UNIDADE 1 REVOLUÇÕES: NOVOS MODOS DE GOVERNAR, DE PRODUZIR E DE PENSAR

A história e você: opinião pública e meios de comunicação

Nesta unidade, você estudará diferentes revoluções. Começará pelas Revoluções Inglesas do século dezessete, em que diferentes grupos políticos e religiosos se revoltaram contra o absolutismo e o rei foi obrigado a se submeter às decisões do Parlamento.

Você aprenderá que, ao longo dos séculos dezessete e dezoito, uma mudança profunda ocorreu no modo de pensar dos europeus: filósofos, que ficariam conhecidos como iluministas, passaram a questionar os dogmas da Igreja e o poder absoluto dos reis.

Estudará também um processo que ficou conhecido como Revolução Industrial. Ele começou no século dezoito, quando a invenção da máquina a vapor transformou a fórma de produzir mercadorias.

Em seguida, aprenderá que, no século dezoito, sob a inspiração do iluminismo e das Revoluções Inglesas, as Treze Colônias inglesas proclamaram a independência e criaram as próprias leis, dando origem aos Estados Unidos. Foi a Revolução Americana.

Durante esse período, desenvolveu-se a noção de opinião pública como o conjunto de ideias, debates e de julgamentos expressos na esfera públicaglossário .

Atualmente, as redes sociais são um dos principais espaços de divulgação e de formação de opiniões. Porém, nelas, cada um seleciona e controla quem compõe sua rede e as opiniões que prevalecem. Além disso, os debates ocorridos nas redes sociais nem sempre são racionais e fundamentados. Em muitos casos, essas ferramentas são usadas para exaltar os próprios pontos de vista ou até mesmo para divulgar informações falsas.

Gravura. Em um local aberto, uma mulher de vestido longo e com listras horizontais em branco e vermelho usa um lenço na cabeça. Ela está sentada com uma folha de papel na mão. Ao redor dela estão expostas pilhas de panfletos e jornais. Atrás dela, homens de peruca branca e mulheres de rosto maquiado e cabelo preso conversam. Um dos homens segura um panfleto nas mãos. Na calçada, uma criança de cabelo comprido e claro, vestindo roupas listradas, está em pé, apontando para os panfletos expostos. Ao lado da criança, um militar sentado na calçada, com o corpo inclinado na direção dela. Ele segura uma arma com a mão esquerda e tem um chapéu escuro e alto na cabeça.
Representação da venda de jornais e panfletos nas ruas de Paris, na França, em gravura produzida por filibér luí debicúr, em 1790.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao propor a produção de um painel sobre a opinião pública, inserindo nele textos provenientes de diferentes veículos de comunicação contemporâneos, incentiva-se a crítica dos estudantes e valoriza-se o debate público racional e fundamentado, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 1 e nº 5, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 2 e da Competência Específica de História nº 7.

Temas Contemporâneos Transversais

Por envolver uma reflexão sobre o papel dos meios de comunicação contemporâneos no debate público, incentivando os estudantes a se posicionar criticamente diante das tecnologias de comunicação e a comparar os discursos divulgados em diferentes meios, analisando sua fundamentação, a atividade proposta contribui para o desenvolvimento dos Temas Contemporâneos Transversais Vida familiar e social e Ciência e tecnologia.

Interdisciplinaridade

Por envolver a identificação das diferenças entre informação e opinião e a exploração de gêneros textuais típicos da cultura digital, a atividade contribui para o desenvolvimento das habilidades de língua portuguesa ê éfe seis sete éle pê zero quatro – “Distinguir, em segmentos descontínuos de textos, fato da opinião enunciada em relação a esse mesmo fato” – e ê éfe oito nove éle pê zero dois – “Analisar diferentes práticas (curtir, compartilhar, comentar, curar etcétera.) e textos pertencentes a diferentes gêneros da cultura digital (même, gif, comentário, charge digital etcétera) envolvidos no trato com a informação e opinião, de fórma a possibilitar uma presença mais crítica e ética nas redes”

Abertura de unidade

Essa unidade abarca os capítulos 1 (“As Revoluções Inglesas e o iluminismo”), 2 (“A Revolução Industrial”) e 3 (“Revolução Americana: a independência dos Estados Unidos”) do volume.

O tema escolhido para a atividade de abertura foi a relação entre a opinião pública e os atuais meios de comunicação, principalmente as redes sociais. Essa questão dialoga com o capítulo 1 da unidade, no qual são abordadas as ideias iluministas e a valorização do pensamento racional.

Para avaliar o papel dos meios de comunicação no debate público, você e os colegas farão um painel coletivo sobre a opinião pública, investigando diferentes fórmas e veículos de comunicação.

Organizar

  • Para começar, com o auxílio do professor, junte-se aos demais colegas da turma e escolham um tema atual de interesse público.
  • Em seguida, reúna-se em grupo com quatro colegas.
  • Pesquisem nas redes sociais e em veículos de imprensa (impressos ou digitais) publicações e artigos que expressem diferentes posições sobre o tema escolhido pela turma.
  • Selecionem dois textos publicados nas redes sociais e dois textos publicados em outros veículos de comunicação. Imprimam ou transcrevam os que forem digitais.

Produzir

  • Identifiquem as passagens dos textos que contêm informações e as que apresentam opiniões. Destaquem-nas com cores diferentes.
  • Confiram se os autores dos textos indicaram as fontes das quais retiraram os dados. Se as fontes foram indicadas, consultem-nas e verifiquem se são confiáveis.
  • Analisem os textos e reparem se os autores pretenderam provocar mais a razão ou a emoção do leitor. Para isso, verifiquem se eles contêm muitos adjetivos e se apresentam reflexões.
  • Classifiquem os textos entre os que apresentam as informações mais confiáveis e os que contêm informações menos confiáveis. Em cada texto, comentem os motivos da classificação e justifiquem o comentário com as passagens que contêm as respectivas informações. Organizem os textos em uma linha horizontal de acordo com essa classificação: do que tem informações mais confiáveis ao que tem as menos confiáveis. Sem tirá-los dessa ordem, movam para cima os que apresentam linguagem mais racional e para baixo os que contêm linguagem mais emotiva.
  • Criem o painel coletivo em cartolina ou outro suporte. Tracem duas retas: uma horizontal e outra vertical (disposição em cruz). Nas extremidades horizontais do suporte, escrevam: “mais confiável” (à esquerda) e “menos confiável” (à direita). Na vertical, escrevam: “mais racional” (na parte superior) e “mais emotivo” (na parte inferior).
  • Colem os textos analisados por todos os grupos no painel, respeitando a classificação prévia.

Compartilhar

  • Exponham o painel em um mural na sala de aula e analisem a posição de cada texto.
  • Com base no painel montado, debatam esta questão: as redes sociais e a imprensa contribuem igualmente para a construção de um debate público fundamentado e racional?
Ilustração. À direita e a esquerda grupos de pessoas usam o celular. Alguns olham para a tela, outros tiram selfies. No centro da ilustração, um grupo de pessoas faz protesto empunhando cartazes, sendo que uma pessoa usa um megafone. Ao fundo, prédios nas cores bege e cinza.
Ilustração atual representando o afastamento entre as pessoas na esfera pública e nas redes sociais.
Respostas e comentários

Atividade

Com a atividade proposta, não se pretende promover um debate sobre o tema escolhido nem incentivar os estudantes a se posicionar em relação a ele, mas avaliar a situação da esfera pública nos dias de hoje. Há espaço para um debate público racional e fundamentado? Os diferentes meios de comunicação desempenham o mesmo papel na construção da opinião pública? Utilize o texto de abertura para apresentar as noções de opinião pública, debate público e esfera pública, relacionando-as tanto ao momento histórico que vão estudar (séculos dezessete e dezoito) quanto ao tempo presente.

Reserve uma aula para a execução da primeira etapa da atividade. Na escolha do tema, demonstre aos estudantes que o fato de um assunto ser muito comentado não faz dele um tema de interesse público. Para ser assim classificado, deve dizer respeito a toda a sociedade e afetar, direta ou indiretamente, a vida das pessoas. Oriente os grupos na seleção dos textos, evitando repetições. Caso os estudantes não tenham acesso à internet ou às redes sociais, selecione previamente alguns exemplos e leve-os impressos para a sala de aula.

Na aula seguinte, acompanhe os procedimentos propostos na segunda etapa da atividade. Verifique se os grupos conseguem diferenciar informação de opinião combinando previamente as duas cores que utilizarão para identificá-las no texto. Auxilie-os na identificação das fontes empregadas pelos autores (quando houver) e na análise dos discursos, destacando o léxico, especialmente os adjetivos, e os tipos de argumentação. Se necessário, proponha uma parceria com o professor de língua portuguesa para ajudá-lo nessa fase da atividade. Em seguida, auxilie os estudantes na preparação do painel. As retas podem ser traçadas com uma fita crepe. Peça aos grupos que disponham todos os textos sobre o painel. Supervisione a execução dessa tarefa, pois na reunião dos textos a classificação feita originalmente pelos grupos talvez precise ser alterada.

Espera-se que, ao final da atividade, os estudantes identifiquem os textos das redes sociais como menos confiáveis e menos racionais que os da grande imprensa, embora essa não seja uma regra. O importante é discutir o papel dos meios de comunicação na formação da opinião pública. Uma postagem de internet pode ser fundamentada e ponderada, enquanto um texto jornalístico pode ser emotivo e sem fundamento. A natureza desses veículos, contudo, acaba por diferenciar a qualidade dos textos publicados em cada um. A rapidez com que as informações e opiniões são divulgadas nas redes, a tendência de aproximar pessoas que pensam da mesma fórma e o anonimato que as caracteriza impedem que elas integrem de fato a esfera pública.

Por fim, comente com os estudantes que textos com opiniões diversas podem ser igualmente racionais, ou seja, não é o conteúdo de uma opinião que a qualifica, mas o seu fundamento e a fórma como ela é apresentada no debate público.

CAPÍTULO 1 AS REVOLUÇÕES INGLESAS E O ILUMINISMO

A imagem a seguir é de uma manifestação de estudantes pela garantia do acesso à educação de boa qualidade a todos os cidadãos. A ideia de que as pessoas são cidadãs e, portanto, têm direitos passou a existir com a crise do Antigo Regime, fórma de organizar o poder em que os reis detinham poderes ilimitados.

Neste capítulo, você vai estudar o processo de contestação ao poder absoluto dos monarcas, as críticas aos privilégios da nobreza e do clero e o estabelecimento do conceito de cidadania.

Fotografia. Grupo de pessoas aglomeradas se manifestando em uma larga avenida. À frente uma longa faixa preta com os dizeres: ESTUDANTES EM DEFESA DO ENSINO PÚBLICO.
Manifestação de estudantes contra córtes no orçamento público destinado à educação, em São Paulo (São Paulo). Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. O que assegura os direitos básicos, como o acesso à educação e à saúde, aos cidadãos brasileiros?
  2. Os cidadãos sempre tiveram esses direitos garantidos? Explique.
  3. Em sua opinião, os direitos básicos são proporcionados, de fato, a todos os cidadãos brasileiros?
Respostas e comentários

Abertura

Na abertura do capítulo, propõe-se uma breve reflexão sobre o conceito de cidadania com base na análise de uma manifestação contemporânea pelo direito à educação. A ideia é associar essa conceituação (já vista pelos estudantes no 6º e 7º anos) com o iluminismo europeu e a noção de direitos individuais (naturais). Caso julgue pertinente, explore outros direitos que, embora previstos na Constituição Brasileira de 1988, não são assegurados na prática a todos os cidadãos no país. Em conversa com a turma, levante hipóteses explicativas para esse distanciamento entre lei e prática social, considerando as desigualdades econômicas e as diferenciações regionais e étnicas.

Atividades

1. Os estudantes estão familiarizados com as ideias de democracia, cidadania e direitos e deveres expostas em cartas constitucionais desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. Assim, é provável que respondam que o que assegura direitos aos cidadãos é a Constituição Brasileira de 1988.

2. Espera-se que os estudantes respondam que nem sempre as pessoas tiveram a garantia de direitos como o acesso à educação e à saúde, presentes na Constituição Federal.

3. Espera-se que os estudantes respondam que, apesar de garantidos na Constituição Brasileira de 1988, na prática muitos direitos, como o de acesso à saúde e à educação de boa qualidade, não são efetivamente assegurados a boa parte dos cidadãos brasileiros.

Tema Contemporâneo Transversal

Por envolver o estabelecimento de relações entre o passado e o presente com base nas ideias de cidadania e de direitos e deveres, bem como a elaboração de hipóteses explicativas sobre o tema, o conteúdo aborda o Tema Contemporâneo Transversal Educação em direitos humanos.

A Inglaterra sob a dinastia Stuart

No 7º ano, você estudou a consolidação do absolutismo na Inglaterra, que teve como principal personagem a rainha Elizabeth primeira. Ela faleceu em 1603, sem deixar herdeiros, e a dinastia Tudor chegou ao fim. Integrantes de outra dinastia assumiram o trono inglês: os Stuart. Eles eram parentes dos Tudor e governavam a Escócia.

Os dois primeiros monarcas da dinastia Stuart – Jaime primeiro, que reinou de 1603 a 1625, e seu filho, Carlos primeiro, que reinou de 1625 a 1649 – adotaram políticas centralizadoras e defenderam a origem divina do rei. Com a intenção de aumentar os impostos, ambos os monarcas dissolveramglossário o Parlamento em diferentes ocasiões.

Jaime primeiro e Carlos primeiro enfrentaram a oposição da maior parte dos nobres e burgueses do reino. Essa oposição era motivada por fatores econômicos e religiosos, entre outros. Os anglicanos tinham privilégios, como monopólios e proteção da Coroa. Parcela significativa da burguesia, da gentryglossário e dos súditos de religiões diferentes da oficial (anglicana), não tinha os mesmos benefícios.

Crise do reinado de Carlos primeiro

Durante o reinado de Carlos primeiro, o rei tentou impor o anglicanismo à população da Escócia, provocando o descontentamento dos presbiterianos da região. Carlos primeiro também entrou em conflito com o Parlamento ao restabelecer impostos, como o ship moneyglossário , e criar outras taxas.

A insatisfação dos camponeses e das camadas populares era crescente. Em virtude de uma série de fatores, principalmente dos cercamentos, esses grupos enfrentavam o empobrecimento, a falta de trabalho e a fome. Muitos camponeses migraram para as cidades em busca de trabalho.

Na tentativa de reduzir os conflitos religiosos e os problemas sociais, Carlos primeiro, assim como seu antecessor havia feito, incentivou a colonização como forma de enviar para a América os grupos sociais que lhe causavam problemas.

Fotografia. Medalha redonda com inscrições na borda. No centro, o busto de um homem de perfil, com cabelos encaracolados, usando gola de tecido rendado que circunda o pescoço. Ele tem barba e cavanhaque e usa uma coroa de louros sobre o cabelo.
Medalha de prata produzida para celebrar a coroação de Djeimes primeiro como rei da Inglaterra em 1603. Na imagem, o rei é retratado usando uma coroa de louros.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Após a ascensão dos Stuart na Inglaterra, com a coroação de Jaime primeiro, iniciaram-se revoltas contra o absolutismo, que havia sido instaurado durante a dinastia anterior, a Tudor.

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Objetivos do capítulo

Analisar as Revoluções Inglesas, caracterizando a Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa.

Caracterizar a monarquia parlamentar na Inglaterra como decorrência das Revoluções Inglesas.

Demonstrar as principais características do iluminismo e sua relação com as revoluções científica e intelectual dos séculos dezesseis e dezessete.

Apresentar a diversidade de autores iluministas e as contribuições de autores-chave, como jeãn jác russô, voltér e o barão de Montesquiê.

Relacionar o processo de difusão das ideias iluministas à contestação do absolutismo.

Analisar os princípios do liberalismo econômico e suas críticas ao mercantilismo, caracterizando as duas principais escolas de pensamento: a fisiocrata francesa e a liberal clássica britânica.

Apresentar as bases do despotismo esclarecido e analisar seus limites.

Justificativa

Os objetivos listados para este capítulo são relevantes na medida em que sensibilizam os estudantes para a historicidade de conceitos que são utilizados hoje em dia para compreender e organizar a sociedade, tais como a ideia de uma cidadania com direitos e deveres. Por meio da caracterização das Revoluções Inglesas e do papel que as ideias iluministas e liberais tiveram na contestação às ideias absolutistas e aos princípios do mercantilismo, almeja-se incentivar o desenvolvimento dos processos de identificação e contextualização, sensibilizando os estudantes para a importância delas em um quadro amplo de referências culturais, econômicas e políticas.

Se possível, demonstre aos estudantes a diferença entre Inglaterra, Grã-Bretanha e Reino Unido. A Inglaterra é um país europeu que, assim como a Escócia e o País de Gales, faz parte da ilha chamada Grã-Bretanha. No século quinze, o País de Gales foi incorporado à Inglaterra, que, em 1707, selou a união com a Escócia, formando o Reino da Grã-Bretanha. Em 1801, este uniu-se ao Reino da Irlanda, formando o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, ou, simplesmente, Reino Unido.

Sobre os cercamentos, comente com os estudantes que, a partir do século dezesseis, os senhores feudais passaram a cercar as terras comunais e a transformá-las em pastagens para ovelhas. Ao ser expulsos da terra, os camponeses migraram para as cidades, compondo uma fôrça de trabalho vasta e mal remunerada.

A Revolução Puritana

A insatisfação generalizada esteve na origem de uma guerra civil que se iniciou em 1642. Esse conflito, chamado Revolução Puritana ou Guerra Civil Inglesa, dividiu o reino entre os defensores da monarquia e os do Parlamento.

Os integrantes do grupo que permaneceu fiel à monarquia Stuart faziam parte da alta nobreza e do clero anglicano, e ficaram conhecidos como cavaleiros. O grupo defensor do Parlamento, por sua vez, era bastante diversificado. Nele estavam puritanos, burgueses, integrantes da gentry e da população em geral, que ficaram conhecidos como cabeças redondas por não utilizarem as perucas da nobreza. Além desses dois, havia grupos mais radicais, como o dos levellers (“niveladores”), que propunham o direito de voto a todos os homens livres, e o dos diggers (“escavadores”), que defendiam a realização de uma reforma agrária.

O comandante do exército dos cabeças redondas era o puritano Óliver crómuél. Ele criou o New Model Army (“exército novo”), formado por soldados em tempo integral. Os demais exércitos da época eram grupos conscritosglossário a apenas uma área ou guarniçãoglossário , normalmente por tempo determinado. Como soldados profissionais, os membros do exército de crómuél não estavam ligados a nobres nem precisavam ser adeptos de alguma facção política ou religiosa.

Além disso, o líder puritano introduziu o mérito individual como critério de ascensão no exército. Dessa maneira, a bravura e outras qualidades podiam resultar em promoção, diferentemente do critério utilizado até então, que reservava aos nobres os cargos de comando. Como resultado dessas medidas, o exército de crómuél venceu várias batalhas.

Em 1649, ao fim da guerra civil, o rei Carlos primeiro foi condenado à morte e decapitado. O governo da Inglaterra passou ao Parlamento, sob liderança de crómuél, rompendo assim com a lógica da monarquia absolutista.

Pintura. No centro, grupo de pessoas reunidas ao redor de uma plataforma escura, sobre a qual há 5 homens em pé e um homem ajoelhado e morto: trata-se do rei Carlos I, já decapitado. O pescoço dele está sobre um pedaço de tronco, onde há muito sangue escorrendo. O homem à esquerda sobre a plataforma segura a cabeça do rei com a mão direita, de onde também escorre sangue. Ao lado dele, um outro segura um machado com a mão esquerda, e aponta para o corpo decapitado com a outra mão. Outros três homens sobre essa plataforma observam a cena. Todos vestem roupas escuras. Em torno da plataforma, uma multidão acompanha a execução do rei. Em destaque, em primeiro plano, uma mulher de cabelos escuros, de vestido amarelo e avental claro, está desmaiada e é amparada por duas outras pessoas. Essa cena é ladeada por dois homens, que usam vestes em vermelho, cinza e preto, e chapéus em preto. Nos cantos extremos da pintura, há quatro pinturas menores, emolduradas. No canto superior esquerdo, pintura do busto do rei Carlos I, com vestes em preto e detalhes em branco, com um medalhão pendente sobre o peito, cabelos e chapéu escuros. Abaixo dele, pintura de diversas pessoas enfileiradas, com vestes em preto, que caminham no sentido esquerda-direita da pintura. Uma delas carrega um instrumento musical similar a um tambor. À frente delas, o rei Carlos I, ladeado por dois homens. No canto superior direito, outro homem de cabelos longos e roupa marrom, tem na mão esquerda a cabeça do rei, pálida e de olhos fechados, e, na direita, um machado ensanguentado. Abaixo dele, uma outra pintura em que três pessoas limpam sangue do chão com um tecido branco, ladeadas por homens vestidos em preto com lanças na vertical.
Representação da execução do rei Carlos primeiro em 1649, pintura de djôn uíssôp, cêrca de 1653.
Respostas e comentários

Ampliando

O texto a seguir trata do impacto dos cercamentos na vida dos trabalhadores e das atitudes tomadas por alguns, como os diggers, diante da situação.

“Logo que perderam o acesso à terra, todos os trabalhadores lançaram-se numa dependência econômica que não existia na época medieval, considerando-se que sua condição de sem-terra deu aos empregadores o poder para reduzir seu pagamento e ampliar o dia de trabalho. Em regiões protestantes, isso ocorreu sob o disfarce da reforma religiosa, que duplicou o ano de trabalho, por meio da eliminação dos feriados religiosos.

Não é surpreendente que, com a expropriação da terra, viesse uma mudança de atitude dos trabalhadores com relação ao salário. Enquanto na Idade Média os salários podiam ser vistos como um instrumento de liberdade (em contraste com a obrigatoriedade dos serviços laborais), começaram a ser vistos como instrumentos de escravidão logo que o acesso à terra chegou ao fim.

Tamanho era o ódio que os trabalhadores sentiam pelo trabalho assalariado que guérrard uínstanli, o líder dos diggers, declarou que, se alguém trabalhava por um salário, não faria diferença viver com o inimigo ou com seu próprio irmão. Isso explica o crescimento, na aurora do processo de cercamento da quantidade de ‘vagabundos’ e homens ‘sem senhor’ que preferiam sair vagando pelos caminhos, arriscando-se à escravidão ou à morte

federíti, S. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017. página 140-141.

É interessante destacar a presença de tensões sociais entre os diversos grupos que participaram da Revolta Puritana, como a nobreza católica e anglicana, amedrontada com possíveis alterações na estrutura social, burgueses insatisfeitos e puritanos radicais.

Para contribuir com a contextualização histórica do conceito de cidadania, considere contrastá-lo com o atual sentido de cidadania no Brasil, adensando a discussão apresentada na abertura. As discussões sobre cidadania e direitos durante a Idade Moderna são muito bem sistematizadas no artigo: Ostrênsqui, E. Teóricos políticos e propostas constitucionais na Inglaterra (1645-1669). Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, volume 33, número98, 2018.

A República de crómuél

crómuél defendia a ideia de que, em uma república, os interesses dos cidadãos deveriam estar acima da vontade de qualquer pessoa. Essa concepção era revolucionária, pois contestava o direito absoluto dos reis e mudava a condição das pessoas de súditas para a de cidadãs.

O conceito de cidadania naquele contexto era muito diferente do atual. Na República Inglesa, mulheres e crianças não eram consideradas cidadãs. No entanto, grande parte dos homens maiores de idade passaram a entender-se como portadores de direitos, como reivindicavam os niveladores e parte do exército. crómuél, contudo, manteve o direito ao voto ligado à propriedade.

Ele procurou valorizar a burguesia, o que ficou evidente nos Atos de Navegação de 1651, que proibiam o transporte de produtos importados para a Inglaterra por navios estrangeiros. Isso criava um monopólio dos navios ingleses no transporte de mercadorias. A intenção era expandir o poder marítimo-comercial inglês.

Essa medida prejudicou outras nações, principalmente os Países Baixos, potência naval da época. Como resultado, Inglaterra e Países Baixos entraram em guerra entre 1652 e 1654. A Inglaterra venceu e garantiu o domínio dos mares.

Na política interna, crómuél ignorou as demandas populares, perseguiu os elementos mais radicais da revolução e massacrou opositores políticos. Suas medidas se distanciaram cada vez mais dos princípios da República Puritana.

Em 1653, ele dissolveu o Parlamento e se proclamou lorde protetor da Inglaterra. Com esse cargo, vitalício e hereditário, obteve plenos poderes, iniciando o período do Protetorado, considerado por muitos uma ditadura.

crómuél morreu em 1658, deixando seu filho, Ricardo, como herdeiro político. No entanto, o Parlamento foi reaberto em 1660 e os Stuart voltaram ao poder. Carlos segundo (filho de Carlos primeiro) assumiu o trono, iniciando a Restauração Stuart, que se estendeu no reinado de Jaime segundo, que governou de 1685 a 1688.

Charge em preto e branco. Três homens em pé, cada um sobre uma base quadrada. À esquerda, homem de cabelo longo, manto curto e botas de cano alto. Está com uma das mãos no cavanhaque e expressa olhar de desconfiança. Na base, uma inscrição em inglês: Carlos I. No centro, homem calvo de lado, vestindo um longo casaco e botas acima do joelho, segura uma espada presa na cintura e tem a expressão sisuda. Na base, uma inscrição: Cromwell. À direita, homem de cabelo longo, roupas largas, chapéu grande e botas de cano largo, observa lateralmente o homem ao centro, com expressão de desconfiança. Na base, uma inscrição em inglês: Carlos II. Abaixo dos três homens, escrita em inglês, a frase: 'Cromwell deve ter uma estátua?'.
crómuél deve ter uma estátua?, charge do século dezenove.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A charge foi publicada mais de duzentos anos depois da morte de Óliver Crom-uél, quando se debatia se deveria haver uma estátua em homenagem a ele no Parlamento. O olhar desconfiado dos personagens representados ao lado dele (os reis Carlos primeiro e seu filho Carlos segundo) e sua postura segurando a espada (no centro), revelam que a figura dele ainda era polêmica entre os britânicos. crómuél foi um dos signatáriosglossário da sentença de morte do rei Carlos primeiro.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

O estabelecimento de relação entre os eventos históricos e o presente, considerando os diferentes significados do conceito de cidadania, contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de Ciências Humanas nº 2 e da Competência Específica de História nº2. Por meio do estudo da República de crómuél, mobiliza-se a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois.

Tema Contemporâneo Transversal

Ao historicizar o conceito de cidadania, contrastando seu significado na Inglaterra do século dezessete com o adquirido no Brasil de hoje, o conteúdo favorece a abordagem do Tema Contemporâneo Transversal Educação em direitos humanos.

Memória e monumentalidade são pontos-chave de discussão historiográfica e pauta dos movimentos sociais contemporâneos. Com base na charge, pode-se discutir a disputa pelo espaço público. Vale dizer que há uma estátua de crómuél na entrada principal do Parlamento, em Londres.

A disputa pela memória coletiva pode subsidiar ações inesperadas e de particular crueldade. Em 1661, em meio aos tumultos políticos da Inglaterra e três anos após a morte de crómuél, decorrente de malária, o Parlamento ordenou que seu corpo fosse desenterrado e, então, enforcado. Ao morto foi atribuída a responsabilidade pela execução do rei Carlos primeiro, que foi decapitado, e também sobre ele pesaram as restrições às liberdades públicas na fase ditatorial de seu governo.

Ressalte o fato de que os Atos de Navegação de 1651 foram decretados para ampliar e fortalecer o comércio internacional da Inglaterra. De acordo com a determinação, todas as mercadorias destinadas aos portos do país deveriam ser transportadas por navios com bandeiras inglesas ou de seus países de origem. Outra medida de crómuél foi a permissão do regresso dos judeus expulsos da Inglaterra em 1290. A medida atraiu comerciantes e banqueiros de origem judaica, que sofriam perseguições em outros países da Europa. Considerando essas duas medidas, provoque os estudantes, perguntando, por exemplo: “Qual foi a importância do governo de crómuél para o desenvolvimento do capitalismo mercantil na Inglaterra?”.

A Revolução Gloriosa e a Declaração de Direitos

Os monarcas Carlos segundo e Jaime segundo retomaram a política de centralização de poder e as tentativas de enfraquecer o Parlamento. No campo religioso, tentaram favorecer o catolicismo, o que desagradou aos protestantes puritanos e anglicanos. Para evitar outras revoltas, em 1688, o Parlamento articulou a Revolução Gloriosa.

No conflito, que recebeu esse nome por ter ocorrido sem derramamento de sangue, o Parlamento destituiu Jaime segundo do poder e passou a coroa para Maria Stuart, sua filha, que era casada com o príncipe Guilherme terceiro, dos Países Baixos. Para evitar problemas dinásticos ou outras tentativas de fechamento do Parlamento, Guilherme terceiro foi obrigado a assinar a Bill of Rights (“Declaração de Direitos”) em 1689.

De acordo com esse documento, o monarca devia se submeter ao Parlamento, não podendo tomar decisões sobre o exército, as leis, os impostos e outros assuntos sem consentimento parlamentar. Na prática, era o fim do absolutismo na Inglaterra.

Gravura. À esquerda, um homem de cabelos longos, brancos e ondulados, usa uma coroa em amarelo e veste um longo manto rosa sobre um traje verde com detalhes em amarelo que lhe chega até os joelhos. Ele carrega um cetro na vertical com a mão direita e, com a esquerda, segura um pergaminho branco, com inscrições em inglês: Declaração de Direitos. À direita, mulher de vestido longo e vermelho com detalhes em azul e amarelo na barra. Ela também usa um manto longo, em azul, e carrega um cetro com a mão direita, na vertical.
Gravura britânica produzida para um livro infantil do século dezoito, representando o rei Guilherme terceiro e a rainha Maria aceitando a Declaração de Direitos.
Estátua. Um homem de cabelo longo, um manto sobre a armadura, e espada na cintura montado sobre um cavalo, que tem uma das patas dianteiras elevadas. A estátua é escura, com manchas esverdeadas.
Estátua equestre de Guilherme terceiro, localizada em Londres, Reino Unido. Foto de 2021.

A Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa ficaram conhecidas como as Revoluções Inglesas e estabeleceram a base da monarquia parlamentar do Reino Unido atual. Ao aproximar a burguesia e a gentry do governo e garantir seu acesso ao Parlamento, essas revoluções impulsionaram a economia capitalista na Inglaterra. Participando do poder no Estado, esses grupos conseguiram reduzir barreiras mercantilistas e ampliar os cercamentos, acelerando práticas capitalistas nos meios urbano e rural. Você saberá detalhes dessas transformações ao estudar a Revolução Industrial, no capítulo 2.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao tratar das Revoluções Inglesas, ressaltando a importância delas para o desenvolvimento do capitalismo industrial na Inglaterra, o conteúdo favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois.

Ampliando

É reproduzido a seguir um trecho da Declaração Inglesa de Direitos, de 1689, que limitou o poder do rei.

“E, portanto, os ditos lordes espirituais e temporais, e os comuns, respeitando suas respectivas cartas e eleições, estando agora reunidos como plenos e livres representantes desta nação declaram, em primeiro lugar (como seus antepassados fizeram comumente em caso semelhante), para reivindicar e garantir seus antigos direitos e liberdades:

1. Que é ilegal o pretendido poder de suspender leis, ou a execução de leis, pela autoridade real, sem o consentimento do Parlamento.

2. Que é ilegal o pretendido poder de revogar leis, ou a execução de leis, por autoridade real, como foi assumido e praticado em tempos passados.

reticências

4. Que é ilegal a arrecadação de dinheiro para uso da Coroa, sob pretexto de prerrogativa, sem autorização do Parlamento, por um período de tempo maior, ou de maneira diferente daquela como é feita ou outorgada.

5. Que constitui um direito dos súditos apresentarem petições ao Rei, sendo ilegais todas as prisões ou acusações por motivo de tais petições.

6. Que levantar e manter um exército permanente dentro do reino em tempo de paz é contra a lei, salvo com permissão do Parlamento.

reticências

8. Que devem ser livres as eleições dos membros do Parlamento.

9. Que a liberdade de expressão, e debates ou procedimentos no Parlamento não devem ser impedidos ou questionados por qualquer tribunal ou local fóra do Parlamento.

10. Que não deve ser exigida fiança excessiva, nem impostas multas excessivas; tampouco infligidas punições cruéis e incomuns.

reticências

12. Que são ilegais e nulas todas as concessões e promessas de multas e confiscos de pessoas particulares antes de condenação.

13. E que os Parlamentos devem reunir-se com frequência para reparar todos os agravos, e para corrigir, reforçar e preservar as leis.

ichêi, M. R. organização. Direitos humanos: uma antologia: principais escritos políticos, ensaios e documentos desde a Bíblia até o presente. São Paulo: êduspi, 2006. página 171-173.

O conhecimento científico

No século dezessete, vários pensadores levaram adiante as mudanças iniciadas no século dezesseis com o Renascimento Científico, a expansão marítima europeia e os avanços matemáticos e astronômicos do início da Idade Moderna. Filósofos e estudiosos, como frâncis bêicon e Niutom, estabeleceram uma fórma de produzir conhecimento científico que valorizava a dúvida, a formulação de hipóteses e a experiência.

O político e filósofo inglês frâncis bêicon, que viveu de 1561 a 1626, escreveu várias obras nas quais defendeu o saber por meio da racionalidade diante dos ataques que as ciências sofriam dos teólogos, políticos e, até mesmo, segundo ele, dos “erros e imperfeições dos próprios sábios”. bêicom afirmava que o aprendizado humano devia ser contínuo, pois o conhecimento seria ilimitado e progressivo. Além disso, ele acreditava que as pessoas precisavam se livrar de “velhos ídolos”, como a filosofia antiga, as superstições e os preconceitos que escondiam a verdade, e confiar somente na experiência replicávelglossário para produzir conhecimento.

izáqui nílton, nascido em 1642, foi um físico e matemático inglês muito importante em seu tempo. Em 1703, tornou-se presidente da Royal Society, academia de ciências de destaque da Inglaterra, e, em 1705, recebeu da rainha Ana o título de cavaleiro da Coroa. Niutom procurou explicar o mundo natural com base em seu funcionamento mecânico, ou seja, por meio de leis e princípios matemáticos. Ainda, estabeleceu leis matemáticas para o movimento e para a inércia e fórmulas para explicar a gravidade, além de explorar prismas e telescópios.

Pintura. Adultos e crianças ao redor de uma estrutura com arcos esféricos sobrepostos. Do centro dele sai um intenso foco de luz iluminando o rosto das crianças e dos homens. Atrás delas, em destaque, há um homem de roupas coloridas e cabelo branco. Ao lado dele, um homem de cabelo curto faz anotações. Duas outras pessoas estão no canto direito da pintura: um homem vestido de azul tem as mãos sobre a testa e observa em direção à luz; outro homem, com cabelos escuros e vestes em roxo, olha para o homem de vestes coloridas no centro da pintura. Há, ainda, uma outra pessoa, no centro da pintura, com o cotovelo sobre a estrutura central, da qual só se vê a silhueta.
Um filósofo palestrando no planetário, pintura de Josef Urait, cêrca de 1766. No centro da imagem, é representado um modelo mecânico que reproduz o movimento dos planetas em torno do Sol.
Fotografia. Estrutura cilíndrica e curta, em tons de laranja, apoiada diagonalmente sobre uma esfera encaixada em uma base circular de madeira.
Réplica feita em 1924 do telescópio refletor desenvolvido por izáqui nílton no século dezessete.
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izáqui nílton ficou conhecido por sua capacidade de observação, de comparação e de criação de experiências e de métodos para comprovar hipóteses. Niutom elaborou teorias fundamentais para a ciência. Ele concluiu, por exemplo, que os corpos do universo, como a Lua e a Terra, eram atraídos ao centro por uma fôrça natural, obedecendo à lei da gravitação universal.

O sistema do telescópio refletor, desenvolvido por ele, ainda é utilizado em alguns equipamentos modernos.

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Transcrição do áudio

[LOCUTOR]: A razão no Iluminismo

[pausa]

[LOCUTOR]: Na pintura conhecida como Um filósofo palestrando no planetário, o artista inglês Joseph Wright retrata um tipo de evento que se tornou comum na Europa do século XVIII: palestras públicas em que diferentes conhecimentos científicos eram apresentados para parcelas da população.

[LOCUTOR]: A técnica utilizada por Wright, que evoca o efeito de uma iluminação à luz de velas, marca um contraste entre os rostos iluminados e o ambiente escuro.

[LOCUTOR]: Os rostos iluminados buscam representar a admiração dos personagens diante do conhecimento apresentado.

[LOCUTOR]: A luz que emana do planetário ilumina os personagens, separando-os da escuridão ao seu redor.

[LOCUTOR]: A pintura expressa algumas das principais características do Iluminismo, movimento cultural que se desenvolveu na Europa entre os séculos XVII e XVIII.

[LOCUTOR]: Influenciados pela Revolução Científica, os pensadores iluministas valorizavam o pensamento racional e se opunham à sociedade e às explicações sobre o mundo que se baseavam na religiosidade.

[LOCUTOR]: Por isso, consideravam alguns períodos anteriores da história como épocas de ignorância e escuridão intelectual.

[LOCUTOR]: Representando esse aspecto, Joseph Wright realizou outras pinturas em que personagens eram iluminados pela luz da razão e do conhecimento científico, em contraste com um passado de escuridão.

[LOCUTOR]: Durante o iluminismo, a oposição ao pensamento guiado pela fé, muitas vezes, era acompanhada da crítica à autoridade da Igreja Católica, e à estrutura social e econômica do Antigo Regime.

[LOCUTOR]: Tais críticas e ideias insuflaram a revolta e a organização da luta de uma burguesia em ascensão.

[LOCUTOR]: A crítica contra os privilégios vividos pelas classes nobres e clericais, feita pelos filósofos franceses Voltaire e Diderot, inspirou pensadores e revoltosos da Revolução Francesa, ocorrida em 1789.

[LOCUTOR]: Porém, Voltaire e Montesquieu, outro filosofo francês iluminista, ainda defendiam a permanência de uma aristocracia no poder.

[LOCUTOR]: O chamado despotismo esclarecido determinava que a figura do rei poderia permanecer, desde que ele fosse guiado pela razão.

[LOCUTOR]: Como exemplo desse tipo de governo está o reinado de Frederico II da Prússia, que atraiu para sua corte cientistas e pensadores como o próprio Voltaire.

[LOCUTOR]: A crença no progresso, ou seja, na capacidade humana de constantemente se aperfeiçoar a partir da razão, era compartilhada por uma grande parte desses pensadores, exceto o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, que criticava a corruptibilidade gerada pelo progresso.

Respostas e comentários

Citação retirada de: bêicom, F. O progresso do conhecimento. São Paulo: Editora da Unésp, 2007. página 19.

Ressalte que o desenvolvimento do pensamento científico no período apresenta conexões com o Renascimento e a Revolução Científica, como a postura crítica diante dos dogmas da Igreja, o experimentalismo e a capacidade de replicar os procedimentos.

Relembre com os estudantes a historicidade do conhecimento científico, evitando a universalização de valores de determinada cultura.

Atividade complementar

Proponha aos estudantes uma atividade de pesquisa a respeito do avanço do conhecimento científico. Inicialmente, apresente-lhes duas imagens produzidas, respectivamente, nos séculos dezessete e dezoito: a gravura Academia de Ciências, dede 1698, e a pintura Experimento com um pássaro em uma bomba de ar, de JoséfRuáit, de 1766. Essas obras de arte refletem a importância que se dava ao conhecimento científico no período: artistas eram contratados para registrar situações de pesquisa, descobertas e experimentos. Converse sobre os elementos humanos da obra, sua postura e os objetos que podem ser identificados.

Em seguida, peça aos estudantes que se reúnam em grupos e pesquisem informações sobre cientistas, invenções e descobertas da época em que as obras que observaram foram produzidas. Além de Niutom, seria interessante que todos conhecessem cientistas como antuâne lorân dê lavuaziê, Djeimesférgusson, , Bleize Pascal, Robert Boil, Róbertchi Rúqui e Lineu.

Se julgar oportuno, a fim de incentivar a pesquisa, comente um exemplo antes de os estudantes iniciarem a tarefa: o botânico e zoólogo sueco cáu von linê, conhecido como Lineu, propôs, em 1735, uma classificação hierárquica da natureza, organizando-a em reinos, que se subdividiam em filos, classes, ordens, famílias, gêneros e espécies. Trata-se, pois, de um ordenamento do mundo com base na racionalidade científica europeia.

Feita a pesquisa, solicite aos grupos que produzam um texto sobre os temas investigados, incluindo o local e a época em que os cientistas viveram, a área de pesquisa de cada um e a importância dos estudos desenvolvidos por eles.

Peça aos grupos que compartilhem o texto produzido com os demais colegas.

O pensamento cartesiano

O matemático e filósofo francês Renê Decarte, que viveu de 1596 a 1650, afirmava que se devia duvidar de todas as certezas preconcebidas e confiar apenas na experiência e no conhecimento verificável. O propósito inicial de Decárte era encontrar um método seguro que conduzisse à verdade inquestionável.

Assim, Decárte procurou desenvolver um método em que usava a matemática para construir conhecimento. O tipo de raciocínio matemático, a ordem, a lógica e as deduções, segundo ele, deveriam ser utilizadas para analisar a realidade dos fenômenos do mundo, do corpo e da mente humana. Em 1637, Decárte escreveu o livro Discurso do método, em que se destacou sua famosa frase: “penso, logo existo” (em latim, ”).

Ao afirmar que as pessoas deviam se guiar por uma dúvida metódicaglossário e constante, Decárte enfrentou a hostilidadeglossário de vários grupos. As igrejas e os detentores do conhecimento tradicional nas universidades europeias consideravam essas ideias problemáticas e heréticas. Decárte acabou sendo expulso da França e morreu durante o exílio na Suécia, em 1650, mas por seu trabalho, que possibilitou a discussão sobre ciência e ética no século dezessete, ele é considerado o precursor da filosofia moderna.

Gravura em preto e branco. Apresenta dois quadros verticais, lado a lado. À esquerda, representação de uma pessoa sentada de lado, em perfil, com o braço direito flexionado e apoiado sobre uma superfície. A mão está sobre uma chama. No dorso da mão, está escrita a letra B e, na chama, a letra A. Dentro da cabeça, há filamentos ramificados. À direita, representação de uma pessoa sentada de lado, em perfil, com o braço direito flexionado e a mão apontando diagonalmente para cima. Da ponta do dedo sai uma reta na direção de uma flecha que está à frente da pessoa, com os pontos A, B e C marcados de cima para baixo, equidistantes. Da flecha saem outras retas em direção aos olhos da pessoa, originando pontos. Dentro da cabeça,  pontos marcados com letras e números. O centro do cérebro se interliga com os músculos do braço.
Gravura em preto e branco. Apresenta dois quadros verticais, lado a lado. À esquerda, representação de uma pessoa sentada de lado, em perfil, com o braço direito flexionado e apoiado sobre uma superfície. A mão está sobre uma chama. No dorso da mão, está escrita a letra B e, na chama, a letra A. Dentro da cabeça, há filamentos ramificados. À direita, representação de uma pessoa sentada de lado, em perfil, com o braço direito flexionado e a mão apontando diagonalmente para cima. Da ponta do dedo sai uma reta na direção de uma flecha que está à frente da pessoa, com os pontos A, B e C marcados de cima para baixo, equidistantes. Da flecha saem outras retas em direção aos olhos da pessoa, originando pontos. Dentro da cabeça,  pontos marcados com letras e números. O centro do cérebro se interliga com os músculos do braço.
Gravuras da edição de 1677 do livro O homem, de Renê Decarte.
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Imagens em contexto!

Decárte procurava organizar de maneira sistemática o que observava a fim de encontrar a lógica de funcionamento de seus objetos de pesquisa. Nessas gravuras da obra O homem, ele representou seus estudos a respeito dos movimentos involuntários do corpo. A primeira imagem ilustra um trecho em que Decárte procurou mostrar a relação entre as sensações e as reações do corpo a um fenômeno externo – no caso, a mão próxima ao fogo. A segunda imagem também explora o funcionamento dos sistemas sensoriais do corpo, mas, nesse caso, investigando a visão.

Respostas e comentários

Ampliando

No texto a seguir, o historiador da ciência Paolo Rossi apresenta a repercussão da filosofia de Decárte.

“A grande construção do pensamento de Decárte se apresentou à cultura europeia como um sistema reticências fundado na razão; excluía definitivamente qualquer recurso a fórmas de ocultismo e de vitalismo, parecendo capaz de conectar ao mesmo tempo (de um modo diferente daquele que havia sido realizado pela Escolástica na Idade Média) a ciência da natureza, a filosofia natural e a religião A penetração e a difusão do pensamento de Decárte foram lentas e difíceis; acompanhadas por acirradas polêmicas. Após ser banida das universidades reticências a filosofia de Descartes foi condenada em todos os Países Baixos por um edito do Sínodo de dordréchiti em 1656.

reticências

Nas últimas décadas do século o pensamento de Decárte conquistara as grandes universidades europeias enquanto as condenações foram caindo em desuso. Durante toda a segunda metade do século dezessete a filosofia e a física de Decárte permanecem no centro da cultura europeia. Com a perspectiva de Decárte medem fôrças também rróbis, Espinoza, láibniz e, mais tarde, também os grandes expoentes do iluminismo, assim como os grandes críticos da filosofia de Decárte, desde lóqui até Vico, confrontar-se-iam com as suas teses.”

ROSSI, P. O nascimento da ciência na Europa moderna. Bauru: êdúsqui, 2001. página 195, 196.

Outro pensador do período que teve suas ideias combatidas foi o físico italiano Galileu Galilei (1564­‑1642). Por causa de suas observações astronômicas e da concordância com a teoria heliocêntrica, de Nicolau Copérnico (1473-1543), Galileu foi perseguido pela Inquisição. Em 1633, após um longo processo no Tribunal do Santo Ofício, ele foi declarado “suspeito de heresia” e obrigado a retratar-se publicamente. O reconhecimento pela Igreja Católica do erro histórico de condenar as ideias de Galileu ocorreu mais de três séculos depois, em 1992.

Curadoria

Robinson Crusoé (Livro)

Daniel defou. São Paulo: Autêntica, 2021.

Nesse livro, publicado pela primeira vez em 1719, Daniel defou, através de uma perspectiva eurocêntrica, narra as aventuras de um jovem europeu que viajou pela África, pelo Brasil e pelo Caribe, onde acabou naufragando. Na ilha onde aportou, conseguiu se impor por meio da racionalidade e do conhecimento.

O pensamento político

A Inglaterra das revoluções foi palco de muitas discussões sobre cidadania. As ideias do pensador inglês Djón Lóque, que viveu de 1632 a 1704, influenciaram a crítica ao Antigo Regime e o desenvolvimento da ideia de representação política.

Em sua obra Dois tratados sobre o governo civil, lançada em 1690, lóqui criticou o poder despóticoglossário e afirmou que o Estado e a política deveriam existir para melhorar a sociedade. De acordo com ele, os governos deveriam ampliar o conforto e a liberdade dos agrupamentos sociais. Se um governo fosse arbitrárioglossário , os homens teriam não só o direito, mas também o dever de derrubá-lo.

Entrava em cena uma transformação importante: o conceito de súdito dava lugar ao de cidadão. Um súdito estava submetido à autoridade monárquica: o rei representava o reino como se fosse uma extensão dele (as leis, as terras, os cargos etcétera). A soberania de um Estado, ou seja, o poder de tomar decisões, estava nas mãos do monarca.

Isso mudou com a ideia de cidadania, de acordo com a qual todos os cidadãos tinham os mesmos direitos e deveres. Em vez de representar uma propriedade do monarca, o Estado passou a pertencer aos cidadãos. A soberania partia do povo, que a transferia ao governante, como um representante da sociedade.

Com essas ideias, lóqui se opôs a teóricos como Tômas Róbes, para quem a natureza humana era naturalmente má, havendo, por isso, a necessidade de um poder centralizado para limitar o impulso ruim e assegurar a vida em sociedade.

Na época do Antigo Regime, as ideias de lóqui eram consideradas perigosas para a ordem das coisas, pois contestavam o poder absoluto do rei.

Pintura. Representação de um homem de cabelos grisalhos, longos até o ombro, e lisos. Ele está com o rosto voltado para a esquerda. Tem rugas ao redor dos olhos, nariz fino e comprido, veste uma camisa de gola branca e um casaco grosso em marrom.
Retrato de Djón Lóque, pintura de Gódfri Néler, 1697.
Fotografia. Vista frontal de uma construção formada por um prédio retangular baixo de telhado plano sobre o qual há duas construções em formato ovalado, uma com a base para baixo, e a outra com a base para cima; atrás deste, vista de uma bandeira do brasil hasteada. No centro, dois prédios altos de mesmo tamanho, lado a lado. À frente do prédio um espelho d’água e rampa na cor branca. No alto, céu do entardecer, azulado.
Prédio do Congresso Nacional, séde do Poder Legislativo federal, em Brasília (Distrito Federal). Foto de 2018. Pelo pensamento de lóqui, pode-se considerar esse poder o mais importante, pois é o responsável pela elaboração das leis que devem guiar os cidadãos.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Quais foram as principais motivações da Revolução Puritana? Identifique os grupos envolvidos nesse conflito.
  2. A deposição de Jaime segundo pelo Parlamento deflagrou a Revolução Gloriosa. Explique as principais consequências desse evento político.
  3. Explique como as ideias de Djón Lóque contribuíram para que o conceito de súdito desse lugar ao de cidadão.
Respostas e comentários

Orientação para as atividades

Incentive os estudantes a seguir os procedimentos para a resolução das atividades que constituem uma ferramenta de estudo do texto: ler cuidadosamente as perguntas; retomar a leitura das seções pertinentes, identificando as informações necessárias e anotando-as no caderno; elaborar respostas autônomas iniciais. Esses procedimentos envolvem a identificação e a caracterização de grupos sociais e ideias e o estabelecimento de relações de causalidade.

Agora é com você!

1. A Revolução Puritana decorreu de um processo de insatisfação com o reinado dos Stuart, que ignoravam o Parlamento nas discussões sobre a aprovação de impostos e adotavam uma política autoritária. O conflito envolveu o grupo dos cavaleiros (formado pela alta nobreza e o clero anglicano), que defendia a monarquia, e o dos cabeças redondas (formado pelos puritanos, burgueses e integrantes da gentry e das camadas populares), que eram defensores do Parlamento. Também participaram grupos mais radicais, como os levellers e os diggers, que propunham, respectivamente, o direito de voto a todos os homens livres e a reforma agrária.

2. Em razão da deposição de Jaime segundo, sua filha, Maria Stuart, assumiu o trono. Ela era casada com Guilherme de Orange, dos Países Baixos. O novo reinado se iniciou garantindo a autonomia do Parlamento e a submissão dos reis à instituição. O documento Bill of Rights, de 1689, consagrou a monarquia parlamentar constitucional.

3. Para Djón lóqui, o Estado e a política deveriam existir para melhorar a sociedade. Segundo ele, se um governo fosse despótico, os homens teriam não só o direito, mas também o dever de derrubá-lo. Essas ideias incentivaram a transformação da condição de súdito para a de cidadão. Enquanto o súdito estava submetido à autoridade monárquica, o cidadão tinha direitos e deveres. Assim, o Estado, em vez de representar uma propriedade do monarca, passou a pertencer aos cidadãos.

O iluminismo: nova modernidade na Europa

No século dezoito, técnicas, instrumentos de observação e de medição mais eficazes, a prática da dúvida como método e a matematização do mundo natural se tornaram ferramentas para explicar os fenômenos naturais, sociais e econômicos.

Acreditava-se que somente a luz da razão acabaria com a escuridão da ignorância e do pensamento religioso dogmáticoglossário . Por esse motivo, são comuns as referências ao século dezoito como século das luzes e aos pensadores que defendiam a razão acima da superstição, em defesa do progresso e da plena felicidade, como iluministas.

Os pensadores iluministas criticavam vários aspectos da ordem vigente. No campo político, o principal alvo era o absolutismo monárquico. Para Djón Lóque e jeãn jác russô, por exemplo, o poder de governar não tinha origem em Deus, mas em um pacto entre governante e governados, com direitos e deveres para ambas as partes.

Por meio desse pacto, chamado contrato social, estabelecia-se a ideia de que o governo era uma criação humana na qual o monarca recebia dos súditos o direito de governar. Seu poder, portanto, não era ilimitado nem irrestritoglossário .

No campo social, as críticas dos iluministas se direcionavam às desigualdades e aos privilégios que serviam de base para a divisão estamental, em que a nobreza e o clero eram isentos da maioria dos impostos e monopolizavam os cargos mais importantes. Os iluministas defendiam, portanto, a liberdade individual e a igual- dade jurídica, base da ideia de cidadania, como princípios que deveriam nortear as sociedades.

Ao se opor às superstições e ao pensamento religioso dogmático como princípios usados para entender o mundo, o pensamento iluminista acentuou o declínio do poder da Igreja e do clero.

Caricatura. Homem representado com cabeça e testa avantajadas, olhos pequenos, nariz fino e lábios pequenos. O cabelo é claro, curto com ondulações nas pontas. Veste uma camisa de gola branca e casaco em marrom, com botões em bege escuro.
Caricatura atual representando cânti, inspirada na pintura de iôrrân gótlib béquer, produzida em 1768.

Pensadores iluministas franceses

Na França, um dos principais centros do iluminismo, essa fórma de pensar se propagou sobretudo entre os integrantes da elite. Aristocratas e ricos burgueses promoviam saraus e salões de leitura nos quais se discutiam e divulgavam as ideias iluministas.

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cânti foi um importante filósofo que viveu de 1724 a 1804. Ele acreditava que, por meio da razão e ousando saber, o ser humano seria capaz de pensar por si próprio e livrar-se das amarras que o prendiam a um estado de imaturidade.

Respostas e comentários

BNCC

Ao tratar do pensamento político moderno e do iluminismo, o conteúdo favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero um.

Comente com os estudantes que o desrespeito ao pacto social poderia ocorrer, por exemplo, por meio da violação dos chamados direitos naturais, como o direito à vida, à liberdade e à propriedade. Esses direitos seriam inalienáveis, isto é, não poderiam ser retirados ou limitados por ninguém, salvo em situações muito específicas (como na de um crime). Uma das funções do governante era preservar e garantir esses direitos.

De acordo com os pensadores iluministas, a população poderia questionar o governante, atitude incompatível com o poder absoluto do monarca no Antigo Regime. Isso pode ser observado nas ideias de Russô. Apesar de, adiante no capítulo, esse pensador francês e suas contribuições serem explorados, seria apropriado apresentar neste momento o conceito de contrato social com base em sua obra.

Retome os significados e as implicações das sociedades estamentais. Em substituição aos privilégios dos nobres e dos religiosos, os iluministas reivindicavam a igualdade jurídica dos cidadãos. Continue, porém, contextualizando historicamente o conceito de cidadania e comente que ele convivia com a desigualdade de gênero, tanto na Europa quanto nas colônias americanas, com a escravização de negros e com a inferiorização de indígenas. Portanto, nesse período, a cidadania não era estendida às mulheres, à população negra e aos povos indígenas.

Ampliando

Chame a atenção dos estudantes para a ideia de que, antes de um povo se submeter a qualquer autoridade, já é soberano. Desse modo, para Russô, o ato fundacional de uma sociedade reside na associação dos sujeitos que se reconhecem de modo unânime como povo e, por isso, se unem. Segundo suas palavras:

“Antes, pois, de examinar o ato pelo qual um povo elege um rei, convirá examinar o ato pelo qual um povo é povo, pois esse ato, sendo necessariamente anterior ao outro, constitui o verdadeiro fundamento da sociedade.”

Russô, J.-J. Do contrato social. São Paulo: Nova Cultural, 1999. página 68.

Em Paris, uns dos principais centros de discussão filosófica eram os salões literários promovidos por Marrí-Terrêse Rodê Jufrán, que viveu de 1699 a 1777. Em sua casa, duas vezes na semana, artistas, pensadores, literatos e outras personalidades se encontravam para leituras e discussões.

Voltaire

Mais conhecido pelo pseudônimo de voltér, françuá marré arruê foi um filósofo e escritor que viveu na França de 1694 a 1778. Ele ficou conhecido por tecer duras críticas ao absolutismo e à Igreja Católica e por defender as liberdades individuais e de pensamento em dezenas de peças teatrais, ensaios, poemas e romances.

Entre suas principais obras, destacam-se Cartas inglesas, publicadas em 1734, nas quais reflete sobre temas como a sociedade inglesa, a Real Academia de Ciências e o pensamento de Djón Lóque e de izáqui nílton (comparando-o ao de Decárte); e Cândido, ou O otimismo, livro de ficção publicado em 1759, em que o personagem-título deixa um mundo ideal e se decepciona com a realidade que encontra pelo caminho.

voltér manteve posições conservadoras em algumas questões; por exemplo, na defesa da monarquia como fórma de governo, desde que orientada pelos princípios iluministas. Do ponto de vista social, o filósofo teve pouca consideração pelas camadas populares, que considerava ignorantes e rudes.

Pintura. Interior de um salão decorado com pinturas penduradas nas paredes, algumas retangulares, quadradas e outras circulares. Cerca de 50 pessoas estão reunidas nesse local, aproximadamente a metade delas está sentada em semicírculo. Ao fundo, há homens e mulheres em pé. No centro do salão, uma pequena mesa com uma toalha verde escura e um livro aberto. Em segundo plano, a escultura do busto de um homem. As pessoas ao redor da mesa estão sentadas sobre cadeiras; ao fundo, as demais estão em pé, lado a lado; a maioria das mulheres está sentada. Os homens usam perucas com cabelos brancos, cacheados, divididos ao meio. Alguns tem os cabelos cacheados brancos e longos presos com um laço. Eles vestem trajes compostos por casaco, colete, camisa branca, calças, meias longas brancas até os joelhos e sapatos escuros com fivelas douradas. Os casacos e calças deles são coloridos, em tons de vermelho, azul, verde, cinza, marrons e outros. As mulheres tem cabelos brancos, longos, cacheados. Algumas delas os têm presos, cobertos por lenços de cor escura. Elas trajam vestidos longos, de mangas compridas, saias longas armadas, e em diferentes cores, em tons de branco, azul, amarelo, entre outras.
Leitura da tragédia O órfão da China, de voltér, no salão de madame Geoffrin, pintura de Anicé Chárle Gabriél Lemoniê, 1812.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

As salonnières, proprietárias e organizadoras dos salões literários, constituíram um importante grupo de mulheres instruídas que conseguiram converter o espaço doméstico, concebido para mantê-las afastadas do espaço público, em locais de discussão política, filosófica e científica.

Dica

LIVRO

Cândido ou O otimismo, de voltér. São Paulo: Escala, 2008. (Coleção Filosofia em Quadrinhos).

Nessa adaptação da obra de voltér para quadrinhos, a história do ingênuo Cândido é narrada de maneira descomplicada, com bastante humor.

Respostas e comentários

As salonnières foram um exemplo de protagonismo feminino no iluminismo. A existência de mulheres articulando reuniões pode ser utilizada para confrontar a ideia de que apenas os homens participaram do movimento. Também é interessante chamar a atenção dos estudantes para a importância dos ambientes privados, transformados em espaços de debate coletivo, e dos saraus como eventos de contestação social.

Reforce o fato de que o caráter elitista do pensamento iluminista não o tornou inválido. Esse apontamento é importante para situar socialmente o movimento e sensibilizar os estudantes para seus limites e contradições, reconhecendo, de maneira crítica, seu legado e suas apropriações. No século dezoito, insistia-se na importância do letramento para o exercício da cidadania. Mesmo os jacobinos, que compunham o grupo mais radical da Revolução Francesa, defendiam esse ponto, assim como fizeram muitos niveladores das Revoluções Inglesas.

O iluminismo foi defendido em diferentes países da Europa e na América, manifestando-se em diversas áreas, entre elas a filosofia, a arte, a economia e a política.

Historiadores como róbert darntôn, na obra O beijo de Lamourette (São Paulo: Companhia das Letras, 1990), matizam a existência do iluminismo apenas entre nobres de toga e de espada e plebeus ricos e remediados, que constituíam os salões na época do chamado alto iluminismo. Nesses lugares, as ideias iluministas foram sendo gradualmente difundidas a acadêmicos de diferentes níveis, mas não chegaram a alcançar os grupos mais pobres ou os capitalistas.

Barão de Montesquiê

chárle luí dê secondá, barão de Montesquiê, viveu na França de 1689 a 1755. Ele defendeu a divisão dos poderes como fórma de impedir governos despóticos.

Em sua principal obra, O espírito das leis, publicada em 1748, propôs a separação do Estado em três poderes independentes. O Poder Executivo se encarregaria de administrar e executar as leis, elaboradas pelo Legislativo. Ao Judiciário caberia julgar conflitos e a aplicar penas em caso de infrações às leis. Desse modo, sem interferir nas demais áreas, nenhuma instânciaglossário concentraria o poder.

Jean-Jacques Rousseau

Nascido em Genebra, na Suíça, em 1712, jeãn jác russô é considerado um dos pensadores iluministas mais radicais. Na obra Do contrato social, publicada em 1762, ele defendeu a ideia de que a soberania residia no povo, e não no governante.

Sua radicalidade se expressava na defesa do sistema republicano, dos direitos naturais inalienáveisglossário e  de formas igualitárias de sociedade. Afirmando que a propriedade privada era a causa das desigualdades sociais, Russô acreditava que a natureza humana era boa, mas a vida em sociedade desvirtuava essa essência.

No livro Emílio, ou Da educação, publicado em 1762, defendeu a educação como fórma de combater os vícios que afligiam a sociedade. O pensador faleceu em 1778.

A Enciclopédia

Para os iluministas, não bastava produzir conhecimento com base na razão. Também era preciso divulgá-lo. Por isso, Denis Diderrô e jân lerôn dalembér, que viveram, respectivamente, de 1713 a 1784 e de 1717 a 1783, organizaram a Enciclopédia.

O projeto contou com dezenas de intelectuais, filósofos e artistas, que pretendiam reunir e divulgar o conhecimento científico e refutarglossário os dogmas religiosos.

Nas dezenas de volumes da obra, editada entre 1751 e 1772, havia mais de 70 mil verbetesglossário e milhares de ilustrações. A Enciclopédia sofreu censura, principalmente pelo tom anticlericalglossário e foi incluída no índequis, lista dos livros proibidos pela Igreja.

Gravura em preto e branco. Em um ambiente fechado, com janelas amplas gradeadas, seis pessoas exercem diversos tipos de atividades vinculadas à produção de papel. A maioria delas está debruçada sobre uma mesa, manipulando instrumentos. Um delas, ao fundo, utiliza uma haste para pendurar uma folha de papel em um varal, que conta com diversas outras folhas, já penduradas. Há letras e figuras numeradas em cada uma das atividades realizadas pelas pessoas e em alguns dos objetos representados na cena.
Produção de papel, gravura da Enciclopédia em que é representado o trabalho de confecção de papel, século dezoito.
Respostas e comentários

Dados numéricos a respeito da organização da Enciclopédia foram retirados de: ENCICLOPÉDIA. Superinteressante, 31 outubro 2016. Disponível em: https://oeds.link/4wDscX. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

Na historiografia sobre o iluminismo, procura-se cada vez mais explicitar as relações entre ideias e sociedade a fim de evitar que o tema seja tratado como uma revolução do pensamento desconectada das condições materiais da existência. róbert darntôn, em O iluminismo como negócio (São Paulo: Companhia das Letras, 1996), analisa os conflitos relacionados à Enciclopédia pensando na centralidade que alcançou a filosofia naquela sociedade.

A fórma de governo baseada na divisão em três poderes, defendida por Montesquiê, é preconizada na maior parte das constituições do mundo atual.

Proponha aos estudantes uma reflexão sobre um dos motivos para a organização da Enciclopédia: a vontade de controlar e classificar a natureza. Com o desenvolvimento das bases epistemológicas do pensamento científico moderno, calcado na observação, na experimentação e no raciocínio analítico, houve uma alteração na relação entre humanidade e natureza: as pessoas passaram a se colocar, de maneira mais contundente, na posição de domínio sobre os outros seres – animais, vegetais ou minerais. Essa mudança no pensamento europeu, fundamental para o desenvolvimento do capitalismo, trouxe consequências catastróficas para a continuidade da vida humana no planeta. A crítica ao domínio da natureza com base no conhecimento instrumentalizado foi feita posteriormente por pensadores da Escola de Frankfurt, como têodór adôrno (1903-1969).

Retome a ideia do método científico e discuta com os estudantes a dimensão do projeto enciclopédico. Pergunte-lhes se sabem quantas pessoas estão envolvidas no trabalho de produção de materiais e publicações científicas e de divulgação que eles utilizam. Uma sugestão é utilizar como exemplo o livro didático, mostrando-lhes a página de créditos, na qual eles poderão constatar a quantidade de profissionais envolvidos na produção da obra e a função de cada pessoa no processo. Assim, fomenta-se a atitude de indagação científica e a de reconhecimento da complexidade das relações de trabalho envolvidas na produção de itens do cotidiano.

Vamos pensar juntos?

No mundo de hoje, a possibilidade de buscar e acessar informações a qualquer hora e em diferentes lugares se amplia cada vez mais. É comum o uso de enciclopédias digitais, entre elas a uiquipédia, que se destaca pela facilidade de acesso.

Fotografia. Parte de uma tela de computador que mostra o acesso ao site da Wikipédia. No canto superior esquerdo, o logotipo do site e um menu. No centro da página a bandeira do Brasil, o verbete Brasil e um trecho do texto sobre ele.
Verbete sobre o Brasil no site da Wikipédia em português. Foto de 2018.

Para quem está acostumado a isso, talvez seja difícil compreender o esforço dos enciclopedistas do século dezoito e a importância de seu projeto, a Enciclopédia. Leia o texto a seguir e, depois, faça as atividades.

“Analisando o modo como a uiquipédia se configura, podemos entender que a rapidez, a instantaneidade, estariam fortemente presentes em sua constituição. reticências seus verbetes reticências podem ser criados, modificados ou mesmo eliminados em questão de segundos ou minutos.

reticências

No iluminismo, quando foi produzida uma das mais célebres enciclopédias de todos os tempos, a Encyclopédie reticências [Enciclopédia], a elaboração dos seus vinte e oito volumes e setenta e dois mil artigos prolongou-se por vinte e um anos.

Embora enciclopédias reticências atualizem seus conteúdos com mais frequência, o que geralmente ocorre são atualizações a cada um ou vários anos, e o número de novos verbetes ou de alterações é bastante reduzido.

Juntamente com esta primeira característica, estaria uma outra, também central: a autoria colaborativaglossário . Para nós, por possibilitar que um número maior de sujeitos faça parte da escritura de seus verbetes, com a uiquipédia estaríamos diante do que [o filósofo michél] pêchê reticências denominou de ‘reorganização social do trabalho intelectual’.

Não é mais o monge ou o teólogo da Idade Média, o humanista do século dezesseis, o filósofo iluminista, ou ainda uma equipe de especialistas que elaboram as ‘coisas a saber’ reticências os saberes são postos em circulação por diferentes sujeitos que se encontram em diferentes lugares e momentos.”

iscôta, L. Da enciclopédia e da uiquipédia: uma leitura discursiva. Arte – Revista de Estudos em Linguagem e Tecnologia, ano 2, número 2, página 77-78, fevereiro 2009.

Responda no caderno.

  1. Segundo o texto, de que fórma as enciclopédias digitais ampliaram a produção de conhecimento?
  2. Descreva o que há em comum entre o projeto da Enciclopédia iluminista e as enciclopédias digitais atuais.
  3. Quais são as diferenças entre as enciclopédias tradicionais e a uiquipédia?
  4. Se qualquer pessoa pode inserir informações nos verbetes, como saber se as enciclopédias digitais são confiáveis? Avalie os problemas que o sistema desenvolvido pela uiquipédia pode trazer.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a relação entre passado e presente, abordando a questão do conhecimento e de sua divulgação em enciclopédias, a seção “Vamos pensar juntos?” mobiliza a Competência Geral de Educação Básica nº 2, a Competência Específica de Ciências Humanas nº 5 e as Competências Específicas de História nº 2, nº 6 e nº 7.

Vamos pensar juntos?

Pretende-se, com essa seção, explorar o pensamento científico e estabelecer paralelos entre o projeto enciclopedista iluminista e o atual desenvolvimento de enciclopédias digitais, considerando um cuidado especial com a crítica de fontes no caso da escrita colaborativa.

Atividades

1. Ao possibilitar que diferentes pessoas, em locais e momentos distintos, inserissem e corrigissem verbetes e informações, as enciclopédias digitais ampliaram a participação de sujeitos na elaboração do saber, o que pêchê denominou “reorganização social do trabalho intelectual”.

2. A Enciclopédia iluminista foi um grande projeto editorial do século dezoito. Os participantes desse projeto pretendiam catalogar o conhecimento de todas as áreas da maneira mais abrangente possível. Nesse sentido, tanto ela quanto as enciclopédias digitais foram concebidas com o objetivo de catalogar e divulgar o saber.

3. Uma das diferenças está na velocidade e na quantidade de atualizações. As atualizações das enciclopédias tradicionais geralmente demoram alguns anos e as inserções de verbetes tendem a ser reduzidas. Já as digitais são construídas em pouquíssimo tempo e contam com rápida e constante inserção de informações.

4. Espera-se que os estudantes compreendam que é possível verificar a confiabilidade das informações veiculadas, consultando as fontes utilizadas na elaboração do verbete publicado na plataforma da enciclopédia digital. Aliás, a avaliação e problematização das fontes de informação constituem uma etapa do raciocínio crítico. Além disso, o cruzamento de dados e a verificação de versões são essenciais não apenas para identificar e avaliar a qualidade dos dados, mas também para evitar a propagação de informações falsas e o plágio.

A fisiocracia e o liberalismo econômico

O absolutismo foi o principal alvo do pensamento político iluminista, e as práticas do mercantilismo, que você estudou no 7º ano, foram duramente criticadas por pensadores que se dedicaram ao estudo da economia. A intervenção do Estado na economia, o metalismo, a manutenção de níveis de exportação superiores aos de importação, os monopólios comerciais e os pactos coloniais foram amplamente contestados.

Os teóricos do liberalismo econômico tinham em comum a defesa da livre iniciativa e da autorregulação do mercado, que não necessitaria de intervenção ou contrôle do Estado para ocorrer. Assim como no pensamento político, porém, havia diversas propostas. A seguir, você estudará duas vertentes do pensamento econômico liberal: a dos fisiocratas franceses e a dos que defendiam o liberalismo clássico inglês.

Os fisiocratas

Formada na França, a fisiocracia (do grego “poder” ou “domínio da natureza”) implicava a ideia de que a geração de riqueza se encontrava na propriedade da terra; portanto, a principal atividade econômica seria a agricultura. françuá quêsné, que viveu de 1694 a 1774, na obra chamada Quadro econômico, de 1759, estabeleceu esse princípio e outros fundamentos do pensamento fisiocrata.

Pintura. Homem de cabelos longos, cacheados e brancos. Ele aparece segurando um livro nas mãos, e vestindo um casaco escuro com babados na gola e no punho na cor branca.
Retrato de françuá quêsné, pintura do século dezoito.

Além dele, destacou-se o marquês de gurné, economista que viveu de 1712 a 1759, cuja frase Laissez faire, laissez passer (“Deixe fazer, deixe passar”) tornou-se marca do pensamento liberal francês. A ideia era deixar as coisas (em especial o mercado e a economia) seguirem o próprio ritmo, sem a necessidade de constantes intervenções do Estado.

Pintura. Vista ampla de um campo aberto. Em primeiro plano, na parte inferior da pintura, área sombreada, com pastagem, onde há um pastor cuidando do rebanho, composto por vacas em marrom e branco e ovelhas brancas; à direita, uma árvore frondosa. Em segundo plano, área iluminada pela luz solar, com uma concentração de construções; ao redor, vegetação rasteira e algumas árvores. Em terceiro plano, no alto, céu azul com algumas nuvens em cinza e branco.
Perspectiva de Leeds, pintura de nêitan têodór fíldin, cêrca de 1800.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O cultivo agrícola e a criação de animais dominaram parte da paisagem rural britânica até meados do século dezenove.

A pintura fornece um registro da cidade de Leeds, no norte da Inglaterra, em um estágio inicial de sua transformação em centro industrial, pouco antes de sua arquitetura ser dominada pela reconstrução maciça e pela expansão industrial no início daquele século.

Respostas e comentários

Ampliando

No texto a seguir, o historiador Eric róbisbáum discorre sobre a importância do ambiente rural na Europa moderna, ajudando a contextualizar o pensamento fisiocrata.

“O mundo em 1789 era essencialmente rural e é impossível entendê-lo sem assimilar este fato fundamental. reticências De fato, exceto em algumas áreas comerciais e industriais bastante desenvolvidas, seria muito difícil encontrar um grande Estado europeu no qual ao menos quatro de cada cinco habitantes não fossem camponeses. E até mesmo na própria Inglaterra, a população urbana só veio a ultrapassar a população rural pela primeira vez em 1851.

A palavra ‘urbano’ é certamente ambígua. Ela inclui as duas cidades europeias que por volta de 1789 podem ser chamadas de genuinamente grandes segundo os nossos padrões – Londres, com cêrca de 1 milhão de habitantes, e Paris, com meio milhão – e umas 20 outras com uma população de 100 mil ou mais Mas o termo ‘urbano’ também inclui a multidão de pequenas cidades de província, onde se encontrava realmente a maioria dos habitantes urbanos; aquelas onde o homem podia, a pé e em poucos minutos, vencer a distância entre a praça da catedral, rodeada pelos edifícios públicos e pelas casas das celebridades, e o campo. reticências

O problema agrário era portanto fundamental no ano de 1789, e é fácil compreender por que a primeira escola sistematizada de economistas do continente, os fisiocratas franceses, tomara como verdade o fato de que a terra, e o aluguel da terra, era a única fonte de renda líquida. E o ponto crucial do problema agrário era a relação entre os que cultivavam a terra e os que a possuíam, os que produziam sua riqueza e os que a acumulavam.”

róbisbáum, E. A era das revoluções: 1789-1848. vigésima quinta edição São Paulo: Paz e Terra, 2010. página 32-33, 36.

Curadoria

História do pensamento econômico (Livro)

E. K. rãnt; H. J. chérman. Petrópolis: Vozes, 2013.

Nesse livro, ao longo de treze capítulos, são discutidas as doutrinas e a história do pensamento econômico e da formação do capitalismo contemporâneo. Entre outras abordagens, a obra analisa a elaboração da economia mercantilista, o liberalismo clássico e o papel ideológico do laisse faire.

Liberalismo clássico inglês

No fim do século dezoito, a Inglaterra passava por um impactante fenômeno: a Revolução Industrial. Esse processo, que você estudará de fórma aprofundada no próximo capítulo, impôs novos conceitos sobre a produção, o consumo e a circulação de bens e mercadorias, assim como sobre as relações de trabalho e o papel do Estado na economia. Nesse contexto, os liberais britânicos defenderam propostas que favoreciam a economia industrial.

A principal referência no período foi o pensador escocês Adam Ismíf, que viveu de 1723 a 1790. Autor do livro A riqueza das nações, publicado em 1776, em que fundamentou o liberalismo clássico, Ismíf contestou as práticas mercantilistas, defendendo a livre iniciativa econômica e a livre concorrência, o que incentivaria o trabalho e beneficiaria a nação.

Diferentemente dos fisiocratas, Ismíf e outros pensadores do liberalismo clássico entendiam que a geração de riquezas de uma nação não provinha da propriedade da terra, mas do trabalho humano.

Na perspectiva dele, o mercado detinha a capacidade de se regular pela lei de oferta e procuraglossário , sem medidas de contrôle do Estado. Para descrever o mecanismo de autorregulação do mercado, Ismíf utilizou a metáfora da mão invisível: um princípio impossível de visualizar, mas que agiria sobre preços, quantidade de produção etcétera, regulando-os conforme os interesses do mercado.

Os pensadores do liberalismo defendiam a ideia de que a riqueza era infinita, pois a partir dela era possível gerar mais riqueza. Em outras palavras, quanto mais alguém vendesse algo, mais capital acumularia. Gastando esse capital, essa pessoa impulsionaria a fabricação de outros bens, o que geraria mais renda e riqueza em um ciclo supostamente infinito.

Tirinha composta de quatro quadros. Apresenta Armandinho, um menino de cabelo farto em azul-escuro. Ele veste camiseta branca e bermuda azul, está sentado na sala de aula, sobre uma cadeira bege e diante de uma carteira da mesma cor. Apoiada sobre a carteira, uma mochila em vermelho. Armandinho está voltado para o lado esquerdo em todas as cenas, e observa a professora, que não pode ser vista. Quadro 1: a professora diz: NOSSA ESCOLA VAI PREPARAR VOCÊS PARA O MERCADO! Quadro 2: Armandinho levanta a mão manifestando o desejo de falar. A professora diz: DINHO? Quadro 3: Armandinho responde: ENTÃO A GENTE VAI SE ESFORÇAR TANTO... Quadro 4: Armandinho continua: ... PARA DEPOIS SER CONSUMIDO?
Armandinho, tirinha de Alexandre Beck, 2015.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A palavra mercado pode ter vários sentidos e ser percebida de distintas maneiras. Na tirinha, o personagem observa que pode se transformar em um objeto a ser produzido, preparado e depois consumido, e questiona o sentido disso. O mercado, ao qual Adam Smifi se refere, também envolve a ideia da fôrça de trabalho produzida e reproduzida para gerar riqueza às nações.

Respostas e comentários

Ampliando

De acordo com a economista Laura Valladão de Mattos:

apesar de Ismíf ser consensualmente associado à liberdade econômica, há muitas distorções na visão mais corrente sobre o autor no que concerne ao significado que esta assumiu em sua obra e às razões que ele aponta para a sua defesa. Não há como negar que Ismíf criticou duramente as diversas regulamentações e privilégios encampados pelos Estados nacionais de sua época e contrapôs a este conjunto de intervenções o seu ‘sistema de liberdade natural’. No entanto, as interpretações usuais sobre as razões pelas quais Ismíf rejeita o ‘intervencionismo’ e defende o ‘liberalismo’ são anacrônicas, estando muito mais relacionadas a concepções atuais sobre o funcionamento dos mercados, do que à visão que Ismíf tinha da economia e sociedade no final do século dezoito”.

MATTOS, L. V. As razões do laissez-faire: uma análise do ataque ao mercantilismo e da defesa da liberdade econômica na Riqueza das Nações. Revista de Economia Política, São Paulo, volume 27, número 1, página 109-110, janeiro/março 2007.

Parte das críticas de Ismíf ao mercantilismo devia-se aos privilégios que essa política acarretava para alguns grupos (sobretudo os de mercadores e proprietários de ramos da manufatura), em detrimento de outros (principalmente os de donos de terra, fazendeiros e trabalhadores rurais). Para ele, essa lógica de benefício a grupos específicos prejudicava a produção da riqueza de modo geral. No entanto, sua perspectiva não era unânime, e boa parte da burguesia não só era favorável ao intervencionismo que Ismíf criticava, como o praticava por meio da atuação política no Parlamento.

Comente com os estudantes que hoje se sabe que a riqueza tem limites, pois os recursos do planeta Terra não são ilimitados. No século dezoito, porém, a crença generalizada era de que os recursos eram ilimitados. Esse pensamento – basilar para a expansão do capitalismo – fundamenta práticas extrativistas e maneiras de produção que afetam gravemente os recursos naturais e ameaçam a continuidade da vida humana no planeta. Considere apresentar aos estudantes as discussões a respeito do Antropoceno, época geológica que teria se iniciado com a Revolução Industrial, quando a intervenção humana no planeta passou a ser mais profunda.

O despotismo esclarecido

No século dezoito, alguns reis europeus empreenderam reformas inspiradas em princípios liberais e do iluminismo. Eles pretendiam modernizar a economia e a administração dos reinos, tornando-as mais eficientes, sem afetar as estruturas sociais (como os privilégios do clero e da nobreza) nem o poder absoluto que detinham. Essas reformas possibilitaram a formação de um tipo de governo que ficou conhecido como despotismo esclarecido.

Destacaram-se como déspotas esclarecidos José segundo, da Áustria, Frederico segundo, da Prússia (monarca que manteve constante diálogo com voltér, por meio de cartas e pessoalmente), Carlos terceiro, da Espanha, Catarina segunda, da Rússia, e dom José primeiro, de Portugal, que deixou a cargo do ministro Marquês de Pombal as reformas que influenciaram diretamente a política e a economia da América portuguesa, como você estudará adiante.

A déspota russa Catarina segunda

Catarina segunda (ou Catarina, a Grande) governou o Império Russo de 1762 a 1796. Conectada ao circuito intelectual do período, a rainha correspondia-se com vários iluministas, entre os quais Diderrô e voltér.

Catarina ampliou as universidades russas, diminuiu a violência das penas e aprovou, em 1773, o Edito da Tolerância, garantindo liberdade religiosa e de culto. Em 1783, fundou uma escola para moças nobres. Militarmente, reorganizou o exército e empreendeu uma série de guerras nas quais ampliou os territórios do império.

Em contrapartida, a rainha evidenciou os limites do despotismo esclarecido: reforçou os privilégios da nobreza, ampliando seus poderes políticos e garantindo-lhe a isenção de impostos, estendeu o regime de servidão no campo, reforçando a submissão dos servos aos nobres, e reprimiu violentamente protestos de camponeses contra a miséria e as péssimas condições de vida.

Pintura. Retrato de uma mulher vista de frente, de corpo inteiro. Ela tem o cabelo escuro ajeitado em duas tranças laterais e compridas. Usa uma grande coroa arredondada e veste um longo e farto vestido claro com detalhes e ornamentos dourados. Um manto dourado e claro nas bordas pende do vestido,. No torso, detalhes em dourado e uma faixa na diagonal em azul. Ela segura um cetro dourado com a mão direita e uma esfera dourada na mão esquerda. Ao fundo e à esquerda, há outras duas coroas sobre uma almofada vermelha em cima de um aparador; ao fundo e à direita, tecidos grossos em azul, vermelho e cinza.
Retrato de Catarina segunda, pintura de istéfano Torelli, século dezoito.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A reprodução de retratos dos déspotas esclarecidos era marcada pela representação de elementos que simbolizavam o poder, como o cetro, a coroa e o manto, típicos dos monarcas absolutistas. A pintura representa Catarina segundano dia de sua coroação.

Respostas e comentários

Ampliando

No texto a seguir, róbert darntôn relaciona o iluminismo ao Antigo Regime, matizando as relações entre aristocratas e iluministas, o que colabora para romper com a imagem polarizada de antagonismo entre esses grupos.

o iluminismo foi uma coisa bem amena. Em 1778, quando toda a Paris fazia seus salamaleques diante de voltér, a última geração de philosophes já se tornara subsidiada, amimalhada e totalmente integrada na alta sociedade. Dez anos depois, homens como morrêlê e dipôn empenhavam-se corajosamente em impedir o colapso do Antigo Regime, o que era absolutamente natural, pois o Alto Iluminismo era, em potencial, um de seus esteios mais importantes. quêsné, turgô e até voltér ofereceram um programa de reforma liberal, uma possibilidade de perpetuar a ordem social amortecendo seus conflitos. A ideia de subverter a sociedade, se algum dia chegou a lhes ocorrer, parecer-lhes-ia monstruosa. Não só acreditavam na estrutura básica do Antigo Regime, como também achavam que devia se manter hierárquica

Darntôn, R. O beijo de Lamourette. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. página 122.

O despotismo esclarecido floresceu em países menos desenvolvidos economicamente e mais submetidos aos interesses da nobreza feudal e do clero conservador, como a Rússia, a Espanha e Portugal. Apesar disso, reformas iluministas favoreceram a dispersão de reformas liberais, colocando a razão a serviço da máquina pública, mudando as leis e o funcionamento da burocracia e valorizando o ensino.

Valendo-se, por exemplo, do texto de (O beijo de Lamourette), evidencie o fato de que o iluminismo não foi precursor da Revolução Francesa. Assim, é possível explicar aos estudantes que os pensadores iluministas não necessariamente tinham a intenção de promover uma revolução, mas as condições socioeconômicas e o engajamento de diversos grupos contribuíram para a transformação da sociedade. Percebe-se, pela interpretação historiográfica presente no texto de Darton, que os iluministas desejavam mais reformar o Antigo Regime do que, de fato, fazer uma revolução.

Despotismo espanhol

O despotismo esclarecido na Espanha coincidiu com a ascensão da dinastia burbôm ao poder depois de uma grave crise sucessória. Os burbôm iniciaram uma série de reformas a fim de reorganizar o governo. As Reformas burbônicas, como ficaram conhecidas, atingiram tanto a Espanha como suas colônias e marcaram uma nova etapa na organização do Império Espanhol.

Na América, houve uma remodelação da organização territorial, administrativa e econômica. Para facilitar a administração, o governo acrescentou dois vice-reinos à América espanhola: o de Nova Granada (em 1717, restaurado em 1739 após breve reanexação ao Peru) e o do Rio da Prata (em 1776).

Além disso, os criollos foram excluídos de postos importantes, que passaram a ser ocupados apenas por funcionários espanhóis. Os jesuítas foram expulsos dos territórios do Império Espanhol sob a justificativa de que eles dificultavam a administração e constituíam um poder não submetido ao monarca.

Medidas progressistas, como concessão de liberdade de expressão e de imprensa, incentivo à propriedade privada e abertura dos portos para o comércio estrangeiro, foram empreendidas seguindo os preceitosglossário do liberalismo.

O objetivo do governo era fortalecer o comércio espanhol e modernizar o sistema administrativo, mas essas transformações provocaram o descontentamento de alguns grupos.

Os criollos, que tinham vantagens políticas, econômicas e sociais no antigo sistema, viram seus privilégios e lucros diminuírem. Já os indígenas e integrantes de camadas populares nas colônias foram profundamente afetados pelo aumento dos impostos.

Pintura. Um homem de peruca branca e curta, com ondulações na altura da orelha, veste uma armadura metálica. Na altura da cintura, um manto vermelho e farto; no torso, uma faixa diagonal em vermelho com detalhes em dourado. Ele segura um bastão com a mão direita, que está abaixada; com a mão esquerda ele aponta para o fundo da pintura. O cabo de uma espada embainhada está do lado esquerdo do seu corpo e pode ser vista apenas parcialmente. Atrás do homem, tecidos em vermelho e em branco com detalhes em dourado. Ao fundo, uma parede cinza com um tecido dourado à esquerda e uma coluna cinza no centro.
Retrato de Carlos terceiro, pintura de Anton Rafael , cêrca de 1761.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Um dos monarcas responsáveis pela política de reformas na Espanha foi Carlos terceiro, que reinou de 1759 a 1788. Entre as principais medidas implementadas por ele estavam a modernização do Estado, o fortalecimento da monarquia, o contrôle rígido da metrópole sobre os territórios na América, o aumento de impostos e a ampliação de fôrças militares.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique por que o século dezoito ficou conhecido como o século das luzes.
  2. Identifique aspectos do pensamento iluminista presentes no trabalho dos pensadores enciclopedistas do século dezoito. Explique por que eles foram perseguidos pela Igreja.
  3. Explique o conceito de despotismo esclarecido e cite exemplos de medidas tomadas por monarcas que seguiram seus princípios.
Respostas e comentários

Orientação para as atividades

Pensar historicamente ou desenvolver a atitude historiadora implica o domínio crescente da linguagem conceitual da história. Nas atividades do boxe “Agora é com você!”, mobiliza-se a habilidade de definir um conceito de época (século das luzes) e um conceito interpretativo (despotismo esclarecido). Além disso, as atividades envolvem a caracterização do pensamento iluminista e sua associação a alguns pensadores. Pode ser interessante acompanhar a realização das atividades, precedendo-as de orientações para que os estudantes deem mais atenção ao trabalho de definição conceitual envolvido.

Agora é com você!

1. No século dezoito, acreditava-se que a luz da razão acabaria com a escuridão e a ignorância que se consideravam presentes nos dogmas religiosos. Por isso, esse período ficou conhecido como o século das luzes, e os pensadores que defendiam a razão como o atributo para compreender o mundo natural e a humanidade ficaram conhecidos como iluministas.

2. A valorização da racionalidade científica e o anticlericalismo estavam presentes nos volumes da Enciclopédia. Os iluministas criticavam as superstições e o pensamento religioso como parâmetros para entender e explicar o mundo, o que poderia afetar diretamente a influência e o poder da Igreja; por isso, foram perseguidos.

3. O despotismo esclarecido foi um tipo de governo no qual os monarcas absolutistas aplicaram reformas baseadas em princípios do liberalismo e do iluminismo. Podem ser citadas como exemplo de medidas as reformas empreendidas por Catarina segunda, da Rússia, que reformulou o exército, defendeu a liberdade de culto e investiu no conhecimento e no ensino, ou as Reformas burbônicas, na Espanha, executadas principalmente por Carlos terceiro, que incluíram a expulsão dos jesuítas do império, o acréscimo de vice-reinos, a centralização da administração da América espanhola, excluindo criollos de cargos importantes do governo colonial, e o aumento de impostos e trabalhos compulsórios para a população indígena.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

  1. No caderno, copie em ordem cronológica os acontecimentos históricos listados a seguir.
    1. Os Atos de Navegação aprovados no governo de crómuél estimularam o comércio inglês, mas prejudicaram economicamente os Países Baixos, o que causou uma guerra entre as duas nações.
    2. A Revolução Gloriosa reforçou o poder do Parlamento e os limites dos monarcas.
    3. Os monarcas da dinastia Stuart, Jaime primeiro e Carlos primeiro, que defendiam a ideia da origem divina dos reis, dissolveram o Parlamento inglês em diferentes ocasiões.
  2. Analise as informações a seguir sobre o iluminismo e, no caderno, classifique as afirmativas em verdadeiras ou falsas. Em seguida, reescreva as sentenças incorretas, corrigindo-as.
    1. O iluminismo foi um movimento artístico do século dezesseis.
    2. Os iluministas defendiam o conhecimento construído com base na razão.
    3. Os iluministas apoiavam o regime absolutista.
    4. O iluminismo foi um movimento unificado em defesa da tradição dos dogmas da Igreja.
  3. No caderno, associe corretamente os pensadores listados a seguir às respectivas ideias.
    1. voltér.
    2. Barão de Montesquiê.
    3. jeãn jác russô.
    4. Adam Ismíf.
  1. Propôs a divisão de poderes do Estado como fórma de evitar governos despóticos.
  2. Criticou a Igreja e o pensamento religioso, considerado supersticioso, e defendeu a liberdade de expressão e de pensamento.
  3. Defendeu o livre mercado e a liberdade econômica, propondo que o mercado seria capaz de autorregulação.
  4. Defendeu a existência da bondade natural do ser humano, além de propor as ideias de contrato social e de soberania do povo.

Aprofundando

4. Analise a tirinha e descreva o princípio ou ideal iluminista que pode ser identificado nela.

Tirinha composta de três quadros. Apresenta dois personagens: Armandinho, um menino de cabelo farto em azul-escuro que aparece vestido de camisa laranja e bermuda azul, e um sapo verde, amigo do Armandinho. Quadro 1: Armandinho e o sapo estão diante de uma árvore alta, da qual só vemos o tronco. O menino olha para cima e diz: UMA ÁRVORE DEVE TER BOAS RAÍZES... Quadro 2: Armandinho e o sapo estão do lado de fora de uma casa, da qual vemos uma parede azul com tijolos aparentes na base. Armandinho continua o raciocínio: ...UMA CASA DEVE TER UMA BOA FUNDAÇÃO... Quadro 3: Armandinho olha para o sapo e diz: ...E TODA OPINIÃO DEVIA TER UM BOM FUNDAMENTO!
Armandinho, tirinha de Alexandre Beck, 2015.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a discussão dos impactos do iluminismo na visão sobre a América, a polêmica americana e o eurocentrismo com base na análise documental, a atividade 6 contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero dois, da Competência Específica de Ciências Humanas nº 1 e das Competências Específicas de História nº 3 e nº 4.

Atividades

Organize suas ideias

1. Ordem cronológica dos acontecimentos citados: c; a; b.

2. a) ;b) V;c) ;d) .

Correções: a) O iluminismo foi um movimento intelectual iniciado no século dezoito.

c) Os iluministas foram críticos ao absolutismo monárquico.

d) O iluminismo foi um movimento heterogêneo, cujos participantes criticavam a fórma dogmática da Igreja de explicar fenômenos naturais e sociais.

3. a) segunda; b) primeira; c) quarta; d) terceira.

Aprofundando

4. O pensamento expresso na tirinha reforça a importância da argumentação e da constituição de uma opinião com base na lógica e na racionalidade. Para os iluministas, o conhecimento deveria ter fundamento lógico, construído com base na razão, pois só assim a ignorância ou erros seriam combatidos em qualquer área da vida humana. Conforme os iluministas, as opiniões influenciadas por ideias supersticiosas ou dogmáticas não são racionalmente fundamentadas.

5. Leia o documento a seguir e faça o que se pede.

“Considerando que tendo Jaime segundo abdicado e estando o trono vacanteglossário , Sua Alteza, o Príncipe de Orange, ordenou a eleição de deputados para o Parlamento, estes agora reunidos como representantes totais e livres desta nação, declaram:

1 – Que o pretenso poder de suspender as leis, ou a execução das leis, pela autoridade régia, sem o consentimento do Parlamento é ilegal. reticências

4 – Que o direito de cobrar impostos para o uso da Coroa, com o pretexto de privilégio, sem outorgaglossário do Parlamento, é ilegal. reticências

6 – Que o recrutamento e manutenção de um exército, em tempo de paz, é ilegal sem o consentimento do Parlamento. reticências

9 – Que a liberdade de palavra nos debates e atas do Parlamento não deve ser questionada em nenhuma côrte ou lugar fóra do Parlamento.”

DECLARAÇÃO dos Direitos, 1689. ín: SÃO PAULO (estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Coletânea de documentos históricos para o 1º grau: 5ª a 8ª séries. São Paulo: ésse ê: cêmpi, 1979. página 84.

  1. Em que momento histórico esse documento foi redigido?
  2. De que maneira esse documento limitou os poderes do monarca?
  3. Que princípios liberais estão presentes nesse documento?

6. No século dezoito, no contexto do iluminismo, as sociedades indígenas americanas se tornaram objeto de debate. De um lado, alguns europeus classificavam a América como “degenerada” ou “imatura” em relação à Europa. De outro, essas ideias eurocêntricas eram contestadas, por exemplo, por jesuítas criollos exilados na Europa. Essa discussão pública ficou conhecida como Polêmica do Novo Mundo. Junte-se a um colega e leiam os textos a seguir. No primeiro deles, o filósofo holandês Cornelius de pôl descreve seu ponto de vista sobre os indígenas americanos. No segundo, o jesuíta Francisco clavirrêro apresenta sua visão.

reticências eles são de uma preguiça imperdoável, não inventam nada, não empreendem nada, e não estendem a esfera de sua concepção além do que veem, reticências o desânimo e a falta absoluta daquilo que constitui o animal racional os tornam inúteis para si mesmos e para a sociedade.”

pôl, C. de. Pesquisas sobre os americanos ou relatos interessantes para servir à história da espécie humana, 1774. ápud: LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2000. página 43.

“A organização que os espanhóis encontraram no México era muito superior àquela que os fenícios e cartagineses encontraram em nossa Espanha reticências Não há dúvida que os espanhóis naqueles remotos séculos reticências não possuíam a organização tão desenvolvida, suas artes tão florescentes e o conhecimento da natureza tão adiantado quanto os mexicanos do começo do século dezesseis.”

clavirrêro, F. J. Historia antigua de México. Cidade do México: Porrúa, 2003 [1964]. página 63. Tradução nossa.

  1. De que modo os indígenas são descritos nos dois textos?
  2. Segundo De pôl, por que os indígenas possuíam essas características? clavirrêro contesta a visão de De pôl ou a reforça? Como ele faz isso?
  3. De que maneira a Polêmica do Novo Mundo se relaciona ao contexto filosófico iluminista?
Respostas e comentários

5. a) Em 1689, durante a chamada Revolução Gloriosa, após a deposição de Jaime segundo e a chegada ao poder de Maria Stuart e Guilherme terceiro.

b) Segundo o documento, sem a aprovação parlamentar o monarca não podia suspender ou executar leis, criar impostos, manter exércitos em tempos de paz e impedir a liberdade de palavra aos membros do Parlamento.

c) Podem ser considerados em sua relação com os princípios liberais: o fim do poder absoluto concentrado na figura do monarca, a garantia de autonomia ao Poder Legislativo e a liberdade de ideias e de expressão no Parlamento.

6. Nessa atividade, propõe-se um exercício de análise discursiva e de leitura inferencial sobre o ideário dos europeus no contexto do iluminismo acerca do que eles denominavam Novo Mundo. Espera-se que os estudantes examinem a construção dos argumentos nos dois textos e, ao mesmo tempo, compreendam os impactos do contexto filosófico sobre as visões a respeito das sociedades americanas. Para isso, inicie a atividade lendo cuidadosamente os dois excertos com a turma. O trabalho de leitura e de interpretação dos dois trechos é desenvolvido de fórma gradativa nos itens a seguir.

a) Nesse item, é preciso que os estudantes identifiquem as informações expressas nos dois textos. O autor do primeiro texto descreve os indígenas como “preguiçosos”, “pouco inventivos” e “inúteis”. No segundo texto, os indígenas são descritos em oposição aos espanhóis da Antiguidade como indivíduos dotados de uma “organização desenvolvida”, de “artes florescentes” e de um “conhecimento adiantado da natureza”.

b) Nesse item, é importante que os estudantes relacionem as informações verificadas nos dois textos para elaborar a resposta. Após enumerar uma série de características pejorativas, sem exemplificação, De pôl declara que os indígenas não tinham razão nem qualquer outro atributo de animais racionais. clavirrêro contesta as descrições de De pôl ao comparar a civilização asteca à espanhola da Antiguidade, afirmando que na organização, nas artes e nos saberes os americanos nada ficavam a dever aos hispânicos, e até os superavam, no século dezesseis.

c) Nesse item, é fundamental que os estudantes articulem os conhecimentos sobre o iluminismo desenvolvidos ao longo deste capítulo à leitura minuciosa dos trechos apresentados. Espera-se que eles notem que, mesmo as conclusões dos dois autores sendo opostas, ambos operam nos mesmos parâmetros em suas explicações: a argumentação em torno da relação entre razão e civilização, com base em uma noção de progresso característica da filosofia iluminista. Ambos os autores consideram a civilização europeia como padrão para suas reflexões sobre as sociedades indígenas americanas. Apesar de clavirrêro defender os astecas das acusações de irracionalidade, destacando, por exemplo, seu amplo conhecimento sobre a natureza (aspecto muito valorizado pelo pensamento iluminista) e sua fórma de organização, tanto ele quanto De pôl identificam nas sociedades europeias o modelo de civilização.

Glossário

Esfera pública
: conjunto de espaços (ruas, salões, teatros etcétera) e de veículos de comunicação (panfletos, jornais, revistas etcétera) em que temas de interesse público são debatidos de fórma livre e igualitária.
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Dissolver
: desfazer, eliminar, acabar. No texto, o termo está relacionado à atitude de encerrar as reuniões do Parlamento.
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: nobreza proprietária de terras, que se diferenciava da nobreza que detinha títulos nobiliárquicos, como o de príncipe, o de conde e o de barão.
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: taxa naval paga por moradores de cidades litorâneas.
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Conscrito
: convocado a prestar serviço militar.
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Guarnição
: conjunto de tropas destacadas para determinado local.
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Signatário
: aquele que assina um texto ou documento.
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Replicável
: que pode ser repetido.
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Metódico
: modo de fazer as coisas com método, de acordo com um plano ou procedimento.
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Hostilidade
: inimizade, agressividade, contrariedade.
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Despótico
: relativo ao poder absoluto e abusivo de um déspota.
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Arbitrário
: que não segue normas ou fundamentos e depende apenas da vontade de quem age.
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Dogmático
: que se apresenta como uma certeza absoluta.
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Irrestrito
: que não tem restrições, limites ou condições.
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Instância
: esfera de ação.
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Direito natural inalienável
: direito anterior ao Estado, que não pode ser cedido, pois é vinculado à dignidade humana. Na Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776, por exemplo, os direitos à vida, à liberdade e à busca da felicidade foram considerados inalienáveis.
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Refutar
: desmentir, contestar, negar.
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Verbete
: conjunto das definições e explicações de cada termo em dicionários ou enciclopédias.
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Anticlerical
: característica daquele que combate o clero.
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Colaborativo
: que é feito de fórma cooperativa, por várias pessoas.
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Lei de oferta e procura
: princípio segundo o qual o preço de mercado de um produto seria regulado pela proporção entre a oferta dessa mercadoria e a demanda (ou procura) por ela. Assim, a abundância de oferta de um produto ou serviço diminuiria seu preço, enquanto a escassez (ou falta) o aumentaria.
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Preceito
: regra, norma.
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Vacante
: vago, não ocupado.
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Outorgar
: aprovar, concordar, permitir.
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