CAPÍTULO 2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Máquinas automáticas, veículos de alta velocidade, uma gigantesca oferta de produtos e muita poluição! Esses elementos, que podem fazer parte de seu cotidiano, são o resultado de um dos processos mais importantes da história: a Revolução Industrial. Durante esse processo, mudaram muitas coisas: o modo como as pessoas trabalhavam e consumiam, as relações que estabeleciam umas com as outras, os impactos que causavam ao ambiente e até a maneira como compreendiam o tempo.

Antes da Revolução Industrial, não havia, por exemplo, sapatos suficientes na Europa para atender a todas as pessoas que queriam comprar essa mercadoria. Hoje, sapatos e muitos outros produtos são fabricados em uma velocidade maior do que as pessoas conseguem consumir e descartados na natureza com a mesma rapidez.

Neste capítulo, você vai estudar o início da Revolução Industrial e, também, algumas das características e consequências desse processo que ajudou a moldar o mundo de hoje.

Ilustração. Um homem, à direita, e uma mulher, à esquerda, se entreolham espantados. Ela está de vestido em laranja, com uma bolsa amarela pendurada no ombro, e empurra um carrinho de compras no sentido direita-esquerda da ilustração. O carrinho contém produtos variados, como uma luminária, um telefone celular, um copo etc. Ele está de bermuda listrada em azul e branco, camiseta branca e chinelo laranja. Ele carrega os mesmos produtos no sentido esquerda-direita da ilustração em um grande cesto de lixo cinza.
Ilustração atual representando o excesso de consumo e de produção de lixo pela sociedade contemporânea.
Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Com base na imagem, indique a relação entre o consumismo e a produção de lixo na atualidade.
  2. É possível relacionar a Revolução Industrial ao consumismo? Use o texto da abertura para justificar sua resposta.
  3. De acordo com dados divulgados pelo Fundo Mundial para a Natureza (dáblio dáblio éfe) em 2019, o Brasil é o quarto país que mais produz lixo plástico no mundo. Em 2018, cada pessoa descartou, em média, 1 quilo desse material por semana. Essa média reflete a quantidade de lixo produzida por você e pelas pessoas com quem mora?
  4. O que você pode fazer para consumir menos?
Respostas e comentários

Dado numérico sobre a produção de lixo no Brasil foi retirado de: BRASIL é o 4º país do mundo que mais gera lixo plástico. dáblio dáblio éfe, 4 março 2019. Disponível em: https://oeds.link/4iWTb6. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Abertura

No início do capítulo, é proposta uma reflexão sobre a relação entre a Revolução Industrial e as fórmas de produção, consumo e descarte no mundo contemporâneo. Para isso, salienta-se a associação desse processo com o desenvolvimento das máquinas automáticas, dos meios de transporte de alta velocidade e, principalmente, com o consumismo e a produção de lixo. Para isso, a imagem de abertura é articulada a questões que visam incentivar os estudantes a refletir sobre os próprios hábitos de consumo.

Atividades

1. Espera-se que os estudantes compreendam que, quanto mais se consome, mais lixo é produzido, pois são descartadas mais embalagens plásticas e objetos obsoletos ou quebrados. Todas as sociedades humanas geram resíduos, mas o consumismo, característico do capitalismo contemporâneo, é problemático por não ser sustentável, ou seja, os recursos naturais são consumidos mais rapidamente do que eles conseguem se regenerar. Além disso, os tipos de materiais descartados e a quantidade de lixo excedem os limites do que a natureza é capaz de processar.

2. Sim, pois com a Revolução Industrial teve início o processo de superprodução, e as pessoas foram incentivadas a consumir mais para dar vazão às mercadorias fabricadas. O consumismo desenfreado (principalmente o do plástico) está mais relacionado com a Terceira Revolução Industrial do que ao início do processo, mas, de qualquer fórma, o mundo passou a mudar com intensa velocidade a partir da Primeira Revolução Industrial. Os estudantes podem chegar a essa conclusão ao ler, no texto: “Antes da Revolução Industrial, não havia, por exemplo, sapatos suficientes na Europa para atender a todas as pessoas que queriam comprar essa mercadoria. Hoje, sapatos e muitos outros produtos são fabricados em uma velocidade maior do que as pessoas conseguem consumir e descartados na natureza com a mesma rapidez”.

3. Pretende-se, com essa questão, incentivar os estudantes a reconhecer sua produção de lixo e a perceber o volume desses resíduos, propiciando indagações sobre seu destino e impactos, bem como sobre as restrições ao uso de plástico descartável (em algumas cidades brasileiras) e a existência de programas de reciclagem no local em que vivem.

4. Várias respostas são possíveis. Os estudantes podem citar: o reparo de aparelhos e vestimentas em lugar da substituição, a reutilização de objetos e a redução de compras por impulso, a valorização de experiências em vez de objetos, a preferência por alimentos naturais a industrializados e embalados etcétera.

O início da Revolução Industrial

Revolução Industrial é um termo usado para nomear uma série de mudanças nas fórmas de produzir e consumir mercadorias. Essas mudanças começaram na Europa, entre 1750 e 1780, e se consolidaram entre 1830 e 1850, com o desenvolvimento das fábricas.

Alguns dos aspectos que caracterizaram a Revolução Industrial foram a utilização de máquinas e a automação de certas etapas da produção, a divisão e a especialização do trabalho e a grande quantidade de assalariados e fábricas. Além disso, a produção passou a ser realizada em larga escala e comercializada em nível local, regional e até mundial.

Essas transformações demoraram décadas para se concretizar e se desenvolveram de modo desigual em diferentes partes do mundo. O processo iniciou-se na Grã-Bretanha, alcançando países como a França (na primeira metade do século dezenove), os diferentes Estados germânicos (por volta de 1850), o Japão (no fim do século dezenove) e o Brasil (no século vinte).

Desde a primeira fase da Revolução Industrial, a tecnologia não parou de se aperfeiçoar, dando origem a outras revoluções, que ocasionaram profundas transformações.

Fotografia. Robô com pernas, braços tronco e cabeça similares aos de um ser humano, articulado, feito de um material escuro. Ele veste regata e bermuda em preto. Estampada na regata, uma miniatura da bandeira do Japão e, abaixo dela, os escritos 'Tokyo 2020' e o número '95'. O robô está com os joelhos flexionados e com uma bola de basquete em laranja e branco em uma das mãos, em posição de arremesso. Ao fundo, uma moça ajoelhada o observa; ela usa máscara de proteção sobre o nariz e a boca. Mais ao fundo, arquibancadas e algumas pessoas em pé e sentadas.
Robô fazendo arremessos durante intervalo de jogo de basquete nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Japão. Foto de 2021.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Com lances milimetricamente calculados, o robô jogador de basquete chamou a atenção dos espectadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que estavam programados para 2020, mas, por causa da pandemia de covid-19, foram adiados para 2021. A quantidade de robôs especializados em diferentes tarefas, antes realizadas exclusivamente por humanos, é cada vez maior. A área da robótica faz parte do que os especialistas chamam de Quarta Revolução Industrial, que teve início na década de 2010. Estima-se que os robôs assumam cada vez mais tarefas de produção e serviço, substituindo a ação humana de fórma parcial ou total.

Trocas comerciais e crescimento demográfico

Um dos fatores que possibilitaram a Revolução Industrial foi o aumento do comércio entre as metrópoles e suas colônias no século dezesseis, no período da expansão marítima europeia. Com essa atividade, as potências europeias acumularam muito dinheiro.

A riqueza acumulada, assim como o intercâmbio de culturas e conhecimentos entre as metrópoles e suas colônias, possibilitou a melhora nas condições de alimentação e saúde dos europeus, contribuindo para o crescimento da população.

Respostas e comentários

Objetivos do capítulo

Apresentar e analisar os fatores que contribuíram para o pioneirismo britânico na industrialização, e a relação existente entre a Revolução Industrial e o colonialismo.

Analisar os impactos econômicos, sociais e ambientais da Primeira Revolução Industrial, demonstrando o envolvimento de diferentes sujeitos no processo.

Caracterizar a invenção das primeiras máquinas e sua relação com o desenvolvimento da indústria .

Identificar as características da Primeira Revolução Industrial, abordando aspectos como o processo de urbanização, o desenvolvimento dos meios de transporte, a importância do carvão e o aumento da poluição.

Analisar a formação do movimento operário europeu, caracterizando o ludismo e o cartismo.

Caracterizar o cotidiano dos trabalhadores das fábricas, assinalando as mudanças sociais, culturais e econômicas decorrentes da industrialização.

Justificativa

Os objetivos são pertinentes pois incentivam o desenvolvimento de conhecimentos fundamentais para compreender as bases da sociedade contemporânea. Ao abordar a transformação do processo produtivo, demonstram-se os diversos interesses por trás da produção em massa de artigos industrializados. Nesse sentido, os procedimentos de analisar a formação do movimento operário europeu e o cotidiano dos trabalhadores nas fábricas são fundamentais para sensibilizar os estudantes quanto à importância dos direitos voltados aos trabalhadores. A caracterização das outras transformações advindas da Revolução Industrial, tais como o processo de urbanização, permite compreender a raiz de importantes questões atuais, fornecendo aos estudantes os fundamentos para pensar em possíveis soluções.

Nesse capítulo, a Revolução Industrial é compreendida como processo radical de transformação social, econômica e política e de criação de novas fórmas sociais. Essa ideia é tributária da noção moderna de revolução que integra o vocabulário da história.

Na caracterização da Revolução Industrial, consideram-se a ordem temporal das transformações e certas características estruturais. É necessário reforçar isso para os estudantes. Assim, incentive-os a perceber a cronologia apresentada e a se apropriar dela, indicando a duração relativamente longa do fenômeno e sua espacialização desigual ao longo do tempo.

Cruzando fronteiras

O intercâmbio de culturas e de conhecimentos entre povos de diferentes lugares ocorrido após a expansão marítima europeia favoreceu, por exemplo, o aprimoramento da agricultura e da pecuária.

Diferentes produtos circularam entre a América e a Europa, onde foram adaptados e salvaram regiões inteiras da fome. Um desses produtos foi a batata, que passou a ser produzida em várias regiões do continente europeu.

Nesse contexto, ocorreu a consolidação da filosofia moderna e, com ela, a valorização das experiências e do método científico, possibilitando importantes avanços nos conhecimentos sobre saúde.

Todos esses fatores contribuíram para um grande crescimento demográfico na Europa. Entre os séculos dezesseis e dezessete a população dessa região quase duplicou. Como consequência, aumentou a procura por mercadorias, como roupas e sapatos, que precisavam ser produzidas cada vez mais rápido e em maior quantidade.

Para refletir sobre esse tema, analise o gráfico a seguir e, depois, faça o que se pede.

Europa: dinâmica populacional – 200-1800

Gráfico de linha. Europa: dinâmica populacional - 200 a 1800. O eixo vertical indica a população em milhões de habitantes, e vai de 0 a 700 em intervalos de 100. O eixo horizontal indica a passagem dos anos, e vai de 0 a 1800, com intervalos de 200. A linha vermelha indica o aumento da população europeia. Entre o ano 1 e o ano 1000, a população europeia manteve-se praticamente estável, com aumento gradativo de aproximadamente 45 (ano 1) a 55 milhões de habitantes (ano 1000). A partir de então, a linha começa a subir, demonstrando aumento populacional. Em 1200, a linha chega próxima de 100 milhões de habitantes; em cerca de 1350, a linha ultrapassa um pouco os 100 milhões de habitantes; entre 1350 e 1400, há uma queda, e a população europeia atinge os 100 milhões de habitantes novamente; entre 1400 e 1600, há um aumento constante, sendo que em 1600, a população atinge pouco mais de 100 milhões de habitantes. Em aproximadamente 1650, a população tem uma nova queda, chegando mais próximo dos 100 milhões de habitantes. A partir dessa data, o aumento é constante e mais acentuado, chegando a aproximadamente 220 milhões de habitantes em 1800.

FONTE: zinquína, J.; corotaiév, A; alechi-cóvsqui, I. The demographic transition in the First World: the nineteenth century. ín grinín, L. E. e outros (edição.). Globalistics and globalization studiesglobal evolution, historical globalistics and globalization studies. Volgograd: Uchitel, 2017. página 185. 

Responda no caderno.

  1. Quantos milhões de habitantes havia na Europa em 1400 e em 1800? Em quantas vezes o número de habitantes aumentou nesse período?
  2. Explique a razão desse grande crescimento populacional.
  3. Relacione o crescimento populacional europeu no século dezenove à Revolução Industrial.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

O conteúdo da seção “Cruzando fronteiras” mobiliza a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero três, pois trata dos antecedentes econômicos da Revolução Industrial.

Cruzando fronteiras

Nessa seção, são articuladas informações textuais à análise de um gráfico para abordar o crescimento demográfico europeu. O objetivo é sensibilizar os estudantes para a estreita conexão entre o aumento populacional no continente e a necessidade de mais produtos, como roupas e sapatos, para essa população, um dos fatores que impulsionaram a Revolução Industrial por meio do desenvolvimento de máquinas que produziam mais mercadorias em menor tempo.

Atividades

1. No ano de 1400 havia 100 milhões de habitantes no continente europeu; em 1800 esse número saltou para aproximadamente 220 milhões. O número de habitantes aumentou 2,2 vezes, crescendo cêrca de 120% nesse período.

2. O crescimento populacional se deveu à melhora nas condições de saúde e de alimentação no continente europeu, advinda do grande acúmulo de riquezas e das trocas de conhecimento e culturas entre metrópoles e colônias no contexto da expansão marítima.

3. Espera-se que os estudantes comentem que, com o grande crescimento demográfico no continente europeu, aumentou a demanda por diversas mercadorias, que precisaram ser produzidas cada vez mais rápido e em maior quantidade. Isso teria impulsionado as mudanças nas fórmas de consumir e de produzir – com a automação de certas etapas de produção, a divisão e a especialização do trabalho e a fabricação de mercadorias em larga escala – que caracterizaram a Revolução Industrial.

Interdisciplinaridade

A abordagem sobre o crescimento demográfico europeu pode ser relacionada a procedimentos de análise comuns em história e em geografia (leitura de gráficos, por exemplo), e também ao desenvolvimento de habilidades específicas desse último componente curricular, como a ê éfe zero oito gê ê zero três – “Analisar aspectos representativos da dinâmica demográfica, considerando características da população (perfil etário, crescimento vegetativo e mobilidade espacial)”.

Do artesanato à maquinofatura

No período anterior à Revolução Industrial, a maioria das pessoas vivia no meio rural e trabalhava com agricultura e pecuária. As mercadorias eram feitas pelos artesãos.

Os artesãos se organizavam nas corporações de ofício ou nas guildas. Nessas associações, eles conseguiam regulamentar o processo produtivo, negociar os preços e controlar a concorrência e o comércio de determinados artigos em uma cidade.

Os regulamentos para controlar, por exemplo, os modos de trabalho, as matérias-primas utilizadas e a quantidade de mercadorias eram muito rígidos. Assim, os artesãos não conseguiam aumentar a produção para atender a demanda dos consumidores.

Naquele período, foram desenvolvidas outras fórmas de produção, como a doméstica, que começou a ser implementada por volta do século dezesseis. Nesse sistema, os artesãos recebiam a matéria-prima para produzir determinada mercadoria, mas a venda era feita por um comerciante. Nesse caso, o artesão tinha conhecimento de todo o processo de produção, mas não do mercado no qual seu produto era vendido.

Por volta da metade do século dezessete, começaram se formar as manufaturas. A produção passou a ser realizada em grandes oficinas, nas quais os artesãos se reuniam e o trabalho era dividido em etapas, cabendo a cada trabalhador a responsabilidade por uma delas.

Pintura. Um homem, uma mulher e uma criança em um local fechado, de parede de tijolos aparentes em marrom, com uma janela pequena e gradeada ao fundo. O homem, visto da cintura para cima, usa um chapéu vermelho, uma camisa vermelha e uma vestimenta azul com botões sobre ela, além de um avental branco em volta da cintura. Ele está em pé à esquerda da pintura, e manuseia uma ferramenta de carpinteiro longa e horizontal em vermelho claro sobre uma mesa em amarelo. Atrás dele, uma caixa em madeira em amarelo claro com adornos, sobre a qual há objetos em madeira, na horizontal e na vertical. Acima dela, em uma haste fixada na parede, na horizontal, instrumentos de trabalho. A mulher também está em pé, à direita da pintura. Ela usa um vestido marrom com punhos em branco, um tecido escuro sobre a cabeça e um avental branco em volta da cintura. Ela segura um fio branco com a mão direita e, encostada ao corpo, uma haste com um carretel, na diagonal, que ela segura com o braço esquerdo. Uma criança está ajoelhada no chão, à frente dela, embaixo da bancada de trabalho. Ela usa camisa marrom e manipula um cesto bege. Em primeiro plano, uma segunda bancada retangular e sobre ela diversos instrumentos de trabalho, entre eles um pequeno machado.
As quatro condições sociais: trabalho, pintura de jân burdichôn, século dezesseis. 
Gravura. Em um ambiente amplo e fechado, há quatro trabalhadores. Eles vestem uma túnica azul até os joelhos e touca de mesma cor.  Eles trabalham em diferentes etapas na produção de papel. À esquerda, um homem puxa uma corrente que passa por uma roldana, e ergue uma estrutura em metal sobre um tonel aquecido por uma chama. No centro, o trabalhador despeja um líquido claro no tonel à sua frente. Atrás dele outro trabalhador diante de uma porta carrega folhas de papel nas mãos. À direita da gravura, um outro trabalhador manipula uma folha de papel sobre outro tonel. Mais à direita, uma estrutura em madeira, onde há uma prensa de papel, por cuja base sai um líquido claro que é despejado em uma tina. Ao fundo, paredes em marrom em formato de arco no topo, e uma única janela pequena gradeada.
Produção de papel em uma manufatura, gravura colorizada do século dezoito.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na imagem do século dezesseis está representado o sistema doméstico, em que uma família sozinha produzia o objeto que seria vendido. Já na imagem do século dezoito, é representada uma manufatura. Nesse sistema, o trabalhador perdia a noção do processo de produção como um todo e do mercado, pois recebia um salário para executar apenas uma função, a mando de um patrão ou mestre.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

As comparações entre as fórmas de produção artesanal e a manufatura e a maquinofatura contribuem para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 2.

• As referências às guildas, às corporações de ofício e ao artesanato, característicos da economia urbana medieval, remetem a conteúdos estudados no 6º ano. Se considerar pertinente, retome o conteúdo e, dependendo do conhecimento da turma, incentive comparações entre o processo histórico de formação de uma economia urbana ao final da Idade Média, com a diminuição dos poderes feudais, e o da consolidação da economia fabril, com o consequente enfraquecimento dos poderes das corporações de ofício.

O sistema doméstico também era conhecido, em inglês, como putting out system ou cottage industry (em referência às cottages, moradias populares nas quais se realizava a produção). Esse sistema implicava o pagamento por trabalho realizado – não exatamente por tempo (dias e semanas trabalhados), como no sistema de fábrica. Esse tipo de produção existe até hoje em muitos locais, incluindo o Brasil.

Curadoria

Estou me guardando para quando o carnaval chegar (Filme)

Direção: Marcelo Gomes. Brasil, 2019. Duração: 85 minutos

Quase todos os habitantes da pequena cidade pernambucana de Toritama estão envolvidos na produção de djins. Eles não são empregados de uma grande fábrica; recebem por peça finalizada, trabalhando de segunda a segunda durante todo o ano. Os dias de Carnaval são os únicos nos quais a cidade inteira para. O documentário é um exemplo, para a finalidade desse capítulo, da persistência de regimes de trabalho, como o sistema doméstico, em sociedades industriais.

A formação das fábricas e as primeiras máquinas

O artesanato, o sistema doméstico e a manufatura não foram suficientes para atender à demanda por mercadorias. Diante disso, alguns burgueses começaram a utilizar máquinas em seus galpões para acelerar a produção. Assim, a manufatura transformou-se em maquinofatura.

Como as máquinas realizavam determinados processos de modo mais rápido e mais barato que os operários, os lucros dos donos desses meios de produçãoglossário aumentaram muito. Eles passaram, então, a agrupar um número cada vez maior de trabalhadores e máquinas em determinados espaços, dando origem às fábricas, um dos principais símbolos da primeira fase da Revolução Industrial.

Com essas transformações, a burguesia se tornou mais poderosa e a economia se voltou cada vez mais para a indústria, afastando-se das práticas mercantilistas que caracterizaram o expansionismo europeu dos séculos quinze a dezoito.

A invenção das máquinas fez parte do contexto da mudança de mentalidade que ocorreu na Europa entre os séculos quinze e dezoito. Nesse período, a ciência passou por um processo de valorização, e as descobertas científicas e os inventos se multiplicaram. Essas inovações eram direcionadas, principalmente, às atividades de mineração e tecelagem.

Em 1733, o inglês djôn quêi patenteouglossário a invenção da lançadeira volante. Com essa ferramenta, foi possível dobrar a produtividade da indústria têxtil. O mecanismo facilitava a tarefa de entrelaçar os fios para a confecção do tecido e era operado por apenas um artesão – para movimentar as máquinas antigas eram necessários até três trabalhadores.

No mesmo período, inventores aperfeiçoaram as máquinas existentes e criaram outras, como as movidas a fôrça hidráulica e a vapor. Assim, a mecanização tornou-se uma das principais característica dessa fase da Revolução Industrial.

Pintura. Um local fechado, com duas janelas pequenas e gradeadas, à esquerda e ao fundo, sendo que uma delas está sendo destruída por uma pessoa com uma marreta nas mãos. À direita, uma porta em forma de arco no topo e, ao fundo, nota-se um homem de chapéu verde claro e casaco bege sentado sobre a carga de uma carroça, alheio à cena central. À esquerda, no fundo da sala, parede com a parte superior em branco e a inferior em verde. À frente dessa parede, um tear mecânico com estrutura em madeira e de fundo vermelho, produz tecido. Diante dele, um homem tenta pular sobre uma estrutura em madeira, na horizontal. Ele está de costas para o observador, tem os cabelos longos e amarrados para trás, usa uma camisa branca, colete vermelho, calça azul, meias brancas e sapatos escuros. Um cachorro pequeno e marrom, no canto inferior esquerdo, observa esse homem. O chão, à esquerda, foi representado por lajotas quadradas em bege e vermelho claro. À direita da pintura, diante de uma parede em verde escuro e chão de tacos em vermelho claro e marrom, há quatro pessoas. Um homem calvo e de casaco marrom é enrolado pelas outras três pessoas em um longo tecido claro. Ele tenta se agarrar a um dos braços de uma mulher, à esquerda, que sustenta com a outra mão parte do pano para o alto. Ela usa um longo vestido volumoso, com várias camadas, e um avental vermelho. Um homem, abaixado, coloca sobre as costas o homem enrolado no tecido. Um outro homem, de chapéu escuro, o auxilia nessa tarefa. À esquerda, duas meninas, em pé,  observam a cena próximas à porta.
djôn quêi, inventor da lançadeira volante, pintura de fórd médoquis bráun, 1753.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Muitos trabalhadores ingleses se revoltaram quando a lançadeira volante foi inventada, pois com ela diminuiu o número de operários contratados. Um grupo desses trabalhadores atacou a casa de djôn quêi em 1753, obrigando-o a fugir e a refugiar-se na França. Na imagem, o artista representou o momento desse ataque. Note que quêi está sendo enrolado em um largo tecido, que é puxado pela personagem à qual ele tenta se agarrar, uma mulher representada utilizando volumosas vestes.

Respostas e comentários

Foram fundamentais para o início da Revolução Industrial as dinâmicas sociais e políticas que contribuíram para a criação de necessidades, as quais seriam supridas pela modernização do maquinário. Entre as transformações políticas e sociais referidas no texto, é importante destacar a desestabilização do absolutismo e das hierarquias sociais do Antigo Regime, que favorecia a valorização do trabalho mecânico e técnico, antes visto como indigno ou inferior, e o fortalecimento da burguesia mercantil, cujo capital acumulado seria empregado nas manufaturas, instaurando uma competição que diminuiria o poder das guildas e demais corporações de artesãos.

É interessante chamar a atenção dos estudantes para o fato de que, antes da industrialização, produzia-se conforme o pedido ou a capacidade, ao passo que, hoje em dia, as mercadorias são produzidas com o objetivo de incentivar necessidades e desejos. Trata-se de uma oportunidade para desenvolver um debate a respeito do consumismo e das práticas econômicas e culturais da sociedade atual.

O desenvolvimento de maquinários está relacionado a trocas culturais entre diferentes sociedades. A roda de fiar, por exemplo, chegou à Europa pelo Oriente Médio e foi aperfeiçoada com a inserção do pedal por iôrrân iúrguen, por volta de 1530. Com ela, o tempo gasto para transformar as fibras têxteis em fios e enrolá-los a uma bobina foi reduzido pela metade.

A pintura reproduzida nesta página apresenta uma interpretação posterior e peculiar do evento que envolveu os ludistas e o inventor djôn quêi. Ela faz parte dos Murais de Manchester, no Reino Unido, obra pública de fórd médoquis bráun que conta, em doze imagens, a história da cidade entre o domínio romano e o século dezoito. Esses murais – aos quais os críticos atribuem um tom satírico – foram executados entre 1879 e 1893.

O pioneirismo inglês

Os ingleses popularizaram e aperfeiçoaram muitas invenções que resultaram na automatização das máquinas e contribuíram para que o país fosse o primeiro a realizar a Revolução Industrial. Isso foi favorecido por diversos aspectos culturais, econômicos e sociais.

As políticas mercantilistas adotadas a partir do século dezesseis e, principalmente, o processo das Revoluções Inglesas que marcou o aumento da influência da gentry na Inglaterra foram muito importantes.

A expansão comercial foi favorecida pelo fato de a maioria dos integrantes do Parlamento ser da gentry e, portanto, ter interesses comerciais. Além disso, após a promulgação dos Atos de Navegação, em 1651, durante o governo republicano de Óliver Crom-uél, a marinha inglesa se tornou uma potência mundial.

O acúmulo de capital pelos ingleses também foi beneficiado pelo grande mercado consumidor, principalmente o externo, que teve diversas altas entre 1660 e 1760. Nesse período, as exportações britânicas aumentaram de três a quatro vezes. As causas desse crescimento estavam relacionadas à poderosa marinha mercante e, também, às bem-sucedidas estratégias comerciais do país.

Além disso, a Inglaterra apresentava mais estabilidade política que as outras potências europeias, pois tinha conseguido controlar os graves problemas de fome. Essa situação se devia também ao fato de os integrantes do Parlamento concordarem em priorizar as políticas de obtenção de lucro. Para completar, a monarquia parlamentarista estava amparada nos princípios de liberdade individual, que era o objetivo de muitos daqueles que protestavam na Europa naquele momento.

No mesmo período, a França, uma de suas principais concorrentes comerciais, enfrentava escassez de alimentos e uma forte crise econômica. Portugal e Espanha, por sua vez, estavam em declínio econômico.

Pintura. Embarcações perto de um porto. À direita, navio de grande porte com muitos mastros, velas recolhidas e bandeiras em vermelho, branco e azul. Ao lado dele um barco menor e embarcações a remo. Ao fundo, uma cidade e diversas bandeiras hasteadas. No alto, céu azul com muitas nuvens em branco e cinza.
Lançamento no Deptford Dockyard, pintura de djôn clíveli, cêrca de 1750.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Com a promulgação dos Atos de Navegação, a Inglaterra se tornou uma potência naval da Idade Moderna. Nessa pintura, o artista djôn clíveli representou o estaleiro naval de Deptford Dockyard, no Rio Tâmisa (região de Londres), para evidenciar a grandeza da marinha real britânica.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre as exportações inglesas foram retirados de: LANDES, D. S. Prometeu desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa Ocidental, desde 1750 até a nossa época. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página 91.

Bê êne cê cê

Ao tratar do pioneirismo da Inglaterra no desenvolvimento de máquinas, tornando-a o primeiro país a promover a Revolução Industrial, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero oito agá ih zero dois e ê éfe zero oito agá ih zero três.

Normalmente, inicia-se o estudo da Revolução Industrial com a experiência histórica britânica, mas em outros espaços nacionais, no mesmo momento, instalaram-se fábricas e meios técnicos que possibilitaram a transformação da manufatura em maquinofatura. Para demonstrar isso aos estudantes, é possível citar o tear mecânico, inventado por djôsef marrí jacár, na França, em 1804. Tratava-se de uma máquina mais complexa do que as inventadas pelos ingleses, pois apresentava um sistema que tornava automáticas as operações repetitivas, até então realizadas manualmente por operários. jacár inventou um sistema de cartões metálicos perfurados que controlavam determinados movimentos da lançadeira, a qual podia ser programada para a produção . Foi, assim, uma das tecnologias que deram início à utilização do código binário, base dos computadores.

Curadoria

A era das revoluções: 1789-1848 (Livro)

Eric róbisbáum. São Paulo: Paz e Terra, 2012.

Nessa obra, o historiador britânico analisa os principais processos históricos do período compreendido entre 1789 e 1848, construindo a imagem de uma sociedade produzida pelas revoluções e abordando o início do uso de termos empregados até hoje, como industrial, classe média e nacionalismo.

A terra como mercadoria

Outro fator que contribuiu para o pioneirismo inglês na Revolução Industrial foi a quantidade de mão de obra disponível para as fábricas, em razão do processo de arrendamento e cercamento dos campos.

No século dezesseis, durante a Reforma Anglicana, o rei Henrique oitavo confiscou amplos territórios pertencentes à Igreja Católica, os quais foram vendidos ou doados para os integrantes da gentry.

Na época, os campos eram ocupados por camponeses, que podiam ser os donos das terras ou arrendatários, nobres e outros proprietários. Além disso, existiam as terras comunais, que pertenciam aos senhores, mas podiam ser utilizadas coletivamente para atividades como pastoreio e coleta de lenha.

Para aproveitar a alta de preços decorrente do crescimento da economia nos séculos dezesseis e dezessete, os proprietários rurais ingleses passaram a cobrar o arrendamento de todos os camponeses e obrigaram muitos deles a sair das terras em que viviam.

A partir do século dezoito, esse processo passou a ser regulamentado pelos Enclosure Acts (“Decretos das Cercas”), que determinavam o enclosure (“cercamento dos campos”), transformando a terra em mercadoria que podia ser vendida e comprada.

Pintura. Em um local aberto, um homem e uma mulher estão embaixo de uma árvore, com o rosto voltado para frente, em direção ao observador. Ela está sentada em um banco, usa um longo vestido azul claro e chapéu. Ele está em pé, ao lado dela, com um dos braços apoiado no banco. Ele veste casaco claro, calça escura e meias compridas até o joelho. Usa um chapéu triangular em preto e carrega uma longa arma embaixo do braço, apontada para o solo. Ao lado dele, no chão, um cachorro. Ao fundo, um grande campo com animais, árvores e grama. No céu azul, muitas nuvens em branco e cinza.
Senhor e Senhora Andrews, pintura de tômas guéinsburu, 1750.
Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Analise a pintura. Nela tômas guéinsburu representou dois membros da gentry com roupas elegantes e acessórios de caça. Nessa imagem, qual é o papel da grande extensão de terras desenhada atrás dos dois personagens?

Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: Ao comentar a imagem, ressalte o uso de conceitos históricos, como gentry, termo empregado na época para designar a nobreza rural enriquecida, uma das protagonistas da Revolução Industrial. Para salientar a riqueza dos membros da gentry, o artista os retratou finamente vestidos, mas sua principal estratégia foi comunicar que eles eram donos de grandes extensões de terra. Como a terra se tornou uma mercadoria por meio do processo de cercamento, quanto mais terras uma família possuísse, mais rica ela seria.

Os mercados visados pela Inglaterra não eram somente os europeus, mas também os americanos, africanos e orientais. A indústria padronizava as mercadorias, reduzindo os custos de produção. Dessa maneira, as estratégias comerciais inglesas se tornaram cada vez mais sofisticadas que as dos outros países.

Interdisciplinaridade

Na atividade proposta no boxe “Se liga no espaço!”, sobre a pintura Senhor e Senhora Andrews, considera-se o caráter simbólico da representação da terra na aparente cena familiar de uma caçada. Há, portanto, uma relação com a habilidade ê éfe seis nove á érre zero dois – “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço” – do componente curricular arte.

Curadoria

Das sesmarias à resistência ao cercamento: razões históricas dos Fundos de Pasto (Artigo)

Luiz Antonio Ferraro Júnior; Marcel burztín. Dossiê. Caderno cê érre agá, Salvador, volume 23, número 59, página 385-400, maio/agosto 2010.

O artigo aborda o surgimento, no Brasil, na década de 1970, de reservas territoriais chamadas de Fundos de Pasto, cujo desenvolvimento teve como exemplo os cercamentos britânicos realizados no período estudado no capítulo. Além de mostrar como eventos ocorridos em sociedades diversas e em diferentes períodos podem servir como exemplo para outras experiências, o artigo apresenta-se como uma boa contextualização sobre como a questão da terra é tratada no Brasil.

Mão de obra e recursos

Ao longo do processo de retirada dos camponeses, que durou séculos, as terras passaram a ser administradas pelos arrendatários e proprietários capitalistas, que as utilizaram principalmente para a produção agrícola, aumentando bastante a oferta de alimentos na região.

Fotografia. Vista aérea de um longo campo verde dividido em lotes cercados. No centro, uma estrada. À direita algumas casas e gados pastando em um dos lotes. Ao fundo, encosta de um morro, também dividida em lotes de coloração verde e marrom.
Campos cercados de muros de pedra no condado de Cumbria, Reino Unido. Foto de 2019.

Foram empregadas nessa produção técnicas agrícolas avançadas, o que possibilitou a redução do número de trabalhadores. Além disso, a criação de ovelhas aumentou muito no século dezoito, pois a lã era uma das principais matérias-primas utilizadas na crescente indústria têxtil. Esse trabalho também demandava pouca mão de obra.

Dessa maneira, muitos camponeses ficaram desempregados e, assim como os artesãos falidos e os imigrantes judeus e irlandeses, tornaram-se mão de obra barata para as fábricas.

Por último, havia na Grã-Bretanha abundante oferta de recursos naturais necessários para a construção e o funcionamento das primeiras máquinas industriais, pois o subsolo da ilha era rico em carvão mineral e ferro.

O carvão mineral era mais eficiente que o carvão vegetal. Por isso, foi o escolhido como combustível para as máquinas a vapor. O ferro, por sua vez, foi utilizado na construção das máquinas, das ferramentas e das estradas de ferro, fundamentais para escoar a produção industrial em um segundo momento do processo de industrialização.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Descreva as principais mudanças nas fórmas de produzir que caracterizaram a Revolução Industrial.
  2. Como se formaram as primeiras fábricas na Inglaterra?
  3. O início da Revolução Industrial afetou apenas o espaço urbano? Justifique.
Respostas e comentários

Orientação para as atividades

Para realizar as atividades do boxe “Agora é com você!”, os estudantes precisarão caracterizar e explicar processos históricos. Procure ler com eles o texto-base do livro do estudante e analisar cada processo ou contexto histórico mencionado, anotando suas principais características. Depois, peça-lhes que elaborem as respostas e, no momento da correção, sugira-lhes a reescrita caso não tenham alcançado autonomia textual.

Agora é com você!

1. Entre as mudanças que caracterizaram a Revolução Industrial, é possível citar a utilização de máquinas, a automação de etapas da produção, a divisão e a especialização do trabalho, a expansão do trabalho assalariado, o surgimento das fábricas, a produção em larga escala e o comércio em nível local, regional e mundial.

2. Para acelerar a produção de mercadorias, alguns burgueses começaram a instalar máquinas em seus galpões, de modo que o processo produtivo passou de manufatura para maquinofatura. Como os lucros aumentaram muito com esse processo, os donos desses meios de produção passaram a agrupar um número cada vez maior de máquinas e trabalhadores em seus galpões, dando origem às fábricas.

3. Não. A Revolução Industrial não apenas afetou o ambiente rural, como também dependeu bastante dele. O aumento da produção de alimentos, refletindo-se em crescimento populacional, contribuiu para a elevação do consumo, que, por sua vez, impulsionou mais atividades produtivas. Da mesma fórma, o fornecimento de matéria-prima para as fábricas dependia fundamentalmente do campo, o que contribuiu para os cercamentos. Isso mudou as atividades produtivas rurais e causou o deslocamento de grandes contingentes de pessoas para as cidades.

Curadoria

A formação da classe operária inglesa: a árvore da liberdade (Livro)

éduard pálmer tompson. décima segunda edição Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2012.

Nesse primeiro volume de sua obra clássica, o historiador se dedica a analisar a formação da classe operária britânica em seus anos iniciais, entre 1780 e 1832. Constitui uma referência bibliográfica fundamental para a abordagem histórica que reconhece o protagonismo de personagens até então excluídos da historiografia, como os integrantes da classe operária.

A Primeira Revolução Industrial

Durante a primeira fase da Revolução Industrial, as máquinas foram sendo adotadas e aperfeiçoadas aos poucos, e não substituíram completamente a produção artesanal ou a manufatureira, que existem até hoje.

A princípio, na indústria têxtil foi utilizada como matéria-prima apenas a lã produzida nos campos britânicos. Depois, a lã foi substituída pelo algodão, pois a produção desse material era mais barata. Além disso, os tecidos de algodão duravam menos e precisavam ser recomprados com mais frequência, o que aumentava o lucro dos comerciantes. Assim, o algodão foi a matéria-prima da revolução e seu consumo, apenas na Grã-Bretanha, aumentou mais de doze vezes entre as décadas de 1770 e 1800.

A partir do momento em que as máquinas a vapor começaram a ser usadas, a produção passou a ser feita de modo seriadoglossário e em larga escala. Para manter o ritmo de produção, era preciso exportar as mercadorias, pois o mercado interno não tinha condições de absorvê-las. Assim, a indústria britânica passou a depender do mercado externo, principalmente o colonial, para adquirir matéria-prima e para vender as mercadorias produzidas.

O aperfeiçoamento dos meios de transporte

Com o aumento constante da produção nas fábricas, foi necessário pensar também em meios para transportar rapidamente as mercadorias entre as cidades, os campos e os portos.

O vapor foi muito utilizado nos motores das máquinas da indústria têxtil e para movimentar diversos outros tipos de maquinário, tornando-se a principal fonte de energia do período.

Em 1807 foi construído o North River Steamboat, o primeiro barco a vapor, inventado pelo estadunidense Róbert Fúlton. O barco ficaria conhecido informalmente como Clearmont.

Pintura. Um homem e uma mulher negros em uma plantação de algodão, ambos descalços. Ele usa calça escura, camisa branca e chapéu escuro, todos gastos. Ele carrega na cabeça um grande cesto cheio de algodão recém-colhido. Ela usa um lenço vermelho sobre a cabeça, camisa azul de mangas compridas, saia branca e lenço branco sobre os ombros e sobre o colo. Diante dela, um cesto com algodão recém-colhido. Ao fundo, plantação de algodão, em tons de vermelho, algumas folhas em verde, e o fruto em branco. Mais ao fundo, construções de telhado em bege e paredes claras. No céu azul, muitas nuvens em cinza.
Colhedores de algodão, pintura de uíliam áiquen uólquer, século dezenove.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A maior parte do algodão consumido na Grã-Bretanha provinha de suas colônias na Índia e na América do Norte. Nesse último local, o produto era cultivado por negros escravizados. A partir da última década do século dezoito, a América portuguesa se tornou um dos principais fornecedores da mercadoria, chegando a produzir, também com uso de trabalho escravizado, 40% do algodão utilizado na cidade de Liverpool.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a matéria-prima na indústria inglesa foram retirados de: LANDES, D. S. Prometeu desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa Ocidental, desde 1750 até a nossa época. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página 91.

Dados numéricos sobre o algodão usado na indústria em Liverpool foram retirados de: PEREIRA, T. A. Z. Algodão e comércio internacional do Brasil durante a Revolução Industrial. 2009. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

• Entre os séculos dezoito e dezenove, o algodão utilizado na indústria britânica era produzido em lugares tão distantes entre si quanto o sul dos Estados Unidos, a Índia e o nordeste brasileiro. É importante destacar o fato de que no sul dos Estados Unidos e no nordeste brasileiro era utilizada mão de obra escravizada. Assim, enquanto o trabalho assalariado se generalizava na Grã-Bretanha e em outros países da Europa Ocidental, a escravidão permanecia como regime de trabalho integrado à industrialização, e não contrário a ela. Não havia, portanto, uma contradição necessária entre o desenvolvimento do capitalismo industrial e as fórmas de trabalho compulsório, como a escravidão.

Curadoria

O algodão brasileiro na época da Revolução Industrial (Artigo)

José Jobson de Andrade Arruda. América Latina en la Historia Económica, México, volume 23, número 2, página 167-203, 20 maio 2016. Disponível em: https://oeds.link/iDs8lR. Acesso em: 12 abril2022.

Nesse artigo, José Jobson de Andrade Arruda analisa a exportação do algodão brasileiro para países como Grã-Bretanha, França e Portugal, demonstrando a intrínseca ligação entre o mundo colonial e os países europeus envolvidos no contexto da Revolução Industrial.

A primeira travessia oceânica com esse tipo de embarcação ocorreu alguns anos depois, em 1819. Nessa viagem, foi utilizado o barco britânico Savannah, que combinou a tecnologia da máquina a vapor com a propulsão a velas e levou um mês para percorrer o trajeto entre o Reino Unido e os Estados Unidos.

Por tornar a navegação menos dependente de fatores como o vento e as correntes marítimas, a invenção do barco a vapor inaugurou uma nova era nos transportes e no comércio mundial.

A locomotiva a vapor foi inventada pouco tempo depois e provocou outras transformações. A primeira estrada de ferro destinada a passageiros foi projetada pelo engenheiro djêordji istívenson e inaugurada em 1825, conectando as cidades de Darlington e Stockton, no Reino Unido. As locomotivas que percorriam essa ferrovia alcançavam a velocidade de 24 quilômetros por hora.

Gravura em preto e branco. Locomotiva com quatro rodas, duas grandes à frente, e duas menores atrás. Uma longa chaminé desponta da frente da locomotiva, e um pistão está encaixado nas rodas maiores. Uma haste na diagonal liga o topo da chaminé ao pistão.
Representação da locomotiva Rocket, de 1829, projetada por djêordji e róbert istívenson, em gravura do século dezenove.

Os trens foram fundamentais para integrar regiões onde a navegação fluvial não era possível, realizando o transporte de pessoas e mercadorias entre os portos e o interior do território. Além disso, a construção das estradas de ferro impulsionou as atividades relacionadas à siderurgia e ao carvão.

Para construir estradas, era necessário ferro fundido. Esse material era produzido com uso de máquinas a vapor, movidas a carvão, que também alimentava as locomotivas. Assim, o consumo de ferro e o de carvão se retroalimentavamglossário e movimentaram a economia britânica a partir de então.

Europa: grandes centros industriais e ferrovias – século dezenove

Mapa. Europa: grandes centros industriais e ferrovias – século dezenove. Legenda: Bolinha laranja: Grandes centros industriais. Linha horizontal vermelha: Ferrovias em 1880. No mapa, os grandes centros industriais localizam-se em: Glasgow, Liverpool, Birmingham, Sheffield, Londres, Hamburgo, Bremen, Amsterdã, Roterdã, Gent, Le Havre, Paris, Bruxelas, Reims, Colônia, Berlim, Praga, Ostrava, Viena, Pilsen, Berna, Turim, Veneza, Roma, Nápoles, Lyon, Creusot, Barcelona, Bilbao, Santander, Oviedo e Madri. As ferrovias em 1880 estão ramificadas por toda a Europa, passando pelos grandes centro industriais. A maior concentração de ferrovias ocorre na porção centro-norte da Europa Ocidental e no Reino Unido. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 290 quilômetros.

FONTE: VICENTINO, C. Atlas histórico: geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. página 122.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Em que parte da Europa o número de ferrovias era maior? Explique os fatores que contribuíram para isso.

Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: No Reino Unido e no centro-norte da Europa Ocidental. No Reino Unido, por exemplo, contribuiu para isso a abundante oferta de carvão mineral e ferro, recursos naturais necessários para a construção das ferrovias.

Ampliando

O texto a seguir apresenta o impacto generalizado da expansão das ferrovias na constituição do chamado mundo moderno.

reticências o trem provocou mudanças em nível concreto e físico, moldando diferentes regiões pelo mundo. Além das transformações visíveis aos olhos, o ritmo de vida das pessoas também foi alterado, tendo estas modificações inconscientes no imaginário sido essenciais para a formação da sociedade capitalista que estava em franco desenvolvimento. reticências

Em pleno alvorecer da Revolução Industrial, no qual a Inglaterra expandiu-se pelo continente europeu, a máquina substituía arrebatadoramente o esforço humano e animal. O trem fazia por terra a circulação de pessoas, o transporte de matéria-prima e de produtos manufaturados. reticências

reticências a ferrovia teve importância fundamental dentre os meios de transporte, pois se constituiu numa das molas propulsoras da industrialização e provocou, pelo seu alcance econômico e social, a urbanização e a integração das camadas sociais num novo tipo de vida. reticências as ferrovias vão alterar o cenário de muitas sociedades, incentivando modificações de hábitos, costumes e integrando-se no contexto e na mentalidade social. Sobre trilhos se construíram medos, temores e amores. reticências novos personagens emergem nessa história, o que resultou na transformação de uma sociedade até então agrícola e estamental em uma sociedade urbana e reivindicativa.

LUCENO, C. S.; LAROQUE, L. F. da S. A ferrovia como agente de progresso e desenvolvimento: a inserção em ambiente mundial, brasileiro e sul-rio-grandense. Revista Destaques Acadêmicos, Lajeado, ano 3, número 2, página 83-97, 2011.

É importante encorajar os estudantes a estabelecer comparações entre o tempo das viagens citado no texto (e as distâncias percorridas) e o despendido em seus trajetos diários, por exemplo, da escola para casa. Isso ajuda a sensibilizá-los para o fato de que um dos reflexos da industrialização foi a aceleração da mudança tecnológica, que afetou os processos de socialização e as percepções de lentidão e de velocidade.

Na primeira viagem comercial bem-sucedida, o Clearmont atingiu a velocidade de 8 quilômetros por hora no dia 17 de agosto de 1807, percorrendo 240 quilômetros do Rio Hudson para transportar um grupo de passageiros de Nova iórque a Albany, nos Estados Unidos. Em 1909, uma réplica do barco zarpou de Staten Island, nos Estados Unidos, durante um festival de comemoração dos mais de cem anos passados desde a criação do barco a vapor. O episódio demonstra a importância cultural da invenção de Róbert Fúlton.

Crescimento urbano e ambiente

Por causa da relação entre a produção de carvão e a de ferro, as fábricas eram instaladas perto das minas. As minas e as fábricas atraíam milhares de camponeses, imigrantes e artesãos em busca de trabalho, que se instalavam nas proximidades desses locais. Formaram-se, assim, grandes cidades industriais em um processo de urbanização desordenado.

Para se ter ideia de como foi rápido esse processo, na Grã-Bretanha, até 1750, apenas nas cidades de Londres e Edimburgo havia mais de 50 mil habitantes. Em 1801, oito cidades ultrapassaram esse número e, em 1851, o mesmo ocorreu em outras 59.

Além disso, o aprimoramento dos meios de produção foi acompanhado pela transformação dos outros processos que envolviam a indústria têxtil, como o de lavagem, preparação das mechas e acabamento dos tecidos. Inicialmente, os tecidos eram alvejados em grandes terrenos ao ar livre. Depois, isso passou a ser feito com produtos químicos, como o ácido sulfúrico e, a partir de 1720, o cloro.

A utilização crescente desses produtos e o descarte de seus resíduos nos rios aumentaram a poluição da água, causando profundo desequilíbrio ambiental e tornando as regiões fabris insalubres.

A poluição dos rios britânicos aumentou tanto com a Revolução Industrial e o processo de urbanização que, em 1874, em um naufrágio no Rio Tâmisa morreram sessenta pessoas, não por afogamento, mas por contaminação. Desde o início do século dezenove, o rio foi usado como uma das principais rotas comerciais da região, e sua poluição foi constante a partir de então.

Fotografia. Vista aérea de um rio largo e sinuoso cortando uma cidade. Uma grande ponte com duas torres no leito do rio une as margens direita e esquerda, interligando a cidade. Navegam nele diversas embarcações de tamanhos variados. Do lado direito e esquerdo, às margens do rio, e ao fundo, diversas construções de altura, formato e cores variados. No alto, céu azul sem nuvens.
Vista aérea do Rio Tâmisa, em Londres, Reino Unido. Foto de 2019.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Em 1957, os especialistas consideraram o Rio Tâmisa biologicamente morto. Os trabalhos para despoluí-lo foram iniciados na segunda metade da década de 1960 e ainda não terminaram. Graças a esse processo de despoluição, alguns peixes e outros animais aquáticos voltaram a aparecer no rio.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a população das cidades britânicas foram retirados de: róbisbáum, E. J. Da Revolução Industrial inglesa ao imperialismo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. página 80.

Bê êne cê cê

Por envolver a reflexão sobre os efeitos da degradação ambiental desde o comêço da Revolução Industrial, o conteúdo contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 2 e nº 3 e das Competências Específicas de História nº 2 e nº 6.

Tema Contemporâneo Transversal

Ao problematizar os impactos ambientais para refletir sobre possíveis soluções, como a aplicada na despoluição do Rio Tâmisa, contribui-se para o desenvolvimento do Tema Contemporâneo Transversal Educação ambiental.

Atividade complementar

Desenvolva com os estudantes um debate a respeito do consumismo. Comece a atividade perguntando a eles com que frequência um aparelho celular precisa ser trocado e por quê. Explique-lhes o que é a obsolescência programada: uma estratégia aplicada a produtos para que saiam da fábrica com predisposição para se tornar obsoletos, de modo que seja necessário trocá-los em um período específico. Incentive os estudantes a pensar no fato de que essa estratégia remonta ao princípio da sociedade industrial, na qual o consumo é uma das principais chaves para movimentar a economia. Estimule-os também a pensar na baixa durabilidade dos produtos e na relação disso com a quantidade de lixo produzida no dia a dia.

Se possível, discuta com os estudantes a duração dos efeitos da industrialização. Com base em tais efeitos, principalmente os relacionados ao aquecimento global, pode-se pensar na escala geológica da ação humana. Muitos estudiosos do assunto admitem que, do ponto de vista ambiental, o ser humano deixou de ser apenas um agente biológico para tornar-se também um agente geológico, ao alterar o clima. Assim, vive-se hoje o que cientistas do clima, ecologistas, biólogos, físicos e diversos pesquisadores das ciências humanas e naturais concordam ser o Antropoceno.

O ludismo

Com o aumento do uso de máquinas e a automação dos processos de produção, muitos operários ficaram com medo de perder o emprego. Em razão disso, promoveram revoltas e destruição dos maquinários.

Você sabia que a palavra sabotagem tem origem nesse período? Ela deriva da palavra francesa sabot, que significa “tamanco”, um tipo de sapato que era atirado pelos operários nas máquinas para danificá-las e comprometer a produção.

Esses protestos, que ocorreram na Grã-Bretanha, na França, na Bélgica e em outros locais, foram meios utilizados pelos operários para lutar por melhores condições de trabalho, diante de uma situação de intensa exploração e de péssima qualidade de vida nas cidades. No início, o movimento era principalmente de resistência e protesto.

No século dezoito, muitos operários passaram a encarar as máquinas como causadoras dos males que o mundo industrial lhes trazia. Assim, grupos de trabalhadores se reuniam com o objetivo de destruí-las; por isso, ficaram conhecidos como quebradores de máquinas.

Com o objetivo de conter esse movimento, que ganhou fôrça sobretudo a partir da segunda metade do século dezoito, o governo britânico promulgou, em 1769, uma lei que determinava a pena de morte para os destruidores de máquinas e fábricas.

Apesar dessa primeira proibição, protestos foram realizados no Condado de Nottingham, onde os patrões foram acusados de reduzir o salário dos operários para baratear seus produtos. Os operários, então, solicitaram o fim do uso das máquinas no processo de produção e o restabelecimento de seus antigos pagamentos. A fim de conquistar esses direitos, promoveram violentos protestos, nos quais destruíram parte das máquinas e fábricas de Nottingham.

A estratégia era reunir-se em grupos de aproximadamente cinquenta pessoas e invadir de modo rápido uma aldeia após a outra, destruindo os teares que encontrassem pelo caminho.

Gravura em preto e branco. Um homem com semblante enfurecido, visto de perfil, segura uma marreta nas mãos e empurra pedaços de madeira e um tear com o pé esquerdo. Ao fundo e à esquerda, a inscrição 'Ludd Nedd'. Diversos elementos complementam a gravura: pedaços de madeira, arames, hastes verticais e horizontais, trechos de muros com tijolos etc.
Representação de néd lúd destruindo um tear em gravura de béla uítis, 1923.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Mesmo com a promulgação da lei de 1769, o movimento não foi extinto e alcançou o auge por volta de 1812. Nesse período, já era conhecido como ludismo, em homenagem a néd lúd, personagem que foi apontado como o líder dos operários e que teria destruído a marretadas as máquinas da oficina em que trabalhou.

Respostas e comentários

Ampliando

Escrita na primeira metade do século dezenove, a obra A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, de fréderique ênguels, intelectual ligado à tradição socialista, tornou-se um importante relato sobre o cotidiano e as condições de vida dos trabalhadores ingleses durante a Revolução Industrial. No trecho a seguir, ênguels reflete sobre a condição dos bairros operários nas cidades industriais da Inglaterra.

“Todas as grandes cidades têm um ou vários ‘bairros de má fama’ onde se concentra a classe operária. É certo ser frequente a miséria abrigar-se em vielas escondidas, embora próximas aos palácios dos ricos; mas, em geral, é-lhe designada uma área à parte, na qual, longe do olhar das classes mais afortunadas, deve safar-se, bem ou mal, sozinha. Na Inglaterra, esses ‘bairros de má fama’ se estruturam mais ou menos da mesma fórma que em todas as cidades: as piores casas na parte mais feia da cidade; quase sempre, uma longa fila de construções de tijolos, de um ou dois andares, eventualmente com porões habitados e em geral dispostas de maneira irregular. Essas pequenas casas de três ou quatro cômodos e cozinha chamam-se cottages e normalmente constituem em toda a Inglaterra, exceto em alguns bairros de Londres, a habitação da classe operária. Habitualmente, as ruas não são planas nem calçadas, são sujas, tomadas por detritos vegetais e animais, sem esgotos ou canais de escoamento, cheias de charcos estagnados e fétidos. A ventilação na área é precária, dada a estrutura irregular do bairro e, como nesses espaços restritos vivem muitas pessoas, é fácil imaginar a qualidade do ar que se respira nessas zonas operárias – onde, ademais, quando faz bom tempo, as ruas servem aos varais que, estendidos de uma casa a outra, são usados para secar a roupa.”

ênguels, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010. página 70.

Curadoria

Fábricas e homens: a Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores (Livro)

Edgar de Decca e Cristina Meneguello. quinta edição São Paulo: Atual, 2009.

Nesse livro, são abordados os efeitos da Revolução Industrial na vida dos trabalhadores por meio da análise de documentos de época relacionados ao cotidiano das fábricas, aos castigos aplicados aos operários (homens, mulheres e crianças) e à organização das primeiras greves e lutas sindicais.

Reação governamental aos protestos

Os ludistas iam passando de aldeia em aldeia e se spalharam por outras regiões, chegando a Yorkshire, onde atacaram a tecelagem de Uilian cártráit, além de alcançar Liversedge, onde assassinaram o industrial Uilian , em 1812.

O Parlamento britânico considerou o movimento dos ludistas uma organização militar e enviou tropas para lutar contra eles. Em janeiro de 1813, ordenou a execução por enforcamento de dezessete pessoas em iórque. A ação conteve o movimento, mas não o destruiu.

Em 1830 foi promulgada a Nova Lei dos Pobres. O objetivo do governo era prestar assistência social aos mais pobres, garantindo-lhes roupas, alimentação e alojamento em asilos. No entanto, em troca dessa assistência, as pessoas em situação de pobreza eram obrigadas a trabalhar exaustivamente várias horas por dia.

O descontentamento dos operários aumentou ainda mais em 1832, quando foi realizada uma reforma no Parlamento britânico, que dedidiu manter o sufrágio censitário. Isso significava que o direito ao voto era determinado por critérios econômicos e de renda, o que excluía os operários da vida política institucional.

Logo depois, em 1836, uma grave crise econômica atingiu o Reino Unido, aumentado ainda mais a miséria dos trabalhadores.

Cartaz. Na parte de cima o título, em letras garrafais. Abaixo ilustração de pessoas marretando um objeto à esquerda, outros reunidos no chão à direita, e alguns brigando. Ao fundo pessoas penduradas.
Denúncia da situação dos operários em cartaz britânico de 1834. Na parte superior da imagem, está escrito: “A Nova Lei dos Pobres com a descrição das novas casas de trabalho. Olhe a imagem – veja”.
Gravura em preto e branco. Em primeiro plano, no canto inferior direito, pessoas com bastões e ferramentas nas mãos passam por uma vegetação alta. Atrás deles, dois homens observam casebres, de onde saem chamas claras que se erguem em direção ao céu. Ao fundo, outras casas.
Gravura de cêrca de 1890 representando o ataque de trabalhadores a uma fazenda em Kentish, no Reino Unido, para destruir o maquinário agrícola.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Os operários denunciavam as péssimas condições de trabalho e os castigos corporais aos quais eram submetidos em cartazes como o reproduzido nesta página, que também era uma crítica à Nova Lei dos Pobres.

No campo, com a aceleração do processo de cercamentos, somada às péssimas condições de vida e trabalho, diversos trabalhadores atacaram fazendas e propriedades agrícolas vinculadas à indústria têxtil. O ataque ilustrado na imagem de 1890 foi direcionado às máquinas de triturar. Camponeses viam nessas máquinas uma ameaça à garantia de seu trabalho.

Respostas e comentários

Apesar de os níveis de alfabetização e letramento serem baixos entre os integrantes da classe operária, a impressão de cartazes, panfletos, manifestos, opúsculos e jornais periódicos era uma das fórmas de organização mais frequentes. Tanto para a produção desses materiais como para a promoção da ação organizada, escrever, ler e partilhar a leitura eram ações que fortaleciam a solidariedade entre os trabalhadores. O cartaz contra a Nova Lei dos Pobres, reproduzido nesta página, é um exemplo disso. É importante que os estudantes relacionem o texto à ilustração. Pergunte a eles, sobre o cartaz: “Por que está escrito em letras grandes: ‘A Nova Lei dos Pobres com uma descrição dos novos locais de trabalho. Olhe o desenho – veja’?”; “Por que se insistia na observação da imagem considerando o público ao qual o cartaz era dirigido?”; “Qual é o poder das imagens reproduzidas maciçamente na comunicação de uma mensagem?”.

É importante que os estudantes identifiquem o ambiente político no qual os protestos dos ludistas se realizavam. O texto oferece algumas pistas para isso. Uma delas é a limitação da participação política decorrente do sufrágio censitário. Outra é a existência de leis de assistência aos pobres que, na realidade, traduziam-se em efetivo contrôle social dos pobres, constrangidos ao trabalho compulsório em troca de alojamento, alimentação, vestuário etcétera.

Ampliando

No texto a seguir, o historiador Eric róbisbáum analisa a eficácia da destruição das máquinas.

“Podem o tumulto e a destruição de máquinas reticências deter o avanço do progresso técnico? Comprovadamente não podem deter o triunfo do capitalismo industrial como um todo. Numa escala menor, no entanto, reticências não são, de maneira alguma, a arma desesperadamente ineficiente que se tem feito parecer. reticências O ludismo dos tosquiadores do Wiltshire em 1802 certamente adiou a generalização da mecanização 

róbisbáum, E. J. Os trabalhadores: estudos sobre a história do operariado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. página 26-27.

O cartismo

Em 1838, os trabalhadores de Londres enviaram ao Parlamento a Carta do Povo, um documento no qual reivindicavam o direito ao voto para todos os homens maiores de 21 anos, assim como o voto secreto, entre outras demandas.

O movimento em defesa dessa carta ficou conhecido como cartismo. Por visar à representação política dos trabalhadores, ele pode ser entendido como um amadurecimento do movimento operário europeu.

Apesar de haver recebido mais de um milhão de assinaturas, a reforma parlamentar proposta na Carta do Povo foi negada pelo Parlamento britânico. Por isso, em 1842 os operários organizaram outra petição, dessa vez assinada por 3 milhões de pessoas.

Na petição cartista de 1842, os operários reivindicaram a diminuição da jornada de trabalho, a proibição do trabalho infantil e a regulamentação do trabalho feminino, entre outras demandas. Como tais reivindicações também não foram atendidas, eles realizaram uma grande manifestação em 1848.

Com o aumento da repressão por parte do governo, o cartismo perdeu fôrça e os operários se organizaram de outras maneiras. Apesar de não avançar na conquista institucional dos direitos dos trabalhadores, o cartismo foi muito importante. Por mais de vinte anos, o movimento reuniu milhões de trabalhadores britânicos na luta por uma causa, incentivando-os a se identificar como uma classe com os mesmos interesses e problemas.

Aos poucos, ao longo do século dezenove e no início do século vinte, o movimento operário conquistou vários direitos.

Fotografia. Multidão reunida em frente a uma grande construção horizontal, similar a uma fábrica, com uma chaminé alta, à esquerda. À direta, outra construção de três pavimentos, com diversas janelas, de paredes de cor branca e telhados em formato triangular. Alguns dos manifestantes carregam cartazes. No centro da foto, uma plataforma sobre a qual há outras pessoas. No alto, céu azul sem nuvens.
Multidão em manifestação cartista, na cidade de Londres, Reino Unido. Foto de 1848.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A expressiva ação do cartismo foi liderada principalmente por Uilian e férgus ôu cónor. A reunião de trabalhadores na região de Kennington Common, em Londres, registrada na foto, foi convocada por ôu cónor para apresentar uma petição ao Parlamento.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre o movimento operário foram retirados de: mórton, A. L.; têit, G. O movimento operário britânico. Lisboa: Seara Nova, 1968. página 13.

Com base nos exemplos tratados no texto, proponha aos estudantes uma reflexão sobre a importância da organização política da sociedade civil para a vida democrática nos dias atuais. Pergunte a eles se conseguem identificar grupos e organizações (associações, federações, sindicatos etcétera) atuais que lutam pela manutenção e pela ampliação de direitos políticos e sociais e de interesses econômicos. Nas democracias liberais, com alguns limites, diferentes grupos se organizam com essas finalidades. Parte da educação para a cidadania implica o reconhecimento de que as diferenças (o dissenso) resultam em acordos temporários (consenso) no marco das instituições democráticas. Essa história, como visto, não começou hoje.

É importante reforçar aos estudantes o fato de que a luta por sufrágio universal, ou seja, pela ampliação dos direitos políticos, era parte fundamental das pautas do movimento social dos trabalhadores. Não se tratava de qualquer iniciativa de subversão violenta da ordem política. Anos depois, de fato, o movimento operário ganharia tons revolucionários, especialmente a partir de 1848. Contudo, ele jamais perdeu essa característica inicial de conjugar a luta por direitos políticos com a regulação das relações de trabalho (contrôle da jornada, aumento de salários, melhora das condições de vida, limitações ao trabalho infantil etcétera) de fórma pacífica com as manifestações de rua, as petições, o debate na imprensa e as greves. A conquista de direitos políticos e sociais generalizou-se relativamente apenas depois da Segunda Guerra Mundial e ocorreu de fórma desigual entre os países e regiões. De todo modo, é preciso reconhecer o protagonismo do movimento dos trabalhadores nessa conquista.

Analisando o passado

Analise a seguir duas charges sobre o cartismo, publicadas em 1848 pela Punch, revista especializada em sátiras e análise de assuntos do cotidiano por meio do humor. A Punch foi veiculada no Reino Unido de 1841 a 1992, sendo reativada em 1996 e, em 2002, encerrou suas atividades. Reflita sobre essas imagens, produzidas no século dezenove, para responder às perguntas que seguem.

CHARGE 1

Charge em preto e branco. À esquerda, um homem de cabelo curto e cacheado, vestindo calça comprida e colete escuro sobre uma camisa clara. Ele carrega com as duas mãos um papel grande e enrolado, onde se lê, em inglês, 'A Carta'. Ele está diante de um homem representado em menor tamanho e magro, vestindo calça e casaca escuras, com camisa de gola branca e gravata.
Charge publicada na revista Punch, em 1848. Abaixo da ilustração, está escrito: “Operário cartista: Não é tão impossível, certo? Membro do Parlamento: Minha mulher diz que espera que você não convoque uma reunião com seus credores...”.

CHARGE 2

Charge em preto e branco. À esquerda, mulheres usando vestidos longos, alguns em branco e outros em preto, estão em uma passeata, fugindo de ratos que homens de cartola e casaca, à direita, soltaram sobre elas.
Como tratar mulheres cartistas, charge publicada na revista Punch, em 1848.

Responda no caderno.

  1. Na primeira charge é representado um operário do movimento cartista entregando a Carta do Povo a um membro do Parlamento. De que modo esse operário e a carta estão representados? Em sua opinião, o que isso simboliza?
  2. Na segunda charge, de que modo as mulheres são representadas? Qual é o simbolismo por trás disso?
  3. Considerando que as duas charges abordam a luta do movimento cartista, que opinião elas transmitem sobre a capacidade das mulheres e dos homens de lutar por seus direitos? Você acha que ainda existem pessoas com essa opinião?
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

O conteúdo da seção “Analisando o passado” envolve o confronto entre documentos e visões diversas do movimento cartista, mobilizando os procedimentos interpretativos próprios da história e das ciências humanas. São apresentadas duas charges publicadas no mesmo periódico, a primeira reconhece a agência política dos homens, a segunda a nega às mulheres. Assim, a seção contribui para o desenvolvimento da Competência Específica de História nº 4.

Analisando o passado

Nessa seção, propõe-se a análise de duas charges sobre o cartismo, publicadas pela revista inglesa Punch em 1848. A primeira tem como personagem principal um operário; a segunda destaca as operárias que faziam parte do movimento. Pretende-se sensibilizar os estudantes para a diferença na representação de homens e mulheres que lutavam pelos mesmos direitos, demonstrando que o machismo e as ideias de inferioridade feminina têm raízes históricas.

Atividades

1. Tanto a Carta do Povo quanto o operário são representados muito maiores que o membro do Parlamento, simbolizando a grandeza e a importância deles diante do político.

2. As mulheres são representadas, durante uma passeata, fugindo de ratos que foram soltos por membros do Parlamento. O sentido comunicado é o de que as mulheres se assustam facilmente, sendo simples afugentá-las das passeatas.

3. Enquanto os homens do movimento cartista são representados como corajosos e superiores aos membros do Parlamento, as mulheres, apesar de participarem da mesma luta, são ridicularizadas e consideradas medrosas e incapazes de lutar pelos próprios direitos. A resposta à segunda pergunta é pessoal. Incentive os estudantes a traçar aproximações e distanciamentos entre o modo como as mulheres, ao defender seus direitos, eram representadas no século dezenove e a maneira como elas são representadas atualmente.

Vida, cotidiano e trabalho durante a Revolução Industrial

A Revolução Industrial modificou completamente a vida da maioria das pessoas pobres, que passou a enfrentar duras condições de trabalho nas fábricas. Não havia salário mínimo, jornada de trabalho máxima, descanso semanal, férias nem outros direitos trabalhistas.

As jornadas de trabalho eram cansativas e podiam se estender de dez a dezoito horas por dia. Como havia muitos desempregados, os operários se submetiam a salários baixíssimos e a condições que geravam lesões graves, como as causadas por esforço repetitivo, e acidentes, que podiam levar à morte. Em caso de acidente ou doença, os trabalhadores não recebiam auxílio.

Para aumentar o lucro, os donos dos meios de produção lotavam as fábricas com máquinas e trabalhadores. Esses locais eram abafados, sujos e úmidos. Para piorar, o ar era poluído pela fumaça das máquinas e cheio de fiapos que se soltavam nos processos de tecelagem, causando doenças respiratórias.

Com a industrialização, a maioria dos operários passou a viver em bairros próximos às fábricas. Esses bairros eram caracterizados pela pobreza e por ruas estreitas e mal iluminadas. As casas eram precárias e pequenas. Diversos homens, mulheres e crianças tinham de dormir no mesmo cômodo. Os banheiros eram fossas que ficavam a céu aberto, pois não havia rede de esgoto. Diante dessas péssimas condições de vida, era comum a disseminação de doenças, como a tuberculose e a cólera.

Ilustração. Vista de cima a diagonal de uma rua onde há pessoas sentadas e transeuntes. No canto esquerdo da ilustração, os fundos das casas operárias, com quintal aberto. Algumas pessoas penduram lençóis no varal. No canto direito, à frente das casas, algumas estão com a porta aberta. Os cômodos estão iluminados com uma luz amarelada. As casas são feitas de tijolos, padronizadas e geminadas. Elas têm dois andares e uma torre com duas chaminés. Ao fundo, grandes chaminés de uma fábrica. O céu está encoberto por uma névoa preta.
Ilustração atual inspirada na gravura do francês gustáv dorrê representando uma vila operária de Londres, produzida em 1872.
Respostas e comentários

Considerando as razões éticas do aprendizado histórico, cabe perguntar aos estudantes se as condições de trabalho e remuneração são dignas em todas as situações. São comuns, na imprensa brasileira e internacional, notícias de casos de trabalho em condições análogas às de escravidão. Nessas situações, os trabalhadores, apesar de não serem considerados propriedades de alguém, podem ser aviltados a ponto de ter sua liberdade tolhida.

Ampliando

São reproduzidos a seguir alguns trechos do romance Germinal, de êmíl zolá, publicado em 1885, que apresentam as condições de vida dos mineiros de carvão e suas famílias, no norte da França.

“Outro acesso de tosse veio interrompê-lo. reticências

Pigarreou novamente e cuspiu negro.

– É sangue? – Etienne ousou perguntar.

Boa-Morte limpava lentamente a boca com as costas da mão.

– É carvão. Tenho tanto carvão no corpo que chega para aquecer o resto dos meus dias. E já faz cinco anos que não ponho os pés lá embaixo. Tinha tudo isso armazenado, parece-me, sem saber. Melhor, até conserva! reticências

Em casa dos maê, no número dezesseis do segundo grupo de casas, tudo era sossego. O único quarto do primeiro andar estava imerso nas trevas, como se estas quisessem esmagar com seu peso o sono das pessoas que se pressentiam lá, amontoadas, boca aberta, mortas de cansaço. Apesar do frio mordente do exterior, o ar pesado desse quarto tinha um calor vivo, esse calor rançoso dos dormitórios, que, mesmo asseados, cheiram a gado humano. reticências

A sala era pequena, de uma nudez clara com suas três mesas e sua dúzia de cadeiras, seu balcão de pinho, do tamanho de um guarda-comida de cozinha. Havia, quando muito, uns dez copos, três garrafas de licor, um garrafão, uma pequena caixa de zinco com torneira de estanho para a cerveja e nada mais, nenhuma imagem, nenhuma prateleira, nenhum jogo reticências”.

zôlá, E. Germinal. São Paulo: Estação Liberdade, 2012. E-book. 

O trabalho de mulheres e crianças

A maior parte dos patrões evitava empregar homens adultos, pois o contrato deles podia ser mediado por guildas ou corporações. Não havia, porém, leis que regulamentassem a contratação de mulheres e crianças, que podiam trabalhar nas fábricas e receber menos. Por isso, elas eram maioria.

Estima-se que, em 1839, quase a metade dos trabalhadores das fábricas britânicas tinha menos de 18 anos. As mulheres compunham 56,25% dos operários nas fábricas de algodão, 69,5% nas fábricas de lã e 70,5% nas fábricas de seda e de fiação de linho.

Mulheres grávidas podiam ser dispensadas sem ressarcimento. As que não eram demitidas tinham de voltar para as fábricas três ou quatro dias depois do parto. Os bebês ficavam em casa e era comum dar-lhes narcóticosglossário , como o láudano, para acalmá-los, o que causava a diminuição do ritmo cardíaco e podia levar à morte.

Por volta dos 9 anos, as crianças já podiam ser enviadas para as fábricas, onde chegavam a trabalhar dezesseis horas por dia. Por causa de seu tamanho, trabalhavam em locais pequenos e realizavam tarefas que seriam difíceis para os adultos, como recolher os carretéis de fios que caíam entre as máquinas. Como não havia nenhum tipo de proteção, era comum elas se ferirem no maquinário e até terem partes do corpo amputadas.

Fotografia. Multidão em uma manifestação. Há crianças e adultos vestindo camisetas com cores padronizadas, formando faixas de cor ao longo da via que recebe a manifestação: branco, azul, vermelho e, algumas pessoas, vestem amarelo. Eles carregam cartazes; em dois deles, é possível ler: 'MARCHA POR UM BRASIL SEM TRABALHO INFANTIL'.
Manifestação contra o trabalho infantil em Belém (Pará). Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O Dia Nacional e Mundial de Combate ao Trabalho Infantil é comemorado em 12 de junho. Todos os anos, nesse dia, são realizados eventos para dar visibilidade ao tema e propor um debate sobre a violação e a defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, pois a exploração do trabalho infantil ainda ocorre em várias partes do mundo.

Dica

FILME

As aventuras de óliver tuíste Direção: tôni bíl. Estados Unidos, 1997. Duração: 91 minutos.

O filme é baseado no romance homônimo de chárles díquens, escrita de As aventuras de Óliver que abordou em suas obras os dramas da vida cotidiana dos pobres. Essa adaptação cinematográfica apresenta a história do jovem Oliver e sua vida nas ruas da Londres do século dezenove.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre as fábricas britânicas foram retirados de: ênguels, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global, 1986. página 165-166.

Classificação indicativa de As aventuras de óliver tuíste: 10 anos.

Ampliando

No texto a seguir, o historiador Éduardi Tômpson aborda o contrôle sobre o tempo de trabalho nas primeiras fábricas europeias.

“Era exatamente naquelas atividades – as fábricas têxteis e as oficinas – em que se impunha rigorosamente a nova disciplina de tempo que a disputa sobre o tempo se tornava mais intensa. No princípio, os piores mestres tentavam expropriar os trabalhadores de todo conhecimento sobre o tempo. ‘Eu trabalhava na fábrica do . Braid’, declarou uma testemunha:

‘Ali trabalhávamos enquanto ainda podíamos enxergar no verão, e não saberia dizer a que hora parávamos de trabalhar. Ninguém a não ser o mestre e o filho do mestre tinha relógio, e nunca sabíamos que horas eram. Havia um homem que tinha relógio Foi-lhe tirado e entregue à custódia do mestre, porque ele informara aos homens a hora do dia’

reticências A primeira geração de trabalhadores nas fábricas aprendeu com seus mestres a importância do tempo; a segunda geração formou os seus comitês em prol de menos tempo de trabalho no movimento pela jornada de dez horas; a terceira geração fez greves pelas horas extras ou pelo pagamento de um percentual adicional (1,5%) pelas horas trabalhadas fóra do expediente. Eles tinham aceitado as categorias de seus empregadores e aprendido a revidar os golpes dentro desses preceitos. Haviam aprendido muito bem a sua lição, a de que tempo é dinheiro.”

tompison, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. página 293-294.

A mudança na relação com a natureza

Antes da Revolução Industrial, as pessoas tinham uma relação mais equilibrada com a natureza. Depois, a sociedade ocidental passou a enxergar o planeta como fonte de recursos a ser domada pela inteligência humana e pelo maquinário. A água, por exemplo, passou a ser vista como algo que podia ser transformado em energia por meio do vapor. Além disso, como você estudou, o crescimento urbano e industrial aconteceu sem planejamento nem preocupação com o meio ambiente.

O afastamento da natureza também se manifestou na mudança da percepção que as pessoas tinham sobre o tempo. Antes, a passagem do tempo era percebida de maneira cíclica e as tarefas eram relacionadas às condições da natureza. Com a Revolução Industrial, passou a ser definida pelo patrão e não estava mais relacionada às estações do ano ou ao nascer e ao pôr do sol, pois as fábricas funcionavam também no período noturno.

Na sociedade industrial, o tempo passou a ser valorizado e medido como um recurso para controlar a produção nas fábricas e calcular a remuneração dos trabalhadores.

Essa mudança da relação com o tempo envolveu, por exemplo, a criação de instrumentos de medição para disciplinar os operários, como os relógios de ponto, que controlavam os horários de chegada e saída dos trabalhadores nas fábricas. Os relógios públicos já eram construídos na Europa desde o século catorze, mas com a industrialização se tornaram populares os relógios portáteis. Com eles, cada indíviduo podia controlar o próprio tempo.

Fotografia. Vista de um local fechado, comprido e de paredes brancas. Funcionários diante de uma esteira rolante, típicas das linhas de produção industriais. Eles usam capacete vermelho, máscara de proteção, macacão azul e luvas. A esteira conduz peças de produtos eletrônicos. No canto inferior direito da fotografia, um saco grande com muitas peças de produtos eletrônicos.
Funcionários de fábrica de produtos eletrônicos em Gizé, no Egito, examinando materiais que podem ser destinados à reciclagem. Foto de 2021.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O crescimento urbano e industrial e o consumo descontrolado são problemas que começaram no século dezoito, com a Revolução Industrial, mas persistem até os dias de hoje. Em 2020, a Organização das Nações Unidas (ônu) publicou um relatório de acordo com o qual, em todo o mundo, são produzidos 53 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano. Estima-se que até 2050 serão produzidos 120 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Relacione a Revolução Industrial à declaração da morte biológica do Rio Tâmisa, em Londres, em 1957.
  2. Identifique as principais características dos movimentos operários ludista e cartista.
  3. De que fórma a modernização dos processos de produção, da implementação das manufaturas à formação das indústrias, afetou a vida dos trabalhadores?
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a estimativa de lixo em 2050 foram retirados de: MONTANHA de lixo eletrônico não para de crescer no mundo. uól, 5 julho 2020. Disponível em: https://oeds.link/BjtidX; MUNDO produzirá 120 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano até 2050, diz relatório. UN Environment Programme, 24 janeiro 2019. Disponível em: https://oeds.link/bbCIKy. Acessos em: 18 fevereiro 2022.

• O texto destaca a emergência de uma visão utilitária da natureza e do tempo. Por um lado, a vida social dominada pelo tempo da fábrica indicava a alienação do trabalho, que, no final das contas, era a apropriação do resultado do tempo de trabalho pelos donos das fábricas. Pode-se dizer que o dito popular “tempo é dinheiro” só faz sentido em uma sociedade que contabiliza o tempo medindo as horas necessárias para produzir algo e a remuneração por produzir. Com base nesse ponto de vista, a natureza deixava de ser a medida e o limite da ação humana, tornando-se um recurso a ser apropriado e transformado pelo indivíduo para a acumulação.

Orientação para as atividades

Ao propor as atividades do boxe “Agora é com você!”, oriente os estudantes a buscar e sistematizar as informações segundo os procedimentos recomendados anteriormente para desenvolver os processos cognitivos requeridos. Observe que a atividade 2 se relaciona à capacidade de caracterizar e as atividades 1 e 3 envolvem aspectos éticos do conhecimento histórico vinculados à questão ambiental e às desigualdades sociais. No momento da correção, é possível relacionar esse conteúdo a situações tensas do mundo contemporâneo observáveis na realidade mais imediata.

Agora é com você!

1. Resíduos da produção industrial, incluindo produtos como ácido sulfúrico e cloro, eram descartados no rio. O Tâmisa também sofreu com os processos desordenados de urbanização. O rio foi ainda utilizado como uma das principais rotas comerciais da região, tornando-se tão poluído que, em 1957, especialistas o declararam biologicamente morto.

2. Esses movimentos foram reações às duras condições de trabalho e de vida dos operários britânicos na primeira fase da Revolução Industrial. O ludismo foi caracterizado pela ação de quebrar os maquinários como fórma de protesto, enquanto o cartismo organizou-se para apresentar reivindicações ao Parlamento, como as contidas na Carta do Povo.

3. Diferentemente do que ocorria nas manufaturas e nas corporações, a produção fabril não era regulamentada. Não havia pagamento mínimo, jornada de trabalho máxima, descanso semanal ou férias. Os trabalhadores foram transformados em assalariados, perdendo o contrôle sobre o processo de produção. O ambiente de trabalho e as moradias eram insalubres, o que facilitava a contaminação e a disseminação de doenças. Além disso, houve transformações na relação com a natureza e na fórma de perceber o tempo.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. Analise o mapa mental da Revolução Industrial. No caderno, relacione os fatos e personagens do quadro a seguir aos títulos desse mapa.

  • Capital acumulado.
  • Grande quantidade de mão de obra disponível.
  • Poluição ambiental.
  • Quebradores de máquinas.
  • Sentimento de união entre os trabalhadores.
  • Teares mecânicos.
  • Trens e estradas de ferro.
  • Trabalho não regulamentado.
  • Trabalho infantil.
  • Vapor pela queima do carvão.
Mapa mental. Ao centro, uma engrenagem em laranja com a expressão 'Revolução Industrial'. Ao redor dela, diversas ilustrações em tons de azul com palavras a elas associadas. Em sentido horário, temos, à direita, a expressão: 'Vida dos operários', próxima à ilustração de uma mulher e de uma criança. À esquerda delas, a expressão: 'Fonte de energia', próxima à ilustração de um pequeno vagão contendo carvão e uma pá ao lado dele. Abaixo, a expressão: 'Avanços tecnológicos', próxima a uma máquina sobre duas rodas que solta uma fumaça por uma chaminé. À esquerda, a palavra: 'Urbanização', vinculada a uma série de construções geminadas de dois pavimentos com chaminés no telhado. À esquerda dela, ilustração de uma fábrica com duas chaminés e um operário, que tem uma marreta em mãos, com os braços para cima, prestes a desferir um golpe. Próxima a essas ilustrações, a expressão: 'Movimento operário - ludismo e cartismo'. Acima, ilustração do mapa do Reino Unido e, ao lado dela, a expressão 'Pioneirismo inglês'.
  1. Analise as informações a seguir. No caderno, identifique as alternativas que apresentam características da Revolução Industrial.
    1. Produção artesanal.
    2. Produção em baixa escala.
    3. Automação de algumas etapas da produção.
    4. Grande quantidade de assalariados e fábricas.

Aprofundando

3. Leia o texto a seguir, sobre a sociedade britânica do século dezoito, e faça o que se pede.

“A família era a base reticências de todas as moças pertencentes à classe média e à aristocracia daquela época; por isso, era de se esperar que os pais as deixassem certa quantia [de dinheiro] após sua morte ou que os irmãos ficassem com a responsabilidade de ajudá-las, caso não se casassem. A herança e bens materiais eram transmitidos sempre ao filho primogênito ou parente mais próximo do sexo masculino, impedindo assim que as filhas recebessem a herança. Na verdade, esse era o sistema legal da época, criado para que a fortuna ficasse sempre em nome da família por várias gerações, e para que não fosse partilhada, caso o pai decidisse dividir as terras e bens entre todos os filhos, incluindo filhas.

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Ao incentivar o debate entre os estudantes e promover a produção de uma dissertação argumentativa com base em dados obtidos por meio de pesquisa, as atividades 5 e 6 favorecem o exercício da Competência Geral da Educação Básica nº 7. Por envolver a questão dos direitos das crianças e adolescentes em diferentes momentos históricos, a atividade 6 contribui para o desenvolvimento das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 2 e nº 6 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº 3.

Tema Contemporâneo Transversal

Por envolver uma reflexão sobre os direitos das crianças e adolescentes em diferentes períodos históricos, ou seja, durante a Revolução Industrial e no Brasil de hoje, a atividade 6 mobiliza o Tema Contemporâneo Transversal Direitos da criança e do adolescente.

Atividades

Organize suas ideias

1. Ao produzirem o mapa mental, os estudantes podem estabelecer a estrutura a seguir.

Pioneirismo inglês: capital acumulado; grande quantidade de mão de obra disponível.

Movimento operário – ludismo e cartismo: quebradores de máquinas; sentimento de união entre os proletários.

Urbanização: poluição ambiental.

Vida dos operários: trabalho não regulamentado; trabalho infantil.

Fonte de energia: vapor pela queima do carvão.

Avanços tecnológicos: teares mecânicos; trens e estradas de ferro.

2. Alternativas c e d.

As leis inglesas da época colocavam a mulher em uma situação muito delicada. O direito de propriedade e o contrôle do dinheiro eram exclusivos dos maridos. Somente após o The Married Woman’s Property Act, de 1870, é que as mulheres conquistam o direito de herdarem rendimentos e propriedades após o casamento reticências.

O Matrimonial Causes Act, de 1857, dava ao homem o direito de se divorciar, caso a mulher lhe fosse infiel. Porém, se uma mulher pedisse o divórcio por infidelidade do marido, esta perderia a guarda dos filhos e ficava proibida de vê-los. reticências Somente em 1891 reticências as mulheres conquistaram o direito do divórcio, sem restrições aos filhos.”

ZARDINI, A. S. O universo feminino nas obras de Djêine Óstin. Em Tese, Belo Horizonte, volume 17, número 2, página158-164, 2011. 

  1. Segundo a autora do texto, por que a herança familiar ficava sempre com o filho primogênito ou outro homem da família?
  2. Como o Married Woman’s Property Act, de 1870, mudou essa situação?
  3. Compare a situação das mulheres descrita nesse texto com a das trabalhadoras das fábricas, que você estudou no capítulo, e aponte as principais diferenças e semelhanças entre elas.

4. ()

“Na Europa, até o século dezoito, o passado era o modelo para o presente e para o futuro. O velho representava a sabedoria, não apenas em termos de uma longa experiência, mas também da memória de como eram as coisas, como eram feitas e, portanto, de como deveriam ser feitas. Atualmente, a experiência acumulada não é mais considerada tão relevante. Desde o início da Revolução Industrial, a novidade trazida por cada geração é muito mais marcante do que sua semelhança com o que havia antes.”

Adaptado de Eric róbisbáum, O que a história tem a dizer-nos sobre a sociedade contemporânea? em: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, página 37-38.

  1. Segundo o texto, como a Revolução Industrial transformou nossa atitude em relação ao passado?
  2. De que maneiras a Revolução Industrial dos séculos dezoito e dezenove alterou o sistema de produção?
  1. Debata com os colegas as questões a seguir.
    1. O desenvolvimento tecnológico e a industrialização causaram mudanças positivas ou negativas à vida dos seres humanos? Expliquem.
    2. Na opinião de vocês, o século vinte e um já superou os problemas apresentados na alternativa anterior? Justifiquem a resposta.
  2. Leia a seguir três trechos do Estatuto da Criança e do Adolescente (éca), uma lei de 1990 criada para proteger juridicamente as crianças e os adolescentes.

Artigo 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho reticências

Artigo 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. reticências 

Artigo 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.”

BRASIL. Lei nº 8 069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF, 13 julho 1990. Disponível em: https://oeds.link/fGd074. Acesso em: 18 fevereiro 2022.

Com base nesses artigos do éca, produza uma dissertação argumentativa comparando os direitos das crianças e dos adolescentes na época da Revolução Industrial aos que eles têm hoje, no Brasil. Caso queira utilizar outras informações para a comparação, pesquise dados e estatísticas sobre o trabalho infantil na atualidade. Você pode encerrar o texto com propostas para solucionar esse problema.
Respostas e comentários

Aprofundando

3. a) Isso decorria de um sistema de leis segundo o qual a herança e os bens materiais eram transmitidos ao filho primogênito ou, na falta deste, ao parente mais próximo do sexo masculino, impedindo que as descendentes, primogênitas ou não, recebessem a herança. Esse sistema legal foi criado para que a fortuna ficasse em nome da família por várias gerações e não fosse partilhada, caso o pai decidisse dividir as terras e bens entre os filhos e as filhas.

b) O Married Woman’s Property Act modificou a situação, dando às mulheres o direito de herdar rendimentos e propriedades após o casamento.

c) O texto aborda legislações que versam sobre todas as mulheres, ou seja, valem para todas: as mulheres da classe média e da aristocracia e as trabalhadoras. No entanto, como os estudantes notaram no capítulo, as mulheres operárias trabalhavam horas exaustivas, recebiam pouco, não tinham direitos trabalhistas, expunham seus filhos à rotina das fábricas, adoeciam em razão de insalubridade etcétera o que tornava o cotidiano delas distinto do das mulheres da classe média e da aristocracia.

4. a) Segundo o texto, antes da Revolução Industrial o passado era considerado um modelo, e o velho representava a sabedoria e a experiência. Depois da Revolução Industrial, a experiência perdeu importância porque cada geração passou a ser caracterizada pela novidade que trazia.

b) Com a Revolução Industrial dos séculos dezoito e dezenove, entre outras transformações, houve a mecanização da produção, com a consequente perda de contrôle, por parte do operário, sobre o processo de trabalho.

5. a) e b) Espera-se que, no debate, os estudantes identifiquem as melhoras nas condições de vida das pessoas, como o acesso a produtos e serviços, inclusive o de atendimento médico, e também as questões negativas, apontando os impactos do uso maciço de máquinas e tecnologia no meio ambiente, nas relações de trabalho, no consumo e no aumento das desigualdades sociais. É interessante ampliar a reflexão sobre transformações nas sociedades ao longo do tempo, com comparações geracionais – citando, por exemplo, o uso de objetos hoje considerados obsoletos, como as máquinas de escrever, os orelhões, os videocassetes ou outros aparelhos analógicos, como câmeras fotográficas. Com base nos comentários sobre essa questão, incentive os estudantes a imaginar um cotidiano em que celulares, carros, eletrodomésticos e mesmo telefones fixos inexistiam ou eram raridade, identificando mudanças e continuidades ligadas ao uso das tecnologias. Esse exercício de imaginação contribui para a reflexão sobre os desafios da contemporaneidade diante do uso maciço de tecnologias. A discussão sobre os efeitos das diferentes tecnologias na organização do trabalho é ampla. É possível vincular, por exemplo, a ascensão de um mundo tecnológico a problemas como o desemprego, a extinção de profissões e as doenças causadas pelo sedentarismo. Além disso, espera-se que os estudantes argumentem que a automatização continua afetando as relações trabalhistas e sociais, e causa impactos ambientais cada vez mais evidentes.

6. Com a proposta de produção textual, pretende-se incentivar os estudantes a reconhecer as rupturas e permanências nas condições de existência ao refletir sobre o trabalho infantil no Brasil atual. Além disso, espera-se que eles desenvolvam empatia pelos menores que trabalham e questionem o motivo de eles precisarem trabalhar. Se possível, explique que a Constituição de 1988 e o éca modificaram o entendimento dessa questão ao definir as crianças e os adolescentes como seres com direito ao lazer, à escola e à família e ao condenar o trabalho infantil. Por fim, é interessante que os estudantes discutam propostas para a solução do problema do trabalho infantil, como o fortalecimento da atuação do Estado na proteção à criança e no suprimento das necessidades econômicas das famílias em situação de vulnerabilidade social.

Glossário

Meio de produção
: utensílio, ferramenta ou qualquer outro instrumento utilizado no processo de produção de determinada mercadoria.
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Patentear
: registrar legalmente uma invenção de utilidade pública.
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Seriado
: em série, seguindo a lógica da linha de montagem, em que diversos trabalhadores operam máquinas com funções específicas.
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Retroalimentar-se
: alimentar um ao outro.
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Narcótico
: nesse caso, substância que causa sonolência e reduz ou elimina a sensibilidade.
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