CAPÍTULO 11 O SEGUNDO REINADO

Você sabia que, se tiver cêrca de 14 anos, logo poderá votar? O artigo 14 da Constituição Federal prevê o voto facultativo para brasileiros de 16 e 17 anos. E se quisesse concorrer a um cargo político, você sabe que idade mínima deveria ter? Para o cargo de vereador, 18 anos; de deputado ou prefeito, 21 anos; de governador, 30 anos; de senador ou presidente, 35 anos.

As regras de idade mínima, porém, nem sempre foram seguidas no Brasil. De acordo com a Constituição de 1824, para assumir o trono, o imperador precisaria alcançar a maioridade, ou seja, ter 18 anos. Entretanto, a maioridade de dom segundo foi antecipada e, em 1840, ele assumiu o trono imperial antes de completar 15 anos.

Ilustração. Em uma sala com janelas grandes, um homem caminha na direção de uma cabine eleitoral à esquerda. À direita, três mulheres que trabalham como mesárias o observam.
Ilustração atual representando eleitor votando no Brasil. A urna eletrônica começou a ser utilizada no país em 1996 e garante a idoneidade do processo eleitoral.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Elabore uma hipótese para explicar a antecipação da maioridade de dom Pedro segundo.
  2. Quais são as diferenças entre o sistema eleitoral atual e o da segunda metade do século dezenove?
  3. Além da discussão sobre o voto, que outros debates e eventos importantes marcaram a história do Brasil na segunda metade do século dezenove?

O Golpe da Maioridade e o início do Segundo Reinado

Como você estudou no capítulo 7, o Brasil foi a única nação americana que permaneceu como monarquia após a independência, em 1822. Cercado de repúblicas, o país enfrentou movimentos internos de resistência e de contestação e a desconfiança dos Estados vizinhos.

Durante o período regencial, que se estendeu de 1831 a 1840, a possibilidade de divisão do território do Brasil se tornou uma ameaça concreta. Como você estudou no capítulo 8, revoltas, rebeliões e movimentos separatistas ocorreram em várias partes do país. Os participantes desses movimentos questionavam aspectos importantes da sociedade brasileira do período, como a escravidão e o poder imperial.

Diante desse cenário, alguns senadores, como os ligados ao Clube da Maioridade, acreditavam que a unidade do país seria garantida por meio do fortalecimento do Poder Executivo com a posse do imperador. O herdeiro do trono, porém, deveria começar a governar o império somente a partir de 1843, quando completasse 18 anos, como dispunha a Constituição de 1824.

Assim, com o objetivo de promover estabilidade e pacificar o país, os políticos liberais apostaram em uma campanha pela antecipação da maioridade de dom Pedro. Para modificar a lei, os senadores criaram uma emenda constitucional e, em julho de 1840, a antecipação da maioridade foi aprovada pelo Senado, quando o jovem imperador tinha apenas 14 anos. No ano seguinte, em 18 de julho de 1841, ele foi coroado e aclamado com o título de dom Pedro segundo.

Fotografia. Composição com quatro moedas do século 19. Todas possuem inscrições na borda e apresentam representações de Dom Pedro Segundo. A primeira moeda apresenta a imagem de dom Pedro criança de perfil. A segunda moeda retrata Dom Pedro com o cabelo curto, jovem e de perfil. A terceira moeda representa dom Pedro Segundo como um jovem adulto, de perfil, com o cabelo maior e barba cheia. A quarta moeda apresenta a imagem de dom Pedro Segundo como um senhor de cabelo cheio e barba.
Moedas com a representação de dom Pedro segundo produzidas no Brasil imperial entre as décadas de 1830 e 1860. É possível observar que elas registraram as mudanças na aparência do imperador da infância à idade adulta.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Dom Pedro segundo foi o monarca que permaneceu mais tempo no governo do Brasil: quase cinquenta anos. Durante esse período, a imagem do imperador foi construída como a de um homem equilibrado, culto (pois lia muito), severo e sem grandes paixões ou graves conflitos. Em certo sentido, ele é lembrado como o oposto de seu pai, o imperador dom Pedro primeiro, que faleceu aos 36 anos.

Versões em diálogo

A cerimônia de coroação de dom Pedro segundo, realizada em 1841, foi organizada como um grande espetáculo e representada por diversos artistas do século dezenove. Entre os quadros mais famosos estão o de françuá renê morrô e o de Manuel de Araújo Porto-Alegre, reproduzidos a seguir. Um deles, O ato da coroação do imperador dom Pedro segundo, de Morrô, foi adquirido pelo imperador e colocado na sala do trono imperial.

Analise as pinturas e leia alguns trechos de um texto sobre elas, escrito pela historiadora de arte Leticia isquéf.

IMAGEM 1

Pintura. Vista de local fechado, semelhante a uma capela, com paredes ornadas com pinturas e esculturas. Ao centro, sobre tapete verde, um homem vestido com trajes religiosos coroa um jovem ajoelhado à frente dele sobre uma almofada. O homem está com uma espécie de chapéu comprido na vertical sobre a cabeça, roupas longas e tecido dourado sobre os ombros até a cintura. O jovem à sua frente veste uma espécie de túnica com capa sobre os ombros em amarelo e parte inferior em verde. Em volta deles, outros três  membros da igreja vestidos de forma semelhante ao homem que faz a coroação. Em segundo plano, homens em pé e à direita observam a cena. Em terceiro plano, em local mais elevado, estão sentadas algumas mulheres vestidas com roupas claras e lenços brancos na cabeça observando a cerimônia. Ao fundo, no alto de uma escadaria, vê-se a silhueta de outras mulheres, com vestidos longos em cor azul.
O ato da coroação do imperador dom Pedro segundo, pintura de , 1842.

IMAGEM 2

Pintura. Vista de ambiente fechado, no interior de um palácio amplo e suntuoso. À direita, no alto de uma escadaria, o imperador dom Pedro Segundo coroado, em pé, erguendo o cetro. Atrás dele o trono, sobre o qual se vê uma cortina verde com detalhes em dourado. Abaixo dele, um homem vestido com uma batina branca e dourada, com um chapéu comprido na vertical sobre a cabeça, está com os braços abertos e observa o Imperador. Mais abaixo, muitas aglomeradas, entre ela um grupo de clérigos, com roupas semelhantes à do homem que está próximo do Imperador. Um dos homens da Igreja segura uma cruz dourada que se ergue acima de todos. Algumas crianças acompanham os homens da Igreja que são direcionados para o altar onde se encontra o Imperador. No centro, uma pequena mesa aos pés da escadaria, onde repousa o texto constitucional. À direita, um grupo de políticos reunidos. Ao fundo e ao longo do vasto salão, há uma multidão de pessoas.
A sagração de dom Pedro segundo, pintura de Manuel de Araújo Porto-Alegre, cêrca de 1840.

“Em Ato da coroação [do imperador dom Pedro segundo, de françuá renê morrô], aparecem diversos personagens que também foram pintados por Porto-Alegre: além do jovem monarca, lá estão as princesas, o bispo primazglossário , o rei de armas, ministros e dignitários do Império, entre outros. O quadro de Morrô mostra o altar da Capela Imperial, onde os personagens se apertam: no centro estão dona Pedro e dona Romualdo. Formando um semicírculo em volta deles, há um pequeno grupo de notabilidadesglossário . Atrás do plano principal, vê-se a tribuna onde estão as princesas com suas damas de companhia. reticências.

reticências os efeitos buscados por Morrô são outros. reticências ele não busca a grandiosidade, o espetáculo. Mostra uma cerimônia íntima, quase caseira. A pompa fica reduzida a alguns detalhes das roupas dos personagens. reticências

Morrô escolheu representar a cerimônia religiosa. dona Pedro segundo e o bispo ocupam o centro da tela, para onde convergemglossário todos os olhares – dos personagens representados, e também o do espectador. Com esse recurso bastante direto, a mensagem de sua obra é clara reticências. Seu mérito viria de sua capacidade de bem representar ‘o mais solene de todos os atos religiosos, a consagração divina, na pessoa do monarca, de uma entidade humana coletiva de uma nação’.

Já o episódio escolhido por Porto-Alegre é o que se seguiu à cerimônia religiosa. Tal como na representação de Morrô, o bispo primaz também está lá – mas ocupa um lugar um pouco abaixo de dona Pedro. O cenário é pagão: a igreja é substituída por um templo suntuoso. Na massa de personagens reticências o artista dispõe vários representantes da côrte. reticências Reunindo numa só imagem bispos, côrte e políticos, o artista evoca a sociedade como um todo. O corpo político da nação é simbolizado por todos os seus cidadãos. Nesse sentido, um detalhe é muito significativo de como o artista compreende o regime. Na pequena mesa colocada ao lado da escada, estão a Constituição – confeccionada num enorme pergaminho especialmente para a cerimônia – e o missalglossário . reticências A lei sagrada e a lei instituída pelos homens balizamglossário o poder do monarca. A sagração divina tem de ser referendadaglossário pelo pacto com os cidadãos.

Ao optar pelo quadro de Morrô, dona Pedro segundo fazia mais do que uma opção puramente estética. Vale lembrar, a propósito, que o quadro selecionado ocuparia um lugar de destaque: a sala do trono. Tratava-se, assim, de escolher o que seria a definição visual do fato da coroação, a imagem que, em princípio, sintetizaria o teor da monarquia brasileira para todos os visitantes do paço. reticências

isquéf, L. Esquecida no fundo de um armário: a triste história da Coroação de dona Pedro segundo. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, volume 39, página 118-121, 2007.

Responda no caderno.

  1. Descreva o modo como as cerimônias de coroação e de consagração de dom Pedro segundo foram representadas nas pinturas.
  2. Explique a visão da política imperial que é construída em cada um dos quadros. Justifique sua resposta com elementos das imagens e do texto.
  3. O quadro de Morrô foi escolhido por dom Pedro segundo para representar visualmente sua coroação. Em sua opinião, qual foi a motivação dele para essa escolha? Por quê?

Uma nação imaginada: história, literatura e identidade nacional

Após a coroação de dom Pedro segundo, o governo imperial iniciou o projeto de construção de uma identidade nacional e de uma cultura comum à nação brasileira. Para isso, aumentou o investimento em instituições que se dedicaram à escrita da história oficial do país.

Uma dessas instituições foi o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (í agá gê bê), que havia sido inaugurado em 1838. Em muitas obras publicadas pelo í agá gê bê, a natureza do país era celebrada, representando o vigor e o desenvolvimento da nação e tentando despertar um sentimento patriótico na população.

Nesse projeto de nação, planejado e concebido por intelectuais contratados ou financiados pelo Estado, o indígena foi idealizado e transformado em símbolo nacional. A ideia de que havia uma história, uma paisagem, um povo e uma cultura genuinamente brasileiros foi desenvolvida por pintores e escritores românticosglossário . Eles valorizavam em suas obras os aspectos que acreditavam diferenciar o Brasil dos outros países.

Em 1856, o escritor Gonçalves de Magalhães publicou o poema épico A Confederação dos Tamoios, inaugurando a corrente literária romântica denominada Indianismo. Nos poemas e romances indianistas, as narrativas eram repletas de atos de bravura e gestos de sacrifício nos quais o indígena era representado como exemplo a ser seguido pela nação. O escritor José de Alencar ampliou essa idealização nas obras O Guarani, publicada em 1857, e Iracema, lançada em 1865. Nesses livros, Alencar representou uma nação formada pela união harmônica de portugueses e indígenas, contribuindo para criar um mito de origem para o Brasil.

No fim da década de 1870, a temática indigenista também foi divulgada pela Academia Imperial de Belas Artes. Os artistas ligados a esse instituto representavam o indígena como um bom selvagem tropical. Baseavam-se, para isso, na ideia de que os indígenas seriam puros porque ainda não haveriam sido corrompidos pela sociedade. Os elementos da cultura africana e a existência da escravidão foram ignorados nessas obras e no discurso oficial do império.

Pintura. Vista para uma praia com destaque para a areia branca, o mar e, em primeiro plano, uma mulher indígena seminua está em pé, com a mão segurando o ornamento de um colar em seu pescoço, enquanto ela nota uma flecha cravada na areia. Há um ramo de folhas enrolado na flecha. A mulher possui cabelos pretos compridos. Há vegetação abundante ao redor, do lado direito da imagem. Do lado esquerdo, o mar calmo. Ao fundo, alguns rochedos iluminados pelo sol e árvores. No alto, céu com algumas aves voando.
Iracema, pintura de José Maria de Medeiros, 1884.
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Imagens em contexto!

No livro Iracema, de José de Alencar, o casal central – Martim e Iracema – simboliza os primeiros habitantes do país, em um passado transformado em mito. Na concepção do autor, da união dos dois – um branco de origem portuguesa e uma indígena Tabajara – resultaria o tipo comum dos brasileiros. No romance, foram destacadas as noções de sacrifício, virtude e passividade. No quadro de José Maria de Medeiros, a personagem Iracema foi representada segundo os padrões românticos.

Conservadores e liberais: conflitos políticos no Segundo Reinado

No Segundo Reinado, o voto censitário e masculino continuou a fazer parte da realidade política do império. No plano ministerial, dois partidos disputavam o poder: o Liberal e o Conservador. Não havia diferenças profundas no programa político dos dois partidos. Em linhas gerais, os liberais defendiam a descentralização política e eram ligados aos proprietários rurais; já os conservadores defendiam a centralização político-administrativa e estavam mais afinados aos interesses dos grandes comerciantes e dos banqueiros. No entanto, liberais e conservadores tinham a mesma origem social: formação educacional na cidade de Coimbra, em Portugal, ou similar, com carreira nas áreas da medicina e, principalmente, do direito. Apesar das pequenas diferenças políticas, concordavam na manutenção da escravidão e da estrutura social vigente.

Na luta política, os dois partidos utilizavam métodos semelhantes: a violência e a distribuição de favores aos apadrinhados. Entre 1840 e 1841, os liberais ocuparam os principais cargos políticos do império, sendo substituídos pelos conservadores entre 1841 e 1844. De 1844 a 1848, os liberais retornaram ao poder, sendo substituídos mais uma vez pelos conservadores, entre 1848 e 1853. Essa alternância marcou boa parte da política imperial na segunda metade do século dezenove.

Para muitos observadores, liberais e conservadores eram tão parecidos que quase não dava para perceber seu revezamento no poder. No conto “Teoria do medalhão”, publicado em 1882, na obra Papéis avulsos, o escritor Machado de Assis se refere a essa questão quando imagina os conselhos que um pai daria ao filho sobre o universo da política: “Podes pertencer a qualquer partido, liberal ou conservador, republicano ou ultramontano, com a cláusula única de não ligar nenhuma ideia especial a esses vocábulos...”.

Charge em preto e branco. Imagem de um carrossel, em que o Imperador Dom Pedro Segundo é representado como a estrutura central do brinquedo. Os braços do Imperador servem de suporte para dois cavalinhos, sobre os quais estão sentados um homem e uma mulher. O homem veste um fraque preto e a mulher usa um vestido longo e esvoaçante de cor clara. Ela segura uma espécie de vareta em uma das mãos. Há uma alavanca presa no corpo do Imperador, que serve para girar o carrossel. Essa alavanca é movimentada por uma senhora envelhecida, que usa um vestido longo e chapéu.
Carrossel partidário: o rei se diverte, charge de Cândido Faria publicada no jornal O Mequetrefe, em 9 de janeiro de 1878.
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Na charge, dom Pedro segundo é representado como mediador dos conflitos políticos no Segundo Reinado. Ele conduz o carrossel partidário que leva, do lado esquerdo, o cavaleiro do partido conservador e, do lado direito, a mulher que representa o partido liberal. A personagem no centro, intitulada Diplomacia, faz girar os cavalos. Na imagem, o imperador aparece como um homem acima das lutas políticas e partidárias, preocupado apenas com o bem-estar da nação. Em 1847, o imperador passou a indicar um presidente para o Conselho de Ministros, em um regime inspirado no modelo parlamentarista britânico que adquiriu características próprias aqui: os integrantes do Conselho de Ministros eram encarregados do Poder Executivo, mas controlados por dom Pedro segundo, que detinha o Poder Moderador.

A Revolução Praieira

A situação política no Segundo Reinado não foi ordeira nem pacífica. No Nordeste, o clima de disputa política resultou em confrontos significativos. Em Pernambuco, por exemplo, os integrantes mais radicais do Partido Liberal fundaram, em 1842, o Partido Nacional Pernambucano. As reivindicações do grupo circulavam em jornais da província, como O Diário Novo, localizado na Rua da Praia, motivo pelo qual o grupo ficou conhecido como praieiro.

Nos primeiros anos da década de 1840, os praieiros, insatisfeitos com a política conservadora local, promoveram uma série de agitações, encontrando apoio nas camadas mais pobres da população. O estopim da revolta liberal foi o afastamento do líder praieiro Antônio Pinto Chichorro da Gama da presidência da província, cargo que ocupava desde 1845. Em seu lugar, foi nomeado o político conservador mineiro Herculano Ferreira Pena. Com os conservadores no principal cargo político da região, os liberais mais exaltados foram gradativamente destituídos dos postos da administração. Essa era a fagulha que faltava para o início de um enfrentamento armado entre as duas facções.

Os praieiros propuseram uma série de medidas políticas inovadoras, como a abolição da escravidão, o voto universal, a liberdade de imprensa e a implantação do regime republicano. Os integrantes do movimento dominaram Recife por um breve período.

Em 1849, viram-se isolados por falta de apoio dos liberais do restante do país. Além disso, os principais líderes do movimento foram condenados à prisão perpétua. Mesmo assim, no interior, com o apoio dos sertanejos, os revoltosos conseguiram resistir até 1850. Eles foram liderados pelo capitão Pedro Ivo Veloso da Silveira, preso posteriormente pelas tropas legalistas.

Encerrou-se, assim, a primeira década do Segundo Reinado e, com ela, as grandes agitações políticas. A década seguinte seria de estabilidade e de desenvolvimento econômico em razão do lucro obtido, principalmente, com a exportação do café.

Gravura. Vista de local aberto com chão de terra clara rodeado por construções de dois e três andares e uma igreja com duas torres. Na área aberta, há pessoas passeando, uma charrete puxada por dois cavalos, algumas pessoas andando a cavalo, dois cachorros e um grande chafariz no canto direito da imagem.
Praça da Boa Vista, gravura de Frans Ráinríchi Cais com base em desenho de Luis chilaprís, cêrca de 1863-1865. A imagem representa parte do centro do Recife no século dezenove. Foi na capital pernambucana que a Revolução Praieira teve início.

Economia e sociedade: o Brasil do café

O cafeeiro é uma planta de origem africana e foi introduzido no Brasil no século dezoito, na região correspondente à ocupada hoje pelos estados do Pará e do Maranhão. Apesar de sua aclimataçãoglossário ter sido bem-sucedida naquela região, foi nas províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais que o café se transformou no principal produto brasileiro de exportação.

Ilustração. Desenho de um ramo de café: planta de caule fino, folhas verdes, pequenos frutos vermelhos redondos e algumas flores brancas.
Representação da planta cofêa arábica, uma das principais espécies de café, em ilustração produzida no século vinte.

Primeira fase da expansão cafeeira

Historiadores dividem a expansão do café em três fases. Na primeira, no início do século dezenove, a produção era feita no entorno da cidade do Rio de Janeiro, na região que hoje é conhecida como Baixada Fluminense e na área correspondente à do atual Parque Nacional da Tijuca. Desses lugares, as plantações de café avançaram em direção ao Vale do Paraíba fluminense (em municípios como Barra do Piraí, Barra Mansa e Vassouras) e paulista (em Areias, Bananal e Taubaté, entre outros), onde prevalecia a exploração do trabalho de pessoas escravizadas.

No início da segunda metade do século dezenove, a lavoura cafeeira entrou em declínio na região do Vale do Paraíba. Com isso, a produção de café foi deslocada para o centro-norte da província de São Paulo (que ficava a oeste do Vale do Paraíba e, por isso, foi chamada Velho Oeste Paulista) e para a Zona da Mata mineira, dando início à segunda fase da expansão cafeeira.

Fotografia. Vista de uma área de floresta sobre morros no lado esquerdo. No lado direito da imagem, em primeiro plano, uma parede de rocha. Ao fundo, área urbanizada sobre morros e e litoral recortado, com muitas construções perto das praias. No alto, céu azul com poucas nuvens.
Vista aérea do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). Foto de 2021.
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Durante o século dezenove, a exploração da lavoura cafeeira na encosta da Floresta da Tijuca coincidiu com a expansão da cidade do Rio de Janeiro e com uma crise no fornecimento de água. As nascentes que abasteciam a cidade encontravam-se nas proximidades do Maciço da Tijuca. Com o desflorestamento provocado pela lavoura do café, as águas diminuíram significativa- mente. Para amenizar o problema, em 1861, teve início o reflorestamento dessa área, com o plantio de milhares de mudas de espécies nativas. Essa foi a primeira experiência de recuperação de uma área florestal em larga escala no Brasil.

Segunda e terceira fases da expansão cafeeira

Na segunda fase da expansão cafeeira, outras técnicas agrícolas foram implementadas, com a utilização de máquinas para secar, ensacar e beneficiar o grão, aumentando a produtividade. Além disso, no Velho Oeste Paulista, as condições eram mais favoráveis ao plantio por causa da fertilidade da chamada terra roxa – resultado da decomposição de rochas basálticas por milhões de anos – e do relevo pouco acidentado. No final da década de 1850, a região já havia exportado mais de 1 milhão de arrobasglossário de café.

O esgotamento das terras destinadas aos cafezais empurrou a fronteira de exploração cada vez mais para o oeste, contribuindo para a devastação das matas e deslocando a população indígena e os posseiros que viviam nessas regiões cada vez mais para o interior do país.

Na terceira fase da expansão, o café foi plantado na região que ficou conhecida como Novo Oeste Paulista, expandindo-se, ainda, para áreas correspondentes às dos atuais estados do Espírito Santo, do Paraná e de Mato Grosso do Sul.

A expansão das ferrovias

O desenvolvimento das ferrovias foi fundamental para a expansão do café. Essa atividade agrícola, por sua vez, contribuiu para a ampliação das ferrovias. Foram construídas estradas de ferro até o porto de Santos, de onde o café era levado para a Europa e os Estados Unidos. A construção das ferrovias, financiada por banqueiros britânicos na maior parte das vezes, causou muitos impactos ambientais, como o desmatamento das áreas nas quais foram instaladas as linhas férreas e a extração de madeira para construir dormentesglossário e servir de combustível para as locomotivas.

A expansão cafeeira – séculos dezenove-vinte

Mapa. A expansão cafeeira, séculos 19 e 20 Mapa representando a direção da expansão do café nos atuais estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais e as três fases dessa expansão. Primeira fase, em laranja-escuro: Vale do Paraíba fluminense e paulista (primeira metade do século 19): o café ocupa a porção sul de Minas Gerais, toda a porção oeste e sudoeste do Rio de Janeiro e nordeste de São Paulo, com destaque para os municípios de Rio de Janeiro, Vassouras, Resende, Valença, Taubaté e São Sebastião. Segunda fase, em laranja-claro: Centro-norte de São Paulo, Velho Oeste e Zona da Mata Mineira (da segunda metade do século 19 a 1930). A produção se expandiu mais para o oeste paulista e o interior de Minas Gerais e ocupou todo o norte do Rio de Janeiro e o sul do Espírito Santo, chegando aos municípios de São Paulo, Sorocaba, Jundiaí, Limeira, Ribeirão Preto, Pouso Alegre, Juiz de Fora, Muriaé, Cachoeiro de Itapemirim e Vitória. Terceira fase, em amarelo: Novo Oeste Paulista, século 20. O café se expandiu na direção oeste e noroeste do estado de São Paulo, estando presente nos municípios de São José do Rio Preto, Jales, Araçatuba, São Carlos, Bauru, Ourinhos, Avaré, Assis e Presidente Prudente. No canto inferior direito,  rosa dos ventos e escala de 0 a 110 quilômetros.
 

FONTE: RODRIGUES, J. A. Atlas para estudos sociais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1977. página 26.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Com base na representação da expansão das lavouras cafeeiras no Brasil nos séculos XIX e XX, responda: qual foi a relação entre esse processo e a exploração e o esgotamento dos recursos naturais das regiões produtoras de café?

Café e urbanização

A expansão da atividade cafeeira alterou profundamente a vida da população do sudeste brasileiro na segunda metade do século dezenove e no início do século vinte. Com acesso facilitado pelas ferrovias, os centros urbanos se transformaram em lugares ainda mais estratégicos para a exportação da produção agrícola. Muitos aristocratas rurais viviam nas cidades; outros moravam no campo, mas mantinham luxuosas habitações urbanas.

Fotografia em preto e branco. Vista para uma paisagem de serra, com foco em uma ferrovia que se estende ao longo da imagem, no centro. Em primeiro plano, diversas pessoas estão em pé sobre os trilhos observando o fotógrafo. Dos lados direito e esquerdo, paredes de pedras e algumas construções. Ao fundo, trilho suspenso por uma ponte e encosta do morro atrás.
Construção da estrada de ferro entre as cidades de Santos e São Paulo. Foto de cêrca de 1880.
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As estradas de ferro construídas pela companhia São Paulo rêil uêi, inaugurada em 1867, ligavam a cidade de Jundiaí a Santos, passando por São Paulo.

Essa mudança foi acompanhada pelo aumento da urbanização e do número de habitantes nas cidades. A capital paulista, por exemplo, atraiu grande quantidade de pessoas em busca de empregos no ramo da exportação do café e no setor de serviços. Foram realizadas melhorias na cidade, como a instalação da iluminação pública a gás, a abertura e o calçamento de ruas e a construção de edifícios e habitações, atendendo aos desejos da aristocracia. Essas melhorias, porém, foram feitas apenas em parte da cidade, e o aumento da população intensificou problemas como a falta de saneamento básico e a violência urbana.

Junto às transformações urbanas, novos hábitos de consumo e lazer ficaram em evidência: lojas de modistas franceses, floristas, joalheiros, cabeleireiros, charuteiros e até sorveteiros começaram a funcionar. Passeios à tarde, encontros em cafeterias elegantes, bailes e serõesglossário passaram a fazer parte da rotina da elite brasileira, que pretendia viver como nos bulevaresglossário europeus, enquanto discriminava e marginalizava grande parte da população negra e pobre de suas cidades.

Outro fenômeno importante nessa lógica urbana foi o papel desempenhado pelas publicações feitas por ou para mulheres. Excluídas do direito ao voto, elas conquistaram na escrita um meio importante de construção e divulgação de ideias. Nas numerosas revistas femininas criadas no período, publicavam-se textos a favor da ampliação dos direitos das mulheres, contribuindo para solidificar as reivindicações feministas no Brasil.

Dica

SITE

Instituto Moreira Salles – Coleção márc ferrês

Disponível em: https://oeds.link/X2vgO1. Acesso em: 14 março 2022.

Nesse site, é possível acessar parte do acervo de um dos principais fotógrafos do século dezenove, , que registrou o trabalho nas lavouras de café e o processo de modernização do Brasil.

A proibição do tráfico de escravizados

Enquanto as lavouras de café, dependentes do trabalho de escravizados, expandiam-se pelo Vale do Paraíba, o debate sobre o fim do tráfico de escravizados ganhava fôrça no país.

Formalmente, desde 1831, o tráfico atlântico era legalmente proibido nos portos brasileiros. A lei que impôs a proibição deveu-se a um acordo estabelecido entre o Brasil e o Reino Unido durante o processo de reconhecimento da independência do país.

Segundo essa lei, as pessoas escravizadas trazidas de fóra do império eram consideradas livres. Os escravistas e traficantes envolvidos no comércio e no transporte dessas pessoas, por sua vez, estavam sujeitos a penas criminais. Na prática, contudo, africanos continuaram a ser compulsoriamente contrabandeados para o Brasil na condição de escravizados.

Para obrigar o Brasil a cumprir o acordo, o Reino Unido aprovou, em 1845, o Bill Aberdeen, lei que autorizava os britânicos a apreender navios brasileiros envolvidos no tráfico. De acordo com essa lei, os tribunais britânicos podiam julgar os traficantes de escravizados, intensificando a fiscalização. Ocorreram, então, tensões entre o Reino Unido e o Brasil, que só abrandaram em 1850, quando o império de fato extinguiu o tráfico de escravizados por meio da Lei Eusébio de Queirós.

Escravizados: preço médio no Oeste Paulista – 1843-1887

Período

Preço em mil-réis

1843-1847

550$000

1848-1852

649$500

1853-1857

1:177$500

1858-1862

1:840$000

1863-1867

1:817$000

1868-1872

1:792$500

1873-1877

2:076$862

1878-1882

2:882$912

1883-1887

1:882$912

FONTE: MARTINS, J. de S. O cativeiro da terra. São Paulo: Ucitéc, 1990. página27.

O efeito mais imediato da Lei Eusébio de Queirós foi a redução da entrada de escravizados no país. Isso contribuiu para o aumento do preço desse tipo de mão de obra e para o estímulo à vinda de imigrantes europeus.

Fotografia em preto e branco. Vista para um terreno com chão de pedra onde homens, mulheres e crianças negros trabalham espalhando os grãos de café. Eles usam pás largas de cabo comprido. Algumas crianças negras estão sentadas no chão. À direita do grupo que trabalha, uma criança branca está sentada sobre um brinquedo de rodas com um formato de um cavalinho. Ao lado dela, uma jovem negra grávida está de pé. No segundo plano da imagem, uma casa de dois andares e, ao fundo, morros cobertos por vegetação rasteira.
Escravizados trabalhando na secagem de café na Fazenda de Quititi, em Jacarepaguá (Rio de Janeiro). Foto de cêrca de 1865.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

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Após a colheita do café, os grãos eram selecionados, separados, limpos, secos, descascados, despolpados, polidos e, finalmente, ensacados. Depois disso, eram transportados para os portos, de onde seguiam para os locais em que seriam comercializados. O trabalho de escravizados foi utilizado em todas essas etapas. Por isso, com a proibição do tráfico atlântico, intensificou-se o tráfico de escravizados entre províncias em direção à região cafeeira.

A Lei de Terras e a questão indígena

Poucos dias depois da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, em setembro de 1850, foi publicada a Lei de Terras. De acordo com essa lei, só teria acesso aos lotes públicos das chamadas terras devolutasglossário quem pudesse comprá-los. A medida dificultou o acesso à terra por parte dos libertos e dos pequenos agricultores e obrigou os imigrantes a trabalhar nas lavouras de café, dificultando a fixação em pequenas propriedades.

Mas de onde vinham tais terras? A Lei de Terras tornou públicas imensas parcelas do território ocupadas por indígenas de diferentes etnias. Essas terras foram consideradas “desocupadas”, ou seja, puderam ser compradas por particulares. Se o indígena do passado era idealizado e exaltado nas obras artísticas românticas, os indígenas vivos eram tratados como um problema para a unidade nacional e para aquilo que se considerava o “avanço civilizatório”.

Aos que se rebelassem, o Estado brasileiro respondia com guerras e repressão ou com os aldeamentos, recriados por meio de um decreto do imperador, assinado em 1845.

Com essas ações, o governo pretendia integrar os indígenas à nação como trabalhadores rurais, reunindo-os em aldeias chefiadas por religiosos, que deveriam catequizá-los. Os nativos, que desde o século dezoito haviam sido alvos de tentativas de imposição da língua portuguesa e da proibição de suas línguas maternas, passaram a ser deportados de suas terras tradicionais e confinados em aldeamentos conforme os interesses do império.

Os indígenas que viviam nos aldeamentos produziam alimentos e trabalhavam para o governo na construção de obras públicas e na abertura de estradas. Além disso, eram encorajados a casar-se com habitantes das vilas e povoados próximos. Tentava-se, com isso, apagar a identidade indígena.

Fotografia em preto e branco. Dois indígenas na frente de uma moradia. O chão é de terra e há alguns restos de planta amontoados. A moça está descalça, usa saia longa e blusa larga de cor escura. Ela segura um facão na mão direita e carrega um cesto nas costas pendurado por uma fita encaixada na cabeça. O homem está de camisa de manga longa e calça comprida e está descalço. Ele segura uma flecha e um arco compridos. Ao fundo, vista parcial da moradia, feita de troncos com o telhado de folhas.
Indígenas Miranha às margens do Rio Japurá, no Alto Amazonas (Amazonas), cêrca de 1867-1868.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique os objetivos políticos do Partido Liberal ao defender a antecipação da maioridade de dom Pedro segundo.
  2. Qual era a relação entre o í agá gê bê e a criação de uma identidade nacional brasileira?
  3. Como a Lei de Terras de 1850 dificultou o acesso à terra aos ex-escravizados e aos imigrantes?

O início da imigração europeia: assimilação, confrontos e desencontros

Como você estudou, depois que a Lei Eusébio de Queirós entrou em vigor, houve uma crescente falta de trabalhadores nas fazendas de café. Os fazendeiros tentaram suprir essa carência com a compra de escravizados no norte e no nordeste, o que não foi suficiente. Com isso, aumentou a procura por imigrantes europeus, que chegaram em peso ao país: aproximadamente 800 mil entre 1850 e 1889. Parte deles se dirigiu para o sul do Brasil, onde o trabalho de imigrantes já era usado desde o início do século.

A imigração para o sul do país

Os primeiros europeus que chegaram ao Brasil para trabalhar nas lavouras se fixaram em Nova Friburgo, na província do Rio de Janeiro, em 1819, e em São Leopoldo, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em 1824. Em São Pedro do Rio Grande do Sul, concederam-se lotes de terra a agricultores imigrantes, principalmente alemães e italianos.

Os primeiros alemães chegaram no início do século, seguidos, na década de 1870, por uma leva considerável de italianos. O governo estimulava a imigração para ocupar áreas supostamente desabitadas na fronteira com os países da bacia do Rio da Prata (Argentina e Uruguai), constantemente ameaçadas por disputas territoriais.

Apesar desse discurso oficial, a fronteira sul do país era densamente habitada por indígenas Caingângue, naquela época chamados Coroados, e as terras historicamente ocupadas por eles foram vendidas ou cedidas aos imigrantes europeus.

Por causa disso, houve uma série de enfrentamentos entre os indígenas resistentes ao processo de ocupação de suas terras e os colonos. Também havia líderes envolvidos ativamente em negociações diretas com os chefes das províncias.

Encontros, desencontros e conflitos fizeram parte do processo de ocupação territorial do sul do Brasil. Por isso, a ideia de que a vinda de imigrantes para o país foi um esforço heroico e civilizador em uma terra vazia deve ser contestada.

Fotografia. Vista da sala de um museu. Dentro de uma vitrine, alguns vasos de cerâmica de formato circular estão em exposição. Alguns estão sobre uma bancada e os maiores sobre folhas no chão. Ao fundo, alguns cartazes que fazem parte da exposição.
Cerâmica Caingângue no acervo do Museu Paranaense, em Curitiba (Paraná). Foto de 2005.
Fotografia. Em um local ao ar livre, com chão asfaltado, um grupo de  indígenas executa uma dança circular na frente de uma construção  de formato semicircular. Os homens usam bermuda e cocar. As mulheres usam bermuda, saia de palha, top e possuem cabelos pretos e compridos. Muitos estão de chinelo. Eles são vistos de costas.
Indígenas da etnia Caingângue durante apresentação na Concha Acústica em Londrina (). Foto de 2021.
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Originalmente as terras tradicionais dos Caingângue estendiam-se entre os rios Tietê, no atual estado de São Paulo, e Ijuí, no Rio Grande do Sul. Segundo o í bê gê É, hoje a população Caingângue é de cêrca de 40 mil pessoas.

A imigração para o sudeste

A maioria dos imigrantes europeus que chegaram ao sudeste substituiu a mão de obra escravizada na cafeicultura. No início, foi criado um sistema de parcerias em que os colonos recebiam pequenos lotes de terra para cultivar, mas não obtinham a propriedade deles.

Em um primeiro momento, esse sistema deu certo, mas causou o endividamento dos colonos, que precisavam arcar com as despesas da viagem e as dívidas contraídas ao realizar compras nos armazéns, além de entregar parte da produção como pagamento pelo uso da terra. Na prática, os imigrantes trabalhavam apenas para pagar suas dívidas. Além disso, restrições de circulação e de culto religioso motivaram diversas revoltas.

A partir da década de 1870, o governo brasileiro implantou uma política imigratória. A propaganda brasileira anunciava para os europeus a existência de uma terra próspera, onde eles poderiam enriquecer. Isso surtiu efeito principalmente na Itália e na Alemanha, países nos quais boa parte da população passava por dificuldades em razão das guerras ocorridas durante os processos de unificação nacional.

Cartaz em preto e branco. Na parte superior, o título, em língua italiana. Abaixo do título, a ilustração de um grande navio.
Cartaz com o título “Na América: terras no Brasil para os italianos”, usado para incentivar a imigração de italianos para o Brasil no século dezenove.
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Nos cartazes usados para incentivar a vinda de europeus ao Brasil, prometia-se uma vida próspera, situação diferente da encontrada pelos imigrantes que chegavam ao país.

No comêço da década de 1880, com o aumento das pressões pelo fim da escravidão e a dificuldade de atrair trabalhadores, foi instalado o colonato. Nesse sistema, os gastos com transporte e outras despesas eram custeadosglossário , sem que isso se tornasse uma dívida para o colono e sua família. Além disso, o sistema de remuneração era misto, composto de uma parte dos ganhos com a venda do café (como na parceria) e de um salário fixo anual pago pelo contratante. Os imigrantes também ficavam livres para produzir parte dos alimentos que consumiam e vender o excedente.

Além de alemães e italianos, portugueses, espanhóis, suíços e pessoas de outras nacionalidades chegaram ao Brasil em busca de melhores condições de vida. No entanto, muitos se decepcionaram com o trabalho e os ganhos. Informações sobre fugas noturnas de famílias inteiras em busca de melhores oportunidades, prisões arbitrárias e expulsão de estrangeiros do Brasil indicam que, em muitos casos, a integração dos imigrantes não foi pacífica.

Fotografia em preto e branco. Vista para um grande grupo de pessoas posando para o fotógrafo. São homens, mulheres e crianças. Eles estão reunidos à frente de um edifício, do qual se vê apenas as paredes de tijolos e algumas colunas de ferro. As mulheres usam camisa de manga comprida, saia longa e algumas usam lenço sobre a cabeça. Os homens usam camisa e calça comprida. Há muitas crianças.
Imigrantes europeus na Hospedaria dos Imigrantes, inaugurada em 1887, em São Paulo (São Paulo). Foto do século dezenove.

As teorias raciais e as políticas de branqueamento

Além dos aspectos econômicos ligados à utilização da mão de obra imigrante, havia outro motivo para o governo promover a vinda de europeus ao país: o racismo.

Com base nas teorias raciais, amplamente divulgadas na Europa no século dezenove, afirmava-se que supostas diferenças raciais estavam relacionadas ao progresso e à civilização de um povo. De acordo com essa mentalidade racista, os brancos europeus eram considerados mais evoluídos, enquanto os negros africanos eram vistos como inferiores.

Nesse contexto, as teorias racistas criadas por cientistas europeus eram utilizadas para justificar as desigualdades sociais da época e incentivar a imigração de europeus para o Brasil. No discurso oficial divulgado nos grandes jornais, procurava-se transmitir a ideia de que o imigrante europeu era o trabalhador ideal, ordeiro e civilizado.

Sabe-se, no entanto, que nos anos seguintes, principalmente nas últimas décadas do século dezenove e nas primeiras décadas do século vinte, após a proclamação da república, essa imagem começou a se desgastar. Isso porque a experiência mostrou, ao longo dos anos, que a assimilação dos estrangeiros não era tão simples quanto pregavam os propagandistas da imigração. Esse processo coincidiu com o fim da escravidão e o crescimento do movimento abolicionista no Brasil.

Fotografia. Vista para um amplo salão com piso de madeira e muitas camas beliche de ferro preto agrupadas. As camas estão forradas com lençóis brancos e possuem travesseiros brancos.
Sala de exposição do Museu da Imigração, em São Paulo (São Paulo), com réplica das acomodações do local destinadas aos imigrantes recebidos na hospedaria. Foto de 2020.
Fotografia. Paisagem ao ar livre com destaque para a fachada de um edifício horizontal com entradas em arco e muitas janelas. Em primeiro plano, um jardim com grama baixa,  arbustos e uma pequena estátua. No alto, céu azul com poucas nuvens.
Fachada do Museu da Imigração, em São Paulo (ésse pê). Foto de 2021.
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O prédio onde hoje funciona o Museu da Imigração de São Paulo foi um dos maiores centros de recepção aos imigrantes que chegavam ao Brasil: a Hospedaria dos Imigrantes. Os imigrantes recém-chegados eram recebidos no local, faziam exames médicos e, depois, eram encaminhados para postos de trabalho, principalmente, nas fazendas de café. Eles embarcavam no trem em uma estação ligada à hospedaria e seguiam até o destino pela ferrovia que ligava Santos a Jundiaí.

A Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai foi um conflito de grandes proporções que se estendeu de 1864 até 1870. O motivo dos confrontos foram disputas na região das fronteiras da bacia do Rio da Prata, formada pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, envolvendo países como Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

No início, dom Pedro segundo, seus ministros e generais acreditavam que a guerra seria breve e fácil, mas eles se enganaram. Muitos brasileiros morreram no conflito, que durou mais de cinco anos. Além disso, os gastos com o confronto alcançaram mais de 600 mil contos de réis, o que correspondia a aproximadamente onze vezes o orçamento previsto para 1864. A guerra foi importante na afirmação política regional do Estado brasileiro, mas também contribuiu muito para o fim da monarquia no país.

O conflito

Na segunda metade do século dezenove, o presidente do Paraguai, Francisco Solano lópes, buscava garantir a autossuficiência industrial do país. Para isso, ele pretendia aumentar os lucros nacionais com exportações para os países platinos e o Brasil.

Como o país não tinha acesso direto ao mar, os produtos paraguaios eram transportados pela bacia do Rio da Prata, através do porto de Montevidéu. Essa rota de comércio, porém, havia sido fechada por Venancio Flores, presidente do Uruguai. O líder uruguaio chegou ao poder graças à interferência brasileira na região, o que deu origem a uma série de incidentes.

Por causa dessa interferência, em 1864 Solano lópes ordenou a apreensão de um navio brasileiro que navegava pelo Rio Paraguai. Esse incidente prejudicou a relação entre os dois países, e o Brasil rompeu relações diplomáticas com o Paraguai. Solano lópes, então, ordenou a invasão do território brasileiro.

Pintura. Vista para uma paisagem com morros baixos onde centenas de pessoas participam de uma batalha. No primeiro plano, cavalos em cores branca e marrom, com homens montados e dezenas de pessoas lutando. A maioria usa blusa de mangas compridas, calça e botas. Alguns estão sobre o chão desfalecidos, outros empunham lanças e espadas e alguns seguram bandeiras vermelhas. Ao centro e ao fundo, centenas de outros soldados. Na ponta esquerda, cavalos próximos um do outro, em vermelho, branco e marrom e com homens montados. Ao fundo, muita fumaça provocada por explosões e queimadas. No alto, céu cinza-escuro e nuvens grossas em cinza-claro.
Batalha do Avaí, pintura de Pedro Américo, 1872-1877.
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A área correspondente à do atual Mato Grosso do Sul foi invadida antes mesmo de uma declaração formal de guerra por parte do Paraguai. Esse conflito foi representado no quadro de Pedro Américo. Com expressividade emocional marcante, os personagens da pintura parecem envolver o observador na batalha. Enquanto os paraguaios foram representados descalços e maltrapilhos, os integrantes do exército brasileiro aparecem vestidos com alinhadas fardas.

A Tríplice Aliança

Em 1865, as fôrças de Solano lópes declararam guerra à Argentina, pois o país manteve uma posição neutra diante do conflito com o Brasil e não permitiu a passagem do exército paraguaio por seu território. Com o inimigo em comum, Brasil, Argentina e Uruguai assinaram um acordo militar formal conhecido como Tríplice Aliança. Isolado, o Paraguai teve de enfrentar o contingente militar das três nações.

Apenas nos anos finais do conflito a Tríplice Aliança conseguiu romper a resistência paraguaia. Em 1869, as fôrças dos três países invadiram Assunção, capital do Paraguai. Solano lópes e seu exército – que segundo alguns historiadores era, naquele momento, quase totalmente formado por adolescentes e idosos – retiraram-se para o norte do país. Em 1º de março de 1870, Solano lópes foi morto pelos brasileiros na região de Cerro Corá, encerrando a guerra.

O saldo da guerra

A guerra envolveu cêrca de 140 mil soldados brasileiros. Estima-se que 50 mil deles morreram. A Argentina, por sua vez, per- deu aproximadamente 18 mil homens e o Uruguai, mais de 5 mil soldados. A pior situação, porém, foi a do Paraguai: estima-se que cêrca de 50% da população do país morreu na guerra, o que correspondia, na época, a aproximadamente 200 mil pessoas. Além do número impressionante de mortes, o país também perdeu grande parte dos territórios em disputa e teve a economia arrasada.

Para o Brasil, a vitória na guerra não significou o fortalecimento do Estado imperial. Se, por um lado, a monarquia consolidou seus objetivos territoriais com o reconhecimento de fronteiras e a livre navegação na região platina, por outro, teve de arcar com um alto custo.

O exército, fortalecido nos anos de guerra, passou a intervir de maneira cada vez mais direta nos rumos da política nacional. Além disso, muitos dos militares que combateram no conflito passaram a fazer parte dos movimentos abolicionista e republicano nos anos seguintes.

A partir de 1870, a imagem pública de dom Pedro segundo foi cada vez mais atacada e criticada pelos jornais e outros meios de divulgação. A Guerra do Paraguai marcou para sempre a história do império e foi um dos principais motivos da crise que assolou o período final da monarquia brasileira.

Pintura. Em um descampado seco e de terra, uma mulher solitária, cabisbaixa com as mãos juntas na frente do corpo. Ela veste uma saia longa bege e uma blusa branca larga, com a manga caída expondo o ombro esquerdo. Está descalça no chão de terra. Perto dela há uma arma de fogo com cano longo caída. Ao fundo, uma carroça quebrada, alguns corpos no chão e três urubus. No alto, céu claro.
A paraguaia, pintura de Ruán Manuel blánes, cêrca de 1879.
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O pintor uruguaio Ruán Manuel blánes ganhou popularidade com suas telas de temática histórica. Na obra A paraguaia, ele denunciou a destruição e a miséria que assolaram os paraguaios após o término da guerra.

O abolicionismo e o fim da escravidão no Brasil

A luta pela causa abolicionista ocorreu em diversos campos e por diferentes razões. Envolveu ações diretas, como a organização de fugas de escravizados e a formação de quilombos, além de debates parlamentares e da articulação pela imprensa escrita, pela literatura e pela ação de advogados que defendiam homens e mulheres escravizados em processos de libertação.

O debate sobre o fim da escravidão ganhou fôrça na segunda metade do século dezenove. Em 1865, com o fim da guerra civil nos Estados Unidos (que você estudou no capítulo 10), apenas Cuba e Brasil continuavam a utilizar mão de obra escravizada. Diante dessa situação, cada vez mais se questionava a continuidade dessa prática no país. Na mesma época, intelectuais das principais cidades brasileiras, influenciados por escritores abolicionistas estadunidenses e por liberais europeus, colocaram a questão da abolição na pauta dos principais debates políticos.

Fotografia em sépia. Vista para um ambiente ao ar livre, com vasto terreno de terra onde, em primeiro plano, homens e mulheres negros trabalham espalhando grãos de café, que estão organizados em pequenos montes pelo solo e carregando grandes cestos. As mulheres trabalhadoras vestem camisa de manga comprida e saias longas e possuem lenço na cabeça. Muitas carregam cestos de palha nas costas. Os homens vestem camisa de manga comprida e calças brancas e usam chapéus. Em segundo plano há uma casa com telhado de palha e, ao fundo, dois morros cobertos com vegetação.
Escravizados trabalhando em fazenda de café na região do Vale do Paraíba (érre jóta). Foto de 1882.

A disseminação das ideias abolicionistas estava relacionada também ao contexto da Guerra do Paraguai, pois, entre os quase 140 mil combatentes brasileiros, havia aproximadamente 8 mil libertos de guerra, ou seja, homens negros escravizados que conquistaram a liberdade por lutar no confronto. Durante a guerra, esses homens tornaram-se amigos de militares de diferentes origens, gerando neles simpatia pela causa da abolição.

Charge em preto e branco. Vista para um local ao ar livre com solo pedregoso e alguns arbustos. No primeiro plano, há um homem negro com trajes militares, com o corpo voltado para a direita, mão esquerda sobre a testa, em sinal de espanto com a cena que observa.  Em segundo plano, à direita, um homem negro usa um chicote para bater em uma mulher negra, que está amarrada a um tronco enterrado no solo. Um homem branco, visto de costas, observa a cena. Em terceiro plano, casas e morros.
De volta do Paraguai, charge de Angelo Agostini publicada na revista A Vida Fluminense, em 1870.
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A charge representa a tensão dos soldados negros que, ao retornar da Guerra do Paraguai libertos, deparavam-se com a violência da escravidão e tinham de conviver com a estrutura escravista ainda vigente.

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População negra livre e escravizada

Segundo o Censo de 1872, os negros e mestiços somavam cêrca de 58% da população do país. Além disso, em cada grupo de seis brasileiros, um era escravizado. A maioria da população negra e mestiça que era livre compunha uma camada de trabalhadores rurais e urbanos mal paga e presa a tarefas cansativas e desvalorizadas. Poucos atuavam em instituições de ensino, nas artes e na imprensa.

Para ocupar cargos públicos e posições de prestígio (como a de advogado e a de professor), homens letrados negros e mestiços utilizavam estratégias que dependiam de favores prestados pelos detentores do poder. Quando alcançavam prestígio, procuravam abrir espaço para profissionais negros e mestiços, criando uma espécie de rede horizontal.

Fotografia em preto e branco. Retrato de corpo inteiro de um homem negro de cabelo curto e bigode, que veste um fraque escuro, camisa social e gravata borboleta. Ele está em pé com uma mão no bolso e a outra apoiada sobre uma mesa lateral. Entre os dedos tem uma folha. Sobre a mesa há uma cartola.
Professor Hemeterio José dos Santos na cidade do Rio de Janeiro, em foto tirada entre o final do século dezenove e o início do século vinte.
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A educação formal foi parte importante da luta por reconhecimento e igualdade de homens e mulheres negros no Brasil no final do século . Alguns fundaram escolas dedicadas a meninos e meninas pretos e pardos, como foi o caso de Pretextato dos Santos e Silva; outros atuaram em escolas como o colégio Pedro segundo, caso de Hemeterio José dos Santos, que ingressou no corpo docente da instituição em 1878.

Fotografia em preto e branco. Retrato de rosto de perfil de um homem negro com cabelo curto, barba e bigodes grisalhos, usando um óculos de armação pequena.
Machado de Assis. Foto de 1904.
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As obras literárias de Machado de Assis são importantes contribuições para refletir sobre diferentes aspectos da sociedade brasileira durante o Segundo Reinado. A crítica do autor à escravidão esteve presente em várias crônicas, romances e contos, como “Pai contra mãe” (publicado no livro Relíquias da casa velha, em 1906) e “O caso da vara” (publicado pela primeira vez no jornal Gazeta de Notícias, em 1891).

A legislação emancipacionista

Além da questão da mão de obra, os escravizados eram considerados garantias para a concessão de empréstimos; por isso, o tema do fim da escravidão enfrentava a oposição de parte dos parlamentares brasileiros. Os políticos escravistas que representavam os cafeicultores do sudeste do país conseguiram adiar a abolição adotando leis reformistas.

Em 28 de setembro de 1871, foi aprovada a Lei do Ventre Livre, que garantiu a liberdade aos filhos de escravizadas nascidos a partir daquela data. De acordo com a lei, as crianças teriam de ficar sob responsabilidade dos senhores de suas mães até os 8 anos. Depois disso, haveria duas opções: os escravistas receberiam uma indenização de 600 mil réis ou se valeriam dos serviços do liberto até que ele completasse 21 anos, opção seguida pela maioria.

Mais tarde, em 1885, o governo brasileiro promulgou a Lei Saraiva-Cotegipe (Lei dos Sexagenários), que estabeleceu a alforria aos escravizados com mais de 60 anos. Após completar essa idade, o escravizado ainda deveria pagar uma indenização a seu senhor para obter a liberdade. Isso significava que teria de trabalhar mais três anos. Essa lei foi muito criticada, pois a expectativa média de vida dos escravizados era muito mais baixa do que isso.

Associações femininas e o movimento abolicionista

Na década de 1880, a participação de mulheres na luta pelo fim da escravidão foi fundamental. Muitas atuaram diretamente na libertação dos cativos. Outras trabalharam na coordenação de associações e na difusão do abolicionismo por meio da imprensa escrita. As senhoras abolicionistas, como eram chamadas, escreveram jornais, fundaram clubes e revistas, proferiram discursos, organizaram eventos e promoveram festas e quermesses a fim de angariar fundos para a compra de alforrias.

Existiram pelo menos 26 associações abolicionistas femininas no fim do século dezenove. Dezoito delas eram formadas só por mulheres. Espalhadas em diversas províncias, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, essas associações tinham caráter filantrópicoglossário e/ou apoiavam familiares abolicionistas. Em Pernambuco, destacaram-se nessa luta a modista e costureira Leonor Porto e a professora e poeta Maria Amélia de Queirós. Nos muitos debates que promoveram durante as décadas de 1870 e 1880, essas mulheres propuseram a criação de escolas para a educação dos ex-escravizados.

Ilustração em branco e preto. No centro, o rosto de uma mulher de cabelo preso, rosto arredondado e boca pequena. Ela usa um brinco com pingente. Ao redor do retrato há ornamentos com folhas, flores e fitas. Na parte superior, o título: SOCIEDADE ABOLICIONISTA. AVE LIBERTAS. Na parte inferior está escrito Pernambuco.
Capa de publicação comemorativa da sociedade abolicionista pernambucana Ave Libertas, 1885. Na imagem, o retrato ilustrado de Leonor Porto, presidente da Ave Libertas na época.
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Fundada na cidade de Recife, em 1884, a Ave Libertas foi uma sociedade abolicionista formada somente por mulheres. No estatuto da associação, destacava-se o objetivo de promover a libertação de escravizados por todos os meios legais possíveis. Na prática, a sociedade promoveu eventos, conferências e levantamento de fundos para a compra de cartas de alforria. Aproximadamente duzentos escravizados foram libertos com a ajuda dessa instituição.

Além do envolvimento com a causa abolicionista, Maria Amélia de Queirós defendeu o divórcio e criticou publicamente a chefia da família por homens, mesclando à luta pelo fim da escravidão os temas da invisibilidade e da condição das mulheres no Brasil do século dezenove.

Destacou-se também nessa luta a médica Maria Augusta Generoso Estrella, que estudou medicina em Nova iórque, nos Estados Unidos, pois as universidades no Brasil não aceitavam mulheres. Maria Augusta escrevia com a colega pernambucana Josefa Agueda o periódico A mulher, defendendo o direito das mulheres à educação.

Diferentes projetos de abolição

Além de Leonor Porto e de Maria Amélia de Queirós, entre os principais líderes abolicionistas do período destacaram-se Joaquim Nabuco, André Rebouças, José do Patrocínio e Luís Gama.

Joaquim Nabuco era filho de senador e descendente de uma família de senhores de engenho. Atuou como historiador, diplomata e advogado, insistindo na abolição pela via jurídica e dispensando qualquer tipo de mobilização popular. Na década de 1880, ele foi autor de um projeto de lei que previa o fim da escravidão no Brasil mediante a indenização dos antigos proprietários.

Já o engenheiro baiano André Rebouças, negro livre e com boa inserção na sociedade imperial, participou de diversas sociedades abolicionistas e acabou se tornando um dos principais articuladores do movimento no Brasil. Ele defendia o fim da escravidão e a implantação de um programa de distribuição de terras que incorporasse os ex-escravizados ao sistema produtivo. Embora Rebouças fosse contrário ao pagamento de indenizações para os escravistas, contou com o apoio de Joaquim Nabuco na criação desse programa de reforma agrária.

O jornalista fluminense José do Patrocínio, por sua vez, era redator do jornal Gazeta de Notícias. Ele utilizou a imprensa escrita como fórma de convencer a opinião pública a defender a abolição. Fundou, em 1880, com auxílio de Joaquim Nabuco, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Além disso, fez parte de ações de auxílio à fuga de escravizados e de obtenção de recursos para a compra de alforrias.

Dos abolicionistas citados, o poeta, jornalista e advogado baiano Luís Gama foi o que teve a trajetória mais excepcional. Ele era filho de Luiza Mahin, africana livre que participou de diversos levantes na província da Bahia. Aos 10 anos de idade, foi vendido ilegalmente como escravizado e trabalhou como sapateiro, costureiro e empregado doméstico. Com o auxílio de um estudante de direito, aprendeu a ler aos 17 anos, quando conquistou a liberdade.

Ao ser liberto, fixou-se em São Paulo, onde atuou como advogado autodidataglossário – na época, o profissional que exercia a advocacia sem formação acadêmica, mas com autorização do Poder Judiciário, como Gama, era chamado rábula. Ele foi responsável pela libertação de centenas de escravizados por meio de brechas legais criadas, principalmente, pela lei de 1831, que proibia o tráfico de africanos para o Brasil.

Ilustração. Retrato de três homens negros. Da esquerda para a direita estão: André Rebouças, jovem de rosto fino, cabelo curto, bigode e cavanhaque. No centro, José do Patrocínio, homem de rosto arredondado, testa larga, olhos alongados e barba e bigode cheios. À direita, Luís Gama, homem de rosto arredondado, cabelo curto e barba e bigode espessos.
Ilustração atual representando os abolicionistas André Rebouças (baseada na obra de Rodolfo Bernardelli), José do Patrocínio (inspirada na fotografia de autoria desconhecida publicada na obra História da literatura brasileira, de José Veríssimo, de 1916) e Luís Gama (com base em fotografia de autoria desconhecida).

O fim da escravidão

Enquanto o debate abolicionista movimentava diferentes setores da sociedade brasileira, diversas revoltas de cativos ocorriam pelo país. Nesse contexto, o fim do regime escravista foi decretado em algumas províncias. No Ceará, a pequena cidade de Acarape transformou-se em exemplo. Em 1º de janeiro de 1883, os últimos cativos que lá existiam foram libertos. Em Fortaleza, no dia 24 de maio do mesmo ano, foram libertos os últimos escravizados. No ano seguinte, a província do Ceará e, logo em seguida, a do Amazonas decretaram o fim da escravidão, antes da promulgação da Lei Áurea.

Em 13 de maio de 1888, após muitos debates, a princesa Isabel – provisoriamente no lugar do imperador, que estava na Europa – assinou a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil. Na ocasião, cêrca de 700 mil pessoas eram escravizadas no país.

Essa lei beneficiou a economia brasileira, mas a população negra não recebeu indenizações nem teve garantia de emprego, iniciando uma longa e árdua luta por igualdade de direitos. Após a assinatura da lei, não se discutiram, como tinham feito os participantes do movimento abolicionista, as fórmas de vida dos ex-escravizados. Depois das comemorações iniciais, eles tiveram de voltar a trabalhar para os antigos senhores, recebendo baixos salários, ou mudar-se para a periferia das cidades, onde realizavam pequenos serviços.

A lei também não agradou aos fazendeiros. Muitos proprietários rurais esperavam receber indenizações do governo pelos escravizados perdidos. Como as indenizações não foram pagas, o governo imperial passou a ser visto como traidor por muitos membros da aristocracia rural. Estes, então, opuseram-se ao império, adotando os ideais republicanos que cada vez mais cresciam no país.

Charge em preto e branco. Ilustração de um local descampado, onde há diversas pessoas negras correndo com trouxas amarradas na ponta de uma vara. No primeiro plano, uma mulher corre carregando uma criança no colo e um homem branco de chapéu e botas agarra um dos homens negros pela cintura.
Fuga de escravos, charge de Angelo Agostini publicada na Revista lllustrada, em 1887.
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A fuga de escravizados, representada na charge, era uma das fórmas de resistência à escravidão. Com a promulgação das leis abolicionistas, fugas individuais e, sobretudo, coletivas tornaram-se cada vez mais frequentes, e os escravocratas foram incapazes de contê-las, o que foi satirizado por Angelo Agostini.

O direito à memória e o Dia da Consciência Negra

Anualmente, em 20 de novembro, é celebrado no Brasil o Dia Nacional da Consciência Negra. Em 1988, quando foi elaborada a atual Constituição Brasileira e celebrado o centenário da Lei Áurea, um intenso debate movimentou integrantes do movimento negro no Brasil, que previam a troca da data comemorativa do fim da escravidão no país de 13 de maio para 20 de novembro, em homenagem à data da morte de Zumbi dos Palmares.

A liderança do processo deixaria, então, de ser atribuída à princesa Isabel e passaria a ser delegada a Zumbi, líder do maior quilombo de que se teve notícia no Brasil: o dos Palmares. Dessa maneira, contestava-se a relevância da família imperial para o fim da escravidão e ressaltava-se a importância da resistência dos escravizados em sua luta por liberdade. O passado escravista foi debatido e a história tradicionalmente contada começou a ser questionada.

O protagonismo negro foi pauta fundamental da elaboração da Constituição de 1988 e da reconstrução da democracia no país. Era preciso revisitar os chamados lugares da memória, rememorando datas, atores sociais e narrativas relacionados a tal protagonismo. Esse foi um dos pontos centrais da ampla discussão sobre cidadania, exclusão e possíveis fórmas de inserção e de atuação da população negra no Brasil contemporâneo.

Fotografia. Vista para a calçada de uma rua em frente a uma casa com portão gradeado. Uma dezena de mulheres negras sorridentes dançam em roda. Elas vestem roupas brancas com lenços coloridos na cabeça e na cintura.
Apresentação de jongo pelo Grupo de Jongo Núcleo de Arte e Cultura de Campos, em Campos dos Goytacazes (Rio de Janeiro). Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Em torno do fogo e ao som dos tambores, as rodas de jongo, criadas pelos escravizados das fazendas de café do Vale do Paraíba, remetem aos ancestrais africanos e à resistência negra. Além de celebrar a história e a cultura afro-brasileiras, a preservação de tradições como a do jongo contribui para a promoção de reflexões sobre o combate ao racismo e à desigualdade social que afetam a população negra no país.

O declínio do Segundo Reinado

Ideias e movimentos republicanos não eram novidades no Brasil no século dezenove, mas sempre tinham sido duramente reprimidos pelo Estado. Em 1870, contudo, tiveram novo impulso.

Nove meses após o fim da Guerra do Paraguai, um grupo formado por advogados, professores, médicos, fazendeiros e funcionários públicos assinou e divulgou no jornal fluminense A República o chamado Manifesto Republicano. No texto, o grupo atacava a política do império e evidenciava, em tom crítico, o fato de que, na América Latina, todos os países, exceto o Brasil, haviam adotado o regime republicano após a independência.

Depois da publicação desse manifesto, foram fundados partidos republicanos, jornais e revistas que apoiavam os ideais expressos no documento. O movimento cresceu e conquistou adeptos, inclusive, no exército brasileiro. Apesar de constituírem uma das principais fôrças políticas do país após a Guerra do Paraguai, líderes militares eram censurados pelo governo com frequência e passaram a fazer oposição ao império.

Organizaram-se, então, no fim da década de 1870 e durante a década de 1880, três focos principais de oposição ao governo de dom Pedro segundo: o dos abolicionistas, que identificavam a monarquia com a escravidão, o dos cafeicultores, descontentes com o fim da escravidão sem indenização, e o do exército.

Assim, no fim da década de 1880, em meio a todos esses grupos opositores e após uma série de desgastes políticos, o imperador já não tinha bases para se manter no poder. Seu governo estava, portanto, com os dias contados.

Fotografia em sépia. Uma família está posando para uma foto no alto de uma escada. Da esquerda para a direita há: uma senhora com o cabelo liso penteado para trás, sentada em uma cadeira e usando um longo e largo vestido escuro. À frente dela, um menino de cabelo castanho claro, de aproximadamente 6 anos, está sentado em um degrau. À esquerda da senhora, há uma mulher em pé de cabelo escuro penteado para trás e ela usa um longo vestido. Está de braço dado com um senhor calvo de barba comprida e bigodes brancos. Ele veste roupa escura. Em uma das mãos segura uma bengala e o chapéu. Ao lado dele há um homem de cabelo curto penteado de lado, com o rosto pequeno e bigode. À direita, outro homem alto, de cabelo curto, bigode e barba. À frente deles, dois meninos de aproximadamente 10 e 12 anos. Eles têm o cabelo curto e claro.
Família imperial do Brasil em Petrópolis (Rio de Janeiro). Foto de 1889.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A foto, feita por Otto rés, é considerada um dos últimos registros da família imperial no Brasil. Na imagem, da esquerda para a direita estão a imperatriz dona Teresa Cristina, dom Antônio Gastão (sentado na escada), a princesa Isabel, o imperador dom Pedro segundo, dom Pedro de Alcântara (príncipe do Grão-Pará), dom Luís, o conde e dom Pedro Augusto.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique dois fatores que contribuíram para o início da imigração europeia para o Brasil.
  2. Caracterize o movimento abolicionista no Brasil.
  3. A partir do fim da década de 1870, as críticas ao governo de dom Pedro segundo se intensificaram. Defina os principais grupos que se opunham à política do império e explique quais eram suas motivações.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. (enêm méqui – adaptado) As imagens que retratam dona Pedro primeiro e dona Pedro segundo procuram transmitir determinadas representações políticas acerca dos dois monarcas e seus contextos de atuação. Copie no caderno apenas a opção correta relativa à ideia que cada imagem evoca.

Pintura. Vista de um local ao ar livre, onde há muitas pessoas aglomeradas. Ao centro da imagem, em posição mais elevada que os demais, um homem a cavalo ergue o chapéu com a mão direita e segura as rédeas do cavalo com a esquerda.  Ao redor dele, homens, mulheres e crianças repetem o gesto em tom festivo. À esquerda, duas pessoas se abraçam. Ao fundo, muitos homens uniformizados como militares. No alto, céu azul com grossas nuvens brancas.
Proclamação da Independência, pintura de françuá renê morrô, 1844.
Fotografia em preto e branco. Dom Pedro Segundo sentado em uma cadeira, posando para o fotógrafo. Trata-se de um senhor calvo de barba longa e bigodes brancos. Ele veste calça social preta, camisa branca, colete e fraques pretos. Suas mãos estão apoiadas nas pernas.
Retrato de Dom Pedro segundo no Palácio de São Cristóvão, Rio de Janeiro, 1885.
  1. Habilidade militar – riqueza pessoal.
  2. Liderança popular – estabilidade política.
  3. Instabilidade econômica – herança europeia.
  4. Isolamento político – centralização do poder.
  5. Nacionalismo exacerbado – inovação administrativa.
  1. Analise as afirmações a seguir, sobre a atividade cafeeira no Brasil no século dezenove. Depois, no caderno, identifique as verdadeiras e as falsas.
    1. A primeira fase de plantio do café no Brasil do século dezenove ocorreu na região conhecida como Vale do Paraíba.
    2. A expansão da atividade cafeeira pouco alterou a urbanização do sudeste brasileiro.
    3. Na segunda fase de expansão, iniciada em 1870, o café avançou para Ribeirão Preto, Campinas e quase todo o Oeste Paulista.
    4. As transformações urbanas produzidas pela atividade cafeeira foram acompanhadas de mudanças nos costumes de parte dos integrantes da população das cidades brasileiras, como as pessoas da elite e as mulheres.

Aprofundando

3. Analise a imagem a seguir e responda às questões.

Ilustração. Vista para um caminho de terra com plantas próximo ao mar. No centro, no primeiro plano, há dois homens, um de frente para o outro. À esquerda, homem de pele clara, cabelos curtos pretos, com paletó bege, calça branca e par de botas de cano alto em marrom. Ele segura na mão esquerda um chapéu redondo para cima e dá sua mão direita ao homem que está à sua frente e que é negro, possui cabelo curto e veste uma camisa branca listrada de vermelho, cinto marrom e calça branca. Está com os pés descalços, e ergue seu braço esquerdo para o alto, segurando um chapéu de palha bege. Perto deles, uma haste fina na vertical com faixa em verde, ilustração de um losango amarelo com emblema dentro, perto de folhas de louro. Na parte inferior da faixa, o texto: Lei número 3.353, 13 de maio de 1888. Ao fundo, paisagem com morros. Na parte inferior da ilustração, texto: AGORA SIM!
Rótulo produzido no início do século vinte por uma fábrica de tecidos com uma representação da abolição da escravidão.
  1. Que grupos sociais são representados pelos dois personagens da imagem?
  2. A imagem reflete o processo histórico que culminou com o fim da escravidão no Brasil? Justifique sua resposta.

4. Leia os trechos de uma entrevista concedida pelo historiador brasileiro Luiz Felipe de Alencastro sobre a abolição da escravidão. Depois, junte-se a alguns colegas para fazer as atividades propostas.

bê bê cê Brasil – 130 anos é pouco tempo, só cêrca de quatro gerações. Mesmo assim, parece muito distante. Por que temos a impressão de que a escravidão é um passado tão longínquo?

Alencastro reticências Logo depois da abolição o assunto saiu de pauta. Salvo para se ensinar que a abolição foi uma generosidade da Coroa, do governo, da redentora princesa Isabel. Daí o motivo do movimento negro ter proposto a troca do 13 de maio pelo 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), da princesa Isabel por Zumbi – numa luta política significativa. E depois veio também a imigração, criou-se uma outra história popular que não deixava muito espaço para a história dos afro-brasileiros.

bê bê cê Brasil A abolição foi uma farsa?

Alencastro A abolição teve limites. Mas ela ocorreu, não foi farsa. Seria como dizer que a República foi uma farsa, que não acabou com a monarquia. A abolição acabou com a aberração gerada por um quadro institucional e legal que permitia uma pessoa ter como propriedade outra pessoa e seus descendentes, de maneira perpétua. A abolição também não foi uma benevolência da princesa ou do governo. A monarquia já estava caindo, fez uma última manobra e caiu ao tentar captar a plataforma abolicionista para enfraquecer o movimento republicano.

reticências

bê bê cê Brasil – O senhor é defensor das cotas...

Alencastro O meu argumento das cotas é que elas são fundamentais para os negros, para os índios e para os pobres e os brasileiros em geral. São elas que vão consolidar a democracia plena no Brasil, com acesso à educação e ao trabalho.

bê bê cê Brasil – Há quem defenda cotas por renda, não por cor...

Alencastro reticências os negros não sofrem discriminação legal, mas há mecanismos informais que os discriminam e desqualificam de fórma óbvia. O censo de 2010 mostrou que a maioria da população é negra. Esse dado deve ser bem observado reticências por setores reticências que consideram a política afirmativa como um instrumento em favor da diversidade. É muito mais do que isso. É um instrumento em favor da democracia, do funcionamento do Estado, que favorece o país inteiro. Achar que ela garante a diversidade é considerar que os negros são uma minoria, como nos Estados Unidos. Mas no Brasil eles são a maioria. reticências

ROSSI, A. Abolição da escravidão em 1888 foi votada pela elite evitando a reforma agrária, diz historiador. bê bê cê Brasil, 13 maio 2018. Disponível em: https://oeds.link/yG1vhQ. Acesso em: 18 março 2022.

  1. Segundo Alencastro, por que as pessoas têm a impressão de que a escravidão no Brasil ocorreu em um passado muito distante?
  2. Indiquem os motivos para a instituição do Dia Nacional da Consciência Negra em 20 de novembro.
  3. De acordo com o historiador, pode-se dizer que a abolição da escravidão no Brasil foi uma farsa?
  4. Quais foram os argumentos apontados pelo historiador para defender o sistema de cotas raciais?
  1. Junte-se a alguns colegas e façam uma pesquisa, em livros, jornais e revistas impressos ou na internet, a respeito do sistema de cotas raciais. Escolham uma das seguintes questões para investigar:
    • O que é o sistema de cotas raciais e como ele funciona?
    • Quando e como o sistema de cotas raciais foi adotado no Brasil?
    • Em que instituições o sistema de cotas raciais é adotado no Brasil hoje?
    • Em que outras instituições esse sistema poderia ser adotado?    Com base nas informações obtidas na pesquisa, produzam um cartaz informativo. Em seguida, reúnam-se com os demais colegas, juntem os cartazes produzidos por todos os grupos e, seguindo a orientação do professor, exponham-nos na escola. Depois da exposição, debatam os temas dos cartazes.

Glossário

Primaz
: bispo católico que ocupa posição superior à dos demais bispos e arcebispos.
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Notabilidade
: atributo das pessoas consideradas notáveis, ilustres.
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Convergir
: encaminhar-se, concentrar-se, agrupar-se.
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Missal
: livro com as principais orações das missas.
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Balizar
: restringir, limitar.
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Referendar
: aprovar, aceitar a responsabilidade por algo.
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Romântico
: alinhado ao Romantismo, movimento artístico-cultural iniciado na Europa, no século dezenove, marcado pela valorização da natureza idealizada e pela expressão das emoções, entre outros aspectos.
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Aclimatação
: adaptação a um clima.
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Arroba
: unidade de massa que corresponde a cêrca de 14,7 quilogramas.
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Dormente
: peça de madeira sobre a qual os trilhos são instalados em uma estrada de ferro.
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Serão
: sarau; reunião festiva para dançar, conversar e ouvir música.
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Bulevar
: rua larga e arborizada com restaurantes e cafés ao ar livre.
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Devoluto
: desocupado, vago, vazio.
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Custear
: financiar, prover despesas.
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Filantrópico
: que desenvolve ou faz caridade.
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Autodidata
: aquele que se instrui sem o auxílio de mestres.
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