UNIDADE 2 A REVOLUÇÃO FRANCESA E A INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA IBÉRICA

A história e você: diversidade escolar e enfrentamento ao bullying

No primeiro capítulo desta unidade, você estudará a Revolução Francesa e seus desdobramentos. Durante o processo dessa revolução, que começou como uma revolta popular, a monarquia absolutista foi derrubada, e o governo da França se tornou republicano. Depois de se alastrar pela Europa, as ideias revolucionárias chegaram à América e inspiraram as rebeliões e as lutas por independência que serão estudadas nos capítulos seguintes.

A importância da Revolução Francesa para o mundo ocidental foi tão grande que ela é considerada o marco inicial da Idade Contemporânea. Diversos valores cultivados hoje em dia – como o respeito ao bem público, a liberdade individual, a igualdade de direitos e de oportunidades – foram defendidos pela primeira vez pelos revolucionários franceses.

Também foram eles que tiveram a ideia de criar uma escola pública, sem vínculo com religiões, gratuita e para ambos os sexos. Ao propor que as escolas acolhessem todos, independentemente de religião, camada social ou sexo, os revolucionários esperavam criar uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna. Esses valores orientam até hoje a educação pública!

Quanto mais democrática é a escola, mais diversos são os estudantes, com diferentes gostos, crenças, orientações sexuais, origens étnicas etcétera. Entretanto, a diversidade escolar nem sempre é valorizada. Prova disso é a ocorrência de bullyingglossário glossário entres os estudantes.

Segundo uma pesquisa divulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), cêrca de 43% dos jovens brasileiros alegaram ter sofrido algum tipo de bullying em 2013. Em muitos casos, as vítimas não denunciam seus agressores por medo ou vergonha.

Ilustração. Adolescente de cabelo claro, sentado com as pernas encolhidas e as mãos na cabeça. Ele tem um semblante triste. Está dentro de um círculo amarelo. Ao redor desse círculo, braços de pessoas com o dedo indicador apontando para o menino. Ao fundo, uma sala de aula.
Ilustração representando adolescente vítima de bullying. Crianças e adolescentes que sofrem esse tipo de agressão tendem a desenvolver depressão e a ter baixa autoestima. Além disso, o rendimento escolar deles pode ser prejudicado.
Respostas e comentários

Dados numéricos sobre bullying foram retirados de: UNITED NATIONS. Office of the Secretary-General on Violence Against ChildrenEnding the torment: tackling bullying from the schoolyard to cyberspace. New York: United Nations2016. página 107.

Bê êne cê cê

Por envolver a criação de uma campanha de prevenção e combate ao búlin na escola, com base em pesquisa de campo, a atividade incentiva o protagonismo dos estudantes no enfrentamento de problemas e seu comprometimento com a qualidade de vida escolar, contribuindo para o desenvolvimento das Competências Gerais da Educação Básica nº 1, nº 2, nº 4, nº 7, nº 8, nº 9 e nº 10, das Competências Específicas de Ciências Humanas nº 1 e nº 4 e das Competências Específicas de História nº 1 e nº7.

Temas Contemporâneos Transversais

Por envolver o combate ao bullying na escola, valorizando a diversidade e respeitando as diferenças entre os estudantes, a atividade da abertura envolve os Temas Contemporâneos Transversais Vida familiar e social, Direitos da criança e do adolescente e Educação em direitos humanos.

Abertura de unidade

Essa unidade abarca os capítulos 4 (“A Revolução Francesa e o Império Napoleônico”), 5 (“Rebeliões na América portuguesa”) e 6 (“Independência das colônias da América espanhola e Revolução Haitiana”) do volume.

O tema escolhido para a atividade da abertura foi a diversidade escolar, compreendida como resultado da concepção de escola moderna com base nas ideias iluministas propagadas no contexto da Revolução Francesa, que será objeto do capítulo 4. O bullying é problematizado como uma fórma de desrespeito a essa diversidade, e seu combate, como um incentivo à convivência pacífica com as diferenças, por meio do diálogo, da solidariedade e da cooperação.

Para valorizar a diversidade escolar e incentivar o respeito e a solidariedade entre os estudantes, você e os colegas produzirão uma campanha de prevenção e combate ao bullying na escola. Siga estes passos.

Organizar

  • Reúna-se em grupo com até quatro colegas.
  • Elaborem um formulário com questões como as dos exemplos a seguir, para identificar os alvos, a ocorrência e a frequência da prática do bullying na escola. 
    • Você ou alguém que você conhece sofre bullying na escola?
    • De que fórma isso ocorre?
  • Façam vinte cópias do formulário.
  • No intervalo ou na saída da escola, entrevistem vinte estudantes (cinco de cada ano, do 6º ao 9º), exceto colegas de turma. Diga-lhes que eles não serão identificados.
  • Organizem as respostas contando o número de estudantes que responderam “sim” ou “não”.
  • Em sala de aula, analisem os dados das entrevistas realizadas para compreender como esse problema atinge a escola.

Produzir

  • Para a campanha, elaborem um slogan: uma frase fácil de memorizar que apresente, de maneira sintética, o posicionamento do grupo.
  • Produzam mensagens que incentivem a empatia e uma ou duas hashtags para combater a prática do bullying.
  • Com o slogan da campanha, as mensagens, as palavras-chave (hashtags), um ou mais dados da entrevista e uma orientação para evitar o bullying ou prestar auxílio aos estudantes que são vítimas dessa prática, produzam um texto que possa ser postado na internet.
  • Escolham uma imagem atraente para ilustrar a campanha.

Compartilhar

  • Se possível, divulguem as postagens e as hashtags na internet por meio das redes sociais. Vocês também podem imprimir o conteúdo da campanha e colá-lo em um local da escola.
  • Conversem com os colegas e o professor sobre a recepção da campanha pela comunidade escolar.
Ilustração. Quatro adolescentes segurando cartazes com hashtags. Ao fundo, ilustração do corredor de uma escola, com armários e plantas. O menino à esquerda segura um cartaz com as palavras: #diversidade #solidariedade #amizade. Ao lado dele, uma menina carrega outro cartaz com as palavras: #paz, #acolhimento, #diálogo. No centro, um menino cadeirante tem o cartaz com as palavras: #empataia, #autoestima, #inclusão. Por fim, à direita, uma menina carrega um cartaz com as palavras: #respeito, #cooperação, #amizade.
Ilustração representando a produção de cartazes com hashtags de combate ao bullying por adolescentes.
Respostas e comentários

Atividade

A atividade proposta tem três objetivos gerais: realizar um diagnóstico da prática de bullying na escola, conscientizar os estudantes sobre o problema e promover a criação de soluções para combatê-lo.

Reserve uma aula para a primeira etapa da atividade. Peça aos estudantes que se reúnam em grupos e elaborem os formulários. Eles podem utilizar formulários on-line, caso disponíveis, e as perguntas devem ser fechadas, com respostas “sim” ou “não”. Peça que considerem questões como:

Você sabe o que é bullying?

Você já agrediu um colega na escola, física ou verbalmente?

Você já foi (ou viu alguém ser) agredido na escola?

Se a resposta à pergunta anterior foi “sim”, a agressão foi recorrente?

Se você sofreu ou presenciou uma agressão, procurou ajuda de um adulto?

Após a elaboração dos formulários, peça aos estudantes que procedam às entrevistas. Oriente-os a não identificar os entrevistados. Solicite-lhes que, em casa, organizem as respostas e, na aula seguinte, calculem a porcentagem correspondente a cada uma.

Na etapa seguinte, reserve pelo menos uma aula para a discussão dos resultados e a concepção da campanha. Converse sobre a metodologia da pesquisa, perguntando aos estudantes se algum fator comprometeu a sinceridade das respostas. Peça-lhes que verifiquem se o índice de estudantes que reportaram ter sofrido ou presenciado bullying na escola é maior ou menor do que o divulgado pela ONU em 2013. Depois, proponha-lhes que sugiram medidas para prevenir e combater esse tipo de agressão.

É importante considerar que o bullying não decorre apenas das agressões à vítima, mas também do grupo que as presencia. Isso significa que as testemunhas dessa prática podem reforçá-la ou desestimulá-la por meio de suas reações, corroborando ou não com as ações do agressor. Por isso, o combate a essa prática deve ter como alvo a qualidade das relações estabelecidas coletivamente, mais do que apenas a relação entre agressor e vítima.

A divulgação da campanha pode ser feita pelos estudantes na sala de informática da escola, ou em casa, de acordo com os recursos disponíveis. Uma alternativa analógica à produção de postagens na internet é a elaboração de cartazes, que podem ser fixados nas dependências da escola. Auxilie os grupos tanto na concepção quanto na redação do texto da campanha. As mensagens devem mobilizar valores morais (solidariedade, igualdade, diálogo e respeito) e sentimentos (empatia, amizade e compaixão), reforçando a autoestima dos estudantes.

Proponha aos outros professores e à direção da escola a criação de canais para a denúncia de casos de bullying. A cultura do silêncio muitas vezes dificulta o combate ao bullying escolar. Por isso, a criação de canais de denúncia é importante para envolver a comunidade no combate a essa prática. Pode-se, por exemplo, criar um imêiouinstitucional, por meio do qual estudantes, pais, funcionários e professores denunciem agressões e intimidações recorrentes. Denúncias anônimas podem ser feitas em uma caixa lacrada disponibilizada no espaço escolar. Os estudantes podem divulgar esses canais nas postagens.

A criação de um grupo de acolhimento às vítimas, formado por estudantes, professores e funcionários, pode ser útil para sua reintegração à comunidade escolar, bem como para a identificação e o reconhecimento das responsabilidades individuais e coletivas, diretas ou indiretas, pelas agressões.

CAPÍTULO 4 A REVOLUÇÃO FRANCESA E O IMPÉRIO NAPOLEÔNICO

Se você tem o costume de navegar na internet, provavelmente já viu um même. Esse tipo de postagem pode conter uma imagem, uma frase ou até um vídeo que comunica, de maneira rápida, uma ideia de modo engraçado e, muitas vezes, com humor ácido. Um même pode até evocar o romance, como o reproduzido a seguir, em que a representação da Queda da Bastilha foi utilizada em uma declaração de amor.

Meme. Ao fundo da ilustração, um edifício grande de pedra em bege, de muro alto, de onde sai fumaça - trata-se da Bastilha. À frente e ao lado dela, outras construções em pedra, menores. Em primeiro plano, soldados e populares com armas em mãos (os soldados vestem traje militar em azul, chapéu preto e portam armas de fogo; os populares usam vestes de cores diversas e chapéus escuros, e tem em mãos foices, lanças e machados). Todos investem contra a Bastilha. O autor do meme escreveu, na parte de cima  e de baixo da ilustração: O QUE É QUEDA BASTILHA... PERTO DA QUEDA QUE TENHO POR VOCÊ?
même atual com uma ilustração produzida por máique uáite, no século vinte, que representa a queda da Bastilha, ocorrida em Paris, França, em 1789. Sobre a imagem, foram inseridas frases com o objetivo de sensibilizar a pessoa amada e também de causar humor.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A prisão da Bastilha, em Paris, era um dos principais marcos do poder absolutista. Ao ser derrubada, durante a Revolução Francesa, tornou-se um símbolo de luta contra a opressão.

Ícone. Ilustração de ponto de interrogação indicando questões de abertura de capítulo.

Responda oralmente.

  1. Você se lembra de ter visto algum même que se tornou viral? Qual e quando?
  2. O que é possível deduzir sobre a sociedade atual com base na popularidade e na intensa produção de postagens com mêmes?
  3. Nesse même, a palavra queda é utilizada com dois signficados. De que modo esse termo associa o interesse amoroso ao evento representado na pintura?
Respostas e comentários

Abertura

O capítulo se inicia com uma discussão a respeito da produção de mêmes e da importância da internet para o modo como as pessoas se relacionam na atualidade. Com base no même reproduzido, são salientadas as ressignificações dos símbolos de poder, tendo como base o episódio da Queda da Bastilha, com o propósito de sensibilizar os estudantes para a importância dessas práticas e do que elas revelam a respeito da sociedade em que ocorrem.

Atividades

1. Incentive os estudantes a se recordar das informações comunicadas nos mêmes de que se lembrarem, convidando-os a comentar se eram engraçados, se continham uma crítica etcétera.

2. Pretende-se, com essa pergunta, sensibilizar os estudantes para o exercício de compreender a sociedade em que vivem por meio da análise das práticas cotidianas, como a publicação de piadas, os modos de se relacionar e o uso da internet. Comente com eles a importância dos mêmes e da internet para o desenvolvimento das relações pessoais na sociedade atual, diferentemente das anteriores, cujas relações se estabeleciam por meio de outros suportes e instrumentos.

3. No même, o termo queda, utilizado para demonstrar interesse amoroso, compara a intensidade do sentimento à da Queda da Bastilha, evento histórico do processo revolucionário francês escolhido como marco do início da Idade Contemporânea.

Bê êne cê cê

Ao aproximar o contexto da Revolução Francesa da realidade atual por meio da análise de mêmes, a abertura favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero quatro e das Competências Gerais da Educação Básica nº 1, nº 4 e nº 5.

A França do século XVIII

No início do século dezoito, a França era um Estado absolutista e havia se consolidado como potência europeia, mas passava por uma intensa crise econômica. Essa crise tinha várias causas, como dívidas, um sistema tributário ineficiente, gastos excessivos e problemas de abastecimento.

A situação foi agravada pelos diversos conflitos em que o país se envolveu entre os séculos dezessete e dezoito. Tanto na Guerra dos Sete Anos (ocorrida entre 1756 e 1763) quanto na Guerra de Independência das Trezes Colônias (que se estendeu de 1775 a 1783), ambos travados contra a Grã-Bretanha, a Coroa francesa teve de desembolsar valores altíssimos e endividar-se, acumulando um enorme déficit orçamentárioglossário .

A economia e a sociedade francesas

Em 1788 e 1789, uma grave crise climática afetou o país: as temperaturas caíram muito, diminuindo drasticamente a produção de alimentos no campo. Assim como no restante da Europa, na França a economia tinha base agrária, que foi fortemente abalada pela crise. O preço do trigo e do pão disparou, e a população mais pobre chegou a passar fome.

Naquela época, viviam na França aproximadamente 25 milhões de pessoas, divididas em três estamentos, denominados estados, que eram as camadas sociais determinadas pelo nascimento.

O primeiro estado era formado pelo clero, que vivia das rendas das propriedades da Igreja, do dízimo e das doações dos fiéis, e compunha 0,5% da população.

O segundo estado era composto dos integrantes da nobreza (a família real e a côrte), que representavam 1,5% da população. Eles eram os proprietários de terras usadas para explorar o trabalho dos camponeses por meio do regime de servidão.

O terceiro estado concentrava 98% da população francesa. Englobava os camponeses (que viviam do trabalho na terra), a burguesia (formada pelos profissionais liberais, artesãos, comerciantes, banqueiros etcétera) e os sans-culottes (nome dado aos pequenos proprietários, trabalhadores e aprendizes). Sobre esse estado pesava a maioria dos impostos, pois o clero e a nobreza tinham diversos privilégios e isenções tributáriasglossário .

Assim, em anos de crise de produção no campo, o peso das obrigações era tão alto que um camponês ficava com muito pouco do que produzia. Os privilégios conferidos ao clero e à nobreza aumentavam a desigualdade entre as diferentes parcelas da sociedade.

Diante dessa situação, os integrantes do terceiro estado reivindicavam reformas para solucionar os graves problemas sociais e econômicos do reino. A imensa desigualdade entre a vida na côrte e a do francês comum aumentava o descontentamento da maioria da população, pois os gastos com palácios, festas e confecção de roupas e joias luxuosas comprometiam boa parte do orçamento do governo.

Gravura. Um homem de cabelo escuro sentado sobre um caixote. Ele veste um casaco verde, uma camisa branca e calça azul, meias brancas e sapato marrom. É possível ver o seu joelho esquerdo, pois a meia comprida não se une adequadamente à calça. Ele usa uma touca vermelha sobre a cabeça e segura um sapato sobre as pernas. Ao redor dele, outros sapatos no chão. Ao lado dele, outra caixa, sobre a qual há algumas ferramentas.
Representação de um sans-culotte, gravura de 1794.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

O personagem representado na gravura usa um barrete frígio, uma espécie de touca vermelha que se tornou, posteriormente, um dos símbolos dos revolucionários franceses.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a população e a economia francesa pré-revolução foram retirados de: chílin, V. As grandes correntes do pensamento: da Grécia antiga ao neoliberalismo. Porto Alegre: á gê é, 1999. página 70.

Objetivos do capítulo

Apresentar informações sobre o contexto político, econômico e social da França no fim do século dezoito, relacionando-o à difusão de ideias revolucionárias.

Demonstrar a propagação, ao longo dos processos revolucionários, de valores modernos presentes na contemporaneidade.

Questionar os processos revolucionários e suas ambivalências, como a permanência de valores contrários às propostas de universalização dos direitos exemplificados pelo pensamento escravocrata e pela conduta patriarcal.

Identificar as disputas internas dos grupos revolucionários franceses, para que os estudantes compreendam a implementação de seus projetos políticos nas diferentes fases da revolução.

Analisar a dinâmica de conquistas e retrocessos nas diferentes fases da revolução, do Consulado e do império, bem como no processo de restauração das monarquias nos territórios europeus ligados ao Congresso de Viena.

Justificativa

Os objetivos desse capítulo são importantes na medida em que se concentram na análise dos contextos sociais, culturais e econômicos da França no período pré-revolucionário, articulando-os aos embates e conquistas que caracterizaram a Revolução Francesa. Trata-se de um exercício fundamental para o desenvolvimento de processos como os de interpretação e contextualização, trabalhados por meio de temáticas como o papel de mulheres e escravizados na revolução, assim como o do reconhecimento da historicidade de valores contemporâneos, como a cidadania.

As imagens que circulavam no contexto revolucionário, representando os três estados na França do Antigo Regime, eram disseminadas para demonstrar que o terceiro estado, mesmo em situação de extrema debilidade, sustentava os outros dois estamentos, abastados e satisfeitos com a situação. É oportuno ressaltar para os estudantes a existência de diferentes agentes, com estratégias e motivações distintas, bem como o papel da propaganda na construção de causas comuns e de interesses convergentes. Dessa maneira, contribui-se para a compreensão do protagonismo dos grupos populares, costumeiramente invisibilizados.

Enfrentamento ao déficit orçamentário

Os problemas com o déficit orçamentário foram enfrentados por Luís dezesseis, que assumiu o trono francês em 1774. Com o objetivo de resolver o problema, ele nomeou diversos ministros das finanças, que realizaram diferentes reformas, mas não conseguiram alcançar os resultados esperados.

Diante dessa situação, foi convocada, em 1787, a Assembleia dos Notáveis. Nessa reunião, o então ministro das finanças propôs aos nobres que renunciassem a alguns privilégios para aumentar a renda da Coroa como uma tentativa de superar a crise, mas eles não concordaram. Alguns anos depois o monarca convocou a Assembleia dos Estados Gerais. Nela se reuniram integrantes dos três estamentos com o objetivo de encontrar outra solução para a crise.

A Assembleia dos Estados Gerais

A Assembleia dos Estados Gerais se reuniu em maio de 1789. Ela funcionava da seguinte maneira: cada estado elegia os deputados que iriam representá-lo na Assembleia. Depois, quando os temas eram debatidos, cada estado tinha direito a um voto. Com essa estrutura, a nobreza e o clero sempre se uniam para manter seus privilégios contra o terceiro estado.

Os membros do terceiro estado, que eram representados principalmente pela burguesia, conseguiram aprovar a duplicação do número de seus deputados na Assembleia. Para isso, eles tiveram apoio da maioria da população, que estava revoltada e faminta. Assim, o número de representantes do clero e da nobreza, somados, foi igualado ao dos representantes do terceiro estado. Então, os deputados do terceiro estado exigiram que os votos fossem contados por pessoa, e não mais por grupo social.

Fotografia. Vista de baixo para cima de um amplo salão, com assoalho em bege e branco e grandes janelas em arco à direita. As paredes estão cheias de ornamentos em dourado, e há lustres de cristal. À esquerda, há grandes espelhos com o topo em forma de arco. O teto curvo tem pinturas. Há algumas pessoas nesse salão.
Galeria dos Espelhos no Palácio de Versalhes, em Versalhes, França. Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Galeria dos Espelhos é um dos símbolos da ostentação da nobreza francesa durante o chamado Antigo Regime. A diferença entre a vida dos nobres e a da maioria da população francesa gerava várias críticas. Na época da eleição para deputados da Assembleia dos Estados Gerais, por exemplo, a produção de panfletos com críticas ao governo e ao sistema de privilégios era contínua. Como grande parte do povo era iletrada, esses panfletos continham charges que, geralmente, representavam o terceiro estado como uma pessoa carregando às costas membros da nobreza e do clero.

Respostas e comentários

Atividade complementar

Organize os estudantes em grupos para representar as camadas sociais que compunham cada estado na França do período pré-revolucionário e simular a Assembleia dos Estados Gerais. Isso pode ser feito de diversas maneiras, incluindo as lúdicas (por exemplo, distribuindo aos estudantes ou colando sob as cadeiras pedaços de papel com a indicação do grupo social que cada um vai representar). Em vez de tratar apenas da questão fiscal em pauta na Assembleia dos Estados Gerais, é possível criar um breve jogo, propondo um tema da realidade escolar a ser votado. Nesse caso, sugere-se algo que incentive a imaginação dos estudantes sem fomentar competição ou atritos.

O objetivo é sensibilizá-los para a discrepância entre a quantidade de representantes de cada estado e seu poder de decisão, de modo que possam imaginar como tal desigualdade afetava os integrantes do terceiro estado, causando frustração e ânsia por maior poder político.

Boa parte do déficit referido no texto resultou de uma bolha especulativa relacionada à colonização francesa na América do Norte pela Companhia do Mississípi, responsável pelo monopólio de comércio da Luisiana. Diante da propaganda das riquezas da colônia, vários investidores aportaram dinheiro na companhia. A emissão de papel-moeda por um banco privado garantido pelo governo francês, expediente comum naquele tempo, era o meio para distribuir a parte dos lucros dos investidores. Em 1720, porém, muitos investidores tentaram sacar o valor que detinham da companhia, mas não havia meios para pagar todos, e o valor dos papéis despencou. Esse episódio ficou conhecido como Bolha do Mississípi.

O Juramento do Jogo da péla

A Assembleia se reuniu no dia 6 de maio no Palácio de Versalhes. Na ocasião, a nobreza e o clero se juntaram para decidir que os votos não seriam contados por pessoa, mas do modo como acontecia antes: apenas um voto por estado.

Diante das votações que não favoreciam o terceiro estado e da pressão que seus deputados faziam, decidiu-se fechar a porta do salão onde eles estavam, proibindo a entrada de outras pessoas. Naquele momento, os representantes do terceiro estado retiraram-se e ocuparam uma quadra de péla, um jogo muito popular nas côrtes da época, considerado um dos antepassados do tênis. Nesse local, no dia 20 de junho de 1789, eles se declararam unidos em Assembleia Nacional e jura- ram que não descansariam enquanto não redigissem uma Constituição para o país. O episódio ficou conhecido como Juramento do Jogo da péla.

Nem todos os representantes do terceiro estado estavam convencidos de que a Assembleia Nacional era um movimento correto e tinham medo das consequências disso. Alguns membros do clero e da nobreza, por sua vez, juntaram-se aos revoltosos. Um deles foi o abade Emanuél Joséf Sieiés, escritor do panfleto O que é o terceiro estado?, que circulava naquele período histórico. Nele, Siés declarou que aquele estado era uma nação completa, e não precisava do primeiro e do segundo estados.

Pintura. Pessoas reunidas em um grande salão de paredes altas em cinza escuro com janelas apenas no alto, com cortinas beges e esvoaçantes pela ação do vento que entra pelas janelas. Há pessoas debruçadas na janela, observando a cena central. Nessa parte central, um homem de calça e casaca preta, está em pé sobre uma mesa e se destaca na multidão. Ele segura um papel com a mão esquerda, tem o braço direito erguido e a mão espalmada. Ao redor dele, centenas de pessoas o saúdam, erguendo um dos braços em direção a ele. À frente desse homem em destaque, um homem abraça outros dois, que conversam e estão frente a frente. À direita e à esquerda deles, algumas pessoas estão sentadas, outras estão em pé. Ao fundo, diversas pessoas, algumas com as mãos erguidas.
Juramento do Jogo da péla, pintura de jác lui daví, século dezoito.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A pintura de jác lui daví é uma alegoria do que se prometia com a Constituição. Foram representados nobres e membros do clero, católicos e protestantes, mostrando a união, inclusive religiosa, que se pretendia. A maioria dos personagens, porém, era do terceiro estado. O advogado maquissimiliâ de Rubespiér, figura importante para a revolução, foi representado de braços abertos, à esquerda, olhando o povo nas janelas. À esquerda, na parte de baixo, um sans-culotte com barrete frígio, foi representado ajudando um idoso para simbolizar a união da antiga França com a esperança diante daquilo que se prometia.

A Assembleia Nacional Constituinte

Como a adesão à Assembleia Nacional organizada pelo terceiro estado continuava a crescer, o rei Luís dezesseis ordenou que os representantes dos outros estados se juntassem a ela. Isso ocorreu em 9 de julho de 1789, quando teve início a Assembleia Nacional Constituinte.

No entanto, apesar de declarar que aceitaria governar a França respeitando uma Constituição e que acabaria com os privilégios dos estamentos, Luís dezesseis armou uma contrarrevolução para dissolver a Assembleia. A notícia se espalhou rapidamente por Paris e a população revoltou-se.

Respostas e comentários

A identificação da pluralidade e dos intercâmbios entre os membros dos três estados contribui para a compreensão crítica da criação e do uso de categorias de análise, a fim de identificar seus limites sem deixar de reconhecer sua importância.

A Queda da Bastilha, ocorrida no dia 14 de julho de 1789 e abordada no início do capítulo, costuma ser identificada como o acontecimento inaugural da Revolução Francesa. No entanto, pode-se considerar que o juramento do Jogo da péla é a certidão de nascimento desse processo de transformação social, econômica e política.

Nesse ponto, é pertinente comentar com os estudantes a importância dos panfletos na circulação de ideias políticas em períodos revolucionários. A disseminação de pensamentos foi fundamental em todos os contextos revolucionários e em movimentos inspirados em revoluções. A Conjuração Baiana, ocorrida em 1798 no Brasil, foi um dos movimentos sociais em que circularam publicações nas quais eram divulgadas ideias revolucionárias, de inspiração francesa. Tais ideias circularam também de fórma oral, mais detidamente por intermédio dos partícipes iletrados do processo revolucionário. A análise das revoluções de várias perspectivas, considerando os diversos grupos sociais que as integraram e as alianças que teceram para dar continuidade a tais movimentos, é fundamental no processo de ensino e aprendizagem de história. Para obter mais informações a respeito dessa discussão, leia o seguinte livro: iânquisso, I. Na Bahia contra o Império: história do ensaio de sedição de 1798. São Paulo: Ucitéc; Salvador: editora da universidade federal da Bahia, 1996.

Curadoria

A Revolução em Paris (Filme)

Direção: piérre chôler. França, Bélgica, 2018. Duração: 121 minutos.

O filme mescla narrativas ficcionais e fatos históricos para representar os processos da Revolução Francesa entre 1789 e 1793, desde a criação da Assembleia Nacional até início da república. Filmada em Paris e nos seus arredores, a obra reencena os debates ocorridos na Assembleia Nacional ao mesmo tempo em que acompanha a trajetória da lavadeira franssoáze, personagem ficcional, e coloca em foco o protagonismo das mulheres na revolução.

O início da revolução

Nos dias 13 e 14 de julho de 1789, ocorreram em Paris vários conflitos, que ficaram conhecidos como Jornadas de Julho. O movimento chegou ao auge no dia 14, com o ataque à prisão política da Bastilha, um dos principais símbolos do autoritarismo e da violência do governo absolutista francês.

Quando invadiram a Bastilha, os revoltosos libertaram os poucos presos que estavam no prédio. Além disso, pegaram as armas que ficavam no local, pois a prisão também funcionava como arsenal, e as distribuíram à população. A Bastilha foi demolida pela multidão; por isso, o episódio ficou conhecido como Queda da Bastilha, tornando-se um dos principais símbolos de luta contra a opressão do Antigo Regime.

Pintura. Ao fundo, uma grande construção de pedra. À frente e ao lado dela, outras construções menores, com telhado em cinza. A rua está tomada de centenas de pessoas, algumas delas com trajes militares - casaco azul e calças brancas - e, outros, são populares. Eles carregam armas na vertical, principalmente lanças estreitas e espingardas. Há, também, dois canhões. Algumas pessoas estão caídas ao chão. Bem no meio da rua, um homem de vestes brancas é abordado por vários soldados. No céu, muita fumaça. Há fogo saindo de algumas janelas.
Queda da Bastilha e detenção do governador bernár renê dê loné, pintura do século dezoito.

As revoltas populares de Paris foram tão simbólicas que levaram a revolução da cidade para o campo. Em diversos movimentos, os camponeses saqueavam e destruíam os castelos, amedrontando os grandes proprietários, que fugiam. Por isso, esse período de convulsões sociais foi chamado Grande Medo.

Para acalmar os revoltosos e como uma tentativa de manter as propriedades de parte da aristocracia e de burgueses ricos, a Assembleia Nacional Constituinte aprovou o fim de vários privilégios da nobreza. Assim, a revolução camponesa enfraqueceu a estrutura social do feudalismo francês e a da monarquia.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Em agosto de 1789, os deputados da Assembleia decidiram escrever um preâmbulo para a Constituição Francesa que estava sendo elaborada: a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. De acordo com esse documento, eram direitos fundamentais de todos os cidadãos “a liberdade, a segurança e a resistência à opressão”.

Com a defesa da igualdade, formou-se o conceito de cidadania, que deveria ser protegida pelo Estado sem distinção entre os indivíduos. A defesa da igualdade, da liberdade, da segurança e da resistência à opressão, assim como a negação de privilégios de nascimento, eram inspiradas nas ideias iluministas.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Respostas e comentários

A partir desta página, os estudantes são sensibilizados para o forte impacto das movimentações populares na percepção da elite, durante o período do Grande Medo, com as mudanças implementadas pelos revolucionários, principalmente as ligadas à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, cujos princípios fundamentais são apresentados e cujos limites, sobretudo os relacionados aos direitos das mulheres, são discutidos.

De acordo com o que considerar mais adequado às particularidades da turma, analise a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão completa ou selecione trechos dela. É interessante destacar a questão da liberdade de expressão, tratada no artigo 11 da declaração. Por meio da análise desse artigo, pode-se sensibilizar a turma para a presença de referências ao iluminismo no documento, assim como para as fórmas de organização política contemporâneas.

Comente com os estudantes que a Bastilha foi construída como um forte no período medieval e passou a funcionar como prisão no século dezessete. Lá, os monarcas da França podiam encarcerar qualquer súdito sem julgamento prévio. Portanto, a tomada e a posterior demolição do prédio foram ações carregadas de sentido político, apesar de terem sido libertadas apenas sete pessoas aprisiona- das naquele momento.

Comente com os estudantes que o episódio da Queda da Bastilha é relembrado e celebrado anualmente pelos franceses, integrando a memória nacional. Porém, como a memória é um artefato social, a disputa entre as camadas sociais – característica da Revolução Francesa – foi abafada pela elite do país ao longo do tempo. Exemplo disso é a ausência de monumentos erguidos à Revolução Francesa na Praça da Bastilha. Hoje, no centro da praça, encontra-se a Coluna de Julho, que homenageia a Revolução de 1830, na qual os parisienses derrubaram definitivamente o absolutismo monárquico restaurado na figura de Luís Bonaparte. Essa revolução uniu as camadas sociais, ao passo que a Revolução Francesa separou-as.

Analisando o passado

marrí gúze foi uma ativista política que usou o pseudônimo de Olamp de Gúge para publicar a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Esse documento era baseado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas apresentava as dificuldades e os desafios que as mulheres enfrentavam na sociedade mesmo após a revolução. Gúge foi presa, condenada como contrarrevolucionária e morta na guilhotinaglossário em 1793. Leia a seguir trechos de sua declaração e, depois, faça as atividades propostas.

Artigo 2º – O objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis da mulher e do homem. Estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e, sobretudo, a resistência à opressão.

reticências

Artigo 4º – A liberdade e a justiça consistem em restituir tudo que pertence a outrem. Sendo assim, o exercício dos direitos naturais da mulher não tem outros limites senão a perpétua tirania que o homem lhe impõe; estes limites devem ser reformados pelas leis da natureza e da razão.

reticências

Artigo 6º reticências todas as cidadãs e todos os cidadãos, sendo iguais frente a ela [a lei], devem ser igualmente admitidos a todas as dignidades, postos e empregos públicos, de acordo com sua capacidade, e sem qualquer distinção a não ser por suas virtudes e seus talentos.

reticências

Artigo 10º – Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo que sejam de princípio; a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; mas ela deve igualmente ter o direito de subir à tribuna, contanto que suas manifestações não perturbem a ordem pública estabelecida pela lei.

Gúge, O. de. Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, 1791. Revista Internacional Interdisciplinar intertésis, Florianópolis, volume 4, número 1, janeiro/junho 2007. 

Tirinha em preto e branco em um quadro. Mulher de perfil, com o cabelo arrumado em um penteado volumoso no alto da cabeça e decorado com penas. Usa um vestido escuro com babados e um laço, na altura do colo. Ela tem um livreto nas mãos e lê, em voz alta: 'ARTIGO 1: A MULHER NASCE LIVRE E É IGUL AO HOMEM PERANTE A LEI.' 'AS DISTINÇÕES SOCIAIS SÓ PODEM FUNDAR-SE NA UTILIDADE COMUM.'
Representação de Olamp de Gúge, tirinha do livro Olamp de Gúge, de catél millêr e josê luí bôquê, 2014.

Responda no caderno.

  1. Identifique na declaração de Gúge:
    1. a defesa dos princípios iluministas de igualdade e liberdade;
    2. a negação de privilégios de nascimento.
  2. De acordo com Gúge, que direitos deveriam ser garantidos às mulheres? Explique de que modo eles seriam alcançados.
Respostas e comentários

Analisando o passado

Nessa seção, é analisada a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, escrita pela ativista política Olamp de Gúge. Pretende-se sensibilizar os estudantes para a negação dos direitos políticos às mulheres durante a Revolução Francesa, demonstrando que, além de defender os valores republicanos e iluministas, elas tiveram de lutar contra o sexismo. Por meio do destaque para Olamp de Gúge, os estudantes podem reconhecer uma narrativa divergente no processo revolucionário e o protagonismo feminino na busca de igualdade de direitos.

Atividades

1. a) Esses princípios são defendidos em diversos trechos do documento. Podem ser citados o artigo 2º, de acordo com o qual os direitos naturais e imprescritíveis compreendem a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão, e o artigo 6º, em que se afirma a igualdade de todas as cidadãs e de todos os cidadãos perante a lei.

b) A negação dos privilégios advindos do nascimento também é feita em diversos trechos da declaração. No artigo 6º, por exemplo, afirma-se que todos os cidadãos e todas as cidadãs devem ser igualmente admitidos em postos e empregos públicos de acordo com suas capacidades, sem distinção que não advenha de suas virtudes e talentos.

2. Todos os direitos que já eram garantidos aos homens. No artigo 4º, Gúge declara que os direitos femininos naturais eram negados pela opressão masculina e que, para alcançá-los, seria necessário repensar os limites impostos pelos homens às mulheres de acordo com as leis da natureza e da razão (princípios do iluminismo). A autora ainda assinala, no artigo 10º, a importância do aumento da participação política das mulheres.

Bê êne cê cê

Por envolver a luta e a perspectiva das mulheres na Revolução Francesa por meio da análise de um documento, essa seção mobiliza a Competência Específica de Ciências Humanas nº 1 e as Competências Específicas de História nº 1, nº 2, nº 3 e nº 4.

A Constituição Francesa de 1791

A Constituição terminou de ser redigida em 1791. De acordo com esse documento, o poder deixaria de ser concentrado no monarca e o Estado seria organizado em três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. Além disso, a escolha dos representantes e dos governantes passaria a ser feita por meio de eleições.

O voto seria censitário e masculino, ou seja, apenas os homens que possuíam determinada renda poderiam votar. Com o passar do tempo, os critérios para a votação foram revistos e estendidos para quase todos os homens, incluindo os escravizados. Assim como no resto do mundo, o processo da conquista de direitos pelos negros foi muito difícil. Na França, havia o receio de que a concessão de direitos aos negros livres incentivasse a revolta dos escravizados.

Em 1791, por meio de um decreto, foram concedidos direitos políticos aos negros livres que fossem filhos de pessoas livres. Em 1792, diante da situação caótica na colônia francesa de São Domingos, onde os escravizados se revoltaram, esse decreto foi ampliado com o objetivo de convencer os negros livres a se juntar às tropas francesas e combater os revoltosos.

Gravura. Busto de um homem negro de perfil. Ele usa um gorro vermelho e uma túnica azulada sobre o ombro, que pende sobre o torso.
Eu também sou livre, gravura de luí , século dezoito.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A representação de um homem negro livre utilizando o barrete frígio revela que sua liberdade foi concedida pela república e pelos ideais revolucionários.

Gravura. À esquerda, um homem de calça azul, camisa vermelha de mangas curtas e chapéu em preto. Ele está em pé e voltado para a direita. Sobre sua cabeça, está escrito: número 1. Com as mãos e os braços erguidos à frente, ele segura o cabo de uma pá. Diante dele, um homem de peruca branca, casaca em azul com detalhes em dourado, camisa e calça em laranja, meias longas em branco e sapato preto, está voltado para a esquerda. Ele está em pé, tem o braço direito estendido, e segura uma pequena seta voltada para o chão próxima à haste da pá. Sobre a sua cabeça, o número 3. Um cachorro bege morde a sua casaca. Atrás dele, um homem de peruca branca, casaca laranja, blusa em bege, faixa azul em diagonal no torso, calça branca, meias compridas brancas e sapato preto, também está em pé. Ele tem o braço direito estendido em direção à pá, e segura uma folha de papel. Atrás desses dois homens, um tecido verde. Atrás deles, à direita da gravura, um homem de chapéu preto, cabelos escuros até os ombros, casaco verde de mangas compridas, calça vermelha, meias compridas brancas e sapato preto está de braços cruzados e sentado sobre um objeto cilíndrico similar a um tronco de madeira. Ele observa a cena. Sobre a cabeça dele, o número 2.
Cidadãos ativos e cidadãos passivos, gravura de 1791.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Para impedir que os pobres participassem da vida política, na primeira versão da Constituição Francesa de 1791, declarava-se que todos os indivíduos eram cidadãos, mas havia distinção entre cidadãos ativos e passivos. Os ativos eram os homens que pagavam impostos e possuíam propriedades e, por isso, tinham direitos políticos. Os que não se encaixavam nessa categoria foram classificados como cidadãos passivos, sem direitos políticos. A gravura satiriza essa distinção, dando a entender que os cidadãos passivos não tinham direitos políticos, mas eram os únicos que trabalhavam.

Respostas e comentários

Ampliando

No texto a seguir, a historiadora lín rânt traça um panorama das modificações relacionadas ao sufrágio universal masculino no texto da Constituição Francesa de 1791 ao longo dos anos.

grupo após grupo foi alvo de discussões específicas, e por fim a maioria deles conseguiu direitos políticos iguais. Os homens protestantes ganharam seus direitos em 24 de dezembro de 1789, assim como todas as profissões. Os homens judeus obtiveram finalmente o mesmo avanço em 27 de setembro de 1791. Alguns, mas nem todos os homens negros livres, conquistaram direitos políticos em 15 de maio de 1791, mas os perderam em 24 de setembro e depois os viram reestabelecidos e aplicados de modo mais geral em 4 de abril de 1792. Em 10 de agosto de 1792, os direitos de votar foram estendidos a todos os homens (na França metropolitana) à exceção dos criados e desempregados. Em 4 de fevereiro de 1794, a escravidão foi abolida e direitos iguais concedidos, ao menos em princípio, aos escravos. Apesar dessa quase inimaginável extensão dos direitos políticos a grupos antes não emancipados, a linha foi traçada nas mulheres: as mulheres nunca ganharam direitos políticos iguais durante a Revolução. Elas ganharam, entretanto, direitos iguais de herança e o direito ao divórcio.”

rãnt, L. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página149-150.

Seguindo as observações de lín rânt, é importante notar o caráter cambiante e limitado dos direitos políticos durante o processo revolucionário. Alguns limites relacionados a liberdade individual, renda, idade e gênero acabaram se impondo. As limitações de caráter censitário (alfabetização, idade e, principalmente, renda) e baseadas no gênero (exclusão das mulheres, independentemente de condição social) foram comuns a várias experiências políticas daquele período na Europa e na América (nos processos da independência, por exemplo, a começar pelo das Treze Colônias).

O direito de voto foi concedido aos escravizados no contexto da Independência do Haiti (que você estudará no capítulo 6). Em 1792, um grupo de escravizados liderou uma revolta e garantiu o fim da escravidão na ilha. Com isso, em 1794 os deputados da Assembleia foram obrigados a votar pela abolição da escravidão em todas as colônias francesas. Além disso, decretaram que todos os homens que residiam nas colônias eram cidadãos franceses e tinham direitos assegurados pela Constituição.

As mulheres, no entanto, não receberam os mesmos direitos políticos. As ideias liberais desestabilizaram as relações racistas, mas não o sexismoglossário presente na sociedade.

No plano social, a Constituição estabeleceu a igualdade jurídica de todos os homens e aboliu os privilégios feudais. Foram declaradas também a separação entre o Estado e a Igreja e a liberdade de crença. Um ano antes, em 1790, a Assembleia tinha aprovado a Constituição Civil do Clero. De acordo com esse documento, os bispos e os padres deviam ser eleitos pelo povo e jurar fidelidade ao governo. Além disso, as terras da Igreja foram confiscadas com o objetivo de diminuir o déficit orçamentário francês.

As decisões sobre a economia garantiram os interesses da burguesia, que, como você estudou no capítulo 2, ficou mais poderosa com a formação da sociedade capitalista. Assim, a Constituição estabeleceu a liberdade de produção e circulação de bens e a proibição da interferência do Estado na economia.

Com essas medidas, ocorreu uma profunda transformação cultural, social, econômica e política na França; por isso, o movimento ocorrido naquele período no país é chamado revolução. Com essa transformação, além do sistema de governo ter sido modificado, os homens passaram a compreender-se de maneira diferente, como cidadãos, ou seja, como portadores de direitos e de deveres iguais.

Pintura. No centro, uma mulher nua segura um tecido claro atrás de seu corpo. Ao lado dela, à esquerda, uma pessoa de túnica cinza e um manto vermelho segura um longo pergaminho com a mão direita, e uma haste com uma touca vermelha no topo com a mão esquerda. À direita da mulher, uma pessoa de vestes longas  em bege com um manto vermelho segura uma cornucópia. Mais à direita, um homem de barba comprida e cabelo cacheado e branco, tem um tecido vermelho ao redor do corpo e segura um bastão longo com a mão direita. Ele está agachado, e ergue sua mão esquerda em direção à cena central. Ao fundo, muita fumaça. No canto inferior esquerdo, duas figuras humanas com mantos escuros, com as mãos erguidas.
A Verdade traz a República e a Abundância, pintura de nicolá dê curtéil, 1793.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Na imagem, a Verdade (alegoria representada ao centro) traz consigo a República (à esquerda, portando o barrete frígio e a Constituição) e a Abundância (à direita, com uma cornucópia, um vaso em fórma de chifre que simboliza a fertilidade e a riqueza). O personagem à direita é a representação do antigo filósofo Diógenes, que apaga a lanterna com a qual procurava o “verdadeiro homem”, pois o aparecimento da Verdade encerrou sua busca.

Respostas e comentários

Ao analisar a pintura A Verdade traz a República e a Abundância, pode-se chamar a atenção dos estudantes para as alegorias da Verdade, da República e da Abundância e perguntar a eles: “Por que as personagens principais desse quadro são mulheres?”. Acolha as respostas, desde que justificadas. É possível que os estudantes levantem a hipótese de as personagens principais serem mulheres porque os substantivos em francês que nomeiam qualidades e virtudes normalmente são do gênero feminino la vérité, l’abondance, la république e la liberté), assim como em português (a verdade, a abundância, a república e a liberdade, respectivamente). Nesse exercício analítico, o importante é incentivar o pensamento crítico dos estudantes, salientando o fato de que, como estudado, o papel das mulheres na revolução foi vilipendiado, de modo que os quadros com representações de figuras femininas não são homenagens a elas. Trata-se de uma questão semântica de utilização e representação da linguagem. Se considerar pertinente, comente com os estudantes que essas figuras encarnam os valores nacionalistas, exibindo as cores da bandeira francesa.

Ampliando

Converse com os estudantes sobre o conceito de revolução, observando a alteração de significado que o termo sofreu. Enfatize que a Revolução Francesa provocou um impacto transformador no mundo ocidental, consolidando o novo significado. Segundo o historiador ráinrárt cozeléqui:

A revolução, com certeza, não mais conduz de volta a situações anteriores; a partir de 1789 ela conduz a um futuro a tal ponto desconhecido, que conhecê-lo e dominá-lo tornou-se uma contínua tarefa da política. reticências

reticências O processo revolucionário e a consciência da revolução, despertada por esse mesmo processo e sobre ele retroagindo, tornam-se desde então inseparáveis

cozeléqui, R. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto: edição púqui-Rio, 2006. página68-69.

Curadoria

Dicionário crítico do feminismo (Livro)

Helena riráta e outros (organizador). São Paulo: Editora Unésp, 2009.

Esse livro apresenta uma série de verbetes sobre a construção social da hierarquia entre os sexos. Destaca-se o verbete “Igualdade”, no qual Eleni varricá, professora de teoria política e estudos de gênero na Universidade Paris oito, apresenta uma história sobre o conceito de igualdade e sua atual acepção.

A contrarrevolução

O rei conseguiu adiar a assinatura da Constituição e continuou a presidir as sessões da Assembleia, sem obedecer ao texto redigido por ela. Além disso, tentou retomar o contrôle do país com a ajuda de outros monarcas europeus.

O imperador Leopoldo segundo, da Áustria (irmão da rainha da França, Maria Antonieta), e o rei da Prússia, Frederico Guilherme segundo, assinaram, em 1791, a Declaração de pílnitiz, em que pediram a restituição dos poderes de Luís dezesseis e solicitaram a ajuda de outros reis para impedir que a revolução se espalhasse pelo continente. Assim, alguns monarcas europeus, liderados por eles, organizaram tropas para invadir a França e enfrentar os revolucionários.

Para sabotar essa contrarrevolução, a Assembleia francesa decidiu invadir a Áustria, o que daria aos revolucionários a oportunidade de se apoderar das riquezas e dos grãos do país. Nos bastidores, Luís dezesseis negociava com a nobreza estrangeira o sufocamento da revolução, pretendendo se unir às tropas austríacas e prussianas para chefiá-las, mas foi preso na cidade de Varennes ao tentar fugir da França.

As tropas da Áustria e da Prússia invadiram a França em julho de 1792, sendo detidas em setembro pela Comuna Insurrecional de Paris, o governo revolucionário que se formou após a tomada da Bastilha. Depois dessa vitória, que parecia improvável, os franceses abandonaram o tradicional grito “viva o rei” e celebraram com a frase “viva a França”. Essa comemoração demonstrou uma mudança drástica na sociedade francesa, que começou a renegar a ideia de ser formada por súditos do rei, passando a se considerar constituída por cidadãos vinculados ao local em que nasciam (pátria).

No dia 21 de setembro de 1792, os revolucionários proclamaram a república, prenderam o rei, acusando-o de traição, e dissolveram a antiga Assembleia Constituinte para criar a Convenção Nacional.

Pintura. Em um local fechado e pequeno, há uma dezena de pessoas. À esquerda, um homem de cabelo branco está voltado para a direita. Atrás dele, um soldado observa a cena, à frente de um armário de madeira. Ao lado deles, um homem de peruca branca está sentado diante de uma mesa com uma toalha verde. Ele está com a mão esquerda no queixo e observa a cena central. Nela, um homem e uma mulher estão voltados para a esquerda, onde está uma mulher de chapéu, cabelo penteado em coque, vestido em amarelo e saia azul, com um avental branco. Ele usa um chapéu escuro, casaca em vermelho e camisa de gola branca. À frente dele, uma mulher de cabelo preso, farto e branco, e um véu escuro que pende da cabeça, usa um vestido claro com manto rosa com detalhes em rosa escuro. Duas crianças estão próximas a ela. No canto direito, uma mulher de cabelos brancos, saia amarela e blusa azul escuro está com as mãos no rosto, cabisbaixa. Ao fundo, uma porta pequena, por onde se vê inúmeras pessoas parcialmente, incluindo soldados e armas.
Detenção de Luís dezesseise sua família em Varennes, pintura de tômas fálcon márchôl, cêrca de1854.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Explique de que modo a crise do absolutismo francês no século dezoito está relacionada à convocação da Assembleia dos Estados Gerais em 1789.
  2. O que foi a Queda da Bastilha? Qual foi sua importância para a revolução?
  3. Como os homens negros livres e os escravizados conquistaram direitos políticos durante a Revolução Francesa?
Respostas e comentários

Orientação para as atividades

Para realizar as atividades 1 e 2 do boxe “Agora é com você!”, os estudantes precisarão relacionar tempos e fatos. Para responder à questão proposta no item 3, deverão descrever eventos históricos dentro do contexto revolucionário. Nesse caso, eles terão de se preocupar em localizar temporalmente os eventos a ser identificados e relacionados. Para auxiliá-los nesse trabalho, sugira-lhes que organizem cronologicamente as informações coletadas no texto-base e depois elaborem as respostas.

Agora é com você!

1. A crise foi causada por muitos fatores, como dívidas, um sistema tributário problemático, gastos erráticos e problemas de abastecimento. Um enorme déficit orçamentário foi criado pelos diversos conflitos nos quais a França se envolveu entre os séculos dezessete e dezoito (Guerra dos Sete Anos e Guerra de Independência das Treze Colônias), gerando ainda mais dívidas. Além disso, entre 1788 e 1789 uma grave crise climática se abateu sobre o país, diminuindo drasticamente a produção de alimentos no campo, o que abalou a economia e prejudicou o abastecimento da população. Assim, havia uma reivindicação geral de que o rei solucionasse os problemas sociais e econômicos, agravados pela imensa desigualdade entre a vida na côrte e a do francês comum. Para tentar resolver esses problemas, o rei convocou, em 1789, a Assembleia dos Estados Gerais.

2. A Queda da Bastilha foi um episódio que ocorreu em 14 de julho de 1789, quando o movimento de revoltosos atacou a prisão política da Bastilha, liberando os presos que estavam lá e apreendendo as armas que ficavam no local. O episódio se tornou um dos principais símbolos de luta contra a opressão do Antigo Regime.

3. Em 1791, um decreto bastante restritivo concedia direitos políticos aos negros livres que fossem filhos de pessoas livres. Em 1792, em razão da situação caótica na colônia francesa de São Domingos, onde os escravizados se revoltaram, esse decreto foi revisto e ampliado com o objetivo de convencer os negros livres a se juntarem às tropas francesas para combater os revoltosos da colônia. Em 1794, os deputados da Assembleia foram compelidos a votar pela abolição da escravidão em todas as colônias francesas, sendo também decretado que todos os homens que residiam nas colônias eram cidadãos franceses e gozavam dos direitos assegurados pela Constituição.

A Convenção Nacional

Além de acabar com a monarquia, a Convenção criou um calendário revolucionárioglossário que tinha como ponto de partida a instauração da república.

Durante as votações, os deputados dividiram-se principalmente em três grupos, de acordo com seus interesses.

  • Girondinos: eram os mais conservadores, formados pela alta e pela média burguesias e pelos nobres liberais. Eles defendiam o respeito à Constituição e se sentavam do lado direito da Assembleia.
  • Jacobinos: eram os mais radicais. Defendiam de fórma ferrenha o republicanismo e sentavam-se do lado esquerdo da Assembleia.
  • Pântano: também identificados como de centro, os integrantes desse grupo oscilavam o apoio aos outros dois grupos.

A utilização dos termos esquerda e direita para denominar grupos com interesses e objetivos diferentes foi depois adaptada, tornando-se comum na esfera política.

Os jacobinos e os girondinos divergiam profundamente sobre o modo como a revolução deveria ser conduzida. Os girondinos eram quase sempre apoiados pelo grupo pântano e, por isso, passaram a comandar o governo, que tentava proteger a França do ataque dos estrangeiros e, ao mesmo tempo, controlar as agitações internas lideradas pelos sans-culottes e pelos camponeses. Os revoltosos exigiam o contrôle dos preços, o recrutamento geral da população para o exército e o fim de qualquer resquício do feudalismo, entre outras reivindicações.

Alguns camponeses defendiam também uma espécie de reforma agrária por meio da distribuição gratuita das terras das grandes propriedades, o que amedrontou os girondinos, pois muitos deles eram burgueses ricos e, também, proprietários de terras.

Ilustração. Busto de mulher de cabelo castanho com as pontas encaracoladas. Tem olhos azuis e o lábio rosa. Usa um lenço cinza nos cabelos e um xale cinza sobre os ombros. Na junção das pontas do xale, há duas rosas.
Ilustração atual, representando a revolucionária francesa manôn rolân, inspirada no quadro Retrato de manôn rolân, de autoria desconhecida, produzido em 1790.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Como você estudou, as mulheres não tinham direitos políticos reconhecidos, mas lutaram de fórma consistente durante a revolução e tiveram participação decisiva na implementação da república na França. manôn rolân, por exemplo, foi uma influente girondina que promoveu debates e encontros de diversos revolucionários na cidade de Paris. Graças a sua atuação política, seu marido, Marierolân de la platiér, tornou-se ministro do interior em 1792. A partir de então, ela assumiu a direção dos escritórios da família e, entre outras funções, redigia as cartas que la platiér enviava como representante do governo republicano francês.

Respostas e comentários

Ressalte aos estudantes a importância simbólica e o impacto prático da substituição de um calendário. Os revolucionários franceses desejavam provocar uma ruptura com o Antigo Regime, e a superação da centralidade da Igreja era um dos objetivos deles. Assim, um calendário preenchido por feriados religiosos, com nomes de santos e o domingo como dia de guarda, não poderia ser usado na França revolucionária.

Ampliando

No texto a seguir, o historiador Érik Robsbaum trata do avanço da Revolução Francesa, apontando uma tendência geral no desenvolvimento dos processos revolucionários.

Repetidas vezes veremos moderados reformadores da classe média mobilizando as massas contra a resistência obstinada ou a contrarrevolução. Veremos as massas indo além dos objetivos dos moderados rumo a suas próprias revoluções sociais, e os moderados, por sua vez, dividindo-se em um grupo conservador, daí em diante fazendo causa comum com os reacionários, e um grupo de esquerda, determinado a perseguir o resto dos objetivos moderados, ainda não alcançados, com o auxílio das massas, mesmo com o risco de perder o contrôle sobre elas. reticências Na maioria das revoluções burguesas subsequentes, os liberais moderados viriam a retroceder, ou transferir-se para a ala conservadora, em um estágio bastante inicial. De fato, no século dezenove vemos de modo crescente (mais notadamente na Alemanha) que eles se tornaram absolutamente relutantes em começar uma revolução, por medo de suas incalculáveis consequências, preferindo um compromisso com o rei e a aristocracia. A peculiaridade da Revolução Francesa é que uma facção da classe média liberal estava pronta a continuar revolucionária até o, e mesmo além do, limiar da revolução antiburguesa eram os jacobinos, cujo nome veio a significar ‘revolução radical’ em toda parte.”

róbisbáum, E. A era das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2012. página 111.

A queda dos girondinos e a ascensão dos jacobinos

Com medo de conceder muito poder aos sans-culottes e camponeses, os girondinos adotaram uma postura conservadora para lidar com os conflitos internos, recusando-se a promover a economia de guerra ou o recrutamento geral. Nos conflitos externos, porém, decidiram avançar sobre os inimigos, o que causou o enfraquecimento do exército francês e a entrada da Grã-Bretanha na guerra contra a França.

Como resultado dessa política, houve carestia, além de aumento da inflação e da especulação, e a França perdeu muitos territórios para os países inimigos e os contrarrevolucionários.

Além desses problemas, um episódio contribuiu para a queda dos girondinos: o julgamento do rei Luís dezesseis pela Convenção e sua condenação à morte. O rei foi guilhotinado em janeiro de 1793 e Maria Antonieta, em outubro do mesmo ano. Na execução de ambos, a população gritava “viva a nação”, “viva a república” e “viva a liberdade”.

Os jacobinos assumiram, então, o governo. Eles estabeleceram uma economia de guerra, mobilizaram os recursos de toda a nação por meio de recrutamentos e aboliram a distinção entre soldados e civis no exterior. Além disso, atenderam às solicitações dos sans-culottes, o que deu à população a energia que transformou a revolução em uma grande fôrça política e de guerra. Para isso, porém, os jacobinos recorreram à ditadura e ao terror.

Radicalidade revolucionária

O movimento revolucionário se tornou cada vez mais radical, principalmente após o assassinato do jornalista jacobino jãn pôl marrá pela girondina Charlóte Cordé.

Os girondinos foram expulsos da Convenção e os jacobinos, liderados pelo advogado Maquissimilián de Rubespiér, organizaram comitês para lidar com a crise interna e os ataques de países que tentavam sufocar a revolução: o Comitê de Salvação Pública, o Comitê de Segurança Nacional e o Tribunal Revolucionário, encarregado de julgar os contrarrevolucionários.

As prisões e as execuções de suspeitos de trair o movimento tornaram-se, então, frequentes. Teve início, assim, o chamado Período do Terror da Revolução Francesa, no qual 17 mil pessoas foram acusadas de traição e executadas na guilhotina.

Gravura. Em destaque, uma plataforma sobre a qual há um cadafalso onde está instalada uma guilhotina. À direita uma mulher de vestido claro é levada em direção à guilhotina por um homem de chapéu e calça marrom e casaco claro de mangas longas. Atrás deles, outro homem. À esquerda deles há outra pessoa que olha para a estrutura de madeira; na ponta  esquerda da guilhotina, uma pessoa manipula a estrutura de madeira que irá prender o pescoço da condenada. Ao redor da plataforma, há soldados. Ao fundo, muitas pessoas e construções, além de árvores altas de folhas verdes.
Representação da rainha Maria Antonieta sendo levada para a guilhotina, gravura de crístian jozí, 1798.
Fotografia. Estrutura de madeira com uma base retangular na horizontal, acoplada a uma estrutura vertical, onde há uma lâmina com o fio em diagonal; na base dessa estrutura vertical, um quadro de madeira tem uma abertura redonda, onde o condenado coloca o pescoço.
Miniatura de uma guilhotina produzida na França, no século dezoito.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A guilhotina se tornou o símbolo do Período do Terror. A execução dos que eram tidos como inimigos foi considerada não só normal, mas também necessária para a revolução.

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre o Terror foram retirados de: róbisbáum, E. J. A era das revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. página 86.

É importante contextualizar o uso da guilhotina. Em sociedades do Antigo Regime, como a da França pré-revolucionária, as pessoas eram ordenadas em estamentos e, portanto, as penas variavam não apenas conforme o crime cometido, mas também de acordo com o estamento ao qual pertencia o delinquente e, ainda, com requintes de crueldade e tortura. Quando o médico francês Joséf-Iniáce Guilhotándefendeu o uso da guilhotina, acreditou estar defendendo a igualdade na morte, garantindo mais efetividade e, consequentemente, menos sofrimento aos condenados à pena de morte. Embora o médico não tenha participado efetivamente da implantação da guilhotina nas condenações francesas, conta-se que a imprensa batizou o instrumento com o sobrenome dele, e ele passou à memória como uma figura sádica.

Curadoria

A Revolução Francesa explicada à minha neta (Livro)

michél vovéil. São Paulo: Editora Unésp, 2007.

Nesse livro redigido em fórma de diálogo, o historiador michél vovéil explica a complexidade e as contradições da Revolução Francesa a sua neta de 14 anos. Enquanto ele trata dos pontos-chave do movimento, a neta faz perguntas sobre o curso do processo revolucionário, evidenciando seus limites.

O Golpe de 9 do Termidor

Apesar de a radicalização ter partido dos jacobinos, nem todos os integrantes do grupo eram favoráveis a ela. Em razão disso, houve uma separação entre os que defendiam a manutenção do terror e os que se opunham à violência.

Em março de 1794, o advogado JácDantún e outros jacobinos que se opunham à radicalização da revolução foram presos e executados pelo Comitê de Salvação Pública, dirigido por Rubespiér, que se tornou um ditador.

Durante o Período do Terror, os jacobinos confiscaram as propriedades dos nobres que fugiram, vendendo-as em troca de pagamento facilitado aos camponeses. Eles também acabaram com os últimos vestígios do feudalismo, realizaram reformas educacionais, estabeleceram o uso do sistema de numeração decimal e tomaram outras medidas para estabilizar a sociedade francesa e afastar as ameaças externas.

Diante da situação estabilizada e do medo da violência jacobina, a burguesia girondina e membros do pântano organizaram o Golpe de 9 do Termidor (a palavra Termidor era usada para definir o aumento da temperatura na Europa entre julho e agosto e inspirou o calendário revolucionário), que correspondia a 27 de julho de 1794, contra Rubespiér. Ele foi executado um dia depois, em 28 de julho de 1794.

Com a morte de Rubespiér e de diversos de seus companheiros, os girondinos voltaram à Convenção e anularam diversas medidas governamentais tomadas durante o Período do Terror.

Foi revogada, por exemplo, a lei de contrôle do preço dos alimentos, favorecendo a burguesia, que havia voltado a ser a maioria na Assembleia. Medidas como essa, que favoreciam o liberalismo econômico, resultaram na volta da inflação e da pobreza durante o inverno, no final de 1794 e no início de 1795.

A carestia atingiu sobretudo a população mais pobre, que, em 1795, se revoltou. A rebelião foi facilmente controlada, pois não havia uma liderança. No mesmo ano, outra investida contrarrevolucionária, que procurava restaurar a monarquia francesa, foi detida por um general chamado Napoleão Bonaparte, que passou a se destacar no exército.

Fotografia. Vista do alto para um local aberto. Uma praça ovalada com um obelisco alto ao centro. Ao redor da praça uma via larga e, ao fundo uma construção horizontal ampla, em bege. Mais ao fundo é possível ver inúmeras outras construções. No céu azul, algumas nuvens.
Praça da Concórdia, em Paris, França. Foto de 2020.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

A Praça da Concórdia, construída no século dezoito, foi chamada, inicialmente, Praça Luís quinze, sendo rebatizada em 1792 como Praça da Revolução. Depois disso, foi instalada nela uma guilhotina, usada para executar milhares de pessoas, entre as quais Luís dezesseis, Maria Antonieta, jorge jáque dantôn e

Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver a reflexão sobre a violência do Período do Terror e a análise do desenvolvimento dos processos revolucionários e seus impactos em diferentes espaços e temporalidades, o conteúdo do capítulo contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero quatro e da Competência Específica de História nº 2.

Aproveite o momento para refletir com os estudantes sobre as motivações da aceitação de medidas drásticas. Por meio dessa reflexão, é oportuno instigar a turma a pensar criticamente no processo de radicalização e imaginar alternativas não violentas para a resolução de problemas. Comente, porém, com os estudantes que foi durante o momento de radicalização que várias conquistas revolucionárias foram consolidadas, como o fim da escravidão nas colônias e dos privilégios feudais, sem indenização. Foram também tomadas algumas medidas de auxílio aos mais pobres. Além disso, conquistou-se uma vitória militar sobre os exércitos estrangeiros. Após citar essas conquistas, convide a turma a refletir sobre esta questão: “Seria possível agir de modo diferente naquele momento para dar continuidade ao processo revolucionário?”.

Ressalte o fato de que, a partir do Golpe de 9 do Termidor, a Revolução Francesa tornou-se cada vez mais moderada, aproximando-se dos interesses da burguesia. A revogação das medidas de contrôle dos preços dos alimentos foi um símbolo dessa alteração no movimento revolucionário.

Se possível, retome a questão da violência não só durante o Período do Terror, mas também nos períodos anteriores, para promover a reflexão sobre a lógica da punição: se os jacobinos aceitavam o sacrifício sumário de vidas para garantir a manutenção do processo revolucionário, os girondinos puniam com a morte muitos dos autores de propostas voltadas à abolição de seus privilégios. É possível retomar o caso de Olamp de Gúge, executada por causa de suas ideias, que se chocavam com os interesses dos grupos dirigentes do processo revolucionário.

O Diretório

Em 1795 foi elaborada outra Constituição Francesa. O novo texto demonstrou a fôrça que a burguesia havia conquistado, pois estabelecia o direito de voto apenas aos cidadãos proprietários. Além disso, o governo do país foi atribuído a um grupo de cinco diretores, razão pela qual o período em que eles estiveram no poder ficou conhecido como Diretório.

No plano interno, esse período foi marcado pelas tentativas de controlar os partidários da monarquia e pela repressão às manifestações jacobinas. Em 1796, alguns jacobinos, liderados por Graco babêf, participaram da Conspiração dos Iguais, com o objetivo de extinguir a propriedade privada. Tal ideia aterrorizou os deputados da Assembleia, que executaram quase todos os membros da conspiração.

Ao mesmo tempo, a França continuava a enfrentar as investidas externas que procuravam restabelecer a monarquia, ficando cada vez mais dependente do exército para manter a ordem. O Diretório tentou, sem sucesso, pacificar um lugar arrasado pela guerra civil e pela ameaça de invasão estrangeira.

Golpe do 18 de Brumário

Após anos de conflitos com países estrangeiros, revoltas nas colônias e agitações sociais, a população francesa passou a enxergar o jovem general Napoleão Bonaparte como solução para um governo forte, que poderia conduzir a França ao caminho da estabilidade política e econômica.

Assim, apoiado por alguns membros do Diretório e principalmente pela burguesia, Napoleão articulou um golpe para tomar o poder em 9 de novembro de 1799. O evento ficou conhecido como Golpe do 18 de Brumário. O termo bruma (“névoa”) inspirou o nome do segundo mês do calendário adotado pelos revolucionários.

Gravura em preto e branco. Ao centro, uma mulher é puxada para o abismo por uma figura alada, de túnica na cintura e chapéu. A mulher usa um vestido longo e claro. Ao lado dela, amparando-a, um homem em trajes militares. Ele olha para a mulher e estende o braço esquerdo a duas figuras de túnica. Uma delas carrega um feixe e uma balança; a outra, carrega uma cornucópia. No céu, nuvens e um anjo tocando uma trombeta. No canto inferior direito, uma outra figura tem na mão direita uma tocha e, na esquerda, correntes.
O apoio da França, gravura de alêquissí chantenhê, século dezoito.
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Na gravura, Napoleão é representado como o salvador da França, que, por sua vez, é representada como uma mulher à beira do abismo. Tentando derrubar a França estão os revolucionários fanáticos, representados como dois personagens segurando as correntes que remetem à escravidão e uma tocha que simboliza a discórdia. Isso significa que a ideia que permeava a sociedade da época era a de um governo forte e centralizado, que poderia acabar com os embates entre os partidos políticos.

Respostas e comentários

Ampliando

Ao mencionar a Conspiração dos Iguais, seria oportuno tomá-la como exemplo da permanência de vertentes radicais no Diretório. Esse movimento integra a memória dos projetos de futuro mais igualitário que não deram certo. O Manifesto dos Iguais permite conhecer as ideias de Graco babêf e dos jacobinos mais radicais. A leitura comentada do texto em sala de aula pode ser útil para evidenciar a diversidade das visões políticas em disputa. O seguinte trecho desse documento chegou a ser considerado antecessor do Manifesto Comunista, de cál marcs e fréderique ênguels:

“A lei agrária, ou a divisão da terra, foi aspiração momentânea de alguns soldados sem princípios, de algumas populações incitadas pelo seu instinto mais do que pela razão. Nós temos algo de mais sublime e de mais equitativo: o bem comum, ou a comunidade de bens! Nós reclamamos, nós queremos desfrutar coletivamente dos frutos da terra: esses frutos pertencem a todos.

Declaramos que, posteriormente, não poderemos permitir que a imensa maioria dos homens trabalhe e esteja ao serviço e ao mando de uma pequena minoria”.

babêf, G. Manifesto dos Iguais. Paris, 1796. Disponível em: https://oeds.link/8yHZ5M. Acesso em: 29 abril 2022.

Interdisciplinaridade

O uso das imagens e das técnicas das artes visuais durante a revolução foi intenso. A gravura O apoio da França, de alêquissí chantenhê, e outras imagens de época reproduzidas no capítulo contribuem para estabelecer o diálogo entre história e o componente curricular arte, relacionando o conteúdo às habilidades ê éfe seis nove á érre zero dois – “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço” – e ê éfe seis nove á érre três um – “Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética”.

O Consulado e a eleição de Napoleão Bonaparte

Em 1799, Napoleão tinha 30 anos e era um militar de razoável mérito, pois havia liderado importantes vitórias. Ele assumiu o Poder Executivo com outros dois cônsules: o abade Emanuél Joséf Sieiés e rogê dicô. Nesse regime político, denominado Consulado, o poder deveria ser exercido de modo igual pelos três cônsules, mas não foi o que aconteceu: Napoleão tomava quase todas as decisões, controlava o exército e a política externa.

Durante o Consulado, a França passou por um processo de estabilização política e econômica. A criação do Banco da França, em 1800, possibilitou a reorganização do sistema financeiro do país, ao passo que os investimentos em industrialização aumentaram a produção do mercado interno e o enriquecimento da burguesia, que apoiava Napoleão.

Em 1801, o governo se aproximou da Igreja Católica ao assinar um acordo com o papa Pio sétimo, afirmando o catolicismo como religião predominante no país, e conseguiu diminuir os atritos internos com o clero.

Ao mesmo tempo, Napoleão deu início a uma reforma educacional por meio da fundação de liceus, instituições que forneciam instrução pública para as camadas de elite com o principal objetivo de formar futuros funcionários do governo e oficiais do exército. Além disso, promoveu a realização de obras de infraestrutura e embelezamento das cidades.

Com essas ações, Napoleão conquistou popularidade e se tornou cônsul vitalício em 1802, por meio de um plebiscito.

Pintura. Em um local fechado, paredes em azul ou vermelho, ricamente adornadas em dourado com amplas janelas e cortinas em vermelho. O assoalho é azul com detalhes em vermelho, amarelo, branco e flores coloridas. Ao fundo, uma mureta em vermelho separa dezenas de homens em pé da parte central do local, onde há outros homens em pé.  Eles têm os braços erguidos na direção centro-esquerda da pintura, onde está Napoleão Bonaparte. Sobre uma plataforma acessada por dois degraus, há uma mesa com toalha em verde e detalhes em dourado. Atrás dela, três homens estão vestidos de casaca em vermelho e calças em branco. Apenas o que está ao centro não usa peruca e tem uma faixa dourada na diagonal, no torso. É Napoleão Bonaparte. Ao lado dele, outro homem está cabisbaixo. Atrás dele, um outro homem observa. Diante da mesa, um homem com camisa de gola branca, casaca e calças em preto está sentado sobre uma banqueta estofada em vermelho com detalhes dourados. Ele tem um livro aberto sobre o colo, onde faz anotações com uma pena. Ele olha para trás e para cima, na direção de Napoleão. À frente dele, em pé, quatro homens usam casaca em azul, calças brancas, meias compridas em branco e sapatos pretos, com um tecido vermelho em volta da cintura. Eles também têm os braços erguidos na direção de Napoleão. À esquerda, próximo à mesa onde está  Napoleão, um outro homem em pé, de casaca azul, calças brancas e sapatos pretos segura uma pasta vermelha em uma das mãos e, na  outra, uma folha de papel. Ele olha na direção de Bonaparte.
Instalação do Conselho de Estado no Palácio Petit­‑Luxembourg, em 25 de dezembro de 1799, pintura de Oguíste Cudê, 1856.
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Imagens em contexto!

Na pintura, foi representada a instalação do Conselho de Estado, em dezembro de 1799. À esquerda e acima dos outros personagens, encontram-se os três membros do Consulado. O personagem sem peruca é Napoleão Bonaparte. Os outros dois cônsules – um de cabeça abaixada, em posição de obediência, e o outro a sua sombra – são representados como menos importantes que ele.

Respostas e comentários

Após delinear o quadro de disputa e instabilidade do processo revolucionário, analisam-se a ascensão de Napoleão e suas escolhas políticas, que articulavam uma série de interesses, mas encabeçavam o projeto político burguês. Desse modo, facilita-se a compreensão do apoio popular, cuja consequência foi o sucesso do plebiscito que elevou Bonaparte à condição de imperador e aumentou ainda mais sua autoridade. Enfatizando as disputas com o Reino Unido e o interesse em derrubar as monarquias absolutistas, investigam-se as guerras travadas pelo Império Napoleônico, que redefiniram uma série de territorialidades e relações políticas não só na Europa, mas também no Brasil, com a transferência da côrte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808.

Ampliando

No texto a seguir, o historiador Eric róbisbáum analisa a carreira de Napoleão Bonaparte.

ambicioso, descontente e revolucionário, subiu vagarosamente na artilharia, um dos poucos ramos do exército real em que a competência técnica era indispensável. Durante a Revolução, e especialmente sob a ditadura jacobina que ele apoiou firmemente, foi reconhecido por um comissário local em um front de suma importância reticências como um soldado de dons esplêndidos e muito promissor. O Ano dois fez dele um general. Sobreviveu à queda de Rubespiér, e um dom para o cultivo de ligações úteis em Paris ajudou-o em sua escalada após este momento difícil. Agarrou a sua chance na campanha italiana de 1796, que fez dele o inquestionado primeiro soldado da República, que agia virtualmente independente das autoridades civis. O poder foi metade atirado sobre seus ombros e metade agarrado por ele quando as invasões estrangeiras de 1799 revelaram a fraqueza do Diretório e a sua própria indispensabilidade.

róbisbáum, E. A era das revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012. página 129.

Napoleão como cônsul vitalício

Com o objetivo de reconstruir um império na América e gerar riquezas para engrandecer a França, Napoleão Bonaparte criou uma lei segundo a qual o que ocorria na França continental não valia para suas colônias.

Com base nessa lei, ele tentou reintroduzir a escravidão na ilha caribenha de São Domingos, em que a prática havia sido abolida após a revolução, mas os colonos não aceitaram e promoveram uma revolta. Os franceses foram derrotados no conflito e a ilha se tornou independente, sendo renomeada Haiti, o nome indígena do território.

Em 1802, Napoleão obteve um importante acordo de paz com o Reino Unido, o principal adversário francês. A fim de levantar fundos para o fortalecimento do exército, vendeu o território francês da Luisiana para os Estados Unidos, em 1803. Dessa maneira, obteve algumas vitórias militares e acordos diplomáticos.

Em 1804 o cônsul promulgou o Código Civil Napoleônico, que confirmava a igualdade jurídica dos cidadãos, conquistada durante a revolução, e o fim das antigas obrigações feudais. Além disso, assegurava a separação entre a Igreja e o Estado.

As mulheres, no entanto, continuaram juridicamente subordinadas a seus pais ou maridos. Além disso, apesar da ênfase na liberdade religiosa e na igualdade perante a lei, Napoleão restringiu várias liberdades políticas, pois controlava de fórma repressiva a oposição a seu governo, punindo greves, impedindo a organização de sindicatos e censurando a imprensa.

Pintura. Em local com solo de cor bege-acinzentado, com pedras e nomes gravados sobre elas, um homem está montado sobre um cavalo branco. O cavalo está apoiado sobre as patas traseiras, com o corpo inclinado para cima e tem a crina dourada. O homem sobre ele tem cabelos escuros, nariz e lábios finos, chapéu largo preto com detalhes dourados, manto amarelo avermelhado esvoaçante sobre os ombros, casaca azul, calça amarela, meias em marrom e sapatos pretos. Seu braço direito está erguido para frente e tem o dedo indicador para frente. Ele tem o olhar sereno e decidido. Em segundo plano, há outras pessoas, um carro de madeira com duas rodas, vistos parcialmente. No alto, céu em azul-claro com nuvens em cinza e tons de bege.
Napoleão atravessando os Alpes, pintura de jác lui daví, 1800.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Napoleão contratou pintores, como jác lui daví, com o objetivo de popularizar sua imagem como a de um líder forte e destemido. Na pintura Napoleão atravessando os Alpes, por exemplo, diversos elementos foram usados para ressaltar a grandiosidade de Napoleão: o personagem foi representado em primeiro plano, ocupando todo o centro da tela, sendo destacadas sua habilidade em controlar e conduzir o cavalo e a serenidade em seu semblante.

Respostas e comentários

Ampliando

A observação e a discussão do caráter ambivalente da política napoleônica contribuem para que os estudantes desenvolvam um olhar crítico sobre os processos históricos e as decisões políticas, podendo compreendê-los em sua complexidade e em seu devido contexto. Para aprofundar o debate, pode-se utilizar o texto a seguir, em que a historiadora lín rânt trata do assunto.

“Napoleão tentou criar um híbrido entre os direitos do homem e a sociedade hierárquica tradicional, mas no fim das contas ambos os lados rejeitaram a cria bastarda. Napoleão foi criticado pelos tradicionalistas devido à sua ênfase na tolerância religiosa, na abolição do feudalismo e na igualdade perante a lei, e pelo outro lado devido às restrições que impôs a um grande número de liberdades políticas. Conseguiu ficar em paz com a Igreja Católica, mas nunca se tornou um governante legítimo aos olhos dos tradicionalistas. Para os defensores dos direitos, a sua insistência na igualdade perante a lei não conseguiu contrabalançar a sua revivescência da nobreza e a criação de um império hereditário. Quando perdeu o poder, o imperador francês foi denunciado tanto pelos tradicionalistas como pelos defensores dos direitos como um tirano, um déspota e um usurpador. Um dos críticos mais persistentes de Napoleão, a escritora germâne dê staél, proclamou em 1817 que o seu único legado eram ‘mais alguns segredos na arte da tirania’. De staél, como todos os outros comentaristas tanto da esquerda como da direita, só se referia ao líder deposto pelo seu sobrenome, Bonaparte, e nunca lhe dava o tratamento imperial do primeiro nome, Napoleão.”

rãnt, L. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página 182.

Curadoria

Além do medo (Artigo)

Marco Morel. Impressões Rebeldes. Ano 6, número 1 (janeiro-junho), 2018. Disponível em: https://oeds.link/8wc3f0. Acesso em: 20 abril 2022.

Nesse artigo, o historiador Marco Morel trata do ineditismo da Revolução do Haiti, que deu origem ao único Estado resultante de um levante de escravizados, das contradições de tal revolução e de seu impacto no mundo, especialmente no Brasil, na época da independência.

O Império Napoleônico

Em 1804, amparado pelo sucesso do Código Napoleônico e pelas medidas de estabilização, por meio de outro plebiscito, Napoleão se tornou imperador da França, conquistando o título de Napoleão primeiro.

Um dos objetivos de Napoleão era difundir os ideais da Revolução Francesa na Europa. Por isso, as monarquias do continente formaram uma coligaçãoglossário de oposição organizada à França. Fizeram parte desse movimento Reino Unido, Suécia, Rússia e Áustria.

Os monarcas desses reinos se assustaram com a ascensão de Napoleão, que apresentava qualidades militares, como disciplina e estratégia. Além disso, ele organizou um exército nacional formado não por mercenários ou nobres, mas por cidadãos comuns. Era a primeira vez que um exército lutava pelo ideal da nação e sob a bandeira de sua soberania. Com essas características, o exército francês tinha muita fôrça e coragem, pois os soldados acreditavam em sua missão de levar a revolução para o restante da Europa.

Em 1805, os franceses venceram a Áustria e a Rússia na Batalha de austerlítz, localizada no território correspondente ao da atual República Tcheca. Essa foi uma das conquistas militares mais importantes do exército francês sob o comando de Napoleão Bonaparte. A Prússia, por sua vez, foi vencida em 1806 e desmembrada. Já a Rússia foi vencida nas batalhas de Eylau e de Friedland, em 1807.

O poder do exército francês, em solo, era inquestionável, mas não nas batalhas marinhas. Em 1805, a França foi derrotada pelo Reino Unido no conflito marítimo de Trafalgar. As duas potências se enfrentavam desde 1803, em razão do descumprimento de um acordo de paz assinado um ano antes em Amiens, na França. O resultado desse conflito deixou claro que a marinha francesa era inferior à do Reino Unido; por isso, Napoleão passou a concentrar seus esforços em enfraquecê-la.

Pintura. Vista de local aberto, com muita fumaça ao fundo, e solo em bege e cinza. Ao centro, sobre cavalos, três homens em trajes militares conversam. Um deles, à direita, gesticula. Os demais o escutam. Ao redor deles, diversos soldados; alguns usam turbantes. Sobre o chão, alguns soldados caídos. Ao fundo e à esquerda, soldados carregam bandeiras.
Napoleão na Batalha de austerlítz, pintura de françuá gerrár, 1805.
Respostas e comentários

Os acordos firmados por Napoleão com a aristocracia e o papado, com o intuito de obter apoio ao império, reforçaram em parte os latifúndios. Todavia, não há dúvida de que, desde a revolução, a estrutura agrária da França é menos concentrada que a de outros países ricos.

Ampliando

A Revolução Francesa teve fim com a ascensão do Império Napoleônico. No texto a seguir, o historiador Eric róbisbáum trata da importância desse evento para a história mundial.

“Se a economia do mundo do século dezenove foi formada principalmente sob a influência da revolução industrial britânica, sua política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. A Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fábricas, o explosivo econômico que rompeu com as estruturas socioeconômicas tradicionais do mundo não europeu; mas foi a França que fez suas revoluções e a elas deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente todas as nações emergentes A França forneceu o vocabulário e os temas da política liberal e radical democrática para a maior parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo, o conceito e o vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os códigos legais, o modelo de organização técnica e científica e o sistema métrico de medidas para a maioria dos países. A ideologia do mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até então resistido às ideias europeias inicialmente através da influência francesa. Esta foi a obra da Revolução Francesa.”

róbisbáum, E. A era das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2012. página 97-98.

O Bloqueio Continental de 1806

Para enfraquecer a marinha britânica, Napoleão estabeleceu, em 1806, o Bloqueio Continental, por meio do qual proibiu todos os países dominados pelo Império Francês de receber em seus portos navios britânicos. Com essa estratégia, além de impedir o comércio da produção britânica, afetando sua economia, Napoleão procurava ampliar o consumo de produtos franceses pelos outros países.

Como resultado do bloqueio, em 1807, a França dominava quase toda a Europa, mas a Península Ibérica ainda mantinha acordos com o Reino Unido. Assim, Napoleão invadiu a Espanha, colocando seu irmão, José Bonaparte, no governo espanhol.

Os franceses também ameaçaram invadir Portugal, razão pela qual a monarquia lusitana e toda a sua côrte se retiraram para o Brasil em 1808. Com a mudança para a América, a capital do Império Português passou a ser o Rio de Janeiro.

A invasão da Rússia por Napoleão Bonaparte

Em 1809, a Rússia decidiu se retirar do Bloqueio Continental. Em represália, Napoleão invadiu o país em 1812 e tomou a capital, Moscou, com um exército de 610 mil soldados.

Para barrar o avanço das poderosas tropas francesas, os russos adotaram a tática da terra arrasada: queimavam as plantações, os celeiros e todo tipo de suprimento que pudesse ser aproveitado pelos invasores e, depois, fugiam de suas terras.

Sem suprimentos e abalado pelo rigoroso inverno russo (que podia alcançar –30 grauscélsius), o exército francês foi duramente afetado pela fome e pelas doenças e sofreu uma de suas piores derrotas: perdeu 500 mil soldados, sendo obrigado a se retirar da Rússia.

A partir de então, Napoleão enfrentou diversas revoltas nos territórios conquistados e sofreu uma série de derrotas para a coligação liderada pela Rússia, pela Áustria e pela Prússia. A França perdeu a Batalha das Nações, em 1813, e a cidade de Paris foi invadida em 1814. Napoleão teve de fugir e se exilar na Ilha de Elba. Com isso, os burbôm retornaram ao poder e restabeleceram a monarquia na França. O trono foi assumido por Luís dezoito.

O Império Napoleônico – 1811

Mapa. O Império Napoleônico – 1811. Legenda: Vermelho: França em 1789. Rosa com listras em vermelho: Conquistas da Convenção desde 1792. Hachura em amarelo e rosa: Territórios anexados ao império. Amarelo: países e estados dominados por Napoleão. Lilás: Estados independentes aliados de Napoleão. Verde: Principal país adversário. Linha horizontal em verde escuro: Limites do Império Napoleônico. Linha horizontal em rosa: Confederação do Reno. Linha horizontal em azul: Bloqueio Continental. Símbolo de um navio: Base naval britânica. França em 1789: corresponde aproximadamente à França atual, com destaque para as cidades de Paris e Fontainebleau, e incluindo a ilha da Córsega. Conquistas da Convenção desde 1792: Área nordeste da França e fronteira entre a França e a Itália. Territórios anexados ao império: Região dos Países Baixos, da Catalunha, do centro da Península Itálica até o Piemonte, além da costa leste do Mar Adriático. Países e Estados dominados por Napoleão: Espanha, com destaque para a cidade de Madri; Grão-Ducado de Varsóvia; a Confederação do Reno, com destaque para a cidade de Leipzig; Suíça; Reino da Itália, com destaque para a cidade de Milão; e Reino de Nápoles. Estados independentes aliados de Napoleão: Noruega; Suécia; Prússia; Império Austríaco, com destaque para a cidade de Viena; Império Russo, com destaque para a cidade de Moscou. Principal país adversário: Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, onde se localiza a cidade de Londres. Limites do Império Napoleônico: Região da França, as áreas conquistadas pela Convenção mais os territórios anexados ao império. Confederação do Reno: região da Europa Central ao sul dos Países Baixos e ao norte do Reino de Itália e da Suíça. Bloqueio continental: Toda a região litorânea da Europa ocidental, com exceção de Portugal. Base naval britânica: ao sul da Espanha; ao sul da ilha da Sicília; e no Mar do Norte. À direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 450 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. pê ponto 82-85.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

No mapa, estão representados os territórios sob domínio do exército napoleônico, os anexados ao império e a linha do Bloqueio Continental. Analise-o e responda: quais foram os países que não aderiram ao bloqueio?

Respostas e comentários

Dados numéricos sobre a invasão à Rússia foram retirados de: róbisbáum, E. A era das revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. página 105.

Resposta do “Se liga no espaço!”: Portugal, Rússia e Áustria.

Bê êne cê cê

Ao estudar as guerras napoleônicas e seus impactos na Europa e na América, mobiliza-se a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero quatro, assim como a Competência Específica de História nº 5.

Ampliando

No texto a seguir, o historiador Boris Fausto trata dos impactos do Bl oqueio Continental na América portuguesa.

“A guerra que Napoleão movia na Europa contra a Inglaterra, em princípios do século dezenove, acabou por ter consequências para a Coroa portuguesa. Após controlar quase toda a Europa ocidental, Napoleão impôs um bloqueio ao comércio entre a Inglaterra e o continente. Portugal representava uma brecha no bloqueio e era preciso fechá-la. Em novembro de 1807, tropas francesas cruzaram a fronteira de Portugal com a Espanha e avançaram em direção a Lisboa. O príncipe Dom João, que regia o reino desde 1792, quando sua mãe Dona Maria fôra declarada louca, decidiu-se em poucos dias pela transferência da côrte para o Brasil. Entre 25 e 27 de novembro de 1807, cêrca de 10 mil a 15 mil pessoas embarcaram em navios portugueses rumo ao Brasil, sob proteção da frota inglesa. Todo um aparelho burocrático vinha para a Colônia: ministros, conselheiros, juízes da côrte Suprema, funcionários do Tesouro, patentes do exército e da marinha, membros do alto clero. Seguiam também o tesouro real, os arquivos do governo, uma máquina impressora e várias bibliotecas que seriam a base da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.”

FAUSTO, B. História concisa do Brasil. segunda edição São Paulo: êduspi, 2010. página 66-67.

Curadoria

Napoleão e o Brasil (Podcast)

França e Brasil, maio 2021. Disponível em: https://oeds.link/JUcxrI. Acesso em: 29 abril 2022.

Nesse podcast, dividido em sete capítulos roteirizados e narrados por Adriana Brandão, são abordados o deslocamento da família real ao Brasil, a independência do país, a Missão Francesa e a Revolução Pernambucana, entre outros pontos de conexão entre Brasil e França.

O Governo dos Cem Dias e o exílio final

Luís dezoito assumiu o trono com apoio de integrantes da sociedade francesa que desejavam a restauração da monarquia e da família burbôm. Muitos deles eram nobres que haviam fugido durante a revolução e retornaram para a França esperando recuperar suas terras e seus privilégios.

Napoleão, porém, não ficou muito tempo no exílio. Ele fugiu da ilha de Elba no dia 1º de março de 1815 e invadiu a França apenas com sua guarda pessoal.

Enquanto se dirigia a Paris, para confrontar o rei, sua guarda foi sendo engrossada por camponeses e outros indivíduos descontentes com o retorno dos burbôm, pois não queriam ver os antigos privilégios restabelecidos. Assim, quando a guarda de Napoleão se encontrou com o batalhão enviado pelo rei para combatê-la, grande parte da opinião pública já era favorável ao retorno do ex-governante, de modo que até o batalhão real abandonou Luís dezoito e se uniu ao antigo imperador, que voltou ao trono.

O rei fugiu às pressas de Paris no dia 19 de março e se refugiou na Bélgica, onde foi perseguido pelas tropas francesas. Napoleão, por sua vez, permaneceu no poder por um curto período, conhecido como Os Cem Dias, pois foi vencido em 18 de junho de 1815 na Batalha de uóterlú, por tropas austríacas e britânicas. Foi, então, obrigado a abdicar novamente do trono e se refugiou na ilha de Santa Helena, na costa ocidental da África, onde faleceu em 1821.

Fotografia. Vista de local aberto, com solo bege e calçado de pedra. No centro, uma pirâmide de vidro e metal. Ao fundo, o edifício do Museu do Louvre, um grande prédio horizontal com três andares e muitas janelas. À esquerda, uma construção que se destaca do restante, com uma cúpula em cinza no topo. Diversas pessoas circulam no local.
Museu do Louvre em Paris, França. Foto de 2018.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Além das conquistas políticas e territoriais, Napoleão formou coleções que dariam origem a instituições como o Museu do Louvre em Paris. Durante suas campanhas militares e tratados de paz, levou para a França várias coleções de objetos artísticos e antiguidades de outros países. Utilizou para isso a justificativa eurocêntrica de que, por sua singularidade e importância, esses objetos deveriam ficar com os franceses, que seriam mais capazes de conservá-los. Os retornos do imperador a Paris eram sempre marcados por grandiosas festas e desfiles. Depois, as coleções consideradas mais significativas eram direcionadas ao Louvre e, o restante, encaminhado a museus de outras regiões.

Respostas e comentários

Ao analisar o processo de desmonte do Império Napoleônico, estimula-se uma reflexão sobre a atuação de Bonaparte não apenas como estrategista e articulador político, mas também como figura que se tornou um símbolo poderoso, associado a valores revolucionários.

É pertinente associar a imagem do Museu do Louvre à questão do saque dos países dominadores ao patrimônio de vários povos. Foi frequente a extração à fôrça de elementos da história e do patrimônio da América e da África durante os processos de colonização. Hoje, em um movimento de descolonização, países como Benin e Egito, bem como povos indígenas, organizam-se para reaver peças roubadas que compõem o acervo de vários museus europeus, como o Louvre. Uma dessas peças é a Pedra de Roseta, que está no Museu Britânico, em Londres, no Reino Unido. Esse fragmento de rocha, composto de três colunas de texto (em grego, hieróglifo e demótico antigo), foi fundamental para a compreensão dos hieróglifos egípcios. Acredita-se que a peça foi encontrada por soldados das fôrças napoleônicas no Egito. Com a derrota de Napoleão, os britânicos tomaram posse da rocha, em 1801, por meio do Tratado de Alexandria.

Cruzando fronteiras

As caricaturas são desenhos produzidos para representar pessoas ou situações de modo exagerado, despertando o humor daqueles que as veem. Elas são consideradas um gênero discursivo e podem ser utilizadas para satirizar figuras políticas, ridicularizar situações especiais e cotidianas, entre diversas outras possibilidades.

No início do século dezenove, Napoleão Bonaparte foi o tema da produção de diversas caricaturas. Patrocinadas por Luís dezoito, mas produzidas também em outros locais, como o Reino Unido e a Prússia, essas caricaturas o representavam em diversas situações, algumas constrangedoras. Estava em jogo a utilização de uma manifestação artística provocativa e bem-humorada para representar o inimigo Napoleão.

Gravura. Dois homens de roupas em tons de azul com detalhes dourados. Um deles, com traje em azul claro, está com a mão sobre o bocal de uma garrafa grande de vidro. Dentro dela, um homem em miniatura. O outro homem de azul escuro, segura um bastão e observa e aponta para o conteúdo da garrafa de vidro.
O pequeno diabo cartesiano: camponeses alemães capturando o pequeno diabo Napoleão, gravura de 1813.
Gravura. Composta de seis quadros com homens segurando um boneco de Napoleão Bonaparte. No primeiro quadro, um homem tenta cortar Napoleão com a tesoura. No segundo quadro, um homem parece golpeá-lo com a mão. No terceiro quadro, outro homem tenta cozinhá-lo. No quarto quadro, um homem segura um chicote nas mãos enquanto Napoleão parece dançar. No quinto quadro, outro homem tenta beber Napoleão em uma caneca. No sexto quadro, um homem tenta engoli-lo.
Napoleão reduzido a um tamanho administrável, gravura de cêrca de 1815.
Ícone. Ilustração de uma lupa indicando o boxe Imagens em contexto!

Imagens em contexto!

Um diabo cartesiano ou mergulhador cartesiano é um boneco que flutua dentro de uma garrafa. O brinquedo pode ser usado como fórma de observar os princípios hidrostáticos (as condições de estática dos fluidos) propostos pelo cientista francês Pascal, que viveu de 1623 a 1662, e Arquimedes, estudioso grego da Antiguidade. Na gravura de 1813, Napoleão foi representado como esse boneco flutuando dentro de uma garrafa com água. Na imagem de 1815, Napoleão também foi representado em tamanho pequeno, como um boneco de brinquedo.

Responda no caderno.

  1. Descreva as duas gravuras. 
  2. Em sua opinião, qual foi o objetivo dos autores das gravuras ao representar Napoleão Bonaparte dessa maneira?
Respostas e comentários

Cruzando fronteiras

A seção promove a análise de caricaturas, permitindo um diálogo com o componente curricular arte. Além disso, permite aos estudantes perceberem de que fórma foram realizadas críticas às figuras de poder naquele período, compreendendo, dessa fórma, a sociedade do período napoleônico.

Atividades

1. Na primeira imagem, Napoleão foi representado em seis momentos diferentes, sendo atormentado e manipulado. Já na segunda imagem, ele foi desenhado como um brinquedo dentro de uma garrafa. Em ambas as imagens, ele foi representado como uma figura pequena em relação aos outros personagens.

2. Os estudantes podem responder que a representação diminuta do ex-imperador transmite a ideia de que ele era facilmente manipulável ou administrável, como sugere o título da gravura de 1815: Napoleão reduzido a um tamanho administrável. Além disso, esse tipo de representação é uma sátira à situação do ex-imperador, que outrora projetara sua figura de modo tão grandioso sobre a Europa. Vale ressaltar que as campanhas promovidas para diminuir a importância de Napoleão influenciaram a produção do mito de que ele tinha baixa estatura, mas sua altura (1,68 metro) era considerada mediana para os franceses do século dezenove.

Interdisciplinaridade

A análise das gravuras é um exercício de leitura inferencial de documentos iconográficos que contribui para o diálogo entre história e o componente curricular arte, relacionando o conteúdo às habilidades ê éfe seis nove á érre zero dois – “Pesquisar e analisar diferentes estilos visuais, contextualizando-os no tempo e no espaço” – e ê éfe seis nove á érre três um – “Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética”.

O Congresso de Viena

Ao colocar em ação sua política expansionista, Napoleão Bonaparte difundiu pelo continente europeu os ideais revolucionários franceses de soberania popular e nação, enfraquecendo os regimes absolutistas. Assim, após sua queda, os monarcas europeus respiraram aliviados e tentaram retomar a antiga ordem.

Para isso, um dos primeiros passos era restabelecer as fronteiras que tinham sido modificadas em razão do avanço da França imperial. A fim de debater esse assunto, representantes das monarquias europeias se reuniram no Congresso de Viena, na Áustria, em novembro de 1814. Os trabalhos foram iniciados em dezembro do mesmo ano e se estenderam até junho de 1815.

Foi decidido que as fronteiras e a configuração política da Europa voltariam a ser como antes da revolução de 1789. Assim, a França teve de devolver todos os territórios conquistados por Napoleão, além de pagar indenizações às nações prejudicadas. Foi acordado também que as dinastias que reinavam antes de 1789 voltariam ao poder.

A Europa após o Congresso de Viena – 1815

Mapa. A Europa após o Congresso de Viena, 1815. Mapa sem legenda. Mapa da Europa, parte da África e da Ásia, representando a configuração política da Europa após o Congresso de Viena, em 1815. Europa, em 1815: Portugal: destaque para a cidade de Lisboa; Espanha: com destaque para as cidades de Madri, Cádiz, Granada, Valência, Barcelona e  ilhas Baleares; França: com destaque para as cidades de Brest, Paris, Bordéus, Lyon; Reino da Sardenha-Piemonte: com destaque para  Piemonte (entre a França e o Império Austríaco) e a ilha da Sardenha; Módena; Lucca; Toscana; Estados Pontifícios, com destaque para a cidade de Roma; Reino das Duas Sicílias, com destaque para a cidade de Palermo; Suíça: com destaque para a cidade de Berna; Reino dos Países Baixos Unidos; Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda:  com destaque para Escócia, Inglaterra e a cidade de Londres; Noruega; Suécia: com destaque para a cidade de Estocolmo; Dinamarca; Reino de Hanôver;  Baviera: destaque para Munique; Reino da Prússia:  com destaque para as cidades de Berlim e Sarre; Império Austríaco: com destaque para Praga, Boêmia, Viena, Budapeste; Lombardia-Vêneto; Império Russo: com destaque para as cidades de Moscou e São Petersburgo; Bessarábia; Crimeia; Polônia; República de Cracóvia; Lituânia, com destaque para Riga; Estônia; Finlândia; Império Turco Otomano, com destaque para Constantinopla; Bulgária, com destaque para as cidades de Valáquia e Bucareste; Moldávia; Bósnia-Herzegovina; Dalmácia; Servia, com destaque para a cidade de Belgrado; Albânia; Grécia, com destaque para Atenas; Creta; Rodes; Chipre; região de Túnis, no norte da África. À esquerda, rosa dos ventos e escala entre 0 e 340 quilômetros.

FONTE: dubí, G. Atlas historique mondial. Paris: Larrússi, 2003. página 86.

Ícone. Ilustração de um símbolo de localização sobre um folheto aberto e em branco, indicando o boxe Se liga no espaço!

Se liga no espaço!

Responda no caderno.

Compare esse mapa com o da página 88 e responda: por que é possível dizer que a França foi desfavorecida com os acordos territoriais do Congresso de Viena? Cite algumas regiões que se tornaram independentes do país.

Agora é com você!

Responda no caderno.

  1. Identifique e descreva os três grupos nos quais se dividiram os deputados durante a Convenção Nacional.
  2. O que foi o Período do Terror? Quais foram seus desdobramentos no processo revolucionário francês?
  3. Quem foi Napoleão Bonaparte? Como ele se tornou imperador da França?

Dica

LIVRO

Guerra e paz, de Porto Alegre: Edições dél Prado do Brasil, 2019.

Nessa versão em quadrinhos do clássico de o período das campanhas militares napoleônicas do século dezenove é reconstituído minuciosamente por meio da narrativa do ponto de vista do povo russo.

Respostas e comentários

Resposta do “Se liga no espaço!”: A França foi desfavorecida no Congresso de Viena porque todos os territórios que havia conquistado e anexado após 1789 foram perdidos, voltando à configuração que tinha antes da Revolução Francesa. Alguns desses territórios foram: Piemonte, Módena, Florença, Toscana, Roma, Reino das Duas Sicílias, Reino de Hanôver, Reino dos Países Baixos Unidos, Reino da Prússia, Baviera, Suíça, Espanha e Varsóvia.

Bê êne cê cê

Ao analisar e comparar os mapas e verificar a mudança das fronteiras europeias como proposto no boxe “Se liga no espaço!”, os estudantes podem exercitar a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero quatro e as Competências Específicas de Ciências Humanas nº 5 e nº 7.

Orientação para as atividades

As atividades incentivam a identificação de informações no texto-base. As atividades 1 e 3 demandam respostas que se encontram explicitamente declaradas. A atividade 2, por sua vez, incentiva um primeiro nível inferencial de leitura, já que, para respondê-la, é necessário identificar no texto-base as informações a respeito do Período do Terror e traçar relações entre essas e a queda dos jacobinos. Se necessário, releia com os estudantes os trechos onde se encontram tais informações, mas incentive-os a elaborar as respostas autonomamente.

Agora é com você!

1. Os girondinos eram nobres liberais e integrantes da alta e da média burguesia. Eles eram conservadores e defendiam o respeito à Constituição. Os jacobinos eram os mais radicais e defendiam o republicanismo. O pântano era identificado como de centro. Os integrantes desse grupo oscilavam no apoio aos outros dois.

2. O Período do Terror teve início com a ruptura entre jacobinos e girondinos, após o assassinato de jãn pôl marrá. Com isso, formou-se uma facção mais radical entre os jacobinos, que defendia a violência e a condenação dos suspeitos de traição. Nesse período, milhares de pessoas foram executadas na guilhotina. Apesar disso, uma série de conquistas foram alcançadas, como as reformas agrária e educacional, a abolição do feudalismo e o estabelecimento do sistema decimal. Os radicais sofreram um golpe e foram tirados do poder pelos girondinos e pelos membros do pântano.

3. Napoleão Bonaparte foi um militar e estadista francês. Após liderar o exército com êxito em campanha, ele articulou o Golpe do 18 de Brumário e assumiu o poder com outros dois cônsules, em 1799. Em 1802, ele foi eleito, por um plebiscito, cônsul vitalício. Dois anos mais tarde, por meio de outro plebiscito, tornou-se imperador da França.

Atividades

Responda no caderno.

Organize suas ideias

1. No caderno, reproduza o quadro a seguir e o preencha com as informações a respeito dos três estados que compunham a sociedade francesa antes da revolução.

*Ícone.Modelo.

Primeiro estado

Segundo estado

Terceiro estado

Integrantes

Porcentagem da sociedade francesa

Renda

Privilégios e isenções tributária

  1. Identifique, no caderno, as informações verdadeiras e as falsas sobre as realizações político-administrativas na França durante o Consulado.
    1. Napoleão desempenhou um papel secundário, assessorando Emanuél Joséf Sieiés e Rogê no Consulado.
    2. Durante o Consulado, foi reorganizado o sistema financeiro e estabilizada a economia com a criação do Banco da França e a expansão dos investimentos em industrialização.
    3. No período, as tensões entre o governo francês e a Igreja Católica foram acentuadas com a excomunhão dos três cônsules pelo papa.
    4. Napoleão comandou uma reforma educacional e promoveu obras de infraestrutura, conquistando popularidade.
    5. Napoleão Bonaparte mobilizou seu exército e aplicou um golpe de Estado, tornando-se cônsul vitalício em 1802.
  2. Caracterize o Império Napoleônico e os conflitos em que a França se envolveu entre 1804 e 1814.

Aprofundando

4. (enêm méqui – adaptado) No caderno, copie a alternativa correta.

“Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem. Pois bem: foi no século dezoito – em 1789, precisamente – que uma Assembleia Constituinte produziu e proclamou em Paris a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa Declaração se impôs como necessária para um grupo de revolucionários, por ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e das mentalidades: o iluminismo.”

FORTES, L. R. S. O Iluminismo e os reis filósofos. São Paulo: Brasiliense, 1981. (Adaptado).

Correlacionando temporalidades históricas, o texto apresenta uma concepção de pensamento que tem como uma de suas bases a:
  1. modernização da educação escolar.
  2. atualização da disciplina moral cristã.
  3. divulgação de costumes aristocráticos.
  4. socialização do conhecimento científico.
  5. universalização do princípio da igualdade civil.
Respostas e comentários

Bê êne cê cê

Por envolver os conceitos de memória e identidade nacional e a história da formação dos museus na França pós-revolucionária, a atividade 6 contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero quatro e da Competência Específica de Ciências Humanas nº 1.

Atividades

Organize suas ideias

1. Ao produzirem o quadro, os estudantes podem estabelecer a estrutura a seguir.

Integrantes: Primeiro estado – clero; segundo estado – nobreza; terceiro estado – camponeses, burguesia e sans culottes.

Porcentagem da sociedade francesa: Primeiro estado – 0,5%; segundo estado – 1,5%; terceiro estado – 98%.

Renda: Primeiro estado – de propriedades da Igreja, do dízimo e das doações dos fiéis; segundo estado – da propriedade de terras, nas quais se explorava o trabalho dos camponeses; terceiro estado – do trabalho com a terra (camponeses), do comércio ou do trabalho como profissionais liberais, artesãos etcétera.

Privilégios e isenções tributárias: Primeiro estado – tinham; segundo estado – tinham; terceiro estado – não tinham.

2. a) ; b) V; c) ; d) V; e) .

3. Por meio de um plebiscito realizado em 1804, Napoleão foi aclamado imperador. Diante disso, o Reino Unido, a Suécia, a Rússia e a Áustria formaram uma coligação para derrotá-lo. O exército napoleônico, porém, venceu diversas batalhas contra a Áustria, a Rússia e a Prússia; entretanto, nas batalhas marítimas, as fôrças do Reino Unido eram superiores. Para enfraquecer essa potência, Napoleão estabeleceu o Bloqueio Continental, buscando vencer os britânicos por meio da pressão econômica. Em 1809, a Rússia se retirou do Bloqueio Continental e, em represália, Napoleão a invadiu. Essas tropas foram obrigadas a recuar diante da tática russa da terra arrasada. A partir de então, Napoleão perdeu diversas batalhas, tendo de se exilar na ilha de Elba em 1814, após a invasão de Paris.

Aprofundando

4. Alternativa e.

5. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi finalizada no dia 26 de agosto de 1791. No primeiro artigo, anunciava-se que todos os homens, não só os franceses, nasciam e permaneciam livres e iguais em direitos. Sobre a origem do termo “direitos do homem” presente na declaração, leia o texto da historiadora lín rânt e, em seguida, faça o que se pede.

“O termo ‘direitos do homem’ começou a circular em francês depois de sua aparição em O contrato social, de jeãn jác russô, reticências por volta de junho de 1763, ‘direitos do homem’ tinha se tornado um termo comum

Antes de 1789, ‘direitos do homem’ tinha poucas incursões no inglês. Mas a Revolução Americana incitou o marquês de Condorcé, defensor do iluminismo francês, a dar o primeiro passo para definir ‘os direitos do homem’, que para ele incluíam a segurança da pessoa, a segurança da propriedade, a justiça imparcial e idônea e o direito de contribuir para a formulação de leis.

reticências

Em janeiro de 1789, usou a expressão no seu incendiário panfleto contra a nobreza, O que é o terceiro estado?. reticências Desde a primavera de 1789 – isto é, mesmo antes da queda da Bastilha em 14 de julho – muitos debates sobre a necessidade de uma declaração dos ‘direitos do homem’ permeavam os círculos políticos franceses.”

rãnt, L. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página 22-23.

  1. O que significa a espressão “direitos do homem” presente na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão?
  2. Qual é a origem desse termo?
  3. De acordo com lín rânt, o panfleto O que é o terceiro estado?, de Emanuél Joséf Sieiés, foi incendiário. O que ela quis dizer com isso?
  4. Relacione a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão aos princípios da filosofia iluminista que você estudou no capítulo 1 e neste.
  1. Na França, a partir de 1789, os revolucionários confiscaram diversas coleções de objetos do clero e dos nobres. Baseando-se no ideal humanista da igualdade de direitos entre os indivíduos, decidiram que esses objetos deviam tornar-se propriedade, por herança, de todo o povo francês e os transferiram para lugares públicos, que deram origem aos museus. Inspirados na experiência francesa, muitos países passaram a organizar coleções de objetos e expô-las em museus a fim de construir uma identidade e uma memória nacionalista. Atualmente, muitos dos museus mudaram o foco de suas coleções, transformando-se em instituições mais dinâmicas, que valorizam a diversidade de culturas e conservam, investigam e expõem seus objetos e acervos com diferentes finalidades, como a preservação, o estudo, a pesquisa científica e a educação. Para compreender melhor a importância dos museus, você e os demais colegas da turma farão uma visita guiada a um museu do município em que moram. Anote no caderno as questões a seguir. Elas devem nortear sua visita e, depois, ser debatidas em sala de aula.
    1. Qual é o nome do museu visitado?
    2. Qual é o objetivo dessa instituição?
    3. Em sua opinião, quais são os objetos expostos ou recursos mais interessantes do museu? Por quê?
    4. O que você entendeu a respeito dos elementos expostos no museu?
    5. De que modo a visita a essa instituição está relacionada à memória e à história de sua comunidade? E à sua história?
Respostas e comentários

5. a) Os “direitos do homem” são aqueles a que todos têm direito e incluem a segurança da pessoa, a segurança da propriedade, a justiça imparcial e idônea e o direito de contribuir para a formulação de leis.

b) Segundo lín rânt, esse termo começou a circular em francês depois de ser empregado por jeãn jác russô, na obra O contrato social.

c) Ela quis dizer com isso que panfletos como o de Emanuél Joséf Sieiés ajudaram a inflamar os ânimos populares contra a monarquia e contra os privilégios da nobreza.

d) O iluminismo é geralmente apontado como a base teórica do movimento revolucionário francês. Autores como Montesquiê, Djón lóqui e, principalmente, jeãn jác russô foram fundamentais para estruturar o pensamento político francês do final do século dezoito. O debate sobre os limites do poder absoluto, a questão da soberania da nação e a noção de direitos do homem (ou direitos naturais) foram primordiais para a organização do texto publicado em agosto de 1789. Isso significa que, do ponto de vista político, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão era um ataque direto ao Antigo Regime francês.

6. Pretende-se, com essa atividade, sensibilizar os estudantes para a importância dos museus, que são espaços de preservação do patrimônio material e imaterial com os fins de educação, estudo e deleite. Como a atividade é externa, será necessário organizar sua execução. A direção escolar precisará entrar em contato com o museu escolhido para agendar a visita. Também é importante solicitar a assinatura dos responsáveis pelos estudantes de um termo de consentimento para a visitação. Outro passo importante para a preparação é o planejamento orçamentário, administrativo e de recursos humanos necessários para viabilizar o deslocamento dos estudantes. Durante o processo de resolução dessas questões burocráticas, leia as atividades propostas com os estudantes, em sala de aula, a fim de elucidar possíveis dúvidas e, principalmente, prepará-los para visitar a exposição com os temas em mente. Incentive-os a entender os discursos comunicados pela exposição por meio dos objetos e recursos expostos. Após a visita, peça-lhes que respondam às questões individualmente para, depois, debatê-las em sala de aula. Pretende-se, assim, incentivá-los a produzir de maneira colaborativa o conhecimento a respeito da importância dos museus na atualidade, relacionando-os às próprias histórias e, nesse sentido, à maneira como compreendem o mundo.

Na impossibilidade de visitar um museu no município em que os estudantes vivem, realize uma visita virtual ao site de um museu previamente escolhido. Selecione o site de uma instituição ou uma exposição virtual cuja temática relacione-se à realidade da comunidade escolar. Estão disponíveis na internet, por exemplo, sites de instituições como o Museu do Homem do Nordeste, o Museu Afro Brasil, o Museu do Futebol, o Museu do Café, o Museu Indígena Jenipapo-Kanindé, o Museu de Arte Indígena, o Museu do Amanhã e o Museu de Arte de São Paulo chatôbrian.

Glossário

:
agressão recorrente a alguém por causa de sua aparência física, seu gênero, sua origem e seu desempenho escolar, entre outros motivos. O bullying pode ser verbal (apelidos, insultos etcétera), físico (agressões, roubo etcétera) ou moral (exclusão do grupo, difamação etcétera) e é caracterizado por um desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima, que não consegue se defender. A palavra, em inglês, tem origem no verbo bully, que significa “intimidar”.
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Déficit orçamentário
: situação em que as despesas de um governo são maiores do que a arrecadação.
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Isenção tributária
: dispensa do pagamento de tributos ou impostos.
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Guilhotina
: instrumento utilizado para aplicar a pena de morte por decapitação.
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Sexismo
: discriminação de pessoas com base em gênero.
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Calendário revolucionário
: calendário criado durante a Revolução Francesa para substituir a medição do tempo influenciada por referências religiosas, que são a base do calendário gregoriano. Era dividido em doze meses, nomeados de acordo com as colheitas e os fenômenos climáticos. Cada mês era formado por três semanas e cada semana, por dez dias.
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Coligação
: associação ou aliança de entidades.
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