirma que liberdade “não é um conceito entendido de fórma única”. Como Simôn Bolívar entendia o conceito de liberdade? E os indígenas mexicanos, como eles compreendiam esse conceito?
  2. Segundo o texto, a posição social de um indivíduo influenciaria sua concepção de liberdade? Explique utilizando informações apresentadas no texto.
  3. É possível dizer que a libertação da América do domínio espanhol proporcionou a liberdade desejada por todos os latino-americanos? Por quê?

4. Uma das muitas homenagens que os líderes dos processos de independência da América espanhola receberam foi a mudança do nome de um torneio de futebol, que até 1965 se chamava Copa dos Campeões da América, para Copa Libertadores da América. Considerando isso, leia o trecho da notícia a seguir a respeito de uma polêmica recente envolvendo a memória dos chamados libertadores.

“Quando foi fundada, a Copa Libertadores da América ganhou esse nome em homenagem à memória dos líderes políticos que lutaram pela independência do continente ante o domínio das metrópoles europeias.

Sessenta anos depois, a final do torneio entre ríver plêite e bôca júniors [clubes de futebol argentinos] será jogada em Madri, a capital da Coroa espanhola, depois dos incidentes [violentos] que levaram ao adiamento da partida em Buenos Aires.

O ineditismo da decisão reticências levanta um debate curioso. Heróis nacionais como e tupác amarú passaram a vida e às vezes morreram lutando contra a Coroa espanhola. A final do torneio que os homenageia acontecer na Espanha representa uma traição simbólica à memória e ao legado dos próceresglossário  da independência do continente?

‘A final em Madri representa uma espécie de confissão, como se a América Latina não fosse capaz de sediar uma final’, disse Idelber Avelar, professor de literatura latino-americana da University, em Nova Orleans”.

uílquisson, A.; OLIVEIRA, L. Libertadores da América na Espanha é traição a heróis da independência? Uol, 30 novembro 2018. Disponível em: https://oeds.link/h5YIoF. Acesso em: 28 fevereiro 2022.

Fotografia. Dois jogadores disputam a bola em uma partida de futebol. À esquerda, jogador do Boca Juniors de uniforme azul com uma listra amarela. À direita, jogador do River Plate de camisa branca com uma faixa vermelha e calção preto. Ao fundo, pessoas desfocadas.
Disputa final da Copa Libertadores da América entre ríver plêite e bôca júniors no estádio Santiago Bernabeu, em Madri, Espanha. Foto de 2018.
Com base nos incidentes citados no texto, escreva uma redação dissertativa sobre a polêmica em torno da mudança do local da partida final do campeonato Libertadores da América de 2018. Explique por que essa mudança causou polêmica.

Glossário

Jurisdição
: autoridade concedida a determinados grupos para exercer fiscalização política e econômica.
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Carestia
: falta de produtos e aumento do custo de vida.
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Minar
: vencer, arruinar.
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Irrevogavelmente
: de maneira que não se pode anular ou voltar atrás.
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Atar
: ligar, unir.
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Grilhão
: ligação que aprisiona.
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Tiranete
: pequeno tirano.
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Personalismo
: organização política que tem a personalidade de seu líder como base.
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Fulgurante
: brilhante, destacado, grandioso.
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Deserdado
: privado de bens e vantagens, desfavorecido.
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Prócer
: líder, chefe.
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