CAPÍTULO 9 NACIONALISMOS, INDUSTRIALIZAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS NO SÉCULO XIX

No capítulo 2, você estudou a primeira fase da Revolução Industrial, iniciada na Grã-Bretanha no século dezoito. Agora, conhecerá as mudanças provocadas pela chamada Segunda Revolução Industrial, iniciada no século dezenove.

Você já deve ter experimentado alimentos industrializados com sabor artificial similar ao natural, como balas, bolachas e salgadinhos. A possibilidade de produzir sabores artificiais foi descoberta no século dezenove, por meio de pesquisas com os materiais utilizados nas indústrias. Esse é um exemplo dos avanços da indústria desse período, decorrentes de descobertas e inventos na área da ciência e da tecnologia. Diante desses avanços tecnológicos, científicos e industriais, muitas pessoas passaram a acreditar que as possibilidades humanas seriam ilimitadas.

Cartaz. Representação de um painel decorado com flores e frutos. Ao redor, ramos espalhados e formando espaços; dentro de cada espaço uma palavra escrita em inglês, como: lemon, cinnamon, celery, rose, peach, orange, vanilla e outros. No centro, texto em letras garrafais em inglês: HARRISON'S FLAVORING EXTRACTS.
Cartaz de propaganda dos extratos de aromas e sabores comercializados pela Companhia Harrison, da Filadélfia, Estados Unidos, c. 1868.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

No cartaz, no sentido anti-horário, estão escritos, de cima para baixo, os aromas e sabores dos extratos comercializados: limão, canela, salsão, noz-moscada, rosa, pêssego, licor, baunilha, pimentão, amêndoa, gengibre, laranja.

Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Qual é a relação da imagem desta página com a Segunda Revolução Industrial?
  2. Cite outros inventos ou descobertas científicas realizados no final do século dezenove.
  3. Em sua opinião, a maioria das pessoas ainda acredita que não há limites para as ações humanas impulsionadas por descobertas científicas e tecnológicas?

A França e as ondas revolucionárias de 1830

No Congresso de Viena, foram restabelecidos os poderes e estruturas sociais que vigoravam na Europa antes da Revolução Francesa. Para garantir a permanência da família real no poder, era preciso impedir a disseminação das ideias liberais e nacionalistas.

O desafio das monarquias era conciliar o absolutismo com as demandas políticas e sociais. Na França, por exemplo, quando Luís dezoito foi conduzido ao trono, restaurando o poder na família burbôm, foi instituída a liberdade religiosa e de imprensa (antiga demanda liberal).

As medidas conciliatórias do rei, porém, foram insuficientes para barrar as contestações à monarquia absolutista. Além disso, nem todos os burbôm concordavam com a construção de novos pactos políticos. Com a morte de Luís dezoito, em 1824, Carlos décimo assumiu o trono ocupado por seu irmão. O novo monarca estabeleceu restrições à liberdade de imprensa e, em 1830, determinou a dissolução da Câmara dos Deputados, órgão legislativo criado no governo anterior.

Pintura. Retrato de Calos Décimo, visto de corpo inteiro em local fechado. Ele é retratado de pé vestindo um longo manto, ou robe, claro com detalhes e ornamentos dourados. Nas mangas, plumagem. Usa sapato claro com bico fino. Com uma das mãos segura um cetro, apoiado sobre uma mesa, onde também se vê uma coroa apoiada sobre uma almofada. Atrás dele, o trono é visto parcialmente na cor vermelha.
Retrato de Carlos décimo, pintura de Robert , 1825.
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Na imagem de 1825, o pintor recorreu aos símbolos da nobreza e da monarquia absolutista, como a coroa, o cetro e o robe de coroação, para representar o poder do rei. A retomada do absolutismo nos moldes anteriores à Revolução Francesa, porém, não estava alinhada com o contexto político, cultural e social pós-revolucionário.

A resposta da população às determinações de Carlos décimo demonstrou que não havia mais espaço para a manutenção de métodos autoritários sem contestação: entre os dias 27 e 29 de julho de 1830, franceses de diferentes grupos sociais iniciaram uma revolta contra Carlos décimo. Esse movimento ficou conhecido como os Três Dias Gloriosos ou Revoluções de Julho.

Como resposta à movimentação popular, o duque de Orleans, Luís Filipe, com apoio da burguesia francesa, assumiu o trono e adotou o modelo da monarquia constitucional, impedindo a instalação de uma república, como queriam os revolucionários. Ainda assim, as manifestações abalaram a Europa ao demonstrar que os ideais liberais e nacionalistas continuavam fortes e inspiravam outras revoltas.

Em 25 de agosto de 1830, iniciou-se o movimento por meio do qual a Bélgica se tornou independente do Reino Unido dos Países Baixos, que, desde o Congresso de Viena, tentava impor a cultura holandesa à população local. Houve rebeliões também em locais como Espanha, Península Itálica, Reino Unido e Estados Germânicos.

Desenho em preto e branco. Dois homens com vestes militares e uma faixa atravessada diagonalmente no corpo. Usam botas longas. Ao lado deles uma mulher com um longo vestido, cuja calda é segurada por um garoto vestido com roupa e chapéu pretos. Eles observam bandeiras hasteadas à esquerda, com a boca aberta em sinal de espanto. Em meio às bandeiras, há algumas construções, dentre elas, uma construção com duas torres iguais.
Representação de Carlos décimo e sua família durante a revolução de julho de 1830 em desenho do mesmo ano.
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No desenho de 1830, Carlos décimo, seu filho e sua esposa são representados, amparados por um serviçal, observando as bandeiras francesas hasteadas na região da Catalunha, na Espanha. As revoltas de 1830 não se limitaram à França, incentivando movimentos em outras regiões.

A Primavera dos Povos

Em 1848, outros movimentos em defesa da instauração de repúblicas ocorreram em diversas regiões do continente europeu. Cada movimento teve suas especificidades, mas, em todos, os manifestantes exigiam a instauração de governos amparados por códigos civis (Constituição) e com estrutura democrática. Ampliava-se, assim, a busca dos cidadãos por representatividade e não se aceitava mais a existência de governos com autoridade absoluta e inquestionável.

As pessoas se sentiam cada vez mais pertencentes a uma nação, vinculadas a uma pátria, ao solo em que nasceram ou em que viviam. Como consequência, ganhavam fôrça a ideia de independência do domínio estrangeiro e a noção de que os habitantes de um local que compartilhavam uma história e tradições culturais reconheciam-se como povo e deviam reger-se livremente.

Após a Primavera dos Povos, o nacionalismo se tornou um fenô- meno político relevante. Foram realizados movimentos de unificação de territórios – nos Estados alemães e italianos – e pelo fim da dominação de outros países – na Irlanda (contra o Reino Unido) e na Polônia (contra a Prússia). O Império Austro-Húngaro enfrentou a revolta dos tchecos, dos italianos e dos húngaros.

Apesar das especificidades de cada um dos movimentos citados, eles tiveram como resultado comum o enfraquecimento do absolutismo monárquico e o aumento do poder da burguesia liberal.

Pintura. Em um espaço aberto, sob um céu encoberto com nuvens e com a silhueta de uma cidade ao fundo, no centro da pintura, uma mulher, em pé. Ela aparece descalça, com o busto desnudo, cabelos presos e olhando para trás, ela usa um barrete vermelho na cabeça e traja um vestido longo amarelo claro. Um tecido vermelho está atado à sua cintura. Em uma das mãos, a mulher segura uma arma de cano longo com uma baioneta acoplada e, na outra, sustenta com o braço erguido uma haste com que empunha a bandeira da França, com listras verticais nas cores vermelha, branca e azul, da esquerda para a direita. À direita dela, um menino de pé portando duas pistolas, uma em cada mão. O braço direito erguido ao alto; o esquerdo abaixado, ao lado do corpo. Ele tem os cabelos cheios e castanhos e usa uma boina azul sobre a cabeça. Veste uma camisa branca com as mangas arregaçadas, um colete com os botões abertos na cor azul escuro e calças largas, claras e remendadas em um dos joelhos. Leva uma bolsa a tiracolo, com uma alça muito comprida para sua altura, ultrapassando sua coxa. Diante deles, no chão, à frente da cena, homens caídos entre escombros, restos de uma barricada. Em primeiro plano, dois homens caídos desfalecidos no chão. Um deles, veste apenas uma camisa branca e uma meia azul no pé direito. Um pouco acima, um homem de casaco azul e lenço vermelho amarrado na cabeça está ajoelhado sobre os escombros, olhando para a mulher ao centro. Ao lado esquerdo dela, um homem em pé, de cabelos e barba escura, portando uma espingarda, vestindo um casaco azul escuro e um colete da mesma cor com os botões metálicos fechados; ele tem a camisa aberta, um colarinho escuro e uma cartola em sua cabeça. Ao lado dele, à esquerda, um homem em pé, vestindo uma camisa branca entreaberta, suspensórios, macacão de trabalho de cor clara e uma boina, portando uma espada em uma das mãos e uma pistola presa à cintura. Ao fundo, uma multidão de pessoas empunhando espadas e armas de fogo.
A Liberdade guiando o povo, pintura de Eugêne Delacroá, 1830.
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A obra do artista francês Eugêne Delacroá se tornou modelo de representação dos movimentos liberais do século dezenove. Fazendo alusão à Revolução de 1830 na França, o artista representou marriâne, no centro da imagem, simbolizando a liberdade e a nacionalidade francesa. marriâne era a alegoria da república desde o século dezoito.

Europa: as revoluções de 1848

Mapa. Europa: as revoluções de 1848. Mapa mostrando a parte central da Europa em meados do século 19, destacando os territórios da França, do Império Austríaco e dos Estados que comporiam a Alemanha e a Itália. O mapa identifica por meio de um ícone em formato de explosão as cidades onde houve insurreições em 1848: em Paris, na França; em Berlim e Colônia, no Reino da Prússia; em Frankfurt, Stuttgart e Munique, nos Estados Germânicos; em Praga, Viena, Budapeste, Veneza e Milão, no Império Austríaco; em Turim, no Reino do Piemonte-Sardenha; em Florença; em Nápoles e Palermo, no Reino das duas Sicílias. Na parte inferior, à direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 120 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2010. página 231-232.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

O mapa apresenta os locais de eclosão das revoltas liberais de 1848. Analise-o e explique a razão pela qual é possível afirmar que os movimentos e as revoluções liberais se alastraram pela Europa.

A França de 1848

Com a inflação e a alta dos preços dos alimentos e outros suprimentos, em 1848, a França foi palco de revoltas populares contra a monarquia constitucional representada por Luís Filipe, que foi obrigado a abdicar, sendo instaurada a Segunda República Francesa nesse mesmo ano.

A constituição do novo governo foi debatida entre republicanos, socialistas, monarquistas e integrantes de outros grupos políticos. Apesar das diferentes propostas colocadas em discussão, decidiu-se instaurar um sistema de governo constituído da Assembleia, do Conselho de Estado e da Presidência da República.

A Assembleia era formada por homens eleitos para o cargo por três anos. Eles escolhiam os membros do chamado Conselho de Estado, que se mantinham no cargo por seis anos e tinham a função de propor leis e assessorar o presidente da república e seus ministros.

O presidente da república, por sua vez, exercia o Poder Executivo, com mandato de quatro anos. Apesar de as leis serem elaboradas pelo Conselho de Estado, elas eram aprovadas na Assembleia.

Tinha-se, portanto, o estabelecimento de um regime representativo, pois se baseava no sufrágio universal masculino, ou seja, podiam votar todos os homens independentemente de posses, credos ou títulos. As mulheres e os homens menores de idade eram excluídos do processo.

Pintura. Vista em local aberto, com destaque para uma rua destruída por explosão. Há restos de pedras usadas para pavimentação da rua e corpos de pessoas mortas. As edificações próximas estão com sinais de carbonização.
Barricada na Rue de la Mortellerie, junho de 1848, pintura de , 1849.

Vamos pensar juntos?

O sufrágio universal, ou seja, a possibilidade de participação de todos na vida política de uma nação, é fundamental para a construção da cidadania. Para a professora françúaze tebô, a cidadania é o exercício dos direitos reconhecidos pelo Estado.

O Estado pode atuar para assegurar a construção da cidadania plena, na qual todos têm os mesmos direitos e deveres (nos campos político, econômico, social e cultural), ou negar direitos e deveres aos habitantes do território. A cidadania, portanto, resulta de lutas sociais pelo estabelecimento dos direitos dos cidadãos.

Durante boa parte da história republicana, porém, só os homens foram considerados cidadãos. Como você estudou no capítulo 4, os direitos apresentados na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada em 1789, durante a Revolução Francesa, por exemplo, não se aplicavam às mulheres.

Isso não significa que as mulheres não lutaram na revolução. Muitas participaram ativamente da organização dos exércitos e dos clubes de discussão política. Em 1791, Olamp de Gúge, por exemplo, escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Como você analisou no capítulo 4, a luta dessas mulheres provocou duras reações dos homens, que ordenaram o fechamento de clubes e executaram Olamp de Gúge na guilhotina.

Fotografia. Vista em local aberto, com destaque para um grande cartaz onde se lê:  MULHERES NA RUA A LUTA CONTINUA! Em volta do cartaz muitas mulheres vestidas com camisetas roxas, e vermelhas, em protesto.
Protesto realizado em Salvador (Bahia) no Dia Internacional da Mulher. Foto de 8 de março de 2020. A luta das mulheres por direitos continua.

Nos movimentos de 1830 não foi diferente. A Constituição de 1830 e o modelo de Estado geralmente são destacados como importantes conquistas sociais baseadas no sufrágio universal masculino, mas pouco se reflete sobre a manutenção das desigualdades de gênero.

De acordo com a historiadora françúaze tebô:

no momento da Revolução, as mulheres não são consideradas como verdadeiros indivíduos, mas identificadas à comunidade familiar, o que o Código Civil de 1804 concretiza ao submetê-las à tutela no interior do casamento; as cidadãs são mães de cidadãos. Por outro lado, a emergência do individualismo e de uma sociedade masculina de indivíduos iguais é um tipo de ruptura que só é culturalmente aceitável porque é compensada com manutenção de uma família-comunidade e com a separação entre o espaço público e o espaço familiar.

A exclusão das mulheres da cidadania política é utilizada, no século dezenove, como prova do seu estatuto de menores e como argumento para justificar sua proteção específica, por parte do Estado. reticências

Condição da paz social na França após a Revolução de 1848, a instauração do sufrágio universal masculino está largamente na frente dos costumes Como, a cada tremor revolucionário do século (1830, 1848, 1871), mulheres fazem aparição pública e coletiva e reivindicam ser associadas à gestão da cidade, elas só encontram zombarias, são derrotadas e às vezes condenadas ao exílio”.

Tebô, F. Mulheres, cidadania e Estado na França do século vinte. Tempo, Rio de Janeiro, número 10, 2000, página 5-6. 

As mulheres ativas no mercado de trabalho, em clubes de discussão de livros ou outros espaços culturais, que lutavam por representatividade política, eram frequentemente acusadas de ser péssimas mães ou esposas. Não ocorreram, portanto, mudanças no discurso político oficial sobre gênero e cidadania entre o Antigo Regime e a organização dos Estados liberais, durante o século dezenove, na Europa.

Ainda assim, apesar dos obstáculos encontrados, as mulheres continuaram lutando por direitos e conquistaram o direito ao voto no século vinte.

Responda no caderno.

  1. Explique como françúaze tebô define cidadania.
  2. Descreva a participação de mulheres nos movimentos revolucionários do final do século dezoito e do século dezenove.
  3. De acordo com françúaze tebô, por que a cidadania das mulheres não foi reconhecida pelo Estado no século dezenove?
  4. Por que se pode afirmar que a política do Antigo Regime e a dos movimentos liberais sobre a questão de gênero foram as mesmas?

Segundo Império Francês

Apesar da nova constituição, três anos mais tarde, Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte, que havia vencido as eleições para a Presidência da República, proclamou-se imperador francês. Assumindo o título de Napoleão terceiro, ele iniciou o Segundo Império Francês.

A experiência republicana foi breve no país. Quando Napoleão terceiro deu o golpe de Estado, teve apoio das elites francesas, interessadas nos favorecimentos econômicos que Napoleão lhes daria em troca. Napoleão terceiro tinha traçado um projeto político de continuidade da dinastia Bonaparte, mas era evidente a oposição da classe trabalhadora, formada por socialistas, anarquistas e republicanos, e de grupos de intelectuais franceses a seu governo.

Quando Bonaparte terceiro assumiu o poder, a França estava marcada por profunda desigualdade social. Entre 1846 e 1870, a população de Paris passou de 1 milhão para quase 2 milhões de pessoas. Muitas foram atraídas pela oportunidade de trabalho nos canteiros de obras abertos pelas reformas urbanas promovidas pelo governo. Porém, os salários eram baixos e faltava moradia digna para os trabalhadores.

A situação francesa piorou com a decisão de Napoleão terceiro de declarar guerra à Prússia em 1870, pois o embate direto causou o caos social na França. Além disso, Napoleão terceiro, interessado nas relações com a América, havia apoiado a ascensão de Maximiliano como imperador do México. Nos embates em solo mexicano, o exército de Maximiliano foi vencido e o imperador, executado, o que desgastou ainda mais a figura de Napoleão terceiro.

Caricatura. Representação de um homem com extrapolações nas formas, desproporcionais a realidade. A cabeça é representada de forma extremamente grande, em formato ovalado; ele tem cabelos castanhos, olhos pequenos e um enorme nariz. Tem um bigode fino e muito comprido para os lados. O cavanhaque é cheio e comprido. Usa um pequeno chapéu preto e casaco azul. O tronco e as pernas foram representados em formato diminuto, bastante desarmônico em relação ao corpo.
Caricatura atual de Napoleão terceiro produzida com base nos trabalhos de alfrê lê petí, que em 1870 fundou o jornal La Charge [A Charge], em que satirizava o imperador.
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Durante o Segundo Império, a circulação de caricaturas parecidas com essa, que ridicularizavam Napoleão terceiro, era comum. Todas elas ressaltavam o imperador como “o Pequeno”.

Fotografia em preto e branco. Vista de local aberto. Em primeiro plano, uma rua de terra com casas simples, algumas feitas em madeiras, com uma cerca ao redor. No segundo plano, ao fundo, edifícios mais altos, de construção mais sólida, e com muitas janelas.
Rua Champlain, em Paris, França. Foto de cêrca de 1877.

O nacionalismo como fenômeno

Durante as revoluções do século dezenove, o amor pela nação foi incentivado por meio de hinos e símbolos pátrios, como as bandeiras. Naquela época, a ideia de nação, uma entidade abstrata, colocada acima dos indivíduos, do rei e do governo, ganhou fórma e conteúdo político. Os movimentos nacionalistas, que defendiam a soberania de um povo que compartilhasse uma identidade cultural e fosse regido por um Estado, se espalharam pela Europa e pela América, difundindo a crença na importância fundamental da nação para o espírito humano.

Nacionalismo e história

Para construir a identidade das diferentes nações, foi necessário produzir sua história, ou seja, um conhecimento que desse sentido a elas e justificasse sua existência. Criou-se, então, uma narrativa sobre o Estado nacional, considerado uma espécie de organismo vivo que conectava os indivíduos do presente ao passado, projetando ainda o futuro da nação. Com isso, os historiadores passaram a contar principalmente a história dos países, dando menos atenção, por exemplo, às dinastias reais.

Esse exercício de imaginação política, de invenção de tradições compartilhadas, de um passado e de traços culturais comuns fez parte de um processo violento, comandado pelo Estado, de imposição de uma língua e de uma cultura oficiais.

Para apagar as diferenças em nome da igualdade nacional, foram suprimidos ou proibidos línguas e dialetos regionais e identidades étnicas e religiosas que estavam em desacordo com o projeto de nação imaginado. Foi nesse contexto político amplo que ocorreu a unificação dos Estados da Itália e dos que formaram a Alemanha.

Fotografia. Vista de local aberto, com destaque para um grupo sorridente de dançarinos de frevo posando para foto. Os homens vestem macacão com listras coloridas e as mulheres um colã com saia colorida rodada. Todos têm nas mãos um pequeno guarda-chuvas colorido.
Passistas de frevo em apresentação em Recife (Pernambuco). Foto de 2018.
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Ao longo dos séculos dezenove e vinte, construiu-se uma ideia de que existem aspectos que são característicos do povo brasileiro e, portanto, do Estado-nação Brasil. Algumas dessas características estão representadas por paixões compartilhadas por grandes grupos de pessoas, como futebol, samba e frevo. Essas manifestações culturais são consideradas fundamentais para a cultura brasileira tanto por parte da elite intelectual, que ajudou a construir a ideia desses elementos da cultura como característicos do país, quanto pelos estrangeiros quando pensam no Brasil. Mas isso está correto? Será que todo brasileiro gosta dessas coisas? Definir o que é a cultura de “um povo” é bastante difícil, como você pode notar.

A Itália como Estado-nação

Até meados do século dezenove, a Península Itálica dividia-se em vários reinos: Lombardia-Veneza, Parma, Módena e Toscana, sob domínio da Áustria; Piemonte-Sardenha, comandado pelo rei Carlos Alberto, da casa de Savoia; o Reino das Duas Sicílias, controlado pela família burbôm; os Estados da Igreja Católica, sob o comando do papa.

Com o avanço dos movimentos liberais e das críticas às monarquias absolutistas, propostas de unificação desses territórios para a formação de uma nação italiana foram se fortalecendo. Já nas primeiras décadas após o Congresso de Viena, organizações, como a dos carbonários, tornaram-se árduas defensoras da construção de uma Itália unificada. Essas organizações eram clandestinas, pois seus ideais contrapunham-se aos do regime vigente. Para elas, a unificação era fundamental para o fortalecimento econômico e político do território.

De acordo com essa percepção, que não era consensual em todo o território italiano, uma nação conseguiria ter mais fôrça de negociação no cenário internacional e, assim, teria mais chances de um futuro promissor.

Fotografia em preto e branco. Retrato de Giuseppe Garibaldi, um homem de cabelo liso e comprido, penteado para trás, visto de frente da altura da coxa para cima. Tem a testa larga e olhos pequenos. A barba cheia cobre parcialmente parte do rosto. Usa camisa de manga longa escura e calça clara. Está com o corpo apoiado sobre o cabo de uma espada, segurada por ele com a mão esquerda.
Giuseppe Garibaldi em Napóles, Itália. Foto de cêrca de 1860.
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Giuseppe Garibaldi foi membro da Sociedade Secreta dos Carbonários, cujas ações voltavam-se para a efetivação da unificação italiana. Ele associou-se a essa organização em 1834 e participou de uma insurreição em Gênova. Em razão dessa ação, foi condenado à morte nessa cidade e, por isso, fugiu, refugiando-se na França, na Tunísia e, por fim, no Brasil, onde chegou em 1835.

O processo de unificação da Itália – século dezenove

Mapa. O processo de unificação da Itália – século 19. Apresenta a Península Itálica. Legenda: Verde-escuro: Reino do Piemonte-Sardenha. Amarelo: Ducados. Lilás: Estados da Igreja. Rosa: Território do império Austríaco. Verde: Reino das Duas Sicílias. Linhas diagonais: Territórios sob influência austríaca. Laranja: Reino Lombardo-Veneziano Ícone de explosão vermelho: Insurreições de 1848. No mapa, o Reino do Piemonte-Sardenha abrangia a Ilha da Sardenha, incluindo a cidade de Caligari, e os territórios a noroeste da Península Itálica, incluindo as cidades de Turim e Gênova. Os Ducados abrangiam a Toscana, incluindo a cidade de Florença, além das regiões de Parma, Módena e Romanha, na porção centro-norte da Península Itálica. Os Estados da Igreja abrangiam o território na porção central da península, incluindo a cidade de Roma. O território do Império Austríaco abrangia a região do Tirol, ao norte da península, incluindo a cidade de Trento. O Reino das Duas Sicílias abrangia os territórios ao sul da península, incluindo as cidades de Nápoles e Palermo. O Reino Lombardo-Veneziano abrangia as regiões do Vêneto e da Lombardia, ao norte, incluindo as cidades de Milão e Veneza. Os territórios sob influência austríaca correspondiam aos Ducados, à Lombardia e Vêneto, além da região de Tirol, que era parte do Império Austríaco. As Insurreições de 1848 ocorreram em Palermo, Nápoles, Florença, Turim, Milão e Veneza. Na parte inferior, à direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 120 quilômetros.

FONTES: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. 134; ATLAS da história do mundo. São Paulo: Times/Folha de São Paulo, 1995. página 213.

A unificação da Itália

As propostas de unificação eram apoiadas pelas pequena e média burguesias e por alguns nobres do norte, mas não pelos nobres e pelos grandes burgueses do sul da Península Itálica.

O norte era mais industrializado e os burgueses que lá viviam estavam interessados em uma política de Estado centrada na valorização de seus negócios, na unificação de pesos e medidas e na atenção aos impostos. Em contrapartida, os nobres do sul temiam perder seus poderes, que tinham como base a exploração da terra e dos camponeses, com a criação de uma nova estrutura de governo. Essas diferenças de interesse tornaram o processo de unificação violento.

A partir da Primavera dos Povos, em 1848, o movimento nacionalista italiano se fortaleceu, ganhando o apoio do rei do Piemonte e Sardenha, Vítor Emanuel segundo, que nomeu como primeiro-ministro Camilo de Cavúr, um partidário da unificação. A região do Piemonte era uma das mais industrializadas da Península Itálica. Em razão disso e por contar com exércitos fortalecidos, esses reinos do norte deram início ao processo militar de unificação dos territórios da Lombardia, da Toscana, de Parma e de Módena.

Depois, teve início o processo de unificação do sul da península, que foi marcado pela liderança de Giuseppe Garibaldi, que havia participado da Revolução Farroupilha, no Brasil, durante seu exílio. Inspirado pela unificação do norte, Garibaldi organizou um exército chamado Os Mil de Garibaldi, com o qual tomou o Reino das Duas Sicílias, que foi incorporado ao Reino de Piemonte.

Em 1861, Vítor Emanuel segundo foi declarado o rei do território e, portanto, da Itália. Veneza foi incorporada ao Estado-nação somente em 1866. Houve dificuldades na anexação das regiões controladas pela Igreja, como a de Roma, então sob domínio do papa, que foi declarada capital da nação italiana em 1870. As disputas por territórios com a Igreja foram resolvidas apenas em 1929, com a assinatura do Tratado de Latrão. Por meio dele, o governo da Itália reconheceu a autonomia do Vaticano e o território católico passou a ser governado pelo papa.

Fotografia. Vista elevada em diagonal da praça do Vaticano, em Roma, Itália. No centro da imagem, uma grande e larga avenida que se estende até uma grande praça com um obelisco no centro. Na parte principal da praça uma igreja grande, com a fachada ornamentada, várias colunas e uma grande cúpula no topo. Nas laterais da avenida e da praça, várias edificações menores que a Igreja. No alto, céu azul.
Cidade do Vaticano, Vaticano. Foto de 2020. O Vaticano é o menor Estado do mundo e está localizado no interior de Roma, capital da Itália.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Por que ocorreram as Revoluções de Julho de 1830? Quais foram suas consequências?
  2. Explique duas características da Segunda República Francesa.
  3. Como ocorreu a unificação da Itália?

Versões em diálogo

As imagens desta página são representações de Anita Garibaldi. Nascida em Laguna, no Rio Grande do Sul, em 1821, ela participou da Revolução Farroupilha, ocorrida entre 1835 e 1845. Os participantes do movimento, entre outras bandeiras, lutavam pela independência do Rio Grande do Sul do restante do império brasileiro.

Durante a revolução, Anita conheceu Giuseppe Garibaldi, com quem se casou e, posteriormente, mudou-se para a Itália, onde, com o marido, participou da luta pela unificação nacional. Por sua participação ativa em dois movimentos liberais e militares, foi reconhecida como heroína dos “dois mundos”.

Fotografia. Selo com a ilustração de uma mulher. Ela tem cabelo comprido, liso e castanho. Usa um longo vestido marrom e um lenço vermelho sobre os ombros. Ela ergue atrás do corpo uma grande bandeira nas cores verde, branco, amarelo e azul. Em uma das mãos carrega uma grande flor rosa. Abaixo está escrito em branco: 2021 BICENTENÁRIO ANITA GARIBALDI.
Selo brasileiro comemorativo do bicentenário de Anita Garibaldi.
Fotografia. Sobre um pedestal de pedra, a estátua de uma mulher montada em um cavalo. O cavalo está empinando e a mulher empunha uma pistola para o alto com a mão direita. Com o braço esquerdo ela segura um bebê enquanto a mão segura as rédeas do cavalo.
Estátua equestre em homenagem a Anita Garibaldi, na cidade de Roma, Itália. Foto de 2018.

Responda no caderno.

  1. Por que Anita Garibaldi foi reconhecida como heroína de “dois mundos”?
  2. Descreva as duas representações de Anita Garibaldi. Quais são as características comuns a elas?
  3. Qual é a função da estátua e do selo de Anita Garibaldi? Em sua opinião, como cada um desses suportes materiais contribui para essa finalidade?

A Alemanha como Estado-nação

A Confederação Germânica foi definida no Congresso de Viena, sendo composta de 38 estados, sob o domínio da Áustria e da Prússia.

A Prússia era o Estado mais desenvolvido economicamente, com um sistema bancário e industrial mais expressivo. Assim, para ampliar sua área de influência na confederação, liderou, em 1834, o estabelecimento de um acordo de cooperação econômica, chamado Zollverein. Por questões de disputa política, a Áustria foi excluída do acordo, por meio do qual foram unificados o sistema de pesos e medidas e a moeda nos diversos Estados participantes, facilitando a circulação de mercadorias e o crescimento da economia.

O Zollverein foi a primeira etapa do processo de unificação do território que se tornaria a Alemanha, gerando o fortalecimento gradual dos Estados participantes, principalmente da Prússia, que já apresentava um parque industrial consolidado e tornou-se militarmente organizada e poderosa.

Em 1862, o kaiserglossário prussiano Guilherme primeiro nomeou o nobre Otto vón Bismarquecomo chanceler. bísmarc passou a defender a formação de um Estado-nação alemão, valorizando, por exemplo, a existência de uma língua que destacasse os laços do povo alemão.

Nesse contexto, a Áustria e a Prússia lutaram juntas contra a Dinamarca em 1864. Em 1866, porém, as duas potências passaram a disputar os Estados conquistados, na Guerra das Sete Semanas, vencida pela Prússia. Os prussianos, então, dissolveram a confederação estabelecida no Congresso de Viena e, em 1867, estabeleceram a Confederação Germânica do Norte, da qual excluíram novamente a Áustria. Essa confederação existiu por quatro anos, sendo desfeita em 1871 com o estabelecimento do Império Alemão.

O processo de unificação da Alemanha – século dezenove

Mapa. O processo de unificação da Alemanha – século 19. Apresenta a porção norte da Europa Ocidental. Legenda: Linha roxa: Confederação Germânica (1815 a 1866). Linha verde: Confederação da Alemanha do Norte (1867). Linha vermelha: Império Alemão em 1871. Linhas diagonais pretas em fundo rosa: Territórios anexados e/ou associados à Prússia. Ícone de explosão: Batalhas. Seta marrom em curva: Campanhas prussianas. No mapa, destaque-se a região ocupada pela atual Alemanha, e as fronteiras territoriais com o Império Russo, Austríaco, Francês, Suíça, Bélgica, Países Baixos e Dinamarca. Entre 1815 e 1866 a Confederação Germânica ocupava um Território que englobava Prússia, Áustria, e estabelecia fronteias com Países Baixos, Bélgica, Suíça, Itália e Império russo. Em 1867 foi criada a Confederação da Alemanha do Norte, que abrangia parte do Reino da Prússia e fazia fronteiras com Países Baixos, Bélgica, Império Austríaco e Império Russo. Em 1871, foi estabelecido o Império Alemão, fazendo fronteiras com os Países Baixos, Bélgica, Império Austríaco e Império Russo. Ele também abrangia cidades como Munique, Baviera, Alsácia e Lorena, Frankfurt, Colônia, Prússia Ocidental, Hannover, Berlim, Kassel, Dresden, Breslau, Prússia Oriental, Holstein e Schleswig. Entre os territórios anexados e/ou associados à Prússia estavam Metz, Estrasburgo, Alsácia e Lorena, Saxônia, Hannover. Ao longo desse processo de unificação, algumas batalhas foram destacadas no mapa, como a que os prussianos realizaram contra os franceses em Sedan; contra os austríacos em Sadowa; e contra os dinamarqueses em Düppel. Entre as campanhas prussianas de maior destaque aparecem aquelas associadas às batalhas já mencionadas, além da campanha de Frankfurt a Kassel, de Holstein a Hannover e de Frankfurt a Metz. Na parte inferior, à esquerda, rosa dos ventos e escala de 0 a 160 quilômetros.

FONTE: Atlas historique: de l’apparition de l’homme sur la terre à l’ère atomiqueParis: Perrin, 1992. página 350.

A Guerra Franco-Prussiana e a unificação da Alemanha

Em 1870, com o objetivo de anexar os territórios ao sul, bísmarc provocou a França a declarar um conflito: a Guerra Franco-Prussiana. A causa imediata da guerra foi a possibilidade de o príncipe prussiano Leopoldo de roôrrênzolêndo (que era primo do cáizer da Prússia) assumir o trono espanhol, o que poderia deixar o território da França entre os territórios de Estados alemães e de aliados dela.

A diplomacia francesa conseguiu reverter a intenção de Leopoldo de roôrrênzolêndo candidatar-se ao trono da Espanha, mas bísmarc publicou um documento no qual dava a entender que Guilherme primeiro não receberia embaixadores franceses para futuras conversas. Por causa desse documento, Napoleão terceiro declarou guerra a sua vizinha.

Com um exército fortalecido, bísmarc saiu vitorioso do conflito. Dessa maneira, os prussianos concluíram o processo de unificação dos Estados germânicos com a anexação da Alsácia e da Lorena. Em janeiro de 1871, foi fundado o Segundo Império Alemão, sob a direção do imperador Guilherme primeiro.

Pintura. Vista em local fechado. À direita homens de uniforme militar azul e calça preta com uma listra vermelha estão no topo de um pequeno palanque. À frente um homem de cabelo e barca brancos, para quem todos os olhares são dirigidos. Todos erguem mãos e espadas para saudar este homem. Ao redor deles, na parte baixa, homens de uniformes variados, com as espadas levantadas. No centro está Bismarck, um homem calvo de roupa clara com uma grande folha na mão, é o único que não tem a mão erguida e nem olha na direção do homem no palanque. Na parte superior da imagem há um texto escrito em alemão: 'Liebig Company's Fleisch - Extract und - pepton. Na parte inferior, outro texto em alemão:  'Bismarck – Kaiser - Proclamation zu Versailles, 18. jan. 1871'. No canto inferior direito da imagem, representação de um pote bege de tampa cinza.
Anúncio de extrato de carne com representação de bísmarc em Versalhes, 1871. Na parte superior está escrito: “Companhia líbig. Extrato de carne e peptona”. Na inferior, está escrito: “bísmarc – proclamação do cáizer em Versalhes, 18 janeiro 1871”.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

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A fundação do Império Alemão, em Versalhes, foi entendida pelos alemães como uma grande vitória e, por isso, essa ação esteve vinculada a vários produtos. A gravura de 1871, por exemplo, acompanha um anúncio publicitário de extrato de carne. Ela fez parte de uma série de materiais de propaganda com elogios a bísmarc e ao Estado alemão. O Segundo Reich (“império”) funcionou como sistema de governo na região até o fim da Primeira Guerra Mundial e a criação da República de Vaimar, em 1919.

A Segunda Revolução Industrial

Questões econômicas relacionadas com a burguesia e o desejo de expandir a industrialização pautaram os movimentos nacionalistas na Itália e na Alemanha. Assim, esses movimentos estão relacionados com o avanço da Revolução Industrial pela Europa.

A Revolução Industrial teve início na Grã-Bretanha no final do século dezoito. Em curto intervalo de tempo, o processo de industrialização se acelerou. Com isso, na segunda metade do século dezenove, além do Reino Unido, países europeus, como a França e a Bélgica, e territórios italianos e alemães começaram a se industrializar.

Inicialmente, o setor têxtil foi o principal responsável pela expansão das indústrias. Já a partir de meados do século dezenove, o desenvolvimento da malha ferroviária foi um importante elemento para a disseminação das atividades industriais.

Do Reino Unido saíram o carvão mineral, matriz energética das indústrias, as máquinas, as ferramentas e o conhecimento técnico que favoreceram a propagação da industrialização na Europa.

A exploração do ferro também foi crucial para o desenvolvimento da industrialização europeia. Com esse material eram produzidos os trens, maquinários, estruturas de prédios, ferramentas e muitos outros artefatos relacionados às indústrias.

A partir da segunda metade do século dezenove, as indústrias siderúrgica, petrolífera e química ganharam importância. Essa fase, marcada sobretudo pela utilização do conhecimento científico na indústria e pela aproximação entre a fábrica e o laboratório, ficou conhecida como Segunda Revolução Industrial.

Fotografia. Trem azul, com uma faixa amarela e uma borda inferior e superior em cinza. O trem foi fotografado em alta velocidade, em deslocamento na diagonal, na imagem. A estrutura do trem é uniforme com contornos arredondados. A parte frontal é mais fina. Na lateral, várias janelas.
Trem de alta velocidade no interior da França. Foto de 2020.
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O sistema ferroviário é muito importante para o deslocamento de pessoas e mercadorias no continente europeu. De trem, é possível viajar com rapidez e baixo custo. Além disso, o sistema ferroviário facilita o abastecimento de mercadorias importantes para o desenvolvimento industrial de muitos países.

A ciência e as indústrias

Países da Europa, Estados Unidos e Japão, a partir da segunda metade do século dezenove, passaram a investir em pesquisas científicas para gerar inovações tecnológicas e, assim, aprimorar os processos industriais.

Entre as muitas inovações, o aproveitamento da eletricidade tornou-se um marco do século dezenove. Pesquisas científicas na área do eletromagnetismo possibilitaram o desenvolvimento do dínamo. Esse gerador, que transformava energia mecânica em energia elétrica, mudou radicalmente a vida cotidiana das pessoas na Europa e fôra dela. Com a utilização do dínamo, a energia elétrica pôde ser facilmente convertida em movimento, luz, calor e som. No final do século dezenove, além de favorecer a atividade fabril, ela foi empregada na iluminação pública e de moradias e no desenvolvimento da tração de trens e bondes elétricos.

Além disso, a energia elétrica, combinada com o aperfeiçoamento dos telégrafos, possibilitou a comunicação intercontinental. Pouco tempo depois de sua invenção, na década de 1830, os cabos telegráficos foram estendidos seguindo o curso dos trilhos dos trens. Em meados do século dezenove, milhares de quilômetros de cabos de telégrafos interligavam a Europa, possibilitando a troca de mensagens.

Na década de 1870, as redes telegráficas instaladas por cabos submarinos possibilitavam a interconexão da Europa com o continente asiático e o americano.

Gravura em preto e branco. Representação de um ambiente fechado, uma sala, com uma janela ao fundo. À esquerda, um homem sentado à mesa ao fundo da sala, ao lado da janela. À direita dele o dínamo, um aparelho com duas bases laterais e dois tubos encaixados entre elas horizontalmente. Em uma das laterais uma engrenagem. Encaixada nela uma longa corrente que se encaixa em outra engrenagem suspensa próxima ao teto. No cano que ela está encaixada tem uma engrenagem maior. Nela está encaixada outra grande correia que segue suspensa pelo alto.
Representação de dínamo utilizado para gerar luz elétrica em uma residência na França, desenvolvido pelo engenheiro marcél deprê, em gravura de cêrca de 1880.
Pintura. Em primeiro plano pessoas em um café. Ao fundo, moça em pé na porta. À esquerda dela um poste com iluminação elétrica. O ambiente é colorido em cores verde, amarelo e azul.
Mademoiselle Bécat no Café dos Embaixadores, pintura de Edgar Degá, 1885.
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Inventado em 1831 pelo físico britânico Maicou Faraday, o dínamo precisa da energia mecânica para produzir a elétrica. Por isso, no início, esses aparelhos eram equipados com manivelas. Com o desenvolvimento de técnicas que melhoraram seu desempenho, o dínamo passou a ser movido por outras máquinas e seu tamanho aumentou muito para ser capaz, por exemplo, de gerar energia para uma indústria. A iluminação de ambientes externos com o uso de energia elétrica foi tão impactante que luminárias de rua eram destacadas nas obras de arte do período. Na pintura de Degá, a cantora emíl becá é representada em frente ao Café dos Embaixadores, em Paris, próximo a uma rua iluminada por postes de luz elétrica.

As reformas urbanas e as desigualdades sociais

Pode-se dizer que o século dezenove foi marcado pelo chamado cientificismo, ou seja, a crença no desenvolvimento da ciência, com base na qual se afirmava a superioridade do conhecimento científico em relação às demais fórmas de compreensão da realidade – a religiosa, por exemplo.

Essa crença estimulou a divulgação da ideia de que a humanidade estava em um progresso inabalávelglossário rumo a um futuro melhor e mais desenvolvido e as cidades seriam as grandes vitrines desse processo.

Os burgueses e aristocratas esperavam que as grandes cidades se consolidassem como os espaços da atividade que eles consideravam civilizatória. Para isso, as cidades deviam renovar sua aparência, tornando-se locais de celebração do desenvolvimento econômico, tecnológico e cultural. Dessa fórma, seria necessário um planejamento urbano para implementar os ideais de modernidade desejados pelas elites europeias.

A reforma urbana de Paris, ocorrida entre 1853 e 1870, é considerada o marco inaugural desse processo. Seu projeto se baseou em três objetivos: retirar do espaço urbano tudo o que pudesse provocar confusão, perigo ou doenças; favorecer o contrôle da circulação de veículos e pessoas; inserir elementos ligados ao lazer e à vida burguesa na cidade, como praças, mercados, vias amplas e arborizadas, jardins e passeios públicos.

Fotografia. Vista do alto de uma paisagem urbana. Ao centro, grande construção em forma de arco, é o monumento conhecido como Arco do Triunfo, em Paris. No meio do monumento é possível visualizar a bandeira da França. Ao redor do monumento uma rotatória com várias faixas de rolamento e veículos trafegando. A partir dessa rotatória ramificam-se várias avenidas e ruas que atravessam a cidade simetricamente. Ao longo dessas vias há muitas árvores e prédios de tamanho uniforme por toda a extensão da cidade. No alto, céu nublado.
Vista de Paris, França. Foto de 2020.
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A reforma de Paris foi baseada na reorganização do espaço urbano como um tabuleiro de xadrez, com largas avenidas para facilitar a circulação do ar e a entrada de luz. Para isso, foram retirados todos os cortiços do centro da cidade. Com a remodelação e o aumento dos preços das habitações nas áreas reformadas, os trabalhadores foram deslocados para a periferia. As grandes avenidas ao redor do Arco do Triunfo foram construídas no fim do século dezenove, quando a cidade se tornou um modelo de civilização na Europa. Posteriormente, esse modelo foi usado como referência para a reforma de cidades em outros continentes, como a do Rio de Janeiro, no início do século vinte.

A Comuna de Paris

Desde a derrota na Guerra Franco-Prussiana e da deposição de Napoleão terceiro em 1870, Paris sofria com o cerco do exército de Otto . Para resistir aos alemães, formou-se um governo provisório sob a liderança do político Em 1871, Tiér tentou negociar com bísmarc uma rendição. Temendo revoltas populares em decorrência dessa negociação, ele usou as tropas francesas para tentar se apossar dos canhões da Guarda Nacional. A Guarda Nacional era uma milícia não subordinada ao exército, formada majoritariamente por trabalhadores e profissionais liberais.

Essa ação de Tiér enfureceu a população, gerando uma guerra campal. Os habitantes das regiões de Montmartre, Belleville e Buttes-Chaumontem Paris, formaram uma comuna, declarando autonomia econômica e política. O projeto dos revoltosos era transformar a comuna em um espaço organizado e dividido entre os trabalhadores.

O movimento, formado por homens, mulheres e crianças que trabalhavam em Paris, conseguiu expulsar o governo de Tiér para Versalhes e governar a cidade por dez semanas, quando foi massacrado pelo exército francês, muito superior em número de combatentes e armamentos. Apesar da derrota, a Comuna de Paris tornou-se símbolo da luta de trabalhadores por participação nas decisões políticas e por condições de vida mais justas.

Fotografia em preto e branco. Vista de uma paisagem urbana. No primeiro plano, uma rua com dezenas de homens vestidos de preto posicionados no entorno de uma barricada construída com blocos de pedras. Eles usam chapéu com casaca, calça e sapatos escuros. Alguns deles estão à frente, seguram um objeto fino na mão esquerda, semelhante a uma espada. Outros estão em pé sobre a barricada e um deles à esquerda, com um tambor redondo à frente do corpo. Por entre os montes de pedra é possível identificar canos de canhões. Em segundo plano, à esquerda e à direita, prédios com mais de três andares, vistos parcialmente. Mais ao fundo, prédios vistos parcialmente entre neblina.
Barricada montada pelos trabalhadores da Comuna de Paris, França. Foto de março de 1871.

Teorias sociais, o movimento operário e a luta das mulheres

No século dezenove, as desigualdades sociais incentivaram alguns intelectuais a pensar em propostas para modificar as estruturas das sociedades industriais. Assim, desenvolveram-se reflexões sobre a luta dos trabalhadores, que foram a base para o desenvolvimento do pensamento socialista e anarquista.

Além disso, o século dezenove foi marcado pelo crescimento da luta operária por melhores condições de vida e trabalho e pela ascensão do movimento feminista.

O socialismo utópico

Desde o século dezoito, alguns nobres e burgueses planejaram a implementação de sociedades que pudessem superar as graves desigualdades provocadas pela industrialização. No século dezenove, por valorizarem a questão social, esses pensadores e agitadores políticos foram denominados socialistas, termo que incluía diversas e diferentes propostas para resolver as desigualdades geradas pelo capitalismo industrial.

Os integrantes do grupo que propunha a implantação de sociedades alternativas ficaram conhecidos como socialistas utópicos, ou seja, foram nomeados pejorativamente por imaginarem uma sociedade que dificilmente se concretizaria: uma utopiaglossário .

Apesar de pouco eficazes, as propostas dos socialistas utópicos ajudaram a formular as primeiras críticas ao mundo industrial, incentivando as ideias de outros pensadores. Leia a seguir as principais propostas de três dos chamados socialistas utópicos.

Fotomontagem. Um fundo retangular bege, simulando um recorte de jornal. À direita, pintura representando Robert Owen. Ele é retratado como um homem de rosto oval, cabelo claro penteado para trás. Tem olhos pequenos e afastados. O nariz é largo e a boca pequena. Está usando paletó grosso de cor escura. À esquerda da pintura, o texto: Robert Owen. Gerente de uma fábrica de tecidos na Escócia, ele defendia a ideia de que uma gestão respeitosa com os trabalhadores poderia ser proveitosa para a indústria. De acordo com ele, as fábricas deveriam ser geridas por seus funcionários em um sistema cooperativo, com salário e moradia dignas. Para Owen, mulheres e crianças deveriam ter assistência especial. Ele propunha, por exemplo, um sistema escolar para crianças.
Retrato de Róbert Ôuen, pintura de W. H. Brúque, 1834.

Fotomontagem. Um fundo retangular bege, simulando um recorte de jornal. À esquerda, pintura representando Charles Fourier. Ele é retratado como um senhor calvo, mas com cabelo branco nas laterais da cabeça. Tem lábios finos e sobrancelha rente aos olhos. Usa um lenço branco no pescoço e um paletó marrom. À direita da pintura, o texto: Charles Fourier. O filósofo francês propôs a construção de comunidades nas quais os indivíduos escolhessem seus trabalhos sem se preocupar com os salários, pois a produção seria dividida entre todos. Essas comunidades, chamadas falanstérios, tornaram-se realidade em países da Europa, nos Estados Unidos e até no Brasil.
Retrato de chárles furriê pintura de samuél sartên, 1848.

Fotomontagem. Um fundo retangular bege, simulando um recorte de jornal. À direita, gravura representando Conde de Saint-Simon. Ele é representado de perfil. Tem a cabeça oval, queixo fino, orelha grande, nariz pontiagudo. Traz um lenço verde amarrado ao pescoço, uma camiseta branca e um paletó marrom claro. À esquerda da gravura, o texto: Conde de Saint-Simon. De origem nobre, ele era um entusiasta do discurso científico. Em seus escritos, defendeu a construção de uma sociedade sem desigualdades, organizada pela lógica da fraternidade e pautada no avanço da tecnologia e da ciência. O filósofo francês foi um dos primeiros a defender de forma sistemática a ideia de progresso da humanidade, aspecto fundamental no discurso político e na lógica cultural do século XIX.
Representação do conde de sãn simôn, gravura do século dezenove.

O socialismo científico

Na Alemanha, dois filósofos, carlmárks e fréderique ênguels, desenvolveram as propostas socialistas que deram origem ao chamado pensamento marquicísta. Essas ideias tiveram profundo impacto social a partir do século dezenove, influenciando associações de trabalhadores em diferentes partes do planeta.

Caricatura. Representa o rosto de dois homens. Acima, Karl Marx. Ele aparece como um homem de rosto largo e redondo. Tem o cabelo e barba cheios e brancos. O bigode é escuro e os olhos pequenos. Sua barba e os cabelos laterais à cabeça são representados de forma bastante desproporcional. Abaixo, Friedrich Engels. Ele é representado como um homem de cabelo grisalho, penteado para trás. As costeletas são grossas e emendam na longa barba grisalha. Seu bigode é representado de forma bastante avantajada.
Caricatura. Representa o rosto de dois homens. Acima, Karl Marx. Ele aparece como um homem de rosto largo e redondo. Tem o cabelo e barba cheios e brancos. O bigode é escuro e os olhos pequenos. Sua barba e os cabelos laterais à cabeça são representados de forma bastante desproporcional. Abaixo, Friedrich Engels. Ele é representado como um homem de cabelo grisalho, penteado para trás. As costeletas são grossas e emendam na longa barba grisalha. Seu bigode é representado de forma bastante avantajada.
Caricatura atual representando carlmárks e fréderique ênguels.

Em linhas gerais, a teoria formulada por márks e ênguels, denominada socialismo científico, previa o estabelecimento de uma economia coletivizada. De acordo com os pensadores, a sociedade industrial está dividida em dois grandes grupos: o dos burgueses – que detêm os meios de produção (fábricas, maquinários e outros) e enriquecem com a exploração do trabalho – e o dos proletários – aqueles que possuem apenas a fôrça de trabalho para garantir seu sustento.

Em 1847, márks e ênguels se empenharam na fundação da Liga dos Comunistas, primeira organização internacional focada nos preceitos do socialismo científico. Porém, a organização foi dissolvida em 1852 em razão de divergências internas. No contexto dessa organização, em 1848, os pensadores publicaram o Manifesto do Partido Comunista, que, mais tarde, se tornaria um referencial para partidos políticos em todo o mundo.

De maneira geral, márks e ênguels entendiam que os burgueses enriqueceram explorando a chamada mais-valiaglossário dos trabalhadores. Segundo eles, para que a exploração dos trabalhadores e a desigualdade social tivessem fim, os proletários de todo o mundo deveriam se unir em uma revolução e tomar os meios de produção. Para esses filósofos, essa seria uma etapa para que a sociedade fosse organizada em bases coletivas, sem classes sociais ou propriedade privada.

márks e ênguels buscavam associar o desenvolvimento de suas teorias às práticas que eles acreditavam que poderiam transformar a sociedade. Eles foram os principais dirigentes da Associação Internacional dos Trabalhores (a i tê), fundada em 1864 com objetivo de auxiliar na organização dos trabalhadores.

Gravura em preto e branco. Vista de um ambiente fechado, aparentemente um salão. No primeiro plano, destaque para alguns homens que aparecem sobre um palco posicionado à esquerda. Dois desses homens estão mais à frente no palco. Um deles é um homem calvo, vestido com uma roupa preta e aparece falando e gesticulando com as mãos. Em frente ao palco, na parte mais baixa, à direita da imagem, muitos homens observam aquele que fala no palco. Alguns deles parecem tentar se manifestar. No segundo plano, uma parede com pé direito alto e uma passagem ornamentada com dois lustres nas laterais.
Gravura do século dezenove representando a fundação da Primeira a i tê em 1864, também conhecida como Primeira Internacional.

O anarquismo

No senso comum, o termo anarquia é considerado sinônimo de bagunça. Isso porque o termo, traduzido de fórma livre do grego, significa “sem governo”.

A ausência de um poder central é a principal proposta do movimento anarquista. Por isso, há quem acredite que a implementação de uma proposta anarquista conduza a sociedade sem regras ou leis. Essa ideia, porém, não é correta.

O movimento anarquista teve início no século dezenove, durante a Segunda Revolução Industrial, como fórma de criticar o capitalismo e suas desigualdades sociais. Os principais pensadores anarquistas foram os russos micaíl bakunín e Piôtri Craprotquim e o francês piérre jôzéf prudôn.

Eles defendiam a construção de uma sociedade livre dos princípios coercitivosglossário de poder presentes no capitalismo, sobretudo a tutela do Estado. A sociedade imaginada por eles seria organizada com base na representatividade política direta, ou seja, todos participariam das decisões da vida da comunidade em um sistema cooperativo e sem hierarquias.

As propostas anarquistas atraíram milhares de operários, de diversas partes do mundo, que eram submetidos a difíceis condições de trabalho e abusos de poder. Essas ideias foram trazidas ao Brasil, sobretudo pelos imigrantes italianos e espanhóis, que formavam a mão de obra operária de cidades como São Paulo, no início do século vinte.

Fotografia em preto e branco. Vista parcial de um rua em declive, cercada por prédios baixos, de um ou dois pavimentos. Em destaque, uma multidão caminha ocupando toda a extensão da rua. Há a presença de duas bandeiras pretas. Em primeiro plano, nota-se que a maioria é formada por homens, poucos adolescentes e algumas crianças. No canto esquerdo da imagem, sobre uma plataforma, duas crianças e alguns homens observam o movimento da rua.
Greve geral na cidade de São Paulo (São Paulo). Foto de 1917.
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Imagens em contexto!

Os trabalhadores que aparecem na imagem participaram da primeira greve geral realizada no Brasil, que durou trinta dias. Eles reivindicaram melhores condições de trabalho e o direito de livre organização. Tomaram parte ativamente dessa ação anarquistas europeus que imigraram para o Brasil em busca de trabalho.

O sindicalismo

No final do século dezoito, os operários britânicos começaram a se organizar para lutar por melhores condições de vida. Além de experiências pontuais, como a do ludismo e a do cartismo, que você estudou no capítulo 2, os operários se reuniram em associações chamadas trade unions, que depois passaram a ser conhecidas como sindicatos. A principal característica dos sindicatos é a organização de operários para reivindicar direitos.

Durante a Segunda Revolução Industrial, as propostas dos trabalhadores se fortaleceram em diversas regiões do planeta, formando o sindicalismo revolucionário, que articulava princípios anarquistas e socialistas.

Para os sindicalistas revolucionários, os partidos políticos eram organizações formadas por burgueses cuja influência sobre os trabalhadores devia ser extinta, pois levava ao conformismo.

De acordo com eles, os sindicatos constituíam a fórma autêntica e legítima para a condução do movimento operário. Defendiam ações diretas, como ataques às fábricas e greves. Essas eram suas estratégias na busca por melhores condições de trabalho e na luta pelo fim do Estado burguês, o principal responsável pela situação de pobreza em que viviam os trabalhadores.

O sindicalismo transformou suas pautas com o tempo, concentrando-se nas reivindicações por melhores condições de vida para os trabalhadores. Tornou-se expressivo no século vinte, estando na base de grande parte dos movimentos operários e greves em diferentes países.

Fotografia em preto e branco. Vista de um espaço a céu aberto, no meio de uma cidade, com destaque para um edifício com vários pavimentos, visto parcialmente. À frente do edifício, um grupo de pessoas reunidas. Na parte mais elevada do edifício há uma grande faixa horizontal estendida. Nela, um texto escrito em francês relacionado à paralisação do dia primeiro de maio.
Movimentação de operários em Paris, na França, durante greve pela implantação da jornada de oito horas de trabalho. Foto de 1906.
Fotografia. Vista de um espaço a céu aberto, em ambiente urbano. Destaque para uma multidão reunida. Muitas pessoas levam balões com siglas de organizações trabalhistas francesas e cartazes com frases de protesto. Também há muitas bandeiras de diferentes cores, predominando o vermelho, o verde e o rosa. As pessoas estão vestidas com roupas de frio e gorros. Observa-se que há muitas mulheres e homens misturados no meio da multidão.
Greve geral em Paris, na França, em defesa da manutenção de direitos trabalhistas. Foto de 2019.

O feminismo e o movimento sufragista

No final do século dezoito, teve início a primeira onda do feminismo. A escritora britânica méri uôlstônecréft é considerada uma das pioneiras desse movimento. No livro Uma defesa dos direitos da mulher, publicado em 1792, ela reivindicou o direito à educação formal, instrumento que poderia libertar as mulheres da dependência dos pais, dos maridos e dos irmãos. Os escritos de uôlstônecréft inspiraram a organização do movimento na França e nos Estados Unidos.

No Reino Unido, o movimento feminista lutou pelos direitos políticos das mulheres. Para suas líderes, era evidente que a ampliação dos direitos políticos e trabalhistas dos homens tinha ocorrido mediante pressões parlamentares. Assim, as sufragistas (mulheres que participavam do movimento pelo direito de voto feminino) entendiam que somente conquistariam melhores condições de trabalho e romperiam as desigualdades sociais se os políticos fossem obrigados a prestar contas ao eleitorado feminino. Nesse sentido, a conquista do direito ao voto era um meio para atingir mudanças sociais mais amplas.

Diante das sucessivas reprovações por parte do Parlamento britânico às petições de sufrágio feminino enviadas durante o século dezenove, elas organizaram, em 1897, a União Nacional pelo Sufrágio Feminino. , uma das responsáveis pela fundação do grupo, ajudou a fundar, em 1871, o Newnham College, em Cambridge, no Reino Unido, para favorecer o acesso das mulheres à educação superior.

Em 1903, sob a liderança de , foi fundada a União Política e Social das Mulheres com o intuito de pressionar o Parlamento a conceder direito de voto às mulheres. Apenas após as reformas eleitorais de 1918 e 1928, as mulheres obtiveram o direito ao voto no Reino Unido. No Brasil, elas puderam votar a partir de 1932. Na França, esse direito foi conquistado apenas em 1944. Até os dias de hoje, o voto feminino sofre restrições em algumas nações, como a Arábia Saudita, em que as mulheres conquistaram parcialmente o direito ao voto em 2011.

Fotografia em preto e branco. Um homem vestido com uniforme de policial carrega uma mulher segurando-a pela cintura. Ela usa roupas longas e um chapéu com plumas sobre a cabeça. Ela está com a boca semiaberta e tenta se soltar do controle do policial. Ao lado deles, um homem vestido com terno, gravata e chapéu os acompanha e parece conversar com o policial.
A sufragista emelíne pénc hârst sendo presa quando tentava apresentar uma petição ao rei no Palácio de Buckingham, em Londres, Reino Unido. Foto de 1914.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. O que foi o Zollverein? Qual foi sua importância para a unificação da Alemanha?
  2. Como as relações entre ciência e indústria contribuíram para o desenvolvimento do cientificismo no século dezenove?
  3. O que foi a Comuna de Paris?

Dica

LIVRO

Para educar crianças feministas, de chimamanda nigôzi adíchiê. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

O livro apresenta de fórma didática algumas ideias fundamentais para compreender o feminismo como movimento de luta pela construção de uma sociedade mais justa para todos.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Sobre a Primavera dos Povos, registre no caderno a afirmação correta.
    1. É o nome dado ao conjunto de movimentos sociais que eclodiu, em 1848, em toda a Europa, em defesa da manutenção das decisões do Congresso de Viena e da Restauração.
    2. Refere-se aos movimentos sociais que eclodiram, em 1848, buscando a instauração da cidadania plena para homens e mulheres, a justiça social e a instalação de repúblicas.
    3. Designa um conjunto de movimentos liberais ocorrido na Europa, em 1848, pela instauração de governos amparados por códigos civis e com estrutura democrática.
    4. Refere-se ao movimento dos monarquistas, em toda a Europa, em 1848, em defesa do absolutismo, da Igreja e da sociedade de côrte.
  2. No caderno, identifique as informações verdadeiras e as falsas a respeito do nacionalismo europeu do século dezenove.
    1. O movimento não contou com apoio dos liberais, pois não havia interesse em alavancar os mercados e economias nacionais diante da economia internacional.
    2. Os nacionalistas valorizavam a ideia de nação acima do indivíduo e usavam símbolos, como a bandeira e hinos, como fórma de propaganda da nação.
    3. Os nacionalistas estimularam movimentos de unificação de territórios, como o da Itália e o da Alemanha, no século dezenove.
    4. As lutas pela unificação da Itália e da Alemanha contaram com amplo apoio popular e dos nobres nacionalistas em oposição aos burgueses.
  3. Copie e preencha o quadro a seguir comparando a primeira fase da Revolução Industrial à segunda.
Ícone Modelo.

Primeira fase (século XVIII)

Segunda fase (século XIX)

Países

Principal fonte energética

Setor industrial predominante

  1. No caderno, relacione as teorias e os movimentos sociais do século dezenove com suas respectivas propostas.
    1. Socialismo utópico.
    2. Socialismo científico.
    3. Anarquismo.
    4. Sindicato.
    5. Movimento feminista.
    6. Movimento sufragista.
    1. Movimento de defesa da igualdade de direitos e condições de trabalho entre homens e mulheres.
    2. Organização trabalhista que reivindicava direitos por meio de ações como greves.
    3. Seus idealizadores propunham uma sociedade sem hierarquias e poderes de um indivíduo ou organização sobre outros.
    4. Seus idealizadores propunham fórmas distintas de organização social e gestão do trabalho, como as cooperativas.
    5. Reivindicava a representatividade política e o direito de voto às mulheres.
    6. De acordo com seus idealizadores, a sociedade é dividida em duas classes: a dos detentores dos meios de produção e a dos que possuem a fôrça de trabalho.

Aprofundando

5. Leia o texto do historiador Jaques Le Gófi e, em seguida, responda às questões.

“O período de 1840 a 1890 é o do triunfo da ideologia do progresso, simultaneamente com o grande ‘boom’ econômico e industrial do Ocidente”.

, J. História e memória. Campinas: Editora da unicâmpi, 1990, página 259.

  1. Em que período o autor identifica um forte crescimento econômico e o triunfo da ideologia do progresso?
  2. Como a relação entre as ciências e a indústria contribuiu para o desenvolvimento econômico e industrial do Ocidente no século dezenove? Justifique sua resposta.
  3. De acordo com o que você estudou, o que seria a “ideologia do progresso” que o autor cita em seu texto? Qual é a relação desse ideário com o desenvolvimento científico do período?

6. O movimento sufragista, desde o início, enfrentou forte resistência de amplos setores da sociedade. O uso de cartazes de propaganda favoráveis e contrários ao voto das mulheres foi uma estratégia fundamental na divulgação do movimento em um período no qual as taxas de analfabetismo na população mundial eram altas. Analise duas imagens da época, produzidas, respectivamente, no Reino Unido e nos Estados Unidos.

Cartaz. Imagem de uma mulher, vista lateralmente, com um lenço preto encobrindo os cabelos. Ela está sentada de olhos fechados, com o rosto apoiado na mão direita. A outra mão está apoiada sobre um tecido encaixado em uma máquina de costura, sobre a mesa, à sua frente. Ao fundo, uma janela com grades lembra um ambiente de prisão. Na parte inferior do cartaz está escrito em inglês: 'Votes for workers'.
Cartaz britânico de 1918. Na parte inferior da imagem, está escrito: “Votos para as trabalhadoras”.
Cartaz. Vista de ambiente fechado, doméstico, com um homem de terno, parado em pé. Ele segura um chapéu na mão e possui um lenço vermelho no pescoço. À frente dele uma mesa sobre a qual uma criança está dormindo com os joelhos apoiados sobre um banco. Ela dorme em meio a tecidos. Ao chão, outra criança dorme também enrolada em tecidos. Em uma das paredes é possível ver um cartaz com a seguinte frase escrita em inglês: 'Votes for women'. Na parte superior do cartaz, em letras garrafais, está escrito: 'A suffragettes home'. Na parte inferior, em letras pequenas, está escrito: 'After a hard day's work'.
Cartaz publicado pelo Comitê de Campanha da Liga Nacional de Oposição ao Sufrágio Feminino no início do século vinte. Na parte superior do cartaz, está escrito: “A casa de uma sufragista”. No papel fixado na parede está escrito: “Votos para as mulheres”.
  1. Como a mulher é representada no cartaz britânico de 1918? Qual é a importância dessa representação?
  2. Qual é o significado da ausência da mulher adulta no outro cartaz? Que concepção do papel feminino na sociedade é transmitida na imagem?
  3. Nas imagens estão escritas as frases “Votos para as trabalhadoras” e “Votos para as mulheres”, mas com objetivos diferentes. Que objetivos são esses?
  1. Como você estudou, a Segunda Revolução Industrial marcou a aproximação entre a ciência e o desenvolvimento de processos de fabricação de vários produtos, como os alimentícios. Isso aumentou a disponibilidade e a variedade de alimentos para o comércio e para o consumo. Com o tempo, o desenvolvimento científico e tecnológico envolvido no preparo e na conservação de produtos possibilitou a fabricação de alimentos ultraprocessados. Sobre o assunto, faça uma pesquisa, em livros, jornais e revistas impressos e na internet, para responder às questões a seguir.
    1. Qual é a diferença entre alimentos in natúra, processados e ultraprocessados?
    2. Você consome alimentos ultraprocessados? Com que frequência?
    3. Que tipo de risco esse tipo de alimento pode provocar à saúde?
    4. Como é possível reduzir o consumo desses alimentos?

Glossário

: título usado pelos imperadores alemães. A palavra é derivada do latim caézar (césar).
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Inabalável
: constante, sem nenhum tipo de perturbação.
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Utopia
: nesse caso, algo não atingível, uma ideia de sociedade que não tem possibilidade de ser efetivada na prática.
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Mais-valia
: em linhas gerais, é a diferença entre a riqueza gerada pelo trabalho da classe operária aos burgueses capitalistas e os baixos salários recebidos pelos trabalhadores.
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Coercitivo
: repressor, autoritário.
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