UNIDADE 4 SÉCULO dezenove: RAÇA, NACIONALISMO E IMPÉRIOS

A história e você: desconstruir o determinismo biológico

Nesta unidade, você estudará, entre outros assuntos, a expansão territorial dos Estados Unidos no século dezenove e sua influência sobre o restante da América, o Brasil durante o Segundo Reinado, o imperialismo europeu e os processos que contribuíram para o fim do sistema escravista.

Esse período foi marcado pelo fortalecimento do pensamento científico. A ciência começou a ser usada não só para compreender o mundo natural e desenvolver tecnologias, mas também para explicar a natureza humana e a organização das sociedades.

Comportamentos e práticas sociais passaram a ser justificados com base na biologia. As diferenças fisiológicas entre os sexos foram usadas para justificar os comportamentos identificados como femininos e masculinos. De acordo com esse pensamento, os homens, mais fortes e inteligentes, estariam mais aptos que as mulheres ao mundo do trabalho e da política.

As diferenças entre os grupos humanos começaram a ser utilizadas para elaborar teorias raciais. O formato do crânio, por exemplo, foi usado para classificar as etnias em inferiores e superiores. O crânio alongado e estreito, característico dos brancos, indicaria, supostamente, inteligência e criatividade.

Ideias como essa serviram para justificar o imperialismo europeu na África e na Ásia, sob a alegação de que os colonizadores brancos levariam o progresso aos povos desses continentes. No Brasil, elas sustentaram o projeto de branqueamento da população, por meio do incentivo à imigração em massa de trabalhadores europeus. Por meio da miscigenação, esperava-se que o número de brancos superasse o de negros, promovendo uma suposta “melhoria da raça”.

Pintura. Local aberto, com destaque para três adultos e um bebê em frente a uma casa, da qual se vê apenas uma parede pintada de amarelo e umas roupas estendidas no varal ao fundo. No plano principal, à esquerda, uma senhora negra em pé. Ela usa um lenço nos cabelos e veste uma saia longa de cor rosa. Está com as mãos levantadas para cima, como se agradecesse uma benção de Deus. Ao lado dela, sentada em um banco de madeira, uma mulher de pele parda com um bebê branco no colo. A mulher aponta para a senhora e conversa com o bebê. O bebê está voltado na direção da senhora. Ao lado da mulher um rapaz branco está sentado na soleira da porta da casa, de pernas cruzadas. Ele observa o bebê com um sorriso no rosto.
A redenção de Cam, pintura de Modesto brôcos, 1895.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Nessa tela, Modesto brôcos representou três gerações de uma família. A avó negra, em pé ao lado da filha miscigenada, agradece aos céus pela cor clara do neto, que é observado com satisfação pelo pai branco. A cena representa a concretização do projeto de branqueamento da população brasileira.

Hoje, essas ideias são questionadas pela ciência, que não reconhece a existência de raças humanas. Além disso, sabe-se que a biologia não pode ser usada para explicar as práticas e os comportamentos humanos, que são igualmente determinados pelo meio e pela cultura. Apesar disso, muitos preconceitos que deram origem ao cientificismo do século dezenove continuam a existir.

A fim de combatê-los, você e os colegas farão uma paródia crítica da tela A redenção de Cam, ou seja, uma releitura dessa obra, com base nos valores de hoje, mantendo as características centrais dela, mas modificando alguns elementos para dar-lhes novos significados. Observem as etapas a seguir e mãos à obra!

Organizar

  • Reúna-se com um colega.
  • Busquem uma reprodução da tela A redenção de Cam na internet e façam seu download. Caso não tenham acesso à internet, copiem a imagem da página 194 usando algum aparelho disponível na escola ou a copiem fazendo um decalque usando papel vegetal.
  • Pesquisem, em livros impressos ou na internet, informações sobre o personagem bíblico Cam e, com base no que descobrirem, procurem explicar o título da obra.
  • Reflitam: se fosse pintada hoje, de acordo com valores antirracistas, de igualdade de gênero e de respeito à diversidade, como essa obra poderia ser?

Produzir

  • Usando um programa de edição de imagens no computador, ou desenhando em papel, alterem alguns elementos da obra para transformar sua mensagem. Mantenham, porém, as características principais, de modo que a tela original seja reconhecível.
  • Criem um título para a imagem-paródia.

Compartilhar

  • Após a conclusão da atividade, mostrem o resultado para os colegas e o professor.
  • Conversem sobre as paródias produzidas e sobre os tipos de crítica expressos nelas. Conversem também a respeito da experiência de fazer esse trabalho.
Ilustração. Montagem feita a partir de três pinturas da história da arte. No alto, o rosto e o tronco da Monalisa, de Leonardo da Vinci, com cabelos pretos, compridos e crespos, pele negra e usando brincos de argola. Ao fundo, pintura colorida com tons de azul e variações de amarelo e vermelho na parte debaixo. Abaixo da Monalisa, há o personagem da pintura O grito, de Edward Munch. Ele tem a boca aberta e os olhos arregalados, tendo uma expressão de espanto, e usa fones de ouvido e boné vermelhos. Está com as mãos na lateral do rosto. Ao redor dele, notas musicais em cor rosa, azul e lilás. Abaixo dele, a Moça com brinco de pérola, do pintor Vermeer, usando um lenço azul ao redor da cabeça e brinco de pérola. Ela está fazendo uma bola com goma de mascar e tirando uma foto de si com um telefone celular. Ela e o personagem de O grito parecem estar em cima de uma ponte.
Ilustração atual com exemplos de paródias das pinturas Mona Lisa, de Leonardo da vinti, 1503, O grito, de eduard mãntch, 1893, e Moça com o brinco de pérola, de Iorranes , 1665.

CAPÍTULO 10 ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO XIX

Em países como o Brasil e os Estados Unidos, séculos de escravização deixaram cicatrizes profundas. As tensões raciais e as desigualdades políticas, econômicas e sociais não acabaram quando a escravidão chegou ao fim no século dezenove. Elas se mantiveram com a prática do racismo, com a falta de oportunidades para os afrodescendentes e com a violência cometida contra a população negra.

As imagens desta página se relacionam a dois momentos distintos da história dos Estados Unidos e demonstram que a luta dos negros contra o racismo ainda é necessária.

Fotografia. Moeda vista de frente e  verso. Em uma das faces há um escravizado acorrentado e ajoelhado. Em volta da imagem do escravizado está inscrita uma frase em inglês: Eu não sou um homem e um irmão?. Na outra face, vê-se uma coroa de louro, com a palavra Liberdade escrita no meio. Em volta, escrito em inglês: Estados Unidos da América.
Frente e verso de moeda estadunidense de 1838, com a palavra liberdade, em inglês, gravada na frente e, no verso, ao lado da representação de um escravizado, a seguinte frase: “Eu não sou um homem e um irmão?”.
Fotografia em preto e branco. Detalhe da página de um jornal em que aparece a imagem de um homem negro, sem camisa, com correntes nos braços. Ele está ajoelhado aos pés de um homem branco de barba e cabelos longos. Este homem aponta na direção esquerda da imagem, enquanto observa outro homem branco ao chão que está sentado, prestes a se levantar, e parece chamar com a mão o homem de pé para acompanhá-lo em outra direção. Ao redor deles um grande círculo. No entorno, ambiente rural, com pessoas conversando. À direita, famílias com crianças e animais. A vegetação é seca. À esquerda, homens brancos de cartola. Na parte inferior da imagem está escrito em inglês O Libertador.
Detalhe de página do jornal de Boston The Liberator (“O Libertador”), de 1855, no qual eram publicados artigos em defesa do fim da escravidão.
Fotografia. Vista parcial de manifestantes segurando dois cartazes com frases de protesto escritas em inglês. Os manifestantes usam máscara de proteção; dois deles estão tirando fotos com um tablet e um telefone celular.
Manifestantes do movimento Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”) em Washington, Estados Unidos. Foto de 2020. No cartaz da parte direita da imagem está escrito: “Eu serei o próximo [a morrer]?”.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. O que há de semelhante e de diferente nas imagens?
  2. Qual é o papel de movimentos como o Black Lives Matter no combate ao racismo e na conquista de direitos sociais?

A Marcha para o Oeste: território e fronteira nos Estados Unidos

Como você estudou no capítulo 3, após a independência, os Estados Unidos se tornaram um país organizado com base em um modelo federativo descentralizado. O governo tinha como função fornecer a estrutura para o desenvolvimento comercial da nação, coletar impostos, financiar créditos públicos e investir na infraestrutura do país.

O modelo federalista não foi aceito por todos, mas a intervenção do Estado na expansão territorial era defendida pelas diferentes fôrças políticas que contribuíram para o processo de independência dos Estados Unidos.

Por isso, quando os conflitos com a Grã-Bretanha chegaram ao fim, os estadunidenses começaram um movimento de expansão territorial imperialista em direção às chamadas terras do oeste. Essas terras, porém, não estavam desocupadas. No centro-oeste do território correspondente ao dos atuais Estados Unidos viviam diversos povos indígenas. Além disso, esse território era disputado pelo Império Espanhol e pela França. Ao norte, também havia terras sob tutelaglossário britânica.

Ao longo do século dezenove, o governo estadunidense tomou as terras indígenas por meio de negociações ou da violência e dominou territórios conquistados por países europeus próximos às áreas originalmente colonizadas pelos britânicos. Isso ocorreu por meio da compra, de incorporações e de anexações, como você pode notar no mapa.

Expansão territorial dos Estados Unidos – séculos dezoito-dezenove

Mapa. Expansão territorial dos Estados Unidos, séculos 18 e 19. Mapa do território dos Estados Unidos com os seus limites e a divisão em estados atuais e a representação da formação do território atual em quatro fases. A primeira fase corresponde ao período de formação das Treze Colônias, em 1775, na costa Atlântica, que englobava os seguintes estados: Maine, Vermont, Nova Hampshire, Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, Nova York, Pensilvânia, Nova Jersey, Delaware, Maryland, Virgínia Ocidental, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia. Em 1783, os seguintes atuais estados foram cedidos pela Grã-Bretanha e incorporados: Mississipi, Alabama, Tennessee, Kentucky, Illinois, Indiana, Ohio, Michigan, Wisconsin e a porção norte do atual estado de Minnesota. A segunda fase começou em 1803, com a compra de Louisiana, Arkansas, maior parte de Oklahoma, Missouri, maior parte de Kansas, porção nordeste do estado de Colorado, Iowa, Nebraska, restante do estado de Minnesota, Wyoming (com exceção de sua porção sudoeste), Montana (com exceção de sua porção noroeste), Dakota do Norte (com exceção de suas porções norte, nordeste e leste) e Dakota do Sul; todos estes territórios pertenciam à França. Nessa mesma fase, entre 1812 e 1819, a Flórida foi comprada da Espanha. E em 1818 as porções norte, nordeste e leste de Dakota do Norte foram incorporadas. A terceira fase inicia em 1845, com a anexação do Texas, sudeste, leste e nordeste do Novo México, sul do Colorado e sudoeste de Kansas, que pertenciam ao México. Washington, Oregon, Idaho e as porções oeste de Montana e Wyoming foram cedidos pela Grã-Bretanha em 1846. Em 1848, Califórnia, Nevada, Utah, Arizona, oeste do Novo México e oeste do Colorado também foram anexados, deixando de pertencer ao México. Essa fase se encerra em 1853 com a compra da parte sul do Arizona, que também pertencia ao México. A quarta e ultima fase teve início em 1867 com a compra do Alasca da Rússia. Em seguida, em 1898, o Havaí foi anexado, completando a configuração do território no final do século 19. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 360 quilômetros.

FONTE: ATLAS histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1991. página 70.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise o mapa e resuma de que fórma se deu a chamada Marcha para o Oeste.

A crença no self-made man

Para os estadunidenses, as relações com os nativos foram resolvidas em 1786, quando o governo estabeleceu a primeira reserva indígena no território e determinou que cada aldeia fosse considerada uma nação independente. Apesar dessa determinação, o processo de extermínio e deslocamento da população indígena tornou-se cada vez mais frequente ao longo do século dezenove.

Thomas Jefferson, presidente dos Estados Unidos entre 1801 e 1809, foi o responsável pelo início do projeto expansionista como uma tarefa do Estado. Ele argumentava que a expansão de territórios era uma fórma de garantir terras para os cidadãos estadunidenses, além de expandir os valores culturais do país.

jéferson e seus aliados entendiam que a conquista de territórios era fundamental para construir uma nação de proprietários, enriquecidos por esforço e trabalho. Nesse contexto, ganhava fórça a crença partilhada entre os cidadãos estadunidenses da existência de um self-made man (“indivíduo que se faz sozinho”).

Estados Unidos: reservas indígenas – 1788-1894

Mapa. Estados Unidos: reservas indígenas, 1788 a 1894. Mapa do atual território dos Estados Unidos com as reservas indígenas representadas em vermelho, com data de estabelecimento do território. Próximo a toda a costa oeste: Porto de Madison 1855, Makah 1855, Oxette 1893, Quileute 1889, Rio Hoh 1893, Quinaleit 1855, Grande Ronde 1857, Ilha Squaxon 1854, Puyallup 1854, Lumml 1855, Swinomish 1855, Muckleshoot 1857, Colville 1872, Spokane 1881, Blackfeet 1875, Tualip 1855, Skokomish 1855, Yakima 1855, Chehalis 1864, Shoalwater 1866, Warm Springs 1855, Umatilla 1855, Klamath 1864, Vale Hoopa 1864, Vale Round 1856, Lago Pyramid 1874, Rio Walker 1874, Rio Tule 1873, Rio Moapa 1873, Mission Indians 1875, Rio Colorado 1863, Yuma 1884. Na porção central: Rio Salt 1879, Gila Bend 1882, Rio Gila 1859, Papago 1874, Montanha White 1871, Hualpai 1883, Hopi 1882, Navajo 1868, Havasupai 1880, Jocko 1855, Coeur D’Alene 1867, Forte Belknap 1888, Lapwal 1863, Lemhl 1875, Crow 1868, Vale Duck 1877, Zuni 1877, Mescalero Apache 1873, Pueblo Indians 1858, Jicarilla Apache 1874, Ute 1863, Vale Uintah 1861, Arapaho & Cheyenne 1869, Wichita 1872, Pottawatomie 1867, Iowa 1883, Sac & Fox 1867, Pawnee 1876, Otoe & Missouri 1881, Ponca 1881, Pine Ridge 1889, Sioux 1882, Standing Rock 1868, Rio Cheyenne 1889, Lower Brule 1889, Crow Creek 1889, Rosebud 1889, Forte Berthold 1870, Montanha Turtle 1882, Lago do Diabo 1867, Lago Vermelho 1863, White Earth 1867, Lago Vermilion 1881, La Pointe 1854, Sac & Fox 1867, Winnebago 1865, Omaha 1854, Kickapoo 1832, Pottawatomie 1867, Kansas 1872, Osage 1870, Cherokee 1828, Peoria 1867, Modoc 1874, Ottawa 1867, Shawnee 1831, Seneca 1831, Wyandot 1867, Cherokee do leste 1874, Creek 1833, Choctaw 1820, Seminole 1894, Chickasaw 1837, Kiowa & Comanche 1865, L’Anse 1854, Isbella 1855, Ontonagon 1854, Lac du Flambeau 1854, Menominee 1854, Stockbridge 1856, Lac Courte Oreille 1854, Mille Lac 1855, Próximo a toda a costa leste: Tuscarora 1797, Saint Regis 1796, Tonawanda 1797, Onondaga 1788, Oneida 1788, Oil Spring 1797; Allegany 1797, Cattaraugus 1797, Seminole 1894. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 300 quilômetros.
Em 1924, foi garantida a cidadania estadunidense a todos os indígenas nascidos no país. O Ato de Reorganização Indígena (Indian Reorganization Act, em inglês), de 1934, por sua vez, garantiu aos indígenas a segurança sobre a posse de suas terras.

FONTE: guílbert, M. The Routledge atlas of American history. New York: Routledge, 2006. map 58.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise o mapa e explique por que os territórios indígenas estão dispersos em diferentes pontos no mapa e em que área do país há maior quantidade desses territórios.

A intensificação da escravidão

A valorização do trabalho individual e das conquistas pessoais era partilhada pelos estadunidenses do norte e do sul do país, apesar de haver diferenças no funcionamento econômico e cultural dessas regiões: a economia do sul era baseada na monocultura das plantations, com mão de obra predominantemente de negros escravizados, enquanto o norte começava a se industrializar e dependia do trabalho livre.

O trabalho escravizado não era compatível com o discurso do self-made man; por isso, a escravidão se tornou um tema complicado no cenário político. Para os defensores do trabalho livre, a proposta de colonizar territórios parecia constituir uma solução para a superação gradual do trabalho escravizado sem conflitos abertos com os proprietários do sul. Já os sulistas escravocratas defendiam a conquista de territórios para ampliar as plantations.

Nesse contexto, teve início a expansão dos Estados Unidos. Em 1803, o território do país dobrou com a compra da Luisiana, que estava em posse da França. Nas terras recém-adquiridas, principalmente na região ao norte do Rio Mississípi, foram instaladas grandes plantações de algodão e de cana-de-açúcar.

Os trabalhadores das plantações de algodão eram escravizados adquiridos em mercados de tráfico internos, e o produto destinava-se às indústrias têxteis do norte. Isso frustrou os planos dos nortistas de promover um processo gradual de abolição da escravidão com a expansão territorial. Na realidade, a expansão das plantations de algodão revigorou o sistema escravista estadunidense.

Pintura. Vista de local aberto, com uma plantação de algodão. Em primeiro plano, uma estrada de terra ocupa a parte inferior da imagem de lado a lado. Nela, vê-se uma carroça atrelada a alguns cavalos. Sobre a carroça grandes cargas de cor marrom. Sobre as cargas vemos um homem sentado. À frente dos animais, um homem branco de paletó marrom conversa com uma mulher branca de vestido branco. Mais à direita, ainda na estrada, uma mulher, um homem e uma criança, todos negros, estão parados, um ao lado do outro. Em segundo plano, vasta plantação de algodão, em meio à qual é possível identificar pessoas trabalhando na colheita. Em terceiro plano, algumas casas e uma chaminé mais elevada em cor vermelha. Ao fundo, à esquerda, outras chaminés, por onde sai fumaça. No alto, céu azul e nuvens brancas.
Plantação de algodão no Mississípi, gravura de uíliam áiquen uólquer, 1883.
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As plantações de algodão no sul dos Estados Unidos transformaram a paisagem e reforçaram a estrutura escravocrata do país. Por ser uma atividade lucrativa que fornecia matéria-prima para os centros industriais do país, a questão da escravidão tornou-se mais tensa entre seus defensores e os abolicionistas.

A Doutrina Monroe

Na passagem do século dezoito para o século dezenove, para consolidar as fronteiras do país e expandir o território, o governo estadunidense incorporou nove estados que não faziam parte da Nova Inglaterra. Além disso, os estadunidenses voltaram a atenção para o cenário internacional. Na América Central e na do Sul, eram realizados vários movimentos pela independência das colônias. Já na Europa, ocorria o processo de restauração das monarquias, iniciado no Congresso de Viena, em 1815.

O governo estadunidense estava atento às possibilidades de retaliação dos países europeus, caso optasse por apoiar e reconhecer a independência de suas ex-colônias na América. Em contrapartida, não queria ser visto como politicamente alinhado ao movimento de restauração monárquica que ocorria na Europa, incentivando as antigas estruturas imperiais.

Diante desse cenário político, em 1823, o governo do presidente DjeimesMônrou definiu quatro princípios que orientariam a política externa estadunidense:

  • o continente americano não poderia ser recolonizado;
  • a América teria autonomia política, independentemente do cenário europeu;
  • os Estados Unidos entenderiam que qualquer ameaça à América seria uma ameaça a seu território;
  • os Estados Unidos não interfeririam nas colônias europeias na América nem nas questões internas à Europa.

Essa política foi posteriormente denominada Doutrina Monroe, sendo sintetizada na frase “A América para os americanos”.

Gravura. Imagem de homem com cabelo e cavanhaque brancos, vestido com paletó azul, gravata borboleta vermelha e cartola. Ele segura a bandeira dos Estados Unidos em uma mão e um papel escrito na outra. À frente dele, na parte inferior da imagem, uma águia dourada. Ao fundo da imagem, vista parcial da Casa Branca. No alto, escrito em letras douradas: Doutrina americana.
Doutrina americana, gravura produzida para peça publicitária estadunidense, cêrca de 1890.
Charge. Vista de uma paisagem com grama e árvores. Há muitos galos e galinhas de diferentes tamanhos no chão. No centro, em destaque, um enorme  galo com a cabeça de um senhor de cabelo longo e branco. Ele representa o Tio Sam; tem na cabeça uma cartola branca com uma faixa vermelha e veste um casaco azul com estrelas brancas e calça vermelha com listras brancas compondo as cores da bandeira dos Estados Unidos. Ele está com uma das patas levantadas. À esquerda, há alguns galos presos dentro de uma estrutura triangular bloqueada com pedaços de madeira. Em uma das ripas de madeira está escrito: Doutrina Monroe. À direita, mais ao fundo, vemos um monte de terra, sobre o qual há diversas galinhas.
Charge de Djón S. piú publicada na revista Puck, em outubro de 1901.
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Muitas charges foram publicadas para criticar a Doutrina Monroe e o intervencionismo estadunidense em países americanos. Na imagem, o personagem Tio sém, símbolo dos Estados Unidos, é representado como um grande galo rodeado de galinhas com o nome de países americanos, enquanto galos com o nome de países europeus estão presos em uma gaiola chamada Doutrina Monroe.

A questão da escravidão e os movimentos abolicionistas

Os debates sobre a continuidade da escravidão se intensificaram nos Estados Unidos a partir da década de 1820. Grande parte dos proprietários de terras e de cativos no sul do país considerava a escravidão necessária. Para eles, a proibição do tráfico internacional de escravizados pela Constituição dos Estados Unidos, de 1807, era uma afronta à liberdade de propriedade, contornada pelo comércio interno.

Os industriais e profissionais liberais do norte, por sua vez, acreditavam que a escravidão acabaria de modo gradual, com a proibição do tráfico internacional e a pressão pela adoção do trabalho livre. Entretanto, com a procura de mão de obra para as plantações do sul e o tráfico humano interno, em vez de diminuir, a escravidão aumentou.

Em 1770, a população de escravizados era de .697897. Esse número passou para ..3953760 em 1860, o que representou um aumento de 467% em 90 anos. O fortalecimento do sistema escravista envolvia questões éticas e morais, mas também políticas e econômicas: para os industriais do norte, a escravidão criava dificuldades para manter sua representação no Congresso e significava um problema para o crescimento do país, pois pessoas escravizadas não eram consumidoras.

Fotografia. Escultura de pessoas escravizadas, acorrentadas umas às outras e também com correntes prendendo mãos e pés. No centro, há um homem em pé. À direita uma mulher com um bebê e outra ajoelhada. À esquerda, mulheres abaixadas com as mãos para trás. Ao fundo outro homem em pé. Eles aparentam tentar se livrar das correntes enquanto pedem ajuda uns aos outros ou tentam fugir.
Esculturas representando pessoas escravizadas na entrada do Memorial Nacional pela Paz e Justiça, inaugurado em 2018, em Momgomery , no estado do Alabama, Estados Unidos. Esse local é dedicado à preservação da memória da violência da escravidão no país. Foto de 2018.

Dica

LIVRO

quíndred, de otávia bâtler. São Paulo: Morro Branco, 2019.

Nessa obra de ficção científica, a escritora estadunidense narra a luta de Dana, uma mulher que vive nos Estados Unidos no século vinte, mas é transportada ao século dezenove. Lá, ela sofre a violência da escravidão e precisa encontrar uma fórma de retornar a seu tempo. Com narrativa envolvente, o livro contribui para a reflexão sobre a questão escravista nos Estados Unidos.

O Compromisso do Missouri

Com o aumento do número de escravizados, ocorreram crises cada vez mais intensas entre o sul e o norte dos Estados Unidos. Para os sulistas, a escravidão era fundamental, pois garantia suas estruturas de poder e seu enriquecimento diante da crescente procura do algodão pelas indústrias têxteis do norte dos Estados Unidos e do Reino Unido. Por sua vez, os nortistas não viam com bons olhos a manutenção da escravidão em longo prazo. Eles acreditavam que a exploração do trabalho livre era necessária para ampliar a industrialização e aumentar a quantidade de consumidores das mercadorias produzidas.

Havia ainda outra questão relacionada a essa polêmica: no Congresso Nacional, o número de deputados era proporcional ao tamanho da população de cada estado. Os representantes dos estados livres do norte diziam que os escravizados não deveriam ser contados como cidadãos, pois eram considerados propriedade pelos sulistas. Já os deputados dos estados escravistas do sul queriam que os escravizados fossem contados como parte da população, pois isso aumentaria sua representatividade.

Mapa. Mapa de 1857 representando o território dos Estados Unidos ao centro e o Canadá acima e o México na parte debaixo, ambos representados na cor preta. O território dos Estados Unidos está dividido em oito partes. Em vermelho, as porções sul e sudeste  estão identificadas como Estados escravistas. O nordeste e o norte, no entorno da região dos Grandes Lagos, compõem uma área identificada como Estados livres. A porção central do território é identificada como Território do Nebraska e Território do Kansas. Mais a oeste estão Califórnia, Território de Washington e Óregon.
Reprodução do mapa dos Estados Unidos de 1857 representando a divisão entre estados livres e escravistas e os acordos estabelecidos por eles com base no Compromisso do Missouri. Os estados escravistas estão destacados em vermelho no mapa.

Essa questão foi provisoriamente resolvida ainda no século dezoito. Os deputados decidiram que um escravizado (que não podia votar nem se candidatar) valeria três quintos de um indivíduo livre no cálculo da população de cada estado. No entanto, com o aumento do número de escravizados no sul, a inclusão de novos estados poderia romper o equilíbrio existente entre o norte e o sul no Congresso Nacional. Assim, em 1819, quando o Missouri solicitou autorização para integrar a União como estado escravocrata, o estado de Massachusetts também foi incorporado, mas como território livre.

A partir de então, estabeleceu-se uma prática de admissão de novos estados para garantir a igualdade na representação de nortistas e sulistas no Congresso Nacional. Essa prática ficou conhecida como Compromisso do Missouri.

O abolicionismo

Além da questão da representatividade no Congresso Nacional, os conflitos relacionados ao tema da escravidão envolviam discussões éticas. No século dezoito, iniciou-se, na Europa e na América, um movimento, baseado nas ideias iluministas, contra a crueldade da escravização.

Na França, foi fundada, em 1788, a Sociedade dos Amigos dos Negros e, na Grã-Bretanha, os protestantes quakers se manifestaram contra a escravidão. Durante o período da independência dos Estados Unidos, houve pessoas que denunciaram a existência de um contrassenso no fato de se defender a luta contra a opressão do Império Britânico e, ao mesmo tempo, ser favorável à escravização de homens, mulheres e crianças negros.

Logo após a independência dos Estados Unidos, quakers estadunidenses fundaram, na Pensilvânia, a Sociedade Antiescravista da Pensilvânia, que se fortaleceu com a inauguração de instituições semelhantes em Nova iórque e na Filadélfia. Entre as ações dessas sociedades estavam a divulgação de propagandas para o consumo de café, arroz e algodão apenas das lavouras em que era empregado o trabalho livre.

Em 1780, a Pensilvânia aprovou a Lei de Abolição da Escravidão Gradual, de acordo com a qual o trabalho cativo em seu território deveria ser extinto em vinte anos. Leis semelhantes foram aprovadas ao longo da primeira metade do século dezenove pelos estados do norte dos Estados Unidos, o que os caracterizava como defensores do trabalho livre.

Mapa. Mapa de 1898 representando uma porção do território dos Estados Unidos. Ao sul, destacam-se os estados de Carolina do Norte, Tennessee, Kentucky, Virginia e Missouri. Vê-se o traçado da costa leste com nitidez e a região dos Grandes Lagos ao norte. A costa oeste não está representada. Linhas vermelhas no mapa representam as rotas de fuga de escravizados para regiões consideradas livres da escravidão. A maior parte dessas regiões livres estavam situadas ao norte do território e na costa leste.
Reprodução do mapa da Underground Slave Railroad publicado em 1898.
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Além de lutar pelo fim do sistema escravista, o movimento abolicionista criou a Underground Slave Railroad, um sistema de rotas secretas pelas quais os escravizados do sul eram levados para territórios livres. No mapa, é representado esse sistema, que contava com o apoio de homens e mulheres negros e brancos unidos pelas ideias abolicionistas.

A luta contra a escravidão

A defesa do trabalho livre e a oposição à escravidão fortaleceram-se ao longo da primeira metade do século dezenove. Alguns indivíduos, como Frédric Douglas, tiveram papel fundamental no fortalecimento das ideias abolicionistas. Douglass nasceu escravizado, em 1818, em Maryland. Sua mãe nasceu nos Estados Unidos e seu pai foi levado da África à América como escravizado.

Após muitas tentativas frustradas de fuga, Douglass conseguiu chegar à cidade de Nova iórque em 1848. Lá, foi considerado livre e tornou-se um líder político do movimento abolicionista. Em 1845, ele publicou suas memórias em uma obra chamada Frédric Douglas: autobiografia de um escravo. O livro foi um sucesso de vendas e tornou-se uma maneira de divulgar as ideias abolicionistas, escancarando as feridas de um país marcado pela escravidão.

O movimento abolicionista foi muito importante para a reconfiguração dos Estados Unidos após a Guerra de Secessão, que será analisada adiante.

Gravura. Vista para uma rua com um edifício de três pavimentos sendo destruído por fogo. As chamas saem pelas janelas e atravessam o telhado do edifício, podendo ser vistas subindo em direção ao céu. Uma multidão está na rua próxima ao edifício. Algumas pessoas erguem os braços, outras observam o prédio em chamas e, à esquerda, alguns bombeiros seguram uma mangueira jorrando água na direção de um edifício ao lado para evitar que o fogo o destrua também. A imagem é noturna.
Destruição por fogo do Hall, na noite de 17 de maio de 1838, gravura de Djón , 1838.
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Imagens em contexto!

No ról funcionava a séde da Sociedade Antiescravista da Pensilvânia. O incêndio, representado na imagem, foi provocado por uma multidão defensora da escravidão três dias após a inauguração do prédio. O artista suíço Djón estava na Pensilvânia naquele momento, e viajou o mundo divulgando as tensões raciais existentes nos Estados Unidos.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Defina a Marcha para o Oeste e a importância da crença no self-made man.
  2. O que foi a Doutrina Monroe?
  3. Explique por que o aumento no número de escravizados causou tensões envolvendo a questão da representatividade dos estados no Congresso Nacional.

Analisando o passado

Em 4 de dezembro de 1833, na Filadélfia, foi realizado um congresso para pressionar os Estados Unidos a abolir imediatamente a escravidão. Estavam presentes no encontro sessenta líderes abolicionistas, que representavam dez estados do país. Eles elaboraram um documento com os princípios que defendiam. Leia a reprodução traduzida de um trecho desse documento. Depois, faça o que se pede.

Eis nossa visão e nossos princípios, estes são nossos projetos e medidas. Com plena confiança na soberana justiça de Deus, nós nos arraigamos à Declaração de nossa Independência e às verdades da Revelação Divina como se fosse sobre a Rocha Eterna.

Devemos organizar sociedades antiescravistas, se possível, em todas as cidades, vilas e aldeias de nossas terras.

Devemos enviar agentes para erguer a voz em protesto, advertência, súplica e repreensão.

Devemos fazer circular, implacável e extensivamente, tratados e jornais antiescravistas.

Devemos alistar o púlpito e a imprensa na causa dos que sofrem e dos emudecidos.

Devemos ter como objetivo a purificação das igrejas de qualquer participação nas suas culpas pela escravidão.

Devemos encorajar o trabalho de homens livres em vez do de escravos, dando preferência às suas produções .

Nossa confiança de que alcançaremos a vitória está exclusivamente em Deus. Podemos ser pessoalmente derrotados, mas nossos princípios nunca o serão. Verdade, Justiça, Razão, Humanidade devem triunfar e triunfarão gloriosamente. Um exército do Senhor já está vindo para nos ajudar na luta contra os poderosos, e essa perspectiva é muito encorajadora para nós.

DECLARATION of the Anti-slavery Convention. Philadelphia, December, . Library of Congress. Disponível em: https://oeds.link/dquQWc. Acesso em: 4 mártch 2022. Tradução nossa.

Ilustração. Imagem de um homem lutando contra um leão. O homem veste uma capa branca esvoaçante e está tentando dominar o leão, que está deitado no chão e luta com as patas para cima. Ao fundo, duas pessoas assustadas assistem à cena.
Ilustração de rúben guílbert para a Declaração da Convenção Antiescravista, 1833.
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Imagens em contexto!

A imagem representa o combate entre um homem e um leão, em referência à luta de Hércules, um semideus da mitologia greco-romana, contra o leão de Nemeia e também a Davi e Sansão, personagens bíblicos que teriam enfrentado leões. A ideia era a de que, com o auxílio de Deus, o mais perigoso e difícil dos inimigos poderia ser derrotado.

Responda no caderno.

  1. Transcreva os trechos do documento em que a religião é relacionada à temática da escravidão.
  2. Explique as estratégias apresentadas pelos participantes do congresso para acabar com a escravidão.
  3. Com base em seus conhecimentos, explique a relação estabelecida pelo movimento entre a religião e a defesa da abolição da escravidão.

Mulheres negras na luta contra a escravidão e o machismo

A fuga de escravizados para o norte, apesar de muito perigosa, era comum. Em 1827, a escravizada Isabella bôm fri, que vivia no sul do país, chegou ao Canadá com seu filho mais novo em busca de liberdade. Ao se estabelecer no local, ela passou a adotar o nome soudjouner trúf.

Em 1829, com a abolição da escravidão em Nova iórque, trúf mudou-se para o estado, onde trabalhou como empregada doméstica. Com sua experiência, ela se tornou uma líder abolicionista e ativista na luta em defesa dos direitos das mulheres, que também ganhava fôrça.

Em 1851, soudjouner trúf foi convidada a participar da Convenção dos Direitos da Mulher, realizada em Ohio. O discurso que ela proferiu – em resposta a religiosos conservadores que afirmavam a inferioridade da mulher – foi muito importante para a história dos movimentos pelos direitos das mulheres, do feminismo negro (aquele que se foca nas problemáticas relacionadas especificamente às mulheres negras) e do combate ao racismo. Nesse discurso, ela falou sobre a fôrça da mulher negra como agente históricoglossário .

Fotografia em preto e branco. Fotografia de uma mulher que está sentada. Ela é negra, está vestida com uma blusa branca, saia preta e um xale preto sobre os ombros. Ela está de óculos com armação pequena e usa um gorro branco na cabeça. Em uma das mãos segura uma folha de papel.
soudjouner trúf. Foto de cêrca de 1864.

Anna mãrrei-Douglas também se destacou como ativista na luta pelo fim da escravidão e pelos direitos das mulheres. Filha de escravizados alforriados em mérilend, mãrrei-Douglas nasceu livre, mas não tinha direitos sociais ou políticos. Tanto em Maryland como em Nova iórque, para onde se mudou em 1838, ela atuou na rede de rotas secretas para a fuga dos escravizados do sul para o norte dos Estados Unidos, o Canadá e o México. Em Nova iórque, ela se casou com o ativista Frédric Douglas.

Dica

LIVRO

A história de , a escrava do Norte, de ólive guílbert. São Paulo: Principis, 2021. (Clássicos da literatura mundial)

Trata-se de um livro que apresenta dados biográficos narrados por Isabella bôm fri a ólive guílbert. Por meio deles, tem-se acesso a aspectos do cotidiano, das lutas e angústias dessa mulher que é reconhecida como um importante nome do movimento abolicionista nos Estado Unidos.

Mulheres e representatividade

As mulheres não tinham direitos políticos nos Estados Unidos, mas, ao longo do século dezenove, elas organizaram uma série de movimentos para exigir mudanças na sociedade. A luta das mulheres em várias partes do mundo naquele período ficou conhecida como a primeira onda do feminismo.

Envolvidas nos debates públicos, as participantes do movimento concordavam sobre a urgência do direito ao voto, mas não entraram em um acordo sobre as melhores estratégias para consegui-lo. Para algumas, o movimento deveria exigir o direito ao voto, em nível federal ou estadual, por meio de petições ao Congresso Nacional, sem muitas movimentações nas ruas, por exemplo. Para outras, era preciso organizar manifestações nas ruas para pressionar o Congresso a ampliar os direitos das mulheres.

A primeira reunião oficial de mulheres nos Estados Unidos ocorreu em julho de 1848, na Convenção de sêneca , em Nova iórque, que foi liderada pelas abolicionistas e defensoras dos direitos das mulheres elízabet quêidi isténton, lucréchia mót e Ruáit.

Ao final da convenção, 68 mulheres e 32 homens assinaram a Declaração dos Direitos e Sentimentos. No documento, foram utilizados argumentos religiosos e históricos para exigir o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade, em evidente diálogo com o texto da Declaração de Independência. O movimento das mulheres estava ligado aos ideais abolicionistas e, com a guerra civil (assunto que você estudará adiante), ganhou outras configurações.

Fotografia em preto e branco. Retrato de uma mulher dos ombros para cima. Ela possui o rosto arredondado, pescoço largo e tem cabelos claros, curtos e enrolados. Os olhos são pequenos e os lábios finos.
elízabet quêidi isténton. Foto de 1898.
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elízabet quêidi isténton foi importante no movimento pelos direitos políticos das mulheres no século dezenove. Além da elaboração e da da Declaração dos Direitos e Sentimentos, isténton foi presidente da NationalWoman Suffrage Association (“Associação Nacional de Sufrágio Feminino”) de 1892 até 1900.

Ilustração. Vista para um local fechado semelhante a uma igreja. No centro da imagem, há um palco com seis pessoas, uma delas está em pé. É uma mulher de vestido azul e longo e que usa um lenço sobre a cabeça e amarrado ao pescoço. Ela está ao lado de um púlpito, sobre o qual apoia uma das mãos. Com a outra, segura um papel que parece usar para ler um texto em voz alta. Atrás dela, sobre o palco, há cinco pessoas sentadas; dois homens usam calça e paletó marrons e três mulheres usam vestidos longos e lenços na cabeça. Em volta do palco, mulheres e homens estão sentados em bancos compridos e observam a mulher.  O ambiente recebe luz natural que entra a partir de uma janela do lado direito da imagem.
Ilustração atual representando a Convenção de sêneca , importante momento na luta pelos direitos das mulheres.

FONTE: fêigan, On her own wings: Oregon women and the struggle for suffrage. Oregon State Disponível em: https://oeds.link/OdNfEM. Acesso em: 10 2022.

A tomada de territórios do México

Na primeira metade do século dezenove, enquanto o debate pelo fim da escravidão ocorria, estadunidenses invadiram territórios que pertenciam ao México. A partir dos anos de 1840, essas invasões se intensificaram, e um grupo de estadunidenses declarou a independência de um território no interior do México, dando origem ao Texas. Os texanos passaram a exigir a incorporação do território aos Estados Unidos e tiveram amplo apoio da imprensa nacional.

O jornalista Djón ôu sâlivan, na edição de julho e agosto de 1845 do periódico Democratic Review, justificou a independência daquele território mexicano e sua anexação aos Estados Unidos com a doutrina do Destino Manifesto. Para ele, os estadunidenses, inspirados por Deus e detentores de uma superioridade moral, deveriam levar o progresso aos povos nativos e expandir seus territórios e sua fé.

Os territórios invadidos eram habitados por cidadãos mexicanos e povos indígenas, mas, segundo a perspectiva imperialista dos estadunidenses, eram espaços desocupados. A população desses locais, portanto, não foi consultada sobre esse processo.

O projeto de anexação do Texas foi aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, que declarou a intenção de expandir o território do país até o Pacífico, por meio da invasão da Califórnia.

Os invasores foram atacados por mexicanos e grupos indígenas que viviam na região. Isso foi usado como justificativa para declarar guerra ao México em 13 de maio de 1846. Rapidamente a Califórnia e o Texas foram tomados pelas fôrças militares estadunidenses. Apesar da resistência do exército mexicano, as tropas dos Estados Unidos invadiram a Cidade do México, capital do país, e, em um ato simbólico, tomaram a séde do exército das fôrças de resistência: o Castelo de Chapultepec.

O México foi obrigado a assinar, em 1848, o Tratado de Guadalupe Hidalgo, entregando aos Estados Unidos o território que hoje compõe os estados: Califórnia, Nevada, Novo México, Arizona, Texas, Colorado, Utah e Wyoming.

Pintura. Cena em um local aberto, com destaque para soldados em uma batalha. À esquerda da imagem, há soldados dos Estados Unidos vestidos de casaco azul, calça branca e chapéu preto. Eles estão perfilados e empunhando espadas para frente, na direção dos soldados mexicanos, vestidos de verde e branco. À direita, um grupo de soldados mexicanos tenta fugir do ataque americano. Muitos estão caídos ao solo, mortos ou feridos. Há muita fumaça no ambiente, resultante dos disparos de canhões. Ao fundo, à direita, há uma paisagem com morro, onde o céu está mais aberto, sem fumaça.
Batalha de Curubusco: travada perto da Cidade do México em agosto de 1847, gravura de Djón Cameron, 1847.
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Na imagem, a batalha foi representada com base na perspectiva estadunidense. O exército estadunidense, à esquerda, foi desenhado como uma fôrça coesa e em avanço. Os soldados mexicanos, à direita, parecem estar desorganizados, em fuga, sofrendo com as mortes e a derrota inevitável.

E os indígenas?

Os povos indígenas que viviam na América do Norte não eram reconhecidos como cidadãos dos Estados Unidos. Os confrontos entre integrantes de diferentes etnias indígenas e os estadunidenses eram frequentes, mas, legalmente, cada povo tinha o direito de formar uma nação independente.

Em razão disso, diferentes grupos negociavam com o governo o estabelecimento das chamadas reservas ou territórios indígenas. As negociações, porém, sempre desfavoreciam os indígenas, pois o poder de decisão sobre a criação das reservas concentrava-se no Congresso Nacional, formado por homens brancos.

Assim, a invasão de terras a oeste pelos estadunidenses significou a remoção forçada dos nativos de seus territórios ancestrais ao longo do século dezenove. O Estado, interessado em disponibilizar terras aos cidadãos, forçava os nativos a deixar o território em que viviam e ir para as reservas.

O movimento mais emblemático de remoção forçada foi contra o povo tcherôquí. Em 1838, a Suprema côrte decidiu que os chéroquís deviam ser reunidos e levados para o oeste por tropas do exército estadunidense e milícias locais. Estima-se que, em uma única leva, cêrca de 60 mil indígenas foram deportados. O exército e as milícias provocaram a morte de 4 mil pessoas. O tratamento recebido pelos chéroquís foi tão cruel que o caminho que fizeram ficou conhecido como Trilha das Lágrimas.

Estados Unidos: principais rotas de remoção de grupos indígenas – século dezenove

Mapa. Estados Unidos: principais rotas de remoção de grupos indígenas, século 19. Mapa representando a porção sul central e sudeste do território estadunidense e as rotas de remoção de diferentes grupos indígenas. Legenda: Linha azul: Cherokee. Linha verde: Chickasaw. Linha vermelha: Choctaw. Linha roxa: Creek. Linha rosa: Seminole. Verde: Território tribal. Amarelo: Reserva. No mapa há a representação de reservas indígenas na porção sul, na fronteira dos Estados Unidos com o México. Nesta reserva estavam os grupos cherokee, chickasaw, choctaw, creek e seminole. No sudeste, nos estados de Mississipi, Alabama e norte da Geórgia há a representação de dois territórios tribais. Na península da Flórida há outro território tribal. Cherokee: grupo foi removido através de três rotas. A primeira foi formada pelo caminho que saía do Forte Gibson (na reserva indígena do sul) e passava por Springfield, Cape Girardeau, Jonesboro,  Golconda,  Hopkinsville,  Nashville,  Murfreesboro, McMinnville e Cherokee Agency, no território tribal. A segunda saía do Forte Gibson e passava por Batesville, Jackson, Jonesboro, Golconda, Hopkinsville, Nashville, Murfreesboro, McMinnville e Cherokee Agency. A terceira rota saía de Forte Gibson e passava por Forte Smith, Rock Roe, Memphis, Tuscumbia, Guntersville até chegar ao território tribal de Cherokee (no centro dos Estados Unidos). Os Chickasaw foram removidos pela rota que ligava o Forte Towson, na reserva indígena do sul dos Estados Unidos, a Camden, Monroe até chegar ao território tribal dos Chickasaw (no centro dos Estados Unidos). Os Choctaw foram removidos pela rota que ligava o Forte Towson, na reserva indígena do Sul, a Camden, Monroe, Vicksburg, Jackson até chegar ao território tribal (no centro dos Estados Unidos). Os Creek foram removidos através de duas rotas. A primeira saía de Forte Gibson e passava por Forte Coffee, Forte Smith, Little Rock, Rock Roe, Saint Francis, Memphis, Huntsville, Guntersville, Tuscumbia, Montevallo, Columbus e Tuscaloosa até chegar ao território tribal dos creek (no centro dos Estados Unidos). A segunda rota saía de Forte Gibson e passava por Forte Coffee, Forte Smith, Little Rock, Point Chicot, Vicksburg, Nova Orleans, Mobile e chegava a Forte Mitchel, no território tribal no centro dos Estados Unidos. Os Seminole foram removidos pela rota que ligava Forte Gibson, na reserva indígena ao sul, e passava por Forte Coffee, Forte Smith, Little Rock, Rock Roe, Point Chicot, Vicksburg e Nova Orleans ate chegar ao território seminole na península da Flórida. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 130 quilômetros.

FONTE: NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY. May 28Indian Removal Act.National Geographic. Disponível em: https://oeds.link/hCMIf5. Acesso em: 10 mártch 2022. Tradução nossa.

Cruzando fronteiras

Ao longo do século dezenove, milhões de pessoas emigraram para os Estados Unidos. Partindo de países europeus, como a Itália, a Irlanda e a Alemanha, e de regiões da Ásia, principalmente da China, os imigrantes buscavam melhores condições de vida e oportunidades de trabalho na América.

Durante os anos 1840, por exemplo, notícias sobre a exploração de ouro na Califórnia rodaram o mundo, atraindo chineses, alemães, russos, poloneses e irlandeses, além de indivíduos de outros locais.

Nesse período, o governo dos Estados Unidos adotou medidas para estimular a chegada de imigrantes, como o Ato para Encorajar a Imigração, de 1864. Outra medida importante foi a autorização da imigração de chineses para o território estadunidense, em 1868.

O deslocamento populacional em direção aos Estados Unidos era considerado uma fórma de obter mão de obra e expandir as atividades produtivas do país, além de consolidar a expansão das fronteiras.

A chegada de imigrantes contribuiu para transformar a cultura dos Estados Unidos com a introdução de tradições alimentares, festas, práticas religiosas e costumes de diversos povos. Em muitas cidades do país formaram-se bairros em que residiam pessoas da mesma nacionalidade.

Nas cidades de Chicago, Nova iórque, Boston e Filadélfia, por exemplo, foram formadas grandes comunidades de irlandeses durante o século dezenove. Uma das festas mais populares do país, a de São Patrício, é uma comemoração típica da Irlanda que foi preservada pelos imigrantes que chegaram aos Estados Unidos.

Os imigrantes também criaram associações de auxílio mútuo para facilitar sua integração à sociedade estadunidense, como a Sociedade ílinói , fundada por imigrantes escoceses na cidade de Chicago, em 1845.

Apesar de sua importância para o desenvolvimento dos Estados Unidos no século dezenove, os imigrantes sofreram com o preconceito e a violência. Práticas discriminatórias eram comuns e houve momentos nos quais o governo estadunidense tomou medidas para restringir os direitos de imigrantes e até para expulsá-los. Em 1882, por exemplo, o Congresso proibiu a entrada de chineses e, em 1907, de japoneses no país.

Ilustração em preto e branco. Vista para um pequeno palco com vários atores dançando. Dois estão sentados. Os atores usam máscaras e seguram lanças pontiagudas nas mãos. Vista parcial da plateia formada em sua maioria por chineses.
Ilustração de 1880 representando uma exibição teatral chinesa na cidade de San Francisco, Estados Unidos.
Fotografia. Foco em quatro jovens vestidas com blusas de moletom verdes, sorrindo e levantando os braços. Uma delas usa um boné com o desenho de um trevo de quatro folhas.
Participantes da festa de São Patrício, em Nova iórque. Foto de 2022.

Analise, no gráfico e na tabela a seguir, as informações sobre a imigração nos Estados Unidos ao longo do século dezenove. Depois, responda às questões propostas.

Imigração para os Estados Unidos – 1820-1860

Gráfico de linha. Imigração para os Estados Unidos, 1820 a 1860. No eixo vertical está a quantidade de imigrantes em milhares: de 0 a 450 mil imigrantes com intervalos de 50. No eixo horizontal estão os anos, de 1820 a 1860 em intervalos de 10 anos. 1820: 8,4 imigrantes. 1830: 23,3 imigrantes. 1840: 84,1 imigrantes. 1845: 114,3 imigrantes. 1850: 369,9 imigrantes. 1852: 371,6 imigrantes. 1855: 427,8 imigrantes. 1856: 200,8 imigrantes. 1860: 153,6 imigrantes.

FONTE: DEPARTMENT of Homeland Security. 2019 Yearbook of Immigration Statistics. Washington, D.C.: U.S. Department of Homeland Security, Office of Immigration Statistics, 2020. página 5.

Número de imigrantes que estabeleceram residência legal nos Estados Unidos, por local de origem – 1860-1890

1860-1869

1870-1879

1880-1889

Europa

Império Austro-húngaro

3.375

60.127

314.787

Dinamarca

13.553

29.278

85.342

França

35.938

71.901

48.193

Alemanha

723.734

751.769

1.445.181

Irlanda

427.419

422.264

674 061

Itália

9.853

46.296

267.660

Noruega e Suécia

82.937

178.823

586.441

Suíça

21.214

25.212

81.151

Império Russo

1.667

34.977

173.081

Reino Unido

532.956

578.447

810.900

Ásia

China

54.028

133.139

65.797

América

Canadá e Terra Nova

117.975

323.974

492.508

FONTE: DEPARTMENT of Homeland Security. 2019 Yearbook of Immigration Statistics. Washington, D.C.: U.S. Department of Homeland Security, Office of Immigration Statistics, 2020. pê ponto 5.

Responda no caderno.

  1. No período representado no gráfico, qual foi o ano em que a imigração nos Estados Unidos chegou ao auge? Quantos imigrantes entraram no país nesse ano?
  2. De acordo com a tabela, quais eram os países de origem dos imigrantes que chegaram aos Estados Unidos?
  3. No período de 1861 a 1890, quais eram os três principais países de origem dos imigrantes?

A guerra civil

Duas hipóteses são geralmente usadas para explicar o início da chamada Guerra Civil Americana ou Guerra de Secessão, ocorrida nos Estados Unidos entre 1861 e 1865.

De acordo com a primeira delas, o conflito foi o resultado de embates entre habitantes do norte e moradores do sul do país. Os nortistas defendiam o trabalho livre e os sulistas desejavam manter o trabalho escravizado. A questão da representatividade no Congresso e do conceito de propriedade teria sido o ponto de partida do conflito.

Conforme a outra explicação, a guerra teve início por causa das tensões entre os que defendiam a liberdade (e a imediata abolição da escravidão) e os escravocratas, independentemente das caracterizações de norte e sul do território estadunidense.

As duas leituras são válidas, pois havia disputas por representatividade e a defesa da liberdade ou, no caso, do fim da escravidão. Antes da declaração oficial da guerra civil, fazendeiros do sul afirmavam que os habitantes do norte (yankees) eram invasores que desrespeitavam o direito ao autogoverno e à propriedade, desarticulando as bases da identidade do cidadão estadunidense.

Esses fazendeiros defendiam a separação entre o sul e o norte, pois acreditavam que o pacto comum havia sido rompido e o Congresso não seria capaz de atender a interesses políticos, econômicos e culturais tão distintos. Já os habitantes do norte acreditavam que ainda existiam fatores comuns entre os estadunidenses – língua, religiosidade, experiência de tempos coloniais, por exemplo – e, resolvida a questão da escravidão, o país poderia encontrar um destino glorioso.

Em 1861, após vencer as eleições para presidente, Êibrarram Lincon (que tinha amplo apoio dos nortistas) declarou que os habitantes do sul precisariam respeitar as leis da União (o que incluiria uma mudança na questão da escravidão). Diante disso, os estados do sul se declararam independentes e integrantes dos Estados Confederadosglossário da América.

Nesse contexto, a guerra foi declarada em 12 de abril de 1861, quando tropas do sul abriram fogo contra as do norte. Todos esperavam que o conflito tivesse curta duração, mas houve quatro longos anos de combates, nos quais 620 mil soldados foram mortos e outros 400 mil ficaram feridos ou mutilados. A guerra foi difícil para ambos os lados e provocou mudanças no cenário político estadunidense.

Fotografia em preto e branco. Vista de uma área urbana destruída, prédios e ruas em ruínas. No primeiro plano, área repleta de destroços; três soldados e duas crianças observam as ruínas. Ao fundo, parte dos edifícios, com algumas paredes ainda em pé.
Ruínas de construções em Richmond, na Virgínia, Estados Unidos. Foto de 1865. Essa cidade havia sido escolhida como a capital dos Estados Confederados da América.

A reconstrução da nação

As principais conquistas dos estadunidenses após a guerra civil foram a abolição da escravidão e uma limitada ampliação do conceito de cidadania. Com a Uniãoglossário fortalecida, foi possível criar algumas emendas constitucionais, como a décima terceira – que libertou todos os negros escravizados –, a décima quarta – que tornou todos os cidadãos estadunidenses iguais em direitos e deveres, independentemente da vontade dos estados – e a décima quinta – que garantiu o direito de voto a todos os cidadãos, sem distinção de raça, cor ou condição social.

Os problemas sociais nos Estados Unidos, porém, estavam longe de ser resolvidos. O voto feminino só foi conquistado, após muita luta dos movimentos sufragistas, em 18 de agosto de 1920. Os indígenas, por sua vez, continuaram sem direito à cidadania até 1975 e até hoje encontram dificuldade para votar.

Além disso, as tensões raciais após a guerra civil mantiveram-se em todo o país. Organizações sulistas, racistas e violentas, como a dos supremacistas brancos da Cu Clús Clã, organizada em 1866 logo após o fim da guerra, praticaram o linchamento de negros até meados do século vinte. Apesar de criminalizadas, associações desse tipo continuam ativas no país. O racismo e a violência persistem; por isso, são necessários movimentos como o Black Lives Matter.

Em uma tentativa de refazer a nação, entre 1865 e 1877, o governo federal implementou um programa chamado Reconstrução. A proposta era unificar o país por meio da valorização da identidade dos cidadãos estadunidenses. Temas como o self-made man, a Doutrina Monroe e o Destino Manifesto tornaram-se guias da produção de um país imperialista.

Fotografia. Destaque para duas mulheres negras usando roupas e máscaras de proteção facial, com boca e nariz cobertos. Uma delas usa uma boina. Ao fundo, pessoas carregam cartazes com frases escritas em inglês.
Protesto do movimento Black Lives Matter em frente à embaixada dos Estados Unidos em Londres, Reino Unido. Foto de 2020. No cartaz do lado esquerdo da imagem está escrito: “Por quantos filhos negros ainda devemos chorar?”.
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Imagens em contexto!

A organização do movimento Black Lives Matter começou em 2013 por três ativistas estadunidenses (Alicia Garza, patrisse câlors e Opal tométi) para combater o racismo e a violência contra pessoas negras. Em 2020, após o assassinato de djêordji Flóid pela polícia de Minneapolis, o movimento ganhou repercussão internacional. Protestos contra o racismo foram organizados em diversas regiões dos Estados Unidos e em muitos outros países.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Resuma as razões para a guerra dos Estados Unidos contra o México.
  2. Explique a relação entre os indígenas e o governo estadunidense.
  3. Defina a política da reconstrução estadunidense após a guerra civil.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. Leia o enunciado a seguir e, no caderno, identifique as afirmativas verdadeiras e as falsas. No século dezenove, a Doutrina Monroe teve muita importância na orientação da política externa dos Estados Unidos. Com essa política, o governo:
    1. apoiou oficialmente a independência das colônias na América como fórma de expandir os territórios estadunidenses.
    2. optou por não apoiar os processos de restauração na Europa como fórma de garantir a estabilidade de sua independência.
    3. propagandeou o mito do self-made man para garantir a influência do Estado sobre os proprietários de terras no sul do país.
    4. direcionou a zona de influência estadunidense para a América, declarando que o continente estava sob a proteção dos Estados Unidos, e não mais dos países europeus.
  2. Indique no caderno a alternativa correta sobre a Guerra de Secessão, ocorrida entre 1861 e 1865.
    1. O conflito foi o resultado de embates entre o norte e o sul do país, sendo o norte agrário e escravocrata e o sul industrializado e dependente da mão de obra livre.
    2. Ideias humanistas sobre os direitos à liberdade por parte de homens, mulheres e crianças negros não foram importantes no debate sobre o fim da escravidão.
    3. O confronto foi vencido de fórma muito rápida e eficaz pelo sul dos Estados Unidos, configurando-se uma nova nação marcada pelo trabalho livre.
    4. A guerra foi difícil para ambos os lados e terminou com a vitória do norte e com um projeto de reconstrução da nação estadunidense.

Aprofundando

3. Analise a imagem. Nela, é possível identificar uma personagem central, Columbia, que representa a nação estadunidense. Ela parece voar acompanhando a marcha dos colonos e da “civilização” estadunidense em direção ao oeste. Entre os símbolos dessa cultura, são representados a locomotiva a vapor, o telégrafo, a agricultura e a propriedade privada. Na pintura, há um contraste entre luz e sombra: a luz simboliza o avanço dos colonos e a sombra é identificada com as culturas nativas do continente. Os nativos representariam a “barbárie” que deveria ser vencida pelo esforço colonizador branco.

Pintura. Vista para uma paisagem rural com vasto horizonte. Trens, charretes, pessoas a cavalo, indígenas, imigrantes, manadas de búfalos, cachorros e ursos se locomovem da direita para a esquerda da imagem, no sentido do Oeste. Os trens partem da região litorânea, a leste, para a região oeste. Homens conduzindo bois que puxam um arado seguem o fluxo dos demais. Acima de todos, sobrevoando-os, a imagem de uma mulher loira, com cabelos longos, vestindo uma túnica branca. Ela segue para oeste carregando em uma das mãos um livro e com a outra segura um longo fio ligado a um poste de eletrificação. À esquerda, nuvens densas no céu e, no canto superior direito, o Sol no horizonte iluminando a região leste. No mar há algumas embarcações.
Progresso americano, pintura de Djón , 1872.
Com base no que você verificou e nos comentários do enunciado, responda:
  1. Analisando a direção da luz no quadro, é possível afirmar que a tela representa um amanhecer ou um entardecer? Indique a direção seguida por Columbia e pelos colonos estadunidenses e sua relação com o contexto histórico representado na imagem.
  2. Que atividades ou elementos tecnológicos caracterizam a marcha dos colonos em direção ao oeste?
  3. Sabendo que havia, no período, uma associação entre luz e “civilização”, é possível dizer que Djón procurou representar a valorização de uma sociedade em detrimento de outra? Justifique sua resposta.
  1. No início dos anos 2020, diversas reportagens a respeito da derrubada de estátuas em diferentes países circularam pelo noticiário nacional e foram muito comentadas nas redes sociais. Os manifestantes eram contrários à preservação da memória das pessoas representadas pelas estátuas, que tinham envolvimento com o tráfico humano ou com a posse de escravizados. Com base nessa informação, você e os colegas vão criar um podcast ou um programa de rádio para discutir a relação entre o dilema que envolve a derrubada de estátuas e as lutas da população negra nos Estados Unidos pelo reconhecimento de seus direitos.
    1. Junte-se a três colegas, escolham o formato e façam as seguintes tarefas:
      • ouçam alguns podcasts ou programas de rádio: tomem nota das características comuns da linguagem escolhida, como a existência de um locutor, de vinhetas ou de momentos de silêncio mais ou menos longos, a nitidez na veiculação de informações, a presença de convidados, a especificação das fontes citadas e o tempo de cada episódio;
      • após encontrar os padrões, criem uma lista com o que é específico de cada um dos programas selecionados. Escolham, então, as variações que vocês desejam incluir no podcast ou no programa de rádio que produzirão e ignorem aquelas que não serão utilizadas;
    1. Pesquisem, em jornais e revistas impressos e na internet, notícias sobre a derrubada de estátuas nos últimos anos. Entre as notícias pesquisadas, anotem as características comuns nas ações dos manifestantes e escolham duas especificidades que chamaram a atenção do grupo.
    2. Criem o roteiro do podcast ou do programa de rádio com base nos elementos levantados nos passos anteriores.
    3. Produzam um relatório explicando de modo simples como o grupo fez as tarefas propostas nos itens anteriores.
    4. Com base no relatório, preparem o material a ser usado na gravação do podcast ou na realização do programa de rádio.
    5. Gravem o podcast; apresentem o programa de rádio.
    6. Compartilhem com os demais colegas o relatório produzido.
    7. Debatam os trabalhos e leiam os relatórios produzidos pelos outros grupos. Ao final de todas as apresentações, proponham aos outros grupos maneiras de aperfeiçoar o relatório deles.
    8. Com base nas sugestões dos colegas e do professor, retomem o relatório produzido e façam alterações para aperfeiçoá-lo.

Glossário

Tutela
: proteção, defesa, guarda.
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Agente histórico
: aquele que atua na síntese ou na alteração da história.
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Confederado
: participante da união política formada pelos estados do sul dos Estados Unidos que optaram pela separação (secessão). Entre os estados confederados originais estavam a Carolina do Sul, o Alabama, o Mississípi, a Geórgia, a Flórida, o Texas e a Luisiana.
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União
: conjunto de estados que permaneceram atrelados ao pacto federativo e ao Poder Executivo Federal representado por Êibrarram Lincon.
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